segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Inovar, mas com critério - Alexandre Schneider

A prefeitura paulistana deixou de divulgar mensalmente o número de matrículas em creche. Um caso inusitado de redução de transparência
Em agosto deste ano, a Prefeitura de São Paulo apresentou um projeto para, supostamente, "reformar o currículo e toda a administração da rede de ensino".
Não era sem tempo. Somando-se à posse do novo secretário da Educação os três meses de transição de governo, já faz um ano que fizemos, juntos, uma radiografia de todos os números, obras, serviços em andamento e do que se previa em projetos e ações.
Assim que assumiu a Educação, porém, Cesar Callegari passou a fazer denúncias e reparos à antiga gestão. Somos, portanto, obrigados a voltar a repor verdades.
Cesar Callegari afirma hoje que "no quinto ano do ensino fundamental de nossas escolas, há 38% de alunos não alfabetizados". Na época da transição, disse ao UOL, sem citar a fonte, que esse número era de 27% e "era preciso agir já, imediatamente".
Teria se descuidado tanto e o número de não alfabetizados em sua gestão crescido assustadores 11%? Ou, então, se esqueceu da declaração que deu ao portal em 26 de dezembro e, com divulgação da taxa maior, estaria se preparando para anunciar agora a mágica redução um ano depois...
O mais interessante, porém, é que sua gestão não fez nenhuma avaliação dos alunos para medir esse índice. O Ministério da Educação (MEC) também não mede esse dado. De concreto, sabe-se que o MEC vai passar a medir nacionalmente o índice de alfabetização no terceiro ano do ensino fundamental.
Índices à parte, Callegari anuncia várias novidades para fazer a "revolução" prometida. Destacamos quatro delas.
1. Realização de provas bimestrais. Como? As escolas da rede municipal já fazem avaliações periódicas. Além das elaboradas pelas escolas, a Secretaria de Educação aplicava provas externas. Não há nada de novo, a menos que a secretaria padronize todo o processo de avaliação, eliminando compulsoriamente o que é feito pelas escolas.
2. Lição de casa para os alunos. Estranho, pois dados oficiais da própria secretaria indicam que, segundo os pais, apenas 4% dos alunos da rede não levavam lição para casa (Pesquisa de Hábitos de Estudo 2010 - Prova São Paulo). Então, o que propõe a secretaria? Criar uma lição de casa padrão para todas as escolas? Será feito um controle centralizado? Todos os professores deverão, por exemplo, passar os mesmos problemas de matemática aos alunos de um determinado ano? E informar a secretaria se os alunos fizeram a lição?
3. Recuperação paralela para os alunos. Todas as escolas já têm isso. Com material específico para uso em sala de recuperação.
4. Promessa de escola em tempo integral. Vale esclarecer que, na gestão Kassab, saímos de quatro para seis horas de aula na pré-escola e de quatro para cinco horas de aula no fundamental. Em setembro de 2012, já havia mais de 260 mil matrículas em atividades no contraturno escolar, com alunos do ensino fundamental frequentando a escola por sete horas, com aulas de recuperação, música, xadrez (um dos maiores programas de xadrez educativo do mundo) e outras.
Por fim: a prefeitura deixou de divulgar mensalmente no seu site o número de matrículas em creche. Em troca, coloca a soma do número de alunos em creche e em pré-escola, o que reduz a transparência e a possibilidade de controle. Não há mais como saber o número de alunos por sala, como antes. Nem sobre a formação de professores e sua distribuição. Um caso inusitado de redução de transparência.
Vale todo esforço para inovar e melhorar o ensino municipal. E se for preciso renomear, desativar projetos, interromper e eliminar soluções já implantadas, que seja com critério, seriedade e transparência. São Paulo, os profissionais da educação, alunos e pais de alunos merecem isso.

