terça-feira, 5 de novembro de 2013

'É mais cômodo dar remédio do que fazer terapia', diz mãe

folha de são paulo

Psiquiatra diz que a medicina transformou comportamentos normais em doença


 
JULIANA VINES
DE SÃO PAULO
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A "caixa da normalidade" está cada vez menor e a culpa é do excesso de diagnósticos de doenças mentais, diz o psiquiatra americano Dale Archer, autor do best-seller "Better than Normal", recém-lançado no Brasil com o título "Quem Disse que É Bom Ser Normal?" (Sextante, 224 págs., R$ 24,90).
Archer, 57, é psiquiatra clínico desde 1987 e fundou um instituto de neuropsiquiatria em Lake Charles, Louisiana (EUA). Em 2008, ele notou que havia algo errado com os seus pacientes: a maioria dizia ter um transtorno mental e precisar de remédios --só que eles não tinham nada.
"Estamos 'patologizando' comportamentos normais. E isso não é só culpa da psiquiatria", disse Archer, à Folha, por telefone.
Um quarto dos adultos americanos têm uma ou mais doenças mentais diagnosticadas, segundo o Instituto Nacional de Saúde Mental dos EUA. "Isso está errado. Há uma gama de comportamentos que não são doença."
Em um ativismo "pró-normalidade", Archer descreve oito traços de personalidade comumente ligados a transtornos, como ansiedade, e afirma que não há nada errado com essas características, a não ser que sejam muito exacerbadas.
"O remédio tem que ser o último recurso, e não é o que eu vejo. As pessoas entram em um consultório e saem com uma receita médica. A psicoterapia é subestimada."
De outubro de 2012 a setembro de 2013, o mercado de antidepressivos e estabilizadores de humor movimentou mais de R$ 2 bilhões no Brasil, segundo dados da consultoria IMS Health. Nos últimos cinco anos, o número de unidades vendidas desses remédios cresceu 61%.
Para Antônio Geraldo da Silva, presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria, os diagnósticos aumentaram, sim, mas da mesma forma como aumentou os de outras doenças, de diabetes a câncer. "Isso é resultado da evolução da medicina e da facilidade de acesso."
O mesmo pensa o psiquiatra Fabio Barbirato, da Santa Casa do Rio de Janeiro. "Também aumentou o número de prescrições de insulina e anti-hipertensivo. Isso ninguém questiona. Mas quando se fala de mente, da psique, todos têm uma opinião", afirma.
Segundo Silva, o problema é o subdiagnóstico. Para ele, há mais deprimidos sem tratamento do que pessoas sem depressão sendo tratadas.
Barbirato dá como exemplo o TDAH (transtorno do deficit de atenção e hiperatividade). "O número de crianças com prescrição de remédios não chega a 1,5% no Brasil, e a estimativa mais baixa de presença de TDAH no país é de 1,9%. Há crianças sem tratamento."
CRITÉRIO ANTIGO
Para a psicóloga Marilene Proença, professora da USP, a sociedade está "medindo" as crianças com réguas antigas. "Os critérios de diagnóstico de TDAH esperam uma criança que brinque calmamente, que levante a mão para perguntar algo. Isso não condiz com o papel da criança na sociedade. Ela está exposta a muitos estímulos e é tudo muito competitivo", diz.
Para a psiquiatra e psicanalista Regina Elisabeth Lordello Coimbra, da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo, as pessoas estão menos tolerantes às emoções.
"Há pouco lugar para a tristeza. E a exaltação e excitação são confundidas com felicidade. Vivemos de uma forma mais estimulante, na qual emoções mais depressivas, reflexivas, não têm espaço."
De acordo com Silva, o que caracteriza a doença mental é a gravidade dos sintomas. "Deixa de ser normal quando a pessoa tem prejuízo, quando está tão triste que não consegue sair da cama."
Ele argumenta que "invariavelmente" encaminha os pacientes para a psicoterapia. E garante: nem sempre eles saem do consultório com uma receita médica.

'É mais cômodo dar remédio do que fazer terapia', diz mãe

E
 
JULIANA VINES
DE SÃO PAULO
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Kátia Christina Fonseca da Silva, 38, ajudante de cozinha, desconfia sempre que dizem que uma criança tem deficit de atenção. Sua filha, Valentina, 11, recebeu esse diagnóstico de forma errada, segundo ela.
*
"Minha filha Valentina sempre deu problema. Com seis anos, a escola me chamou para conversar.
Ela tinha tido um surto. Jogou as coisas do armário da sala no chão, puxou o cabelo da professora, agrediu outras crianças. Entrei na sala de aula e comecei a chorar, não acreditava que ela tinha feito aquilo.
Fabio Braga/Folhapress
Kátia Fonseca da Silva, 38, e sua filha, Valentina, 11, que foi diagnosticada com deficit de atenção
Kátia Fonseca da Silva, 38, e sua filha, Valentina, 11, que foi diagnosticada com deficit de atenção
Ela foi encaminhada para um psicólogo e, depois, mandaram para um psiquiatra, que disse que ela não tinha nada.
Não fiquei satisfeita. Juntei dinheiro e paguei um psiquiatra particular, que disse que ela tinha TDAH (deficit de atenção) e precisava de remédio. Fiquei desesperada. A caminho da farmácia, encontrei uma amiga, que me convenceu a não comprar o remédio. Disse que o mesmo tinha acontecido com o filho dela.
Comecei a me perguntar se o problema não estava na minha família. Na época, eu estava me separando e trabalhava demais.
Passei a dar mais atenção para ela, a passar mais tempo junto e, devagar, as coisas começaram a melhorar.
Ela ainda dá trabalho, mas é o mesmo trabalho que toda criança. Ela tem o gênio forte. Acho que, quando era mais nova, queria chamar a atenção.
Depois de tudo, comecei a participar de reuniões na escola para conversar com os pais. Quando dizem que uma criança tem TDAH, penso, será que isso está certo?
É mais cômodo dar um remédio do que fazer uma terapia, mudar o comportamento.
Acho que as crianças são nosso espelho. Será que a agitação deles não é culpa nossa?"

