sábado, 23 de novembro de 2013

Galeria exibe plantas crescendo em móveis e fotos de livros em decomposição

folha de são paulo

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DE SÃO PAULO

A partir desta sexta-feira (22), cupins, fungos, traças e plantas estarão em uma exposição não botânica, mas de arte na galeria Emma Thomas, em São Paulo.
As espécies fazem parte das obras do artista Rodrigo Bueno, que inaugura a exposição "Vida Nova".

Arte verde

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Divulgação
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Trabalho de Rodrigo Bueno na galeria Emma Thomas
Serão exibidas sete fotografias que Bueno fez de livros parcialmente tomados por fungos, traças e cupins. Segundo ele, a ação do tempo deu novo sentido às imagens, que tiveram ainda insetos e folhas secas inseridos à fotografia.
Além disso, o artista apresenta móveis fazendo o papel de vasos para plantas vivas, o que representaria a "rachadura por onde brota a natureza insistente".
Durante o período da exposição, a galeria também exibe um jardim vertical em sua fachada, feito por Bueno.
Visitas ao ateliê do artista, apelidado de "Mata Adentro", na Lapa, também poderão ser agendadas pelos interessados. Ali, ele faz pesquisas com pinturas e plantas em madeiras e móveis recolhidos da rua.
Galeria Emma Thomas - r. Estados Unidos, 2205, Jardins, zona oeste, São Paulo, SP. Tel.: 0/xx/11/3063-2193. De 22 de novembro de 2013 a 11 de janeiro de 2014. Seg. a sex., das 11h às 19h. Sáb., das 11h às 17h. Grátis.

A competição entre fêmeas e a origem da fofoca

23 de novembro de 2013 | 2h 0 Fernando Reinach

A cauda colorida dos pavões é resultado da competição entre pavões pelo acesso às fêmeas. Darwin descobriu e explicou essa relação. Desde então, os cientistas descobriram diversas modalidades de competição entre machos de uma mesma espécie. Por décadas a competição entre fêmeas foi ignorada pelos cientistas. Mas isso está mudando. Os cientistas estão descobrindo que as fêmeas de uma mesma espécie também competem entre si, mas de maneira mais sutil.
A revista da Royal Society de Londres publicou recentemente um volume dedicado aos diversos aspectos da competição entre as fêmeas, sejam elas de ratos, macacos ou humanos. Seja você macho ou fêmea, vale a pena ler. Aqui vão dois exemplos pinçados entre as dezenas descritas na coletânea.
Os machos geralmente competem pelo acesso às fêmeas e as fêmeas competem pelo acesso aos bens necessários para garantir a sobrevivência da prole. No caso dos Mosuo, uma tribo que vive no sudoeste da China, essa competição entre as fêmeas é muito acentuada e facilmente observada. Ao contrário de outras sociedades humanas em que, após o casamento, a mulher vai viver na tribo do marido ou o marido vai viver na tribo da mulher, entre os Mosuo nada disso acontece. Em cada casa vivem três gerações. A avó, todos seus filhos e filhas e todos os netos e netas.
Quando uma das fêmeas se casa, o marido continua vivendo com sua mãe e somente visita a esposa à noite, faz sexo e volta para casa. Dessa maneira, em cada casa vive uma única linhagem matriarcal. No cair da noite, os machos vão visitar suas esposas e voltam para dormir com a mamãe. Ou seja, os machos não ajudam em nada a criação dos filhos, que fica a cargo dos habitantes da casa da fêmea.
Estudando essa tribo, os cientistas descobriram que a competição entre irmãs é ferrenha. Apesar de todas as mulheres que vivem em uma casa serem casadas e receberem visitas dos maridos, foi observado que as filhas mais velhas de uma casa acabam tendo mais sucesso reprodutivo, ou seja, um número maior de seus filhos chega à idade reprodutiva.
O que os cientistas descobriram é que, no caso dos Mosuo, as fêmeas mais velhas conspiram contra as mais novas para atrair os homens que visitam a casa toda noite, engravidam mais frequentemente e mais cedo, e também trabalham mais na lavoura, garantindo assim uma fração maior do alimento para seus filhos. As caçulas, coitadas, têm seus maridos roubados em muitas noites e, quando engravidam, não conseguem produzir o alimento necessário para garantir a sobrevivência dos filhos. O caso dos Mosuo demonstra que a vida em um matriarcado pode ser competitiva e violenta.
Na grande maioria das sociedades humanas, e também nos chipanzés e nos gorilas, o que ocorre após o casamento é que é a mulher que vai morar na casa (ou grupo no caso dos macacos) da família do marido. Chegando ao novo lar, a recém-casada, em vez de competir com as irmãs, compete com as outras fêmeas do grupo. Mas quem é essa outra fêmea, se todas as filhas casadas foram morar com seus maridos? Adivinhou? A sogra. A sogra e suas filhas solteiras.
Mas não pense que, nas sociedades ocidentais modernas, onde após o casamento o casal vai morar sozinho em uma nova habitação, a competição entre as fêmeas esmoreceu. Em um experimento curioso, os cientistas chamaram pares de mulheres recém-casadas (que não se conheciam) para discutir com um cientista do sexo masculino a relação delas com seus maridos. O que elas não sabiam é que o verdadeiro experimento ocorreria no intervalo da discussão. No início do intervalo, o cientista saía da sala, enquanto as voluntárias tomavam um lanche. Durante o lanche, entrava na sala uma outra cientista, agora do sexo feminino, perguntando onde estava o cientista que havia saído da sala. Obtida a resposta, a cientista saía da sala. A discussão entre as duas voluntárias após a saída da cientista fêmea era gravada e filmada. Mas falta explicar um detalhe. Em metade das entrevistas, a cientista fêmea que entrava na sala vestia somente uma calça comprida e uma camiseta. Na outra metade das entrevistas, a mesma cientista vestia uma provocante minissaia, blusa decotada e botas. De resto, a interação entre a visitante e as voluntárias era idêntica.
O que os cientistas observaram é que a fêmea de calça e camiseta não provocava uma mudança na conversa e nunca despertava reações agressivas. Já a mesma mulher, de minissaia, causava quase sempre uma mudança na conversa entre as voluntárias que geralmente passavam a falar mal da visitante, muitas vezes insinuando suas más intenções com o entrevistador, comentando o mau gosto de suas roupas, enfim, denegrindo sua imagem. Os cientistas concluíram (você concorda?) que o diálogo agressivo e crítico entre as voluntárias após a visita da "vamp" é uma manifestação do espírito competitivo e agressivo das mulheres. Elas estariam tentando "proteger e não perder a posse" do macho que estava conduzindo a entrevista. A "vamp" era vista como uma ameaça, e a mesma mulher, vestida discretamente, não era identificada como potencial competidora. Observe que essas mulheres não se conheciam, eram casadas, e o macho em questão só havia passado uma hora na companhia das duas voluntárias.
Esses dois exemplos demonstram como ocorre a competição entre as fêmeas, muito mais sutil e indireta que a violência física, direta ou disfarçada, que observamos na competição entre os machos.
Essa coletânea de artigos mostra que o estudo da competição entre fêmeas ainda está na sua infância, mas já nos ajuda a entender o cisma com a sogra e a origem da fofoca.
FERNANDO REINACH É BIÓLOGO
MAIS INFORMAÇÕES: FEMALE COMPETITION AND AGRESSION: INTERDISCIPLINAR PERSPECTIVES. PHIL. TRANS. R. SOC. B 368:2130073 2013