Luli Radfahrer

Vem brincar comigo
Está na hora de levar a brincadeira a sério; o jogo se tornou pré-requisito para o desempenho profissional
Durante muito tempo o ato de brincar foi considerado coisa de criança, aquilo que os pequenos faziam quando se viam livres da interferência dos adultos. Opostas a "coisas sérias", as brincadeiras não eram consideradas experiências válidas. O tempo empenhado nelas era, no máximo, uma forma de lazer.
No entanto, desde o começo do século 20, pedagogos, filósofos, psicólogos e outros estudiosos do aprendizado vêm percebendo que a brincadeira é um artifício cerebral de grande importância para o aprendizado de ideias e conceitos.
O jogo é fundamental para o desenvolvimento social, emocional, intelectual e físico. Ambiente de simulação e representação de papéis, nele o tempo acontece de forma desestruturada e interativa, dando a seus participantes um grande controle sobre elementos que, na vida cotidiana, seriam imprevisíveis.
Muita gente que despreza jogos não percebe que, ao entrar em debates políticos, questões de poder e estratégias de sedução, está jogando outro tipo de jogo, e, como os outros, tem regras claras e está aberto a intervenções.
Há mais de meio século, Sigmund Freud defendia que cada criança, ao brincar, se comportava como um artista ou um cientista. Ambos criam estruturas diferentes da realidade, em que os elementos do mundo são desativados ou reestruturados, ficando sujeitos à manipulação.
Está na hora de levar a brincadeira a sério. Hoje, tempos em que tanto se fala em inovação, cocriação e "design thinking", o jogo se tornou pré-requisito profissional. É nele que se desenvolve o raciocínio sistêmico e multivariável que mais tarde será necessário para desenvolver e operar novos aplicativos e interfaces.
O fluxo ininterrupto de informação do mundo digital faz com que seja preciso aprender o tempo todo, questionando e desafiando as velhas certezas. Equipamentos de ponta nos hospitais e na indústria são tão diferentes do velho computador-e-mouse que nem parecem ter a mesma origem. Seu comportamento é tão amigável que se torna irresistível chamá-los de brinquedões.
Se muita gente ainda tem preconceito com relação aos jogos é porque os videogames, como a internet e a informática, cresceram sob os nossos olhos. Como tios desligados, muitos ainda os veem como as crianças que um dia foram. Um Xbox One é tão diferente do fliperama em que se jogava "Pac-Man" quanto um Airbus A380 difere de um balão.
Muitos jogos têm roteiros primários, mas isso é culpa de roteiristas e do mercado. Não se pode comparar Akira Kurosawa a James Cameron.
Boa parte da internet e de sistemas como o Unix foram criados colaborativamente no horário livre de programadores, que levavam a atividade com uma dedicação de atleta profissional. APIs, impressoras 3D e circuitos como Arduino e Raspberry Pi criam uma nova geração de hackers que questionam as estruturas com suas tecnogambiarras.
O impulso lúdico é tão forte que vemos a criação de jogos até em lugares inesperados. Quem diria que, no Twitter, teriam destaque brincadeiras como Trending Topics, FollowFriday ou o uso do caractere #?
Há jogos por toda parte. De "Candy Crush" a "GTA", passando por Foursquare, eles podem ser óbvios ou complexos, declarados ou intuitivos. Quem não consegue vê-los é porque não sabe brincar.

"Relatório do painel do clima não é alarmista, é estúpido", diz climatologista do MIT

