segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Metade dos brasileiros segue off-line; veja depoimentos de 'desconectados'

folha de são paulo

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YURI GONZAGA
DE SÃO PAULO

O PNBL (Programa Nacional de Banda Larga), do governo federal, determina que todas as cidades do Brasil tenham conexão com velocidade de 1 Mbps oferecida a R$ 35 até o fim de 2014.
"A gente sabe que, no mundo de hoje, isso não basta: as aplicações com maior potencial socioeconômico, como assistir a uma aula, estão relacionadas a uma velocidade superior", diz o gerente de banda larga do Ministério das Comunicações, Pedro Lucas da Cruz Araújo.
A UIT (União Internacional de Telecomunicações) chama de banda larga as conexões com 1,5 Mbps ou mais.
Mas a velocidade não é o maior dos problemas.
Vivem sem Google, sem Facebook e sem Wikipédia 86 milhões de brasileiros com 10 anos ou mais, ou 49,1% de um total de 169 milhões de pessoas nessa faixa etária, segundo dados do IBGE do fim do ano passado.
São pessoas pobres, "analfabetos digitais" ou que vivem em lugares isolados. "A exclusão digital segue a mesma lógica da exclusão social", diz a secretária de inclusão digital do Ministério das Comunicações, Lygia Pupatto. "Temos deficit maior nas classes C, D e E, e as regiões com maior demanda são Norte e Nordeste."
É entre esses grupos que o crescimento vem sendo mais acelerado, segundo Adriana Beringuy, pesquisadora do IBGE. "Também avançaram [em acesso à internet] as pessoas com mais de 60 anos."
Em 2011, a parcela dos que já estavam on-line era de 46,7%, o que significa que o país pode ter mais da metade conectada. Segundo a UIT, a fatia é de 95% na Noruega, de 81% nos EUA, de 56% na Argentina e de 42% na China.
Das 5.564 cidades que existiam quando foi criado o PNBL (hoje há outras seis), em 2011, 3.214 são atendidas.
Editoria de arte/Folhapress
NÃO QUERO
Mas nem todos estão desconectados só por não ter condição financeira necessária. "Não suporto internet, celular, essas coisas", diz o motorista Jorge Feitosa, 59. "Ali, você pode ser roubado, falta sigilo. Não tenho medo, mas para mim não encaixa. Meu negócio é cartão no orelhão", conta. Ele diz que, apesar de ser contra, comprou um computador para seu filho.
A dona de casa Cristiane Gradinar, 38, diz que já chegou a procurar emprego on-line, mas que não tem interesse em se conectar de novo. "Também não uso porque sou evangélica", diz. A igreja que frequenta não proíbe internet, "mas tem muita coisa [on-line] que não é permitida", diz.
NÃO POSSO
Com suas horas divididas entre a escola e a venda de bebidas na praça da Sé, o menino Marcelo Silva, 15, diz que nunca teve a oportunidade de usar a internet. "Até quero, mas ninguém na minha casa compra, então não tenho como usar", conta.
Ele diz que tentará usar a rede no SESC Carmo, que fica na rua onde mora, na capital paulista (veja lista de locais de acesso grátis).
Já a dona de casa Maria Lúcia Mendonça, 65, diz que já tentou usar o PC --tarefa que, quando precisa, pede à filha--, mas não conseguiu. "Só para escrever meu nome, levava uma eternidade. Não tenho paciência", diz, contando que tem medo de perder dinheiro usando a internet, por causa da falta de segurança.
O corretor imobiliário Eduardo Fernandes, 56, precisa enviar e-mails a clientes, mas onde vive, uma chácara no limite entre São Paulo e Itapecerica da Serra, não chega a conexão a cabo --ele recorre a lan houses. "Também uso no Poupatempo, mas é muito devagar", reclama.
ALÉM DA INCLUSÃO
Para o Ministério das Comunicações, o maior problema ainda é a infraestrutura, já que há muitos lugares desinteressantes do ponto de vista econômico para as operadoras --e é delas a decisão de prover ou não o acesso.
Mas a gigantesca tarefa de universalizar o acesso é só um primeiro passo. "Acho que uma coisa é a pessoa saber usar a internet", diz Pupatto. "A outra, que é o nosso desafio, é ela se apropriar dela, abrindo possibilidades que realmente mudam a vida, como educação à distância e projetos culturais."
Para Alexandre Fernandes Barbosa, um dos coordenadores do CGI (Comitê Gestor da Internet), "não basta um cidadão da periferia usar a lan house e acessar o Facebook se não souber fazer outra coisa. O desenvolvimento de habilidades é fundamental."

Internet nos ares

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John Schenk/Divulgação/Efe
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Balão do projeto Loon, do Google, na Nova Zelândia Leia mais
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O QUE DIZEM OS DESCONECTADOS
"Ainda quero aprender, fazer o básico, coisas para meu trabalho. Já aprendi a dirigir, por que não usar o computador?"
MOACIR CARLOS DE MENEZES, 48
Construtor civil autônomo
"Sou da geração do papel. Até tenho celular, mas coisas de internet é com minha mulher"
LINÉSIO PEREIRA, 49
Vendedor
"Não uso hoje porque estou sem computador. Você fica meio isolado... a gente fica vegetando sem internet"
FLAVIANO FONSECA FILHO, 40
Tosador de cachorros e rapper
"Até quero, mas ninguém na minha casa compra, então não tenho como usar"
MARCELO SILVA, 15
Estudante e vendedor informal
"Só para escrever meu nome, levava uma eternidade. Não tenho paciência"
MARIA LÚCIA MENDONÇA, 65
Dona de casa
"Não suporto internet. Meu negócio é cartão no orelhão"
JORGE FEITOSA, 59
Motorista
"Não uso porque sou evangélica. Há muita coisa [on-line] que a igreja não permite"
CRISTIANE GRADINAR, 38
Dona de casa
+ LIVRARIA

Festival em SP debate o uso de games na educação e na saúde

folha de são paulo

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ALEXANDRE ORRICO
DE SÃO PAULO

Como utilizar games em sala de aula para facilitar o aprendizado? Exames médicos podem se tornar mais aprazíveis se apresentados em forma de jogos?
Estas são duas das perguntas que tentarão ser respondidas durante o evento Games for Change, que debate a aplicação de jogos na educação, saúde e outros setores. São Paulo recebe, neste fim de semana, a edição latino-americana do festival.
"Usar videogames só para diversão é explorar apenas uma fração do que é possível fazer com eles", diz Asi Burak, desenvolvedor e presidente global do festival G4C.
"Já é visível em vários países que os games são uma força transformadora de hábitos, de políticas públicas, de apoio à inovação tecnológica e de práticas educacionais", completa.
Burak é o criador um game no gênero, "Peace Maker", sobre o conflito árabe-israelense, e virá ao Brasil para a terceira edição do Festival na USP.
Estão previstas palestras, debates, oficinas e teste de games como "Ludwig", sobre energia e sustentabilidade, e "Conflitos Globais".
A programação inclui ainda uma "game jam", maratona em que desenvolvedores vão encarar ao longo de três dias o desafio de produzir games que tenham impacto na universidade, transformando a relação entre a maior e melhor universidade brasileira e a sociedade.


