quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Nina Horta

folha de são paulo
Atala erótico
As descobertas de Alex Atala transformam o cotidiano em gostosura, em beleza; têm erotismo
Só não comprei o livro do Alex Atala na Amazon porque achei ridículo, afinal o cara é nosso, tudo nele é nosso, queria ir na livraria daqui, ler aqui, pagar com reais, sair com ele embrulhado na mão. (E teria feito uma grande bobagem se comprasse fora, pois achei que a edição era bilíngue, no mesmo livro, e não é; o que está aqui na minha mão é em português, inteiro. E a editora Melhoramentos me mandou de presente o "D.O.M. - Redescobrindo Ingredientes Brasileiros".)
Me deu uma vontade de rir ao pensar num estrangeiro pegando o livro, sem acesso aos nossos ingredientes. Porque nós pegamos livros assim o tempo todo. Comidas coreanas, de Burma, de Trás-os-Montes, e ficamos lá quebrando a cabeça. Aquele primeiro livro do Noma, valha-me Deus, nem uma couvinha tronchuda.
E todos vão ter interesse em comprar por ser do Atala. Nós mesmos, até outro dia, não conhecíamos priprioca, nem maçã do coco, nem formigas, nem batatas-árias. Agora, já conhecemos só de cumprimentar batendo o chapéu, barretadas, por influência desses abnegados catadores de matinhos e matões, desses pesquisadores sérios que querem trazer à mesa o que se come aqui, dos nossos rios, dos nossos grotões. O povo que cresce perto dos ingredientes desconhecidos para a maioria nem leva em conta. Come e pronto. É novidade para nós, os "voyeurs" das mesas alheias, os que chamam de gourmets. Bem feito. Estamos dando o troco com o livro do Alex.
Os estrangeiros nos mandam aves estranhas, rebatemos com uma formiga. Ah, tem filé no sul dos Estados Unidos? Temos bacuri e pequi. Dá lá, toma cá. Ele escreveu o que quis, sem intenção de exaurir o assunto. Despretensioso, até. Lindas fotos de apresentação da "cosa nostra".
Acho erótico esse livro dele e todos os outros de cozinheiros excepcionais dessa geração. As fotos e os textos não querem nos mandar para o fogão, ter função útil. Estão em torno do prazer em si mesmo, exigem delicadeza, um certo conhecimento, uma invenção, um ritual e, especialmente, a beleza, a imaginação, o desejo. Alguém se alimenta do palmito desfiado com pó de pipoca? Não. São diferenças pensadas por alguém, descobertas que transformam o cotidiano em beleza e variedade e gostosura, podem mesmo ser até chamadas de eróticas, que tal? Mais um adjetivo para usarmos quando formos a um bom restaurante. "Esse risoto de caramujo marinho com tangerina foi bom para você também?"
Uma erotização da linguagem culinária? A essas alturas não estou falando mais do livro, mas da cozinha do Atala. Pois se não for uma aproximação do sagrado, uma busca de essência, a comida desses novos cozinheiros não quer dizer nada. Ela não flui como um rio de águas claras, não se faz entender à primeira vista, não tem elos que a explicam, não é fácil: ora é gel, ora é balão, desfaz-se em lago, levanta-se em torre, vira espuma. É poesia. Poética, fico com "poética".
O livro deu umas paradas por mercados, prédios, cenas de pesca, o profano, diríamos. Ou melhor, ao mundo dos livros de presente de fim de ano de banco. Mas a vida é assim, tem erotismo, poesia e tem horas prosaicas demais. Na mesma vida, no mesmo livro.
ninahorta@uol.com.br
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ninahorta.blogfolha.uol.com.br

    Qual a culpa de Genoino? - Marcelo Coelho

    folha de são paulo

    Questões de Ordem: 


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    MARCELO COELHO
    DE SÃO PAULO

