sexta-feira, 8 de novembro de 2013

Fiscal falava em voltar se Kassab fosse eleito em 2014

folha de são paulo
MÁFIA DO ISS
Fiscal falava em voltar se Kassab fosse eleito em 2014
Em grampo, auditor comenta possível retorno: 'Aí está todo mundo bem'
Kassab não comentou afirmação; sobre ida de auditor à sua festa, disse que lá estiveram ao todo 500 pessoas
DE SÃO PAULODO EDITOR DE 'COTIDIANO'Um dos quatro fiscais da prefeitura presos sob acusação de cobrar propina de empresas em troca da redução de impostos cogitava voltar a trabalhar se Gilberto Kassab (PSD) fosse eleito governador em 2014, segundo gravação obtida pela Folha.
O áudio integra a investigação sobre as fraudes cometidas pelos fiscais.
Luis Alexandre Cardoso Magalhães, único dos fiscais a deixar a prisão após decidir colaborar com as investigações, inicia a conversa dizendo: "Ideal mesmo é estar os três juntos".
Um interlocutor não identificado pelos investigadores continua: "A esperança é o Kassab ganhar a eleição no ano que vem".
Magalhães endossa: "Pois é. Aí está todo mundo bem".
Seu interlocutor prossegue: "É a única chance de a gente continuar junto no ano que vem".
O fiscal responde: "Mas acho que ele não ganha não. [A eleição] Para governador é muito difícil".
Magalhães menciona três pessoas porque o grupo original, formado por quatro, teve um racha, segundo a Folha apurou. Além de Luis, integram o grupo Ronilson Bezerra Rodrigues, Eduardo Harle Barcellos e Carlos Augusto di Lallo Leite do Amaral.
Os três se indispuseram com Ronilson, apontado pelo Ministério Público do Estado e pela Controladoria da prefeitura como o líder da organização. As razões da cisão não são estão claras.
Noutra gravação, Ronilson comemora ter sido bem tratado na festa de aniversário de 53 anos de Kassab, em 12 de agosto, na sede do PSD. Ele fala com Paula Nagamati, sua amiga na prefeitura.
"Você foi aí na festa do Kassab, o pessoal te abraçou", diz ela. Rodrigues responde: "Fui tratado como subsecretário, é outro papo, é outra coisa. Não fui tratado mais como auditor, como porra nenhuma."
Kassab afirma em nota que sua festa reuniu 500 pessoas e que não mantém relação pessoal com os servidores. O ex-prefeito não comentou a conversa em que o fiscal fala em voltar sob seu governo.
Outro áudio, divulgado pela TV Globo, revela a briga entre os fiscais. Magalhães diz a Ronilson Rodrigues que "levaria a secretaria inteira" caso fosse pego. "Vai todo mundo comigo. Eu te dei muito dinheiro", diz. "Sabe por que você me deu dinheiro? Porque eu te deixei lá", responde o homem apontado como chefe do grupo.
OUTRO LADO - MÁFIA DO ISS
Afirmações de servidor são falsas, diz Gilberto Kassab
Ex-prefeito vê 'tentativa sórdida' de envolvê-lo; ex-secretários negam saber de propinas
DE SÃO PAULOO ex-prefeito Gilberto Kassab (PSD) disse que as afirmações do auditor Ronilson Bezerra Rodrigues não são verdadeiras e que a menção ao seu nome é uma tentativa de atingir sua honra.
"As afirmações do servidor público concursado são falsas, como a própria imprensa já comprovou ser inverídico o conteúdo de gravação anterior na qual o mesmo funcionário público atribuía ao ex-prefeito a propriedade de um escritório suspeito de ser usado para a prática de irregularidades", diz nota encaminhada pela assessoria.
O escritório citado, conhecido como "ninho", é do empresário Marco Aurélio Garcia, irmão de Rodrigo Garcia, hoje secretário no governo Geraldo Alckmin (PSDB) e que foi um dos aliados mais próximos de Kassab. Entre 2008 e 2010, Rodrigo ocupou a secretaria de Gestão de Kassab, com quem rompeu depois.
Kassab diz na nota que "repudia as tentativas sórdidas de envolver o seu nome em suspeita de irregularidades".
Afirma que há um "objetivo escuso" que busca "única e exclusivamente atingir a sua imagem e honra".
O ex-prefeito disse que o auditor é funcionário de carreira e que em sua gestão é que foi iniciada a investigação.
Kassab também informou que, em seus aniversários, sempre reservou um horário para receber cumprimentos tanto de secretários como de funcionários públicos. Mas disse que não mantém relação pessoal e social "com nenhum dos servidores públicos concursados em questão".
O ex-secretário de Finanças Mauro Ricardo Costa (que ocupou a pasta entre 2005 e 2007 e entre 2011 e 2012) afirmou que uma eventual citação de seu nome pelo ex-subsecretário é uma "tentativa de desvio de foco".
"Se tivéssemos algum envolvimento nessa questão, jamais abriríamos um processo contra ele e jamais o teríamos demitido. Não teria o menor cabimento", disse.
No final do ano passado, ele chegou a arquivar uma investigação do caso baseada em denúncia anônima.
O auditor Rodrigues foi exonerado do cargo de subsecretário em dezembro de 2012. Segundo o ex-secretário, a demissão ocorreu porque ele passou a ter um comportamento "insubordinado" após saber que era investigado. "Ficou revoltado com a investigação", afirmou.
O ex-secretário de Finanças Walter Aluísio Rodrigues, que nomeou o auditor em 2009 para o cargo de confiança, disse que não sabia de nenhum esquema. Para ele, as gravações podem ser uma manobra para "dispersar".
Ele disse que a nomeação foi pela capacidade técnica.


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