terça-feira, 29 de outubro de 2013

Na Rússia, intolerância causa retrocesso em luta de homossexuais por direitos


EL Pais
Pilar Bonet, em Moscou



  • Scott Wooledge/Queer Nation NY/AP
    Manifestantes protestam diante da Opera Metropolitana contra a política do presidente russo Vladimir Putin em relação a homossexuais
    Manifestantes protestam diante da Opera Metropolitana contra a política do presidente russo Vladimir Putin em relação a homossexuais"Passamos da ofensiva à defensiva." A russa Yelena Kostiuchenko, 26 anos, repórter do jornal "Novaya Gazeta", resume assim o ânimo da minoria da qual faz parte (lésbicas, gays, bissexuais e transexuais russos, ou LGBT). Kostiuchenko é lésbica e "saiu do armário" em 2011, quando, em uma declaração na Internet, proclamou seu carinho para Annia Annenkova, sua parceira, uma analista de gás e petróleo, com a qual, se pudesse, se casaria e pediria um empréstimo para comprar um apartamento."Somos duas mulheres maiores de idade (...), cidadãs da Federação Russa, que trabalham bem e muito, que pagam impostos, que não cometem infrações legais e que se gostam. Desejamos registrar nossa relação. Desejamos que o Estado nos reconheça como parentes (...) como esposas com todas as consequências (...), quero que minha mulher se sinta defendida nos litígios de propriedade que possam começar depois de minha morte, que possa se negar a testemunhar contra mim diante do juiz (...) teremos filhos... de antemão os amamos e os esperamos e queremos que nos certificados de nascimento de nossos filhos estejamos inscritas as duas...", dizia Kostiuchenko.
O casamento gay encabeçava a lista de prioridades da jornalista em 2011. Agora, mais de dois anos depois, o mais relevante para ela é evitar que se acrescentem novas leis às duas promulgadas este ano. Uma delas proíbe fazer propaganda a menores de idade das "relações não tradicionais" (eufemismo para relações homossexuais) e a outra, a adoção de crianças russas por gays e estrangeiros.
O deputado Aleksei Zhuravlev (do partido governamental Rússia Unida) retirou na semana passada do Parlamento a lei que havia apresentado em 5 de setembro para que "a orientação sexual não tradicional" de um progenitor ou de ambos pudesse ser motivo para preservá-los de seus direitos de pais e da custódia de seus filhos. O texto para modificar o Código de Família russo levava ao âmbito privado a tese central da legislação já aprovada, a saber, que a homossexualidade não é uma opção equiparável às orientações "tradicionais". Segundo o deputado Zhuravlev, a informação sobre as relações "não tradicionais" é "muito perigosa para a psicologia ainda não fortalecida da criança e pode alterar no futuro sua autoidentificação sexual".
A população russa com "orientação não tradicional" oscila entre 5% e 7% (um pouco mais nas grandes cidades), e pelo menos um terço da mesma têm filhos, explicava Zhuravlev na apresentação do projeto de lei agora retirado. Um cálculo conservador com esses dados (por exemplo, 6% de gays entre os 142 milhões de cidadãos russos) representa a existência de 8,5 milhões com "orientação não tradicional" e mais de 2,5 milhões deles com filhos.
A retirada do projeto de lei, oficialmente para ser "elaborado", poderia indicar que as autoridades não desejam tensionar ainda mais as relações com os setores liberais do país e com os representantes da UE que em diversas ocasiões colocaram oficialmente para seus interlocutores a questão dos direitos de gays e lésbicas na Rússia.