    Dói muito ver a prisão de uma pessoa com o passado de José Genoino. Está muito acima, pelo caráter, pela coerência, pela simplicidade, da grande maioria dos políticos brasileiros.
    Não enriqueceu, nem quis enriquecer, com os cargos que ocupou. Fica difícil aplicar nele o rótulo de "corrupto". Na linguagem de todos os dias, corrupto é aquele que recebe propinas ou favores. Com toda certeza, Genoino não é dessa laia.
    Mas foi condenado no julgamento do mensalão, e vale lembrar o que aconteceu. Genoino foi condenado a 6 anos e 11 meses de prisão por formação de quadrilha e corrupção ativa. Tire-se do debate o crime da formação de quadrilha, ainda a ser reexaminado nos embargos infringentes.
    José Genoino foi condenado de forma praticamente unânime no STF. Dos dez ministros, somente Ricardo Lewandowski o absolveu. Até Dias Toffoli, um dos mais enfáticos em favor de José Dirceu, condenou Genoino sem nenhuma hesitação. Qual o crime? Corrupção. Pela lei, não se pune somente quem recebe dinheiro, mas também quem oferece.
    José Genoino ofereceu dinheiro a deputados e líderes partidários do mensalão? Sabia o que estava fazendo quando assinou um empréstimo junto ao Banco Rural, para irrigar as finanças do esquema? Ou foi tudo responsabilidade de Delúbio Soares e de José Dirceu, sendo claro que Genoino nunca entendeu muito de contabilidade, de orçamento, de economia?
    Os ministros se basearam nos testemunhos dos autos. Primeiro, é bom recordar, rejeitaram os argumentos do Ministério Público, que acusava Genoino de ter corrompido parlamentares do PMDB e do PL. Não havia nenhuma menção concreta a tratativas de Genoino com esses partidos. Até por isso, Delúbio terminou com uma pena maior do que ele.
    Houve, entretanto, encontros de Genoino com líderes do PTB e do PP. Políticos como José Janene, Pedro Henry, Emerson Palmieri e Pedro Corrêa admitem esses encontros. Nem precisamos falar de Roberto Jefferson, cujos depoimentos são sempre postos em dúvida pela defesa. Se tudo se baseasse apenas nas declarações de Jefferson, dificilmente algum ministro condenaria quem quer que fosse.
    Ricardo Lewandowski absolveu José Genoino afirmando que, afinal de contas, todos esses testemunhos vinham de réus do processo também. Em tese, esse tipo de depoimento vale pouco, porque é plausível que um réu acuse outro para livrar a própria pele. Os outros nove ministros levaram em conta, todavia, o que esses petebistas e pepistas disseram sobre Genoino. E também levaram em conta outro depoimento, de Vadão Gomes, também político do PP, mas que não era réu do mensalão.
    Todas essas testemunhas confirmam que José Genoino, junto com Delúbio e José Dirceu, mas também sozinho ao menos uma vez, participava dos encontros em que se discutia o apoio do PP e do PTB ao governo. Tanto Genoino quanto os demais envolvidos seguem a mesma linha de argumentação. Havia encontros, sim, mas tudo se resumia a tratar de acordos políticos, não se discutiu ajuda financeira. Essa versão dos acontecimentos foi sendo elaborada ao longo do processo; no início, os pepistas dizem que o apoio financeiro foi combinado, sim.
    Quando a história é contada mais detalhadamente, vê-se que o problema financeiro estava o tempo todo em pauta. Vadão Gomes conta que, numa conversa com Genoino, Delúbio, Pedro Henry e Pedro Corrêa, discutiu-se a necessidade de ajuda em dinheiro para o PP, com vistas às eleições de 2004. Outro parlamentar do PP, o falecido José Janene, testemunhou sobre reunião em que Genoino, e apenas ele, representava o PT.
    O PP tinha problemas para pagar a conta de advogados, contratados para defender parlamentares do partido. Entre eles, Ronivon Santiago, que confessara ter recebido propina para votar a favor da reeleição de Fernando Henrique Cardoso. O bom PT prontificou-se a resolver isso. Pode-se chamar esse tipo de combinação um "acordo meramente político"? Foi o que fizeram todos os réus. Mas prometer dinheiro em troca de apoio pode ser chamado de corrupção, e foi isso o que concluíram todos os ministros do STF, menos Lewandowski.
    Também as necessidades do PTB, com relação aos gastos na campanha que se aproximava em 2004, foram discutidas com José Genoino presente. A promessa, antiga, era de R$ 20 milhões para que o PTB apoiasse Lula. O PT, entretanto, estava demorando para entregar as parcelas prometidas. Jefferson conta ter avisado Genoino: uma quantia dessas seria alta demais para ser considerada apenas "caixa 2" --doações de empresários por baixo do pano. Entenda-se: mesmo empresários dispostos a ajudar não dariam tanto dinheiro assim. Genoino teria respondido que o repasse seria feito de partido a partido, ou como contribuição de empresas ao fundo partidário.
    Estava tão por fora assim dos entendimentos financeiros? Convenhamos que é dificílimo de acreditar. Qualquer pessoa, mesmo com menos experiência política de José Genoino, e com convicções de esquerda menos arraigadas, saberia perfeitamente que, numa conversa "política" com o partido de Maluf ou de Roberto Jefferson, programas e ideologias não são exatamente o prato principal.
    A ministra Cármen Lúcia, em seu voto, começa manifestando seu pesar pela condenação de Genoino. Mas não estamos julgando histórias pessoais, disse ela. Estamos julgando as provas dos autos. Ela reexamina os fatos. Todos os depoimentos concordam: as finanças do PT estavam "em frangalhos" em 2002. Como é possível, pergunta ela, que do início de 2003 até meados de 2005 o PT passasse a ter tanto dinheiro para distribuir para tanta gente, e essa súbita facilidade não levasse José Genoino a perguntar "de onde vem esse dinheiro? O que é isso? Como se conseguiu isso?"
    Cerca de R$ 3 milhões vinham do Banco Rural, como se sabe, através de um empréstimo inicialmente avalizado por Marcos Valério e Delúbio Soares. O empréstimo foi considerado fictício, apenas uma maneira de Marcos Valério esquentar o dinheiro que recebera do Banco do Brasil.
    Lewandowski foi à carga. Consta dos autos que pelo menos uma parcela desse empréstimo foi de fato paga pelo PT; não era uma fraude. Naquela sessão do STF, Ayres Britto desmontou o argumento. Sim, uma parcela foi paga... mas em 2012! Quando o processo do mensalão já corria com mais ritmo, interessando a todos dar credibilidade às teses da defesa.
    Pois bem, José Genoino foi avalista desse empréstimo do PT com o Banco Rural, quando ocorriam as renovações do crédito, a cada três meses. Certo, não entendia de finanças. Como presidente do PT, tinha de cumprir, pelo estatuto, o dever de assinar aquele tipo de coisa.
    Observo, entretanto, que não é à toa que o estatuto exige a assinatura do presidente do partido. Um nome como o de José Genoino não se construiu aos poucos; está lá, justamente, para dar credibilidade e honradez aos atos partidários. Quantos não se deixaram enganar, vendo que "até o José Genoino" endossava as opções do PT no tocante a seus acordos "políticos" -que na verdade, mas isso nunca enganou ninguém, eram negociados no balcão de Jefferson, Janene e companhia?
    O crime maior, que o PT cometeu contra a própria credibilidade, mas em favor de reformas econômicas que negavam o seu programa, foi ter-se envolvido em acordos com a escória da política brasileira. Há quem ache que valeu a pena, pensando no desempenho do governo Lula, há quem ache que não.
    Quem resolve dar festa num chiqueiro termina sujo também. José Genoino não roubou, José Genoino fez o que lhe pareceu mais certo, sem pensar em vantagens financeiras pessoais. Mas inocente não era.

    América foi povoada por dois grupos, mostra DNA

    folha de são paulo

    América foi povoada por dois grupos, mostra DNA

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    REINALDO JOSÉ LOPES
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
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    O DNA de um menino da Sibéria, que morreu aos três ou quatro anos de idade, na fase mais severa da Era do Gelo, pode ser uma das pistas mais importantes para entender como o ser humano colonizou as Américas.
    Segundo os cientistas que "leram" seu genoma, o garoto tem semelhanças genéticas tanto com europeus quanto com os indígenas atuais.
    E a recíproca é verdadeira. Os pesquisadores calculam que a antiga população à qual o menino pertencia seria responsável por algo entre 15% e 40% da herança genética dos índios. Esse povo misterioso teria se misturado a outro, oriundo do leste da Ásia, para dar origem aos habitantes do continente americano.
    Há décadas alguns antropólogos argumentam que o povoamento da América pode ter envolvido dois grupos geneticamente distintos.
    Uma das vozes mais importantes desse grupo é o brasileiro Walter Neves, do Laboratório de Estudos Evolutivos Humanos da USP. O principal indício desse fato é a variedade no formato dos crânios dos mais antigos americanos, os paleoíndios --o exemplo mais famoso é "Luzia", fóssil achado em Minas Gerais, com mais de 11 mil anos.
    Editoria de arte/Folhapress
    SEGUNDA LEVA
    Neves e seus colaboradores afirmam que o crânio de Luzia e de outros paleoíndios lembra mais o de aborígines australianos, melanésios e africanos do que o da maioria dos índios atuais, normalmente comparados a grupos do nordeste da Ásia.
    A ideia é que a maioria dos ancestrais dos índios modernos teria integrado uma segunda leva migratória, que teria exterminado os paleoíndios ou se misturado a eles.
    "Nossos achados não apoiam diretamente o trabalho dos brasileiros", disse Eske Willerslev, biólogo do Museu de História Natural da Dinamarca que coordenou o estudo, publicado na "Nature". "Parte do material genético da criança tem afinidades com grupos do sul da Ásia [região de origem dos paleoíndios, segundo Neves]. Então o artigo se alinha parcialmente à ideia deles."
    Neves reagiu com cautela e ironia aos achados. "Eu podia estar comemorando, dizendo 'olha, finalmente alguém fala de herança dual'. Mas vai depender da estabilidade dos trabalhos deles. Se os achados desse tipo continuarem, vou poder dizer que estive certo por 25 anos."
    MISTURA
    Seria o caso, então, de pensar nos índios atuais como uma mistura de europeus com asiáticos? Não exatamente. Europeus e asiáticos dessa época eram bem diferentes dos de hoje. Eles estavam mais próximos de um padrão genético e morfológico "genérico", resultado da expansão inicial dos humanos modernos da África para o resto do mundo, diz Fabrício Santos, geneticista da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais).
    "Características mongólicas [a "cara" asiática de alguns índios atuais] teriam sido adquiridas mais tarde a partir de populações do leste asiático", afirma Santos.
    Rolando González-José, biólogo do Centro Nacional Patagônico, na Argentina, diz que nem é necessário postular duas "ondas" de migração para entender os dados do genoma do novo estudo.
    Ele argumenta que é mais natural pensar que a população "genérica" à qual pertencia o menino teria se diferenciado cada vez mais ao se expandir para os quatro cantos da Ásia e das Américas.