Por que não atendo sua ligação, mesmo que esteja livre

folha de são paulo

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CAELI WOLFSON WIDGER
DO "NEW YORK TIMES"
The New York Times
Minha prima Stacey, de San Francisco, ligou recentemente. Não conversávamos desde que ela me visitou, no mês passado, e eu já estava com saudades dela, mesmo. Quando o telefone tocou, eu estava no escritório, lendo e-mails e acompanhando minha conta do Twitter --de maneira alguma ocupada demais para conversar.
Mas eu vi o telefonema chegar e não peguei o celular. Tampouco ouvi a mensagem de voz que ela deixou. Em vez disso, disparei uma mensagem de texto. Pedi desculpas por estar ocupada demais para atender e propus combinarmos uma hora para conversar no dia seguinte.
Por que mentir? Eu tinha tempo para conversar. Tinha privacidade e o silêncio que raramente encontro em minha casa repleta de crianças pequenas e de caos entusiástico com afazeres.
Algumas das melhores conversas que tive na vida foram com Stacey. Mas meu reflexo instantâneo foi não atender o telefonema dela.
Hoje em dia, raramente atendo telefonemas. Meus contatos por telefone são conduzidos via mensagens de texto e mídia social. No caso dessas mídias, respondo muito rápido. Cada sininho que anuncia a chegada de um SMS ou notificação de mensagem no Twitter me faz sentir como se tivesse um pequeno presente me esperando.
O toque do telefone, por outro lado, é como uma potencial demanda de tempo e paciência que não sei se quero despender. O telefonema de Stacey se enquadrou justamente nessa descrição.
Ela está passando por momentos difíceis. O namoro dela está chegando ao fim, depois de cinco anos, e ela está desempregada há 18 meses. Embora não suporte passar nem mais um minuto com seu quase ex, lhe falta dinheiro para arriscar uma incursão solitária no exorbitante mercado de habitação que existe em San Francisco.
Stacey não respondeu à minha mensagem de texto, mas isso não me preocupou. Nós logo colocaríamos a conversa em dia, como sempre.
Uma semana mais tarde, ela me enviou uma mensagem de texto perguntando se podíamos falar ao telefone no dia seguinte, às 9h15 ou às 14h. Eu estaria ocupada, naquele dia, preparando um evento para minha empresa no começo da noite. Mas o fato de que Stacey enviou uma mensagem antes de ligar me fez sentir uma mudança. Um tom mais leve. Menos intrusivo. Respondi que ligaria para ela às 14h.
Quando enfim conversamos, ela perguntou: "Você não ouviu minha mensagem da semana passada, ouviu?"
"Uhn...", murmurei.
"Eu sei", ela suspirou. "Você nunca ouve as mensagens Pode apagar. Está tudo bem".
Conversamos por uma hora, no geral sobre seu relacionamento moribundo e sua situação de moradia, como eu imaginava. Mas foi uma conversa fácil. Ela havia acabado de conseguir aprovação para alugar um pequeno apartamento. A perspectiva de ser solteira de novo começava a oferecer vislumbres de possibilidades novas, em lugar de apenas solidão.
Mais tarde, ouvi a mensagem que ela havia deixado uma semana antes. O choro era tão forte que eu mal conseguia entender sua voz. Ela estava no fundo do poço, desesperada com sua vida, com a situação geral que vivia e não com algum problema específico. Para ela, era como se estivesse sendo atacada de todas as direções. E Stacey precisava que eu lhe fizesse companhia ao telefone, e dissesse que tudo ficaria bem.
Ouvir a mensagem me encheu de culpa. Quando eu me tornei uma pessoa que prefere o que é mais conveniente em termos emocionais, e deixa de lado as necessidades das pessoas mais próximas?
Porque é isso que evitar telefonemas significa, na verdade: postergar o envolvimento direto que o contato com uma vez humana requer.
Eu tinha simplesmente adotado por comodismo uma nova norma: se ninguém mais atende telefonemas, por que eu atenderia?
Tendo aprendido a lição, resolvi que mudaria. A menos que estivesse realmente ocupada, prometi que começaria a atender telefonemas sempre que eles surgissem, apesar das perturbações que a conversa pudesse causar. Estava decidida a me tornar uma amiga mais espontânea e generosa do que fora.
Mencionei esse propósito, de passagem, a muita gente, nas semanas posteriores à mensagem de Stacey, inclusive a ela. "Adivinhe! Agora vou atender todos os telefonemas. Pode ligar para ver."
Mas quase ninguém testou minha disposição. Meu celular continua ocupado por alertas de mensagens de texto, e-mails e notificações do Twitter, mas dias inteiros passam sem que toque.
Minha disposição de me recondicionar chegou tarde demais. Meus amigos e família já haviam se acostumado a viver sob as novas regras. Ligar só se for absolutamente necessário. Envie uma mensagem de texto primeiro.
Como resultado, o desejo de mudar que senti tão intensamente depois do telefonema de Stacey está se extinguindo. Minha preferência instintiva, como a de muita gente que conheço, é pelo baixo risco emocional da comunicação via texto em uma tela de computador ou do meu smartphone.
Hoje em dia eu posso até me forçar a atender telefonemas. Mas, confesso, sempre hesitarei primeiro.
Caeli Wolfson Widger é escritora em Santa Monica, Califórnia. Seu romance "Real Happy Family" sai no ano que vem pela Amazon Publishing.
Tradução de PAULO MIGLIACCI

