terça-feira, 12 de novembro de 2013

Nizan Guanaes

folha de são paulo
NIZAN GUANAES
Agência tradicional
Não há nada mais velho que essa platitude de ficar chamando de velhas e tradicionais as coisas
Ninguém pode chamar Steve Jobs de sujeito tradicional ou convencional sob nenhum ângulo.
Steve Jobs foi um visionário, um indivíduo sempre fora da curva.
Assim como o Evangelho ou o Alcorão, Steve Jobs é citado ao bel-prazer do usuário. As pessoas citam Jobs conforme os seus interesses, mas quem ler sobre Steve Jobs de forma mais profunda verá que ele era um homem papo reto.
No quesito publicidade, por exemplo, conforme citado na biografia autorizada de Walter Isaacson, Steve Jobs teve um relacionamento estreito e passional com Lee Clow, da agência Chiat/Day. Nada de comerciais pré-testados e todo esse lero-lero de procedimentos, que produzem esse monte de comerciais chatíssimos a entupir nossa televisão.
Steve Jobs era parceiro enfurecido da Chiat/Day. Era colérico, desagradável, mas não submetia sua agência a esse mar de práticas emburrecedoras que os anunciantes mundo afora criaram para uniformizar suas comunicações e acabaram pasteurizando tudo.
É um modelo que chegou a tal ponto que as agências globais são chamadas pelos gerentes locais dos anunciantes pelo maravilhoso apelido de "bolsa família", pois acabam pingando uma mesada mensal sem nada fazer, simplesmente nacionalizando seus comerciais.
O que digo é tão verdadeiro que, se sentarmos diante da TV, veremos que tudo o que sobressai, em geral, vem de clientes que, como Steve Jobs, fazem o "tradicional" de maneira não tradicional.
Steve Jobs fazia as coisas cartesianas de um jeito não cartesiano. Usou a tradicional coletiva de imprensa de uma maneira não tradicional. Fez das relações públicas tradicionais uma ferramenta revolucionária. Usou o design de maneira mais limpa, simples e pura. E foi um anunciante apaixonado a tal ponto de ter um dia por semana em que se dedicava, ele em pessoa, a ter uma relação direta com sua agência de publicidade.
Nesses dias, Steve Jobs, em pessoa, mostrava e explicava os novos produtos para as suas agências e os seus criadores. Jobs chegou ao ponto de fazer locuções de seus próprios comerciais.
É verdade também que o criador da Apple era cruel, berrava, distratava e fazia chorar, mas não submetia a agência Chiat/Day ao frustrante rito do pré-teste de comerciais que evita desastres, é verdade, mas corrói todo tipo de frescor e emoção.
Portanto não é a propaganda tradicional que não funciona. A propaganda funciona, e muito. O que não funciona é o tradicional, e mesmo assim o termo tradicional é uma inverdade, pois não foi essa publicidade tradicional que Petit, Duailibi e Zaragoza lançaram ao Brasil e que a DM9 consagrou em Cannes. Não foi essa coisa pastosa e monocromática que fez a Chiat/Day ser a Chiat/Day no passado e que faz a Wieden + Kennedy ser a Wieden + Kennedy hoje.
E isso diz respeito ao comercial de 30 segundos, ao vídeo de internet, ao post, ao que for.
As coisas não são atavicamente tradicionais, somos nós que temos a capacidade de rejuvenescer o velho e envelhecer o novo.
Veja a Dudalina usando a mídia impressa ("mídia tradicional") para construir de maneira magistral a sua marca. Veja a Hyundai dominando o meio jornal ("mídia tradicional") para construir o "look of the leader" que ela tem.
Portanto, não há nada mais velho que essa platitude de ficar chamando de velhas e tradicionais as coisas. O kaiser Karl Lagerfeld se reinventa a cada coleção refrescando sua marca clássica e escondendo sua própria idade.
Portanto, fica a dica para os CEOs das empresas: um convívio mais próximo, mais parceiro e mais carnal com suas agências é uma zona de oportunidade com ganhos milionários, como nos mostra o convívio histórico de Steve Jobs e Lee Clow.