    Só 4% das unidades de conservação na Amazônia têm gestão eficiente

    folha de são paulo
    Conclusão é de auditoria feita pelo Tribunal de Contas da União
    DIMMI AMORADE BRASÍLIAApenas 4% das unidades de conservação na região amazônica têm uma gestão eficiente, com a implementação de planos de manejo adequados, regulamentação fundiária em andamento e servidores e recursos necessários para a sua manutenção.
    É o que aponta auditoria do TCU (Tribunal de Contas da União) realizada ao longo de um ano em parceria com tribunais de contas de nove Estados da região.
    As unidades de conservação são espaços territoriais protegidos, já que têm um papel importante na proteção e preservação do ambiente. Elas são instituídas pelo poder público e podem ser de proteção integral ou de uso sustentável.
    As 247 unidades criadas na Amazônia, que incluem parques e florestas nacionais e reservas extrativistas, ocupam 1,1 milhão de km2, área maior que os territórios da Espanha e da França.
    O relatório aponta que há uma forte correlação entre a criação de unidades de conservação e a queda do desmatamento.
    Uma amostra de cinco unidades aponta que, após a criação delas, houve queda de até 95% na área desmatada dentro da unidade nos anos seguintes à implantação. Dos 15 mil km2 de desmatamento registrados na região entre 2008 e 2012, apenas 6% foram dentro das unidades.
    SEM GESTÃO
    O trabalho aponta, contudo, que elas não têm tido a atenção necessária dos governos após sua criação. De 107 unidades federais, 62 não têm plano de manejo, que define a forma como a área pode ser explorada. Algumas foram criadas há mais de 20 anos.
    A falta de um plano de manejo dificulta a visitação a parques nacionais. O relatório aponta que, em 2011, apenas 2.000 pessoas visitaram parques na região amazônica devido à falta de condições para receber turistas.
    RANKING
    O trabalho analisou 14 indicadores em cada uma das 247 unidades da região (que incluem 107 criadas pelo governo federal e 140 estaduais) e elaborou um índice.
    Segundo o levantamento, só oito unidades estariam atuando de forma adequada, sendo sete delas federais.
    Um dos itens analisados é o número de servidores. Os técnicos descobriram que há 62 unidades federais com até dois funcionários e que seis delas não têm nenhum funcionário designado.
    O relator do processo, o ministro Weder de Oliveira, determinou que o ICMbio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade), órgão responsável pelo gerenciamento das áreas de conservação e ligado ao Ministério do Meio Ambiente, faça os planos de manejo dos parques e inicie programas para incentivar o turismo.

      Pasquale Cipro Neto

      folha de são paulo
      'Tudo vale(u) a pena...'
      Valeu a pena? Depende. Qual é o tamanho da alma dos que participaram do esquema do mensalão?
      O mensalão e os mensaleiros ainda dão e por muito tempo darão o que falar. A última grande "reflexão" de um dos envolvidos no esquema foi disparada por Roberto Jefferson, que, na última segunda-feira, em seu blog, afirmou que "tudo valeu a pena".
      Não sei se para proferir essa frase o ex-deputado se inspirou num dos versos do monumental poema "Mar Português", do grande Fernando Pessoa. Lá vão as duas primeiras estrofes da obra-prima: "Ó mar salgado, quanto do teu sal / São lágrimas de Portugal! / Por te cruzarmos, quantas mães choraram, / Quantos filhos em vão rezaram! / Quantas noivas ficaram por casar / Para que fosses nosso, ó mar! / Valeu a pena? Tudo vale a pena / Se a alma não é pequena".
      O leitor certamente sabe que Portugal já comandou um vasto império, cujos tentáculos chegaram aqui e a diversos cantos do planeta. Certamente sabe também da fama e da coragem dos navegadores portugueses, que, entre glórias e fracassos, geraram, na visão de Pessoa, um copioso derramamento de lágrimas, as quais salgaram boa parte do mar, do mar português, do mar de Pessoa.
      O profundo questionamento do poeta, ao qual ele mesmo responde ("Valeu a pena? Tudo vale a pena se a alma não é pequena."), não deixa de conter uma certa dose de ingenuidade e/ou ufanismo ("Para que fosses nosso, ó mar!"). Descontextualizado, o pensamento em si é mais do que nobre, é nobilíssimo.
      E a reflexão de Roberto Jefferson? Anda pelo mesmo caminho da de Pessoa? Ai, ai, ai... Poder-se-ia comparar a sanha da coroa portuguesa e dos seus navegadores pelos descobrimentos, pela posse de terras, pelo desbravamento dos mares, pelo poder, enfim, com a sanha dos que idealizaram, dos que mandaram realizar, dos que chefiaram, executaram etc. o mensalão? Tire você mesmo a conclusão, caro leitor.
      As "semelhanças" entre o que estão provando os mensaleiros já condenados e seus parentes e as vicissitudes dos navegadores portugueses e respectivos familiares são deveras interessantes. Na internet não faltam fotos e frases de gente que, no caso dos mensaleiros, exerce papel semelhante ao que exercem no poema de Fernando Pessoa as mães que choraram, os filhos que rezaram em vão, as noivas que ficaram por casar...
      Valeu a pena? Depende. Qual é o tamanho da alma dos que participaram do mensalão? Ou o mensalão nunca existiu e não passa de uma invenção da imprensa e de madalenas de matizes diversos?
      Talvez os dois versos finais do poema "Mar Português" nos ajudem a refletir melhor sobre isso: "Deus ao mar o perigo e o abismo deu, / Mas nele é que espelhou o céu". Parece que Deus deu também ao mar dos mensaleiros o perigo e o abismo, mas esses onipotentes nem sequer se lembraram de olhar para o céu... É isso.