Walter Ceneviva

folha de são paulo
A crise dos Poderes
No desencontro das opiniões do Legislativo e do Judiciário, a solução deve respeitar a Carta Magna
Os horizontes da política se obscureceram, com as nuvens da linha inconstitucional proposta pelo presidente da Câmara dos Deputados, de não atender os efeitos da punição criminal imposta a destacados participantes do universo político.
O deputado, invocando sua condição de presidente eleito pelos deputados, quer limitar os efeitos das punições aplicadas, entre outros, a parlamentares atingidos pela condenação à prisão pelo STF (Supremo Tribunal Federal).
A defesa das prerrogativas da Câmara dos Deputados não é, em si mesma, uma violência daquela casa do Parlamento. O presidente tem o direito e o dever de a representar, mas submetido a um limite, que se pode dizer sagrado. O limite está na Constituição, por isso mesmo chamada de Carta Magna.
Como se sabe, o STF examinou o processo condenatório, em debates que --a contar de uma denúncia desta Folha-- resultaram em punições diversificadas, aí incluídas condenações a penas de prisão.
A pergunta que devemos fazer-nos é simples: o deputado condenado a pena de prisão mantém sua condição parlamentar, como efeito inafastável da pena, ou o cumprimento desta depende de anuência da Câmara dos Deputados?
Para a resposta, é necessário examinar cinco dispositivos constitucionais, pelo menos. Começo inafastável é o do art. 2º: "são Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário".
Portanto, o primeiro elemento da discussão consiste em examinar os dois termos intermediários desse artigo: os Poderes são independentes e harmônicos. A independência e a harmonia, como evidente, são avaliadas como requisitos básicos e norteadores da situação e da conduta, de cada Poder, em face dos dois outros.
Pensada a situação definida pelo art. 2º, quando aplicado aos fatos do momento e do surgimento de grave crise constitucional, no desencontro das opiniões de um órgão do Poder Legislativo e o órgão máximo do Judiciário, devemos achar um modo de o resolver, respeitada a Carta Magna. Os dispositivos constitucionais, a serem avaliados, são os arts. 44, 76, 92 e 102.
Diz o art. 44: "o Poder Legislativo é exercido pelo Congresso Nacional, que se compõe da Câmara dos Deputados e do Senado Federal". Está no art. 76: "o Poder Executivo é exercido pelo Presidente da República, auxiliado pelos Ministros de Estado". Lidos os dispositivos sobre o Judiciário, a cabeça do art. 92 relaciona os seus órgãos componentes. O art. 102 afirma que "compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente a guarda da Constituição..."
Assim se vê que o Poder Legislativo é exercido por dois órgãos (Câmara e Senado) e não por um só, dentre eles. O Poder Executivo, embora regido por um único ser humano, auxiliado por seus ministros, fica, em várias situações, vinculado a atos dos dois outros Poderes. O Judiciário, na pluralidade, de seus agentes impõe ao STF (pela maioria de seus membros), precipuamente, a guarda do texto constitucional.
O advérbio de modo não deixa dúvida: diz do que é precípuo o principal, o essencial, o mais importante. Está a dizer de sua capacitação acima de todas as outras.
A Câmara dos Deputados é fundamental na prática da democracia. Mas não é, em si mesma, um Poder. É parte dele.

De preso a 'xerife' - Minha História - Antonio Galdino da Silva Neto

folha de são paulo
MINHA HISTÓRIA - ANTÔNIO GALDINO DA SILVA NETO
De preso a 'xerife'
Condenado pela morte da mulher e expulso do emprego, ex-policial militar passou a denunciar a violência na cadeia e foi convidado a dirigir umpresídio após cumprir pena
RESUMO O ex-PM Antônio Galdino da Silva Neto, 46, acreditou que sua vida havia terminado em 1991, quando foi condenado a 15 anos e oito meses de prisão pela morte de sua mulher. Sofreu ameaças de morte dentro da cadeia, tornou-se religioso, voltou a estudar e fundou um grupo de amigos e familiares de detentos, que defende melhores condições aos condenados. Hoje é diretor de presídio no interior da Paraíba.
(...) Depoimento a
WILLIAM DE LUCCACOLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM SAPÉ (PB)Desde muito novo queria ser policial militar. Em 1987 prestei concurso e comecei a trabalhar como policial em Tavares, sertão da Paraíba.
Tinha a convicção de que matar bandido era certo, já que eles não mereceriam segunda chance. Eu era violento, abusei da autoridade. Não sei quantas pessoas matei.
Casei-me pela primeira vez antes de entrar na polícia. Tive três filhos e, depois de quatro anos, me separei e fui morar com outra mulher, que eu tinha engravidado.
Um dia, depois de ter bebido e discutido com ela o dia inteiro, peguei a arma para intimidá-la e acabei fazendo um disparo acidental, que a atingiu no pescoço. Ela morreu nos meus braços.
Fiquei desesperado. Três dias depois me entreguei à polícia e disse que queria pagar pelo que havia feito.
Fui expulso da PM e transferido para uma cela em Princesa Isabel (PB).
Fui colocado numa cela pequena, suja, com pessoas que tinha prendido, agredido. Fui ameaçado de morte. Por sorte, um justiceiro de São Paulo estava na cela e, como gostava de policiais, ficou meu amigo e a gente se protegeu.
No fim de 1991, fui condenado a 15 anos e oito meses de prisão em regime fechado e transferido para um presídio em Campina Grande.
Se em Princesa Isabel era ruim, lá era o inferno. Tinha gente que eu tinha prendido, perseguido, dado tiro. Era como se tivesse sido jogado aos leões para ser devorado.
Vi gente sendo espetada, apanhando com metal na cabeça, estupro. Queria pedir socorro, mas não tinha para quem. Como dizem, ali o filho chora e a mãe não vê.
Entrava tudo lá dentro: bebida, droga, arma. Eu andava com revólver, munições e faca. Achava que ajudaria a me manter vivo.
Soube que havia um plano para me matar. Colocaram meu nome numa lista de ex-PMs que seriam mortos.
Alguns dias depois, estava na cela e gritaram que havia uma ligação. Ao sair, vi uns 40 presos armados correndo pra cima de mim. Agentes penitenciários chegaram e acabaram com a confusão.
Em 1993, conheci um grupo que fazia evangelização no presídio. Um pastor disse que minha vida iria mudar.
Criei coragem e disse ao diretor que queria sair do isolamento. Voltei a estudar e a trabalhar no presídio. Terminei o ensino fundamental e o médio e comecei a evangelizar em todos os pavilhões.
Em 1995, já transferido para Patos (PB), dei entrada na progressão de regime.
Conheci minha mulher antes de sair. Ela foi visitar o presídio, começamos a conversar e ela achou que eu também estava ali visitando.
Continuamos a nos ver depois que saí da cadeia. Propus casamento no primeiro dia de namoro e ela aceitou. Fomos morar com os meus quatro filhos e os dois dela. Tivemos mais dois depois.
Montamos uma associação de amigos de condenados, denunciando torturas. Passei a visitar presídios, cobrando o cumprimento da lei.
Logo me mudei para João Pessoa para trabalhar como segurança da Assembleia Legislativa, a convite de um deputado amigo de minha mãe. Ainda dormia no presídio e trabalhava de dia até 1997, quando recebi o indulto.
Na Assembleia, fiz amizade com o atual governador, Ricardo Coutinho [PSB], então deputado. Ao assumir o governo em 2011, Ricardo me convidou a dirigir o presídio de Sapé. Parecia que aquilo não estava acontecendo.
Entrei e fui falar com os presos, sem segurança. Disse que não aceitaria violência, armas, drogas. Sabia como as coisas funcionavam.
Atualmente todos os presos estudam e metade trabalha. Trouxemos as famílias dos detentos ao presídio e a associação conseguiu comprar um terreno em que os familiares podem plantar.
Com isso, a taxa de reincidência no presídio caiu muito. Para cada cem presos que voltam ao convívio social, só dois reincidem. Acho que eles viram esperança na minha história. Pensam que precisam estudar para ter um futuro diferente, como tive.

