quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Ministro lamenta 'disputa eleitoral' do caso Cartel da Siemens

folha de são paulo
DE BRASÍLIAEm resposta às acusações do PSDB, o ministro José Eduardo Cardozo (Justiça) atacou os tucanos e lamentou "que uma investigação séria tenha se transformado numa disputa política e eleitoral".
"Acho muito ruim que investigações sejam transformadas em disputa política. Todos são iguais perante a lei, só em mentalidades aristocráticas, elitistas e ditatoriais que prevalece ideia de que conosco, não'", disse.
"Se há denúncias, não importa contra quem seja, o ministro tem que pedir investigação. Senão é prevaricação".
Cardozo reafirmou que recebeu documentos das mãos do secretário de Serviços da Prefeitura de São Paulo, o petista Simão Pedro, em maio. E negou mais uma vez que tenha recebido as denúncias do Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica).
Segundo ele, Simão foi até sua casa em São Paulo, num domingo, para lhe entregar o material. A denúncia, com tabelas, planilhas e nomes de tucanos, foi repassada pessoalmente ao chefe da Polícia Federal, Leandro Daiello.
"Não vou mandar pelos escaninhos do MJ [Ministério da Justiça]. Não que não confie nos funcionários, mas são muitas mãos. A tramitação oficial foi feita na PF", justificou, negando qualquer ilegalidade no procedimento.
Ele nega qualquer tentativa de proteger o Cade. Disse que foi um "equívoco" da PF afirmar que os papéis foram encaminhados pelo órgão.
Como prova de que o Cade nada sabia, Cardozo citou um depoimento à PF de Rubem Accioly Pires, coordenador de inteligência e operações do conselho, negando conhecer esses documentos.
As declarações foram feitas em julho, dois dias antes da busca e apreensão na Siemens, que fez acordo com o Cade para colaborar na apuração sobre formação de cartel. Afirmou ainda que essa papelada não foi parar no Cade depois dessa ocasião.
"Pode ter absoluta certeza que esses órgãos [PF e Cade], da mesma forma que não perseguem, não se intimidam", afirmou o ministro.
    ENTENDA O CASO O CARTEL DA SIEMENS
    O ACORDO
    Em julho, a Folha revelou que a Siemens fez um acordo com o Cade no qual informou ter integrado cartéis para fraudar licitações de trens e metrô em SP e DF de 1998 a 2008
    AS IRREGULARIDADES
    O Cade examinou centenas de documentos apresentados pela Siemens e concluiu que houve irregularidades em seis licitações realizadas, sendo cinco delas em São Paulo
    AÇÃO NA JUSTIÇA
    Em agosto, Alckmin anunciou que iria processar a Siemens. Em novembro, a Justiça mandou o governo refazer a ação e incluir as outras empresas do cartel
    CASO ALSTOM
    Justiça manda sequestrar R$ 57 milhões de ex-diretores da CPTM, entre eles João Roberto Zaniboni, e do consultor Arthur Gomes Teixeira, acusados de fraudes
    INDICIAMENTO
    Em novembro, a PF indiciou Teixeira e Zaniboni por lavagem de dinheiro e evasão de divisas. Eles negam irregularidades
    CARTA
    Em 21.nov, foi divulgada carta na qual o ex-diretor da Siemens Everton Rheinheimer diz ao Cade que esquema de corrupção envolveu governos tucanos em SP e financiou caixa 2 de DEM e PSDB
    REAÇÃO
    Os tucanos acusados ameaçam processar Rheinheimer, que nega ter feito as acusações. O deputado licenciado Simão Pedro (PT) diz ter enviado os documentos ao governo
    AÉCIO
    Com Aécio Neves à frente, a cúpula do PSDB acusa o governo federal de reeditar o "escândalo dos aloprados" para minimizar o impacto das prisões do mensalão
    CARDOZO
    Em resposta, o ministro José Eduardo Cardozo (Justiça) disse que "se há denúncias, não importa contra quem seja, o ministro tem que ser pedir investigação"
      PSDB acusa Cardozo de politizar investigação
      Aécio Neves defende que ministro da Justiça se afaste da apuração sobre fraude em licitações nas gestões tucanas em SP
      José Aníbal pede a demissão de Cardozo: 'Ou demite o ministro ou é cúmplice desse dossiê de aloprados'
      RANIER BRAGONDE BRASÍLIACom fortes críticas ao ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, a cúpula do PSDB acusou ontem o governo de usar as investigações sobre a existência de um cartel nas licitações de metrô e trens durante os governos do PSDB em São Paulo para minimizar o impacto político das prisões do mensalão.
      Tendo à frente o senador Aécio Neves (MG), provável candidato à Presidência, o PSDB defendeu que Cardozo se afaste das investigações sobre o cartel revelado pela multinacional alemã Siemens ao Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica).
      "A tentativa de fazer com que os outros possam parecer iguais não terá êxito, porque nós não somos iguais. Prezamos e praticamos a ética na vida pública", afirmou Aécio, acrescentando que o governo "manipula" as instituições do Estado para "enxovalhar" adversários.
      Segundo ele, as acusações contra tucanos vieram a público para encobrir os desdobramentos do escândalo do mensalão, cujos condenados, parte deles do PT, começaram a ser presos no último dia 15.
      Para Aécio e outros tucanos, é uma reedição do caso dos "aloprados", que começou com a prisão de petistas em 2006 com dinheiro que, segundo o Ministério Público, seria usado para comprar um dossiê contra José Serra, então candidato do PSDB ao governo de São Paulo.
      Acompanhavam Aécio, na sede do PSDB em Brasília, os líderes na Câmara (Carlos Sampaio) e no Senado (Aloysio Nunes Ferreira), além dos secretários paulistas Edson Aparecido (Casa Civil) e José Aníbal (Energia).
      As acusações contra tucanos apareceram num suposto depoimento do ex-diretor da Siemens Everton Rheinheimer, que apontava pagamento de propina em São Paulo durante os governos do PSDB. Ele negou, depois, ser o autor da denúncia.
      Apontando diferenças entre esse material e outro que Rheinheimer encaminhou à Siemens em 2008, os tucanos acusaram petistas de forjar documentos.
      DEMISSÃO
      Embora dois delegados da Polícia Federal tenham dito que receberam as acusações do próprio Cade, o ministro da Justiça afirmou que recebeu o depoimento das mãos do secretário de Serviços da Prefeitura de São Paulo, o petista Simão Pedro.
      Simão negou que o documento enviado tenha sido alterado para acusar o PSDB: "Não alterei documento nenhum. Só encaminhei ao ministro. Essa acusação do PSDB é uma bobagem".
      Os tucanos ainda pediram a demissão do presidente do Cade, Vinicius Carvalho, que foi chefe de gabinete de Simão. "Se a presidente não sabia desse episódio, agora sabe. Ou demite o ministro ou é cúmplice desse dossiê de aloprados", disse Aníbal.
      Já Aécio foi menos enfático. "Eu acho que ele perdeu as condições de ser o coordenador dessas investigações, como ministro da Justiça. Obviamente que a decisão de nomear e de demitir ministro cabe à presidente", disse.
      O PSDB disse que pretende aprovar a convocação de Cardozo para dar explicações no Congresso e representar contra ele na Comissão de Ética Pública e no Ministério Público.

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