terça-feira, 15 de outubro de 2013

Rosely Sayão

Casa perfeita. Com crianças?
A palavra lar -- que evoca família, uso da casa, afetividade-- caiu em desuso: foi substituída por casa
Você já reparou, caro leitor, que em cenas de novelas e filmes em que há a presença de personagens infantis, nunca há vestígios da presença de crianças nas casas? Sofás claros sem nenhuma mancha, vasos com plantas lindas e viçosas, enfeites delicados feitos com material muito vulnerável, como cristal ou vidro, por exemplo. Tudo intacto. Diferentemente das casas em que moramos, em que crianças fazem a maior bagunça, não é verdade?
Assim tem sido já há um bom tempo. Talvez, desde que o mundo do espetáculo tomou conta de nossas vidas e que famosos mostram, com orgulho, fotos de suas casas. Impecáveis, por sinal.
O corpo e a casa dos famosos têm sido uma pedra no sapato de quem vive a vida como ela é. A aparência é tudo, não é? Por isso, queremos, a todo custo, uma casa semelhante às fotos que vemos em revistas.
O problema que nos impede: temos crianças em casa. E crianças querem ver o que há embaixo da planta que a sustenta firme e forte em pé no vaso, querem saber o que acontece quando um enfeite cai no chão, desabam no sofá quando querem assistir à televisão ou, apenas, descansar. Aliás, como nós, quando chegamos em casa. A diferença é que eles não sabem controlar o corpo, ainda.
Não é à toa que a palavra lar caiu em desuso. Lar --que evoca família, uso da casa, convivência, afetividade-- foi substituída por casa. Queremos uma casa bonita, perfeita. Ou quase.
Drummond já antevia esse movimento e, em seu poema "Casa Arrumada", diz: "...casa, para mim, tem que ser casa e não um centro cirúrgico, um cenário de novela.... Sofá sem mancha? Tapete sem fio puxado? Mesa sem marca de copo? Tá na cara que é casa sem festa". Sem criança, acrescento.
Por conta desse anseio do mundo contemporâneo, muitas mães e pais estão às voltas com a questão de como ensinar o filho a arrumar as suas coisas. Ensinar talvez não seja a palavra certa. Exigir cai melhor.
Em uma rede social da qual participo, um post fez sucesso nos últimos dias. Uma tabela, feita por um pai, mostra os descontos de mesada que o filho sofre ao deixar de fazer o que ele considera necessário. Além das questões escolares, prioridade dos pais na atualidade, a mesada será descontada se o filho deixar a casa desarrumada.
Então, vamos lembrar: crianças com menos de cinco anos, mais ou menos, não são capazes de organizar suas coisas. Aprendem ajudando --ajudando!-- seus pais, que são os responsáveis pela arrumação. Dos brinquedos, inclusive.
Elas também não conseguem se conter quando querem explorar o mundo. E a casa em que moram é seu mundo! Por isso, com criança pequena em casa, é melhor recolher enfeites preciosos e plantas. E esquecer do sofá claro todo limpo.
Depois dos cinco anos, ela já consegue se organizar, mas com a ajuda de seus pais, e não com tabelas punitivas. Ela arruma, e seus pais ajudam.
Finalmente, na adolescência: os filhos podem ser responsabilizados pela própria organização e pelo respeito aos ambientes comuns da casa, mas ainda com a tutela dos pais. Não adianta querer que eles se comportem como adultos!
Você já tinha se dado conta, caro leitor, de como nosso estilo de vida afeta a educação que damos aos filhos e a convivência com eles?