    Movimento prega a 'desaceleração' da rotina das crianças

    folha de são paulo

     
    JULIANA VINES
    DE SÃO PAULO
    Ouvir o texto

    A infância se transformou em uma corrida rumo à perfeição, e as crianças, em miniexecutivos com agenda cheia de atividades. É o que argumentam os partidários do "slow parenting" (pais sem pressa), movimento que prega justamente o contrário: que as crianças tenham menos compromissos e mais tempo para fazer nada.
    A ideia, que tomou corpo na Europa e EUA, ganha força aqui. Na semana passada, a primeira edição do "SlowKids", evento em prol da desaceleração da rotina das crianças, levou 1.500 pessoas ao parque da Água Branca, em São Paulo.
    Na programação, atividades nada tecnológicas: oficina de jardinagem, brincadeiras antigas e piquenique. "As crianças precisam desligar os eletrônicos e interagir mais com os pais", diz Tatiana Weberman, uma das criadoras do projeto e diretora da agência Respire Cultura.
    Gabo Morales/Folhapress
    Vanessa Sheila Dias, 36, e a filha Anne, 8, no "SlowKids", no parque da Água Branca
    Vanessa Sheila Dias, 36, e a filha Anne, 8, no "SlowKids", no parque da Água Branca
    Segundo o jornalista britânico Carl Honoré, autor de "Sob Pressão" (Record, 368 págs., R$ 52), muitas crianças têm todos os momentos da vida agendados e monitorados.
    "Elas têm dificuldades de serem independentes, ficam sob estresse e são menos criativas", disse Honoré à Folha.
    Ele foi o primeiro a usar o termo "slow parenting". "Tudo começou quando a professora do meu filho disse que ele 'era um jovem artista talentoso'. Na hora, a visão de criar o novo Picasso passou pela minha cabeça", conta.
    No mesmo dia, ele começou a procurar cursos de arte para o filho de sete anos, até que o menino disse: "Pai, não quero ter um professor, só quero desenhar. Por que os adultos querem sempre cuidar de tudo?".
    O puxão de orelha fez com que ele voltasse atrás e começasse a pesquisar o superagendamento da infância. Segundo ele, tudo começa com a boa intenção dos pais. Mas a vontade de ser o pai perfeito transforma a educação em um jogo de tudo ou nada.
    VIDA DE EXECUTIVO
    Para a psicanalista Belinda Mandelbaum, professora do Instituto de Psicologia da USP, a educação de resultados antecipa o ensino de ferramentas para competir no mundo corporativo. "Vejo crianças aprendendo mandarim porque os pais acham ser importante para o futuro."
    Quando o empresário Marcelo Cesana, 38, diz não ter pressa de que o filho Caio, 1, aprenda a falar, a ler e a escrever, questionam se ele não vai ter dificuldade para trabalhar. "Me acham bicho do mato, mas não quero antecipar as coisas", diz ele, que levou a família ao "SlowKids".
    A gerente de supermercado Vanessa Sheila Dias, 36, também foi ao evento com a filha Anne, 8. O domingo no parque faz parte da ideia de reservar um dia para fazer nada. "A rotina da semana é maluca, passo a ansiedade para a Anne", diz ela, que já se pegou pedindo que a filha comesse um lanche de fast food mais rápido.
    Anne não faz atividades extraescolares. Já os filhos da psicóloga Patrícia Paione Grinfeld, 41, fazem natação, mas só aos sábados.
    "Outros pais me perguntam: 'Eles não fazem nada durante a semana?' Como se fosse algo errado!", conta Patrícia. "Quero que crianças venham brincar com meus filhos, mas todas são ocupadas, tem que marcar antes."
    arte folha/Editoria de Arte/Folhapress
    As atividades extras não garantem que a criança vá aprender mais, diz Mandelbaum. "Muitas vezes, elas só aprendem a se adaptar a esse ritmo louco."
    O primeiro efeito da correria é a ansiedade, diz a neuropsicóloga Adriana Fóz, coordenadora do projeto Cuca Legal, da Unifesp. "A criança fica frustrada pelo excesso de atividades e pela falta [quando se acostuma à agenda cheia]. Fica entediada com mais facilidade."
    Não que toda atividade extra deva ser evitada, mas é preciso respeitar o tempo da criança. "Até os cinco anos os estímulos têm que ser mais naturais", afirma Fóz.
    De seis a 12 anos, é hora de aprender de forma mais sistematizada, diz ela. Aí é preciso conciliar o que os pais consideram ser importante com o desejo e as habilidades da criança, cuidando para que ela tenha tempo livre.
    "O ócio estimula a criatividade e a curiosidade por temas e experiências diversas", afirma a educadora e antropóloga Adriana Friedmann.

    7 MANDAMENTOS DO SLOW
    1 - SEM AGENDA
    Crianças de zero a cinco anos não precisam de atividades estruturadas: devem aprender de forma livre
    2 - MINIEXECUTIVO
    Atividades extra escola podem ser ótimas quando ajudam exercitam a mente e o corpo. São ruins quando são exaustivas ou feitas só pensando no currículo profissional da criança
    3 - DÊ OUVIDOS
    A opinião da criança deve ser considerada na hora de escolher uma atividade
    4 - MENOS, MENOS
    Simplifique a agenda dos seus filhos, deixando tempo livre para brincar
    5 - TÉDIO FAZ BEM
    Deixar que as crianças fiquem entediadas é uma forma de fazer com que elas aprendam a ser mais criativas
    6 - ÓCIO FAMILIAR
    Reserve algumas horas na semana para "fazer nada" em família --conversar, jogar, cozinhar sem nenhuma programação prévia
    7 - NOVOS AMIGOS
    No parquinho, resista à tentação de brincar com a criança o tempo todo. Deixe ela brincar com outras pessoas

      Suzana Herculano-Houzel

      folha de são paulo
      Faxina noturna
      Dormir é a solução para o cérebro prejudicado: deixa o órgão pronto para começar tudo de novo
      Sabemos por experiência própria que o sono não é apenas "o outro" estado de funcionamento do cérebro, mas uma necessidade básica para que o cérebro trabalhe direito enquanto acordado.
      Não dormir o suficiente traz fadiga mental, más decisões, dificuldade de aprendizado e risco aumentado de crises de enxaqueca e epilepsia --e a insônia completa e crônica ainda é capaz de levar tanto humanos como camundongos e até mesmo moscas à morte.
      Por que o funcionamento normal do cérebro depende de sono e deteriora quanto mais tempo se passa acordado? A neurociência tem uma forte candidata a resposta, vinda do laboratório de Maiken Nedergaard, nos EUA: o sono seria necessário para que metabólitos (quer dizer, produtos do metabolismo normal do cérebro) potencialmente tóxicos sejam eliminados do cérebro.
      O interesse inicial da equipe de Maiken Nedergaard era estudar o espaço intersticial do cérebro: o volume situado do lado de fora das células, por onde circula o líquido que banha as células e "lava" embora tudo aquilo que elas excretam, inclusive os tais metabólitos. Para estudar o espaço intersticial, a equipe injetava um corante que se espalhava por esse espaço no cérebro de camundongos acordados sob o microscópio.
      O experimento devia ser um tanto monótono para os animais, pois estes acabavam adormecendo. Foi o que levou à descoberta: para a surpresa dos pesquisadores, o cérebro adormecido parecia ter uma torneira aberta de corante, que agora se espalhava rapidamente pelo espaço intersticial.
      Investigando o fenômeno inesperado, a equipe demonstrou que a circulação de líquido pelo espaço intersticial é mínima no cérebro acordado, quando o espaço intersticial é reduzido. Mas a transição para o sono leva a uma expansão de 60% desse espaço, o que aumenta enormemente a circulação de líquido.
      Na prática, o resultado é que a remoção de toxinas produzidas pelo funcionamento das células essencialmente só ocorre durante o sono; no cérebro acordado, com pouca circulação de líquido, elas vão se acumulando.
      É fácil pensar em como o cérebro, acordado, deve ficar gradualmente prejudicado conforme se acumulam os produtos tóxicos do seu próprio funcionamento. Dormir parece ser a solução para o problema: um estado transitório, mas obrigatório, repetido todos os dias após um certo número de horas acordado. E que deixa o cérebro pronto para começar tudo de novo...