Daniel Pellizzari

folha de são paulo
Gastando os beiços
Em jogos estranhos, o fascínio nasce da interação entre o que não poderia ser e o que poderia ter sido
Existem jogos estranhos, jogos imperfeitos, jogos estranhos e imperfeitos e existe "Chulip". Em jogos estranhos e imperfeitos, o fascínio nasce da interação entre aquilo que não poderia ser (mas está bem ali na tela) e aquilo que poderia ter sido (mas escapou aos desenvolvedores).
Isso está presente em "Chulip", que poderia ser um dos melhores exemplos da categoria se não fosse único a ponto de se tornar inclassificável. Criação de Yoshiro Kimura, o jogo foi desenvolvido pela Punchline e lançado para o PS2 em 2002.
Apesar da leve esquisitice da cena de abertura, o ar bucólico do início do jogo engana. Os primeiros momentos do jovem protagonista, recém-chegado na Cidade da Vida Longa, sugerem uma espécie de "Animal Crossing" no interior do Japão dos anos 1960, com cenários mais realistas e personagens humanos no lugar dos animais da franquia da Nintendo.
Quando levamos nosso anti-herói para explorar a cidade com mais cuidado, vestido de quepe e uniforme cinza de estudante, surgem indícios da mistura de fofo, sombrio e demente que caracteriza o universo de "Chulip". Num desses passeios ele encontra a garota com quem sonha na abertura, e que beija diante da Árvore dos Amantes.
Mas no mundo real ele é rejeitado por ser um pobretão desconhecido. Decidido a conquistar a menina com uma carta de amor, descobre que seu material de escritório foi roubado. Parte então em uma jornada para recuperar os itens perdidos, missão que também exige cair nas graças dos moradores locais. E em "Chulip" isso se faz com beijos.
Não é simples. Os beijos não podem ser roubados, e cada personagem --de moradores comuns, divididos entre quem mora na superfície e os habitantes subterrâneos, até alienígenas-- tem suas idiossincrasias. É preciso descobrir o que fazer para deixar cada um deles animado a ponto de permitir o beijo.
Depois de muita exploração meticulosa, diálogos absurdos (nem sempre propositais: a tradução é problemática) e fracassos em acertar o momento exato de realizar certas ações, a sensação de vitória é genuína quando uma tentativa de beijo enfim dá certo. Esse alívio é reforçado pela adorável tosquice da celebração: ao som da música-tema quase sinistra, por uns segundos somos lançados no espaço sideral enquanto a câmera gira ao redor dos beijoqueiros e fogos de artifício explodem.
Tanta dificuldade é uma das imperfeições do jogo. Na maioria das vezes não há indicação alguma do que deve ser feito para ganhar a simpatia de um personagem. Como "Chulip" se divide em períodos de 24 horas, há apenas uma chance por dia, o que não combina com uma mecânica baseada em tentativa e erro. Na edição americana, de 2007, o manual reconhece esse problema e traz um passo-a-passo.
"Chulip" vendeu mal mesmo no Japão, e nunca entendi como acabou lançado no Ocidente. Mas o jogo tem seus fãs, e prova disso é ter sido relançado na PSN em 2012. Jamais entraria em listas de melhores de todos os tempos, mas quem passou horas matutando estratégias para beijar um dinossauro cinéfilo não esquece a experiência.

Por que o game 'Candy Crush' é tão viciante?

folha de são paulo
INTERNETS
RONALDO LEMOS - @lemos_ronaldo
Um dos maiores sorvedouros de tempo de hoje é o game "Candy Crush". Se por um lado ele popularizou ainda mais o universo dos jogos "casuais", por outro o jogo é cuidadosamente desenhado para ser o mais viciante possível.
As razões são muitas. A revista "Time" fez uma boa matéria explorando os elementos do "vício" (veja aqui: ti.me/18bvpow). Cobriu boa parte dos motivos. Mas não o principal. A reportagem fala, por exemplo, que o jogo apela a instintos infantis. Ele se passa em um universo de balas e doces. E fica o tempo todo dando "parabéns" para o jogador ("delicioso", "divino" etc.).
Um dos aspectos mais diabólicos é que ele faz o jogador ter de esperar para jogar mais, bem no momento em que ele fica mais vidrado. O usuário tem cinco vidas. Quando perde todas, tem de aguardar 30 minutos para jogar novamente. Para quem fica impaciente a única solução é comprar mais vidas, com dinheiro. Com esse modelo, o jogo (que em si é gratuito) gera mais de US$ 800 mil por dia. "Angry Birds", outro game de sucesso, gera US$ 6.000 diários.
O que a matéria da "Time" não fala é que o jogo opera uma espécie de condicionamento mental do jogador. Ao impor ações repetitivas, que geram ou não recompensas, o jogador fica compelido a continuar tentando. É o mesmo sistema da chamada caixa de Skinner: se um ratinho tem de puxar uma alavanca em troca de comida, mas a comida só aparece ocasionalmente, ele passa a puxar a alavanca sem parar. Substitua o ratinho pelo jogador e a alavanca por docinhos coloridos e está revelado o segredo de "Candy Crush".

READER
JÁ ERA Todo e-mail ou mensagem ficar armazenada por quem recebe
JÁ É Snapchat, aplicativo em que fotos enviadas são destruídas depois de alguns segundos
JÁ VEM Secretink.co, um "Snapchat" para e-mails

    Penas do mensalão serão executadas por novo juiz

    folha de são paulo
    Substituído tinha histórico de conflitos com o presidente do Supremo
    Recuperado, Genoino deixa hospital e espera em casa de parente decisão do STF sobre regime domiciliar
    SEVERINO MOTAFERNANDO RODRIGUESDE BRASÍLIAO juiz titular da Vara de Execuções Penais de Brasília, Ademar Vasconcelos, não é mais o responsável pelo processo do mensalão. O caso será administrado pelo juiz substituto Bruno André Silva Ribeiro, que ontem já coordenou a transferência do ex-presidente do PT José Genoino de um hospital de Brasília para a casa de um familiar.
    Genoino, que recebeu alta do IC-DF (Instituto de Cardiologia do Distrito Federal), onde estava desde quinta-feira, deverá seguir em prisão domiciliar até que a junta médica formada a pedido do presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), Joaquim Barbosa, dê um parecer sobre seu quadro de saúde.
    Com o laudo, Barbosa definirá se Genoino, que sofre de problemas cardíacos e passou por uma cirurgia em julho, cumprirá sua pena no complexo penitenciário da Papuda ou em casa.
    Conforme a Folha apurou, o despacho de Ribeiro que autorizou a ida de Genoino para casa de um parente em Brasília impôs algumas limitações ao ex-presidente do PT. Ele poderá receber visitas, mas não poderá sair nem dar entrevistas. Além disso, terá que manter relatórios médicos atualizados e atender as autoridades judiciárias sempre que solicitado.
    Boletim divulgado ontem pelo hospital informou que o deputado licenciado "apresentou melhora dos níveis de pressão arterial e dos parâmetros de coagulação sanguínea".
    O TJ-DF (Tribunal de Justiça do Distrito Federal) não explicou oficialmente a substituição de Vasconcelos nem esclareceu se ela será temporária ou permanente.
    A relação do juiz com o presidente do Supremo, no entanto, foi marcada por conflitos desde antes do início da fase de execução das prisões dos condenados no mensalão.
    Para começar, não foi Vasconcelos quem recebeu de Barbosa a documentação necessária para a execução penal. No dia anterior à expedição dos mandados, o presidente do Supremo falou justamente com o juiz Ribeiro e lhe enviou o material.
    Como estava em férias, Ribeiro tentou entregar a documentação para Vasconcelos. AFolha apurou que ele se negou a receber os documentos, o que teria criado um mal-estar dentro do TJ-DF.
    Na ocasião, Vasconcelos deu entrevistas dizendo que não havia recebido o material e por diversas vezes destacou que o mensalão não era um caso seu, mas sim do STF.
    As declarações contrariaram Barbosa e foi preciso que o presidente do TJ-DF, Dácio Vieira, entrasse no circuito para que Vasconcelos iniciasse os procedimentos relativos à execução penal dos condenados.
    No STF, a expectativa é que Ribeiro seja mais rígido que Vasconcelos no comando da execução penal. Quando o empresário Carlinhos Cachoeira esteve preso em Brasília, por exemplo, ele negou diversos pedidos de entrevistas.
    REDES SOCIAIS
    Ribeiro, que tem 34 anos, é filho do ex-deputado distrital do PSDB Raimundo Ribeiro e de Luci Rosane Ribeiro. Sua mãe, em redes sociais, já divulgou uma foto do presidente do Supremo, Joaquim Barbosa, com a seguinte frase inserida na imagem: "Eu me matando para julgar o mensalão e você vota no PT? Francamente!".