    Haddad critica 'vaidade' policial e diz que há delegado citado em esquema

    folha de são paulo
    MÁFIA DO ISS
    Haddad critica 'vaidade' policial e diz que há delegado citado em esquema
    Acusada de omitir dados, gestão petista levanta suspeita e afirma que Controladoria é 'mocinha'
    Corregedoria da Polícia Civil enviou pedido formal à prefeitura para saber sobre ligação de policial com fiscais
    DE SÃO PAULOO prefeito Fernando Haddad (PT) criticou ontem a cobrança de informações da polícia de São Paulo sobre a máfia do ISS e revelou haver um delegado investigado por envolvimento no esquema.
    A afirmação do petista foi feita após José Eduardo Jorge, titular da 2ª Delegacia de Crimes Contra a Administração, dizer à Folha que a prefeitura está omitindo informações pedidas há seis meses sobre servidores suspeitos de enriquecimento ilícito.
    A gestão Haddad afirma que os pedidos foram genéricos e que há colaboração de órgãos policiais no caso.
    Após a prisão de quatro auditores no último dia 30 acusados de integrar uma quadrilha que dava desconto no ISS em troca de propina, a polícia decidiu abrir 12 inquéritos paralelos ao trabalho da prefeitura e da Promotoria.
    Haddad disse que o trabalho da Controladoria-Geral do Município e do Ministério Público não pode ser refém de "vaidade".
    "Estamos fazendo o jogo do bandido. A Controladoria é a mocinha da história."
    "Existe o depoimento de uma testemunha, cujo anonimato está garantindo sua segurança, de que há um delegado envolvido com a máfia do ISS. Mas isso não tem nada a ver com o que foi dito hoje [pelo delegado à Folha]. O Ministério Público já sabe e está investigando o caso" declarou Haddad.
    O petista não disse quem é o delegado. Afirmou somente que a investigação nada tem a ver com Eduardo Jorge.
    O prefeito se refere ao depoimento de testemunha batizada de "Alpha". Ela disse ter ouvido de Ronilson Bezerra Rodrigues que um delegado de polícia vendia informações para a máfia do ISS.
    Após as declarações do prefeito, a Corregedoria da Polícia Civil enviou um pedido à prefeitura para que sejam enviadas informações sobre o envolvimento do policial. "Assim que a Corregedoria receber os dados, abrirá investigação", diz nota da polícia.
    Para Haddad, a afirmação do delegado de que a polícia fez ao menos três solicitações à prefeitura sobre os servidores para investigá-los é uma tentativa de colocar uma "névoa" nos resultados obtidos.
    "Em vez de celebrarmos o êxito das investigações estamos promovendo uma discussão menor. Um trabalho tão bonito não pode se render à vaidade de uma pessoa."
    A polícia abriu investigação em maio após o controlador Mário Spinelli dizer à revista "Veja" que havia servidores com bens incompatíveis com suas rendas.
      MÁFIA DO ISS
      Testemunha afirma que delegado vendia informações para fiscais
      Segundo ela, policial exigiu R$ 7.000 de cada funcionário investigado para fornecer dados
      Depoimento não detalhou período, nome nem cidade; Corregedoria da Polícia Civil já foi acionada
      DE SÃO PAULOTestemunha ouvida pelo Ministério Público de São Paulo disse que um delegado de polícia vendia informações para a máfia do ISS.
      Batizada de "Alpha", para a preservação do verdadeiro nome, a testemunha disse ter ouvido de Ronilson Rodrigues, apontado como chefe do esquema, que um outro auditor conseguia apurar na Polícia Civil a existência de investigações em andamento.
      Afirmou ainda que certa vez esse auditor descobriu existir uma investigação contra "vários auditores fiscais" e "o delegado de polícia" exigiu R$ 7.000 de cada "funcionário público investigado" para fornecer informações.
      "[A testemunha] sabe dizer que alguns fiscais pagaram, inclusive Ronilson e [Eduardo] Barcellos. Não sabe indicar qual o departamento policial envolvido", afirma um trecho do depoimento, que foi obtido pela Folha.
      Ela também não detalhou em que época os fatos teriam ocorrido, além do nome e da cidade do delegado.
      Ontem, a Polícia Civil acionou a Corregedoria para efetivar eventuais medidas legais e administrativas.
      FLATS
      A Promotoria decidiu requisitar à Justiça o bloqueio judicial dos três flats vendidos para três auditores fiscais investigados na máfia do ISS --que pode ter causado um rombo de R$ 500 milhões aos cofres do município.
      Os imóveis foram adquiridos do empresário Marco Aurélio Garcia --irmão de Rodrigo Garcia, ex-secretário da gestão Gilberto Kassab (PSD) e atual secretário de Desenvolvimento do governo Geraldo Alckmin (PSDB).
      A suspeita do promotor Roberto Bodini é que eles tenham sido adquiridos de Garcia como forma de lavagem de dinheiro obtido através de atividades criminosas.
      Garcia será investigado, já que as três compras não foram registradas em cartório.
      O advogado de Garcia, Rogério Cury, informou, por meio de nota, que não existiu nenhuma ilegalidade na venda dos imóveis. Afirmou ainda que seu cliente não tinha "relacionamento próximo" com Ronilson.

        Um exemplo em pesquisa e tecnologia - Julio Abramczyk

        folha de são paulo
        PLANTÃO MÉDICO
        JULIO ABRAMCZYK - julio@uol.com
        Um exemplo em pesquisa e tecnologia
        O Instituto Butantan, criado em 1901 por Vital Brazil para a produção do soro antiofídico, vai comemorar trinta anos do seu Centro de Biotecnologia, criado pelo professor Isaias Raw.
        Esse importante setor do instituto é um dos cinco centros produtores de vacina no mundo. A sua importância está relacionada não só ao desenvolvimento de vacinas mas principalmente à criação de tecnologias próprias para a sua produção.
        Dessa forma, evitou a importação das conhecidas caixas pretas cujas patentes impedem a transmissão do conhecimento científico e tecnológico aos países em desenvolvimento.
        Raw afirmou, em abril, que uma medida provisória aprovada pelo Congresso permite importar vacina a granel, como se não fosse possível inovar, desenvolver tecnologia e produzir no Brasil.
        Nesses últimos 30 anos, acrescentou, o Butantan produziu com tecnologia própria cerca de 900 milhões de doses de vacina de coqueluche, difteria, tétano e hepatite B, que foram aplicadas com eficácia e segurança em bebês.
        No dia 2 próximo, um simpósio marcará a efeméride. Serão abordados o desenvolvimento de anticorpos monoclonais, a vacina recombinante BCG-pertussis para recém-nascidos, o surfactante de baixo custo e a genômica.
        O atual presidente da Fundação Butantan, mantenedora do Centro de Biotecnologia, é Jorge Kalil, titular de Imunologia Clínica da Faculdade de Medicina da USP.