        Rosely Sayão

        folha de são paulo
        Menino Maluquinho
        O que antes não era considerado problema médico agora são doenças, transtornos e distúrbios
        A mãe de um garoto de nove anos pediu que eu a ouvisse a respeito das dúvidas que ela tem, no momento, sobre como conduzir algumas questões do filho. A história dela vai nos ajudar a refletir sobre como a lógica médica tem transformado nossas vidas e, principalmente, a vida dos mais novos.
        O garoto é inteligente e, na escola, produz bem. Suas notas são altas mesmo sem estudar nada em casa ou fazer as lições que a professora envia. A mãe quer que ele estude, faz o possível para que ele faça as lições, mas toda a paciência dela desaparece em minutos e eles terminam, invariavelmente, brigando quando ela se dispõe a acompanhar as tarefas do filho, pressionada que é pela sociedade para que haja assim.
        É que o garoto não para e nem presta atenção em nada: fica pulando de uma coisa para outra e, por isso, a tarefa que poderia fazer em minutos se arrasta pelo dia todo. E é assim que ele se comporta na escola. A mãe já foi chamada várias vezes pela professora e coordenadora por causa do comportamento agitado e ruidoso do filho. Da última vez, a escola sugeriu que ela o levasse a um médico, e ela atendeu. Saiu do consultório com um diagnóstico do filho e uma receita nas mãos.
        Ficou transtornada porque nunca considerou a possibilidade de o filho ter problemas médicos e foi à casa da mãe para desabafar. E ouviu o que a deixou agoniada. A mãe lhe disse que ela, quando criança, era igual ao filho. Também foi uma criança muito ativa e barulhenta e que deu muito trabalho mas, naquela época, não se costumava pensar que isso era sinal de alguma doença.
        Essa mulher é uma executiva de sucesso, disputada no mercado de trabalho e, segundo ela, uma de suas características profissionais que a impulsionou é justamente conseguir fazer bem várias coisas ao mesmo tempo. "Um traço meu, que meu filho parece ter herdado, nele é doença?", perguntou ela.
        Pois é: em outras épocas, crianças assim eram celebradas e não diagnosticadas. Quem leu "O Menino Maluquinho" deve lembrar-se de como Ziraldo o descreveu: "...Ele tinha o olho maior do que a barriga, tinha fogo no rabo, tinha vento nos pés, umas pernas enormes (que davam para abraçar o mundo)...".
        De lá para cá, cada vez mais as crianças deixam de ser consideradas "crianças impossíveis" por causa de seu comportamento, como era visto o Menino Maluquinho, e passam a ser crianças doentes, portadoras de síndromes dos mais variados tipos e que precisam de tratamento.
        O que antes não era considerado problema médico --insônia, tristeza, angústia etc.-- agora são doenças, transtornos, distúrbios, síndromes. A essa maneira de pensar é que chamamos de "Medicalização da Vida", e no mundo todo há movimentos que resistem a esse estilo. Na cidade de São Paulo, por exemplo, há um dia --11 de novembro-- dedicado à luta contra a Medicalização da Educação e da Vida.
        Por que a Educação está em destaque? Porque nunca antes vimos tantas crianças diagnosticadas e tratadas, seja por "problemas de aprendizagem" como por características de comportamento.
        É bom lembrar que o comportamento das crianças está em sintonia com o mundo em que nasceram, e que a aprendizagem humana é um campo muito complexo e diverso. Diagnósticos e tratamentos têm lidado com muito simplismo tais questões.
        Que voltemos a ter mais crianças impossíveis (que, com seu comportamento, alegram a casa, como o Menino Maluquinho) do que crianças consideradas doentes!