      Entrevista da 2ª - Josué Gomes da Silva

      folha de são paulo
      ENTREVISTA DA 2ª - JOSUÉ GOMES DA SILVA
      Faltam previsibilidade e transparência na economia
      COTADO PARA MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO, FILHO DE JOSÉ ALENCAR DIZ QUE AJUDA MAIS FORA DO GOVERNO
      MARINA DIASDE SÃO PAULORecém-filiado ao PMDB, principal partido aliado dos petistas, o empresário Josué Gomes da Silva, 49, diz que a "falta de previsibilidade e transparência" no campo dos negócios é o maior problema da política econômica do governo Dilma.
      Para o mineiro, que defende a presidente enquanto sugere "falhas na comunicação" do ministro da Fazenda, Guido Mantega, os equívocos estão na "forma" e não na "direção" das medidas. "A hiperatividade no campo macroeconômico deixa o empresariado desconfiado", explica.
      Filho do ex-vice-presidente da República José Alencar Gomes da Silva, o presidente da Coteminas (Companhia de Tecidos Norte de Minas) tornou-se uma das apostas do Palácio do Planalto para o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, de para acalmar o ânimo dos colegas empresários.
      Mas Josué descarta a possibilidade. "Acho que ajudo mais fora de um ministério."
      A seguir, os principais trechos da entrevista.
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      Folha - O senhor foi sondado pelo senador Aécio Neves para ser candidato ao governo de Minas Gerais pelo PSDB. Por que optou pelo PMDB e pela aliança com a presidente Dilma Rousseff?
      Josué Gomes da Silva - Sempre manifestei que tenho um lado, o do presidente Lula e da presidenta Dilma Rousseff. E é natural que essa seja minha opção, afinal papai fez parte desse projeto que me parece ter inúmeros acertos. Conheço o senador Aécio, mas nunca houve sondagem.
      Qual foi a participação de Lula na sua filiação ao PMDB?
      Nunca poderia deixar de ouvi-lo. Ele sempre teve um carinho muito grande no período de convalescência do papai e sempre respeitou o papai, as opiniões do papai, dando absoluta liberdade para que o papai se manifestasse. Lula é um democrata, dá sugestões e opinião, mas não impõe nada. Ele é um grande conhecedor da política e fez sua recomendação.
      O ex-presidente Lula e o vice-presidente, Michel Temer (PMDB), defendem seu nome para o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. O senhor está disposto a assumir o cargo?
      Só posso me sentir honrado, mas não significa que eu concorde que essa seja a melhor alternativa para o projeto, para a candidatura [da presidente Dilma]. Não houve convite. Seria honroso, mas, sinceramente, acho que ajudo mais fora de um ministério. Não me parece o melhor momento.
      O setor empresarial está descontente com o governo federal e sua nomeação no ministério poderia ser importante para a interlocução com o PIB.
      Já tem um diálogo entre o setor empresarial e o governo Dilma, não precisa de outra pessoa para ampliar isso. Não nego que o setor empresarial esteja descontente. Mas não acho que seja com o governo. Aquele espírito animal de investidor está apagado, adormecido, por causa do conjunto de circunstâncias.
      Quais circunstâncias?
      Nosso governo não foi suficientemente claro na comunicação das últimas medidas econômicas. Os empresários precisam de previsibilidade. Uma das razões de o setor estar com o instinto de investimento adormecido é porque não tem clima de transparência. Me parece que o governo está atento e não houve descontrole fiscal. Tem que focar na inflação e nas contas públicas e é o que está fazendo.
      Como é possível recuperar a confiança na economia?
      Tem que dar mostras de que é absolutamente zeloso com a inflação e com as contas públicas. Agora é melhorar a previsibilidade. Hiperatividade no campo macroeconômico deixa o empresariado desconfiado. Diminuir a volatilidade é condição essencial para que voltemos a graus de investimento necessários para o crescimento de 4% a 5%, que é o que acredito ser o potencial brasileiro.
      Como o senhor avalia a política econômica do governo?
      Tem mais acertos do que erros e, normalmente, só erra quem faz. Talvez na vontade de fazer muito, alguns erros tenham sido cometidos, mas o mais importante é se dar conta e corrigir a rota.
      Empresários dizem que a política econômica do governo Dilma causou um desequilíbrio fiscal que atingiu o pior resultado para o mês em 17 anos. O senhor concorda?
      O mundo vê um aumento das despesas públicas desde 2008. Em todos os países há expansionismo fiscal. O Brasil, que tem uma dívida pública líquida sobre o PIB da ordem de 35%, não precisava mais gerar superavit primário da magnitude anterior. Ao diminuir o superavit primário, o governo reduz a carga tributária sobre o PIB. Pode-se questionar a forma. O governo não anunciou de forma clara e aí anuncia uma meta um pouco inviável. Depois tenta fechar as contas de maneira legal, mas parecem maneiras arbitrárias e uma certa contabilidade criativa.
      Alguns empresários têm se aproximado do governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), que deve concorrer à Presidência em 2014. Em que medida isso deve preocupar o governo e por que seus colegas parecem atraídos por ele?
      O novo desperta curiosidade, ainda que Campos seja um político conhecido que tem feito um governo admirável. Com apoio do governo federal, é verdade. Acho que ele vai travar um bom debate.
      Acha que Dilma será candidata em qualquer circunstância?
      Sim. A presidenta tem todos os méritos e vai se eleger.
      Não vê nenhum cenário em que Lula seria o candidato?
      Acho que não. Claramente o presidente Lula está trabalhando com afinco pela candidatura de Dilma e Temer.
      Um segundo governo Dilma seria diferente do primeiro?
      A marca desses onze anos é desenvolvimento com distribuição de renda e justiça social. Isso melhora a qualificação da população. Por isso o Brasil está crescendo e é nesse projeto que eu acredito.
      O senhor disse contribuir mais para a candidatura de Dilma fora do ministério. Seria como candidato em Minas Gerais? Como conciliar atividade empresarial e atuação política?
      Não vejo incompatibilidade entre as atividades porque minha militância política é como cidadão. Minha defesa desse modelo, estando fora do governo, é mais legítima. Não estou buscando cargo. Obviamente não falo que não disputarei cargos, mas nunca tratei nem pensei nisto. Estou na política porque acredito.
      Sua entrada no PMDB envolve algum tipo de compromisso com o financiamento dos candidatos do partido em 2014?
      Nunca foi discutido candidatura, imagina se foi discutido algum aspecto financeiro para a campanha. Nunca.
      É a favor do financiamento exclusivamente público para campanhas? Acha que isso inibiria o caixa dois, como dizem os defensores da ideia?
      O caixa dois não deveria existir com financiamento público nem privado. Se o cidadão está disposto legitimamente a participar da política, pode contribuir com um partido. Não podemos admitir abuso de poder econômico, ou seja, financiamento de grandes empresas que tenham interesses específicos.
      O que achou do julgamento do mensalão? E as prisões?
      Não conheço os autos do processo, então, qualquer opinião acabaria tendo um filtro de ideias preconcebidas e prefiro evitar equívocos.
      Ficou demonstrado no julgamento que o antigo PL, partido do seu pai, recebeu R$ 9 milhões após a aliança com o PT. Não há evidência de que seu pai tenha participado das negociações, mas seria razoável supor que ele tenha se interessado em saber o que houve. Vocês conversaram sobre isso?
      Papai deu declarações públicas sobre isso. Na aliança entre PT e PL, com o PT na cabeça de chapa, ficou combinado a distribuição de recursos da arrecadação de maneira a permitir que o PL financiasse seus candidatos a deputado. Não era troca de dinheiro. Agora, como foi arrecadado, distribuído e o que foi feito com o dinheiro, isso não cabia ao presidente Lula nem ao papai como candidatos, cabia aos tesoureiros.
        RAIO-X - JOSUÉ GOMES DA SILVA
        Empresário, 49 anos
        NASCIMENTO
        25 de dezembro de 1963 em Ubá, Minas Gerais
        FORMAÇÃO ACADÊMICA
        Engenharia civil na UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) e direito na Faculdade Milton Campos. MBA na Universidade de Vanderbilt, no Tennessee
        CARREIRA
        Funcionário de carreira, assumiu a presidência da Coteminas em 1994