Suzana Herculano-Houzel

Grudados no Facebook
Aqueles que mais usam a plataforma são os que mais sentem prazer em ser avaliados pelos outros
Eu resisti o quanto pude, mas acabei sucumbindo no ano passado, por necessidade profissional e também para "conhecer o inimigo", já que meus filhos inevitavelmente usariam a plataforma.
Logo em um dos primeiros posts, uma provocação aos jovens chamada "Você quer mesmo ser cientista?", descobri o poder do Facebook: através de compartilhamentos, foram centenas de curtidas em um dia só --e eu me descobri grudada na tela, acompanhando as curtidas e os comentários que chegavam.
Por que o Facebook tem o poder de transfixar o usuário em sua frente? Um grupo de neurocientistas alemães suspeitou que a resposta estivesse no retorno positivo que a plataforma oferece por meio das curtidas públicas aos posts dos usuários.
As curtidas servem como uma indicação da reputação social do usuário, e ter boa reputação é algo valioso por aumentar a chance de ser alvo de boa vontade e cooperação dos outros.
Mas nem sequer é preciso pensar a respeito para apreciar o valor da boa reputação: descobrir que gostam da gente ou receber outras formas de avaliação positiva são estímulos fortes para o estriado ventral, estrutura do sistema de recompensa do cérebro que nos premia com uma sensação de prazer quando algo positivo acontece. Mais tarde, a lembrança desse reforço positivo serve como motivação para repetir o que deu certo --e assim a causa da boa reputação se afirma.
Os pesquisadores da Universidade Livre de Berlim examinaram a relação entre a intensidade de uso da plataforma e a sensibilidade do cérebro dos usuários a recompensas de dois tipos: monetárias e sociais.
O resultado foi uma correlação clara entre a intensidade com que o estriado ventral de cada voluntário respondia a avaliações sociais positivas de boa reputação, na forma de adjetivos associados à sua pessoa, e a frequência de uso do Facebook por cada voluntário. A sensibilidade a retorno monetário não importa: aqueles que mais usam a plataforma são as pessoas que sentem mais prazer em ser avaliados positivamente pelos outros.
A descoberta explica por que o Facebook é um sistema tão poderoso quanto um video game: justamente porque funciona como um video game, onde você aperta alguns botões e descobre imediatamente, pelas opiniões dos outros, se o resultado foi positivo. Como esse é um videogame de adultos que se leva no bolso, é difícil resistir a "jogar" o tempo todo...

    Fernando Haddad e Eduardo Paes

    O reequilíbrio das dívidas com a União
    É preciso sanear as finanças e aumentar a capacidade de investimento dos entes que estão mais próximos da população: os municípios
    Está em discussão neste momento no Congresso Nacional o projeto de lei nº 238/2013, que reequilibra os termos contratuais das dívidas entre a União e os Estados e os municípios brasileiros, sem ferir a Lei de Responsabilidade Fiscal.
    Na década de 1990, o governo federal assumiu e refinanciou as dívidas dos entes federativos. Em contrapartida, celebrou contratos com os entes da Federação, refinanciando o saldo dessas dívidas em 360 meses, com encargos de 6% a 9% ao ano, acrescidos de atualização monetária pelo IGP-DI.
    À época, tais encargos eram inferiores às taxas com que a própria União se financiava, e essa diferença era intencional, como forma de colaborar para o saneamento fiscal dos Estados e municípios.
    Isso pode ser comprovado pela própria mensagem presidencial 154, de 3 de agosto de 2000, que acompanhou o projeto: "Como a taxa de juros paga sobre a dívida renegociada é menor que o custo de captação da União, existe um subsídio...".
    Entretanto, com a redução significativa dos juros reais no país e do custo de captação da União, acabou ocorrendo uma inversão desse cenário. A taxa Selic passou a ser mais baixa que o IGP-DI, o que quer dizer um diferencial de taxas favorável à União.
    Enquanto a Selic acumulada entre julho de 1999 e dezembro de 2012 foi de 649%, os encargos acumulados aplicados à cidade do Rio de Janeiro foram de 940%.
    Outra evidência da distorção do espírito do contrato é que a penalização contratual por eventual inadimplência é a substituição do encargo pela Selic mais 1% ao ano.
    Ou seja, nos termos atuais, São Paulo paga aproximadamente 16% ao ano de encargos (IGP-DI + 9% de juros). Mas, se ficasse inadimplente, o contrato mudaria para aproximadamente 10%.
    O PL 238 permite a readequação dos saldos devedores dos entes que tiveram encargos acumulados superiores ao custo básico de captação de recursos da União (Selic) e muda os encargos futuros para IPCA mais juros reais de 4%, limitado ao teto da Selic.
    É importante frisar que não estão sendo concedidos novos benefícios aos Estados e municípios, e sim apenas readequando os existentes para que, ao menos, não sejam instrumentos de geração de lucro por parte da União.
    No caso do município de São Paulo, nos termos atuais, a cidade continuará sem capacidade de investimento pelos próximos 20 anos (hoje a parcela devida anualmente da divida é mais que o dobro dos investimentos feitos) e, mesmo assim, não conseguirá pagar sua dívida até o final do contrato em 2030.
    A recomposição das condições originais não é favor, refinanciamento, anistia ou remissão. E não conflita, portanto, com o princípio expresso no artigo 35 da LRF que veda refinanciamentos a entes da Federação. Não se pode homenagear a forma em detrimento do conteúdo. Não se está alterando a substância dos contratos.
    Por último, vale a pena mencionar que não existe risco de descontrole em decorrência dessa proposta. Estados e municípios continuarão proibidos de emitir valores mobiliários e os montantes de empréstimos permanecerão subordinados a programas de acompanhamento fiscal rígidos.
    Em resumo, a aprovação desse projeto de lei permitirá o reequilíbrio de contratos que há tempos destoam dos objetivos que nortearam sua celebração, readequando-os ao objetivo primordial da Lei de Responsabilidade Fiscal, buscando sanear no longo prazo as finanças e aumentando a capacidade de investimento dos entes que estão mais próximos das demandas cotidianas da população: os municípios.