Mirian Goldenberg

folha de são paulo
Perdoa-me por me traíres
A maioria das mulheres afirma que não trairia caso suas necessidades afetivas e sexuais fossem satisfeitas
Na minha pesquisa sobre casamento e fidelidade, 60% dos homens e 47% das mulheres disseram que foram infiéis.
Classifiquei os discursos masculinos em cinco tipos principais.
Os "poligâmicos por natureza" dizem que amam e desejam suas esposas, mas não podem trair o próprio desejo de aventura, novidade, sedução. Eles não se sentem culpados por trair, pois consideram que são fiéis à própria natureza.
Os "poligâmicos por oportunidade" dizem que traem em viagens de trabalho, festas de fim de ano: "porque a mulher deu mole", "não consegui dizer não","foi só brincadeira", "foi uma noite só". Eles acreditam que sexo com garotas de programa não é infidelidade.
Os "monogâmicos infiéis" afirmam que não queriam trair, mas tiveram relações extraconjugais em momentos de crise pessoal ou em uma crise do casamento. Eles se sentem culpados até resolver a situação, quando decidem se separar da esposa ou da amante.
Os "monogâmicos fiéis" dizem que não traem suas esposas, pois não querem ser desleais: "Quero que a minha esposa seja também minha amante, minha parceira, minha melhor amiga".
Os "monogâmicos por preguiça" acham que trair dá muito trabalho: "Uma única mulher já exige demais e reclama de tudo, imagina duas?".
Já as mulheres dizem que querem ser únicas para os seus maridos e querem também que eles sejam únicos para elas. Elas dizem que só foram infiéis porque o marido não satisfazia suas necessidades de atenção, escuta, romance, carinho, sexo, intimidade, diálogo, elogios etc.
É óbvio que também encontrei mulheres que traíram por sentir desejo por outro homem, em momentos de crise do casamento ou até mesmo por "pintar uma oportunidade". Mas a maioria justificou a própria infidelidade afirmando que não trairia caso suas necessidades afetivas e sexuais fossem satisfeitas pelo marido.
Uma famosa peça de Nelson Rodrigues parece perfeita para os homens que não conseguem satisfazer os incontáveis desejos femininos e, portanto, são considerados os verdadeiros culpados por serem traídos. Eles deveriam, então, assumir a responsabilidade pela infidelidade feminina e pedir a elas (ou até mesmo implorar, como queria o dramaturgo): "Perdoa-me por me traíres".

    Lidando com o aprendizado - Rosely Sayão

    folha de são paulo

    Aprender

    DE SÃO PAULO
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    Há muitos pais que reclamam do comportamento dos filhos em relação à vida escolar. Em geral, porque eles não se esforçam, acham muito chato aprender e dizem que não gostam de estudar; também porque resistem até o fim para sentar em casa e realizar a tarefa e/ou rever a matéria; e porque não conseguem prestar atenção. Além desses, há os que afirmam que o filho apresenta "dificuldade de aprendizagem".
    Em relação a essa última questão, é preciso considerar que essa frase é vazia, sem sentido. Aprender algo novo é sempre difícil, por mais que a pessoa queira ou goste. Para aprender, é preciso reconhecer a própria ignorância, e isso tem sido cada vez mais difícil no nosso mundo.
    Em resumo: todos nós temos dificuldades de aprendizagem, por isso seria interessante deixarmos de lado esse rótulo quando nos referimos aos mais novos.
    Retomemos as primeiras razões das reclamações dos pais e vamos pensar no quanto eles mesmos colaboram para que tudo aquilo aconteça com o filho, sem que eles percebam sua contribuição.
    E, de largada, vamos lembrar: quando a criança inicia seus estudos formais, ela terá de persistir, se esforçar, encarar o erro e procurar não repeti-lo, aprender a "grudar a bunda na cadeira" cada vez por mais tempo e a seguir um processo.
    A maioria dos pais reconhece tais requisitos mas, na hora de tentar passar aos filhos, comete um equívoco: o de dizer à criança o que ela precisa fazer, na esperança de que ela apreenda as lições dos pais e passe a aplicá-las nos estudos. Costuma ser em vão essa estratégia, porque as crianças continuam com os mesmos comportamentos.
    É que elas precisam aprender isso com os pais no cotidiano. Para ilustrar essa questão, vou usar um exemplo muito presente na vida dos mais novos: os convites para comparecer a festas de aniversários. Aliás, nunca antes as crianças tiveram tantas demandas para eventos sociais. Será bom para elas essa alta frequência? Ainda não sabemos.
    Qual costuma ser o comportamento das crianças em relação aos convites que recebem? Primeiramente, elas não pensam se querem mesmo ir ou não. Desconfio que elas acham que o comparecimento a essas festas é obrigatório, como ir à escola.
    Elas não pensam porque os pais não as levam a isso. Perguntar ao filho qual ou quais motivos ele tem para querer ir à festa pode ser um bom começo. Ele gosta do colega? Tem boa convivência com ele? Quer brincar com outras crianças? Entretanto, o motivo mais utilizado, o de que "todo mundo vai", não deve ser suficiente para convencer os pais.
    Depois disso, sair em busca de um presente para o colega. Pensar na idade dele, do que ele gosta, de suas características, usar uma faixa de preço para escolher, ir com os pais até a loja e --por que não?-- contribuir com parte de sua mesada são questões que também ajudam a criança a vivenciar um processo do começo ao fim dele.
    Ir a uma festa exige uma preparação: não é apenas ir e se divertir, não é verdade?
    Muitas crianças só se defrontam com os processos da vida na escola e, por isso, resistem tanto, reclamam tanto, acham tão chato. A escola tem sido, para muitas delas, a única instituição a exigir delas dedicação, esforço, perseverança, espera, contenção, planejamento etc.
    Desde antes dos sete anos a criança já pode, em família, começar a vivenciar todas essas questões. Afinal, pertencer a uma família já é um processo que exige muito, não é?
    Mas parece que temos deixado a criança concluir que pertencer a uma família é puro desfrute e que aprender algo deve ser fácil.