        Eliane Cantanhêde

        folha de são paulo
        No ringue
        BRASÍLIA - A relação entre Fernando Haddad e Gilberto Kassab passou ao largo do campo diplomático, saiu do estritamente político e descambou para um pugilato verbal. Ponto para a Folha, que escancarou o ringue e a tensão entre sucessor e sucedido, sem subterfúgios e sem intermediários.
        Na edição de domingo, Haddad disse, sem citar nomes, que encontrou uma situação de "descalabro" e de "degradação", com "nichos instalados e empoderados".
        Na de ontem, Kassab deu o troco, e não foi com luvas de pelica, mas de boxe. Para ele, além de o real "descalabro" ser o primeiro ano da gestão Haddad, o descalabro é duplo. E meteu no meio o final da gestão Marta Suplicy, da qual Haddad participou.
        Eles, que conhecem a prefeitura da maior e mais rica cidade brasileira, com um dos maiores orçamentos do país, que se entendam. Para nós, olhando de fora, ninguém tem ainda razão. A única certeza é que descalabro há, havia e, muito provavelmente, ainda vai continuar havendo. Mas quem é o pai dessa criança? E quem a embalou mais ou menos?
        Haddad, que precisa compensar a falta de jeito com o aumento do IPTU e a interferência do padrinho Lula, arroga-se o fato de ter criado a controladoria e de ter aberto todo o processo de investigação na sua gestão. Sem explicar, claro, onde entra o seu secretário citado na confusão toda.
        Já Kassab, que está mal na fita e na troca de socos, defende-se dizendo que os esquemas já vinham de administrações anteriores à sua (pois ninguém "se torna desonesto de uma hora para outra") e que as investigações começaram quando ele ainda era prefeito. Sem explicar, claro, a fita em que um dos envolvidos diz, em bom português, que ele mandou arquivar as denúncias.
        Quanto mais os dois se atacarem em público, mais os podres continuarão saindo. Só não vale, no final, Kassab apoiando Padilha e abraçado a Haddad e a Maluf --o grande e disputado aliado de ambos.

        Helio Schwartsman

        Folha de são paulo
        Justiça no futebol
        SÃO PAULO - A virtual vitória antecipada do Cruzeiro no Brasileirão traz à baila uma discussão recorrente: o campeonato por pontos corridos é melhor que o velho mata-mata? Parece haver certo consenso de que, embora a antiga fórmula nos reserve mais emoções, os pontos corridos são mais justos. Será?
        Minha impressão, amparada num pouquinho de matemática, é que seria impraticável desenhar uma competição capaz de medir com exatidão qual o melhor time e, assim, assegurar a justeza do campeonato. Na verdade, a dificuldade se coloca não apenas para o futebol mas também para a esmagadora maioria das modalidades esportivas. O problema de fundo é que essas disputas encerram uma dose muito alta de aleatoriedade.
        Imaginemos dois times e suponhamos que um deles seja ligeiramente melhor do que o outro, derrotando-o em 55% das disputas, descontados os empates. A questão é que, mesmo com essa superioridade, o mais fraco vence o mais forte em 9 de 20 partidas que não terminam com igual número de gols. Para eu poder afirmar qual é o melhor com segurança estatística (margem de erro de cinco pontos e intervalo de confiança de 95%), seria necessário que eles se enfrentassem nada menos do que 269 vezes (a conta é de Leonard Mlodinow e me foi confirmada pelo Datafolha).
        Se os atletas já reclamam do calendário do jeito que está, o que não diriam de uma final de 269 jogos?
        É certo que evitar semifinais e finais de um ou dois jogos já reduz o espaço do acaso, mas não há como ignorar que mesmo as 38 rodadas do Brasileirão, nas quais os times se enfrentam apenas duas vezes, são uma amostra pequena demais para dizer quem é o melhor. O objetivo de "fazer justiça", receio, é algo inatingível.
        O lado bom dessa história é que nós, os torcedores dos 19 times que não foram campeões, podemos dizer de boca cheia que o fato de o Cruzeiro ter vencido, a rigor, não significa nada.

        Táticas fora de lugar - Alba Zaluar

        folha de são paulo
        ALBA ZALUAR
        Táticas fora de lugar
        Se o objetivo dos "black blocs" não era o fim da política de pacificação, o efeito terá sido este. Acabou o sossego nas favelas ocupadas pelas UPPs
        A globalização é, de fato, um processo irresistível, até mesmo nas novas formas de protesto contra diferentes governos em diferentes contextos sociais no nosso vasto e lindo planeta. O problema é que a imitação fica descontextualizada.
        Os "black blocs", a Mídia Ninja, com seus múltiplos grupelhos, são contra a globalização, mas nada mais global do que seus nomes de super-heróis e suas táticas de "occupy", ditas sempre em inglês.
        Copiam a tática dos "black blocs" e "squatters" na Europa e nos Estados Unidos, mas não a finalidade política destes, que é o combate ao capital financeiro.
        Lá, ocuparam a City em Londres, Wall Street em Nova York, além de atrapalharem as reuniões do G8 e do Fórum Econômico Mundial. Tinham foco e coerência política.
        No Rio de Janeiro, sem nenhuma palavra de ordem, ocupam sempre a Cinelândia e a avenida Rio Branco, locais históricos das reuniões políticas na cidade. Em São Paulo, ficam na avenida Paulista ou no largo São Francisco, também locais de manifestações políticas na construção do Estado de Direito no Brasil.
        Nas duas cidades, atacam prédios tombados pelo patrimônio, destroem equipamentos urbanos fundamentais para os moradores, arrasam vidraças e terminais eletrônicos de algumas agências usados pelos modestos clientes de bancos, obstruem o trânsito por horas depois das passeatas pacíficas com veículos ou lixo queimados, objetos variados espalhados no meio da rua e a formação do bloco de confronto com a polícia, impedindo que trabalhadores cheguem em casa para seu sono reparador.
        O maior objetivo de tais grupos, segundo suas declarações, é impedir a realização da Copa e da Olimpíada, que movimentam a economia das cidades e do país. Em vez de fazerem críticas pontuais aos erros cometidos na montagem dos eventos, querem que se jogue fora tudo o que já foi construído e gasto para realizá-los. Afirmam que combatem o capitalismo, inimigo maior da humanidade, mas escolheram alvos no mínimo deslocados.
        No Brasil, estamos na fase de consolidar a democracia, os direitos sociais tão importantes para combater a desigualdade, o respeito ao bem público, o acatamento ao espaço público ainda mal definido, mal compreendido e pouco respeitado.
        Não é a hora de impor mal-alinhavadas ideias sobre uma suposta sociedade futura sem mercado, sem Estado, portanto sem tudo que sabemos fazer parte da democracia. Tanto é que, na hora do sufoco, quando são presos, se valem das instituições que funcionam a ponto de defender e libertar aqueles que as atacam sempre.
        Ainda bem que o Estado democrático de Direito está se consolidando no Brasil e suas instituições ainda não foram desconstruídas como propõem Foucault, Negri e outros ideólogos do neoanarquismo.
        Há também as consequências não intencionadas. Entre elas, o aumento da criminalidade nas duas cidades, cuja curva de inflexão se deu justamente a partir de julho, quando a tática da violência esvaziou as manifestações populares.
        No Rio de Janeiro, jovens usuários de drogas e pequenos repassadores estão sendo pagos para participar "quebrando tudo". E os traficantes, com o moral reforçado e o espírito de luta recuperado, tentam reaver o domínio territorial perdido, reacendendo a guerra entre os comandos e destes com a polícia.
        Se o objetivo da tática não era o fim da política de pacificação, o efeito terá sido este. Acabou o sossego dos moradores de favelas ocupadas pelas UPPs. O tiroteio voltou.

