quarta-feira, 23 de outubro de 2013

José Simão

folha de são paulo
Pré-sal! Ganhou o Kung Fu Panda!
O pronunciamento da Dilma foi tão bom que começou sem som! Deixa sem som! Sem som tava melhor!
Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! E o leilão do pré-sal? Os chineses ganharam! Ganharam o plé-sal! O petróleo é nosso! Quem arrematou foi um panda! Quem vai explorar o pré-sal é o Kung Fu Panda!
Mas a Dilma devia ter chamado o Aquaman! E o chargista Aroeira mostra como foi o leilão, com o Lobão batendo o martelo: "Muito bem. Quem dá mais? Ok. Quem dá menos?". Rarará. Ganhou quem deu menos!
E o pronunciamento da Dilma foi tão bom que já começou sem som! Deixa sem som! Sem som tava melhor!
E a Dilma tá parecendo a dona Redonda! Se explodir, o planeta explode junto. Rarará! Outros acharam que ela tava parecendo um barril. De petróleo! Rarará!
E a Marinárvore no Enrola Viva? "Gostaria de chamar o FHC e o Lula pra governar". Essa é a nova forma de fazer política da Marina: chama o FHC e o Lula, entra no partido do Campos e faz conchavo com o Aécio! Rarará! A novelha forma de fazer política!
E a manchete do Piauí Herald: "Para voltar à mídia, Aécio adota 12 beagles". Todas fêmeas! Rarará!
E o Serra Vampiro Anêmico não adotou beagles porque ele não sabe o que é beagle: "É uma raça de cachorro?".
E os chineses vão vender petróleo no Stand Center da Paulista! Petróleo Pilata!
E uma vez um amigo foi comprar um aparelho de som no Stand Center e perguntou: "As caixinhas surround vêm junto?'. E a chinesa: "Caxinha sulound paga sepalado". E o meu amigo: "Então enfia na peleleca". Enfia o plé-sal na peleleca! Rarará!
E uma vez eu fui fazer uma compra no Stand Center, assinei o cheque e o chinês: "É do Bladesco?". É! Petróleo do Bladesco! Rarará!
Mas a Dilma disse que não é privatização, é partilha. O chargista Nani explica a diferença: "Partilha é uma privatização que não saiu do armário". Enrustida. Rarará!
É mole? É mole, mas sobe!
Os Predestinados! Mais dois para a minha série Os Predestinados! Coordenadora da Secretaria Nacional da Juventude: Elisa Guaraná! Guaraná? Só se for da juventude de 1950! Rarará!
E esse convite que recebi de Passo Fundo: "Proctologia: palestras com o dr. Sergio Regadas". E em Passo Fundo? Essa eu passo! Rarará!
Hoje, só amanhã! Nóis sofre, mas nóis goza!
Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