    Museus apostam na nudez para atrair público

    folha de são paulo
    DOREEN CARVAJAL
    DO "NEW YORK TIMES"
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    The New York Times
    Nas últimas semanas, o programa cultural mais popular da capital francesa tem sido uma exposição no Museu d'Orsay que confronta os espectadores com imagens de um homem nu sobre uma laje fria em um necrotério e do rapper Eminem nu segurando um fogo de artifício diante do sexo.
    As multidões estão vindo, mais de 4.500 pessoas por dia em média, o triplo de uma exposição na mesma época no ano passado, segundo números do museu.
    A exposição --que inclui obras de Picasso e Edvard Munch, assim como nus mais contemporâneos de David Hockney, Andy Warhol e Robert Mapplethorpe--, provocou um amplo leque de reações dentro e fora da França.
    "Uma exposição confusa", avaliou o jornal francês "Le Monde", "despida de qualquer reflexão histórica". A revista de beleza feminina "Marie Claire" a declarou o "evento mais quente" do outono.
    Kenzo Tribouillard/AFP
    Pintura do russo Alexendre Alexandrovitch Deineka na exposição 'Masculin/Masculin', no Museu D'Orsay, em Paris
    Pintura do russo Alexendre Alexandrovitch Deineka na exposição 'Masculin/Masculin', no Museu D'Orsay, em Paris
    Badalação é o que várias grandes instituições europeias buscam neste outono, esperando que um foco sobre sexo estimule visitantes e amplie sua atração.
    O Museu Jacquemart-André também está provocando os viajantes de trem em Paris com cartazes de um nu feminino nebuloso, rotulado "desejo". Ele apresenta uma exposição de pinturas inglesas intitulada "Desejo e Prazer na Era Vitoriana".
    Do outro lado do canal, o Museu Britânico organizou uma exposição inédita de shunga japonesas do século 17, antes proibidas: xilografias eróticas de homens e mulheres copulando.
    A exposição, "Shunga: Sexo e Prazer na Arte Japonesa", adverte os visitantes: "Aconselha-se orientação paterna".
    Durante anos, os objetos ficaram escondidos em um armário secreto de artigos provocantes, mas hoje o Museu Britânico os considera tão rentáveis que criou uma linha de mercadorias "shunga": creme para as mãos Kabuki, velas de soja e brilho para lábios de chá verde. As exposições tiveram ingressos esgotados no primeiro fim de semana de outubro.
    O Museu d'Orsay, como outras instituições culturais com subsídios estatais cada vez menores, quis expandir sua base para pessoas mais jovens e visitantes além de Paris com exposições mais arriscadas. Além dos cartazes no metrô, o museu contratou um diretor para criar videoclipes.
    A direção do museu ficou surpresa quando soube que seu vídeo promocional da exposição havia virado tabu para alguns espectadores a milhares de quilômetros de distância. O YouTube colocou nele o equivalente a uma proibição para 18 anos, e os espectadores menores que tentaram vê-lo por meio de suas contas no Google não tiveram acesso.
    Gareth Evans, porta-voz do YouTube, escreveu em um e-mail: "Temos de realizar um equilíbrio delicado com os espectadores mais jovens para que eles não consigam acessar vídeos que poderiam ser inadequados".
    Mais tarde, o YouTube abrandou sua posição e tornou o vídeo, que atraiu mais de 110 mil visitas, acessível a todos. (Ele inclui uma mensagem sobre imagens potencialmente ofensivas.)
    Quanto à exposição em si, "nosso objetivo não é provocar, ser militante ou gerar um escândalo", disse Amélie Hardivillier, porta-voz do Museu d'Orsay. "Temos de procurar pessoas de maneiras diferentes e começamos com 'Masculin/Masculin'. É uma exposição arriscada."

    Tribunal suspende direitos políticos de Maluf por cinco anos

    folha de são paulo
    Deputado vai recorrer contra a decisão, que ameaça impedi-lo de se candidatar de novo nas eleições de 2014
    Desembargadores culpam ex-prefeito por desvios na construção do túnel Ayrton Senna; ele nega irregularidades
    MARIO CESAR CARVALHODIÓGENES CAMPANHADE SÃO PAULOO deputado federal Paulo Maluf (PP-SP) foi condenado ontem pelo Tribunal de Justiça de São Paulo a pagar multa de R$ 42,3 milhões pelo superfaturamento na construção do túnel Ayrton Senna e à suspensão de seus direitos políticos por cinco anos.
    A decisão, proferida de forma unânime por três desembargadores do tribunal, pode impedi-lo de disputar as eleições de 2014. Ainda cabe recurso, e Maluf já anunciou que contestará a sentença no Superior Tribunal de Justiça.
    Os efeitos da decisão de ontem não são automáticos. Enquanto Maluf estiver recorrendo, não haverá decisão definitiva da Justiça e ele poderá brigar nos tribunais pelo direito de disputar o pleito.
    A Lei da Ficha Limpa impede que políticos condenados por um órgão colegiado participem de eleições, mas sua aplicação depende da opinião dos juízes eleitorais. A lei prevê a suspensão dos direitos políticos por oito anos para políticos ficha-suja que tentam se candidatar.
    Para os advogados de Maluf, ele não poderá ser enquadrado na Ficha Limpa porque sua condenação no caso do túnel Ayrton Senna não apontou enriquecimento ilícito nem dolo --quando há intenção de causar dano--, duas condições exigidas pela lei.
    Mas essa é outra questão que poderá depender de interpretação da Justiça Eleitoral. "Numa condenação por superfaturamento, não dá para afastar nem o dolo nem o enriquecimento ilícito. Isso é uma consequência natural do ato", disse o juiz Márlon Reis, um dos autores da lei.
    O caso de Maluf só será analisado pela Justiça Eleitoral em 2014, se ele decidir se candidatar, na hora em que apresentar o pedido de registro de sua candidatura. Nesse momento, a Procuradoria Regional Eleitoral de São Paulo, candidatos ou partidos adversários poderão impugnar sua candidatura.
    Caberá então ao Tribunal Regional Eleitoral analisar se a condenação de ontem se enquadra nos critérios da Lei da Ficha Limpa para torná-lo inelegível. Se Maluf for barrado, ele ainda poderá recorrer ao Tribunal Superior Eleitoral e disputar as eleições.
    A desembargadora Teresa Ramos Marques, relatora do caso do túnel Ayrton Senna na 10ª Câmara de Direito Público do TJ, considerou Maluf responsável pelo superfaturamento da obra, inaugurada em 1995, em sua gestão como prefeito da capital paulista.
    "Constitui prova de que Paulo Maluf colaborou para a execução da fraude a nomeação de Reynaldo de Barros para a presidência da Emurb e, cumulativamente, para a Secretaria Municipal de Obras e Vias Públicas", disse Marques em seu voto.
    "Não existe fraude sem dolo. A visão da desembargadora mostra isso", disse o promotor Roberto Livianu, que sustentou o voto da acusação.
    A multa de R$ 42,3 milhões deve ser paga solidariamente por Maluf, pelo espólio de Reynaldo de Barros (1931-2011), pelas construtoras CBPO e Constran e por três funcionários da Emurb.
      OUTRO LADO
      Decisão não barra ex-prefeito, afirma defesa
      DE SÃO PAULOA defesa do deputado Paulo Maluf (PP-SP) divulgou ontem dois comunicados sustentando que a condenação proferida pelo Tribunal de Justiça de São Paulo não o impede de participar das próximas eleições, em 2014.
      No primeiro texto, afirmou que, para um político ser enquadrado na Lei da Ficha Limpa, a condenação por improbidade administrativa deve necessariamente ser proferida por órgão colegiado (por mais de um juiz), determinar a suspensão de direitos políticos e que o ato tenha sido praticado na modalidade dolosa, cause prejuízo ao erário e enriquecimento ilícito do agente público.
      "No caso em questão o Tribunal de Justiça não condenou o deputado Paulo Maluf pela prática de ato doloso, como também não o condenou por enriquecimento ilícito", disseram seus advogados.
      Eles afirmaram que Maluf irá recorrer ao STJ (Superior Tribunal de Justiça) e ao STF (Supremo Tribunal Federal).
      Na segunda nota, a defesa declarou que "só a Justiça Eleitoral pode examinar acusação com base na Lei da Ficha Limpa". Afirmou ainda que a eventual condenação só existe com o trânsito em julgado da sentença, quando não houver mais recursos.