          Acordo para proteção de florestas é fechado

          folha de são paulo

          Países reunidos na conferência do clima da ONU acertam regras para o pagamento pela conservação de mata em pé
          Nações que receberão recursos deverão comprovar resultados de conservação com dados de satélite
          GIULIANA MIRANDAENVIADA ESPECIAL A VARSÓVIA
          Contrariando a maior parte das expectativas, a 19ª Conferência Mundial do Clima, em Varsóvia, termina neste fim de semana com um resultado prático: o estabelecimento de regras para o pagamento pela proteção de florestas, o chamado Redd+ (Redução de Emissões por Desmatamento).
          Os países chegaram a um consenso sobre a origem do dinheiro, a metodologia para avaliar o resultado e as ferramentas para aumentar a transparência dos dados sobre a conservação. Agora, dizem os países, o Redd+ tem tudo para decolar.
          "Estou orgulhoso dessa conquista concreta", disse o presidente da COP-19, o polonês Marcin Korolec.
          A falta de consenso no assunto era antiga, com interesses conflitantes entre países ricos e pobres e entre as nações a serem beneficiadas.
          Foram mais de sete anos até se chegar ao acordo de ontem, que foi aprovado em uma plenária cheia de discursos otimistas e encerrada com uma salva de palmas.
          As propostas aprovadas estão bem próximas daquilo que o governo brasileiro havia anunciado como os objetivos do país.
          A origem dos recursos era um dos grandes freios das discussões. Foi acertado que os projetos de redução de emissões por desmatamento poderão usar diversos tipos de capitalização, mas o Fundo Verde do Clima --criado na COP de 2010 para servir como canal de financiamento-- deverá ter um "papel-chave" nesse processo.
          Segundo os negociadores brasileiros, a definição do Fundo Verde do Clima como um dos pilares do Redd+ garante a "continuidade dos recursos destinados aos projetos de conservação".
          A capitalização para o fundo só começa em 2014, mas o Redd+ já conseguiu recursos significativos. Os governos dos EUA, da Noruega e do Reino Unido anunciaram um pacote de US$ 280 milhões para projetos de conservação.
          Os países também concordaram que as nações que queiram receber recursos pelo mecanismo devem atender recursos mínimos de transparência e de rastreabilidade dos resultados de suas ações.
          Ficou decidido que os países terão de usar referenciamento por satélite para provar os resultados.
          Além disso, os mecanismos de monitoramento também deverão ser submetidos a um painel internacional, que precisará referendá-lo.
          VENDA, NÃO
          A polêmica sobre o chamado "offsetting" --um país poder "comprar" a redução de emissões causada pelas ações de preservação de um outro-- foi empurrada para frente.
          O texto não prevê que o carbono não emitido pelo desmatamento possa ser comercializado. Mas, como também não há proibição explícita, é possível que a venda seja autorizada em negociações futuras sobre os mecanismos de mercado da convenção da ONU.
          EUA e outros países desenvolvidos querem poder comprar esses créditos. Isso permitiria que, se eles não conseguissem cumprir metas de redução de emissões, poderiam compensar comprando créditos de emissões evitadas pela proteção de florestas em outros países.
          A delegação brasileira é contra essa ideia. "Isso só faria com que os países ricos ficassem menos comprometidos em reduzir suas emissões. Em vez de evitarem por conta própria, comprariam os esforços de outros países."

          FLORESTA EM PÉ
          O MECANISMO
          O Redd+ (Redução de Emissões por Desmatamento) é um mecanismo de compensação financeira pela conservação de florestas. Apesar de já ter sido usado de maneira informal em projetos de conservação florestal para compensar emissões de carbono, ainda não tinha uma regulamentação aceita entre todos os países.
          O QUE FALTAVA?
          Faltavam regras estabelecidas entre todos os países que unificassem o que é permitido dentro do mecanismo Redd+ e que permitissem que as nações ricas financiassem a manutenção de mata em pé pelos países em desenvolvimento com florestas dentro de seus territórios
          O QUE FOI ACERTADO
          As compensações financeiras em retribuição à conservação de florestas serão coordenadas em grande parte pelo Fundo Verde do Clima
          O pagamento será feito de acordo com resultados de conservação de cada país, que devem ser comprovados com dados de satélite
          A princípio, os países ricos não poderão usar o financiamento dado aos países em desenvolvimento para compensar emissões de poluentes que superem suas metas, mas essa possibilidade está em aberto

          Não me arrependo do que fiz, aceitei correr os riscos

          folha de são paulo
          ENTREVISTA ANA PAULA MACIEL, 31
          Ativista brasileira detida por dois meses na rússia conta sua rotina e reclama do 'terror psicológico' que é estar dentro de uma prisão
          LEANDRO COLONDE LONDRESA bióloga brasileira Ana Paula Maciel, 31, afirma que não se arrepende de ter feito parte do protesto do Greenpeace que a levou a ficar dois meses presa na Rússia.
          Em entrevista por telefone à Folha, Maciel, libertada nesta semana sob fiança, diz que foi bem tratada na prisão, primeiro em Murmansk, depois em São Petersburgo.
          Mas reclama do "terror psicológico" que é ficar detida. Ela teve de conviver com luzes acesas e barulho 24 horas por dia.
          Ao lado de 29 ativistas, a ativista foi presa no dia 19 de setembro, durante um protesto no mar Ártico contra a exploração de petróleo.
          Mesmo libertada, ela terá de seguir no país até a sentença definitiva. Pode ser condenada por vandalismo e pirataria, crimes que chegam a 15 anos de prisão.
          Folha - Como foram esses dois meses de prisão?
          Ana Paula Maciel - Os primeiros dias foram os mais difíceis, em Murmansk, porque é realmente um terror psicológico não poder fazer absolutamente nada do que você tem vontade. As luzes ficavam acesas 24 horas por dia na cela, você não podia escolher ficar em silêncio.
          Qual a maior dificuldade que você enfrentou na cela?
          Não poder dormir no escuro e no silêncio, já que a luz ficava 24 horas acesa e um rádio permanecia ligado no corredor. Nunca estávamos em completo silêncio e escuridão. Nunca pensei que fosse me sentir tão bem agora, podendo dormir no escuro e em silêncio.
          Em algum momento de reflexão, você se arrependeu de ter feito esse protesto? As autoridades russas apontam que vocês cometeram crimes de vandalismo e pirataria.
          Não me arrependo, porque para mudar as coisas, para fazer um mundo melhor, é preciso passar por riscos e aceitei os riscos. Acho que nós fizemos um protesto pacífico, como fazemos há 40 anos, com o Greenpeace.
          Não sentiu falta de casa? Se você não tivesse ido ao protesto, poderia estar em casa hoje.
          Na verdade, se eu estivesse sentada na comodidade do meu sofá, na minha casa, nada disso teria acontecido. Mas, ao mesmo tempo, nada teria mudado também, nenhuma pessoa teria conhecimento dos problemas da exploração do petróleo no Ártico para o mundo.
          Eu não sou uma pessoa assim; sempre procurei uma razão para minha vida. E encontrei essa razão, que é defender os que não têm como se defender, como a vida selvagem do Ártico.
          Como era a rotina na prisão?
          Em Murmansk, era uma cela de 5 x 2 metros, com vaso sanitário, uma pia, beliche e uma mesa pequena --eu até fiz um desenho. Assistia a um pouco de televisão e a um canal de música, tipo uma MTV russa, e acho que isso nos trouxe um alento porque ajudava a pensar.
          Uma vez tocou minha música favorita, "Safe and Sound", da banda Capital Cities, enquanto escrevia para minha mãe, coincidência.
          Eu li muito também, li "Dom Casmurro" (Machado de Assis), uma coletânea do Oscar Wilde, livros dados pela Embaixada do Brasil. E o Greenpeace nos comprou muitos livros e os doou à biblioteca da prisão. Podíamos pegá-los, alguns em espanhol, outros em inglês.
          A prisão era perigosa? Você sofreu alguma ameaça?
          Em nenhum momento tive medo. Os guardas sempre foram gentis conosco. Dentro do possível, eles sempre atenderam a nossos pedidos. Se sentíamos frio, eles aumentavam a calefação, levavam cobertores.
          E como você vê a possibilidade de ser condenada pela Justiça russa e não voltar tão cedo para casa?
          O caso não está acabado. Continuo achando que foi exagerada a reação do governo russo por uma manifestação pacífica. Não cometi nenhum crime, não houve vandalismo nem pirataria, como querem nos acusar. Falei na corte russa muitas vezes: se a Justiça russa é justa, não tenho que ter medo de ser condenada.
          Passa pela sua cabeça que pode voltar para a prisão?
          Trabalho com essa possibilidade. Se acontecer, o que tiver que ser será. É assim que eu trabalho: tudo que acontece na minha vida tem uma razão. Tento fazer meu melhor dentro das oportunidades que a vida me oferece. Tenho orgulho de ter participado de tudo isso, nunca machuquei ninguém. Não sou um perigo para a sociedade.
          O governo brasileiro fez o que deveria para ajudá-la?
          O apoio foi impressionante. Sei que a presidente Dilma Rousseff pediu para o ministro das Relações Exteriores [Luiz Alberto Figueiredo] encontrar uma solução. No dia em que fui libertada, ele me telefonou.
            Corte da ONU manda Rússia libertar ativistas
            DAS AGÊNCIAS DE NOTÍCIASO Tribunal Internacional do Direito Marítimo, órgão da ONU com sede em Hamburgo (Alemanha), ordenou ontem a libertação pela Rússia do navio Arctic Sunrise e de sua tripulação.
            O navio, de bandeira holandesa, foi apreendido no mar Ártico em 19 de setembro durante um protesto do Greenpeace contra a exploração de petróleo pela estatal russa Gazprom.
            Os 30 membros da tripulação foram detidos, acusados de vandalismo e de pirataria --24 já saíram da prisão após o pagamento de fiança.
            No mês passado, a Holanda entrou com ação no tribunal para reaver o navio.
            A sentença determina que o navio e a tripulação possam deixar o território e as zonas marítimas sob jurisdição russa. Em troca, a Holanda deve pagar uma garantia de € 3,6 milhões (cerca de R$ 11,2 milhões) à Rússia.
            A Rússia, que não participou do procedimento lançado pelo tribunal, informou que não reconhece as suas determinações.
            "A Rússia considera que o caso do Arctic Sunrise não está dentro da jurisdição do Tribunal Internacional do Direito Marítimo", relatou comunicado do Ministério das Relações Exteriores.
            Para a corte, a ausência da defesa russa no caso "não constitui um empecilho ao processo e não impede a determinação de medidas provisórias pelo tribunal".
            Jasper Teulings, do Greenpeace, disse esperar que a Rússia "respeite o tribunal, como já fez anteriormente".