Entretanto, a comunidade gay prefere não baixar a guarda e crê estar diante de "uma trégua" para distender a atmosfera antes dos Jogos Olímpicos de Inverno de Sochi, que se realizarão em fevereiro. Kostiuchenko disse estar preparando um relatório sobre os deputados da Duma Estatal (câmara baixa do Parlamento) que são gays e ameaça colocar na web dados sobre "os políticos que não se atrevem a sair do armário".
Também quer organizar uma parada gay durante os jogos em Sochi. A repórter é pessimista sobre a evolução do sistema político "que situou a comunidade gay na lista dos inimigos internos, junto com os imigrantes e os defensores de direitos humanos". "É preciso conservar as liberdades que nos restam, como educar nossos filhos, porque a liberdade de expressão já a perdemos", diz.
Na sociedade russa as atitudes negativas em relação aos gays se intensificaram, segundo o centro sociológico Levada. Em uma pesquisa feita em abril, 35% dos interpelados consideravam a homossexualidade uma doença ou o resultado de um trauma psíquico, e 43% a viam como um sintoma de depravação ou maus costumes, enquanto 12% opinavam que se trata de uma orientação como outras. A grande maioria (73%) queria que o Estado reprimisse as manifestações públicas de homossexualidade.
Em São Petersburgo, a "janela para a Europa" da Rússia, a legislação anti-gay gravita sobre o ambiente. "Projetos culturais interessantes não são realizados porque seus promotores temem que surjam problemas com as autoridades, e em troca personagens medíocres usam o escândalo para obter publicidade barata", indicam meios culturais da cidade que constatam "a diminuição dos vínculos de nossa cidade com os centros ocidentais".
Em particular, funcionários públicos russos confessam a seus interlocutores europeus sua incompreensão pelo peso que adquiriu a situação dos gays na relação de Moscou com o Ocidente. "Exige-se da Rússia mais do que pode assimilar um país dominado pelo conservadorismo", indicam.
O deputado e chefe da Comissão Legislativa do Parlamento de São Petersburgo, Vitali Milonov, promoveu a lei local contra a propaganda da homossexualidade entre menores, precedente para a legislação aprovada em escala estatal. Esse político do Rússia Unida afirma que "rezaria e tentaria corrigir o vício" se um filho seu lhe dissesse que tem uma "orientação sexual não tradicional".
O nível de tolerância varia em uma mesma cidade e na geografia do Estado. Em 12 de outubro, no Campo de Marte de São Petersburgo, em um espaço habilitado para convivência de Hyde Park, cossacos, torcedores de futebol e nacionalistas atacaram um grupo de gays que organizava uma saída do armário.
Mas apesar de rejeições como esta nas duas grandes cidades da Rússia, os gays podem fazer sua própria vida, diferentemente das áreas de tradições patriarcais como o norte do Cáucaso, onde muitos gays e lésbicas ocultam sua identidade sexual ou fogem de famílias que podem obrigá-los a se casar, impor uma "violação corretiva" e inclusive ameaçá-los de morte, segundo Tatiana Vinnichenko, professora na Universidade de Arkhangelsk, cidade de 350 mil habitantes.
Vinnichenko é ativista da maior organização de defesa dos direitos dos gays na Rússia, com central em São Petersburgo e filiais em 18 das 83 províncias do país. "No ano passado tivemos muitas consultas sobre como formar uma família ou como fazer inseminação artificial, agora nos perguntam sobre a emigração", diz.
Segundo ela, "um em cada três ativistas de nossa organização local, de 120 pessoas", pensa em emigrar. "Para conseguir um clima de maior tolerância, seria preciso maior informação, mas como a informação é equiparada à propaganda, estamos em um círculo vicioso", explica.
"As minorias sexuais são só um dos grupos afetados pelo problema da tolerância na Rússia", afirma Vladimir Pribylovski, especialista no estudo de grupos racistas, xenófobos e nacionalistas. "Os que se dedicavam antes a perseguir e agredir os imigrantes, hoje se dedicam a perseguir os gays, já que estão mais indefesos", opina o especialista.
Na vida cotidiana, os gays podem encontrar respeito e compreensão. Mikhail Tumasov, um tradutor de 38 anos procedente de Samara, vive com Denis, de 26, há oito anos e é agradecido a sua mãe, que "nunca perguntou" sobre sua sexualidade e que aceita que ambos durmam juntos na mesma cama.
Kostiuchenko não acredita que a Rússia seja especialmente homofóbica, apesar dos golpes que recebeu quando participou de piquetes. "As pessoas sentem curiosidade quando lhes conto que vivo com uma garota, mas que a lei nos proíbe de nos casar, interessam-se sobre como cozinhamos e como fazemos amor", diz. Na sua opinião, uma "saída maciça do armário" ajudaria os homossexuais.
Dois jornalistas da televisão se revelaram. Anton Krasovski, em janeiro de 2012, e Oleg Dusaev, de 33 anos, em agosto passado. "Sou um fiel cristão e estou convencido de que Deus me criou e gosta de mim como sou", disse esse jornalista do prestigioso canal estatal Kultura.
Tradutor: Luiz Roberto Mendes Gonçalves

Nizan Guanaes

folha de são paulo
Somos o que buscamos
Se empresas têm apetite enorme pelos hábitos das pessoas, as pessoas mostram desejo enorme de expô-los
Na semana passada, milhares de americanos saíram às ruas para protestar contra os novos programas de espionagem dos Estados Unidos que exploram as imensas pegadas digitais da vida privada no século 21.
As pesquisas de opinião apontam que a população americana está dividida sobre o tema. Surpreendentemente, ou não, grande parte apoia o uso desses expedientes invasivos dentro do pressuposto de que a intrusão aumenta a segurança pessoal e nacional.
Essa é uma discussão antiga, sobre os limites do público e do privado, mas que ganhou muito mais urgência e abrangência na era da comunicação total, que é também a era da exposição total. E não só na área política ou policial mas também na esfera econômica.
Nossos comportamentos estão cada vez mais intermediados por softwares, aplicativos, transações eletrônicas. O cidadão digital está nu. O Google sabe muito mais das pessoas do que muito dos seus amigos e parentes mais próximos.
Nós somos o que buscamos.
Por isso, como protegemos (e também como usamos) essas informações é uma das grandes novas discussões do nosso tempo e do futuro.
Por enquanto, é um universo em formação, horas depois do Big Bang da internet, que juntou o mundo todo e todo mundo em relações recém-nascidas ou ainda em gestação.
Ninguém, ou quase ninguém, lê aqueles longos contratos eletrônicos que aparecem na telinha ao ligar aparelhos novos e abrir contas em redes sociais e sites de busca. Mas é ali que você, mais inconsciente do que conscientemente, concede enorme liberdade às empresas de serviços para não só armazenar dados preciosos a seu respeito como também processá-los e vendê-los a preço de ouro para os mais diversos interessados no que você faz, consome, lê, pesquisa, diz, frequenta, pensa, deseja...
E, se empresas, pesquisadores, publicitários e políticos têm apetite enorme por informações sobre os hábitos das pessoas, as pessoas mostram desejo enorme de expô-los a amigos, conhecidos ou até mesmo a quem apenas mostre algum interesse.
Vivemos o grande momento exibicionista da humanidade. As pessoas agora tiram fotos como loucas não mais para registrar o que estão vivendo, mas para exibir o que estão vendo.
Ninguém é senhor de sua própria história, mas todos hoje podem ser autores de sua própria estória. Somos todos editores.
As redes sociais exibem versões editadas das vidas das pessoas muitas vezes mais falsas do que aqueles filmes de Hollywood dos anos 1950/1960 com Doris Day e Rock Hudson bancando a tradicional família classe média americana feliz.
Mas, se a vida como ela não é das mídias sociais pode ser enganadora, os registros que os softwares fazem de cada palavra digitada e de cada lugar visitado são totalmente reais. Com essas informações é possível criar e oferecer produtos e serviços de forma muito mais precisa e eficiente a públicos que já demonstraram interesse por seu produto ou sua mensagem.
Isso não é necessariamente ruim para o público-alvo. Nem neces- sariamente bom. O potencial certamente é enorme. A capacidade mais transformadora é a de armaze- nar e processar dados. O software mais brilhante já inventado, o que roda no cérebro humano, funciona assim.
O escritor inglês George Orwell, ao escrever "1984" nos deprimentes anos 1940, previu um futuro no qual o Big Brother visse e controlasse tudo de forma autoritária.
Tudo de fato já está sendo visto, registrado, armazenado e processado pelas novas tecnologias. Mas, diante dessa avalanche sufocante de dados e fatos, ainda falta clareza sobre o controle de tudo isso, que é em boa medida o controle sobre todos nós.
Apesar de todos os esquemas de espionagem e malandragem eletrônicas, não resta dúvida de que a revolução digital deu poder aos indivíduos, que hoje conseguem se organizar e se manifestar com muito mais eficiência.
É um mundo novo que surge. Um mundo que deve expandir os limites da humanidade, mas sem romper os limites e os direitos dos humanos.