    Julia Sweig

    folha de são paulo
    A ameaça do Tea Party
    Repúdio à estratégia da facção republicana durante a paralisação do governo pode minar apoio a partido
    Destruir a confiança do público no governo é há muito tempo a estratégia do Tea Party e dos republicanos conservadores. Rachado por facções internas, o partido teve êxito pelo menos sob uma medida: a aprovação pública do Congresso dos EUA está em apenas 12%, o nível mais baixo em 25 anos.
    Mas a estratégia republicana de terra arrasada pode acabar queimando suas próprias casas. Segundo o "Washington Post", quando a paralisação do governo chegou ao fim, 77% dos americanos desaprovavam a estratégia republicana. E uma maioria considerável dentro do partido se opõe ao próprio Tea Party.
    O "New York Times" decompõe os republicanos em seis facções, desde uma estirpe moribunda de moderados que fizeram objeção à paralisação, até membros do Tea Party, filiados ao Tea Party e moderados que apoiaram a paralisação para impedir a reforma da saúde de Obama.
    Estrategistas dos dois partidos começam a indagar se o Partido Republicano vai ter que superar essas divisões internas para poder conservar sua maioria na Câmara em 2014.
    A prioridade legislativa de Obama --a reforma da imigração-- pode exacerbar ainda mais os conflitos faccionais dos republicanos ao forçar, se não uma votação, pelo menos uma expressão pública de apoio ou de repúdio às políticas de imigração mais humanas que têm a aprovação da maioria dos eleitores americanos, além dos novos eleitores latinos.
    É possível visualizar um cenário em 2014 no qual o domínio republicano sobre 30 ou 40 cadeiras "seguras", garantidas principalmente por eleitores brancos, desabe diante do repúdio ao Tea Party e ao fato de a liderança na Câmara não ter conseguido prevalecer durante a paralisação. Poderão então os democratas chegar à eleição presidencial de 2016 controlando a Câmara, o Senado e a Casa Branca?
    Em 1787, o ex-presidente James Madison, um dos autores da Declaração dos Direitos dos Cidadãos, escreveu no "Federalist Papers" que facções minoritárias numa democracia, especialmente em uma república pequena, podem converter-se em expressões potencialmente nocivas de interesses sociais e econômicos divergentes. Apenas ao "estender a esfera", ou ampliar a república, é que a nova democracia poderia absorver esse dano.
    Como secretário de Estado de Jefferson, Madison negociou a compra do Louisiana, que dobrou o tamanho dos EUA. A doutrina Monroe, as guerras com o México e a Espanha, o Destino Manifesto ou as intervenções caribenhas de Woodrow Wilson refletiram, literal ou presuntivamente, a lógica de Madison de estender a esfera.
    Após a guerra civil americana, o conflito faccional se abrandou e a luta pelo voto e por outros direitos, embora nem sempre pacífica, estendeu direitos políticos a americanos antes privados do direito de votar.
    As guerras dos EUA no século 21 sangraram o tesouro, mas não produziram paz doméstica. Quem sabe a ferida autoinfligida do Tea Party, e não as guerras no exterior, coloque um ponto final neste capítulo do conflito faccional americano.

    Jairo Marques

    folha de são paulo
    O sentimento dos animais
