sábado, 9 de novembro de 2013

Xico Sá

folha de são paulo
O país de Caça-Rato
No país do herói do Santa Cruz, alguns escapam graças ao futebol; muitos outros ficam no caminho
Amigo torcedor, amigo secador, no país de Caça-Rato, símbolo da sobrevivência e herói do time do Santa Cruz, tudo é diferente da fantasia e da modernidade que tentam nos vender a cada instante, a cada clique, a cada moda. No país de Caça-Rato, o menino Paulo Henrique, 9, nada de braçada no esgoto do canal do Arruda, como na foto de Diego Nigro (JC Imagem), que assombrou o mundo esta semana.
No país de Caça-Rato, alguns, como o próprio jogador, escapam graças ao futebol, ao funk, ao rap, ao pagode. Muitos outros ficam no caminho, caça-ratinhos fadados ao limbo dos refugos humanos ou às balas nada perdidas da polícia --quase sempre morte matada antes dos 30.
No país de Caça-Rato, vale o libelo da música de Chico Science, no rastro das imagens do médico e escritor Josué de Castro (1908-73): o homem-caranguejo saiu do mangue e virou gabiru.
No país de Caça-Rato, as vidas são desperdiçadas, velho Bauman, muito mais do que nos exemplos do teu livro sobre o tema. No país de Caça-Rato só há o barulho dos roedores em sinfonia (wagneriana) com a denúncia permanente das tripas.
Neste país, não se diz estou abaixo da linha da pobreza ou qualquer outra frieza estatística, neste país se diz simplesmente "tô no rato", o mesmo que estar lascado como um maxixe em cruz. O mesmo que estar na pele daquele roedor da fábula de Kafka, o bicho que vê o mundo cada vez mais estreito, sem saída à esquerda e muito menos à direita, restando apenas recorrer à orientação de um gato para não cair na ratoeira. O gato o orienta, civilizadamente, mas o abocanha na sequência.
No país de Caça-Rato, tudo é mesmo diferente. Estádio não é arena, não se sabe quem governa, e o Santa Cruz é muito mais que a seleção Brasileira. É a pátria dos pés-descalços, ouviram do canal do Arruda às margens fétidas e baldeadas.
O dialeto que se fala neste país não entra no Aurélio, mas sim no Liêdo, um sábio recifense, autor, entre outras joias, de "O Povo, o Sexo, a Miséria ou o Homem é Sacana".
A alta gastronomia no país de Caça-Rato tem o aruá, o sururu --já bem escasso e artigo de luxo--, o mingau de cachorro e o caroço de jaca assado na brasa. O rei do camarote neste país sem fronteiras é conhecido como cafuçu, o avesso do playboy, mas uma criatura que capricha no estilo dentro das suas posses. O jogador do Santa Cruz que dá nome a este país é o príncipe dos cafuçus.
No reino de Caça-Rato, o menino que nada no esgoto no canal do Arruda é apenas uma foto que assombra a classe média. Não se fala outra coisa no país de Caça-Rato: que gente mais besta e limpinha, por que tanto barulho sobre uma cena tão repetida diariamente? O país de Caça-Rato sabe que daqui a pouco ninguém mais se lembra. O país de Caça-Rato funciona à prova de padrão Fifa.
@xicosa

    Julio Abramczyk

    folha de são paulo

    A doença de Chagas na Amazônia

    Ouvir o texto

    A doença de Chagas está sendo considerada emergente na região amazônica. Ela vem ocorrendo por meio de surtos agudos associados ao consumo de suco de açaí.
    A contaminação ocorre pelas fezes do "barbeiro" no suco ou do inseto triturado junto com a fruta.
    No último número da "Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical", Rita de Cássia de Souza Lima e colaboradores da Fundação de Medicina Tropical Dr. Heitor Vieira Dourado e Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas, em Manaus, descrevem as características da transmissão da doença, há três anos, nas vizinhanças de de Santa Isabel do Rio Negro.
    Lembram, também, os surtos nas cidades de Tefé, em 2004, e Coari, em 2008.
    Na transmissão da doença em outras áreas, surgem inchaço facial e irritação na epiderme quando a deposição das fezes contaminadas pelo inseto ocorre na pele; na transmissão oral, febre acompanhada por dor muscular e fraqueza tem início súbito.
    Como a região amazônica é habitada por mais de 30 milhões de pessoas, os autores destacam ser fundamental manter os testes de malária com os exames para Chagas nos casos suspeitos.
    Os autores acrescentam a necessidade de manutenção do atual sistema preventivo de vigilância para diagnosticar e tratar os casos autóctones e importados para impedir a dispersão e intensificação da transmissão endêmica da moléstia de Chagas na Amazônia.
    Julio Abramczyk
    Julio Abramczyk, médico formado pela Escola Paulista de Medicina/Unifesp, faz parte do corpo clínico do Hospital Santa Catarina, onde foi diretor-clínico. Na Folha desde 1960, já publicou mais de 2.500 artigos. Escreve aos sábados na seção 'Saúde'.