    Janio de Freitas

    Palavras sem algemas
    Se há biografias que traçam versões difamatórias, também a biografia correta é apenas uma versão
    O debate em torno de biografias não autorizadas pelo biografado, ou por parente ainda que distante, começou por maus motivos e tomou impulso por motivos ainda piores.
    Uma ação coletiva de gente da música popular por direitos autorais, já razão de desavença na classe, absorveu o problema pessoal de um cantor que fez recolher e proibir sua biografia, e de repente sua tese passou a ser a do grupo amparado em nomes estelares.
    Quase automaticamente, o encobrimento de assuntos pessoais transformou-se em interesse financeiro, com propostas de participação do biografado nos pretensos ganhos de editoras e nos direitos autorais de escritores biográficos.
    Discutir liberdades e direitos com dinheiro como argumento, mesmo que fosse simples ingrediente, não dá. É medíocre demais e imoral demais. Ou um assunto ou outro. A menos que se queira discutir o sistema ocidental de vida, com a presença do dinheiro em absolutamente tudo. Não é o caso.
    Liberdades e direitos são fatores de construção e de exercício da democracia. Sem distinção de sua importância entre níveis culturais, classes econômicas, linhas políticas e indivíduos. O assunto de que se ocupam os cantores e compositores contrários a biografias não autorizadas, portanto, não se limita a biografias, e muito menos a eles e suas conveniências pessoais.
    Se há biografias que traçam versões difamatórias, também a biografia correta é apenas uma versão, dada a impossibilidade definitiva de ser onisciente nos enredos de toda uma vida. A diferença, para as correntes que se opõem contra e a favor de biografias não autorizadas, é que os cerceadores caracterizam-se por duas peculiaridades: a negação da prevalência da lei sobre a calúnia, a injúria e a difamação, e a prepotência da pretendida eliminação a priori das liberdades autorais, mesmo que praticadas com cuidado e ética. Muito mais do que autorização e participações financeiras, trata-se de uma forma de negação da própria liberdade de palavra.
    Para fazê-los livres ou aprisionados em censuras oficiais ou particulares, do livro ao jornal o pulo é tão pequeno quanto --já vimos-- do jornal ao livro. E do jornal e do livro ao teatro, ao cinema, e, se os experimentados mas esquecidos me permitem a lembrança, também à música popular. É sempre assim.
    Se consagrada a proibição não autorizada, em livro, do que uma celebridade julgue inconveniente a seu respeito, por que continuaria permitida a mesma publicação, sem prévio consentimento, em jornal e em revista? Ambos com tiragens e repercussão muito mais imediatas e maiores que as do livro. Os vitoriosos da primeira prepotência por certo passariam ao ataque à contradição. E assim em diante, mudando-se apenas as levas de interessados.
    A democracia tem dois defeitos básicos, entre inúmeros outros: não é perfeita e não admite brechas. Nela, todo mau passo se multiplica em outros maiores. E jamais são precisos muitos: o precipício nunca é distante.