        Vladimir Safatle

        folha de são paulo
        O terrorista é você
        Pode um governo ter informações sigilosas de seus cidadãos? Essa pergunta deveria estar atualmente no centro dos debates, pois 2013 será lembrado como o ano em que descobrimos o fim inelutável da privacidade. Não houve fato mundial mais paradigmático em 2013 do que as revelações a respeito da extensão cinematográfica do sistema de espionagem norte-americano.
        A privacidade foi, entre outras coisas, uma invenção política ligada à defesa da autonomia dos sujeitos em relação ao poder governamental. Mas, como diz o governo norte-americano, "Todo mundo espiona". O que vimos, no entanto, não foi "espionagem" como a conhecemos, ou seja, essa procura de informações estratégicas sobre a vida política e econômica por meio do monitoramento das atividades de políticos, empresários e congêneres.
        O que Edward Snowden nos fez ver, e isso fica cada vez mais claro com o passar dos dias e das descobertas, está para além da espionagem. O ato de monitorar toda e qualquer pessoa em toda e qualquer circunstância é, na verdade, um novo paradigma de governo.
        Para controlar pessoas, não preciso estar atento a todos os seus movimentos. Necessito apenas que elas acreditem que, a qualquer momento, posso entrar em seu espaço privado, abrir a porta de seu quarto e quebrar todos os cadeados. Posso armazenar 70 milhões de telefonemas em um mês e nunca saber o que fazer com tudo isso. Não importa. O que importa é você saber que seu telefonema pode, Deus sabe lá por que, acabar no espaço público.
        No fundo, isso mostra como a caça ao terrorismo sempre foi um pretexto fraco e uma manobra diversionista. Na verdade, o terrorista é você. O verdadeiro alvo era controlar você, dissolver os discursos que ainda faziam da privacidade uma defesa e fazer você sentir a desproporção brutal entre seu poder e o poder da plutocracia que tomou de assalto boa parte dos governos ocidentais.
        Como mostrou a França quando criou um grande banco de dados de segurança nacional chamado Hadopi, começa-se fichando pretensos terroristas e termina-se fichando sindicalistas, manifestantes, jornalistas e ativistas.
        Nesse sentido, a melhor defesa é proibir que governos tenham direito a armazenar informações sigilosas de seus cidadãos. Todos os cidadãos devem ter o direito a ter acesso a todas as informações armazenadas sobre eles que estejam em posse dos governos.
        As dificuldades produzidas em processos jurídicos por uma ideia dessa natureza são infinitamente menores que a corrosão --produzida pela transformação das vidas privadas em espaços de extrema vulnerabilidade-- do pouco que tínhamos de democracia.

        Helio Schwartsman

        folha de são paulo
        Limites
        SÃO PAULO - O retrato devastador que o repórter Fabiano Maisonnave traçou de algumas escolas médicas da Bolívia fala por si só. Não obstante, cerca de 25 mil estudantes brasileiros estão matriculados nessas instituições --o equivalente a 23% do total de alunos que fazem graduação em medicina por aqui.
        Como a maioria não deve ter planos de migrar em definitivo para o país vizinho, esses jovens apostam que o mercado por médicos no Brasil seguirá atraente e que, em algum momento, conseguirão validar seus diplomas e voltar para casa. Os dados empíricos, porém, não recomendam otimismo. Em 2012, só 2,1% dos graduados na Bolívia passaram no Revalida, contra uma média de 8,7%.
        Esse descompasso entre sonhos e competência mostra o que está acontecendo no setor. De um lado, faltam médicos no sistema público. As escalas de postos de saúde e hospitais aparecem com brancos. O envelhecimento da população também aponta para um mercado em expansão. O governo, portanto, tem interesse legítimo em ampliar a oferta de vagas em medicina e, emergencialmente, até em importar profissionais.
        Há, é claro, um outro lado, que é o da qualidade. Garantir que todo brasileiro seja atendido sempre por um profissional preparado e atualizado exigiria mudanças fortes no processo de certificação, com a introdução de um exame de proficiência ao final da graduação, nos moldes da prova da OAB, e avaliações periódicas.
        O problema é que esses dois objetivos são contraditórios. Se mais jovens cursarem medicina, iremos necessariamente recrutá-los entre candidatos menos preparados, o que fará com que a qualidade média dos graduados caia. E, se instituirmos testes mais rigorosos, formaremos ainda menos profissionais.
        Uma alternativa seria redesenhar todo o sistema, reservando as visitas a médicos para casos mais graves. Mas esse é um assunto que todo o mundo prefere evitar.
        helio@uol.com.br
          Médicos a granel
          Impressiona o enorme contingente de brasileiros que estudam medicina na Bolívia. São 25 mil, quase um quarto do total de alunos desse curso no Brasil.
          Mais incríveis ainda são as péssimas condições de ensino ali oferecidas, conforme mostrou reportagem desta Folha. Faltam hospitais associados às universidades, a carga teórica é baixa e os professores são pouco qualificados ou ministram aulas em disciplinas distantes de suas especialidades.
          Muitas instituições parecem pouco preocupadas com a qualidade dos médicos que formam; o que lhes importa é a quantidade de estudantes. Quanto mais alunos, mais dinheiro --sobretudo se brasileiros, com poder aquisitivo relativamente alto para aquele país.
          Os próprios professores lucram com a multiplicação estudantil. Comercializam notas por R$ 450, o equivalente a 41 horas de trabalho. Negociam diplomas falsificados. E vendem ossos humanos.
          A prática é proibida, mas corrente. Alunos compram ossos para estudar em casa, pois as universidades, com vagas ilimitadas, não dispõem de material para todos. Professores dão pontos adicionais a quem recorrer a fornecedores indicados por eles.
          Apesar dos problemas, a presença de brasileiros nas faculdades de medicina da Bolívia é antiga (pelo menos duas décadas) e crescente. Em Santa Cruz de la Sierra, o número de alunos dobrou em três anos, segundo estimativa do consulado do Brasil na cidade.
          O principal atrativo é o preço. Os cinco anos de curso podem sair por apenas R$ 10.500. No Brasil, onde a graduação leva seis anos, esse valor seria suficiente para pagar poucos meses de faculdade privada.
          Quando retornam ao país, os médicos formados na Bolívia têm dificuldade de trabalhar. No Revalida (exame para validação de diploma estrangeiro) passado, só 5 dos 244 inscritos passaram, ou 2% do total --o pior percentual em comparação com outras localidades.
          A precariedade do ensino é particularmente preocupante em época de Mais Médicos. O governo federal, como se sabe, pretende contar com até 13 mil profissionais no programa --menos para ampliar o atual contingente de 388 mil do que para levá-los às áreas mais desassistidas do país.
          Verdade que, pelas regras do programa, os bolivianos não podem ser admitidos, pois seu país tem proporção de médicos inferior à brasileira (1,2 por mil habitantes lá, 1,8 por mil aqui). Mas o governo deveria ter em mente esse tipo de situação ao fiscalizar os profissionais que tem atraído ao Brasil.