    Entrevista - Francisco de Oliveira

    folha de são paulo
    Assustaram os donos do poder, e isso foi ótimo
    AO COMPLETAR 80 ANOS, SOCIÓLOGO FAZ BALANÇO POSITIVO DA ONDA DE PROTESTOS NO PAÍS E CRITICA O 'VIOLENTO' MODELO BRASILEIRO DE CRESCIMENTO
    RICARDO MENDONÇADE SÃO PAULOSocialista inveterado, acadêmico prestigiado, parceiro rompido de Fernando Henrique Cardoso e Lula, o sociólogo Francisco de Oliveira completou 80 anos na última quinta sem qualquer sinal de afrouxamento da energia crítica.
    Em entrevista em seu apartamento, em São Paulo, falou com entusiasmo dos protestos de rua ("a sociedade mostrou que é capaz ainda de se revoltar") e criticou as principais figuras da cena política.
    A presidente Dilma Rousseff é uma "personagem trágica" que deu uma "resposta idiota" às manifestações de junho. Lula "está fazendo um trabalho sujo". Marina Silva é uma "freira trotskista". O Bolsa Família, "uma declaração de fracasso". E por aí vai.
    Oliveira não teme expor suas posições ousadas. Uma delas é separar o Brasil para resolver a questão indígena: "Há um Estado indígena. Ninguém tem coragem de dizer".
    -
    Folha - Oitenta anos. Que tal?
    Chico de Oliveira - Oscar Niemeyer disse que a velhice é uma merda. Não sou tão radical. Mas não tem essas bondades que se diz. A história de que se ganha em sabedoria é uma farsa. Não é bom envelhecer. As pessoas sábias deveriam morrer cedo [risos].
    Antigamente era assim. Longevidade é uma novidade, né?
    É recente mesmo. Não é façanha sua. É a economia que te leva até os 80. As condições de vida mudam, você não precisa de trabalho pesado. Quem condiciona tudo é o trabalho. E gente da minha classe social está apta a aproveitar essas benesses do desenvolvimento capitalista. Mas não é agradável. E não há solução. Você vai se matar para poder não cumprir os desígnios de sua classe social?
    O senhor se surpreende aos 80. Em junho, falou do ineditismo dos protestos. Qual é o saldo?
    Deu uma coisa ótima: a sociedade mostrou que é capaz ainda de se revoltar, ir para a rua. Não precisa resultado palpável. Assustaram os donos do poder, e isso foi ótimo. Eu falava inédito porque a sociedade brasileira é muito pacata. A violência é só pessoal, privada, o que é um horror. Quando vai para a violência pública, as coisas melhoram. Isso que interessa: um estado de ânimo da população que assuste os donos do poder.
    Assustou mesmo?
    Assustou. Foi mesmo inédito. Isso é bom para a sociedade. Não é bom para os donos do poder. Mas são eles que a gente deve assustar. Se puder, mais que assustar, derrubá-los do poder. Não acho que as manifestações tenham esse caráter. Mas regozijo-me porque foi manifestado o não conformismo.
    Aí a presidente Dilma lançou a ideia de Constituinte para a reforma política. O que achou?
    Eu achei idiota. Não gostaria de fazer uma avaliação precipitada do governo Dilma para não dar força à direita, que está em cima dela. Mas é uma resposta idiota. Ninguém resolve problema assim na Constituição.
    O que teria sido adequado?
    Reconhecer que o país está atravessando uma zona de extrema turbulência devido ao crescimento econômico. É o crescimento que cria a turbulência, não o contrário. Todos pensam que crescimento apazigua. Não é verdade. Ele exalta forças que não existiam. O capitalismo é um sistema violentíssimo. Os EUA, o paradigma, são uma sociedade extremamente violenta. O Brasil vive adormecido. De repente, o tipo de crescimento violento e tenso em pouco tempo quebra as amarras, e a violência vai para rua.
    Mas Dilma é criticada pelo baixo crescimento.
    Não é verdade. O país cresce de forma violentíssima nos últimos 20 anos. E é um crescimento diferenciado. Não dá mais para ser no campo. Agora é na cidade, com relações público-privadas diferentes. Se o Estado não tem políticas para tal, é melhor ficar calado do que dizer besteira.
    E o que achou do papel dos governadores?
    Esse [Geraldo] Alckmin é uma coisa... É bem o representante dessa política. Um ser anódino. Já o chamaram picolé de chuchu. Ele de fato não desperta paixões nem ódio. Em geral é assim. Não tem nenhum governador que inspire empolgação. Tudo conformado. E a imprensa tem um papel horroroso: o que for conformismo, exalta; o que for rebeldia, condena.
    Que avaliação o senhor faz do movimento "black bloc"?
    Boa avaliação. Se eles se constituem como novos sujeitos da ação social, é para saudar. Vamos ver se, com eles, a gente chacoalha essa sociedade conformista. Parece que tudo no Brasil vai bem. Não é verdade. Vai tudo mal. O Estado não age no sentido de antecipar-se à sociedade que está mudando rapidamente. E aí vem o Lula fazendo um trabalho sujo, aquietar aquilo que é revolta.
    Trabalho sujo?
    Ah, tá. A questão operária tem a capacidade de transformar o Brasil e ele está acomodando, matando a rebeldia que é intrínseca ao movimento. Rebeldia não quer dizer violência, sair para quebrar. É um comportamento crítico.
    Onde o senhor vê isso no Lula?
    Em tudo. Lula é um conservador, nunca quis ser personagem do movimento [operário]. Na Presidência, atuou como conservador. Pôs Dilma como uma expressão conservadora. Você não vende uma personalidade pública como gerente. Gerente é o antípoda da rebeldia. Ele a vendeu como a gerentona que sabe administrar. É péssimo. O Brasil precisa de políticos com capacidade de expressar essa transformação e dar um passo a frente. Não se pode nem ter uma avaliação mais séria dela, pois ele não deixa ela governar. Atrapalha, se mete, inventa que é o interlocutor. Ela não pode nem reclamar. É uma cria dele, né?
    O sociólogo Boaventura Santos disse que Dilma tem insensibilidade social. Citou problemas com movimentos sociais, indígenas, camponeses, meio ambiente. Concorda?
    Não diria com essa ênfase. É um equívoco analisar o capitalista brasileiro nos moldes europeus. Aqui nunca teve campesinato, pois teve uma propriedade extremamente concentrada do escravismo. Isso se projetou depois numa economia capitalista. O que tem é uma questão urbana grave, que é preciso resolver.
    Mas problema indígena tem.
    É um problema. Porque a sociedade só sabe tratar indígena absorvendo e descaracterizando. Para tratar dessa questão é preciso, na verdade, de uma revolução de alto nível. Qual é? É reconhecer que há um Estado indígena.
    Estado indígena?
    É. A real solução. Há um Estado indígena. O Estado capitalista no Brasil não sabe tratar essa questão. Só sabe tratar indígena atropelando, matando, trazendo para a chamada civilização. A real solução é de uma gravidade que a gente nem pode propor. Um Estado indígena. Separa. Ninguém tem coragem de dizer isso. Então todo mundo quer integrar. Para integrar, você machuca, mata, dissolve as formações indígenas.
    E meio ambiente,sensibiliza?
    Não acredito que seja uma forma de fazer política. A Marina Silva está aí. Ela não tem nada a dizer sobre o capitalismo? Será? Será que a política ambiental é ruim? Ou é o capitalismo que é ruim? Ela não diz. Então, para mim a Marina é uma freira trotskista [risos]. Cheia de revolução sem botar o pé no chão. Ela juntou com o Eduardo Campos, uma jogada política importante. Mas eles não têm proposta nenhuma. A Marina fica com esse ambientalismo démodé. Criticar a política de meio ambiente é fácil. Quero ver criticar o sistema capitalista nas formas em que ele está se reproduzindo no Brasil. Aí sim é botar o dedo na ferida.
    O senhor disse que a política da Dilma é conservadora. Diria que ela é de direita?
    Não diria. Ela é um personagem difícil, coitada. Uma personagem trágica. Porque ela não pode fazer o que ela se proporia a fazer. Ela tem uma história revolucionária. Mas não pode fazer isso porque está lá porque Lula a colocou. E Lula é o contrário, um antirrevolucionário. Ele não quer soluções de transformação, quer apaziguamento. Talvez, se as opções estivessem em suas mãos, Dilma faria uma política mais de esquerda. Mas ela não foi eleita para isso. Nem tem força social capaz de impor essa mudança.
    O senhor vê alguma virtude?
    O pouco de virtude é, talvez, dar um pouco mais de atenção à área social. Que eu não gosto, porque é um conformar-se em não resolver. O Bolsa Família é uma declaração de fracasso. Para não morrer de fome, dá uma comidinha. Sou socialista há 50 anos. Para mim, a gente tem de mudar. E não necessariamente por revolução violenta, que está fora de moda. Bolsa Família é política conservadora. Atende uma dimensão da miséria, mas sem promessa de transformação.
      RAIO-X - CHICO DE OLIVEIRA
      Sociólogo, 80 anos
      CARREIRA
      Professor titular aposentado da USP, foi coordenador da Sudene até o golpe de 1964
      VIDA ACADÊMICA
      Graduação em ciências sociais pela UFPE (1956); pós-doutorado pela Ecole des Hautes Études en Sciences Sociales (França, 1984)
        pRINCIPAIS LIVROS
        CRÍTICA À RAZÃO DUALISTA (1972)
        EDITORA Cebrap
        TEMA Critica a tese de que o país ficaria estagnado porque o setor arcaico barrava o avanço da indústria e mostra como o capital se alimentava do atraso
        CRÍTICA À RAZÃO DUALISTA/O ORNI-TORRINCO (2003)
        EDITORA Boitempo
        TEMA Sustenta que a elite sindical tornou-se uma nova classe social ao controlar verbas do BNDES e dos fundos de pensão das estatais