      Jovem morre ao ser atropelada na faixa e levada por 200 metros

      folha de são paulo
      Testemunhas dizem que carro, em alta velocidade, furou semáforo e disputava 'racha'; motorista fugiu
      Jéssica Bueno da Silva, 22, que atravessava via na zona norte, ia para show comemorar seu novo emprego
      DE SÃO PAULODO "AGORA"
      Uma garota de 22 anos morreu na madrugada de ontem ao ser atropelada e, presa ao veículo, ser levada por cerca de 200 metros na zona norte de São Paulo. O motorista fugiu do local.
      Segundo testemunhas, Jéssica Bueno da Silva, 22, foi atingida por um Fiat Stilo que disputava um "racha".
      Ela foi atropelada quando quando cruzava, pela faixa de pedestres, a avenida General Edgar Facó, por volta da 0h.
      Mãe de uma menina de quatro anos, ela estava com o namorado e mais quatro amigos indo para um show no Centro de Tradições Nordestinas, no Limão. Comemorava um novo emprego.
      Jéssica conseguiu evitar um primeiro carro em alta velocidade, mas acabou atropelada pelo segundo.
      "O farol estava fechado para os carros. Um parou e ela começou a atravessar. Outro carro passou a mil' no farol vermelho, ela conseguiu desviar, mas o Stilo, que veio na sequência, pegou ela", disse Geyvysson dos Santos, 20, namorado de Jéssica.
      TETO SOLAR
      Com o impacto, o corpo da jovem atravessou o para-brisa, destruiu o teto solar e ficou preso dentro do carro.
      O veículo ainda percorreu cerca de 200 metros até parar, em cima da ponte do Piqueri, onde foi abandonado pelo motorista e outras duas pessoas que estavam em seu interior, disseram testemunhas.
      "A possibilidade de ser um racha é muito grande. Pelo estrago do carro, acredito que estava a 120 km/h", afirmou o delegado Marcel Druziani. A velocidade máxima permitida na avenida é de 60 km/h.
      "Foi tudo num piscar de olhos. Ouvi o barulho e ela desapareceu. Eu ainda corri atrás do carro. Mas quando cheguei eles já tinham fugido", disse Santos.
      A polícia afirma que o motorista era o proprietário do carro, Vagner Ferreira, 28.
      Policiais foram ontem à casa dele na Brasilândia (zona norte), mas não o encontraram. Familiares disseram que Ferreira ficou muito abalado com o acidente e que pretendia se apresentar à polícia.
      O Fiat Stilo, ano 2008, foi financiado e tem R$ 307 em multas de trânsito ainda pendentes.
      O autônomo, que trabalha assentando pisos com o pai e um irmão, responderá à acusação de homicídio culposo (não intencional) e fuga de local de acidente.
      "Vou analisar tudo. Se surgirem fatos, posso mudar para dolo eventual [intencional, por ter assumido o risco de provocar a morte]", disse o delegado, que investiga ainda a disputa de "racha".
      A reportagem não conseguiu localizar o advogado de Ferreira.
      Jéssica começaria hoje em emprego e pretendia se casar
      DE SÃO PAULOJéssica Bueno da Silva, 22, foi atropelada quando saía com o namorado e dois casais de amigos para comemorar uma conquista recente: havia conseguido novo emprego.
      Ela morava na região do Piqueri, na zona norte de São Paulo, e estava na avenida General Edgar Facó para tomar um ônibus com destino ao Centro de Tradições Nordestinas, no bairro do Limão.
      O objetivo do grupo era curtir um show com a participação do cantor sertanejo Gusttavo Lima e das bandas Garota Safada e Forró Balancear.
      De acordo com seu irmão, a jovem estava animada para começar no novo trabalho. Ela seria operadora de telemarketing.
      "Ela finalizou o processo de entrevistas e estava programado para começar a trabalhar nesta quinta-feira", afirmou Diego Peres Rodrigues.
      Segundo a família, Jéssica e o namorado, Geyvyson Santos, 20, planejavam se casar no final do próximo ano.
      RESPOSTA
      O irmão e outros familiares da jovem foram ontem à delegacia e cobraram uma resposta rápida da polícia em relação ao atropelador.
      "Neste país não existe Justiça. Ele fugiu do flagrante e não vai acontecer absolutamente nada", afirmou Rose dos Santos, prima de Jéssica.
      O corpo de Jéssica foi enterrado na tarde de ontem no cemitério da Vila Nova Cachoeirinha, também na zona norte.

        O outro mensalão - Editorial Folha

        folha de são paulo
        O outro mensalão
        STF não pode mais atrasar julgamento da ação sobre esquema de corrupção do PSDB em Minas, praticado na campanha eleitoral de 1998
        Enquanto se discutem e se executam os trâmites finais do julgamento do mensalão, ainda patina no Supremo Tribunal Federal a análise de outro simbólico caso de corrupção --e que, segundo a denúncia, ocorreu em 1998, muito antes dos crimes cometidos no começo do governo Lula.
        Trata-se do chamado mensalão tucano, ou mineiro, esquema de desvio de recursos públicos tão semelhante --ainda que em escala mais restrita-- ao congênere petista que o Ministério Público Federal viu ali "a origem e o laboratório" dos atos praticados em 2003 e 2004 sob a liderança de José Dirceu, no Planalto.
        Acredita-se que personagens hoje bastante conhecidos e recentemente condenados pelo STF já executassem em favor do PSDB de Minas Gerais as mesmas operações que depois colocariam a serviço do PT no plano federal.
        O publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza, bem como seus sócios Ramon Hollerbach e Cristiano Paz, aparece na acusação aliado ao hoje senador Clésio Andrade (PMDB) para articular um mecanismo criminoso de financiamento da campanha pela reeleição do então governador Eduardo Azeredo (PSDB).
        Pelo menos R$ 3,5 milhões teriam sido desviados dos cofres do Estado de Minas para a campanha de Azeredo, mediante contratos fraudulentos de patrocínio; em seguida, empréstimos do Banco Rural teriam servido para dissimular a fonte ilícita dos recursos.
        Embora a decisão caiba ao Supremo, o ex-procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, acredita que "vários delitos graves foram comprovados".
        Sua denúncia, apresentada em 2007 e aceita pelo STF em 2009, descreve situações que envolveram Azeredo e Walfrido dos Mares Guia --à época vice de Azeredo e candidato a deputado federal pelo PTB, depois ministro de Lula--, apontado como um dos organizadores da campanha tucana.
        Personagens sem direito ao foro privilegiado também foram listados pelo Ministério Público Federal. Serão julgados nas instâncias inferiores, já que a ação do mensalão tucano, ao contrário do petista, foi desmembrada. O núcleo político responderá perante o STF.
        Questionado por esta Folha, o ministro Luís Roberto Barroso, relator do processo do mensalão tucano no STF, afirmou que julgará o caso o mais depressa que o devido processo legal permitir. Espera-se que seja exatamente assim.
        Após o desfecho do processo do mensalão petista, a Suprema Corte brasileira não pode dar espaço à interpretação de que funciona em regimes distintos de acordo com a coloração partidária dos acusados.