            Corrupção descarada

            EDITORIAIS folha de são paulo
            editoriais@uol.com.br
            Grupo de fiscais envolvido em escândalo esbanjava riqueza e imaginava-se intocável; investigação do caso não pode escolher alvos
            "Quem não gosta de jantar num restaurante caro e bom? Eu gosto." A pergunta retórica e a resposta são de Vanessa Caroline Alcântara, ex-companheira do fiscal Luis Alexandre Cardoso de Magalhães.
            Segundo Alcântara, o fiscal municipal costumava levá-la a restaurantes nobres de São Paulo, nos quais gostava de pedir o vinho mais caro da carta. O destino seguinte era um hotel dispendioso, cuja diária custava R$ 5.000. Era comum que a noite consumisse R$ 10 mil.
            Não é preciso esforço para notar a discrepância entre os hábitos faustosos e o salário de Magalhães. Como funcionário público, recebia cerca de R$ 14 mil por mês.
            Apelidado de "louco" por alguns colegas, o fiscal não fazia questão de disfarçar os sinais de uma riqueza incompatível com os seus vencimentos. Em seu nome ou no das empresas que controla estão 27 imóveis; seu patrimônio estimado é de R$ 18 milhões.
            Vem do Ministério Público a explicação para o descompasso: Magalhães e pelo menos outros três servidores são acusados de envolvimento num esquema de corrupção que impôs prejuízo de R$ 500 milhões aos cofres municipais.
            Tratava-se de cobrar propina para reduzir o valor do ISS (Imposto sobre Serviços) a ser pago por determinada empresa. Os fiscais embolsavam até metade do montante devido; a prefeitura, quase nada.
            Calcula-se que o grupo tenha entesourado R$ 80 milhões. São 59 imóveis, nove quotas de participação em empresas, automóveis de luxo e uma lancha avaliada em R$ 1 milhão. Podem ser todos ingênuos ou inexperientes na arte de ocultar bens ilícitos, mas é ainda assim espantosa a desfaçatez. Imaginavam-se intocáveis.
            De acordo com a ex-companheira de Luis Magalhães, por exemplo, foi somente após saber-se investigado pela Controladoria Geral do Município que o fiscal tentou usá-la como laranja.
            O episódio suscita questões embaraçosas para o ex-prefeito Gilberto Kassab (PSD). Por que agiam com tamanha certeza de impunidade? Sobrava proteção a essas práticas ou faltava investigação por parte dos órgãos públicos?
            Tampouco está livre de questionamento o prefeito Fernando Haddad (PT). É que Ronilson Bezerra Rodrigues, apontado como chefe do esquema, foi nomeado diretor de finanças da SPTrans (empresa que gerencia o transporte municipal) na atual administração. Além disso, o nome de Antonio Donato, secretário de Governo do petista, já apareceu ligado a Magalhães em escuta autorizada pela Justiça.
            Espera-se que a promissora Controladoria Geral do Município não faça distinções políticas no exercício de seu dever.

              Para vencer editais e usar lei de incentivo, projetos precisam se adequar a critérios

              folha de são paulo
              Como ganhar um prêmio
              GUILHERME GENESTRETI
              DE SÃO PAULO
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              Nos últimos três anos, o coletivo Garapa, que faz trabalhos fotográficos e multimídia, lançou dois livros, ministrou cinco oficinas pelo Brasil e realizou três exposições --a última, sobre o rio Tietê, foi encerrada em agosto no Centro Cultural São Paulo.
              Em comum, todos os projetos conseguiram financiamento após serem formatados por uma mesma produtora cultural, especializada em enquadrar ações artísticas nos moldes das leis de incentivo e dos editais de patrocínio.
              "A gente tem ideias o tempo inteiro, mas não estamos acostumados a transformá-las em projetos com justificativa e objetivos", diz Paulo Fehlauer, 31, do Garapa.
              Divulgação
              Exposição 'A Margem', que ficou em cartaz no Centro Cultural São Paulo em 2013, usou leis de incentivo
              Exposição 'A Margem', que ficou em cartaz no Centro Cultural São Paulo em 2013, usou leis de incentivo
              É nesse nicho que há três anos atua a Frida, produtora paulistana que trabalha especialmente com fotógrafos como os membros do Garapa.
              "Muitos estão descobrindo editais e leis de incentivo, mas não têm ideia de como inscrever trabalhos", diz Ana Silvia Forgiarini, 43, sócia da Frida. "Ou usam uma linguagem muito acadêmica ou muito artística", diz a outra sócia, Mariane Goldberg, 31.
              Além de inscrever os projetos, a empresa também sugere os editais mais adequados a cada um e eventualmente gerencia os que são aprovados.
              A produtora modela ações de artistas em duas frentes: leis de incentivo e editais (ver quadro ao lado). Cobra cerca de R$ 3.000 para formatar projetos para a primeira modalidade, e metade disso para a segunda.
              CONTRAPARTIDAS
              "Para os artistas, é sempre um bicho de sete cabeças", conta Marina Gonzalez, 53, dona da Comg, empresa que presta esse tipo de serviço há 15 anos. Ela estima em cerca de 20 os projetos que elabora para as duas formas de financiamento por ano.
              "O segredo é que precisam ser objetivos. Há sempre um júri que vai ler o que foi inscrito e que vai se cansar com projetos muito longos", diz Roberta Martinho, 39, da Oiya Projetos Culturais. Ela afirma sair vencedora em um terço dos cerca de 30 editais aos quais concorre por ano.
              Sua atuação é diferente: é ela quem procura artistas com os quais gostaria de trabalhar, formata os projetos e depois trabalha na produção, caso saiam vencedores.
              O desenhista Alex Cerveny, 49, foi um de seus recentes parceiros. Suas ilustrações para o livro "As Aventuras de Pinóquio" (ed. Cosac Naify) ganharam o prêmio de R$ 150 mil do edital Marcantonio Vilaça, da Funarte (Fundação Nacional de Artes), para serem expostas no Museu de Arte Contemporânea de Campo Grande. A produtora ficou com pouco mais de 10% do valor.
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              O artista paulistano Alex Cerveny ministra uma oficina de colagem para alunos em museu de Campo Grande (MS)
              O artista paulistano Alex Cerveny ministra uma oficina de colagem para alunos em museu de Campo Grande (MS)
              "A concepção foi minha, mas a Roberta sabia o que tornaria a proposta mais competitiva", diz o artista. No caso, uma oficina de colagem dada por Cerveny a alunos locais.
              O Ministério da Cultura e a Secretaria Estadual da Cultura não têm números sobre projetos formatados por agências.
              SAPOS E GARIMPEIROS
              "O intermediário nem sempre é bom", diz o cineasta e fotógrafo Jorge Bodanzky. "Mas é tanta complexidade que o artista não consegue concorrer sem um produtor."
              "Recorrer a isso é válido, o problema são as leis de incentivo. A coisa é tão burocrática que no final não importa o projeto, mas quem preencheu os requisitos."
              No caso dos editais, "injustiças eventualmente podem ocorrer", segundo o advogado Evaristo Martins de Azevedo, presidente da Comissão de Direito às Artes da OAB.
              "É tanto projeto para avaliar em pouco tempo que juízes escolhem os que melhor atendem o regulamento."
              As produtoras dizem que não interferem na concepção das obras. "Pode rolar uma conceituação em conjunto com o artista, mas a gente não muda o tema de ninguém", diz Goldberg, da Frida.
              Algumas adaptações, contudo, chegam a acontecer.
              Para concorrer a um edital de documentação do Brasil, a produtora sugeriu que um fotógrafo, especializado em retratos de garimpeiros, ampliasse o foco.
              "Falei que eu achava pouco só garimpeiros", diz Ana Silvia. "Então ele mesmo sugeriu fazer retratos de homens que trabalham com a terra em geral. Vai incluir agricultores se ganhar o edital."
              Marina Gonzalez, da Comg, também sugeriu algo parecido a um biólogo que queria escrever sobre sapos. "Falei que tinha que ter vertente cultural. Ele então vai falar também sobre a simbologia do sapo no folclore e na história."
              Um fotógrafo que não quis se identificar diz que também recebeu orientação de produtora para mudar seu projeto original. "Falaram que um site daria mais certo do que um livro, não só porque o orçamento seria menor, mas porque ajudaria a convencer os juízes do edital", conta.
              *
              ARTE PAGA
              Entenda as principais formas de financiamento
              Leis de incentivo
              Permitem que as ações artísticas aprovadas pelo Ministério da Cultura ou pelas secretarias de Cultura captem recursos com patrocinadores, que recebem em troca abatimento de impostos
              Ex: Lei Rouanet (federal) e Proac/ICMS (estadual)
              Editais de patrocínio
              Premiam com dinheiro projetos culturais ou artísticos que vencerem o concurso da instituição que abriu o edital
              Ex: Rumos, do Itaú Cultural; Prêmio Marc Ferrez de Fotografia; editais da Funarte, Proac e outras instituições
              *
              PRINCIPAIS DICAS PARA TER UM PROJETO APROVADO
              Faça um calendário com os editais para se programar
              Use linguagem objetiva: evite termos acadêmicos ou artísticos
              Faça um orçamento compatível: estimativas exorbitantes têm menos chances
              Proponha atividades complemen-tares: oficinas ou exibições itinerantes são pontos positivos
              Atenha-se à cultura: projetos exclusiva-mente comerciais, de fundo político ou que tratem de religiões específicas são barrados
              Leia todas as regras do edital: especifique o público-alvo e por que o projeto é relevante
              No caso de leis de incentivo, é ideal já ter um patrocinador antes da inscrição
              Fontes: Mariane Goldberg, Ana Silvia Forgiarini, produtoras culturais da Frida; Roberta Martinho, produtora cultural da Oiya