        Helio Schwartsman

        folha de são paulo
        Briga de cachorro grande
        SÃO PAULO - Essa polêmica em torno da neutralidade da internet não me comove. É certo que a definição terá algum impacto na vida do consumidor, mas ele é menor do que sugerem ambos os lados da disputa.
        O que temos, no fundo, é uma briga de cachorro grande. De um lado, estão os provedores de banda larga, notadamente as telefônicas, e, de outro, megaempresas que fazem uso intensivo das estruturas de transmissão, como Google, Netflix, Microsoft etc.
        Se a neutralidade for aprovada, as telefônicas ficam legalmente impedidas de cobrar a mais de empresas e indivíduos que demandam mais da rede e terão de bancar sozinhas os investimentos necessários para manter e ampliar a capacidade da internet. Na outra hipótese, se conseguirem impor uma tarifa mais alta aos usuários pesados, dividirão a fatura principalmente com as pontocom.
        No final, como ensina qualquer manual de economia, é sempre o consumidor que arcará com os custos. Dá para escolher se eles vêm embutidos na conta do provedor ou na dos serviços e bens adquiridos.
        Seria um exagero dizer que toda a disputa se resume a esse aspecto tarifário, mas ninguém me tira da cabeça que isso é o mais importante.
        Os defensores da neutralidade dizem que, se a lei não impuser a obrigação de todos os dados receberem o mesmo tratamento, o caráter democrático da internet fica ameaçado, já que os provedores poderiam discriminar usuários, fornecendo acesso mais precário, por exemplo, a empresas concorrentes, a pobres, que não poderiam pagar pelo acesso "premium", e até a sites que tragam mensagens políticas de que não gostem.
        É forçoso reconhecer que a possibilidade existe, mas esse me parece um cenário meio paranoico e que fica tanto mais improvável quanto maior for a concorrência entre provedores. No mais, vale lembrar que a rede já não é neutra. Internautas e empresas mais ricos já contam com acesso privilegiado. E não apenas à internet.
        helio@uol.com.br

          Editorial FolhaSP

          folha de são paulo
          Kassab se complica
          Em conversas gravadas com autorização da Justiça, fiscais sugerem que o ex-prefeito tinha conhecimento de esquema de corrupção
          Se para 2014 já não eram estimulantes as perspectivas eleitorais do ex-prefeito de São Paulo Gilberto Kassab (PSD), elas se rebaixaram ainda mais após serem reveladas gravações de conversas dos acusados de integrar a chamada Máfia do ISS (Imposto sobre Serviços).
          Noticiado há uma semana, o esquema de corrupção alcançou dimensão impressionante. Estima-se que os cofres públicos tenham perdido pelo menos R$ 500 milhões em impostos que deveriam ter sido recolhidos por diversas empresas, mas que não foram pagos devido à intervenção de quatro fiscais responsáveis pela arrecadação.
          Estes, em troca de polpudas propinas, agiam na contramão de seu dever funcional e livravam as empresas de parte das obrigações tributárias. Calcula-se que, desde 2007, o grupo tenha acumulado um patrimônio de R$ 80 milhões.
          A Controladoria Geral do Município, órgão criado pelo prefeito Fernando Haddad (PT), não precisou de muito esforço para perceber a incompatibilidade entre os vencimentos e a riqueza desses servidores. Investigações posteriores, feitas pelo Ministério Público, levaram à prisão dos quatro fiscais.
          Como três deles ocuparam cargos de confiança na administração passada, Kassab logo se viu chamuscado pelo episódio, embora Haddad tenha reiterado que não havia indícios de envolvimento das autoridades políticas.
          Uma semana depois, Kassab aparece em meio a um incêndio de grandes proporções. Gravações autorizadas pela Justiça e obtidas por esta Folha trazem diálogos com potencial devastador.
          "Chama o secretário e o prefeito com quem eu trabalhei. Eles tinham ciência de tudo", afirma Ronilson Bezerra Rodrigues, acusado de liderar o grupo, em conversa com a chefe de gabinete da secretaria de Finanças da gestão anterior. Não parece haver dúvidas de que o "prefeito" citado é Kassab.
          Em outra gravação, os termos são ainda mais explícitos. Um homem não identificado diz: "Minha esperança é Kassab ganhar a eleição para governador". O fiscal Luis Alexandre Magalhães concorda: "É, pois é, aí tá todo mundo bem". Então o primeiro lamenta: "Mas acho que ele não ganha, não".
          De fato, Kassab não reunia condições reais de disputar o cargo em 2014. Sua intenção era fortalecer a bancada do PSD e manter seu nome na cabeça dos eleitores. Agora, até essa estratégia está em xeque.
          Ainda que o ex-prefeito declare serem falsas as afirmações dos servidores e mesmo com os sinais de que o esquema era suprapartidário, será difícil para Kassab desvincular sua imagem desse escândalo.
          Para que esse ponto seja esclarecido, bem como o eventual envolvimento de outros políticos, a investigação precisa avançar com a maior celeridade possível, sem recair no vício de transformar-se em arma de perseguição, ou preservação, partidária.