          Eliane Cantanhêde

          folha de são paulo
          Mocinho e bandido
          BRASÍLIA - Eles não duelam entre si e muito menos vão sacar um revólver do coldre, mas o mensalão está produzindo um mocinho e um bandido e despertando todas as emoções que ambos merecem.
          O mocinho é José Genoino, que foi preso e torturado na ditadura e, desde o início do julgamento no Supremo, divide mentes e corações.
          Os ministros do tribunal e nove entre dez colunistas sempre foram (fomos) mais cuidadosos com ele do que com os demais. Parte pela questão objetiva de que Genoino entrou no bangue-bangue por assinar um documento na condição de presidente do PT. E parte pela questão subjetiva de que, apesar de envolvido num esquema milionário, ele nunca quis ser --e não é-- um homem rico.
          Decretadas as prisões, a aura de Genoino só fez aumentar. Além de todo o desconforto geral durante seu julgamento, ele agora tem 67 anos, acaba de passar por uma cirurgia cardíaca e, segundo laudo do IML, tem doença grave e precisa de cuidados especiais.
          Até Dilma, orientada a passar a léguas de distância do mensalão, sentiu-se liberada para seguir a onda da "opinião publicada" e fazer uma defesa de Genoino, enquanto o Congresso --que já manteve o mandato do deputado prisioneiro Natan Donadon--quebra a cabeça para arranjar uma solução toda especial para o petista.
          Do outro lado, o bandido número um passou a ser Henrique Pizzolato, um almofadinha excêntrico que, anos atrás, já metido num escândalo (o de uso do dinheiro do Banco do Brasil para beneficiar o PT), me disse que era intocável. "Já comi torresmo com muito mais cabelo", ironizava.
          O ministro Marco Aurélio foi infeliz ao justificar a fuga e, tanto quanto se procuram saídas para Genoino, discutem-se opções para não deixar Pizzolato livre, comendo pizza e tomando bons vinhos italianos. Mas, se ele não for passear em Mônaco com uma nova namorada, como fez Cacciola, sabe quando vão botar a mão no camarada? Nunca.

            Mário de Andrade era 'pansexual', diz biógrafo

            folha de são paulo

            Falta contar vida de Mário de Andrade, dizem biógrafos; opção sexual seria obstáculo


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            FABIO VICTOR
            EDITOR-ADJUNTO DA "ILUSTRADA"

            Quais vidas brasileiras dariam um livro que ainda não foi escrito? Alguns dos principais biógrafos do país reunidos num festival encerrado no domingo em Fortaleza consideram que a de Mário de Andrade certamente daria.
            O escritor modernista nascido em 1893 e morto em 1945 foi, entre 31 figuras públicas nacionais, o mais citado no levantamento como merecedor de uma biografia.
            Quatro biógrafos (Ruy Castro, Lira Neto, Humberto Werneck e Paulo César de Araújo) mencionaram a lacuna quanto ao autor de "Macunaíma".