              José Simão

              folha de são paulo
              Ueba! Bieber parece chocalho!
              E saiu a nova biografia do Eike: 'Da Luma à lama'. Rarará! A lama deve ser praga da Luma!
              Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Pensamento do dia: "Hoje me levantei, a minha coluna fez TREK, fiquei em pé e meu joelho fez TREK, olhei pro chão e o meu pescoço fez TREK. Além de gostoso, tô ficando crocante". Rarará!
              E o predestinado do ano! Sabe como é o nome do novo conselheiro da OGX do Eike? Adriano SALVATO SALVE! Rarará.
              É inacreditável! O Salvato Salve vai salvatex a Calotex do Eikex! O Eikex tá Fudidex!
              E saiu a nova biografia do Eike: "Da Luma à lama". Rarará! A lama deve ser praga da Luma!
              E o Justin Bieber? O Justin Bieber é como chocalho: faz um barulho irritante, mas as crianças adoram!
              E como disse uma amiga: "Você percebe que tá ficando velho quando lê que o Justin Bieber tá frequentando puteiro no Rio". Foi nas Termas Centaurus! Matinê na Centaurus! Centaurus do verbo sentar? Centaurus no Bieber!
              E tem quenga kids?
              Eu acho que o Bieber ficou lambendo tampa de Danoninho! A quenga falou: "Se você ficar quietinho, eu deixo lamber a tampa do Danoninho". Rarará.
              E no show em São Paulo atiraram uma garrafa no Bieber. Foi uma BIEBERBLOCK! Castigo: uma semana sem Facebook, sem Instagram e sem sobremesa!
              E esse povo só vem pro Brasil pra comer: ou é churrasco ou é quenga! Rarará!
              E essa piada pronta: "Corinthians chega ao 15º empate contra o Vitória". O Tite comemorou o empate da vitória! Empatite! Empatibilidade aguda!
              E o futeboldadepressao revela a filosofia do Tite: "Só existem duas coisas certas na vida: a morte e o empate pro Corinthians". Gol deixa o Tite na mais cavernosa depressão!
              E diz que sábado foi Dia de Fináutico! E a manchete do Cornetafc: "Vasco vence e assusta torcedores". Enfarta a torcida! Ganhou do Coxa! Coxinha de bacalhau!
              Ganhou do Coxa, mas continua nas coxas! Rarará!
              É mole? É mole, mas sobe!
              O Brasil é Lúdico! Olha esse bar em Nilo Peçanha, Bahia: "Bar e Lanchonete Fofoca, o melhor meio de comunicação". E mais essa na Bahia, Estrada do Coco: "Frango Assado ao Vivo". Rarará! E esse classificado de sexo: "Livia Porsche, só para executivos". Rarará.
              Nóis sofre, mas nóis goza!
              Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