    Suzana Herculano-Houzel

    folha de são paulo
    Ativismo emocional
    A ciência e a medicina avançam graças à pesquisa com animais, que continua a ser insubstituível
    Eu gostaria de saber se os ativistas que roubaram beagles do Instituto Royal tomam vacinas (e um dia vacinarão seus filhos), usam medicamentos, aceitarão quimioterapia e cirurgias que salvarão suas vidas (se já não foram salvos por elas), mantêm seus corpos limpos com xampus e loções. Aposto que sim --como aposto que torcem para que a ciência cure a doença de Alzheimer, o câncer, o diabetes. Ou seja: eles, como todos nós, se beneficiam da pesquisa feita com animais.
    Fato é que a ciência e a medicina avançam graças à pesquisa com animais, que continua a ser insubstituível (e não me cabe aqui explicar por quê). Tantos espíritos inflamados ao redor da questão, além do fato de o roubo envolver apenas beagles e não os muito mais usados roedores, ilustram que, mesmo que haja objeção racional ao uso de animais em pesquisas, o que move os ativistas é o impacto emocional que bichos bonitinhos têm sobre eles.
    Dez anos atrás, Joshua Greene mostrou, em artigo na "Science", que decisões morais, longe do "certo ou errado" racional, são emocionais. Você empurraria uma pessoa sobre os trilhos de um trem para impedir que o trem matasse outras cinco ou deixaria que as cinco morressem como resultado da sua inação? E se a opção fosse só puxar uma alavanca, desviando o trem e fazendo com que ele matasse uma pessoa, mas salvando cinco: você puxaria ou não faria nada e assim deixaria que as cinco pessoas morressem?
    É possível passar dias debatendo racionalmente a ação correta nesses casos, mas você, leitor, resolve rapidamente o que faz --porque sua decisão se baseia na sua reação emocional. E quanto maior o seu envolvimento emocional com a questão, maior será a paixão com que você defenderá sua posição.
    Se posições sobre certo ou errado são emocionais, então cada um tem a sua, defendida com igual veemência. Acredito que isso explica por que não há argumentos racionais que satisfaçam quem já está convencido pela sua repulsa ao pensar em bichinhos bonitinhos talvez sofrendo ("mas não ratos, argh!"). Seria necessário modificar suas reações emocionais, mostrando animais bem tratados por cientistas aos quais devemos nosso bem-estar e saúde. Mas isso não dá tanto ibope no Facebook.
    Face a tanta subjetividade, ainda bem que há leis que ditam as regras --e garantem a continuidade da ciência.

      Rosely Sayão

      folha de são paulo
      A escola sob pressão
      Falar mal da escola e buscar outra muito semelhante só colabora para que ela fique desacreditada pelos alunos
      Esta é uma época muito desfavorável para a escola e, consequentemente, para crianças e adolescentes que precisam, obrigatoriamente, frequentá-la. E aqui não faço referência a uma unidade especificamente, e sim à instituição escola, seja ela particular ou pública, que existe em nossa realidade e que também habita o imaginário de todos nós.
      É que agora é o tempo em que os pais --aqueles que podem escolher a escola que o filho frequenta-- consideram a possibilidade de transferência do filho, motivados por insatisfações dos mais diversos tipos.
      E os que não podem fazer tal escolha avaliam o ano letivo que está prestes a terminar, considerando, quase sempre, apenas a atuação da escola.
      Há uma grande pressão, por exemplo, por notas altas ou, pelo menos, por notas que permitam a aprovação do filho. E quando as notas não alcançam o patamar esperado e/ou desejado pelos pais, estes costumam pensar que a escola não cumpriu seu papel de alertá-los a respeito do fato, agora quase consumado, para que pudessem tomar algum tipo de providência. Ponto negativo para a escola, portanto.
      Há também, hoje, uma ansiedade generalizada dos pais para que o filho não sofra assédio dos colegas ou não seja alvo de violências, brandas ou pesadas --o agora tão popular bullying. E o interessante nessa história é que muitos pais atribuem a determinados colegas do filho essa ação frequente ou a liderança para o ato. É o que chamamos de "bode expiatório".
      Se a escola não toma algum tipo de providência em relação a esses alunos --expulsão branca, por exemplo--, os pais acreditam que ela não serve para o filho. Ponto negativo para a escola, mais uma vez.
      E o que dizer de frustrações que nada têm a ver com a vida escolar do filho? Eventos que não agradam, reuniões que não são do jeito que eles querem, pouca atenção aos pais etc. Tudo é motivo para a escola ganhar pontos negativos na avaliação que os pais fazem dela.
      Sim: a escola está obsoleta, resiste quanto a se renovar, não sabe ao certo o que significa "educar para a cidadania", insiste em um modelo totalmente ultrapassado, acredita que seu papel ainda é o de transmissão de conhecimento e vê e trata os pais como consumidores de educação. Pai, hoje, é patrão na escola, e os filhos já se tocaram disso.
      O problema é que falar mal da escola, que é o que torna este momento desfavorável a ela, e sair em busca de outra muito semelhante --apenas com novos diretores, coordenadores, professores e materiais didáticos, por exemplo, só colabora para que a instituição fique cada vez mais desacreditada pelos alunos.
      E, contraditoriamente, queremos que nossos filhos gostem de estudar, sigam as orientações da escola, respeitem os trabalhadores da educação, aprendam. Aprendam!
      Quanto mais falarmos mal da escola, menos tudo isso ocorrerá. Nossa alternativa é cobrar da escola inovações --de verdade, em sua organização e estrutura e não na instalação das muitas traquitanas tecnológicas-- e orientar nossos filhos a fazer a mesma coisa.
      Esta seria a verdadeira parceria da escola com as famílias de seus alunos: a exigência posta para a instituição de que ela deve mudar. Com nosso apoio, é claro. E para o bem dos mais novos, e não para nossa tranquilidade e ilusória sensação de segurança.