        Vladimir Safatle

        folha de são paulo
        A ópera e seus fantasmas
        Principal equipamento cultural da cidade de São Paulo, o Theatro Municipal é, há alguns meses, objeto de polêmica. As razões são estas: denúncias de corrupção e propostas de modificações em seus corpos artísticos estáveis.
        Como maior patrimônio cultural da metrópole, palco de alguns dos mais importantes momentos da cultura brasileira, o destino do Municipal é algo que não interessa apenas a artistas e músicos, mas a todos os cidadãos.
        Nos últimos meses da gestão passada, o sr. Gilberto Kassab resolveu aprovar a criação de uma fundação que seria responsável pela gestão não apenas do Municipal, com suas orquestras, seus corais, seu corpo de baile e seu quarteto de cordas, mas também de escolas como o Conservatório Municipal e a Escola de Dança. Todo o processo foi obscuro, sem participação da sociedade e discussão aprofundada.
        Durante anos, boa parte dos músicos e professores viveram em regime inacreditável de precarização, com contratos de apenas três meses, periodicamente renovados. Obras como a da Praça das Artes chegaram a ter o fosso dos elevadores inundado após apenas alguns meses de sua entrega. Tudo isso demonstra a maneira inadequada com que as questões referentes a um dos corações da produção cultural da cidade foram cuidadas.
        Nesse momento, denúncias de corrupção contra o Coral Paulistano aparecem. Elas merecem ser tratadas da maneira mais dura possível. Há, no entanto, uma sobreposição de problemas em que tais denúncias parecem colonizar os debates a respeito do destino tanto do coral quanto da Orquestra Experimental de Repertório (OER). Certamente, não é bom que isso ocorra.
        O Municipal tem agora o projeto de se transformar em uma casa lírica de referência. Tal projeto só pode ser bem-vindo, já que, de fato, a cidade de São Paulo se ressente de tal ausência. Mas isso não implica, necessariamente, desconhecer a natureza historicamente multifuncional de um espaço com vários corpos estáveis.
        Corpos como o Coral Paulistano e a OER desempenham funções de extrema importância, como produzir encomendas para compositores nacionais, apresentar repertório contemporâneo desconhecido do grande público e fazer pesquisas sobre música brasileira. Sucateá-los ou fundi-los não parece a melhor solução.
        Um dos principais pontos do programa de cultura da atual gestão era a "democratização do Theatro Municipal". Isso significava que as decisões relativas ao Municipal seriam tomadas levando-se em conta todos os atores envolvidos em suas atividades. Esse é o melhor momento para mostrar que tais palavras não são letra morta.

        Mônica Bergamo

        folha de são paulo

        STJ retoma julgamento do pedido de pensão da ex-primeira-dama Rosane Collor

        Ouvir o texto

        O STJ (Superior Tribunal de Justiça) retoma hoje o julgamento do pedido de pensão da ex-primeira-dama Rosane Collor. Ela quer continuar recebendo 30 salários mínimos mensais (cerca de R$ 20 mil) do ex-presidente Fernando Collor, além do direito sobre imóveis estimados em R$ 950 mil.
        TUDO PARADO
        O caso pode firmar jurisprudência sobre uma tese defendida por Rosane que é relativamente nova nos tribunais: ela pede o pagamento de "alimentos compensatórios". Sustenta que foi obrigada a não trabalhar pelas circunstâncias de o ex-marido ser presidente da República quando eram casados.
        EMPATE
        A tese abre a possibilidade de pagamento, já que um simples pedido de pensão seria provavelmente negado a ela. Por ser jovem, era grande a possibilidade de o STJ entender que a ex-primeira-dama pode trabalhar e não precisa de pensão. A questão agora é ao menos polêmica: a votação está empatada em um a um. Outros três magistrados devem votar hoje.
        PONTO FINAL
        Ivo Herzog, presidente do Instituto Vladimir Herzog, está deixando o conselho da Fundação Padre Anchieta, por sérias divergências com a atual gestão da TV Cultura.
        FELIZ NATAL
        Donos de pequenos negócios estão com boa expectativa para o fim de ano. Segundo pesquisa do Sebrae, 96% acreditam que vão aumentar ou manter o faturamento até dezembro. E 98% deles esperam estabilidade ou crescimento nos empregos. As taxas são melhores que as registradas em 2012 --94% e 97%, respectivamente.
        FELIZ NATAL 2
        Para Luiz Barretto, presidente do Sebrae, o bom desempenho que as empresas tiveram durante o ano influencia o otimismo.
        DEBAIXO DOS CARACÓIS
        A cantora Simone recebeu convidados como Marina Lima na estreia do show "É Melhor Ser", no Complexo Ohtake Cultural. A atriz e dramaturga Denise Stoklos, a atriz Tuna Dwek e o estilista Lino Villaventura, com a mulher e sócia, Inez, estiveram no evento. O casal de empresários Claudio Pessutti e Helena Caio e a apresentadora Mariana Kupfer também passaram por lá.