    É inviável fazer pesquisas com voluntários que topem uma lesãozinha medular para o bem da humanidade
    Mamãe pegou uma mala bem grande, daquelas parecidas às de retirantes da seca, e foi se despedindo de Nero, o nosso labrador preto, queridão e espalhafatoso.
    O bicho, que parte do dia é tomado pela leseira e fica esparramado na varanda, transformou-se. Grudou no vestido da minha "santa" e tentava bloquear com seu corpão desajeitado a abertura do portão.
    "Tchau, Nero. Vou viajar. Fique comportado aí e cuide da casa". Que nada. O cachorro já se mostrava como alguém sem eira nem beira e a última atitude que tomaria era a de considerar uma ordem.
    Ele não aceitaria que mamãe viajasse, mais uma vez, deixando a ele sem seus chamegos, sem a comidinha dada na boca, sem brincar na rede. Nero deixava claro que não toleraria sentir saudades sem antes demonstrar sua dor e o mimo canino.
    Outro dia, fiz a bobagem de entrar em uma dessas lojas que colocam cachorro na vitrine para ser vendido. Nenhum me convenceu a contento, mas o dono do local jogava duro.
    "Vá lá no fundo ver uma golden de nove meses que vai te amar profundamente". Amou.
    A danada, de lacinho na cabeça e perfumada, saltou sobre minha cadeira de rodas como se fosse minha mulher pedindo dengo. Lambeu até minha alma.
    "Ela só precisa passear três vezes por dias, um bom espaço para correr, comida do Fasano e bastante atenção". Refuguei, com meu coração em frangalhos.
    Todas as pessoas que convivem de forma harmoniosa com animais terão uma coleção de histórias emotivas para "provar" o quanto o cão é merecedor de carinho, de assistência e oxalá direito à previdência social quando machucarem a patinha.
    Há linhas de pesquisas sérias demonstrando que o temperamento dos animais é individual e que não é a sedução com um ossinho que fará o seu bulldog gordão e cansado deixar de fazer xixi no tapete da sala.
    Diante disso, quando se imagina que beagles fofos estão servindo de cobaia para que remédios sejam testados e evitem que o "serumano" de um piripaque na rua, tudo parece ser justificável, inclusive contar com a fúria "black block" para supostamente salvar os focinhudos das garras dos cientistas malvados.
    Já tive de me submeter a inúmeras cirurgias para arrumar a funilaria arruinada. Em parte delas, a minha salvação e o sucesso dos procedimentos foram graças à dedicação de bichos que "doaram" suas estruturas físicas e organismos à pesquisa.
    Avanços que melhoram as técnicas para tratamento de deficiências motoras e sensoriais lançam mão de testes que, à primeira vista, "maltratam" bichinhos. São inviáveis e impossíveis voluntários que topem uma lesãozinha medular para o bem da humanidade.
    A mistura desses dois fatores: o sentimento dos animais e a necessidade premente de melhorias para as desgraceiras humanas parecem não se bicar, mas o convívio é possível e é legítimo.
    Cada vez mais, ouço que prefere-se cachorro ao homem como amigo. Não tenho essa predileção, mas adoro os bichos e suas ajudas são ímpares para tornar vidas melhores e mais autônomas.
    Apenas com a evolução do humano é que podemos hoje entender e discutir que um cão não é apenas um hospedeiro de pulgas, mas um caminho profícuo para se buscar ser um pouco melhor.