      Mônica Bergamo

      folha de são paulo

      Ao menos 20 Estados concederam perdão a devedores de ICMS desde julho de 2012


       
      DE SÃO PAULO
      Ouvir o texto

      Pelo menos 20 Estados concederam redução ou perdão de juros e multas para devedores de ICMS desde julho de 2012 até agora. Os dados são do Confaz (Conselho Nacional de Política Fazendária), que firma convênios para o parcelamentos de débitos com as unidades da federação.
      CRISE
      Entre os Estados estão São Paulo, Paraná, Rio Grande do Sul e Distrito Federal. Medidas como o perdão de dívidas visam o reforço da arrecadação. Iniciativa semelhante do governo federal, que concedeu perdão a multinacionais, gerou crise na Receita Federal.
      FORA DO EIXO
      Os argumentos dos artistas da Associação Procure Saber, como Chico Buarque, Roberto Carlos e Caetano Veloso, em defesa de restrições à publicação de biografias no Brasil, são "chocantes", disse à coluna um dos ministros mais experientes do STF (Supremo Tribunal Federal). A causa, afirma o magistrado, terá dificuldade de prosperar na corte.
      FORA DO EIXO 2
      Um outro magistrado veterano diz que "o valor mais alto é o da liberdade de expressão. Havendo extravasamento, que se responsabilize o autor [de uma biografia] por danos morais, o que a lei já prevê. O que não dá é para ter uma espécie de 'não me toque. Um Roberto Carlos já não se pertence mais." O ministro ainda brinca: "Vamos repetir o jurista Caetano Veloso: é proibido proibir".
      FORA DO EIXO 3
      Um terceiro magistrado diz que a ideia de se liberar biografias de políticos mas restringir as de artistas, aventada por integrantes da Procure Saber, ignora que "leis são lineares, devem valer para todos".
      VAMOS PENSAR
      No artigo que publicou no domingo no jornal "O Globo", em que procurou explicar os argumentos da Procure Saber, Caetano Veloso disse ser "a favor" de biografias não autorizadas de "Sarney ou Roberto Marinho". Mas que "delicadezas do sofrimento de Gloria Perez" [o assassino da filha da novelista tentou escrever um livro sobre a história] e "o perigo da proliferação de escândalos" merecem reflexão.
      BOLETIM DE OCORRÊNCIA
      A pressão para os deputados aprovarem projeto de lei que prevê o fim do termo "auto de resistência" terá reforço hoje em Brasília. Negra Li, Flora Matos, MC Léo e Max B.O. irão com Rogério Sottili, secretário municipal de Direitos Humanos de SP, para o plenário. O texto extingue a classificação que a PM dá à morte de suspeitos em confrontos e visa coibir a morte de inocentes.
      BOMBANDO
      A mostra "Stanley Kubrick", no MIS, recebeu mais de 3.000 visitas no primeiro fim de semana. O museu ficará aberto até as 22:00 aos sábados durante a exposição.
      BODAS NA SALA SÃO PAULO
      Olavo Setubal, do banco Itaú, e a mulher, Nádia, receberam convidados no casamento da filha Luiza com o engenheiro Gabriel Kairalla, anteontem. Bruno Setubal, irmão da noiva, com a namorada, Paula Drumond, e as empresárias Bia Antony, Laly Mansur e Fernanda Kujawski estiveram na festa. Os casais Nizan Guanaes e Donata Meirelles, Marcos e Tania Derani, Rafael e Ciccy Halpern e Luciana Faria e Gabriel Belli também passaram por lá.