            Andre Singer

            folha de são paulo
            Ataque especulativo
            Dias atrás, em rara declaração ofensiva desde a suspensão do ensaio desenvolvimentista há cerca de um ano, o governo, por meio do secretário do Tesouro, Arno Augustin, denunciou estar sob ataque especulativo do mercado financeiro.
            Ato contínuo, como para confirmar a acusação, o dólar foi empurrado para cima, como se viu nesta semana. Por enquanto, os efeitos da pressão mercadista são moderados, mas há razões para supor que ouvimos só os primeiros toques de uma ópera dramática, que apenas acabará quando anunciado o nome do(a) próximo(a) presidente da República.
            A julgar pelos instrumentos mobilizados, a partitura contém passagens marciais tonitruantes. No plano internacional, um arco expressivo de intérpretes já tomou assento nas fileiras da orquestra.
            Quando setembro chegava ao fim, a revista "The Economist" dedicou 14 páginas para mostrar como o intervencionismo de Dilma tinha estragado tudo o que Lula fez de bom. Em seguida, a Moody's, uma das três principais agências mundiais de risco, rebaixou a perspectiva de avaliação do Brasil. Para completar, há duas semanas o FMI emitiu relatório em que a condução governamental é criticada por reduzir a credibilidade do país.
            Em diversos arranjos, a linha melódica narra sempre a mesma história. Uma nação que era bem-vista pelos donos do dinheiro, pois tinha se arrumado de acordo com as regras imperantes no mundo, passa a ser objeto de desconfiança depois que um Poder Executivo hostil às leis da iniciativa privada resolveu mexer onde não devia, reduzindo juros, interferindo no câmbio e obrigando o setor elétrico a diminuir tarifas, só para ficar no principal.
            Se a companhia fosse composta apenas de artistas globalizados, o tamanho da encrenca já seria razoável. Ocorre que se anunciam na boca de cena cantores que encenarão as partes locais do entrecho, prometendo sangue, suor e lágrimas. Desta feita, diferentemente do que aconteceu entre 2002 e 2010, os capitalistas nacionais parecem uníssonos na hostilidade à candidata do lulismo. Admitem até a volta do criador, mas passaram a enxergar a criatura com um misto de medo, raiva e desdém.
            Talvez seja esta a explicação para os últimos movimentos do ex-presidente, que teria patrocinado um projeto de dar autonomia ao Banco Central para, em seguida, deixar transparecer que pode voltar a ser candidato. Em ambos os casos, haveria uma leitura segundo a qual para desfazer o roteiro anunciado, que tem capacidade para desorganizar a economia e, assim, colocar em risco a vitória em outubro de 2014, são necessários gestos fortes.
            A ideia de autonomizar o BC foi vetada por Dilma. Resta ver se o próximo veto não vai recair sobre ela própria.
            avsinger@usp.br

              Ruy Castro

              folha de são paulo
              A sério
              RIO DE JANEIRO - Olhei e vi. Dentro de uma caixa de vidro no Museu do Cinema, em Frankfurt, uma pilha de latas de filme. Ao lado, uma placa com a inscrição: eram os rolos originais de "Tystnaden", de Ingmar Bergman. Nem pisquei: "Tystnaden", de 1963, chamou-se no Brasil "O Silêncio" e ficou famoso por levar anos proibido. Liberado em 1965, viu-se que não tinha nada demais --um ou outro incesto ou lesbianismo, aquelas coisas de filme sueco.
              Os meninos da Geração Paissandu --um cinema de arte no Flamengo, nos anos 60-- só tratavam os filmes pelos títulos originais. Ninguém diria "Um Corpo que Cai", de Hitchcock, quando podia dizer "Vertigo", nem contava vantagem por isso. Os de Bergman, todos sabiam: "Noites de Circo" era "Gycklarnas Afton"; "Sorrisos de uma Noite de Amor" era "Sommarnattens Leende"; e "Morangos Silvestres", "Smultronstället".
              Mais difíceis eram os japoneses --"Contos da Lua Vaga", de Mizoguchi, era "Ugetsu Monogatari"; "Harakiri", de Kobayashi, era "Seppuku"; e "Homem Mau Dorme Bem", de Kurosawa, era "Warui Yatsu Hodo Yoku Nemuru". Com pronúncia certa ou errada, era como chamávamos os filmes.
              Além disso, títulos em português eram um perigo. Um dia alguém se referiu a "Prima della Rivoluzione", do Bertolucci --"Antes da Revolução"--, como "A Prima da Revolução". Que gafe! Era como chamar "Les Cousins" --"Os Primos", de Claude Chabrol-- de "Os Cuzinhos". Ou "Les 400 Coups" --"Os Incompreendidos", de Truffaut-- de "Os 400 Cus".
              Nunca pensamos que, no futuro, os tradutores intitulariam --a sério-- "After Hours" (tarde da noite), de Scorsese, como "Depois de Horas"; "The Day After Tomorrow" (depois de amanhã), de Roland Emmerich, como "O Dia Depois de Amanhã"; e "Whatever Works" (qualquer coisa que dê certo), de Woody Allen, como "Tudo Pode Dar Certo".

                José Simão

                folha de são paulo
                Novela! César é pai dos beagles!
                A Dilma vai contratar um espião português. 'Meu nome é Bond. James Bond'. 'Meu nome é Kim. Joaquim'.
                Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! E um amigo com colesterol fazendo supermercado: "Posso, mas não gosto". "Posso, mas não gosto". "GOSTO, MAS NÃO POSSO!".
                E um leitor me disse que o Maluf não vai morrer: vai transitar em julgado. Rarará! E adorei a charge do Pelicano com os malufistas se desintoxicando. Deve ser a AMA: Associação dos Malufistas Anônimos: "Meu nome é Walter! Eu também fui eleitor do Maluf por vários anos". Eu acrescento essa: "Meu nome é Natália! Eu também fui eleitora do Maluf por vários anos. Mas já superei: votei no Russomanno". Rarará.
                E o Maluf lançou sua biografia: "Ele". Mas os advogados de defesa acharam melhor mudar o nome para "Não Foi Ele". Rarará!
                E as prostitutas mineiras? Minas sempre na vanguarda. Tô adorando essas prostitutas mineiras que já aceitam cartão de débito e crédito. É o Xotacard. Ou Cartão Fodalidade. Rarará. E não se esqueça: beijo na boca, só no débito! E em vez de rodar a bolsinha, estão rodando as maquininhas! Rarará!
                E essa: "Justiça manda Alckmin refazer ação contra a Siemens". Evidente! O Alckmin processando a Siemens é a mesma coisa que o Maluf processando as construtoras que o deixaram rico. Ou como disse um amigo: "O Alckmin processar a Siemens é como se a minha mulher pegasse marca de batom na minha cueca e eu processasse o puteiro". Rarará!
                E atenção! Espionagem e contraespionagem! Diz que a Dilma vai contratar um espião português, o Joaquim. "Meu nome é James. James Bond". "Meu nome é Kim. Joaquim". Rarará! Usa jaqueta, boné, óculos escuros, tem crachá e faz carnê nas Casas Bahia. E no item profissão escreve: espião.
                E espião bom é aquele que desceu no aeroporto, tomou um táxi e o taxista: "Para onde o senhor vai?". "JAMAIS SABERÁ!". Rarará.
                E eu já disse que o Planalto não precisa de espião porque o Mantega já é a cara do Agente 86! E o sapato é da Dilma! Rarará!
                É mole? É mole, mas sobe!
                E a novelha "Amor à Vida"? "Amor à Bimba"! Uma amiga disse que o César é pai da Nicole, da Natasha, dos beagles do Instituto Royal e do Rei do Camarote! O César é pai dele mesmo! Eu acho que também sou filho do César! Eu sou um beagle! Rarará!
                Nóis sofre, mas nóis goza! Hoje, só amanhã!
                Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