    Elio Gaspari

    folha de são paulo

    De lucio.costa@edu para dilma.gov
    Roberto Campos diz que se a senhora fosse presidente em 1950, teria comemorado a vitória na Copa do Mundo
    Estimada senhora,
    Logo na minha avenida? Nunca pensei que meu nome, na Barra da Tijuca que projetei, viesse a ser mencionado num confronto entre militares e cidadãos. A senhora ainda estava na faculdade quando o embaixador inglês, pai de uma linda moça chamada Georgiana, convidou-me para um coquetel em homenagem aos bailarinos Margot Fonteyn e Rudolf Nureyev. Puxando conversa, um diplomata americano perguntou-me se eu aceitaria um convite para visitar seu país. Eu respondi que iria, com todo gosto, quando o último soldado deixasse o Vietnã. Outro dia relembrei esse episódio com o general Giap, que acaba de chegar aqui e lembra-se da senhora, que tirou um retrato ao seu lado em Hanói.
    Logo na minha avenida, a senhora pôs militares brasileiros para jogar bombas de gás numa manifestação em que havia mais de mil soldados e menos de 300 manifestantes, na maioria sindicalistas, mais algumas dezenas de mascarados. Logo na avenida de um cidadão que sempre tentou ficar longe de controvérsias políticas.
    Não entendo nada de petróleo, muito menos de operações militares, mas acho que o general Ernesto Geisel, com quem conversei, entende. Ele está um zorrilho. Primeiro porque acha que a Petrobras não tem nada que vender reservas de petróleo, assim como o governo não tem que segurar a inflação comprimindo o preço dos combustíveis. Até hoje ele tem raiva do Delfim Netto porque fez isso nos anos 70. O Geisel diz que em vez de mandar mil homens e uma fragata para a minha avenida, a senhora devia ter mandado umas dezenas de ônibus. Um capitão marcaria linhas no chão, e quem as ultrapassasse seria detido. Se todos os 400 manifestantes cruzassem a linha, bastariam dez ônibus para tirá-los de lá até o dia seguinte.
    O Geisel reclama por termos vendido uma reserva de petróleo. Já o Roberto Campos riu quando soube que apareceu um só consórcio interessado no campo de Libra, arrematando-o pelo lance mínimo, diz que leilão assim até o Stálin faria. Segundo o Campos, se a sua máquina estivesse funcionando durante a Copa de 1950, o presidente Dutra teria comemorado o 2 x 1 do Uruguai. Afinal, nossa seleção teve um saldo de 16 gols, seis a mais que o campeão.
    Eu não entendo dessas coisas, mas vejo que o seu governo, bem como administrações estaduais e municipais, estão deslizando para um clima em que substitui-se o debate por eventos. As controvérsias foram transformadas em confrontos, e a manifestação mais ostensiva do poder público está na mão da polícia. Isso não faz bem. Começamos a nos confrontar por causa de um aumento de tarifas de transportes impostas por prefeitos onipotentes que recuaram depois que a rua protestou. Agora temos confrontos por causa de cachorros. Será que perdemos a capacidade de conversar, admitindo a possibilidade de dar razão ao outro? Até o Oscar Niemeyer está preocupado, mas só confessa isso quando estamos sozinhos.
    Quero pedir um favor à senhora e ao prefeito do Rio: Quando houver a possibilidade de pancadaria na avenida Lúcio Costa, por favor, troquem seu nome. Durante o charivari ela passará a se chamar "Avenida Ato Institucional nº 5". Feita a paz, se quiserem, recoloquem minhas placas.
    Do seu patrício respeitoso,
    Lucio Costa