              Roseana inaugurou 29 dos 72 hospitais que prometeu

              folha de são paulo
              O ESTADO DA FEDERAÇÃO - MARANHÃO
              Governo diz que 14 estão atrasados, e os restantes aguardam equipamentos
              Oposição afirma que a entrega dos hospitais não tem garantido atendimento adequado ao público do Estado
              REYNALDO TUROLLO JR.DE SÃO PAULOApesar da receita em elevação e da dívida sob controle, o governo Roseana Sarney (PMDB-MA) enfrenta dificuldades para cumprir sua principal promessa de campanha: entregar 72 hospitais em pleno funcionamento.
              Reeleita em 2010 em eleição apertada, Roseana prometera os hospitais ainda para aquele ano, pois já havia iniciado as obras. Passados três anos, inaugurou 29.
              A Saúde estadual diz que 14 unidades estão atrasadas porque houve rescisões de contratos de obras. Os restantes aguardam equipamentos.
              A oposição afirma que a entrega dos hospitais não tem garantido atendimento adequado ao público do Estado.
              Para equipar as unidades e acelerar as entregas, a gestão recorreu ao BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).
              É também com recursos do banco que Roseana aposta fichas na ampliação de projetos privados de infraestrutura --no total, foram R$ 3,8 bilhões tomados do banco.
              INFRAESTRUTURA
              O secretário de Planejamento, João Bernardo Bringel, exalta a "política agressiva" de captação de investimento privado da gestão.
              Entre os maiores projetos privados estão a instalação da refinaria Premium da Petrobras, em Bacabeira, e da fábrica da Suzano Papel e Celulose, em Imperatriz.
              A destinação crescente de verbas à Secretaria de Infraestrutura também tem gerado críticas da oposição.
              Isso porque o titular da pasta, Luis Fernando Silva (PMDB), deve ser candidato ao governo do Estado em 2014, com apoio de Roseana.
              "O secretário entrega as obras e vai estar com o caixa cheio no ano da eleição", diz o deputado federal Domingos Dutra, ex-petista e hoje no recém-criado Solidariedade.
              Além de quase triplicar as despesas com infraestrutura, o projeto de orçamento para 2014 enviado à Assembleia por Roseana indica cortes em educação e segurança.
              E a segurança é hoje um dos principais problemas da gestão. A taxa de homicídios no Estado avançou 17% em 2012 e houve casos recentes de ataques de facções criminosas contra policiais.
              Segundo o titular do Planejamento, áreas dependentes de verbas da União, como educação, tiveram orçamento reduzido devido à expectativa de repasses federais menores em 2014. "Mas estará mantido o mínimo constitucional." Já a Segurança, afirma ele, terá investimento de R$ 100 milhões até 2015.
              Os gastos com pessoal da gestão subiram 70% em 2013 ante 2011 --alta que o governo atribui à aprovação do plano de cargos dos servidores. O plano garantiu relativa tranquilidade nas relações com o funcionalismo: o sindicato é ligado à CUT e ao vice-governador Washington Luiz (PT).
              No cenário eleitoral, o candidato do governo deverá enfrentar no próximo ano o atual presidente da Embratur, Flávio Dino (PC do B). Rival histórico da família Sarney, Dino foi o segundo colocado nas eleições de 2010.
              O papel do PT em 2014 é incerto. O partido tem o vice de Roseana, mas alguns líderes defendem o apoio a Dino.
                RAIO-X
                Série especial analisa gestões nos estados
                A reportagem sobre o Maranhão faz parte de uma série especial iniciada em agosto. Nela, a Folha produz um raio-X das gestões dos 26 Estados e do Distrito Federal. A ideia é avaliar a aplicação dos recursos e o cumprimento das promessas de campanha dos governadores.