      Casamento de herdeira do Itaú

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      Greg Salibian/Folhapress
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      A empresária Luiza Setubal e o engenheiro Gabriel Kairalla receberam amigos em sua festa de casamento, anteontem, na Sala São Paulo
      QUEBRA-CABEÇA
      Montar a programação dos desfiles de inverno da SPFW virou xadrez complicado em função da presença de Karl Lagerfeld na cidade. O estilista da Chanel inaugura a exposição "The Little Black Jacket", no dia 29, bem no meio da semana de moda. Nenhuma marca quer desfilar concorrendo com o evento do "kaiser da moda".
      QUEBRA-CABEÇA 2
      Já está certo que Alexandre Herchcovitch desfila na manhã do dia 29, no Theatro Municipal, um dos cenários da SPFW, que se realiza em tenda no parque Villa-Lobos. No dia seguinte, será a vez da Ellus ocupar o salão nobre do teatro e mostrar coleção inspirada em caça. A grife fechou exclusividade com Carol Trentini. A top volta às passarelas após dar à luz.
      CURTO-CIRCUITO
      Caio Blat é o homenageado da 11ª edição do festival de cinema Curta Santos, que começa nesta terça-feira (15), às 20h30, no Sesc Santos.
      O português José-Manuel Diogo lança nesta terça-feira (15), às 18h30, "As Grandes Agências Secretas", obra sobre os maiores serviços de espionagem, na Livraria da Vila da al. Lorena.
      A Montblanc inaugura nesta terça-feira (15) sua décima loja no Brasil, às 20h, no shopping Iguatemi São Paulo. Juan Alba faz pocket show.
      Chico Amaral, autor de "A Música de Milton Nascimento", e Alberto Villas, de "Pequeno Dicionário Brasileiro da Língua Morta", fazem debate nesta terça-feira (15) às 20h, no Sesc Vila Mariana.
      Filipe Sabará, Duda Derani, Pepeu Correa, Bianca Corona e Gustavo Guzzardi promovem jantar beneficente da ARCAH, às 19h30, no Espaço Trivento.
      com ELIANE TRINDADE, JOELMIR TAVARES, ANA KREPP e MARCELA PAES
      Mônica Bergamo
      Mônica Bergamo, jornalista, assina coluna diária publicada na página 2 da versão impressa de "Ilustrada". Traz informações sobre diversas áreas, entre elas, política, moda e coluna social. Está na Folha desde abril de 1999.

      Raquel Cozer e Cassiano Elek Machado

      Curador da feira rebate acusação de 'nepotismo'
      DOS ENVIADOS ESPECIAIS A FRANKFURTAo final da Feira de Frankfurt, no domingo, o curador Manuel da Costa Pinto se manifestou sobre a acusação de "nepotismo" na seleção dos escritores brasileiros.
      Dias antes da feira, Paulo Coelho dissera em entrevista que desistira de integrar a lista de autores devido a ausência de nomes como Eduardo Spohr e André Vianco e por só conhecer 20 dos 70 selecionados. "Presumo que sejam amigos dos amigos dos amigos. Nepotismo."
      "É uma acusação grave", rebateu Costa Pinto, colunista da Folha. "Nepotista é ele, que quis trazer os amigos. Aliás, mui amigo', usando-os como cortina de fumaça para encobrir os motivos de sua desistência."
      O curador afirma que a ausência dos nomes conhecidos de Coelho nunca foi reclamada por sua agente, Monica Antunes. E que, no entanto, ela já vinha, desde a Feira de Frankfurt de 2012, antes da definição dos nomes, falando com a organização para que Paulo Coelho fizesse o discurso de abertura.
      Sobre os autores escolhidos, Costa Pinto diz que, como crítico literário, conhece a obra "de cada um deles. Inclusive a de Paulo Coelho, de quem li oito livros". "Tinha a dimensão da mensagem que cada um deles teria para passar", diz o curador, que fez a seleção em parceria com Antonio Martinelli, coordenador da programação cultural.
      "Sempre achei natural e desejável a presença de Paulo Coelho na lista. Não pela qualidade literária ou pelo valor estético de sua obra, mas como fenômeno de leitura."
      O curador conta que, ao ser convidado por Martinelli, no fim de 2012, foi informado das exigências da agente. "Falei que só faria a curadoria se todos os autores tivessem tratamento igual. Se fosse o Paulo Coelho no discurso de abertura, não seria eu o curador."
      Em entrevista ao portal Jovem Nerd, Coelho alegou que sua decisão estava tomada desde março. "Avisei o Ministério da Cultura de que não ia participar. Tanto que não estou na programação oficial nem tive hotel marcado." Semanas antes da feira, Coelho postara em seu blog: "Embora seja convidado da delegação, quem organizou minha ida foi minha editora alemã. Portanto, tenho hotel".
      Sobre a ausência na programação, Costa Pinto diz que a agente de Coelho conversava diretamente com a feira para organizar um evento em auditório, e não no pavilhão. Ela nega, diz que os contatos foram feitos com Galeno Amorim [ex-presidente da Biblioteca Nacional]".
      "Minha proposta foi realizar uma conferência para o máximo de 400 editores internacionais, jornalistas presentes na feira, junto com a organização do Brasil. Deixei claro que ou faríamos juntos com a organização do Brasil ou não faríamos."
      A agente diz que não esperava privilégio algum. "Nossa proposta visava a melhor projeção do Brasil e de sua comitiva."