      Mônica Bergamo

      Inadimplência no país sofre queda acentuada e atinge 7,3%

      Ouvir o texto

      DEVO E PAGO
      A inadimplência entre usuários de cartão de crédito continua em queda acentuada no Brasil. De 8,7% em meados do ano passado, caiu para 7,8% no fim de 2012 e agora chegou a 7,3%.
      BOA-NOVA
      Os dados serão divulgados hoje no congresso da Abecs (Associação Brasileira das Empresas de Cartões e Serviços), que reúne os principais bancos, bandeiras e empresas do setor no país. "Os números são alvissareiros", diz Marcelo Noronha, presidente da entidade e diretor de cartões e crédito ao consumo do Bradesco.
      BOA-NOVA 2
      A pesquisa também mostrará que aumentou a penetração dos meios eletrônicos de pagamento entre os brasileiros. Hoje, 76% da população economicamente ativa tem pelo menos um cartão de crédito. Em 2008, o percentual era de 68%.
      AMIGA MASSA
      Divulgação
      "A Veveta é minha melhor amiga, daquelas que a gente pode contar a qualquer hora...Estou até com uma mania dela: de vez em quando me pego falando 'massa'", diz Xuxa sobre Ivete Sangalo, 41.
      *
      O texto foi escrito para a "Glamour" de novembro, com a baiana na capa. A cantora revela hábitos de beleza, como dormir oito horas por noite, ingerir muito líquido e fazer hidratação no cabelo uma vez por semana. Seu mantra é: "Se você é feliz, você pode tudo".
      PRAZO
      O pedido de recuperação judicial da OGX de Eike Batista, que executivos que tocam a empresa defendiam que fosse feito ontem, esbarrou no Dia do Funcionário Público -a data afeta o funcionamento dos tribunais. Pode ocorrer ainda hoje.
      EM CAMPANHA
      Pré-candidato ao governo de São Paulo pelo PT, o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, vai participar da reunião do Codivap (Consórcio de Desenvolvimento Integrado do Vale do Paraíba) com prefeitos de 39 municípios, em novembro. Com 2,3 milhões de habitantes, a região é berço político do governador Geraldo Alckmin (PSDB), natural de Pindamonhangaba.
      EM CAMPANHA 2
      Também pré-candidato, pelo PMDB, Paulo Skaf cumpriu a mesma agenda em maio. "Estamos abertos a todos os partidos", diz Ana Karin Andrade, presidente do Codivap, filiada ao PR e prefeita de Cruzeiro. Segundo ela, o presidenciável Eduardo Campos (PSB-PE) e sua aliada Marina Silva também querem ser recebidos pelos prefeitos. Dos 39 municípios, 22 são governados pelos PSDB e oito pelo PT.
      PODE VIR QUENTE
      O músico Frejat fez apresentação do show "O Amor É Quente", na sexta. Alice Pellegatti, mulher e empresária do roqueiro, a apresentadora Mylena Ciribelli, a atriz Lúcia Veríssimo e o músico Marco Túlio, do Jota Quest, passaram pelo HSBC Brasil.

      Frejat faz show em SP

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      Zanone Fraissat/Folhapress
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      O músico Frejat e Alice Pellegati, sua mulher e empresária, posaram nos bastidores do show "O Amor É Quente", apresentado na sexta (25), no HSBC Brasil
      ECONOMIA DOMÉSTICA
      Protagonista de um ensaio sensual para a revista "Status", Marina Mantega, filha do ministro Guido Mantega, temeu a reação paterna. "Eu tenho medo do meu pai. Ele gosta de ver mulheres nas capas das revistas, mas não a filha. Acho que só terei coragem de falar com ele daqui a um mês", declarou ela, em entrevista a Amaury Jr..
      *
      O programa vai ao ar hoje à noite na Rede TV!.
      ETIQUETA VERDE
      A confecção de um par de tênis Osklen consome 4.770 litros de água em toda a cadeia produtiva. Destes, 4.488 vêm da chuva. Os dados são de metodologia pioneira que a grife implantou em parceria com o Ministério do Meio Ambiente da Itália. "Usamos parâmetros internacionais para medir o consumo e identificar onde reduzi-lo", explica Martina Hauser, coordenadora do programa.
      *
      A etiqueta sustentável é adotada também por marcas como Gucci e Benetton.
      SHOW DAS PODEROSAS
      As modelos Isabeli Fontana e Cíntia Dicker participaram, no último sábado, do Risqué Dream Fashion Show, no Espaço das Américas. O rapper inglês Taio Cruz cantou durante o desfile, que também contou com a presença de Ana Beatriz Barros e de Izabel Goulart.

      Desfile reúne tops

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      Greg Salibian/Folhapress
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      A modelo Isabeli Fontana foi uma das modelos que desfilou no Risqué Dream Fashion Show, no sábado (26), no Espaço das Américas
      ANIVERSÁRIO
      Carine Roitfeld, diretora global de moda da "Harper's Bazaar", será recebida amanhã em almoço na casa da estilista Cris Barros, em SP. Ela vem festejar os dois anos do título internacional no Brasil.
      CURTO-CIRCUITO
      Mary Nigri recebe Bibba Chuqui e Marcinho Eiras para noite de nhoque com música, hoje, às 21h, no restaurante Quattrino.
      A chef Bel Coelho prepara hoje jantar especial em prol da ONG Trapézio, às 20h30, na Oca Tupiniquim.
      Nasi e Edgard Scandurra, ex-integrantes do Ira!, se reúnem amanhã para show beneficente no Espaço Traffô, na Vila Olímpia. 18 anos.
      com ELIANE TRINDADEJOELMIR TAVARESANA KREPP e MARCELA PAES
      Mônica Bergamo
      Mônica Bergamo, jornalista, assina coluna diária publicada na página 2 da versão impressa de "Ilustrada". Traz informações sobre diversas áreas, entre elas, política, moda e coluna social. Está na Folha desde abril de 1999.