                Genoino não teve infarto na prisão, afirma hospital

                folha de são paulo
                Jamais deixarei a vida política, diz deputado a revista
                DE SÃO PAULOO deputado federal licenciado José Genoino (PT-SP) disse que, mesmo preso, não pretende deixar a política.
                "Jamais deixarei a vida política. Posso ter que mudar a forma, o local e o uniforme, mas o sentido da minha vida é lutar por sonhos e causas" afirmou à revista "IstoÉ".
                A entrevista foi feita dentro do presídio da Papuda, anteontem, no Distrito Federal, pouco antes dele ser transferido para um hospital depois de passar mal.
                "Não cometi nenhum crime. Estou preso porque era presidente do PT. Por isso sou um preso político", declarou.
                O deputado também revelou que o momento mais tenso do julgamento do mensalão foi a dosimetria, quando o tamanho das penas foi definido: "Fui condenado por corrupção sem nunca ter mexido com dinheiro".
                Ele também negou a formação de quadrilha. "Nós, no PT, não nos associamos para cometer crimes, e sim para mudar a realidade do Brasil".
                Foi a primeira entrevista de Genoino desde que ele se entregou, no dia 15, para começar a cumprir a pena por sua participação no mensalão.
                IMAGENS TERRÍVEIS
                O ex-presidente do PT disse que quando chegou à prisão, lembrou das "imagens terríveis" de suas prisões na ditadura --ele foi preso e torturado duas vezes durante o regime militar. "A sensação de estar preso injustamente é a mesma", declarou.
                O deputado disse ainda que nunca pensou em fugir do Brasil e criticou a transferência dos presos a Brasília. "Ficamos quatro horas em um pátio porque não sabiam onde nos colocar", disse o deputado. "Se não sabiam onde nos colocar, por que nos fizeram viajar?", acrescentou.
                Genoino deu detalhes ainda sobre as suas condições de saúde. Ele afirmou que precisa fazer uma biópsia porque está cuspindo sangue e sofre com palpitações, dores nas pernas e alteração na voz.
                  Segundo boletim médico, ex-presidente do PT sofreu crise de pressão alta
                  Petista será examinado hoje por junta médica convocada pelo STF, que analisa pedido de prisão domiciliarp(kicker red). Mensalão as prisões
                  DE BRASÍLIAO boletim médico divulgado ontem pelo Instituto de Cardiologia do Distrito Federal descartou que o deputado federal licenciado e ex-presidente do PT José Genoino, condenado no mensalão, tenha sofrido infarto enquanto estava preso e o diagnosticou com crise de pressão alta.
                  Hoje, um grupo de médicos irá examiná-lo e enviará um relatório para o presidente do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa, que irá decidir o local onde o deputado cumprirá sua pena.
                  O advogado de Genoino, Luiz Fernando Pacheco, havia pedido que seu cliente deixasse a penitenciária da Papuda e ficasse em prisão domiciliar por questões de saúde.
                  Barbosa atendeu parcialmente ao pedido ao permitir que ele fique no hospital ou faça tratamentos de saúde em casa até que a junta médica avalie seu quadro clínico.
                  A junta é composta por cinco médicos ligados à UnB (Universidade de Brasília). Eles foram indicados pela superintendência do Hospital Universitário de Brasília e pela direção da faculdade de medicina da universidade.
                  Folha apurou que Genoino passou a tarde na companhia da mulher e se sentia melhor que no dia anterior.
                  A nota do Instituto de Cardiologia diz que "foi descartado infarto agudo do miocárdio e diagnosticada elevação dos níveis pressóricos (pressão arterial), que podem comprometer o resultado da cirurgia de correção de dissecção da aorta, e alteração de coagulação secundária ao uso de anticoagulante, que aumenta o risco de sangramentos".
                  Genoino sofre de problemas cardíacos e passou por uma cirurgia em julho. O boletim diz ainda que o "paciente encontra-se estável e deverá permanecer internado até o controle adequado da pressão arterial e dos parâmetros da coagulação".
                  Anteontem, quando estava na Papuda, o deputado passou mal e recebeu o primeiro atendimento no presídio. O médico do próprio sistema prisional resolveu transferi-lo para um hospital.
                  Em um primeiro momento, o advogado de Genoino havia dito que o petista sofrera um princípio de infarto. Ontem, por meio de carta, ele afirmou que seu cliente havia sido internado às pressas por "suspeita" de infarto.
                  O senador José Sarney (PMDB-AP) visitou ontem Genoino no hospital e afirmou que ele estava "bem, mas muito abatido".
                  "Quando estive internado no Incor, ele foi duas vezes me visitar. Vim fazer uma visita de cortesia para retribuir e cumprir os deveres da amizade", disse Sarney.
                  O ex-presidente do PT foi condenado a 4 anos e 8 meses de prisão por corrupção ativa e a 2 anos e 3 meses por formação de quadrilha.
                  Ele continua a receber o salário de deputado, de R$ 26,7 mil, mas está licenciado por motivos de saúde.
                  A Câmara deve decidir na próxima semana o que fazer com seu mandato. Outra junta médica deve examiná-lo para fazer um laudo relativo ao pedido dele de aposentadoria por invalidez.

                    Editora relança 'Teatro do Oprimido' e obras de referência mundial de Augusto Boal

                    folha de são paulo

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                    NELSON DE SÁ
                    DE SÃO PAULO

                    "A outra música que te mando é um chorinho de Francis Hime com letra minha. Fiz pra você. A gravação é precária, Francis e eu às 4h da manhã, alegres demais. Por incrível que pareça, passou na censura. Fiz umas mutretas na letra, eles não entenderam nada e aprovaram. Quando sair o disco, vão ficar puto dentro das calças."
                    Era Chico Buarque, em trecho de uma carta para Augusto Boal (1931-2009), no exílio em Portugal. "Meu Caro Amigo", que saiu em disco em 1976, junto com "Mulheres de Atenas", parceria de Chico e Boal também citada na carta, se transformaria em hino contra a ditadura militar:
                    "Meu caro amigo, me perdoe, por favor/ Se não lhe faço uma visita/ Mas como agora apareceu portador/ Mando notícias nessa fita/ Aqui na terra tão jogando futebol/ Tem muito samba, muito choro e rock'n'roll/ Uns dias chove, noutros dias bate sol/ Mas o que eu quero é lhe dizer que a coisa aqui tá preta".

                    Augusto Boal

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                    O dramaturgo carioca Augusto Boal (1931-2009), fundador do Teatro do Oprimido
                    Boal relatou depois que ouviu a fita ao lado da mulher, Cecília, e de Paulo Freire, Darcy Ribeiro "e outros amigos exilados". A carta faz parte do acervo do diretor e teórico de teatro, que no momento está sendo catalogado e pode resultar na edição dos inéditos pela Cosac Naify.
                    DITADURA, 50
                    A editora está dando início a uma coleção de Boal com "Teatro do Oprimido e Outras Poéticas Políticas", a sua principal obra teórica. No ano que vem, para o 50º aniversário da ditadura, em abril, sairá "Hamlet e o Filho do Padeiro", livro de memórias, esgotado há uma década.
                    Milton Ohata, coordenador editorial, diz que a Cosac está avaliando a publicação de inéditos e que ele próprio já foi até o acervo, na Universidade Federal do Rio de Janeiro, na ilha do Fundão. "Está em processamento, separando por gênero, correspondência etc. Tem bastante coisa. Por enquanto ainda não dá porque é um mundo, precisa selecionar o material."
                    Mas a ideia é, "em todas as edições e reedições, colocar material inédito". No caso de "Jogos para Atores e Não Atores", que será relançado no segundo semestre de 2014, deve ser um texto "transcrito pelo Boal de uma aula que ele deu, na temporada que passou na Royal Shakespeare Company, explicando o Teatro do Oprimido aos atores".
                    A psicanalista Cecília Boal, viúva do diretor e fundadora do Instituto Augusto Boal, diz que "ainda não se falou disso", mas confirma que "no futuro a gente pode publicar inéditos que estão no acervo". Destaca as cartas trocadas com Carlos Porto, "teórico do teatro que ajudou muito o Boal em Portugal", e com o crítico Sábato Magaldi.
                    GUARNIERI, LULA
                    "O professor Eduardo Coelho, encarregado do acervo, me disse que encontrou até uma carta da [bailarina e diretora alemã] Pina Bausch", conta Cecília.
                    Professor da Faculdade de Letras da UFRJ, é um especialista que antes chefiou o Arquivo-Museu de Literatura Brasileira da Fundação Casa de Rui Barbosa.
                    "O acervo tem muitos textos de caráter mais teórico inéditos", diz Coelho. "Tem muitas crônicas de Boal que nunca foram recolhidas. E existem algumas peças que ele escreveu. Além das correspondências, que estão todas inéditas, do período na Argentina, em Paris. Tem carta do [dramaturgo Gianfrancesco] Guarnieri, do Lula, do [poeta] Ferreira Gullar."
                    Dos textos teóricos inéditos, ressalta aqueles em que, já nos anos 1980, Boal "trata o teatro no contexto de uma cultura maior, como formador de um processo de conscientização política". Foi um período de muitas palestras dele pela América Latina e de sua experiência como vereador pelo PT, no Rio.
                    É dessa época uma outra obra prevista para reedição, "Teatro Legislativo", que poderá sair num único volume ao lado de "Teatro como Arte Marcial".
                    A Cosac Naify programa ainda reeditar as suas peças _a partir dos dois volumes do "Teatro de Augusto Boal" que saíram em 1986 pela Hucitec, também já esgotados.
                    TEATRO DO OPRIMIDO
                    AUTOR Augusto Boal
                    EDITORA Cosac Naify
                    QUANTO R$ 39,90 (224 págs.)

