sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Quem vai pagar a conta de Eike Batista? - Raquel Landim

folha de são paulo

Quem vai pagar a conta de Eike Batista?

Ouvir o texto

Tudo indica que a conta do calote de Eike Batista vai sobrar para os acionistas minoritários, para os credores estrangeiros e para os fornecedores de suas empresas. O empresário está fazendo de tudo para livrar os bancos e, principalmente, o governo de amargar prejuízos.
A OGX entrou nessa semana com o maior pedido de recuperação judicial da América Latina, deixando para trás R$ 11,2 bilhões de dívidas não pagas. Pode causar espanto, mas não há dívidas bancárias envolvidas. A maior fatia - quase R$ 8 bilhões - é com investidores do exterior, que compraram os títulos de dívida da empresa.
As únicas dívidas bancárias da OGX estavam na subsidiária OGX Maranhão, que produz gás na bacia do Parnaíba. Se a OGX Maranhão tivesse sucumbido, Itaú BBA, Morgan Stanley e Santander teriam tomado um calote de R$ 200 milhões cada um. Na véspera da recuperação judicial da petroleira, o fundo Cambuhy, do banqueiro Pedro Moreira Salles (Itaú Unibanco) topou injetar dinheiro na empresa.
Ontem à noite estava sendo costurado um acordo para salvar a empresa naval OSX de ter o mesmo destino da OGX. A OSX é hoje o principal risco de dor de cabeça para a administração Dilma Rousseff, que terá que explicar uma "tunga" de R$ 1,6 bilhão em Caixa e BNDES se a empresa for à lona.
Até ontem o que estava sendo costurado era uma solução que não comprometesse o governo, porque passava por uma injeção de recursos dos bancos privados que garantem os empréstimos (Santander e Votorantim) e do próprio Eike, que colocaria R$ 100 milhões na empresa.
Causa espanto a disposição de Eike de por dinheiro na OSX, já que ele se negou recentemente a injetar a mesma quantia na OGX. Talvez a relação especial que o empresário sempre gozou com Lula e Dilma ajude a explicar sua opção.
Nos últimos meses, Eike também conseguiu passar para frente pedaços da termelétrica MPX (hoje chamada Eneva), da mineradora MMX e da empresa de logística LLX. A exposição dos bancos brasileiros, que chegava a cerca de R$ 20 bilhões, estava fortemente concentrada nessas três empresas. Se tivessem sido contaminadas, o estrago seria grande.
Até ontem, ainda não era certeza que a OSX escaparia da recuperação judicial, mas, se tudo sair como planejado, a conta do calote de Eike ficará apenas com os acionistas minoritários de suas empresas, cujos papeis se desvalorizaram muito, e com os credores internacionais.
As ações da OGX, por exemplo, foram cotadas ontem a míseros R$ 0,13. Os fundos internacionais, como Pinco e BlackRock, também não vão escapar de um desconto brutal no pagamento de seus empréstimos durante a recuperação da petroleira.
É claro que investir em ações ou bônus de uma petroleira pré-operacional é um risco e todos devem saber disso, mas os prejuízos para o país são significativos.
A bolsa brasileira já vem sofrendo com o "efeito OGX", que prejudica um canal importante para as empresas se financiarem e para as pessoas elevarem sua poupança.
Além disso, as portas lá fora estarão difíceis de abrir a partir de agora para empresas brasileiras novatas que possuam um bom projeto de infraestrutura, mas nenhuma receita. E isso num país que precisa muito de investimentos é preocupante.
De forma indireta e, apesar dos esforços para deixar o governo de fora, a conta de Eike Batista já caiu um pouco no colo de todos nós. Se a OSX não se salvar, vai ficar ainda mais salgada.
raquel landim
Raquel Landim é repórter especial da Folha e escreve para o site, às sextas-feiras, sobre economia, negócios e comércio exterior. Formou-se em Jornalismo pela Universidade de São Paulo (USP) e tem mestrado em Jornalismo pela London School of Journalism e em Negociações Internacionais pelo convênio PUC/Unesp/Unicamp

Nenhum comentário:

Postar um comentário