Chuva de bailarino
Uma coreografia aérea e três festivais colocam a dança contemporânea em palcos paulistas, mineiros e cariocas
IARA BIDERMAN
DE SÃO PAULO
Nesta e nas próximas semanas, tanto os fãs de carteirinha quanto os que não têm a menor ideia do que seja dança contemporânea vão poder mergulhar nas suas várias vertentes, das mais pop às mais "cabeça".
A linha acrobática, com bailarinos suspensos no ar e movimentos atléticos, é uma das mais populares. Está representada na produção "Ilusões - O Amor na Mesa Vertical de Tarô", do Grupo Ares, que estreia amanhã no Memorial da América Latina, em São Paulo.
Os bailarinos dançam presos a uma parede de 13 metros de altura montada na praça de eventos do memorial. Apesar das peripécias aéreas, o protagonista (o ator e acrobata Guto Vasconcelos) afirma que o espetáculo é despretensioso:"É para ser um alento de 30 minutos na noite de São Paulo".
Dança nas alturas
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Ensaio da dança aérea "Ilusões - O Amor na Mesa Vertical do Tarô", que estreia no Memorial da América Latina, em São Paulo
A concepção do espetáculo, da coreógrafa goiana Monica Ala, junta circo e ideias do psicoterapeuta Carl Jung (1875-1961) para contar a "jornada do herói", no caso um executivo que pensa em se matar representado por Vasconcelos.
"Tem a parte conceitual, mas o foco é mais lúdico. Realizamos uma fantasia impossível: dançar no ar", afirma Monica Ala.
Para quem quer conhecer o que a vertente mais "conceitual" está fazendo, o Festival Contemporâneo de Dança, que começa hoje em São Paulo, é a oportunidade.
A sexta edição do evento terá menos grupos e artistas do que as anteriores, mas cada coreografia ficará mais tempo em cartaz.
Até o dia 24, serão apresentados seis espetáculos de artistas que estão despontando no cenário nacional e internacional, segundo Adriana Grechi, diretora artística do festival. "São trabalhos solo, de duplas e de trios que usam o corpo para estimular a reflexão", diz Grechi.
Na abertura, hoje à noite, os portugueses Sofia Dias e Vítor Roriz apresentam "Um Gesto que Não Passa de uma Ameaça", experimentação que parte da repetição de palavras faladas e da transformação de seus sentidos.
MITOS FUNDADORES
No Rio, o Festival Panorama rola com oito horas diárias de programação. Um dos maiores da área no país, abarca várias linhas da dança contemporânea. Uma é a volta às raízes de sua própria (e recente) história.
Espetáculos retomam mitos fundadores da dança feita hoje, como releituras da "Sagração da Primavera", que fez cem anos.
Em uma delas, o catalão Roger Bernart faz do público o intérprete da coreografia. Aí entra também outra característica da produção atual, a interação com a plateia.
Neste fim de semana, a francesa Olivia Grandville leva ao Rio "Cabaré Discrepante", manifesto dançado sobre arte, e a americana Lois Weaver chama o público a debater na instalação "The Long Table", no Parque Lage.
ILUSÕES - GRUPO ARES
QUANDO de amanhã a domingo, às 20h
ONDE Memorial da América Latina (av. Auro Soares de Moura Andrade, 664, Barra Funda, São Paulo)
QUANTO grátis
QUANDO de amanhã a domingo, às 20h
ONDE Memorial da América Latina (av. Auro Soares de Moura Andrade, 664, Barra Funda, São Paulo)
QUANTO grátis
FESTIVAL CONTEMPORÂNEO DE DANÇA (SP)
QUANDO de hoje até 24/11
festivalcontemporaneodedanca.com
QUANTO grátis
QUANDO de hoje até 24/11
festivalcontemporaneodedanca.com
QUANTO grátis
Espetáculos com apelo crítico dão o tom de festival em Minas
LUCIANA PAREJA NORBIATOCOLABORAÇÃO PARA A FOLHAQuem acha que dança é a arte do movimento harmônico pode se espantar ao assistir o coletivo português Bomba Suicida e o coreógrafo Benoît Lachambre, do grupo canadense Par B.L.Eux. Ambos produzem em seus espetáculos um estranhamento que joga para os ares o virtuosismo, colocando em xeque a ideia vigente de normalidade.Não à toa, o Bomba Suicida foi o escolhido para abrir o FID (Fórum Internacional da Dança) nesta sexta, em Belo Horizonte. "De 1996 para cá, acabamos fazendo concessões, o que diminuiu o apelo político do evento. Neste ano, resolvemos voltar às origens e usar toda a potência crítica da dança", diz Adriana Banana, organizadora do evento com Carla Lobo.
Na estreia, o Bomba Suicida apresenta "Paraíso - Colecção Privada", uma visão ácida do céu e do inferno. O coleti vo traz ainda ao FID "A Primeira Dança de Urizen" e "Guintche".
Outra atração do festival mineiro, o grupo candense Lachambre vai também apresentar seu último trabalho, "Snakeskins", em São Paulo, nos dias 14 e 15.