          O assunto é: O marco civil da internet - Frank Larue e Eduardo Cunha

          folha de são paulo
          FRANK LARUE
          TENDÊNCIAS/DEBATES
          O ASSUNTO É: O MARCO CIVIL DA INTERNET
          Pela liberdade da rede
          Aceitar que o acesso à internet de baixa qualidade seja o único oferecido para quem possa pagar menos trará um impacto profundo na conectividade
          No ano passado, países adotaram por unanimidade na ONU a primeira resolução sobre direitos humanos e internet. O texto é direto: "Os mesmos direitos que as pessoas têm fora da internet devem ser protegidos dentro dela, em particular a liberdade de expressão". Se a formulação é clara, sua implementação na prática é um desafio permanente.
          Se liberdade de expressão e privacidade são reconhecidos faz tempo como direitos humanos fundamentais, qualquer proposta de regulação para a internet deve sempre levar em conta a necessidade primordial de promovê-los. No entanto, por todo o mundo, leis inconsistentes abrem espaço para iniciativas que terminam por violá-los.
          O Brasil tem tido um papel de liderança nesse tema. Na abertura da Assembleia Geral da ONU em setembro, a presidenta brasileira, reagindo às revelações sobre a espionagem norte-americana, listou com precisão pontos fundamentais que deveriam nortear qualquer debate sobre como regular a internet. Em primeiro lugar, ela mencionou a importância de garantir a liberdade de expressão e a privacidade.
          Neste momento, o Congresso Nacional brasileiro debate a adoção do projeto de Marco Civil da Internet. O projeto de lei, já pela sua elaboração participativa, vinha sendo usado no mundo como um exemplo interessante de regulação da internet. Se algumas qualidades fundamentais do texto original forem mantidas pelos congressistas, o Brasil poderá oferecer ao mundo uma referência. Mas se tais qualidades forem perdidas, a regulação poderá ser ineficaz ou até danosa.
          Garantir a neutralidade da rede significa que toda medida que regule o tráfego e o acesso de informações on-line seja ancorada pelos princípios fundamentais da igualdade e não discriminação.
          Assegurar à população, sem discriminação, acesso seguro e de qualidade às novas tecnologias de comunicação é elementar para a consolidação da democracia. Num país marcado por desigualdades econômicas como o Brasil, aceitar que o acesso de baixa qualidade seja o único oferecido para quem possa pagar menos trará um impacto profundo na conectividade de uma vasta parcela da população.
          Garantias como os dispositivos que determinam que provedores de serviços na internet só poderão ser responsabilizados por não cumprir uma ordem judicial que os obrigue a remover ou bloquear o acesso a conteúdo de terceiros são também importantes para evitar que se crie um ambiente jurídico hostil à livre circulação de ideias. Nesse sentido, preocupam sugestões recentes para incluir exceções nos casos de violação aos direitos autorais.
          O projeto de lei original reafirma a proteção da privacidade, sendo a identificação de dados de comunicação somente aceitável com autorização judicial para casos específicos. No entanto, a proposição obrigando a armazenagem de dados da comunicação em território nacional parece ser tecnicamente inócua.
          Sem exageros, promover o livre e seguro acesso à internet é hoje uma das chaves para a consolidação da vida democrática. Assim que é preciso olhar com atenção para qualquer regulação que desconheça o papel crucial da proteção da liberdade. Os debates no Brasil interessam ao mundo, e muito.