RAFAEL GARCIA
DE SÃO PAULO
Ouvir o texto

O climatologista Richard Lindzen não acredita que as emissões de combustíveis fósseis sejam a principal causa do aquecimento global. Conseguiu, porém, algo raro para alguém de sua opinião: teve seus estudos analisados pelo IPCC, o painel da ONU que avalia as evidências da mudança climática.
As menções a Lindzen no quinto relatório de avaliação do IPCC, porém, não são elogiosas. Seus estudos sobre mecanismos de feedback --que cancelam ou amplificam o efeito estufa-- foram citados e, logo em seguida, contestados. Falharam tentativas de reproduzir seu trabalho sobre "sensibilidade" do clima (medir quanto a Terra aquece se o nível de CO2 dobrar).
A teoria mais conhecida de Lindzen, o efeito íris, afirma que a mudança climática faria as nuvens aprisionarem menos radiação infravermelha, um feedback que cancelaria o aquecimento global.
Mas a análise de outros estudos fez o IPCC concluir que o efeito-íris não tem esse poder. Um trabalho de Lindzen sobre o assunto foi considerado "não confiável", por ter "amostragem limitada".
Divulgação
Climatologista do MIT, Richard Lindzen, questiona conclusão de cientistas do IPCC
Climatologista do MIT, Richard Lindzen, questiona conclusão de cientistas do IPCC
Em entrevista à Folha, Lindzen admite o erro, mas explica por que ainda contraria o IPCC. Alegando ser vítima de perseguição acadêmica, reconhece já ter recebido verba da indústria do petróleo, mas nega ter vínculo fixo com o setor. "Isso é tática diversionista", diz.
*
O sr. acredita que o último relatório do IPCC seja particularmente alarmista?
Na verdade, não. Ele é apenas estúpido. Qual o significado de um cientista esperar para ouvir o que os políticos acham que ele deve dizer?
Agora há uma demanda dos políticos para que, em cada relatório que é feito, os cientistas soem como se tivessem cada vez mais certeza. Isso foi predeterminado.
O que nós temos é uma situação na qual os modelos climáticos [ferramentas matemáticas para projetar o clima futuro] discordam das observações cada vez mais, mas o IPCC tem de concluir que eles são confiáveis, o que é simplesmente insano.
Isso tem relação com a desaceleração do aquecimento global nos últimos 15 anos. Mas o relatório afirma que essa escala de tempo não é relevante para os modelos, e que a tendência no longo prazo continua mostrando subida.
Não existe uma escala de tempo mais relevante. O que existe é que, a cada ano, a previsão se sai mal. Quando os ouvimos dizer que essa é a escala de tempo errada, estão errando o alvo, porque o fenômeno é contínuo.
Não é preocupante que as três últimas décadas tenham sido as mais quentes de todo o registro histórico?
Não. Estamos falando sobre números, certo? E eles estão tentando fazer você pensar que o planeta está esquentando. Dizem a você para não pensar em números porque números indicam que estamos falando de uma mudança pequena. Se pergunto qual tem de ser a sensibilidade do sistema para ser consistente com isso, a resposta seria, mais ou menos 1°C, para o dobro do nível de CO2.
Mas obviamente ninguém acredita que todo o aquecimento dos últimos 150 anos se deva só ao homem, então o número seria um pouco menor. Quase todo economista estudando isso chega à conclusão de que um aquecimento de 1°C ou 2°C, que significaria quadruplicar o CO2, provavelmente traria benefícios líquidos.
Se o novo relatório diz que a estimativa mínima para sensibilidade climática é menor do que costumava ser no anterior, de 2°C, ele não estaria sendo menos alarmista.
Não importa se você começa com o modelo de 1,5°C ou um modelo de 5°C, todos estão exagerando.
Por que o sr. acha que no IPCC, um painel com tantos cientistas independentes uns dos outros, todos estão errando?