      José Simão

      folha de são paulo
      Enem! Pato erra nos chutes!
      Enem quer dizer Eu Não Escrevi Miojo! Um amigo me ligou todo contente: "Passei! Eu Não Escrevi Miojo!"
      Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! E adorei o Roberto Carlos no "Cansástico": ele é a favor da biografia não autorizada, desde que autorizada! Rarará!
      E o Enem? Enem quer dizer Eu Não Escrevi Miojo! Um amigo me ligou todo contente: "Passei! Eu Não Escrevi Miojo!".
      E adorei o aviso a todos os candidatos: "Quem for fazer o Enem no chute, não faça como o Pato". E os barrados no Enem? Evangélica sem noção parou pra orar, perdeu a hora e ficou gritando no portão: "Abre em nome de Jesus! Abre em nome de Jesus!". Mas não era melhor gritar "Abra-te Sésamo"? Rarará!
      E o tema da redação: Lei Seca! Ou seja, bafômetro. Reprovados: Mano Menezes, Luciano Huck e Aécio Neves! Rarará!
      E o site Futirinhas revela o Enem dos jogadores. Sheik: foi expulso da sala após tentar dar um selinho no aplicador da prova. Ceni: chegou três dias antes da prova. Ganso: acertou uma questão e já ficou cobrando vaga na USP. Pato: respondeu tudo no chute e errou todas! Valdivia: fraturou a mão com o peso da prova e vai ficar 800 dias afastado. Roberto Dinamite: não pagou a taxa pra fazer a prova. E o Walter não foi porque era hora da feijoada! Rarará.
      E adorei a charge do Nani com o Obama no divã do psicanalista: "Ouço vozes!". Rarará. "Qual o seu problema, presidente Obama?" "Ouço vozes. Todas as vozes do mundo."
      E a charge do Aroeira com a ameaça da Merkel: "Se vocês continuarem me espionando, a gente invade a Polônia de novo!". Rarará. E a filosofia do Obama: quem espiona o que eu estou espionando é espionagem!
      E essa piada pronta do caso Alstom: "Procurador de São Paulo disse que não atendeu aos pedidos de investigação da Justiça suíça porque colocou em: pasta errada". TÓÓÓIM!
      E essa direto de Portugal: "Fusão da Portugal Telecom com Oi levará à extinção da PT". Só Portugal pra conseguir isso! Rarará!
      É mole? É mole, mas sobe!
      E como a redação do Enem foi o bafômetro, me lembrei da loira que foi parada pelo guarda: "Carteira Nacional de Habilitação". "Não tenho e nem sei o que é isso." "IPVA." "Não tenho e nem sei o que é isso." Aí o guarda abre a braguilha e bota o pingolim pra fora: "E isso, você sabe o que é?". "Ah, não! Bafômetro de novo!" Rarará.
      Nóis sofre, mas nóis goza.
      Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

      João Pereira Coutinho

      Folha de São Paulo
      Homens e animais, revisitados
      Dissecar animais em praça pública, como aconteceu no passado, seria impensável nos dias de hoje. Ainda bem
      Recebi centenas de e-mails na semana passada por causa de um texto sobre os "direitos dos animais" ("Homens e animais", 22/10). Escuso de esclarecer que a maioria não foi simpática.
      Com verdadeiro espírito humanista, muitos dos defensores dos animais desejaram-me doenças que eu, um hipocondríaco confesso, nem sabia que existiam. Sem falar das inevitáveis ameaças de morte, sempre antecedidas de tortura (lenta).
      Agradeço a gentileza e espero ansiosamente pelo dia em que o mundo será governado pelo espírito tolerante dessa gente. Para os restantes leitores, que insistiram em seis perguntas recorrentes (e civilizadas), aqui vão respostas civilizadas:
      1 - Se é possível fazer pesquisa sem animais, como justificar o uso dos bichos?
      Infelizmente, não é possível fazer todo o tipo de pesquisas sem usar animais. Verdade que a ciência evoluiu imenso e a pesquisa "in vitro" (usando células em laboratório, algumas das quais humanas) e "in silico" (com computadores) tem ocupado as pesquisas "in vivo". Mas, para certas patologias, e sobretudo para se obterem respostas precisas a farmacologias várias, é necessário o uso de organismos vivos com certo grau de complexidade (o que exclui, por exemplo, moscas ou lesmas). Não usar animais implicaria, em muitos casos, usar seres humanos --ou, em alternativa, frear o progresso científico.
      2 - Os animais dos laboratórios são tratados cruelmente.
      Uma absoluta falácia. Os animais domésticos são, muitas vezes, tratados cruelmente. Animais de laboratório são, como o nome indica, seres vivos criados em ambiente controlado (temperatura, som, conforto, comida etc.) de forma a infligir o menor sofrimento possível. É claro que algumas experiências implicam dor ou desconforto. Mas o uso de animais em laboratório está submetido a legislação rigorosa, na qual os "limites de severidade" são cada vez mais apertados.
      Dissecar animais em praça pública, como aconteceu no passado para conhecer o sistema circulatório (um feito que fez a medicina avançar vários séculos), seria impensável nos dias de hoje. E ainda bem.
      3 - É legítimo usar animais para testar cremes e batons?
      Não é legítimo e deve ser severamente punido. Na Europa, já é desde março deste ano. Mas a discussão do artigo lidava com pesquisa médica, não estética. Confundir ambas revela ignorância ou má-fé.
      4 - Todos os ativistas dos "direitos dos animais" estão errados?
      Pelo contrário: a ciência deve muito aos ativistas razoáveis dos "direitos dos animais", que contribuíram para que a ciência "humanizasse" o seu trato com os bichos.
      Os defensores razoáveis dos "direitos dos animais" legaram à ciência o desafio dos "três R's": "to reduce" (reduzir, sempre que possível, o número de animais em laboratório); "to replace" (substituir, sempre que possível, o uso de animais por outra alternativa --estudo de células ou simulação computacional, por exemplo); e "to refine" (refinar, sempre que possível, a forma como a pesquisa é feita --uso de anestésicos e analgésicos quando o desconforto é previsto; criação de um ambiente confortável e estimulante para os animais etc.). O diálogo entre cientistas e "eticistas" deve por isso continuar.
      5 - Você não gosta de animais e por isso defende o uso deles pela ciência?
      Não pretendo tornar a discussão pessoal. Mas gosto de animais, tenho animais e até já escrevi sobre todas as lições "filosóficas" que aprendi com o meu gato.
      6 - Todas as vidas são sagradas e nenhum animal deve ser sacrificado para nosso benefício.
      Quem parte dessa premissa encerra o debate mesmo antes dele começar. Infelizmente, não tenho essas certezas --e, como onívoro, é evidente que continuo a usar os animais como fonte principal de alimentação. Sobre a "sacralidade" da vida, confesso uma certa paralisia agônica com certos cálculos utilitaristas mesmo em relação à vida humana (para mim, a mais importante).
      Se, por hipótese, fosse possível salvar 10 milhões de pessoas gravemente doentes pelo sacrifício em laboratório de dez indivíduos, valeria a pena matar esses dez inocentes?
      Instintivamente, direi que não e ficarei feliz com as minhas vaidades deontológicas. Pensando friamente, não sei se diria não --e que Deus, ou o sr. Kant, me perdoe. Porém, se a vida de 10 milhões de pessoas dependesse da vida do meu gato, não haveria hesitação alguma.