    Mônica Bergamo

    folha de são paulo

    Filho de Herzog exige que Salomão Schwartzman peça desculpas por declaração

    Ouvir o texto

    QUADRO BORRADO
    Ivo Herzog, conselheiro da Fundação Padre Anchieta, abriu fogo contra Salomão Schwartzman, que voltou a ter programa na Rádio Cultura. "Uma fundação que tem a história que tem, extremamente ligada à vida de Vladimir Herzog, não pode ter uma pessoa como esta nos seus quadros. Salomão Schwartzman é persona non-grata nesta instituição que tanto defendemos."
    "PIOR ESPÉCIE"
    Filho de Herzog, que trabalhava na TV Cultura quando foi preso e assassinado por agentes da ditadura militar, Ivo diz que sua "indignação" foi causada por um comentário do apresentador contra defensores dos direitos humanos. Ele quer que o conselho da fundação exija que Schwartzman peça desculpas no ar. Diz que ele tem "um passado no mínimo duvidoso do ponto de vista de valores e ética" e "mostrou de onde vem" ao fazer "comentários da pior espécie".
    NOITE DAS MIL E UMA OBRAS
    O governador Geraldo Alckmin e o príncipe da Arábia Saudita, Abdulaziz Bin Abdullah, participaram da entrega de prêmio para tradutores da língua árabe, anteontem, no Palácio dos Bandeirantes. A tradutora Cecília Martini e os professores Abdulnasser Salah Shebl, com a mulher, Amira, e João Batista Vargens, foram alguns dos vencedores. O embaixador da Palestina, Ibrahim Alzeben, esteve lá.

    Entrega de prêmio no Palácio dos Bandeirantes

     Ver em tamanho maior »
    Zanone Fraissat/Folhapress
    AnteriorPróxima
    O governador de SP, Geraldo Alckimin e o príncipe da Arábia Saudita, Abdulaziz Bin Adbdullah, participaram do jantar de entrega de prêmio para tradutores da língua árabe, na segunda (21), no Palácio dos Bandeirantes
    FESTA
    No começo do mês, num comentário, Schwartzman contou uma história ficcional. Disse que um ladrão estava em sua casa. A polícia não tinha viaturas para enviar à residência. Ele "matou" o ladrão e logo chegaram policiais, repórteres e "a turma dos direitos humanos" que não perderia "a festa por nada desse mundo".
    NO FUTURO
    Ele diz que Ivo Herzog "cismou de fazer um carnaval" e que não vai "pedir desculpa nenhuma". Afirma que conversou com o presidente do conselho curador da fundação, Belisário dos Santos Jr., sobre a reação a seus comentários. E diz que abordará o tema dos direitos humanos em futuros programas.
    TALENTO NO DNA
    Tato Bellini
    Depois de desfilar com exclusividade para a Prada em Milão, Mariana Santana deve voltar ao Brasil para o Fashion Rio. E a modelo baiana de 20 anos chega com uma credencial a mais: é sobrinha do músico Tom Zé.
    *
    "Ela é capaz de provar que na família não tem só gente feia", brinca ele, que é "primo carnal" do pai de Mariana.
    *
    A modelo está atualmente em Nova York, onde fotografou na semana passada para a "Vogue Itália" com o badalado Steve Meisel. Por enquanto, deixa trancada a matrícula no curso de artes na Universidade Federal da Bahia.
    INTERCÂMBIO
    A Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo firmou convênio com o Ministério da Saúde de Angola para capacitar profissionais e combater doenças infectocontagiosas e mortalidade infantil.
    EM QUEDA
    Segundo o secretário David Uip, a iniciativa agora amplia um projeto que começou há 11 anos, no qual médicos e enfermeiros brasileiros trocavam experiências com os angolanos na prevenção à Aids. O índice de prevalência da doença em Angola, que era de 3% no início dos anos 2000, caiu para 1,9%.
    BEM-VINDO
    Autor de biografia não autorizada de Roberto Carlos, o jornalista Oscar Pilagallo foi convidado pelo empresário do Rei, Dody Sirena, para o cruzeiro Emoções, em 2010, dois anos após o livro "Folha Explica Roberto Carlos" (Publifolha) ter chegado às livrarias. A obra faz referências a questões delicadas como o acidente na infância em que o cantor perdeu parte da perna direita.
    EM TUDO
    "Todos os episódios importantes da vida do Rei estão lá, até aqueles não aceitos em outros livros", diz Pilagallo. O acidente é narrado a partir das citações de Roberto em canções como "O Divã": "Relembro bem a festa/o apito/E na multidão um grito/O sangue no linho branco". O refrão repete: "Essas recordações me matam". E, no último verso: "São problemas superados/Mas o meu passado vive/Em tudo que eu faço agora/Ele está no meu presente".
    NA CAPA
    Pilagallo diz que decidiu não usar imagens de Roberto Carlos na capa do livro. "Se tivéssemos feito isso, talvez ele fosse querer brecar a obra, como fez com a biografia escrita pelo Paulo César de Araújo [em 2007]."
    MAIS CULTURA
    A Secretaria Municipal de Cultura de SP abrirá edital com reajuste de 22% para orientadores dos programas Piá e Vocacional. Eles iniciam crianças e jovens nas linguagens de dança, teatro, música e artes visuais.
    MEMORÁVEIS
    O diretor e roteirista Rubens Rewald levou a filha Rita ao lançamento do livro da quinta edição do projeto "Os Filmes da Minha Vida", anteontem. Os cineastas Pierre Urcun e Antonin Peretjatko também passaram no lounge da 37ª Mostra de SP.