Quantas pessoas estão errando? O IPCC diz a você que abriga milhares dos melhores cientistas do mundo. De onde vêm esses milhares? Só existe um punhado de pessoas estudando sensibilidade. O trabalho de tentar convencer o público de que "milhares de cientistas estão de acordo, como diabos alguém pode discordar?" é uma pista de que algo está errado.
Algumas das menções no relatório a seus estudos não são particularmente favoráveis a seu ponto de vista, sobretudo em relação a seu estudo de 2009.
O estudo de 2009 tinha um erro. É verdade. Mas há um estudo de 2011 no qual ele foi corrigido. E a resposta não se alterou. O erro não era um grande problema. O problema é que se você comete um erro que o põe contra o fluxo, eles fazem parecer que foi algo gravíssimo. Ninguém se importa em verificar se aquilo resulta em alguma diferença.
O IPCC diz que o saldo final causado por nuvens é provavelmente positivo [aquece mais o mundo, em vez de resfriar]. Isso derruba sua teoria sobre o efeito-íris?
Bem, até agora o efeito-íris já foi confirmado por quatro estudos independentes, então não estou propenso a me render e dizer que é uma idéia ruim. Há um estudo de Brian Soden e Ákos Horváth no qual eles confirmam nossa principal conclusão.
Para conseguirem publicá-lo, porém, tiveram de incluir um parágrafo dizendo o estudo parece confirmar o que eu, Ming-Da Chou e Arthur Hou [coautores] encontramos, mas é algo geralmente considerado errado. Além deles há Kevin Trenberth e John Fasullo dizendo que o que descobriram é consistente com nosso estudo, mas é claro que eles dão as referências para aquele que estava errado.
O IPCC menciona o estudo de Trenberth e colegas como não favorável aos seus resultados.
Eles tiveram um estudo que foi uma crítica, mas publicaram outro ao mesmo tempo, confirmando nosso resultado sobre o infravermelho.
Uma reclamação de cientistas como o sr. é de que as publicações científicas estão boicotando-os, mas o sr. tem publicado vários estudos...
Você está brincando? É claro que eles estão dizendo a verdade. O prática padrão com qualquer com críticas é fazer a revisão levar um ano e meio. Quando eu publiquei dois estudos no boletim da Sociedade Meteorológica Americana, ambos foram aceitos após longas revisões, mas o editor foi imediatamente demitido depois.
Isso não é apenas reflexo do consenso? Pesquisas recentes mostram que o papel humano no aquecimento global é reconhecido por algo em torno de 95% dos cientistas da área.
Sim, eu sei. E hahaha: eu estou entre os 95%, porque eles não estão fazendo a pergunta certa nessas pesquisas.
Um estudo perguntou se eles acreditavam que a atividade humana era uma causa significativa do aquecimento global, e só 5% discordaram.
Temos algum impacto, mas não significativo.
Então, nessa pesquisa o sr. estaria no lado dos 5%.
Não! A maioria das pessoas entrevistadas nessas pesquisas dizem apenas que há "alguma" [influência humana].
O sr. se aborreceu quando a Harper's publicou uma reportagem acusando-o de receber dinheiro do petróleo?
Sim, eu cobrei um cachê de palestra de US$ 5.000 uma vez, e escreveram que eu estava recebendo isso todo dia. Eu havia dito ao autor desse texto, Ross Gelbspan, que eu havia comparecido a um encontro patrocinado por uma associação energética no Canadá, e que o cachê era de US$ 5.000. O ambientalista Stephen Schneider também recebeu a mesma coisa. Havia gente de todos os lados lá.
O petróleo também bancou o Centro de Annapolis para Políticas Públicas Baseadas em Ciência, onde o sr. é membro de um conselho?
Calma lá! Já faz mais de 15 anos que isso não existe. E foi muito pouco. Até onde eu sei, não teve influência nenhuma. Não conheço nenhum cientista em atividade que se oponha ao alarmismo e seja apoiado pela indústria do petróleo ou carvão. Então, isso é uma tática diversionista. O petróleo hoje está financiando mais os alarmistas.