                  Escritor une sexo e morte em livro 'autopornográfico'

                  folha de são paulo
                  Primeiro romance de Marcelino Freire tem protagonista parecido com autor
                  Obra é narrada por um dramaturgo de sucesso que tenta desvendar a misteriosa morte de um de seus amantes
                  MARCO RODRIGO ALMEIDADE SÃO PAULOPor vezes é difícil separar o criador da criatura no romance "Nossos Ossos".
                  Marcelino Freire, 46, o autor do livro, nasceu em Sertânia (PE), caçula de uma família de nove filhos. No começo dos anos 1990 mudou-se para São Paulo por causa de um amor,que começou a degringolar tão logo botou os pés na rodoviária Tietê.
                  Sem um tostão, morou de favor na casa de um amigo e passou por vários empregos até firmar-se como escritor.
                  Ponto por ponto, é quase tudo idêntico à trajetória pessoal e artística de Heleno de Gusmão, o personagem principal de "Nossos Ossos".
                  Mas tudo isso não significa, assegura Freire, que o livro seja propriamente um romance autobiográfico. Ele prefere um termo menos literário para classificá-lo.
                  "O personagem tem muita coisa de mim, mas o enredo é quase todo inventado. Na verdade, é mais um livro autopornográfico", conta, entre gargalhadas. "Muitas das putarias e sacanagens que escrevi aconteceram comigo ou com meus amigos."
                  Heleno de Gusmão, narrador do romance, é um dramaturgo de sucesso, por volta de 60 anos. No começo da trama, ele tenta resgatar no necrotério o corpo de um jovem amante, misteriosamente assassinado, e levá-lo de volta para a família, que vive em Poço do Boi, interior de Pernambuco.
                  A jornada quase detetivesca de Heleno, por onde desfilam michês, atores, policiais, travesti e taxistas, acaba por compor um retrato um tanto vivo da vida paulistana.
                  "Nossos Ossos" é o primeiro romance de Freire, criador do festival Balada Literária, em 2006. Até então, dedicava-se às narrativas curtas, seja em seus próprios livros (entre eles "Contos Negreiros", vencedor do Prêmio Jabuti em 2006) ou nas coletâneas que organizou, como "Os Cem Menores Contos Brasileiros do Século".
                  O romance preserva a marca estilística de seus contos (a oralidade nordestina dos diálogos, os jogos de palavras, o humor mordaz), mas também trouxe mudanças.
                  "Meus contos são quase gritos, mais rock pauleira. No romance você não pode ficar berrando o tempo todo na cabeça do leitor. Então os gritos ficaram mais abafados, são músicas mais orquestradas."

                    Trama carioca guia estreia literária de Fernanda Torres

                    folha de são paulo
                    MARCO AURÉLIO CANÔNICO
                    DO RIO
                    Ouvir o texto

                    Quatro anos atrás, quando ainda se iniciava como cronista e autora de teatro, Fernanda Torres, 48, afirmou à Folha sentir vergonha de assumir que escrevia. "Eu sei o horror que é uma atriz que escreve", disse.
                    Hoje, com rotina autoral entranhada --publica coluna mensal na "Ilustrada" e outra quinzenal na "Veja Rio"-- e prestes a lançar o primeiro romance, "Fim", o sentimento certamente é diferente, não?

                    "Mais do que nunca é hora de ter vergonha de dizer que escrevo", diz ela, rindo. "A sensação atual é que não vou escrever nunca mais."
                    Bob Wolfenson/Divulgação
                    A atriz Fernanda Torres, 48, que lança o romance 'Fim'
                    A atriz Fernanda Torres, 48, que lança o romance 'Fim'
                    É claramente uma blague: ao longo da hora e meia de conversa em seu apartamento, na Lagoa, zona sul do Rio, Fernanda demonstra ter ficado satisfeita com a obra e com o próprio processo de criação.
                    "Fim" nasceu como um conto sobre os cinco últimos minutos de vida de um velho que, na caminhada de volta do médico para seu apartamento, em Copacabana, vai rememorando quatro amigos que morreram antes dele.
                    O texto havia sido encomendado pelo diretor Fernando Meirelles, que pretendia publicar um livro com contos sobre a velhice e adaptá-lo para a TV, numa ação casada entre a Companhia das Letras e a Rede Globo.
                    O projeto não vingou neste formato, mas Fernanda diz ter ficado "tão feliz" com o resultado do conto que o mostrou para a mãe, Fernanda Montenegro, e para amigos como os atores Vladimir Brichta e Débora Bloch.
                    "Eu fiquei surpresa, gostei, achei que estava direito. Escrevi em quatro dias, cuspi 11 páginas com uma curva [narrativa], algo que ia ficando esquisito. Achei que tinha fôlego para um romance."
                    A mesma opinião tiveram Meirelles e Luiz Schwarcz, editor da Companhia das Letras, que lança o livro na próxima terça (12).
                    O desenvolvimento da trama misturou diálogo interior ("É muito legal quando você escreve, o romance te comanda", diz) e exterior.
                    "Fui mostrando em fascículos para a editora, cada capítulo. Foi muito parecido com a relação com um diretor no teatro. O ator sobe em cena e propõe algo, e é sempre bom ouvir o outro lado."
                    HOMEM
                    A escolha por protagonistas masculinos, escritos em primeira pessoa, é explicada como um tipo de disfarce.
                    "Acho que é mais fácil se travestir, para não ficar falando de você, sabe? Quando você entra na pele de um velho, um homem, fala mais livremente, porque é claro que você escreve sobre coisas que pensa, que observa. Toda vez que eu penso em mulher me dá preguiça, é muito colado."
                    Além da masculinidade dos protagonistas, uma das características mais evidentes de "Fim" é sua trama "muito carioca", como diz a autora --e não apenas porque se passa em sua cidade natal.
                    "Queria que o livro tivesse um caráter muito pessoal daqui, o hedonismo, a decadência, o saber viver, o humor, mas com uma certa tragédia. O Rio é uma mixórdia, uma loucura e, ao mesmo tempo, tem um ar de corte, de uma certa nobreza falida. Eu tenho fascínio por esse Rio e queria fazer um livro sobre pessoas sem nenhuma grandeza."
                    A autora situou grande parte da história, que tem como evento central uma grande suruba regada a drogas, "nos anos 1970, que era uma época de uma sexualidade muito louca".
                    "Eu estava saindo da infância, e os meus pais são mais conservadores, eram mais velhos do que essa geração, então eu vi um pouco de longe. Hoje, eu tenho a idade em que a gente é livre, adulto. Acho que [a sexualidade da trama] vem desse choque de eu entender questões que vi de longe naquela época."
                    Lançado o romance, Fernanda vê no futuro próximo apenas projetos como atriz. Mas, ao descrever a sensação de ter completado o livro, deixa transparecer um revelador apreço por sua nova carreira.
                    "Estou feliz, é muito incrível você escrever um negócio. É o maior barato. E também você inventar uma outra coisa para si mesma, com 48 anos, sabe? É incrível."
                    Colaborou RAQUEL COZER
                    cRÍTICA - ROMANCE
                    Atriz escreve sobre geração em busca do desbunde perdido
                    MANUEL DA COSTA PINTOCOLUNISTA DA FOLHA"Fim", de Fernanda Torres, reescreve "Quadrilha" às avessas. Nos versos de Drummond, João amava Teresa que amava Raimundo etc., até que Lili, que não amava ninguém, se casa com J. Pinto Fernandes ""cujo sobrenome burocrático quebra a cadeia, fazendo o encanto naufragar nos protocolos do matrimônio.
                    Embora não cite Drummond, Fernanda parte daí, da asfixia da vida doméstica e das tentativas de libertação, para escrever um romance em quadros descontínuos.
                    Em cena, há cinco amigos que viveram desvarios na maturidade e que conservam, até o momento final, décadas depois, as nostalgias e as sequelas físicas da dissipação.
                    Os capítulos se abrem com a narrativa interior do momento que precede a morte de cada um, seguida de histórias, agora em terceira pessoa, de personagens diretamente tocados (ou mutilados) por eles.
                    Do velho caquético que vocifera contra a humanidade e a mulher adúltera ao "metrossexual" vítima dos efeitos colaterais do Viagra; do devasso senil que expira na orgia e na droga ao sedutor que leva à loucura a mulher a quem será devotamente infiel, passando pelo pai de família que assume o decoro imposto por sua condição de mulato de classe média, parece que estamos num romance geracional.
                    Não deixa de ser, mas não o da geração da autora e, sim, o daquela anterior à revolução de costumes dos anos 1960 e 1970 e que, num Rio transformado em Babilônia da contracultura, tentou recuperar o desbunde perdido.
                    A escrita densa de Fernanda Torres destrincha com sarcasmo os mecanismos mentais desses "Cavaleiros do Apocalipse", que violentam seus valores "burgueses" ao preço do rancor e da crueldade.
                    "Fim" é um romance sobre a corrida agônica contra o tempo, mas também sobre a ressaca terminal de quem tentou fugir, em descompasso, da "vida besta" de que falava Drummond.

