terça-feira, 26 de novembro de 2013

Robôs ganham feições humanas

folha de são paulo

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JOHN MARKOFF
DO 'NEW YORK TIMES'
The New York TimesNuma manhã recente, Natanel Dukan entrou na sede da fábrica francesa de robôs Aldebaran, em Paris, e observou um dos robôs humanoides da empresa, o NAO, sentado numa cadeira.
Dukan, engenheiro eletricista, não resistiu. Beijou a bochecha do robô. Em resposta, o NAO inclinou a cabeça, tocou o rosto dele e soltou um "smac" audível.
David Walter Banks/The New York Times
O robô francês NAO, feito pela Aldebaran Robotics, sentado durante conferência sobre robótica no Instituto de Tecnologia da Georgia, nos EUA
O robô francês NAO, feito pela Aldebaran Robotics, sentado durante conferência sobre robótica no Instituto de Tecnologia da Georgia, nos EUA
Mandar beijos é certamente uma utilidade bem francesa para uma máquina, mas o gesto íntimo do robô de meio metro de altura --que custa US$ 16 mil e está atualmente sendo usado em laboratórios acadêmicos e em campeonatos de futebol robótico-- também reflete uma mudança significativa.
Até recentemente, a maioria dos robôs ficava cuidadosamente separada dos humanos. Eles têm sido muito usados em fábricas para realizar tarefas repetitivas que exigem velocidade, precisão e força. Essa geração de robôs é perigosa e foi confinada para a proteção dos operários.
Agora, os robôs estão começando a imitar os humanos --e a se parecer com eles. Estão também começando a realizar tarefas humanas.
"Hoje essa é a onda na robótica", disse Charlie Kemp, professor-associado de engenharia biomédica no Instituto de Tecnologia da Geórgia (ou Georgia Tech), em Atlanta.
"As coisas não são as mesmas quando você está interagindo com pessoas. É aí que queremos que os robôs estejam e é onde vemos que há enormes oportunidades para os robôs. Há exigências muito diferentes das que levaram ao clássico robô industrial."
Muitos dos robôs da nova geração são operados à distância. Porém, cada vez mais, eles realizam tarefas independentemente do controle humano direto.
David Walter Banks/The New York Times
O RoboThespian, fabricado pela Engineered Arts Limited para interagir com humanos em ambientes públicos
O RoboThespian, fabricado pela Engineered Arts Limited para interagir com humanos em ambientes públicos
É o caso de Romeo, robô humanoide de 1,5 metro, que em breve será lançado pela Aldebaran. Criado com uma ajuda equivalente a US$ 13,8 milhões do governo francês, o robô está sendo programado para cuidar de idosos e ajudar em tarefas domésticas.
A ideia de que os robôs sejam parceiros dos humanos, em vez de seus substitutos ou empregados, está motivando pesquisas em universidades e laboratórios industriais.
Os projetistas dos robôs acreditam que suas criações vão se transformar em terapeutas, cuidadores, guias e seguranças e que no futuro virão a realizar praticamente qualquer forma de trabalho humano (mas ainda não surgiram robôs capazes de pensar por conta própria).
A chave para esse avanço é a nova forma dos robôs. Sua aparência humana vai além de satisfazer fantasias de ficção científica.
Os especialistas dizem estar escolhendo a forma humana tanto por razões sociais quanto técnicas. Robôs que operam em ambientes fechados, em particular, devem ser capazes de se deslocar em um mundo cheio de manoplas, alavancas, portas e interruptores, todos concebidos para humanos.
Os desenvolvedores também observam que os humanos têm afinidade com sua própria forma, o que facilita as transições e torna a colaboração mais neutra. Criar robôs de forma humanoide também simplifica o treinamento e as parcerias no local de trabalho, aumentando o potencial para novas aplicações, como cuidar de pessoas.
David Walter Banks/The New York Times
Componente de robô feito pela empresa Schunk, que projeta robôs capazes de usar instrumentos como maçanetas e botões de elevador desenhados para seres humanos
Componente de robô feito pela empresa Schunk, que projeta robôs capazes de usar instrumentos como maçanetas e botões de elevador desenhados para seres humanos
Na Universidade Carnegie Mellon, em Pittsburgh, na Pensilvânia, Manuela Veloso, professora de ciência da computação, desenvolveu uma série de robôs --os CoBots-- para realizar tarefas como distribuir correspondência, orientar visitantes com hora marcada e trazer café.
Ela chama isso de "autonomia simbiótica", já que os robôs também dependem dos humanos. Eles chegam a pedir orientações se ficarem perdidos.
Rápidas melhorias na visão por computador, no poder de processamento e armazenamento e no barateamento dos sensores, além de novos algoritmos que permitem que os robôs se desloquem em ambientes atulhados, estão possibilitando esses novos usos e, de quebra, alterando a natureza da robótica.
Nos chãos de fábrica mundo afora, uma nova geração de robôs está sendo fabricada por empresas como a Rethink Robotics, de Boston, que produz um robô humanoide para tarefas automatizadas simples, e a Universal Robots, de Odense, na Dinamarca, que fabrica um sistema duplo de braço robótico projetado para aplicações mais tradicionais.
A Rethink Robotics recentemente divulgou um vídeo do seu robô, o Baxter, preparando um café. A empresa disse que o robô humanoide, com mãos em forma de pinça e tela de computador no lugar do rosto, foi treinado em algumas horas para realizar diversas tarefas pré-programadas associadas à preparação do café.
No laboratório de Kemp na Healthcare Robotics, na Georgia Tech, um robô de 1,5 metro, chamado Cody, capaz de sentir forças sobre os seus braços e dotado de uma base que o faz se movimentar graciosamente, está sendo usado como parceiro de dança para dançarinos humanos experientes e para pacientes de fisioterapia.
"É uma forma de usar os robôs para exercícios divertidos e interativos na reabilitação", disse ele.

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