          EDUARDO CUNHA
          TENDÊNCIAS/DEBATES
          O ASSUNTO É: O MARCO CIVIL DA INTERNET
          Interesses de fundo
          Da forma como está escrito, o projeto é o sonho do Google e dos grupos de mídia e o pesadelo para você, usuário, que pagará a conta
          Muito vem sendo dito e escrito, na maioria das vezes sob uma desenfreada carga ideológica, sobre o Marco Civil da Internet.
          Chegaram a me posicionar, de forma lamentavelmente despropositada e inverídica, como "defensor da teles". Não há veracidade nessa tese, somente má-fé para tentar constranger-me. Mas há alguns pontos que precisam ser definitivamente esclarecidos para que prevaleça o bom senso.
          Concordamos, inicialmente, que se tenha uma neutralidade, que não se impeça ninguém de transitar seu conteúdo pela rede, independentemente de que o provedor do seu conteúdo seja diferente do seu provedor de conexão. Concordamos que ninguém seja privilegiado, que ninguém filtre, que ninguém monitore, que se tenha controle da privacidade. Somos a favor da neutralidade de conteúdo.
          Mas não há dúvidas de que, caso o projeto seja aprovado como querem alguns, o preço da internet subirá. Queremos neutralidade sim, mas sem aumentar o custo para o usuário. Ou pensa o leitor que obrigar o provedor a fornecer infraestrutura melhor não encarecerá a conta? Será que todos nós queremos uma infraestrutura de conexão ainda mais precária?
          O mesmo vale para a neutralidade comercial. Imaginemos se pagássemos pelo custo de pacote com capacidade para atender qualquer demanda. Por que não fazem isso também com a conta de luz? Imagine a pessoa usar o ar-condicionado o dia inteiro e pagar conta idêntica à de quem só acende uma luz de vez em quando. Será mesmo que haverá investidor que comprometa seus recursos em cenário tão desfavorável?
          Seria uma péssima sinalização para o mercado internacional, que já considera a postura brasileira intervencionista, pouco atraente.
          Congestionaria ainda mais a telefonia celular, já que, na banda larga --por meio dos celulares e dos smartphones--, usa-se os mesmos meios de interconexão. Esse mercado sofreria com aumento da demanda que esse tipo de oferta ilimitada de utilização de espaço provocará. Na medida em que todos serão iguais, pagarão no mesmo patamar e mais caro, um congestionamento monstruoso será estimulado.
          É de se perguntar: o projeto original do governo previa a neutralidade com posterior regulamentação. Por que agora querem mudar?
          É, contudo, viável estimular a implantação dos datacenters no Brasil. Claro que todos nós queremos, na medida do possível, ter todos os dados armazenados no Brasil, em datacenters locais, que, obviamente, vão gerar empregos e investimentos no desenvolvimento tecnológico. Mas impor, por lei, que o usuário armazene seus dados em servidores nacionais, impedindo-o de buscar centros de dados internacionais (alguns até mais baratos e eficientes que os daqui) é, no mínimo, andar na contramão do mundo.
          O relatório do Marco Civil da Internet, do jeito que está escrito, é o sonho do Google e dos grupos de mídia e o pesadelo para você, usuário, que será quem vai pagar a conta, caso a íntegra da proposta seja aprovada na Câmara Federal.
          A internet poderá acabar com o pré-pago, com o pobre subsidiando o rico. A aritmética, grosso modo, é simples: 20% dos usuários consomem 80% da rede e 80% dos usuários consomem 20% da rede. Quem perde com esse cenário?
          O conceito que tentam impor nada tem a ver com neutralidade. Afirmar que neutralidade é o mesmo que ofertar infraestrutura ilimitada para estimular e atender o consumo de quem quer que seja é uma tentativa lastimável para desorientar a opinião pública. Com esse debate, não coadunamos. A bancada do PMDB votará a favor do usuário e para que a internet não pese, ainda mais, no bolso do consumidor brasileiro.

          Valdo Cruz

          folha de são paulo
          Bandeira arriada
          BRASÍLIA - Uma das bandeiras eleitorais da presidente Dilma Rousseff caminha para ser arriada, frustrando sua estratégia de usá-la na campanha da reeleição como uma de suas grandes conquistas.
          Falo da meta estabelecida pela petista de derrubar a taxa de juros durante seu mandato. Nesta semana, ela deve voltar à casa dos dois dígitos, batendo em 10% ao ano.
          Pior. O cenário de incertezas na economia mundial pode levá-la aos 11% ainda no primeiro semestre do próximo ano, acima dos 10,75% herdados do ex-presidente Lula.
          Em outras palavras, Dilma não só falhou no seu objetivo, como pode terminar seu mandato com juros mais altos do que recebeu.
          Seu equívoco foi criar uma meta de taxa de juros, quando ela é instrumento para atingir a que de fato importa, a de inflação. Resultado, as duas ficaram comprometidas, quando uma deveria levar à outra.
          Dilma poderia ter logrado mais sucesso. Em outubro de 2012, os juros caíram para seu patamar mais baixo, 7,25%. Uma maravilha. Só que se esqueceram da outra ponta, a que poderia sustentá-la.
          Depois de um primeiro ano de forte ajuste fiscal, o governo se entregou às manobras contábeis para esconder sua gastança exatamente quando derrubava os juros. Deu no que deu, mais inflação, que forçou o BC a voltar a subir a taxa Selic.
          Hoje, o governo busca recuperar a credibilidade perdida na área fiscal para tentar segurar a inflação e reduzir a dose dos juros. Tarefa difícil diante de sua ambiguidade.
          Dilma e sua equipe têm até se esforçado para mostrar maior rigor fiscal, mas não assumem publicamente compromisso com uma meta fixa, realista, de economia de gastos para pagamento da dívida pública.
          Prometem apenas algo vago ou inatingível. Sinal de que não bancam suas próprias metas. Aí, fica difícil pedir que acreditemos neles. Afinal, discurso não convence mais ninguém. É preciso entregar.

            Vinicius Mota

            folha de são paulo
            Caracas, Teerã
            SÃO PAULO - Não é trivial governar uma sociedade populosa cuja renda provenha sobretudo da exploração de um só produto. O bem-estar das pessoas condiciona-se a quanto as outras nações pagam pela mercadoria ali abundante. Fica sujeito a variações colossais e repentinas.
            A face política da economia circunscrita a uma atividade costuma ser governo forte e centralizador. De sua atuação depende decisivamente a distribuição da renda, originada de modo concentrado.
            A regra vale menos para países pouco habitados, na comparação com sua riqueza territorial. Mas duplique, leitor, a população do organizado Chile, menor que a da Grande São Paulo, troque o cobre pelo petróleo e terá ideia do problema da Venezuela. Dobre de novo o número de habitantes e chegará perto do desafio do Irã.
            Teerã e Caracas vivem hoje a ressaca deixada pelo fim de uma década de bonança na cotação do petróleo. A renda do petróleo não compra mais a quantidade de bens e serviços suficiente para manter o progresso material da sociedade.
            Os governos fazem o que podem para mitigar o empobrecimento relativo da população, o que parece inevitável. Ampliam gastos e dívida, manipulam a moeda local e saqueiam as receitas das estatais petrolíferas.
            Mas podem pouco. O PIB se desacelera, e os preços ao consumidor arrancam. O custo de vida sobe 40% ao ano. No Irã, o boicote internacional agrava o desabastecimento interno. Na Venezuela, os decretos para baixar preços o vão exacerbar.
            Ao Irã ainda restam a moeda de seu programa nuclear --cuja desaceleração temporária acaba de pactuar com o Ocidente-- e o enraizamento do regime islâmico. A Venezuela não tem nada disso.
            O Brasil se prepare para uma crise no vizinho. O socialismo começa com discursos gloriosos e braços erguidos, mas acaba em filas e penúria econômica.