                      Mônica Bergamo

                      folha de são paulo

                      Braço direito de Haddad viaja a Jerusalém em meio à crise dos fiscais na prefeitura

                      Ouvir o texto
                      Em meio à crise dos fiscais na administração de Fernando Haddad, Antonio Donato (PT-SP), secretário de Governo e braço direito do prefeito, vai se afastar do cargo por uns dias. Ele embarca na próxima semana para Jerusalém. Vai visitar, entre outros lugares, o Muro das Lamentações.
                      FAÇA UM PEDIDO
                      Donato integrará comitiva de outros nove vereadores. Eles viajam a convite e com tudo pago pela Federação Israelita do Estado de SP. Os parlamentares pediram aos organizadores para conhecer o sistema de segurança por câmeras que protege o muro.
                      REDE
                      Citado no escândalo porque teria recebido dinheiro para campanha eleitoral dos acusados de corrupção, o que nega, Donato entrou na mira do fogo amigo do próprio PT. Além de ter indicado o principal acusado, Ronilson Rodrigues, para a SP Trans, ele é responsabilizado por endossar Paula Nagamati para cargo de confiança na equipe de Luciana Temer na Secretaria de Assistência Social.
                      REDE 2
                      Ronilson e Paula Nagamati eram muito próximos e integravam o núcleo da equipe de Mauro Ricardo na Secretaria de Finanças --ela era chefe de gabinete dele. A pasta estava na esfera de influência direta do ex-prefeito José Serra (PSDB-SP).
                      TODAS AS VOZES
                      O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso tem solução para antecipar o anúncio do senador Aécio Neves como candidato à Presidência. Ele sugere que o PSDB reúna seus 27 diretórios estaduais até o fim do ano. Eles aclamariam o mineiro como candidato. Seria um drible em Serra, com quem Aécio se comprometeu a empurrar a escolha até março.
                      EM PARTES
                      O diretor Felipe Hirsch recebeu convidados na estreia da primeira parte da peça "Puzzle", anteontem, no Sesc Pinheiros. A atriz e apresentadora Isabel Wilker, os atores Leonardo Medeiros e Luis Soares e o cineasta Hector Babenco foram ao espetáculo.

                      Estreia da peça "Puzzle"

                       Ver em tamanho maior »
                      Bruno Poletti/Folhapress
                      AnteriorPróxima
                      A atriz e apresentadora Isabel Wilker foi à estreia da primeira parte do espetáculo "Puzzle", quinta (7), no Sesc Pinheiros
                      TUDO A GANHAR
                      "Nada a Perder - 2", o segundo volume da trilogia sobre a vida do bispo Edir Macedo, escrito por ele em parceria com Douglas Tavolaro, desbancou o livro de padre Marcelo como mais vendido do ano até agora no site Publishnews. Já chegou a 331.056 volumes, contra 305.151 de "Kairós".
                      HONRAS DA CASA
                      Pacientes e amigos de Miguel Srougi estão sendo convidados para a sessão solene em que ele vai receber a Medalha Anchieta e diploma de gratidão da cidade de SP, no dia 25. A homenagem ao urologista foi proposta na Câmara Municipal por Andrea Matarazzo (PSDB-SP). A sessão será no MIS (Museu da Imagem e do Som).
                      TELONA
                      "Flores Raras", do cineasta Bruno Barreto, estreou ontem em dois dos principais cinemas de arte de Nova York. O filme também entrará em cartaz em Los Angeles. Na campanha para que o longa seja indicado ao Oscar, os produtores estão mandando 6.000 DVDs para os eleitores da premiação. Falada em inglês, a produção não pode entrar na categoria de filme estrangeiro.
                      VERSÃO ESTENDIDA
                      O escritor Antonio Prata e o ator Gregorio Duvivier, colunistas da Folha, fizeram anteontem noite de autógrafos de seus livros "Nu, de Botas" e "Ligue os Pontos", respectivamente. O evento no Cine Joia contou com a presença da atriz e cantora Clarice Falcão, mulher de Duvivier, e do escritor Reinaldo Moraes.

                      Noite de autógrafos

                       Ver em tamanho maior »
                      Bruno Poletti/Folhapress
                      AnteriorPróxima
                      O escritor Antonio Prata e o ator Gregorio Duvivier, colunistas da Folha, fizeram, na quinta (7), noite de autógrafos de seus livros "Nu, de Botas" e "Ligue os Pontos", respectivamente
                      CURTO-CIRCUITO
                      Marcelo Rezende lança a autobiografia "Corta pra Mim", hoje, às 11h, na Livraria Saraiva do shopping SP Market.
                      Rodrigo Faro será o apresentador de evento beneficente da Fundação Make-A-Wish Brasil, hoje, às 19h30, no hotel Unique. Tiago Abravanel fará show.
                      A chef Ana Soares assina o cardápio do restaurante Bohemia, que abre hoje, às 19h30, em Petrópolis (RJ).
                      Regina Duarte participa amanhã de caminhada em apoio ao Dia Mundial de Combate à Pneumonia, no Jockey Club.
                      Otto faz show do álbum "The Moon 1111" no parque Villa-Lobos, amanhã, às 15h, pelo projeto Cultura Livre SP. Grátis. Livre.
                      com ELIANE TRINDADE, JOELMIR TAVARES, ANA KREPP e MARCELA PAES
                      Mônica Bergamo
                      Mônica Bergamo, jornalista, assina coluna diária publicada na página 2 da versão impressa de "Ilustrada". Traz informações sobre diversas áreas, entre elas, política, moda e coluna social. Está na Folha desde abril de 1999.