        Show da cantora Simone

         Ver em tamanho maior »
        Bruno Poletti/Folhapress
        AnteriorPróxima
        A cantora Simone recebeu convidados na estreia do show "É Melhor Ser", no Complexo Ohtake Cultural
        OPERAÇÃO ABAFA
        Além de dar "um tiro" num aliado potencial do PT ao deflagrar a operação que prendeu fiscais suspeitos de corrupção na gestão de Gilberto Kassab (PSD-SP), o prefeito Fernando Haddad é criticado por dirigentes paulistas do partido por outro "efeito colateral": tirar das manchetes o escândalo do metrô de SP, que atinge o PSDB.
        OPERAÇÃO ABAFA 2
        Os mesmos dirigentes, em almoço na semana passada, afirmavam, contrariados, que Haddad teria que resolver o "dilema patológico" de "ser prefeito ou ser policial". A opinião foi compartilhada com a Folha no momento em que o encontro de descontentes era realizado.
        CENOURA E BRONZE
        Ronaldo segue em temporada em Londres com a namorada, a DJ Paula Morais, de onde mantém o olho nos negócios. O ex-craque continua em tratativas, por exemplo, para adquirir os direitos de publicação da revista "Playboy" no Brasil.
        FOGO AMIGO
        Filho do bispo Edir Macedo, Moysés Macedo criticou a Record e a Globo anteontem no Twitter. Ele, que é assessor da vice-presidência na emissora do pai, escreveu --e apagou o texto horas depois-- que os dois canais são "lixo puro". E que o "SBT só não está pq o jornalismo é inexistente" (sic). A Record não comenta o assunto.
        ARQUIVO
        E a emissora de Silvio Santos foi inocentada no caso de dois garotos que, imitando um mágico que apareceu no programa de Gugu Liberato, atearam fogo às próprias vestes. Uma das crianças teve queimaduras em 30% do corpo e até hoje, dez anos depois, tem sequelas. O STJ entendeu que, apesar da tragédia, não era possível estabelecer nexo de causalidade entre os fatos.
        VISTA MUSICAL
        Os atores Reynaldo Gianecchini, Alessandra Negrini e Thalles Cabral foram ao camarote do festival de música Planeta Terra, realizado no sábado, no Campo de Marte, em São Paulo. A banda inglesa Blur e a cantora americana Lana Del Rey foram algumas das atrações.

        Festival Planeta Terra

         Ver em tamanho maior »
        Greg Salibian/Folhapress
        AnteriorPróxima
        A atriz Alessandra Negrini foi ao camarote do festival Planeta Terra, realizado no sábado (9), no Campo de Marte
        CURTO-CIRCUITO
        Duca Leindecker autografa "O Menino que Pintava Sonhos", hoje, às 19h, na Fnac da avenida Paulista.
        Hebe Camargo é homenageada em mesa decorada criada por João Armentano para mostra que abre hoje no D&D Shopping.
        A Secretaria de Educação de Santo André capacita professores neste mês para o ensino da cultura indígena nas escolas municipais.
        A Timberland celebra 40 anos com festa para convidados, hoje, na Cartel 011.
        com ELIANE TRINDADE, JOELMIR TAVARES, ANA KREPP e MARCELA PAES
        Mônica Bergamo
        Mônica Bergamo, jornalista, assina coluna diária publicada na página 2 da versão impressa de "Ilustrada". Traz informações sobre diversas áreas, entre elas, política, moda e coluna social. Está na Folha desde abril de 1999.