        José Simão

        Folha de são paulo
        Ueba! Ceni é o meu anti-herói!
        E eu acho que o Ceni não devia bater pênalti, devia bater em retirada! Bater uma bronha! Rarará!
        Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Tô adorando o Ceni! O Ceni é o meu anti-herói!
        O mito virou mico! O Rogério Senil fundou e afundou o São Paulo! Perdeu pênalti! DE NOVO! Dá vontade de gritar do sofá: "Ceni, não é assim que se bate pênalti".
        E diz que o Ceni agora tá em busca dos cem pênaltis perdidos. Já perdeu quatro. Mais dez anos no São Paulo, ele consegue!
        E o site Futirinhas falou que o Ceni é igual feriado em fim de semana: não serve pra nada! E eu acho que o Ceni não devia bater pênalti, devia bater em retirada! Bater uma bronha! Rarará!
        Mas tem uma corrente na internet: Fica Ceni! Pra alegria dos corintianos. E você acha que o Ceni deve continuar batendo pênalti?
        Deve, na segundona. Deve, pra alegria dos outros. Deve bater pênalti, cobrar falta, arremessar na lateral, apitar a partida e ficar na bilheteria!
        E aviso aos corintianos: no filme "Bambi", o gambá se chama FLOR! Gambambi! Rarará!
        E o Botafogo bateu o Flamengo! Mas não tem torcida pra comemorar. O site Futebol da Depressão colocou a foto de um gato solitário atravessando uma rua deserta e colocou a legenda: "Botafoguenses comemorando a vitória".
        Essa é a definição da torcida do Botafogo: um gato solitário atravessando uma rua deserta! Rarará!
        E ainda anunciaram um "Globo Repórter" sobre os flamenguistas: "Flamenguistas são mágicos, há dois dias tinha aos montes, agora sumiram todos. Para onde foram? Onde estão vivendo? Como se alimentam? Sexta-feira no Globo Repórter'!".
        E essa do Dia das Crianças! Pai lendo o jornal, o filho de quatro anos no colo passa os dedinhos pela foto impressa: "Pai, não funciona". Rarará! É mole? É mole, mas sobe!
        O Brasil é lúdico! Olha essa em Taquaritinga, interior de São Paulo: "Funerária Marmita". Devem enterrar um em cima do outro e ainda botam um ovo frito em cima! Rarará!
        E essa placa no supermercado: "Oferta! Óleo de soja Liza. De R$ 2,29 por R$ 2,28". Eita liquidação da porra, como se diz na Bahia. Rarará!
        E mais outra placa numa pousada em Florianópolis: "Favor não grudar meleca nas paredes". Rarará. Nóis sofre, mas nóis goza. Hoje só amanhã.
        Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