                      Painel das Letras - Raquel Cozer

                      folha de são paulo
                      Sem acordo
                      O mercado rejeitou a recente proposta da distribuidora Superpedido de intermediar o abastecimento de livros para a rede Laselva. A livraria, em crise, deixou muitas editoras sem pagamento nos últimos anos. Com isso, a oferta de títulos em suas lojas ficou escassa. Para fazer o meio de campo, a Superpedido tinha sugerido às editoras que lhe pagassem 5% do preço de capa dos livros, além do desconto (de até 50%) normalmente negociado entre essas casas e a Laselva. Não colou.
                      Outro projeto que a Superpedido tenta emplacar, também cobrando 5%, é um pacote de exclusividade para o abastecimento de 40 livrarias independentes. Muitos editores acham inviável fechar o acordo sem as livrarias estarem definidas, mas algumas grandes casas, como a Ediouro, toparam testar. Sandro Silva, diretor geral da distribuidora, diz que a "aceitação está sendo grande".
                      -
                      // OS CONCORRENTES
                      Boa notícia para os autores da Record interessados nos prêmios literários da Fundação Biblioteca Nacional (FBN): os títulos da editora poderão concorrer neste ano.
                      No ano passado, as 74 obras inscritas pela casa foram inabilitadas por "insuficiência de ISBN". Isso aconteceu porque desde 2007 a Record praticamente não cadastrava obras no International Standard Book Number (sistema internacional de identificação de livros), e em 2012 a FBN passou a eliminar concorrentes com cadastro irregular. A biblioteca informa que a editora vem regularizando a situação perante o ISBN e que isso já foi resolvido com os livros inscritos.
                      Todos os títulos habilitados devem ser divulgados depois de amanhã no site bn.br.
                      -
                      HQ George Pérez é o entrevistado do volume um da série Mestres Modernos', que a Marsupial lança no Festival Internacional de Quadrinhos; autor será homenageado no evento, que começa no próximo dia 13 em Belo Horizonte
                      -
                      Aulas de Nabokov A faceta menos conhecida do autor de "Lolita", a de professor, virá à tona com dois títulos que a Três Estrelas planeja para 2014. "Lectures on Russian Literature" e "Lectures on Literature" reúnem aulas ministradas nos anos 1940 nos EUA, tratando de nomes como Gógol, Tolstói, Jane Austen, Kafka e Proust.
                      Sem comedimento "L'Extraordinaire Voyage du Fakir qui Etait Resté Coincé dans une Armoire Ikea" (a extraordinária viagem do faquir que ficou preso num armário Ikea) é o título do primeiro romance de Romain Puértolas, que a Record lança em 2014.
                      Sem comedimento 2 O autor era policial na fronteira francesa, com sete romances rejeitados por editoras, quando a pequena Le Dilettante topou publicar "L'Extraordinaire Voyage...". As aventuras do faquir Ajatashatru Lavash Patel já atraíram 100 mil leitores desde agosto, serão traduzidas em 35 países e estão em disputa por quatro produtoras de cinema na França.
                      Jornal pessoal Fora de catálogo há três décadas, o "Diário da Tarde", do cronista Paulo Mendes Campos (1922-1991), ganhará edição nos próximos dias pelo Instituto Moreira Salles.
                      Jornal pessoal 2 Sairá no formato tabloide, idealizado pelo mineiro. É composto por 20 edições do jornal imaginário do autor, cada uma delas com oito seções fixas, tratando de futebol a literatura.
                      Filtro Um raro acordo entre um site de compartilhamento não autorizado de livros e uma entidade de editores foi firmado na quinta-feira, após ação movida pela Associação Brasileira de Direitos Reprográficos (ABRD).
                      Filtro 2 Pelo acordo, o site de material acadêmico Ebah, que contém mais de 2,6 milhões de usuários e armazena 181 mil títulos, terá de manter um filtro por tempo indeterminado para impedir o upload de conteúdos de livros dos associados do Sindicato Nacional de Editores de Livros (Snel) e da ABDR.

                        Planeta Terra mostra novo rock paulistano em sessão vespertina

                        folha de são paulo
                        Criados em 2009, dois grupos em ascensão fazem no festival os maiores shows de suas carreiras
                        O Terno toca indie rock voltado aos anos 60, enquanto Hatchets cria som agitado inspirado na dance music dos 90
                        GIULIANA DE TOLEDODE SÃO PAULO
                        A chance de estar hoje no festival Planeta Terra ao lado de nomes como Blur, Beck e Travis tem feito as bandas paulistanas O Terno e Hatchets ensaiarem muito nos últimos meses. Terem ganhado o horário menos nobre, o início da tarde, e nome estampado com menos destaque nos cartazes é apenas um detalhe para quem fará o maior show da carreira.
                        "Nos últimos meses, a parte boa de pegar o metrô para ir trabalhar, é ver nosso nome no telão [de publicidade]", ri Vinícius Militão, 27, baterista do grupo Hatchets.
                        "A gente já ensaiou tanto que é como se tivéssemos estudado o máximo para uma prova e agora viesse a formatura", diz ele, que desde 2009 mantém o grupo com Gabriel Militão (guitarra e vocal), Otavio Valezi (baixo), Andre Matt (sintetizador) e Paikan Gonzalez (guitarra).
                        O som da banda é agitado, uma mistura de indie rock com dance music dos anos 1980 e 1990.
                        Também em 2009, mas do outro lado da cidade --os Hatchets nasceram na zona leste-- um trio de amigos do colégio Santa Cruz, na zona oeste, criou O Terno, dedicado a um indie rock nostálgico, com referências dos anos 60.
                        De lá para cá, Tim Bernardes (voz e guitarra, 22), Guilherme d'Almeida (baixo, 23) e Victor Chaves (bateria, 23) lançaram o disco "66"(2012) e ganharam notoriedade. A faixa-título virou um clipe que chamou atenção e fez a banda decolar nas redes sociais: uma produção de gente grande, com direito a cenas tocando embaixo d'água.
                        "Mergulhamos muito e passamos frio", lembra Bernardes, que agora guarda os instrumentos como enfeite na sua casa, local usado para os ensaios da banda.
                        Neste ano, para além doPlaneta Terra, seguem com agenda cheia. Participaram do novo EP de Tom Zé, "Tribunal do Feicebuqui", lançaram, na última semana, o single "Tic Tac-Harmonium" e se preparam agora para gravar novo disco no próximo mês.