      Milú Vilela e Felipe Chaimovich

      folha de são paulo
      Os museus e a educação integral
      A Lei Rouanet inibe a atração de parceiros ao impedir que os museus obtenham 100% de abatimento fiscal em projetos de setores educativos
      Existe, entre os educadores, grande expectativa de que o Congresso Nacional finalmente aprove, até o final do ano, o Plano Nacional de Educação (PNE), que trará, entre outras questões estruturais, a diretriz de implantação da educação integral nas escolas brasileiras.
      Pesquisa da Fundação Itaú Social com o Datafolha mostrou que nove em cada dez brasileiros dizem que a educação integral é necessária para melhorar o futuro das novas gerações. Todos estão de acordo que é essencial ampliar o leque de formação dos estudantes. A construção do conhecimento pressupõe a interação dos alunos com outras realidades além da sala de aula e a união dos saberes formais com atividades extracurriculares.
      Para que se torne realidade, a educação integral não depende apenas da boa vontade de deputados e senadores. A sua implantação implica o esforço de integração das escolas com equipamentos públicos, ONGs e instituições de toda ordem para que se ofereça aos alunos acesso à formação extracurricular.
      Os museus brasileiros, nesse contexto, vão ganhar nova dimensão. Terão que estruturar e desenvolver áreas educativas para atender ao novo patamar de demanda.
      Experiências podem ajudar nessa tarefa de revisão de papel e de busca de um novo modelo de atuação. O Museu de Arte Moderna de São Paulo tem a educação como um dos pilares de atuação. Recebe 40 mil alunos das redes públicas e privadas todos os anos para visitas monitoradas a exposições e participação em cursos e atividades, numa programação intensa que inclui a formação de professores.
      O MAM também desenvolveu tecnologia social de atendimento a grupos de portadores de necessidades especiais que serve de modelo, o que revela a potencialidade de replicação de experiências educacionais.
      O MASP, a Pinacoteca do Estado, o Catavento e outros grandes museus seguem a mesma linha de atuação, com forte orientação para o papel educativo. Com o PNE de pé, teremos que multiplicar as experiências e levá-las a todo país, incluindo cidades médias e pequenas.
      Para tanto, precisaremos criar um novo ambiente regulatório para estimular o financiamento e a geração de recursos para estruturar as áreas educativas que irão trabalhar em parceria com as escolas. Uma das dificuldades está na Lei Rouanet.
      O mais importante instrumento de financiamento da cultura no país não permite que os museus obtenham o incentivo máximo de 100% de abatimento fiscal em projetos exclusivamente voltados para seus setores educativos, o que configura fator inibidor na atração de parceiros.
      Este ponto deve ser revisto. Há empresas interessadas em contribuir. Basta ajustar esse aspecto e permitir que a iniciativa privada financie projetos do gênero com incentivos para que setores educativos ganhem corpo nas instituições.
      A educação integral está na boca do povo, na cabeça dos educadores e no centro de uma oportunidade de transformação. Agora governo e Congresso precisam, mais do que nunca, fazer a sua parte e criar as condições para que esse modelo alcance os brasileiros na ponta e ajude a mudar o ensino no país.