                Monica Bergamo

                folha de são paulo

                Propostas de Roberto Carlos sobre biografias não foram bem recebidas na Câmara

                DE SÃO PAULO
                Ouvir o texto

                As propostas de Roberto Carlos e outros artistas levadas à Câmara dos Deputados para regular a lei das biografias não foram bem recebidas. Ao "abrir mão" da autorização prévia para a publicação dos livros, as celebridades queriam uma contrapartida: inserir no texto em discussão capítulo que dissesse que a intimidade era inviolável.
                SENTENÇA
                "É uma proposta inaceitável. O mundo todo reconhece que privacidade de celebridade não é absoluta pois elas escrevem a história", diz o deputado Newton Lima (PT-SP), autor do projeto que acaba com a autorização prévia às biografias. "A lei não pode dizer em momento algum quais assuntos são permitidos e quais são proibidos, ou sua ideia central de liberdade será ferida de morte."
                CALADO
                O fato de Caetano Veloso ter afirmado que o advogado Antonio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, não fala pelo conjunto da Associação Procure Saber dificultou ainda mais o acolhimento das sugestões do grupo, do qual fazem parte, além de Roberto e Caetano, também Gilberto Gil e Chico Buarque. "Quem falava conosco era o Kakay. Entendemos agora que os artistas estão sem interlocutor", diz o deputado Lima.
                CALADA
                E, no serpentário que virou a Procure Saber, a iniciativa de Caetano, de desautorizar Kakay, advogado de Roberto Carlos, é tida por muitos como retaliação. Há algumas semanas, representantes de Roberto ajudaram a desautorizar Paula Lavigne, ex-mulher do cantor, de falar sobre o tema em nome da mesma associação.
                BARULHO
                A Controladoria-Geral de São Paulo está investigando pelo menos mais dois casos considerados "bombásticos" pela cúpula da administração de Fernando Haddad (PT-SP). No alvo, servidores que enriqueceram no cargo.
                NÚMERO EXATO
                André Passos
                Sabrina Sato, 32, diz que nunca gostou de "D.R.", ou a mania que casais têm de discutir a relação. Mas faz isso agora com o novo namorado, João Vicente de Castro, publicitário e idealizador do canal de vídeos Porta dos Fundos.
                *
                "Sempre guardei muito as coisas, para não desagradar. Isso vem da minha formação oriental. Estou aprendendo com ele a falar as coisas que me incomodam", afirma a apresentadora, que está na capa da edição de aniversário de 14 anos da revista "Gente", que será lançada hoje, com festa no Bar Número.
                VITROLA
                Karl Lagerfeld foi à Livraria da Vila dos Jardins, na semana passada, quando visitava a cidade. Três seguranças chegaram antes para dar uma olhada geral na loja. Só então ele entrou, de luvas brancas e óculos escuros e com mais três guarda-costas. Foi à seção de música brasileira. Comprou uns 20 CDs, entre eles de Marisa Monte, Chico Buarque, Rita Lee e Caetano. Queria livros sobre estilistas brasileiros, mas não achou nada.
                BATISMO
                O auditório Ibirapuera vai passar a se chamar Oscar Niemeyer, em homenagem ao arquiteto que o projetou. A mudança será oficializada hoje no local pelo prefeito Fernando Haddad, durante a entrega da Ordem do Mérito Cultural, do MinC.
                BEM-COMPORTADO
                O artista plástico inglês Eddie Peake, que levou atores nus para jogar futebol em Londres, irá expor pela primeira vez no Brasil. Vai trocar as performances eróticas por pinturas e videoinstalações na mostra "Caustic Communities", que chega à galeria White Cube, em São Paulo, em 20 de novembro.
                ESCONDIDO
                Letícia Spiller já está ensaiando para a estreia, em janeiro de 2014, do espetáculo "Ede Pop". A direção é de Marco André Nunes, com quem trabalhou em 2011 na peça "Outside", inspirada em David Bowie. "Minha diretora na novela vai me matar, porque ainda não contei pra ela. É que o ritmo dos ensaios ainda está leve", diz.
                DOÇURAS OU TRAVESSURAS
                As atrizes Giovanna Lancellotti e Milena Toscano foram a festa de Halloween na casa noturna Grand Metrópole, na República. O estilista Walério Araújo, o empresário Mario Velloso e a modelo Daiane Conterato também estiveram no evento.

                Giovanna Lancellotti vai a festa de Halloween

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                Zé Carlos Barretta/Folhapress
                AnteriorPróxima
                A atriz Giovanna Lancellotti esteve em festa de Halloween no Grand Metrópole, na sexta (1), na República
                CURTO-CIRCUITO
                A curadora Solange Farkas e o diretor do Sesc, Danilo Miranda, fazem hoje coquetel de abertura do Festival de Arte Contemporânea Sesc_Videobrasil, no Sesc Pompeia, às 19h30.
                O florista Vic Meirelles inaugura hoje a instalação "Sonhos", às 18h, na Galeria Nacional, nos Jardins.
                O Esporte Clube Pinheiros recebe a Feira Escandinava, com produtos e comidas dos países nórdicos, hoje e amanhã.
                A Galeria Bergamin, nos Jardins, abre às 19h a mostra "Marcel Giró Moderno".
                Daniel Boaventura faz show hoje, no teatro Renault, às 21h. 14 anos.
                com ELIANE TRINDADE, JOELMIR TAVARES, ANA KREPP e MARCELA PAES
                Mônica Bergamo
                Mônica Bergamo, jornalista, assina coluna diária publicada na página 2 da versão impressa de "Ilustrada". Traz informações sobre diversas áreas, entre elas, política, moda e coluna social. Está na Folha desde abril de 1999.