                        Álvaro Pereira Jr

                        folha de são paulo
                        Ele ainda está mal
                        Em uma autobiografia cáustica, o cantor Morrissey decide contar sua história --e bota "sua" nisso
                        Um senhor inglês de Manchester, chamado Steven, 54 anos, topete insistente sobre cabelos cada vez mais escassos, camisas justas comprimindo a barriga, é autor da maior prova de que as biografias não autorizadas deveriam não só ser permitidas, mas obrigatórias.
                        Steven, claro, é Steven Patrick Morrissey, vocalista e compositor da banda fundamental dos anos 80, os Smiths, dono também de uma carreira solo tumultuada, mas de enorme sucesso. Cantou e compôs, como ninguém, as dores dos solitários, dos que sofrem de inaptidão para a vida.
                        Morrissey, esse seu nome artístico, também é conhecido pelas atitudes duras e por um temperamento impossível.
                        Mas não é bem esse o Morrissey que emerge de um livro recém-lançado nos países de língua inglesa, cujo nome já diz tudo: "Autobiography".
                        Em uma sequência nem sempre conexa de eventos, "Autobiography" apresenta Morrissey como eterna vítima de desprezo e de complôs --dos colegas de banda, da Justiça, da imprensa, das gravadoras, de empresários incompetentes. Cada um desses, o autor pulveriza com brutal causticidade.
                        Sim, ele resolveu contar sua história. E, em nenhuma biografia recente, o pronome possessivo "sua" teve tanta força.
                        Não há divisão em capítulos, nem índice onomástico, nem preocupações cronológicas. Fica a impressão de que Morrissey sentou-se por alguns dias e escreveu a esmo sobre sua vida, conforme ia se lembrando.
                        Sabe-se lá com quais estratagemas, Morrissey conseguiu que o livro saísse pela coleção "Penguin Classics", que, como o nome indica, dedica-se a grandes obras da filosofia e da literatura, de Aristóteles a Hannah Arendt, passando por Charles Dickens, Edgar Allan Poe e Primo Levi. Deve ser o único autor vivo da série.
                        Fruto de caprichos, instrumento para pequenas e grandes vendetas, "Autobiography" seria, então, uma obra desprezível? Longe disso.
                        Morrissey escreve tão bem, tem um domínio tão completo do ritmo da língua, do "turn of phrase", como se diz em inglês, que "Autobiography" é uma leitura, na maior parte, agradável e iluminadora.
                        O maior obstáculo são as primeiras páginas, de lembranças da infância, com minúcias de dezenas de séries de TV por que ele era obcecado.
                        O livro melhora muito quando começa a falar de música. Ao abordar sua banda preferida, os punks "avant la lettre" New York Dolls, Morrissey produz análises ricas. "As canções dos Dolls tratam da vida acontecendo contra nós --nunca com ou para nós." "Os Dolls eram o cortiço de todos os fracassos, não tinham nada a perder e mal conseguiam diferenciar entre noite e dia."
                        David Bowie, outra de suas paixões, aparece muito. Desde quando Morrissey, aos 13 ou 14 anos, matava aula para acompanhar as passagens de som do ídolo, até o Morrissey já consagrado, que percebe a estratégia de Bowie de se aproximar de quem quer que esteja na moda e descreve o músico mais velho como alguém "que se alimenta do sangue de mamíferos vivos".
                        Os Smiths são o foco da parte mais tediosa --ou mais reveladora, depende do referencial. É quando Morrissey remói o julgamento que o opôs a Mike Joyce, o baterista da banda. Nove anos depois da separação, Joyce decidiu reivindicar 25% dos direitos autorais, em vez dos 10% que ganhava.
                        Joyce venceu. A sentença do juiz John Weeks foi especialmente dura com Morrissey, chamado de "desonesto, truculento e indigno de confiança".
                        Aconteceu em 1996, mas o autobiógrafo não engoliu até hoje. E gasta cerca de 15% de "Autobiography" em diatribes contra os outros ex-Smiths e o sistema judicial. Maldades literárias de alta qualidade, mas um teste da paciência para o leitor.
                        Já perto do fim, mais um impiedoso ritual de vingança. A vítima agora é Julie Burchill, romancista, jornalista, ex-crítica de música, conhecida pelo raciocínio rápido e pela acidez. Morrissey encontra seu igual. E pratica uma evisceração da oponente.
                        Julie, que está fazendo uma entrevista com o cantor, é chamada de "cabra velha", e acusada de se vestir "como uma conselheira espiritual".
                        E mais: "Deus interrompeu a formação correta de seu corpo"; "tem as pernas lamentáveis do fim da meia-idade"; "seu corpo nu provavelmente é capaz de matar plânctons marinhos no mar do Norte".
                        Como se vê, Morrissey usou "Autobriography" para acertar contas com o mundo e seus tantos inimigos. Fez isso sem amarras, aparentemente sem um editor, com estilo, à sua maneira. "Auto", sem dúvida. Mas biografia?

                        Kassab mandou arquivar investigação de fraudes, diz auditor

                        folha de são paulo
                        ALAN GRIPP
                        EDITOR DE "COTIDIANO"
                        Ouvir o texto

                        O ex-prefeito de São Paulo Gilberto Kassab (PSD) mandou arquivar um procedimento aberto para apurar denúncia de que o chefe da arrecadação de sua gestão enriqueceu de forma ilícita, afirma o próprio servidor em grampo obtido pelaFolha.
                        Kassab diz que as acusações do servidor são "mentirosas" e que repudia tentativas "sórdidas" de envolver o seu nome.
                        O auditor Ronilson Bezerra Rodrigues ocupava o cargo de subsecretário da Receita da administração Kassab.
                        Foi preso na semana passada sob a acusação de liderar um esquema de cobrança de propina de grandes incorporadoras em troca de redução de ISS, no período em que exerceu a função.
                        Em 2012, Rodrigues era alvo de um expediente interno (uma investigação preliminar) aberto a partir de uma denúncia anônima para investigar o seu elevado patrimônio --que, agora, descobre-se, é incompatível com seus rendimentos.
                        Na gravação, ele relata a outro fiscal como, em sua versão, o ex-prefeito decretou o fim da apuração.
                        "Vou dizer o que o corregedor [Edilson Bonfim] fez comigo. Ele pegou a declaração de bens da prefeitura, com a evolução patrimonial, foi no Kassab", conta.
                        Segundo ele, a conversa entre o corregedor e Kassab lhe foi relatada pelo chefe-de-gabinete do então prefeito.
                        "Isso o João Francisco Aprá, chefe-de-gabinete do Kassab, me contando. Ele falou: 'olha, a evolução é compatível, mas eu queria abrir a conta dele'. E o Kassab: 'não, não tem motivo'. E falou: 'então arquiva'. Arquivou."
                        Em setembro de 2012, Rodrigues chegou a ser ouvido, mas o procedimento não chegou a resultar na abertura de uma investigação formal.
                        Kassab, em nota, alega que a apuração, mesmo preliminar, foi transferida para a administração Haddad. A gestão petista diz que o procedimento se "limitou a ouvir o investigado" e que "nenhum encaminhamento foi dado à época e o processo ficou parado".
                        No áudio, Rodrigues conversa com o fiscal Luiz Alexandre Cardoso de Magalhães, conhecido como "Louco". Foi Magalhães quem gravou a conversa neste ano --ela foi anexada às investigações da máfia do ISS.
                        "Louco" fez um acordo de delação premiada com o Ministério Público para ter sua pena reduzida. Ele contou aos promotores do caso que gravou os fiscais que atuavam com ele para se proteger.
                        No fim da gestão Kassab, o o auditor acusado de liderar o esquema de fraudes foi alvo de outra investigação, esta arquivada após parecer do então secretário de Finanças Mauro Ricardo. Na gestão Haddad, ele ocupou até junho o cargo de diretor da SPTrans.
                        Colaborou FELIPE SOUZA