segunda-feira, 28 de outubro de 2013

'Se for preciso dizer que é arte, eu digo', afirma Herchcovitch

Com mudanças em estrutura e curadoria, SPFW busca sobrevivência em meio à crise


 
PEDRO DINIZ
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
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"Deslocamentos" é o tema da edição de inverno 2014 da São Paulo Fashion Week, que começa hoje. Também poderia ser o título da novela sobre a crise da moda nacional, que já dura três temporadas.
O socorro é perseguido em várias frentes. Agora, têm espaço na passarela nomes que nunca antes se encaixaram no estereótipo da inovação buscada pelo evento.

Outra novidade anunciada é que a curadoria da maior semana de moda da América Latina passa a ser feita em sociedade com uma publicação comercial: a revista "Vogue".
"É uma parceria normal, que acontece em vários países, como nos EUA", afirma Paulo Borges, fundador da São Paulo Fashion Week.
Essa associação com a editora Globo/Condé Nast causou desconforto entre editores de moda de outras revistas. Já os estilistas gostaram.
"Qualquer ajuda é bem-vinda. Se é para incentivar os criadores que passam por dificuldades, ótimo", analisa Samuel Cirnansck.
"A moda não está em crise. Apenas alguns processos é que estão", afirmou Borges. Durante sua entrevista, acontecia um protesto do setor têxtil em frente a uma feira de tecidos chineses, em São Paulo, contra o sucateamento da indústria.
A SPFW, que acontece até sexta (veja desfiles de hoje em quadro nesta página) no parque Villa-Lobos, terá, pela primeira vez, venda de roupas em tempo real.
O designer João Pimenta é um dos que farão parte da primeira ação no Brasil da plataforma de moda do e-commerce eBay. Suas roupas, assim como as da grife Amapô, serão postas à venda por meio de um aplicativo de celular enquanto são apresentadas na passarela do evento.

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Divulgação
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Croqui da estilista Patricia Motta
SAPATOS E CRIANÇAS
Também pela primeira vez em 17 anos de vida, a semana de moda paulista incluirá desfile de marca de sapatos.
A Melissa, uma das patrocinadoras, desfilará seus calçados de plástico acompanhados de looks criados por seis jovens marcas --entre elas, a Apartamento 03.
O desfile acontecerá numa estrutura paralela à principal -montada no parque, com três salas e área total de 15 mil metros quadrados.
Os acessórios, no caso, são as roupas. "Não vamos vendê-las, nosso foco é o sapato. O desfile é uma plataforma de comunicação com a cliente", diz o CEO da grife no Brasil, Paulo Pedó.
Outra etiqueta que faz participação estratégica é a Lilica Ripilica, marca que até então só desfilava em eventos de shopping centers.
A grife infantil, com foco na classe B, fará desfile descrito na programação do evento como "especial", antes da apresentação de João Pimenta, na quinta.
O desfile da marca servirá de teste para uma semana de moda infantil que deve ser lançada em outubro de 2014 pela empresa Luminosidade, de Paulo Borges.
O investimento feito pela Lilica Ripilica na semana de moda foi de R$ 1 milhão, segundo o grupo Marisol, que controla a marca. "Somos seguidores de moda; não vamos apresentar criações, e sim uma junção dos estereótipos que acompanham a moda infantil, lúdica e fantasiosa", diz o presidente do grupo, Giuliano Donini.
O executivo diz que não há mais como definir a SPFW como um evento de luxo. "Grifes internacionais tomaram o lugar do luxo no Brasil."
Quem também promete algo "especial" é Fause Haten, estilista à frente da marca FH.
Um dos maiores críticos do formato tradicional de desfile, ele fará uma "performance-surpresa" fora do parque Villa-Lobos, em rua que será revelada uma hora antes do seu "desfile de guerrilha".
"O formato está desgastado. Desfile servia para vender roupa, mas agora é para vender marca e gerar mídia espontânea", diz Haten.
Leonardo Soares/Folhapress
O estilista Fause Haten no espaço de sua exposição "A Fábrica do Dr. F", em cartaz até amanhã na Faap
O estilista Fause Haten no espaço de sua exposição "A Fábrica do Dr. F", em cartaz até amanhã na Faap

Sem Rouanet, Herchcovitch faz desfile no Municipal



PEDRO DINIZ
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA de São Paulo
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Um dos três estilistas, ao lado de Ronaldo Fraga e Pedro Lourenço, envolvidos na polêmica sobre aprovação de subsídio público para desfies via renúncia fiscal, Alexandre Herchcovitch apresenta seu inverno 2014 amanhã, sob a cúpula do Theatro Municipal, durante a SPFW.
Defensor da ideia de que moda não é arte, ele diz à Folha que acha importante suas coleções terem disfarce conceitual, mesmo se são "100% comerciais", e que a partir de 2014 suas apresentações serão abertas ao público.
Leonardo Soares/Folhapress
Alexandre Herchcovitch no Theatro Municipal
Alexandre Herchcovitch no Theatro Municipal
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Folha - O que achou do debate sobre incentivo fiscal à moda?
Alexandre Herchcovitch - Raso. Acho que ninguém entendeu que moda é cultura e que não há diferença entre uma exposição de pinturas e uma de roupas. Ambos têm fins comerciais. Também não foi dito que as coleções irão para museus. Isso forma uma cultura de moda no Brasil.
Sente-se pressionado em mostrar que é "conceitual" para conseguir a Rouanet?
Não. Se não pensar em negócio sou mandado embora da InBrands [que detém sua marca]. Acho importante que as coleções sejam disfarçadas de conceituais, porque elas são 100% comerciais. Moldo o trabalho que aplico na roupa a partir do valor final.
Então moda não é arte?
Não, mas se precisar dizer que é arte eu digo [risos]. É importante o incentivo porque as pessoas vão poder ver um desfile e se emocionar.
Conseguiu o patrocínio?
Estava focado no projeto do meu livro de 20 anos de carreira [que sai em 2014, pela Cosac Naify]. Consegui R$ 240 mil via Rouanet para ele. A partir do próximo mês vou atrás das empresas com que tenho contratos de licenciamento [para o desfile]. Não vai ser complicado.
Como vê marcas como Lilica Ripilica e Melissa na SPFW?
Acho ótimo. Por mim, haveria cem desfiles. Quanto mais marcas, mais os estilistas se esforçam para fazer algo melhor. São marcas fortes como essas que patrocinam as outras tantas das quais o evento não cobra.

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