                João Pereira Coutinho

                folha de são paulo
                Atrações de feira
                Os filmes 'mainstream' que dominam as salas querem ser romances no espaço de um conto
                Espero escrever um dia sobre "The Wire", a série da HBO que me acompanha há vários meses.
                Digo "há vários meses" porque, apesar de ter apenas cinco temporadas, é a primeira vez na vida que assisto a uma série que exige repetição contínua do mesmo episódio. Só para saborear a carpintaria literária do produto; a complexidade de cada personagem; e os diálogos, meu Deus, capazes de transformar o calão rasteiro das ruas em duelos verbais dignos de um Edmond Rostand.
                O mundo imundo de Baltimore ganha em "The Wire" o mesmo estatuto épico que Victor Hugo concedeu a Paris; e Dickens, a Londres; e Dostoiévski, a São Petersburgo. Não estou a delirar.
                Mas estou a lamentar. Quando a TV surgiu em meados do século 20, alguns luditas modernos decretaram a morte do cinema. Enganaram-se, claro. Mas enganaram-se apenas por meio século. Como escreveu Michel Laub em excelente texto para a Folha("O ponto final do cinema", 25/10/2013), as séries de TV americanas sugaram o talento audiovisual que existe.
                Só discordo de Laub no otimismo dele: para o colunista, ainda há esperança para a sétima arte se ela conseguir superar o desafio do "ponto final" --contar em duas horas o que as séries contam em dois meses, dois anos, quem sabe duas décadas.
                Infelizmente, e para mim, o "ponto final" do cinema "mainstream" começa a ganhar contornos mais literais.
                Um bom exemplo é o filme do momento, "Gravidade", de Alfonso Cuarón. Acompanho as críticas. Confesso pasmo com tanto pasmo. Que o filme é um prodígio visual, ninguém nega: os primeiros 15 minutos em plano-sequência, quando a trilha sonora não arruína a beleza do silêncio, valem como experiência estética.
                Mas é a pobreza narrativa do filme que deprime, sobretudo para quem esteve nas ruas de Baltimore horas antes.
                No filme, um acidente sideral condena uma astronauta a ficar sozinha no espaço. Imaginar Sandra Bullock como astronauta já é abusar da nossa "suspensão da descrença".
                Mas o pior vem depois: precisamente para comprimir uma história plausível em menos de duas horas, "Gravidade" oferece todos os clichês em sucessão contínua.
                Sabemos que a astronauta perdeu uma filha na "mãe" Terra. E para quem tem esse prejuízo na biografia, surge o dilema: é melhor desistir e entregar-se ao esquecimento do espaço? Ou, apesar de todas as mágoas com o mundo "cá em baixo", tentar ainda regressar para ele e reaprender --literalmente-- a seguir em frente?
                Não sei como classificar esta simplificação adolescente que é apresentada com "gravitas" cósmica pelos roteiristas do filme. Sei apenas que em nenhum momento acreditamos no luto daquela mãe --um luto que surge do nada e se dissolve no nada. Sem falar do óbvio: uma mãe com semelhante cicatriz no cardápio dificilmente estaria em missão espacial.
                Para Michel Laub, o fato de o cinema exigir maior brevidade que uma série de TV pode ser um desafio criativo. Sim, pode e admito que nas mãos certas ainda seja. E também admito que o cinema de hoje poderia estar para o conto como as séries de TV para o romance.
                Que o mesmo é dizer: abandonando o desejo de "totalidade" que o romance (e a série de TV) encerra, o cinema ganharia em aprofundar os "fragmentos de realidade" que fizeram a grandeza de Tchékhov, Carver ou Pritchett.
                O problema é que os filmes "mainstream" que dominam as salas querem ser romances no espaço de um conto. Esquemáticos, nunca passam de esqueletos. Ou nem isso: apenas pretendem usar o texto como pretexto para qualquer prodígio formal.
                A redescoberta recente do 3D parece apontar esse caminho e "Gravidade" é novamente um exemplo: se a TV é narrativamente mais poderosa, pensam os estúdios, o cinema pode deslumbrar as plateias com a "experiência" visual só possível na grande tela.
                É uma forma de ver as coisas. Mas é também uma forma regressiva de ver o cinema: de "atração de feira" a expressão artística, o cinema estaria novamente condenado a ser "atração de feira" com a ambição explícita de maravilhar as plateias. Seria, no fundo, um retorno aos ilusionismos primitivos de Georges Méliès. Exagero?
                Acredito que sim e desejo que sim. Mas não deixa de ser melancólico que, nos alvores do século 21, exista mais grandeza na baixeza de Baltimore do que no espaço infinito de Sandra Bullock.

                Janio de Freitas

                folha de são paulo
                Coisas deles
                As gentilezas dos governos Dilma, Lula, Fernando Henrique e Sarney tiveram retribuição à americana
                Gentileza não gera gentileza, não. Se há pelo menos dez anos são conhecidas da contraespionagem brasileira as salas sem presença humana e com equipamentos de transmissão, alugadas em Brasília pela Embaixada dos Estados Unidos, temos aí outro caso exemplar de gentileza não correspondida. A qual permite supor que, entre suas consequências, estejam a intercepção e a retransmissão, à Agência de Segurança Nacional dos EUA, das comunicações de Dilma Rousseff e de outras autoridades brasileiras.
                O subterfúgio de instalações veladas está na essência da espionagem e das ações de sabotagem, mas tem mais de uma resposta eficaz. Não aplicar nem uma delas parece ser um vício brasileiro.
                Bem antes do golpe de 1964, militares do Exército constataram que uma agência de turismo na rua Santa Luzia, na Cinelândia, pertinho da embaixada americana ainda instalada no Rio, na verdade era cobertura para um posto da CIA. No mesmo quarteirão, mas na rua México, em frente ao lado da embaixada, descobriram que um curso para sargentos desejosos de fazer vestibular, ou galgar uma promoção, funcionava para cooptar e infiltrar novos agentes da CIA nos quartéis.
                A confiança em que o governo Jango nunca seria derrubado e o receio de um caso problemático com o governo americano sustaram qualquer reação. Houve, se houve mesmo, algum monitoramento, que se distingue das outras ações subterrâneas por se limitar à vigilância cautelosa.
                Aqueles e vários outros postos identificados estavam sujeitos, porém, a dois tipos de ação defensiva. Uma, política, de exigir que o governo americano desmontasse os postos e recambiasse os estrangeiros em ação neles (o chefe da agência de turismo era um estrangeiro de língua espanhola). Um aborrecimento diplomático, por certo.
                A outra ação possível, mais simples e terminante, seria estourar os postos a pretexto de indícios ou denúncias de contrabando, lavagem de dinheiro, funcionamento irregular, essas atividades que a polícia estoura dia a dia. "Ah, era coisa de vocês? Não sabíamos, agora não há mais nada a fazer."
                Salas em Brasília com equipamentos ativos dia e noite, e presença humana muito esporádica, só servem para "guardar equipamento como rádio walkie-talkie" no cinismo conveniente à espionagem --como foi na resposta dada ao excelente repórter que é Lucas Ferraz, revelador de documentos da Abin, a Agência Brasileira de Informação, sobre alguns monitoramentos seus.
                A soma das muitas e diferentes gentilezas do governo Jango foram retribuídas do modo que se sabe. As dos governos Lula e Dilma, e provavelmente Fernando Henrique e José Sarney, sabe-se apenas que também tiveram retribuição à americana. Sabe-se graças a Edward Snowden.
                VERDADES
                O múlti José Miguel Wisnik escreveu, a propósito da patética discórdia sobre biografias, que "a história não é da autoria de ninguém, embora da responsabilidade de cada um que escreve". Perfeito. Então, vamos lá.
                Chico Buarque, ao negar que dera entrevista ao biógrafo de Roberto Carlos, disse ser o "Última Hora" paulista "supostamente ligado a esquadrões da morte". O jornalista Paulo César Araújo provou a entrevista com a respectiva gravação.
                A acusação ao UH foi, porém, endossada por Wisnik, que colaborara no jornal. O dramaturgo Oswaldo Mendes rebateu a versão e seu reflexo sobre Samuel Wainer, com um adendo histórico: "ao voltar do exílio em 1974, Frias, em um gesto de civilidade", ofereceu a Samuel a direção do jornal que fora dele. Wisnik corrigiu-se quanto ao comprometimento do jornal, e manteve o endosso à volta de Samuel, que "voltou ao Brasil dez anos depois do golpe".
                Correção da correção da correção: Samuel Wainer esteve exilado três anos e meio e voltou ao Brasil em 1967. Reassumiu o UH do Rio, quebrou, e foi para SP. Por fim, lembro que nunca existiu "a Universidade Nacional (atual UFRJ)", citada no Globo pelo autor de "As universidades e o regime militar", professor Rodrigo Motta. Houve a longeva Universidade do Brasil.
                Aguardo correções às minhas correções.