      Vladimir Safatle

      folha de são paulo
      O vazio político
      Até agora, Dilma Rousseff deveria agradecer a Deus pelos concorrentes que se apresentam à Presidência da República. Para eles, as manifestações de junho, em larga medida, não existiram. Continuam construindo discursos e estabelecendo prioridades como se estivéssemos na década de 90, com seus arroubos liberais. Dessa forma, Dilma aparece como a candidatura mais à esquerda no páreo.
      Quando a população foi às ruas em junho, ouvimos um conjunto de exigências que acabaram por se destacar. Certamente, ninguém saiu gritando slogans em defesa do sacrossanto tripé econômico: câmbio flutuante, superavit primário e meta inflacionária. Na verdade, o povo falou, com força, que queria priorizar um outro tripé, a saber, o social: transporte público de qualidade, educação pública "padrão Fifa" e saúde pública sem subfinanciamento.
      Nesse sentido, não é por acaso que as mais recen- tes manifestações giram em torno do sucateamento da profissão de professor em es- colas públicas.
      O governo esboçou uma reação mínima ao requentar duas propostas que já circulavam: o programa Mais Médicos e a vinculação da renda do pré-sal à educação e à saúde. Em si, as propostas eram boas e mereciam ser implementadas, mesmo que a segunda não passasse de promessas em cima de lucros potenciais, que demorarão anos para entrar nos cofres da União. Uma estranha maneira de responder à urgência das ruas com promessas de longo prazo.
      No entanto não se ouviu praticamente nada dos outros candidatos até agora no páreo.
      Nenhuma proposta minimamente ousada sobre o fortalecimento dos serviços públicos e as modalidades de capitalização do Estado para tanto. Todos eles preferiram seguir o mesmo figurino e centrar seus discursos em tópicos como a diminuição do pretenso estatismo do governo, a reiteração do eterno mantra dos impostos altos e a criação de melhor ambiente para investimentos estrangeiros. Os mesmos que já aparece- ram em outras eleições e foram derrotados.
      Era de esperar que al- guém lembrasse, ao menos, dos nossos absurdos nacionais, como a ausência de uma fiscalidade que sirva de base de combate à desigualdade econômica e a inacreditável oligopolização de nossa economia atual.
      Mesmo a respeito da reinvenção de uma democracia com forte densidade popular e menos mediações institucionais, outro tópico claramente posto pelas manifestações, não se ouviu, até agora, ne- nhuma proposta concreta. Dessa forma, cria-se um verdadeiro vazio político, que beneficia indiretamente quem está no governo.

      Pedro Soares

      folha de são paulo
      O fardo da Petrobras
      RIO DE JANEIRO - O fardo que a Petrobras terá de carregar nos próximos anos pode não ser tão pesado, se algumas afirmações da presidente da estatal, Graça Foster, dispersas nas entrelinhas, tornarem-se realidade. A executiva tem dito que o investimento da Petrobras no pré-sal será viável de acordo com a velocidade desejada para a exploração da imensa reserva de petróleo.
      Se o governo quiser acelerar, a estatal não terá condições de acompanhar o ritmo, sinaliza sutilmente Graça Foster, pois a amarra legal a obriga a injetar 30% do investimento de todos os campos e ser responsável pela gestão da área. Muitos na indústria do petróleo creem que essa regra vai cair. Nos bastidores, técnicos da estatal também torcem para o fim dessa reserva de mercado.
      Sem poder reajustar a gasolina para não comprometer a inflação, a Petrobras não tem fôlego de caixa para fazer aportes vultosos no pré-sal. Seu lucro caiu 39% em relação ao terceiro trimestre de 2012. Cairá novamente, se um aumento dos combustíveis não vier.
      É papel do governo priorizar e agilizar a produção do pré-sal. A gigantesca reserva só terá valor para a sociedade quando o óleo começar a jorrar e uma expressiva fatia dele, convertido em dinheiro, engordar o cofre do Tesouro.
      Se não for dragado pelos ralos das más administrações públicas, os 85% de royalties do pré-sal que irão para a educação serão capazes de fazer a esperada revolução.
      Só com mais investimento em educação o Brasil vai conseguir sair da armadilha de ser um país de renda média --nem rico nem pobre--, com maior produtividade da sua força de trabalho.
      Resta ao governo decidir acelerar esse processo ou não. Ou muda a regra que desobriga a Petrobras de estar em todos os campos do pré-sal ou permite à estatal fazer mais caixa com o reajuste da gasolina.

        Helio Schwartsman

        folha de são paulo
        Memórias
        SÃO PAULO - Roberto Carlos, o rei, que bloqueou na Justiça a circulação de um livro sobre a sua vida, agora diz que é a favor de biografias não autorizadas e informa que está escrevendo suas memórias. Qual das duas obras é mais confiável?
        Obviamente, essa não é uma questão que possa ser respondida "a priori", mas temos boas razões para desconfiar das autobiografias. E não porque candidatos a ídolo sejam todos mentirosos compulsivos. O problema é que nossas memórias, embora nos pareçam vívidas a ponto de as julgarmos uma espécie de fotografia do passado, são mais bem descritas como uma fantasia de nossas psiques.
        O que o cérebro guarda são registros hipertaquigráficos a partir dos quais nossa mente reconstrói o episódio cada vez que nos lembramos dele. Esse processo é distorcido pelo que estamos sentindo ou pensando quando acionamos a memória. Algumas lembranças ficam estáveis por décadas, outras são sutilmente modificadas e há as que sofrem transformações profundas. Elas são indistinguíveis em nossas cabeças.
        Essas mudanças não ocorrem ao sabor do acaso. A memória não evoluiu para promover a verdade, mas para nos fazer viver vidas melhores. Ela não deve ser uma alucinação tão tresloucada que nos leve a cometer erros fatais, mas, se as distorções forem no sentido de nos tornar mais seguros e confiantes, são mais do que bem-vindas. Nós nos lembramos muito mais daquilo com o que podemos viver do que daquilo que efetivamente vivemos.
        A notável exceção são as pessoas clinicamente deprimidas, que fazem uma avaliação surpreendentemente realistas de si mesmas. Não se sabe se é a depressão que leva à percepção mais acurada ou se é a visão mais realista que provoca os pensamentos deprimentes. De todo modo, o excesso de realismo não é muito saudável.
        Se você é um leitor em busca de verdades, só compre autobiografias de depressivos notórios.
        helio@uol.com.br