        João Pereira Coutinho

        Retrato de um gigante
        Entre os conservadores britânicos, imaginar que um trabalhador braçal pudesse votar só poderia ser piada
        A esquerda luta contra as desigualdades; a direita pretende apenas perpetuá-las. Podem passar milênios sobre a história humana. Mas esse é o clichê que fica.
        Injusto. Nos últimos tempos, por motivos acadêmicos, tenho passado os dias com o conservador Benjamin Disraeli (1804""1881).
        Sim, na longa galeria de primeiros-ministros britânicos, Disraeli perde em popularidade para gigantes como Churchill ou até para o contemporâneo Gladstone. Quando muito, Disraeli é lembrado como romancista (mediano) e um dos principais confidentes da rainha Vitória.
        Mas Disraeli foi mais que tudo isso: ele simplesmente evitou que a Inglaterra cumprisse a revolução profetizada por Marx. A forma como o fez desafia todos os clichês ideológicos.
        Aliás, a referência a Marx não é por acaso. Porque ambos, habitando a mesma cidade, contemplaram o mesmo problema: o fosso crescente entre ricos e pobres; a concentração de riqueza (e de poder) na mão de uns poucos --e depois uma longa legião de miseráveis que a Revolução Industrial produzia nas cidades.
        Mas existe uma diferença: para Marx, o proletariado estava pronto para a revolução porque nada tinha a perder. Para Disraeli, o proletariado só não estaria pronto para a revolução se tivesse alguma coisa a ganhar.
        Um pouco de história: em 1832, quando o Parlamento aprovou uma importante reforma eleitoral (a Reform Bill, promovida pelo partido Whig), foi concedido à classe média o direito de voto.
        Disraeli reagiu. Por temer que o direito de voto à classe média pusesse em causa os sucessos eleitorais futuros do seu próprio partido conservador, aliado tradicional da aristocracia terratenente?
        Sem dúvida --o calculismo partidário não nasceu hoje. Mas o problema, para Disraeli, não era apenas partidário, era nacional. Ou, dito de outra forma, o que seria da Inglaterra se as classes trabalhadoras fossem deixadas para trás? Não seria preferível conceder também o direito de voto às classes trabalhadoras?
        Uma pergunta dessas, entre os conservadores, era simplesmente blasfêmia: imaginar que um trabalhador braçal pudesse votar só poderia ser piada.
        Pior ainda: como o sr. Karl Marx ensinava, alargar os direitos políticos ao proletariado era convidar para dentro de casa quem a desejava destruir.
        A resposta de Disraeli foi simples e crucial: ninguém deseja destruir uma casa que também sente como sua.
        Dito e feito: em 1867, Disraeli aprovou o Reform Act, que concedeu o direito de voto aos trabalhadores urbanos. A historiadora Gertrude Himmelfarb explica a importância do gesto em uma única frase: foi nesse ano que a democracia plena nasceu no Reino Unido.
        Mas Disraeli não ficou por aqui: como lembra Peter Viereck em estudo que também lhe é dedicado ("Conservative Thinkers", um primor de concisão e erudição), Disraeli acabaria mais tarde por legalizar também os sindicatos; e o direito à greve; e o direito à constituição de piquetes pacíficos; para além de ter aprovado mil outras leis laborais que extinguiram, um por um, todos os focos potencialmente revolucionários no país.
        Como explicar tudo isso? Como explicar, no fundo, que tivesse sido um conservador a depositar uma fé tão otimista nos marginais do sistema?
        Opinião pessoal: porque Disraeli, apesar de todos os sucessos literários e políticos, sempre se sentiu um marginal na sociedade inglesa do século 19. Aos olhos dos seus pares, ele era o eterno "estrangeiro", o eterno "exótico", o eterno "judeu", apesar do batismo na fé cristã.
        E não existe nada mais insultuoso para um "outsider" do que a ideia paternalista, seja de esquerda ou de direita, de que todos os "outsiders" são por definição selvagens e revolucionários.
        Não são, disse Disraeli: eles também podem ser cavalheiros se forem tratados como cavalheiros. E só assim, tratados como cavalheiros, eles estarão dispostos a preservar, e não a destruir, a constituição de que fazem parte.
        Foi essa a lição magistral que salvou a Inglaterra da revolução --e, claro, o partido conservador do esquecimento.
        Que essa lição seja ignorada pela esquerda, não admira. Que ela seja ignorada pela direita, eis uma fatalidade que já causa maior espanto.