        João Pereira Coutinho

        folha de são paulo
        Imaginando Sísifo feliz
        Quem, exceto um ator em palco, consegue viver a vida em permanente intensidade?
        Passaram cem anos sobre o nascimento de Albert Camus (1913""1960). Festejos pálidos. Injusto. Quando tivemos o centenário de Sartre em 2005, um filósofo e escritor inferior a Camus, as trombetas soaram com outro vigor.
        Camus merecia mais atenção. E, na ausência de festejos públicos, optei pelos privados. Um pouco de nostalgia: já não lia Camus desde a adolescência. Encontrei surpresas gratas. Os romances continuam soberbos, ainda melhores do que na minha memória --e hoje, a caminho dos 40, é "A Queda" (1956), e não tanto "O Estrangeiro" (1942), que verdadeiramente me joga no tapete.
        Foram precisas algumas experiências de vida para compreender, tal como afirma o sinistro narrador de "A Queda", que a busca de um método --um sistema, uma ideologia, uma cartilha-- é sempre o expediente dos homens sem caráter. Corrijo. Dos homens que não desenvolveram um caráter. "Touché, Albert!"
        Mas depois vieram as desilusões. Desilusões, não. Discórdias. Brandas, perdoáveis, quase melancólicas. Quando li pela primeira vez o seu "Mito de Sísifo" (1942), esse ensaio torrencial sobre a nossa condição absurda perante "o silêncio do mundo", fiz de Camus o meu santo laico e do existencialismo, precisamente, uma forma de humanismo.
        A argumentação de Camus era poderosa e nas primeiras linhas o autor avisava o auditório que pretendia enfrentar sem subterfúgios o mais relevante dos temas filosóficos: o suicídio.
        Se a vida não tem sentido e se recusamos o "salto de fé" para as consolações celestiais, o que nos resta, afinal?
        Camus responde: resta-nos não negar a nossa condição absurda e, mais ainda, assumir essa condição com "consciência" e "revolta". Não é por acaso que Camus dedica as melhores páginas do seu "Mito de Sísifo" ao trabalho de um ator em palco. O ator, exemplo supremo do "homem absurdo", vive, ama e eventualmente morre intensamente --tudo no espaço de algumas horas e sempre com radical autenticidade.
        A vida que Camus recomenda é, na falta de melhor palavra, uma vida de "performance" permanente. Donde, a conclusão: pode haver uma dissonância insuperável entre o que a mente deseja (sentido) e um mundo que desilude (pelo absurdo). Mas esse fato não autoriza o suicídio. Parafraseando Nietzsche, a ausência de uma vida eterna convida os homens a uma vivacidade eterna.
        Aos 18 ou 19 anos, o programa era tentador. Mas, honestamente, quem, exceto um ator em palco, consegue viver a vida em permanente intensidade? A atitude de Camus, longe de aceitar o absurdo, parece-me agora uma fuga ao absurdo. Pior ainda: uma fuga desesperada ao exato desespero que ele procura resolver.
        Mas não só. É a própria ideia de "viver o absurdo" que me parece adolescente--no autor e na criança que eu era. Anos depois de ler o ensaio de Camus, encontrei um luminoso texto de Richard Taylor no seu "Good and Evil" no qual o filósofo voltava ao mito de Sísifo, esse mortal condenado pelos deuses a rolar eternamente a pedra montanha acima, montanha abaixo.
        Na versão de Camus, podemos imaginar Sísifo feliz se ele abraça esse destino com desafio e orgulho, mesmo sabendo da futilidade do exercício.
        Taylor argumenta, e argumenta bem, que não basta rolar a pedra para vencer o absurdo. É preciso encontrar um sentido para isso. Que o mesmo é dizer: rolar a pedra para algo, para alguém --ou até para nós próprios, se isso for importante ou significativo para as nossas vidas.
        No limite, não importa até se a pedra é grande ou pequena. Porque não é o tamanho dela ou o esforço homérico de Sísifo para a empurrar que concede dimensão trágica à condenação.
        Se a pedra fosse minúscula, e se ele subisse e descesse a montanha com ela no bolso, a premissa seria a mesma: a única forma de o imaginarmos feliz seria se ele usasse essa pedra para erigir um templo; ou construir uma habitação para os filhos; ou apenas para exercitar o corpo e o gosto por passeatas com pedras minúsculas.
        Hoje, a visão modesta de Taylor parece-me mais real do que a "revolta" literária (e esteticamente belíssima) de Camus. Não porque nego o absurdo da vida e o esquecimento que nos espera a todos. Não nego.
        Mas porque só consigo imaginar Sísifo feliz se, no cume da montanha, existir algo ou alguém à espera dele e da sua pedra.

        Millôr Fernandes será o homenageado da Flip 2014

        folha de são paulo
        Pela primeira vez, festa literária celebrará autor que chegou a participar do evento
        DE SÃO PAULOO desenhista, dramaturgo, escritor, tradutor e jornalista Millôr Fernandes (1923-2012) será o autor homenageado da Flip 2014, que acontecerá de 30 de julho a 3 de agosto.
        É a primeira vez que a Festa Literária Internacional de Paraty tem um homenageado que chegou a participar do evento --Millôr esteve na primeira edição, em 2003.
        Paulo Werneck, curador da Flip, argumenta que o fato de ser um autor contemporâneo, que não tem toda obra editada, pesou na decisão.
        "Não há uma produção pronta para desaguar na Flip. Com a homenagem, vamos ajudar a destacar aspectos menos conhecidos do público, como o de Millôr tradutor de Shakespeare", diz, destacando ainda o bom humor presente na obra do autor.
        A abrangência de gêneros trabalhada por Millôr também enriquecerá o debate, na avaliação do curador. "Essa mistura de áreas, do jornalismo à dramaturgia, do cartunismo à tradução, tem tudo a ver com a Flip", diz.
        A escolha foi feita apesar de forte campanha na internet, que contou com mais de mil assinaturas, pelo nome de Lima Barreto (1881-1922) como homenageado.
        "Foi um movimento interessante. Nunca tinha visto a Flip motivar uma ação como essa, e espero ainda ser curador de uma Flip que homenageie o Lima", diz Werneck.