              Ciência básica - Editorial FolhaSP

              folha de são paulo
              Ciência básica
              Até fazia sentido, uma década atrás, concentrar em português e matemática os esforços para estancar a perda de qualidade nas redes públicas de educação no Brasil. São pré-requisitos básicos, inclusive para o aprendizado de ciências --o que não implica dizer que estas sejam menos fundamentais.
              Não são. A complexidade crescente na esfera da produção, mesmo no setor agrícola, exige hoje de cada trabalhador uma familiaridade com a verificação de dados e com o método hipotético-dedutivo que só um bom ensino de ciências pode prover.
              Um primeiro passo para pôr a educação científica no radar foi dado na semana passada. Como informou o jornal "O Globo", quase 85 mil alunos dos níveis fundamental e médio realizaram um exame de ciências como parte da Prova Brasil e da Avaliação Nacional da Educação Básica, além da tradicional avaliação nas áreas de matemática e leitura.
              Claro está que o fato de aquilatar o nível de proficiência dos estudantes na matéria não terá o poder, sozinho, de induzir o progresso desejado. Sem conhecer o estado real das deficiências, contudo, tanto do ponto de vista de conteúdos quanto da incidência regional e local, será difícil traçar um diagnóstico preciso e um plano de ação eficaz.
              Trata-se ainda de uma fase experimental, pois só 1,7% dos alunos foram incluídos nesse teste, que abrange 26 questões de ciências naturais e 26 de ciências humanas. Já se fala em generalizar o procedimento em 2014 ou 2015 --quanto antes, melhor.
              Toda a dificuldade enfrentada para melhorar a educação pública no Brasil, nas duas últimas décadas, tornou evidente que avaliações são condição necessária para elevar seu nível, mas insuficiente. Sem medidas estruturais, como a requalificação dos professores e a valorização da carreira docente (aliando ganhos salariais, bônus e cobrança de desempenho), o país nunca dará o salto necessário.
              É na formação de professores de ciências, de resto, que desponta a crise mais grave. Só de física e química a educação básica tem deficit de 100 mil docentes com formação específica (quase 90% dão aulas nessas disciplinas sem diploma na área).
              A avaliação em ciências vai revelar com maior clareza as fraquezas dos estudantes brasileiros nessas matérias. O passo seguinte, e necessário, será eliminá-las.

                Ruy Castro

                folha de são paulo

                Uma vez rato

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                RIO DE JANEIRO - Mickey, o rato, está fazendo 85 anos. Os EUA comemoram isso com estardalhaço e, como sempre, intimam o mundo a soprar velinhas para um personagem que só a eles diz respeito. Mickey representa os americanos como eles se veem: adultos, justos, responsáveis, gentis, inatacáveis. Mas não é assim que o mundo enxerga os americanos.
                Para mim, muito mais representativo no cânone de Walt Disney é o inimigo de Mickey, João Bafodeonça, criado em 1925 --três anos antes do próprio Mickey, cinco antes de Pluto, sete antes do Pateta e nove antes de Donald. Mas era típico de Walt que um maravilhoso vilão como João Bafodeonça, em ação até hoje, nunca passasse de coadjuvante, destinado a perder todas para o rato.
                Rato este que não tinha nada de santo ao nascer. Logo em seu primeiro desenho, "Steamboat Willie" (1928), Mickey tortura um gato, roda-o pela cauda e o atira dentro do rio. E cometeu outras ignomínias com animais nos desenhos seguintes, até que Disney ordenou a sua desratização e conversão em algo parecido com um ser humano.
                Mas, uma vez rato, sempre rato, e não é por acaso o ódio de Walt aos gatos, evidente em toda a sua produção. Em "Pinóquio" (1940), o gato Gedeão é um malandro odioso e repulsivo. Em "Cinderela" (1950), o gato Lúcifer, gordo e perverso, é uma constante ameaça para dois ratos esqueléticos, Gus e Jaq. Em "Alice no País das Maravilhas" (1951), o Gato é lógico, frio e insensível. Em "A Dama e o Vagabundo" (1955), os siameses Si e Ão destroem as cortinas, atacam o canário e afogam o peixinho dourado. E mesmo em "As Aristogatas" (1970), um filme que se imagina pró-gatos, há um bando de gatos vadios e desprezíveis, e o herói é um rato chamado Roquefort.
                Daí ser inevitável que Walt um dia fizesse a Disney World --a maior ratoeira humana já construída por um rato.