                    José Simão

                    folha de são paulo
                    Ueba! A Papuda é um roubo!
                    E o Alckmin Picolé de Chuchu devia processar duas coisas: a turma do Serra e o xampu antiqueda!
                    Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Fim de semana animado: Interlagos, Maracanã e Papuda! Esse presídio da Papuda é uma exploração! Vocês viram os preços da cantina do semiaberto? Cigarro: R$ 10. Copo de Coca-Cola: R$ 3. Copo d'água: R$ 2! Mais caro que o frigobar do Park Hyatt de Tóquio!
                    A Papuda tem que ser presa. Prática de preços extorsivos. A PAPUDA É UM ROUBO! Precisa ser milionário pra ficar preso! Tem que ter mensalão pros mensaleiros! Bolsa-Papuda!
                    E a visita-bullying do Suplicy? O Redator Bipolar diz que quando o Suplicy começou a cantar, houve suicídio em massa na Papuda. Era só preso enforcado. Rarará!
                    E o chargista Fausto diz que no Brasil tá tendo tanto mensalão (mensalão petista, mensalão tucano) que virou um IMENSALÃO! Rarará!
                    E um leitor me disse que Genoino e Dirceu, ambos têm problema de saúde: o Genoino é cardiopata e o Dirceu é psicopata. Ops, psicocisne! Rarará!
                    Amanhã, Interlagos! Sabe o que o Felipe Amassa devia fazer em Interlagos? VENDER BATIDA! Rarará.
                    E a Fórmula 1 devia mudar de nome pra Fórmula do UM: Vettel!
                    E os pilotos gringos só querem saber de duas coisas em São Paulo: churrascaria e casa de entretenimento. Ou seja, churrasco e quenga. Ou seja, vieram pra comer!
                    E amanhã o Galvão entra em erupção! Ele vai transmitir? Não, ele vai gritar! Aliás, tentar gritar. Porque tá mais rouco que a foca da Disney. Os "Rs" acabaram com a garganta do Galvão! E eu sempre digo que a melhor profissão do mundo é piloto: trabalha deitado, roda até ficar tonto e quando perde, bota a culpa no carro! Rarará!
                    E depois Maracanã: Flamengo x Corinthians. Urubu x Gambá! Vixe, só bicho que fede! O jogo devia ser no lixão. No lixão da Mãe Lucinda! Rarará!
                    E é claro que todos estão falando que os arrastões no Rio eram pra comprar ingresso pro Flamengo! Rarará! É mole? É mole, mas sobe!
                    E uma pergunta inconveniente: por que corrupção de tucano se chama cartel? Supostos tucanos praticam suposto roubo chamado suposto cartel. Isso posto, Papuda neles! Rarará! Não tem virgem na zona!
                    E o Alckmin Picolé de Chuchu quer processar todo mundo! O Alckmin devia processar duas coisas: a turma do Serra e o xampu antiqueda! Processa a turma do Serra! Rarará.
                    Nóis sofre, mas nóis goza.
                    Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

                    Biblioteca Nacional cancela prêmio após 1 ano de atraso

                    folha de são paulo
                    45 instituições concorriam ao Vivaleitura, para projetos de incentivo à leitura
                    Fundação diz que faltou respaldo legal, em edital, sobre fonte de recursos; finalista diz que viveu transtorno
                    RAQUEL COZERCOLUNISTA DA FOLHAA Fundação Biblioteca Nacional (FBN) cancelou ontem o edital de 2012 do Prêmio Vivaleitura, que estipulava o pagamento de um total de R$ 540 mil a 18 escolas, bibliotecas e ONGs responsáveis por projetos bem-sucedidos de incentivo à leitura.
                    Há 11 meses, 45 instituições anunciadas como finalistas concorriam a esses 18 prêmios, de R$ 30 mil cada um.
                    Nesse período, os responsáveis pelos 45 projetos foram convocados e desconvocados três vezes para a cerimônia de entrega, que aconteceria em um hotel em Brasília.
                    Segundo a pedagoga Dinorá Couto Cançado, finalista pelo projeto "Luz e Autor em Braille", para inclusão de cegos por meio da leitura, em Taguatinga (DF), a indefinição causou transtornos.
                    "Da primeira vez que marcaram o evento, eu ia iniciar um tratamento de saúde e adiei para não perder a cerimônia. Foram vários adiamentos até eu parar de receber notícias", ela disse.
                    Ontem, os finalistas receberam e-mails da Biblioteca Nacional informando que o prêmio foi anulado "em função de sua ilegalidade".
                    O argumento é que a portaria que instituiu o prêmio, de 2005, determinava que não poderiam ser aplicados à premiação "quaisquer recursos orçamentários de contrapartida da União", enquanto o edital de 2012 previa como fonte de recursos o Fundo Nacional de Cultura, mecanismo de financiamento do Ministério da Cultura.
                    Criado em 2005 numa parceria entre o governo federal e a Organização dos Estados Ibero-americanos para a Educação, a Ciência e a Cultura (OEI), o prêmio só poderia ocorrer mediante patrocínio.
                    Foi assim até 2011, quando a espanhola Fundação Santilliana avisou que não mais arcaria com as despesas.
                    Mas em 2012 a Fundação Biblioteca Nacional decidiu manter e ampliar a premiação, que passou de R$ 90 mil (R$ 30 mil para três vencedores) a R$ 540 mil (R$ 30 mil para 18 instituições).
                    Galeno Amorim, presidente da FBN na ocasião, informa que não só havia verba (que seria paga via convênio com a Universidade de Brasília, usando recursos do MinC) como respaldo para o uso do Fundo Nacional de Cultura.
                    Isso seria possível devido ao decreto 7.559/2011, que estipulava que o MinC e o MEC criariam novas regras para o Vivaleitura. Esse decreto, diz Galeno, permitiria a criação de nova portaria autorizando o uso de verbas federais.
                    O atual presidente da FBN, Renato Lessa, diz que uma nova portaria não poderia ter efeito retroativo, não podendo, portanto, reger um edital já publicado.
                    O Ministério da Cultura informa que haverá novo edital para o prêmio em 2014.
                      Setor de livro e leitura será mantido até março
                      DA COLUNISTA DA FOLHA
                      Passados oito meses da decisão de Marta Suplicy de retirar as políticas federais de livro e leitura da Fundação Biblioteca Nacional (FBN), a diretoria responsável pela área continua legal e fisicamente alocada dentro da instituição.
                      Essa situação não deve se resolver antes de março, quando se completa um ano do anúncio da divisão.
                      "As questões políticas e administrativas já foram debatidas e acordadas com a ministra e seguem os ritos burocráticos: decretos e instruções administrativas que viabilizarão essa operação", diz José Castilho Marques Neto, secretário-executivo do Plano Nacional do Livro e Leitura, área responsável pelas políticas de livro e leitura
                      Com a demora, o que garante algum andamento na área é um "acordo informal", diz Renato Lessa, presidente da Biblioteca Nacional. "Tudo o que a diretoria de livro e leitura faz hoje, faz como parte da FBN. Temos um acordo pelo qual a diretoria tem autonomia, mas decidimos em conjunto porque sou o responsável pelo orçamento."
                      Com isso, tudo se resolve a passos lentos. Não houve neste ano, por exemplo, os editais de criação e circulação literária, sob responsabilidade da área de livro e leitura.
                      A mesma coisa do lado que permanecerá na biblioteca. Anunciadas há anos, as obras na sede e no anexo da instituição, localizados no centro e na zona portuária do Rio, devem começar só em 2014.