            Editoria de Arte/Folhapress
            Logo atrás, com três citações, aparece o poeta Manuel Bandeira (veja lista ao lado).
            Há uma biografia de Mário a caminho. Diante do impasse quanto à lei que permite veto a biografias não autorizadas não se sabe se o trabalho, do jornalista Jason Tércio, será publicado.
            Nesta quinta (21) uma audiência pública no Supremo Tribunal Federal começa a debater o tema.
            Os herdeiros do escritor afirmam achar desnecessária uma biografia. O jornalista diz que pode publicá-la no exterior.
            Pesquisadores comentam que a suposta homossexualidade de Mário de Andrade é o entrave ao aval da família. O sobrinho dele desconversa.
            A tese voltou a ser levantada durante o festival de biografias realizado na semana passada em Fortaleza por autores como Humberto Werneck e Lira Neto.
            "Eu sempre quis fazer um livro sobre Mário de Andrade, acho que ele é a figura mais importante da cultura brasileira no século 20. Não se pode fazer isso porque ele era veado e porque a memória dele, o acervo, tem proprietários", disse Werneck durante um debate.
            O jornalista Jason Tercio diz que tratará do assunto em sua biografia, mas sem ênfase. "Apesar de alguns teóricos, como João Luiz Lafetá, terem visto reflexos de homossexualismo em textos do Mário, esse aspecto da vida dele é o menos importante."
            "Minha conclusão até agora é que ele era pansexual. Aliás, uma vez ele disse ao Rosário Fusco que seria capaz de ter relação sexual com uma árvore", relata Tercio.
            A suposta homossexualidade do autor de "Pauliceia Desvairada" é apontada como gota d'água no rompimento dele com outro modernista, Oswald de Andrade.
            Tercio lembra que Oswald escreveu que Mário de Andrade era "o nosso Miss São Paulo traduzido em masculino".
            Werneck, citando o historiador modernista Mário da Silva Brito, lembrou que Oswald se referiu em texto a Mário como "boneca de piche".
            Divulgação
            O escritor Mário de Andrade (sentado ao centro) com alunos do Conservatório Dramático e Musical de SP
            O escritor Mário de Andrade (sentado ao centro) com alunos do Conservatório Dramático e Musical de SP
            Professora titular do IEB (Instituto de Estudos Brasileiros) da USP e curadora do Arquivo Mário de Andrade, Telê Ancona Lopez refuta a tese de que a sexualidade é o motivo de a família resistir a biografias. "É absurdo. A família do Mário não é burra. Isso é preconceito de quem pergunta."
            Apontada à boca miúda por pesquisadores como uma guardiã rígida do acervo de Mário de Andrade no IEB, Lopez disse que a biografia dele "está disseminada por aí", em artigos e salas de aula.
            Mas ela declarou não se opor à biografia de Tercio. "Eu o conheço. Acredito que venha a ser um bom trabalho, porque ele é um biógrafo conceituado."
            Editoria de Arte/Folhapress
            SETE ANOS
            Assim como outros biógrafos brasileiros, Tércio aguarda o desfecho do impasse sobre as biografias não autorizadas para definir como fará com a sua obra sobre Mário.
            Ações no Supremo Tribunal Federal e no Congresso tentam alterar artigos do Código Civil que permitem o veto a biografias não autorizadas.
            Tercio mergulhou há sete anos na pesquisa sobre o modernista e começou a escrever o livro há três anos. Planeja concluir o trabalho no primeiro semestre de 2014.
            Autor de uma biografia do jornalista Carlinhos de Oliveira ("Órfão da Tempestade") e de livros sobre o deputado Rubens Paiva, Tercio diz já ter sondado editoras, mas aposta que qualquer negociação só seguirá após a resolução do imbróglio jurídico.
            O biógrafo procurou os herdeiros de Mário e expôs a importância de uma biografia. "As cartas têm informações biográficas, mas passageiras e incompletas" e, "mesmo se já houvesse uma biografia, poderia haver outras, pela grandeza de sua vida e obra". Não convenceu.
            "A posição é a mais absurda entre todas as de herdeiros, não teria amparo legal, mesmo no Código Civil atual", diz Tercio, que já tem plano B caso surja impedimento jurídico.
            "Publico o livro em outro país e apresento denúncia em órgãos internacionais, como o PEN International e Index on Censorship", diz, aludindo à associação de escritores e à ONG que denuncia violações da liberdade de expressão pelo mundo.
            OUTRO LADO
            Escritor já deixou sua biografia em cartas, diz herdeiro
            DO EDITOR-ADJUNTO DA "ILUSTRADA"Sobrinho de Mário de Andrade (filho da irmã mais nova do escritor, Maria de Lourdes), o engenheiro e empresário Carlos Augusto de Andrade Camargo, 74, afirma não considerar necessária uma biografia sobre o tio.
            "Através das milhares de cartas que escreveu e foram publicadas, Mário deixou sua própria biografia", disse, em entrevista por email.
            "Quem se interessar por Mário tem ao seu dispor dezenas de livros de correspondência, em que ele se coloca desinteressadamente, com a maior espontaneidade e sinceridade, própria de uma troca entre amigos."
            Indagado se recorreria à Justiça para impedir uma biografia do tio, afirmou: "Não raciocino sobre hipóteses".Camargo diz saber do trabalho de Jason Tércio e que trocou com o biógrafo e-mails, cujo teor não quis revelar.
            Segundo Tércio, o sobrinho de Mário lhe escreveu que ele não contaria "com a concordância, o apoio ou colaboração" da família.
            Questionado sobre o relato do biógrafo, Camargo respondeu: "Conversas com meus interlocutores não são de interesse público".
            Ele tampouco quis comentar a versão de que a sexualidade de Mário seria entrave à publicação de uma biografia.
            "Moacir Werneck de Castro, José Bento Faria Ferraz (só para citar dois que conviveram com Mário) já escreveram a respeito. Não tenho nada a acrescentar", disse, citando o jornalista fluminense e o secretário pessoal de Mário.
            Em seu livro "Exílio no Rio", Werneck de Castro escreveu que Mário tinha uma "sexualidade reprimida, irrealizada ou mal realizada".
            "Nada havia em seu comportamento conosco, nem mesmo na desinibição ao fim de grandes chopadas, que o denotasse. (...) Parecia natural, próprio de sua personalidade, um certo dengo, a maneira engraçada de dizer, por exemplo, "Ah, que gostosura!', ou escandindo as sílabas, uma de-lí-cia!' Era o jeito dele."
            Numa entrevista à Folha em 1997, Ferraz disse: "Soube que na estadia de Mário no Rio ele usava tóxicos, cocaína, sei lá o quê. Agora, se ele era homossexual, não sei".

              Audiência começa hoje com maioria contrária à censura

              folha de são paulo
              Editores, escritores e deputados falarão sobre a autorização prévia para histórias de vida em debate público no Supremo Tribunal Federal
              JULIANA GRAGNANIDE SÃO PAULOA audiência pública sobre a questão das biografias começa hoje, às 9h, com ao menos 13 representantes do lado que pretende derrubar a restrição para publicações, de um total de 17 pessoas.
              O outro lado será representado pela Associação Eduardo Banks, que defende autorização prévia de biografias.
              O deputado Marcos Rogério (PDT-RO) possivelmente também questionará a liberação das obras.
              O debate foi convocado pela ministra Cármen Lúcia, relatora da ação proposta por editores no Supremo Tribunal Federal, que recebeu 47 inscrições. Entre escolhidos para falar 15 minutos estão Ana Maria Machado, presidente da Academia Brasileira de Letras, e Sônia Jardim, presidente do Sindicato Nacional dos Editores de Livros.
              Cármen Lúcia rejeitou pedido de participação dos advogados Ana Paula Barcellos e Marco Antônio Campos, ligados a Roberto Carlos. Barcellos fez um estudo sobre a legislação aplicada a biografias pedido por Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, advogado do cantor.
              Kakay diz que o grupo está focado agora no Congresso, onde há um projeto sobre o tema, e não no Supremo.
              A favor da restrição falará Ralph Lichotti, 33, advogado da Associação Eduardo Banks, interessada no processo. O fundador que dá nome ao grupo não participará por ter compromisso em Florianópolis, segundo Lichotti.
              O advogado afirma que a associação não tem contato com Roberto e outros artistas. "Nosso grupo tem como objetivo resguardar a Constituição e os valores familiares, por isso fomos contra o casamento homoafetivo", diz ele, que é também jornalista e presidente do diretório do PT de Itaperuna (RJ).
              O deputado federal Marcos Rogério também falará na audiência. Ele é autor do recurso que atrasou a tramitação do projeto de lei contra a censura às biografias na Câmara. A proposta é de autoria do deputado Newton Lima (PT-SP), que também participará do debate.
              "Imagine que um adversário seu resolva fazer uma biografia para te atacar ou que um aliado resolva te promover. Isso não poderá ser considerado propaganda eleitoral antecipada. Isso tem que ser discutido", disse Marcos Rogério à Folha, em abril. A reportagem não conseguiu ouvi-lo novamente.

