quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Com Kennedy, os EUA teriam apoiado o golpe militar de 1964 no Brasil?

folha de são paulo

Ouvir o texto
BORIS FAUSTO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Em 1963, o ano em que o presidente Kennedy morreu, os EUA estavam envolvidos na Guerra do Vietnã, a Guerra Fria seguia seu curso e o quadro da América Latina era preocupante, especialmente no caso do Brasil.
A revolução cubana triunfara há pouco e Washington fixara um objetivo claro: impedir que o pesadelo cubano brotasse em outro país.
No radar, aparecia o Brasil, onde os movimentos sociais ganhavam ímpeto, a inflação empinava e o governo populista do presidente Jango ziguezagueava no poder.
No ano de 1963, os EUA já estavam empenhados em apoiar os círculos de oposição brasileira, inclusive os que defendiam como solução o golpe militar.

Momentos marcantes do governo Kennedy

 Ver em tamanho maior »
WOA - 22.out.1962/Associated Press
AnteriorPróxima
Em outubro de 1962, Kennedy anuncia o bloqueio naval à Cuba, que está em vigor até hoje
Em 1962, Kennedy confidenciara ao embaixador Lincoln Gordon: "Do jeito que o Brasil vai, daqui a três meses o Exército pode vir a ser a única coisa que nos resta".
Se ele permanecesse vivo, iria conviver com a ainda maior radicalização da política brasileira e se opor à ruptura da democracia?
Não dá para acreditar que, nesse contexto, Kennedy mudasse os objetivos estratégicos da política externa americana. Em poucas palavras, com ou sem ele, os EUA apoiariam o golpe.
Resta uma pergunta. Se o presidente não fosse assassinado, essa circunstância teria incidência na disputa entre os castelistas, seguidores do marechal Castello Branco, e os integrantes da "linha dura", disputa que tomara corpo no interior das Forças Armadas?
Teria Kennedy a possibilidade de intervir em favor dos primeiros, defensores sem ressalvas da política externa americana? É improvável.
Ao contrário do que muitos pensavam na época, o Brasil não era "o quintal dos EUA". O triunfo da linha dura deveu-se aos rumos da política interna e ao desfecho da disputa entre as facções militares. Nesse vespeiro, por mais que simpatizasse com os castelistas, Kennedy não iria meter a mão.
Para quem valoriza a imaginação, seria atraente navegar nas águas da história contrafactual. Mas, neste caso, o barco acabaria encalhando, sem remédio.
BORIS FAUSTO, historiador, é autor de "A Revolução de 30" (Cia. das Letras).

Nenhum comentário:

Postar um comentário