                      Rapper afegã participa de festa literária em comunidade do Rio

                      folha de são paulo
                      Paradise Sorouri, que denuncia a misoginia em suas canções, faz debate e show na Flupp
                      A dupla 143Band, com seu noivo, o cantor Diverse, fala hoje em mesa com poeta afegão e se apresenta amanhã
                      MARCO AURÉLIO CANÔNICODO RIONão há profissão fácil na República Islâmica do Afeganistão, um dos países mais pobres e mais perigosos do mundo, mas decidir ser cantora, de um gênero ocidental (rap/hip hop), com letras feministas, é tornar-se pária.
                      "O que mais me incomoda é ver que mesmo as mulheres me xingam por algo que estou fazendo para elas. Sendo assim, o que esperar dos homens?", diz Paradise Sorouri, 28, rapper afegã que ganhou destaque internacional por suas canções que denunciam a misoginia do país.
                      Ela veio ao Rio acompanhada do noivo, o também rapper Ahmad Marwi, 27, para participar da Festa Literária das Unidades de Polícia Pacificadora (Flupp), que acontece na comunidade de Vigário Geral, na zona norte.
                      Ao lado do poeta afegão Suhrab Sirat, eles participam da mesa "Occupy Afeganistão", hoje, às 11h, e fazem o show de encerramento, amanhã, às 20h45.
                      Filhos de afegãos que se refugiaram no Irã durante os conflitos políticos da década de 1970, Paradise e Ahmad --que usa o nome artístico Diverse-- nasceram no país persa, mas sempre mantiveram laços com o Afeganistão, para onde se mudaram em 2007.
                      O casal se conheceu no ano seguinte, na Universidade de Herat, onde Diverse era professor de informática e Paradise, secretária.
                      "Começamos a namorar, o que era estritamente proibido em Herat, e formamos a 143Band", diz Diverse, que conversou por e-mail com a Folha, como sua noiva.
                      Cantando em persa --e em sua variante afegã, o dari--, o duo foi investindo suas economias na carreira.
                      O estilo e o visual do casal são claramente inspirados no modelo americano de hip-hop, o que é comprovado pelas influências que eles citam: Eminem, Jay Z, Tupac.
                      Paradise sentiu desde o início o perigo de se lançar na carreira artística num país onde a presença do Taliban ainda tem força: por questões de segurança, foi obrigada a desistir da universidade e se mudar para o Tadjiquistão.
                      "Eles me xingavam de puta' quando estava no palco, me olhavam feio, como se eu estivesse fazendo algo errado. Me tratavam muito mal."
                      Foi no país vizinho que gravou a canção "Faryade Zan" ("O Grito de Uma Mulher"), cujo vídeo mostra a rapper sendo sequestrada e torturada --algo que, felizmente, não chegou a acontecer.
                      "Já recebi muitas ameaças e fui agredida nas ruas, mas ainda não chegou a isso. Mas é algo que acontece com muitas mulheres no país, que são até vendidas", diz ela, que voltou ao Afeganistão após três anos e vive em Cabul.
                      Do Brasil, terceiro país em que se apresentam, não conhecem nada além de "futebol" e "selva", mas se dizem surpresos com o convite e felizes por "representar internacionalmente o Afeganistão".

                        André Singer

                        folha de são paulo
                        Justiça do espetáculo
                        Numa atitude que vem se tornando recorrente, o presidente do STF, Joaquim Barbosa, mais uma vez usou as prerrogativas de que dispõe para conturbar o delicado ambiente que envolve a ação penal 470. A maneira pela qual decidiu o início da execução das sentenças parece obedecer mais a fins de publicidade do que a necessidades objetivas.
                        Não se questiona aqui que condenações transitadas em julgado fossem executadas, ainda que diversos aspectos do processo permaneçam duvidosos. Mas o "modus faciendi" altera bastante o resultado final, dando conotação de parcialidade aos atos do ministro. Em lugar de amenizar os aspectos espetaculares das medidas, como seria de esperar caso houvesse preocupação profunda com o espírito da lei, ele os potencializou, em uma demonstração de que o janismo pode reaparecer onde menos se espera.
                        A entrevista de Marco Aurélio Mello, colega de tribunal, ao jornalista Josias de Souza, não deixa dúvida a respeito. Em primeiro lugar, não havia nenhuma necessidade de açodamento, disse Mello, em relação à execução das sentenças. Acrescente-se que, depois de uma sessão confusa na quarta, 13 de novembro, Barbosa ainda precisava explicar, no dia seguinte, ao plenário, qual era a situação de cada um dos condenados.
                        Não só não o fez, como, para surpresa geral --o que, aliás, é parte da "síndrome Quadros" que o atinge--, resolveu utilizar um feriado extenso, em que não há notícias para disputar o espaço noticioso nem mobilização para contestar o decidido, e colocar em presídio de segurança de Brasília um trio de altos ex-dirigentes do PT. O fato de ser a data da comemoração da República completa o simbolismo ideal para um possível futuro candidato a chefe do Executivo.
                        Em segundo lugar, afirma Marco Aurélio, Barbosa acabou por produzir uma desnecessária prisão provisória em regime fechado para cidadãos que tem direito ao semiaberto nos lugares em que residem. Caso os devidos ritos fossem cumpridos com calma, teria havido situação bem diferente, com os acusados livres ao menos durante o dia. Assim, além de ser ilegal a reclusão a que estão submetidos José Dirceu e Delúbio Soares, foi ameaçada gratuitamente a integridade de José Genoino, cuja frágil situação de saúde é de todos conhecida.
                        A concessão de tratamento em hospital ou domicílio a Genoino, anteontem, começou a reparar a série de abusos praticados no aparente intuito de causar sensação. Passada a fervura midiática e com a aparição de vozes divergentes em cena, espera-se que os demais atropelos também sejam corrigidos. Fica, no entanto, a impressão de que há um incendiário no comando, o que lança dúvidas sobre a condução que impôs a todo processo anterior.