                Janio de Freitas

                folha de são paulo
                O show dos erros
                O estado de Genoino já era conhecido quando Joaquim Barbosa determinou que o sujeitassem à viagem
                No primeiro plano, o espetáculo criado para a TV (alertada e preparada com a conveniente antecedência) mostrou montagem meticulosa, os presos passando pelos pátios dos aeroportos, entrando e saindo de vans e do avião-cárcere, até a entrada em seu destino. Por trás do primeiro plano, um pastelão. Feito de mais do que erros graves: também com o comprometimento funcional e moral de instituições cujos erros ferem o Estado de Direito. Ou seja, o próprio regime de democracia constitucional.
                Os presos na sexta-feira, 15 de novembro, foram levados a exame de condições físicas pela Polícia Federal, antes de postos em reclusão. Exceto José Genoino, que foi dispensado, a pedido, de um exame obrigatório. Experiente, e diante de tantas menções à saúde inconfiável de José Genoino, o juiz Ademar Silva de Vasconcelos, a quem cabem as Execuções Penais no Distrito Federal, determinou exame médico do preso. Era já a tarde de terça-feira, com a conclusão de que Genoino é portador de "doença grave, crônica e agudizada, que necessita de cuidados específicos, medicamentosos e gerais".
                José Genoino não adoeceu nos primeiros quatro dias de sua prisão. Logo, deixá-lo esses dias sem os "cuidados específicos", enquanto aqui fora se discutia se é o caso de cumprir pena em regime semiaberto ou em casa, representou irresponsável ameaça a uma vida --e quem responderá por isso?
                A rigor, a primeira etapa de tal erro saiu do Supremo Tribunal Federal. A precariedade do estado de José Genoino já estava muito conhecida quando o ministro Joaquim Barbosa determinou que o sujeitassem a uma viagem demorada e de forte desgaste emocional. E, nas palavras de um ministro do mesmo Supremo, Marco Aurélio Mello, contrária à "lei que determina o cumprimento da pena próximo ao domicílio", nada a ver com Brasília. O que é contrário à lei, ilegal é. O Conselho Nacional de Justiça, que, presidido por Joaquim Barbosa, investe contra juízes que erram, fará o mesmo nesse caso? Afinal, dizem que o Brasil mudou e acabou a impunidade. Ou, no caso, não seria impunidade?
                Do mesmo ministro Marco Aurélio, além de outros juristas e também do juiz das Execuções Penais, veio a observação que localiza, no bojo de mais um erro gritante, parte do erro de imprevidência temerária quanto a José Genoino. Foi a já muito citada omissão da "carta de sentença", que, se expedida pelo ministro Joaquim Barbosa, deveria anteceder o ato de reclusão. E só chegou ao juiz competente, para instruí-lo, 48 horas depois de guarda dos presos.
                Com a "carta de sentença", outra comunicação obrigatória deixou de ser feita. Só ocorreu às 22h de anteontem, porque o destinatário dissera às TVs não ter o que providenciar sobre o deputado José Genoino, se nem fora comunicado pelo Supremo da decisão de prendê-lo. Presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves vai submeter a cassação do deputado ao voto do plenário, e não à Mesa Diretora como uma vez decidido pelo Supremo. Faz muito bem.
                Mas o Ministério da Justiça tem mais a dizer. E sobretudo a fazer. O uso de algemas durante o voo dos nove presos transgrediu a norma baixada pelo próprio ministério, que só admite tal imobilização em caso de risco de resistência ou fuga. Que resistência Kátia Rabello, Simone Vasconcelos, José Genoino poderiam fazer no avião? E os demais, por que se entregariam, como fizeram também, para depois tentar atos de resistência dentro do avião? Além de cada um ter um agente no assento ao lado. O uso indevido de algemas, que esteve em moda para humilhar empresários, é uma arbitrariedade própria de regime policialesco, se não for aplicado só quando de fato necessário. Quem responderá pela transgressão à norma do próprio Ministério da Justiça?
                Com a prisão se vem a saber de uma violência medieval: famílias de presos na Papuda, em Brasília, precisam dormir diante da penitenciária para assegurar-se, no dia seguinte, a senha que permita a visita ao filho, ao pai, marido, mulher. Que crime cometeram esses familiares para receberem o castigo desse sofrimento adicional, como se não lhes bastasse o de um filho ou pai na prisão?
                Medieval, é isso mesmo a extensão do castigo à família. Na Brasília que diziam ser a capital do futuro. Assim até fazem sentido a viagem ilegal dos nove para Brasília, as algemas e outros castigos adicionais aplicados a José Genoino e outros. E que vão continuar.

                Mônica Bergamo

                folha de são paulo

                José Dirceu prefere cumprir pena em Brasília para ficar perto de filha caçula

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                José Dirceu prefere cumprir pena em um presídio do Distrito Federal para ficar perto da filha caçula, Maria Antonia. O ex-ministro não vai pedir para ser transferido para São Paulo, segundo seu filho mais velho, o deputado federal Zeca Dirceu (PT-PR). "Ele quer ficar perto da minha irmã de três anos que mora em Brasília."
                EM NOME DA FILHA
                Zeca Dirceu usou a prerrogativa de parlamentar para visitar o pai anteontem, sem ter que esperar o dia de visitas. "As minhas irmãs que moram em São Paulo estão querendo mudar de cidade, então pra ele é melhor ficar em Brasília, onde eu também vou poder vê-lo com mais frequência", explica o deputado. Zé Dirceu é pai também de Camila e Joana e declarou, pouco antes de se apresentar à polícia, que a distância dos filhos seria o mais penoso na prisão.
                ACABAR EM PIZZA
                "Mensalão à italiana" é delírio, segundo Walter Maierovitch, presidente do Instituto Giovanni Falcone. O jurista entende que para haver novo julgamento na Itália não basta Henrique Pizzolato se apresentar às autoridades. "O governo brasileiro é que teria de solicitar, o que nunca faria, pois seria uma esculhambação para o Supremo Tribunal Federal, que o condenou por unanimidade."
                ACABAR EM PIZZA 2
                O tratado entre o Brasil e a Itália foi assinado em 1989. "E foi rasgado pelo governo brasileiro no caso Cesare Battisti", diz Maierovitch. Um outro ponto a ser considerado é que o foragido cometeu os crimes no Brasil. "A Itália vai respeitar o princípio da territorialidade. O foragido não teria por que ser julgado lá", diz o jurista.
                MULTIARTISTA
                Bruno Poletti/Folhapress
                A cantora Vanessa da Mata fez sessão de autógrafos de seu primeiro romance, "A Filha das Flores", anteontem, na Livraria Cultura da Paulista.
                NATURAL
                Irmã caçula de Beyoncé, Solange Knowles só pediu o básico --água, sucos e frutas-- para o camarim de seu show hoje no Cine Joia, em SP. No Rock in Rio, Beyoncé exigiu itens como amêndoas, queijos, orquídeas, forro branco e tapetes. Trouxe até o próprio cozinheiro.
                MEMÓRIA
                Objetos pessoais de Raul Cortez vão ser expostos a partir de maio de 2014 no Centro Cultural dos Correios, no Anhangabaú. A mostra reunirá fotos, cenários e figurinos do ator, morto em 2006.
                PARA RIR
                O trailer de "Crô", longa de Bruno Barreto com o personagem de Marcelo Serrado em "Fina Estampa", foi visto por 250 mil pessoas em 24 horas no YouTube. Marca que supera outras comédias campeãs de bilheteria. Segundo a produtora Paula Barreto, os levantamentos nas redes sociais levam à projeção de 2 milhões de espectadores. O lançamento, dia 29, será com 400 cópias.
                ÂNGULOS DIFERENTES
                O fotógrafo Fabrizio Fasano Jr. inaugurou a exposição "Nova York Diferent Angles" anteontem, no Espaço Minas Gerais, em Higienópolis. A diretora do local, Gabriela Cordeiro, o casal de empresários Sergio Waib e Regina Moraes Waib e a chef e apresentadora Heaven Delhaye foram ao vernissage.