          José Simão

          folha de são paulo
          Eike! O Rei do XIS-Salada!
          O Pato desempatou! Pra desespero do Tite: 'Como você me faz uma coisa dessa, me tirar mais um empate?'
          Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! O Brasil tá exportando piada pronta! Dallas: "Mulher dorme no volante e invade loja de camas e colchões". Atlanta: "Exposição sobre Titanic' cancelada. Motivo: inundação da sala!". Rarará!
          E um amigo meu ligou para uma clínica de impotência sexual e a telefonista: "Alô, quem FALHA?". "EU". Rarará!
          E o Eike? O Eike abre uma nova empresa do seu império XIS: Xis-Salada! Eike vira o Rei do Xis-Salada! Ele vai abrir um trailer, na Barra, de xis-salada!
          E a derrocada do Eike começou quando ele arrematou num leilão o terno de posse do Lula! Arrematar terno da uruca! Com a inhaca alheia. Com a inhaca do Lula. Rarará. Eikex Fudidex da Calotex arrematex o ternex do Lulex e dá uma urucax!
          E tá dando uma Lulite Aguda em São Paulo: o Kassab não sabia, o Alckmin não sabia, o Serra não sabia. E eu sabia que eles sabiam. É tanta corrupção que São Paulo vai mudar de nome pra CorrupÇão Paulo! São Paulo com "c cedilha"!
          E essa: "Mensaleiros se preparam pra cadeia e se informam sobre presídios". Eu informo, presídio vai virar flat! Com apart-celas: sem grade porque grade é cafona, banho de sol diário em Trancoso, na Bahia, e quentinha do Alex Atala delivery! E hidratante da Biotherm. Porque preso com pele seca é uma desgraça!
          E o Pato? O Pato desempatou! Pra desespero do Tite: "Como você me faz uma coisa dessa, me tirar mais um empate?". O Pato desempatou e jogou o Fluminense pra zona de rebaixamento!
          Mas diz que mais humilhante do que ir pra zona de rebaixamento é tomar um gol de pênalti do Pato. Acaba com o currículo de qualquer goleiro! Goleiro desmoralizado!
          E o Cruzeiro? Na terra do real, Cruzeiro vira campeão? Cruzeiro é pré-Sarney! Tem que atualizar. Real não dá, porque não ganha, fica devendo. Muda pra dólar. Dólar Futebol Clube!
          E pode perguntar pra qualquer mineiro: "Você prefere Cruzeiro campeão ou um queijo?". "Um queijo". Rarará. É mole? É mole, mas sobe!
          Os Predestinados! Mais três para a minha série Os Predestinados! Direto de Copacabana, a veterinária: Lorena Guimarães CANINA! E direto da Paraíba, o economista: Celso Pinto Mangueira. Parabéns pelos dois! Já gostei dos dois, como disse a minha amiga. Rarará.
          Nóis sofre, mas nóis goza!
          Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

            Janio de Freitas

            folha de são paulo
            Picadinho à brasileira
            Lula ilustrou bem o que é o PT atual, ao pedir que o outrora partido da juventude saia à caça de jovens
            O miserê da política brasileira exposto em um só acontecimento, a eleição de novos/velhos dirigentes do PT. Um ato que mostrou a mesma coisa por diferentes maneiras: o PT, que foi a organização mais parecida com um partido programático no pós-ditadura, não tem mais absolutamente nada a dizer. O que está evidenciado tanto na tranquila continuidade do imobilismo, como na ausência de ao menos uma palavrinha nova e interessante até entre os derrotados, que deveriam ser contestadores.
            Lula ilustrou bem o que é o PT atual, ao pedir que o outrora partido da juventude saia à caça de jovens. Com que ideias, com que ação política que não seja a mera prestação de serviço ao governo? Silêncio.
            Como se diz no futebol, a eleição no PT foi só para cumprir tabela.
            2) A crítica de Dilma Rousseff ao Tribunal de Contas da União não mereceu maior interesse. Mas se justifica, e não por pouco. A paralisação de obras, sete dessa vez, é contumaz no TCU, quando encontrados indícios ou evidências de irregularidades. Mas não é preciso paralisar obras, por tempo indeterminado e em geral longo, para investigar, corrigir e eventualmente punir, por exemplo, irregularidades financeiras.
            Foi o próprio autor do relatório aprovado para as novas suspensões, Walton Rodrigues, a dizer que nesses casos "predominam achados de sobrepreço, restrição ao caráter competitivo da licitação e atrasos injustificados nas obras". A solução de sobrepreço e de atraso não impede a continuidade de obra, cuja sustação tem alto custo para os cofres públicos.
            E "restrição ao caráter competitivo da licitação" é o que, até agora, se vê o TCU impor ao leilão dos aeroportos previsto para o dia 22.
            3) O problema de José Serra está longe de ser Aécio Neves. É, sim, a disposição de Fernando Henrique e Geraldo Alckmin de impedir sua candidatura à Presidência. O governador, por conveniência pessoal e de sua corrente no partido; o ex-presidente, por velhas convicções e observação atual.
            O problema de Fernando Henrique e Geraldo Alckmin está longe de ser José Serra. É, sim, a inconvincente determinação de Aécio Neves de levar adiante sua candidatura. Daí a insistência de Fernando Henrique em que Aécio assuma a posição de candidato do PSDB já em dezembro, no máximo, e não em março como combinado com Serra.
            Fernando Henrique não está equivocado quanto à aparente pré-candidatura de Aécio Neves.
            4) Ao menos para consideração futura, pelo Supremo ou pelo Congresso, faz sentido o argumento agora apresentado por alguns advogados: dizem eles que a exigência de quatro votos favoráveis, para que certos réus do mensalão ganhem direito a novo recurso, não se justifica se o tribunal fez a condenação quando desfalcado de um ou de dois ministros.
            Diz a Constituição, art. 101, que "o Supremo Tribunal Federal compõe-se de onze Ministros". Se não tem onze, o tribunal ainda "compõe-se" de acordo com a Constituição?
            Quatro em onze são uma proporção; em dez ou nove são outra, mais desfavorável ao réu.
            Nisso está presente, também, a falta de prazo para indicação de novos ministros pela Presidência da República. Dilma Rousseff foi de lentidão injustificável, que impôs muito atraso a numerosas causas.