          Janio de Freitas

          folha de são paulo
          Desunidos pela união
          Nenhum programa autêntico sairá dos encontros feitos pelas cúpulas dos dois PSB, tamanhas são as diferenças
          Mais do que "discutir um programa em conjunto", a reunião de 120 integrantes autênticos do PSB e informais do quase-Rede da Marina Silva inicia uma tentativa de convivência entre os dois contingentes. Esse artifício é, por si só, demonstração clara da extrema dificuldade, para não dizer da impossibilidade, de integração efetiva das duas correntes. Ao menos, agora para dizer alguma coisa positiva, enquanto não estiver decidido, de fato, quem será o candidato do partido à Presidência.
          Nenhum programa autêntico sairá desses encontros planejados pelas cúpulas dos dois PSB, tamanhas são as diferenças de propostas. O que podem fazer é acrescentar mais um mal à artificialidade partidária brasileira, com outra contrafação de programa. Só o propósito da Rede de suscitar um enfrentamento com o agronegócio, por exemplo, basta para impossibilitar entrosamento autêntico com o PSB de Eduardo Campos, que tem todo o interesse no entendimento com a riqueza e a força política desse setor.
          Em sua oração pela unidade, diz a deputada Luiza Erundina que "Marina se juntou ao PSB para construir um caminho comum às duas forças, mas cada uma delas mantendo as identidades e os compromissos". Uma beleza. Mas, primeiro, Marina Silva juntou-se ao PSB para assegurar-se uma perspectiva que o seu frustrado partido não pôde dar. Se houvesse identificação com o PSB, "para construir um caminho comum", Marina não precisaria "concentrar-se sozinha" para escolher sua adesão, uma vez negada a existência ao seu partido.
          Além disso, as duas correntes "mantendo as identidades e os compromissos" é justamente o que as impedirá de serem "algo novo" como partido, ainda no dizer de Erundina. Ou "um jeito novo de fazer política", nas palavras de Marina.
          A franqueza é um jeito velho, mas ainda é melhor.
          O PAGADOR
          Presidente da Alstom quando a empresa fechou ricos contratos com governos do PSDB em São Paulo, José Luiz Alquéres diz que, se houve corrupção, os pagamentos de suborno foram por conta do lobista Arthur Teixeira e que a este, portanto, cabe "arcar com as consequências perante a Justiça".
          O argumento é forte. Ou será, quando e se Alquéres explicar por que um lobista, contratado por sugestão do próprio Alquéres, daria dinheiro a integrantes do governo se os negócios não eram para ele.
          MAU SINAL
          O "recall", quando fabricantes chamam consumidores para reparo de um defeito de fabricação, é mal visto por equívoco. Trata-se de um avanço na relação fabricante/vendedor/consumidores. Mas, no Brasil, precisa de regulamentação rigorosa. Ou, com frequência, não passa de farsa para dar cobertura ao fabricante em caso de processo.
          De vez em quando é transmitido um "recall" de carros Audi deliberadamente incompreensível. Lidos com mal intencionada velocidade, os números de série dos carros, com dezenas de algarismos e letras, não podem ser memorizados nem no mínimo necessário. A explicação do "recall" segue o mesmo truque de publicidade indesejada. O defeito é grave, porém. É no sistema de alimentação de combustível e implica até risco de incêndio.
          Se o "recall" não considera a gravidade do problema, subordinando-se à imagem do produto, não cumpre a sua função. Em vez de louvor, merece punição legal. E assim são eles com frequência, na indústria automobilística.

          De Perdizes a Cachoeirinha, perfil de 'black blocs' presos é variado

          folha de são paulo
          ROGÉRIO PAGNAN
          DE SÃO PAULO
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          Entre os presos em São Paulo na sexta-feira sob suspeita de participar de atos violentos promovidos por adeptos da tática "black bloc" há jovens de diferentes perfis, moradores de áreas nobres e da periferia.
          Eles foram presos durante protesto organizado pelo MPL (Movimento Passe Livre), na região central de São Paulo.
          Ao todo, 92 pessoas foram levadas para distritos policiais da região, 81 foram liberadas após serem registradas.
          Os oito adultos que continuavam presos até a noite de ontem foram indiciados sob suspeita de crimes como danos ao patrimônio, formação de quadrilha, uso de explosivo e tentativa de homicídio.
          Três menores de idade também foram apreendidos e encaminhados à Fundação Casa (antiga Febem).
          O mais velho do grupo tem 23 anos. Cinco têm menos de 20 anos, excluindo os adolescentes (todos de 16 anos), segundo os boletins de ocorrência consultados pelaFolha.
          Eles são moradores de bairros como Perdizes, Vila Mariana, Limão, Parque São Rafael, Cachoeirinha, Jardim Helena e Vila Alpina.
          Metade deles é da capital. Apenas um não é paulista.
          Entre os que continuam presos está Paulo Henrique Santiago dos Santos, 22, estudante de classe média que mora em Perdizes (zona oeste).
          O rapaz foi indiciado sob suspeita de tentativa de homicídio, por supostamente ter participado do espancamento do coronel da PM Reynaldo Simões Rossi.
          O policial militar Márcio Yukio Yoshino, que ajudou a salvar o oficial das agressões do grupo, aponta Santos como um dos autores da agressão. O rapaz nega.
          Os outros suspeitos são apontados pelos policiais como integrantes do grupo que participou da depredação do terminal Parque D. Pedro.
          ESCOLARIDADE
          Entre os manifestantes que continuavam presos ontem, apenas Santos é estudante universitário. Cinco pessoas concluíram o ensino médio e dois apenas o fundamental.
          Parte deles diz estar trabalhando. Na lista das ocupações estão: ajudante de cozinheiro, conferente, vendedor, comerciário e fotógrafo. Um deles disse estar desempregado.
          Procurado pela Folha, o advogado André Luiz Zanardo, um dos defensores dos presos, não quis se manifestar ontem.
          A Secretaria da Segurança não soube informar se algum dos presos deles tem antecedentes criminais.
          De acordo com a polícia, um inquérito foi instaurado para tentar apurar a participação dos outros suspeitos. O objetivo é "individualizar a conduta de cada um".
          Após a prisão dos suspeitos, o delegado Domingos Paulo Neto afirmou, durante o final de semana, que os outros estão sendo investigados.
          "É preciso ter muita cautela. Aqueles que forem surpreendidos em flagrante, com a conduta individualizada, são recolhidos ao cárcere."