                Fabrizio Fasano Jr. abre exposição

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                O fotógrafo Fabrizio Fasano Jr. abriu a exposição "Nova York Different Angles", no Espaço Minas Gerais, em Higienópolis, na terça (19)
                IMAGINAÇÃO
                Oscar Maroni vai distribuir panfletos ousados para atrair o público da Fórmula 1 ao Bahamas no fim de semana. Um dos anúncios tem a foto das pernas de uma mulher de short agachada diante de um homem com botas de piloto. Outdoors de casas noturnas com imagens semelhantes foram retirados pela prefeitura na época do Grande Prêmio de 2005. Maroni reabriu há dois meses seu clube, que ficou interditado por seis anos sob acusação de favorecer a prostituição.
                SEM CLIMÃO
                Lethicia Bronstein, estilista que já vestiu famosas como Juliana Paes, Sabrina Sato e Carolina Dieckmann, vai lançar coleção de Réveillon "mais em conta" para venda em seu site. As roupas vão custar em média R$ 2.000 --abaixo da faixa habitual de R$ 6.000. Serão produzidas no máximo cem peças, entre vestidos, saias e camisas, predominantemente brancos. "Não quero que todo mundo chegue às festas de roupa igual", diz ela.
                APAGARAM TUDO
                A apresentadora Veridiana Bressane e o diretor de cinema Pedro Morelli foram à pré-estreia do filme "Cidade Cinza", anteontem, no Espaço Itaú de Cinema, na Augusta. Guilherme Valiengo e Marcelo Mesquita, diretores do longa, receberam o humorista Rafinha Bastos, o grafiteiro Ise e Paulo Morelli, diretor e sócio da produtora O2.

                Pré-estreia do filme "Cidade Cinza"

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                Bruno Poletti/Folhapress
                AnteriorPróxima
                Marcelo Mesquita, diretor de "Cidade Cinza", lançou o filme na terça (19), no Espaço Itaú de Cinema da rua Augusta
                CURTO-CIRCUITO
                Ná Ozzetti faz show hoje, às 21h, no Teatro Anhembi Morumbi. 12 anos.
                Murilo Benício, Bruno Gagliasso e Danielle Winits estarão no camarote da Shell na Fórmula 1, domingo.
                O americano William Ury, especialista em negociação, faz palestra hoje no Encontro Nacional Dotz e Varejo, no Grand Hyatt.
                A Spezzato lança coleção na Vila Nova Conceição.
                Menahem Ben-Sasson, da Universidade Hebraica de Jerusalém, entrega hoje prêmio a Morris Dayan, em jantar na casa de Marcia e Daniel Borger, nos Jardins.
                O livro "Para Copacabana, com Amor" (vários autores) será lançado hoje, às 19h30, em Copacabana.
                com ELIANE TRINDADE (interina), JOELMIR TAVARES, ANA KREPP e MARCELA PAES
                mônica bergamo
                Mônica Bergamo, jornalista, assina coluna diária publicada na página 2 da versão impressa de "Ilustrada". Traz informações sobre diversas áreas, entre elas, política, moda e coluna social. Está na Folha desde abril de 1999.

                José Simão

                folha de são paulo
                Socuerro! O Hulk desbundou!
                O Cristiano Ronaldo joga 90 minutos e não tira um fio de cabelo do lugar. É o Ken, do 'Toy Story 3'
                Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Me diverti com essa rodada da Copa! Brasil x Chile! O Hulk desbundou! O Hulk ficou verde, rasgou o calção e GOL! Bateu a bunda na mesa! Rarará!
                E o Robinho tá um saci de duas pernas! E um amigo disse: "Se eu fosse o Felipão, não convocava ninguém com a letra R', só pra sacanear com o Galvão". Rarará!
                E o Cristiano Ronaldo? Com aquele look de "boneco de apartamento"? Três gols! Vai pedir um fado no "Fantástico"! O Cristiano Ronaldo joga 90 minutos e não tira um fio de cabelo do lugar. Saiu do campo como entrou, todo arrumadinho, o calção não tem uma mancha! É o Ken de "Toy Story 3"!
                E a Grécia tava ganhando da Romênia de um a zero, fez gol contra e se empatou. Empatou-se a si mesmo! Rarará! E a França se classificou com duas bolas do Sakho! Rarará!
                E o Papudo da Papuda? Diz que o Zé Dirceu tá gostando do beliche da cela. Ele dorme embaixo e o ego em cima!
                E eu tô com dó do Genoino. Além de doente, tem que dividir a cela com o Zé Dirceu! Pena dobrada! Dobraram a pena do Genoino. Tô com pena da pena do Genoino!
                E a moda agora é semiaberto! Supremo decreta: a tendência pra esse verão é o semiaberto!
                E as charges geniais do Duke! Escrivão pergunta pro casal: "Em qual regime vocês pretendem se casar?". "Regime semiaberto." Já sei, de dia vai pro motel com a amante e de noite volta pra cadeia pra dormir com a mulher! Ou vice-versa!
                De dia, a mulher vai pro motel com o amante e de noite volta pra cadeia pra dormir com o marido. De dia, cama redonda e de noite, cama quadrada! Rarará!
                E mais essa: "Bacon, hambúrguer, pizza e macarrão só posso comer entre 7h e 19h. Tô fazendo regime semiaberto". O regime ideal! Rarará!
                E o Galvão tá assim: qualquer comentário serve pra elogiar o Neymar!
                É mole? É mole, mas sobe!
                Os Predestinados! Mais três para a minha série Os Predestinados! Funcionário da empresa PeopleOne: Marciano Verdi! Claro, alguém já viu marciano amarelo? Rarará.
                E direto da Bahia, a especialista em reprodução humana: Geneviéve Coelho! Aí não é mais reprodução, é multiplicação! Rarará!
                E esse gerente de vendas da Hyundai: César Coreia! Rarará!
                Nóis sofre, mas nóis goza!
                Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!