                Mônica Bergamo

                folha de são paulo

                Igreja Católica é condenada a pagar indenização em caso de pedofilia no Paraná

                DE SÃO PAULO
                Ouvir o texto

                A Igreja Católica foi condenada a pagar indenização em um caso de pedofilia no Paraná. A ministra Nancy Andrighi, do STJ (Superior Tribunal de Justiça), negou recurso da Diocese de Umuarama e determinou a responsabilidade solidária da entidade eclesiástica em ação movida contra o padre José Cipriano da Silva.
                PUNIÇÃO
                A igreja e o sacerdote vão pagar R$ 100 mil (metade cada um), de forma solidária, pelos danos morais decorrentes do delito. A vítima tinha 14 anos em 2002. "A igreja não pode ser indiferente --em especial no plano da responsabilidade civil, frise-se-- aos atos praticados por quem age em seu nome ou em proveito da função religiosa, sob pena de trair a confiança que nela própria depositam os fiéis", declarou a ministra em seu voto.
                PUNIÇÃO 2
                A Mitra Diocesana de Umuarama vai recorrer da decisão. "O ato da pessoa física, em suas atividades privadas, nada tem a ver com o ofício do sacerdócio e não pode ser creditado à instituição", entende Hugo Cysneiros, advogado da diocese.
                PUNIÇÃO 3
                Em seu voto, a ministra rebate os argumentos da defesa: "Mais do que simples relação de subordinação, o ministro ordenado é para os fiéis a própria personificação da Igreja Católica, no qual depositam justas expectativas de retidão moral". E diz que a instituição não pode ser indiferente ao crime praticado pelo sacerdote que "convencia as vítimas a pernoitarem na casa paroquial para praticar atos libidinosos".
                NA PRORROGAÇÃO
                O presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), Marco Aurélio Mello, prevê que a minirreforma eleitoral criará a mesma celeuma da Lei da Ficha Limpa. Segundo o ministro, as regras recém-aprovadas pelo Senado não podem vigorar no pleito de 2014. Pelo princípio da anuidade previsto na Constituição, a lei passa a vigorar de imediato, mas não vale para a eleição do ano seguinte. As regras só vão incidir sobre as eleições municipais em 2016.
                PARA A PLATEIA
                "Os parlamentares têm o tempo todo para promulgar leis, mas deixam para fazer em cima da hora para dar uma satisfação vã à sociedade", critica o novo presidente do TSE.
                HELLO
                Cat Stevens ligou para Eduardo Suplicy (PT-SP) na quinta-feira passada. Pediu desculpas por não poder ter recebido o senador e os filhos, no dia 17, após show em SP. O cantor, que mudou o nome para Yusuf, confirmou ter recebido o exemplar de "Renda de Cidadania - A Saída É pela Porta", enviado pelo político com dedicatória em inglês. Na conversa, Suplicy revelou ao britânico a vontade dos filhos Supla e João, os Brothers of Brazil, de tocar com ele "em algum lugar da Terra".
                BOB SINCLAIR EM SÃO PAULO
                Leonardo Soares/Folhapress
                BO DJ francês em suíte no hotel Tivoli, em São Paulo
                BO DJ francês em suíte no hotel Tivoli, em São Paulo
                Com uma intensa relação com o Brasil, o DJ francês Bob Sinclar, 44, já pensa até em gravar com o músico Gusttavo Lima. Em sua passagem por São Paulo para apresentação em uma festa da Pirelli, no embalo da Fórmula 1, ele falou à coluna.
                *
                Folha - Você já se sente em casa tocando tanto no Brasil?
                Bob Sinclar - Desde que "Love Generation" ficou em primeiro lugar no Brasil e o apresentador Luciano Huck começou a tocá-la em seu programa, fui ficando mais conhecido. As pessoas não sabiam quem eu era, mas conheciam a música. Comecei a vir no Carnaval. Me sinto mais confortável tocando aqui do que na França. Os brasileiros têm música nas veias.
                Mas não cansa tocar "Love Generation" sempre?
                Temos que ter orgulho do nosso trabalho e tocá-lo quanto for necessário. Uma música boa é uma música boa. Dura pra sempre. Mas procuro atualizar minhas faixas.
                Você escuta música brasileira?
                Tenho escutado muito Seu Jorge, Maria Gadú. Queria muito gravar com o Gusttavo Lima. Entrei em contato para fazermos algo juntos e ele topou, mas ainda estou esperando uma data na agenda. Ele é bastante ocupado.
                Todo mundo hoje se diz DJ?
                Hoje a tecnologia é evoluída, por isso todo mundo pode ser DJ. Você viu "Ratatouille"? Nesse filme um dos personagens diz que todo mundo pode cozinhar, mas nem todo mundo pode ser um chef de cozinha. Pra ser um bom DJ, aquilo tem que estar em você. Muitos não entendem que a energia vem do público. Prestar atenção nisso faz um bom DJ.
                MAR À VISTA
                T. Costa
                A estilista Fernanda de Goeye exibiu a boa forma para divulgar a coleção de alto verão de Adriana Degreas em um ensaio caseiro entre amigas
                A estilista Fernanda de Goeye exibiu a boa forma para divulgar a coleção de alto verão de Adriana Degreas em um ensaio caseiro entre amigas
                GAROTA-PROPAGANDA
                Livro de estreia da atriz Fernanda Torres, "Fim" terá divulgação digna de grande lançamento. Andrucha Waddington, marido da colunista da Folha, dirige os vídeos da campanha, criada pela agência WMcCann.
                ÁLBUM
                O Museu do Futebol abre exposição no sábado com objetos que fazem parte da memória impressa do esporte. Além de figurinhas e postais, "Futebol de Papel" exibe itens como os ingressos de todas as Copas do Mundo.
                SEM CHORO
                Gustavo Rosa, que morreu no dia 12, será homenageado nos espetáculos "Mover-se" e "Entrelaços", da companhia Cinque Sensi. Obras do artista plástico farão parte do cenário e um vídeo sobre ele será exibido, nesta sexta, no teatro Anhembi Morumbi.
                AU AU AU
                A atriz Larissa Manoela, 12, vai festejar os dois anos de sua cachorrinha, Guilhermina, no bufê Mega Magic, em SP, nesta quarta. A yorkshire da estrela de "Carrossel" tem dez fã-clubes.
                HISTÓRIA CONSTRUÍDA
                Os arquitetos e sócios Fernando Vidal, Luiz Fernando Rocco e Douglas Tolaine lançaram o livro "Rocco Vidal", sobre o escritório que comandam. Felipe Aflalo e Kiko Salomão, também arquitetos, estiveram no evento, no Museu da Casa Brasileira.

                Lançamento de livro no Museu da Casa Brasileira

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                Divulgação
                AnteriorPróxima
                Fernando Vidal, Luiz Fernando Rocco e Douglas Toulaine, sócios do escritório Rocco Vidal, foram ao lançamento do livro "Rocco Vidal", do escritório Rocco Vidal P+W, no Museu da Casa Brasileira
                BRILHA MUITO
                O joalheiro Jack Vartanian e o artista plástico Kleber Matheus receberam convidados na inauguração da exposição "Variação sobre Pedras", nos Jardins. A empresária Karina Motta, a estilista Juliana Jabour e a mulher de Jack, Cassia Avila, foram à abertura da mostra.

                Jack Vartanian abre exposição

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                Flavio Teperman
                AnteriorPróxima
                O joalheiro Jack Vartanian e o artista plástico Kleber Matheus receberam convidados na inauguração da exposição "Variação sobre Pedras", na terça (19), em sua loja no Jardins
                CURTO-CIRCUITO
                Luiz Felipe d'Avila lança o livro "Caráter & Liderança: Nove Estadistas que Construíram a Democracia Brasileira". Amanhã, às 18h, na Livraria Cultura do Conjunto Nacional.
                A blogueira Lala Rudge vai assinar coleção para a marca de sapatos Schutz.
                Nizan Guanaes oferece jantar hoje, nos Jardins, em homenagem ao publicitário PJ Pereira, que lança "O Livro do Silêncio".
                Rubens Barrichello comanda leilão de artigos esportivos hoje, no Noite do Bem, evento beneficente no Grand Hyatt.
                mônica bergamo
                Mônica Bergamo, jornalista, assina coluna diária publicada na página 2 da versão impressa de "Ilustrada". Traz informações sobre diversas áreas, entre elas, política, moda e coluna social. Está na Folha desde abril de 1999.