    Lançamento de "Os Filmes da Minha Vida"

     Ver em tamanho maior »
    Zanone Fraissat/Folhapress
    AnteriorPróxima
    O cineasta Pierre Urcun foi ao lançamento do livro da quinta edição do projeto "Os Filmes da Minha Vida", na segunda (21)
    CURTO-CIRCUITO
    Sandro Barros e a empresária Renata Queiroz de Moraes comemoram os dez anos de carreira do estilista com desfile da coleção Maxime, às 16h, no Morumbi.
    A Cultura Inglesa faz hoje leitura de poesias com as atrizes Denise Weinberg e Louise Yates, no Centro Brasileiro Britânico, às 20h.
    A View Arts apresenta hoje a mostra "Entre Mundos", às 19h, nos Jardins.
    com ELIANE TRINDADE, JOELMIR TAVARES, ANA KREPP e MARCELA PAES
    Mônica Bergamo
    Mônica Bergamo, jornalista, assina coluna diária publicada na página 2 da versão impressa de "Ilustrada". Traz informações sobre diversas áreas, entre elas, política, moda e coluna social. Está na Folha desde abril de 1999.

    Marcelo Coelho

    folha de são paulo

    Nossa cidade
    Em sua 'reconstrução' da peça de Thornton Wilder, Antunes Filho carrega na denúncia ideológica
    Sofremos, e sentimos muita saudade, claro, quando morre uma pessoa querida. Mas a coisa pode ser pior ainda, se vista da perspectiva inversa. Imagine a dor dos mortos, se pudessem contemplar a vida dos familiares e dos entes queridos a quem deixaram.
    Também eles, como os vivos, teriam de passar pelo longo trabalho do luto; a despedida não se completa de uma só vez. É preciso deixar que o tempo desfaça os laços do sentimento, até que por fim, em cada túmulo, os mortos se calem na indiferença, no descanso, no nada.
    Essa ideia rende as passagens mais emocionantes de "Nossa Cidade", peça de Thornton Wilder (1897-1975) agora em cartaz no Sesc Consolação. A inversão de perspectivas, que surge na segunda parte do espetáculo, já se anuncia em algumas falas iniciais dos personagens.
    Um rapazinho e sua vizinha da mesma idade se descobrem, ou melhor, se adivinham apaixonados um pelo outro. A noite cai sobre uma cidadezinha americana; o ano é 1901.
    Você sabia, pergunta ele, que a luz dessas estrelas demorou milhões de anos para chegar até nós? Vemos o cintilar de mundos que, provavelmente, estão mortos há muito tempo...
    Talvez seja o contrário, diz a menina. Talvez nós é que estejamos mortos para eles...
    É uma daquelas frases que funcionam lindamente no teatro. A plateia, que ouve aquele diálogo supostamente ocorrido há mais de um século, também se sente como as estrelas.
    Acompanha em silêncio o cotidiano de pessoas quaisquer (um médico, um leiteiro, o organista da igreja), que ganham vida no palco, mas só ao preço de não saberem que já estão mortas, e que nunca existiram de verdade.
    Mas por QUÊÊ os aTOOres TÊÊM de faLAAAAR deeeste jeiTOOO o TEEMpo inteirOOO? Não é bem uma cantoria, é uma entonação muito artificial, às vezes carregada de sotaque paulistano: "Descêêindo a rua", passa o garoto "inteligêêinte"...
    No caso, é possível que o diretor Antunes Filho tenha mesmo desejado acentuar a falsidade, a irrealidade daquela vidinha no interior dos Estados Unidos.
    Pobre Thornton Wilder! Sua peça teve sucesso imediato, ao estrear em 1938. Logo vieram as críticas. É que "Nossa Cidade" faz uso de uma espécie de narrador, de apresentador, que se coloca fora da ação; a vida dos personagens ganha assim um olhar distanciado, e o realismo das cenas se recobre de um véu irônico.
    Tratava-se, para os modernistas mais intransigentes, de uma espécie de desonestidade artística. No fundo, a peça de Wilder tinha objetivos puramente sentimentais e acríticos: "Como é doce a vidinha americana, em que todos nascem, casam, trabalham e morrem...".
    Para disfarçar esse conteúdo, continuam os críticos, usou-se de um recurso de vanguarda: a tática do estranhamento brechtiano, com o narrador mostrando que tudo é fragilidade e ilusão.
    Seria o equivalente teatral de pintar aquelas ilustrações, tão confortáveis e "integradas", de Norman Rockwell, só que acrescentando uns esfumados, uns desarranjos de perspectiva, para se vender como arte mais sofisticada.
    Essa avaliação, carregada de rigor modernista, não resiste à beleza do texto. Trata-se de uma peça "fácil", sem dúvida, na sua capacidade de dizer o que tem a dizer; mas nem por isso barata ou desonesta.
    Aí entra Antunes Filho. Em tese, seria o diretor ideal para uma montagem de "Nossa Cidade". Sempre soube emocionar o público, até com alguns toques de sentimentalismo; digamos que tem, como poucos, o dom de suscitar a simpatia pelos personagens de seu espetáculo.
    Ao mesmo tempo, usa de vários recursos de estilização: as andanças dos atores de perfil, alguns movimentos em câmara lenta, o uso de atores no fundo do palco como uma espécie de "coro visual" para o que se passa na frente da cena.
    Esse tipo de coisa não bastou a Antunes Filho. Ele quis ideologizar a peça: fazer do espetáculo uma espécie de libelo contra os Estados Unidos. Põe os personagens marchando com bandeirinhas americanas (de perfil, é claro), e uma menina empunhando a tocha da Estátua da Liberdade (em câmara lenta, é claro), para dizer que todos aqueles cidadãos de Thornton Wilder não passavam de babacas.
    O narrador aparece de cadeira de rodas, como um veterano do Vietnã (só que tirado de algum filme de Hollywood sobre veteranos do Vietnã). A fúria do diretor diante da famosa "hipocrisia americana", para usar um clichê, fica o tempo inteiro lutando contra a humanidade, que não é americana nem brasileira, de personagens que, simplesmente, viviam sua vida sem saber da própria morte. Que tentam voltar à vida, mas só encontram seu funcionamento mecânico, cego, talvez feliz, quando a encaramos da perspectiva do desaparecimento. Thornton Wilder, mais uma vez, deve estar se remexendo na tumba.