Horas que salvam - Claudia Collucci

Projeto em São Paulo e no Rio reúne médicos e outros profissionais da saúde dispostos a doar algumas horas de seu trabalho para ajudar população de baixa renda
CLÁUDIA COLLUCCIDE SÃO PAULO
Na escola, Mikael, 9, não conseguia fazer a lição. Cada vez que era chamado para escrever na lousa, ficava parado, mudo. Às vezes, chorava. As outras crianças riam.
"Me zoavam o tempo todo. Não conseguia enxergar as linhas do caderno, ficava tudo bagunçado. Também não enxergava o que a professora escrevia na lousa", conta.
Euvacir Alves, a mãe, tentou marcar consulta no posto perto de casa, na zona norte de São Paulo, porém não havia oftalmologista. "Me mandaram entrar numa fila de espera, mas avisaram que não tinham previsão."
Há um mês, o problema do menino foi diagnosticado: nove graus de miopia no olho direito e oito graus no olho esquerdo. E resolvido com um par de óculos.
A consulta e o tratamento do foram possíveis graças a um projeto social lançado em São Paulo, o Horas da Vida, que tem apoio de personalidades como o médico Drauzio Varella e o maestro João Carlos Martins. A iniciativa desembarca hoje no Rio.
Por meio dela, médicos e outros profissionais da saúde doam horas disponíveis nas suas agendas para o atendimento gratuito de pessoas de baixa renda. Participam do projeto 150 médicos de 25 especialidades e outros cem profissionais da saúde, como psicólogos e fisioterapeutas.
Os pacientes são triados por instituições que já desenvolvem trabalhos sociais em comunidades carentes. A Fundação Bachiana, do maestro Martins, que leva educação musical aos jovens de Paraisópolis, foi a primeira a apoiar o projeto.
Segundo o clínico-geral e geriatra João Paulo Nogueira Ribeiro, fundador do Horas da Vida, a iniciativa veio da percepção de que, assim como ele, vários médicos já faziam de maneira informal atendimentos gratuitos.
A ideia foi organizar a demanda. Médicos e profissionais da saúde interessados em se cadastrar no programa definem a quantidade de horas e a frequência do atendimento, feito nos seus consultórios particulares.
Não há um critério definido para o acompanhamento do paciente. "A gente não consegue obrigar que o médico faça o seguimento a longo prazo, mas a maioria dos profissionais se sensibiliza com a causa e vai até o desfecho", afirma Ribeiro.
Não há atendimento de urgências e emergências e nem de casos que exijam cirurgias. "Precisamos de mais parceiros, como hospitais e planos de saúde, para atender casos de maior complexidade."
Para o oncologista Drauzio Varella, o projeto não resolve o problema da saúde pública paulista, mas pode ajudar pessoas que não conseguem consultas com especialistas.
"Imagine o número de médicos em São Paulo. Se todos doassem uma hora, duas horas por semana, já seria de grande valia", diz Varella.
Entre os parceiros do Horas da Vida está o laboratório Dasa, que faz gratuitamente os exames para os pacientes atendidos pelo projeto.
O oftalmologista Julio Abucham doa uma hora de consulta por semana e participa de outra iniciativa do programa, o Enxerga São Paulo, um mutirão que realiza exames de acuidade visual, teste de desvio ocular, entre outros.
A ação também tem a Ótica Carol com parceira na doação de lentes e armações.
O caso da aluna Graziele Caldeira, 10, da Fundação Bachiana, foi um dos que motivaram o mutirão. Com dez graus de deficiência visual, ela não conseguia ler as notas da partitura e também tinha dificuldades na escola.
Julio Abucham lembra da reação de Mikael ao colocar os óculos pela primeira vez. "Ele deu um sorrisão maravilhoso, não dá para esquecer."

Painel Vera Magalhães

De olho em 2018
Um fator pesou na decisão de Marina Silva de se filiar ao PSB e apoiar Eduardo Campos -admitindo, inclusive, ser sua vice, mesmo tendo o triplo de suas intenções de votos. Na conversa que tiveram na madrugada de sábado, Campos reiterou a Marina o compromisso de, se eleito, mandar ao Congresso emenda constitucional para acabar com a reeleição. Nesse cenário, como vice atuante e com uma aliança já assegurada, Marina seria um nome forte para a eleição de 2018.
Timing O programa de dez minutos do PSB que vai ao ar quinta-feira no horário da propaganda partidária será refeito para mostrar a aliança com Marina Silva. A propaganda vai reafirmar a legitimidade da Rede e exibir cenas do anúncio da aliança.
Superexposição A Rede Globo exibiu seis propagandas estreladas por Eduardo Campos no intervalo de "Sangue Bom" sábado. Em seguida, o "Jornal Nacional" dedicou 4m22s à notícia. Por fim, mais três inserções do PSB foram ao ar no primeiro intervalo de "Amor À Vida".
Top of Mind Para estrategistas de Campos, o combo do noticiário da TV mais os spots partidários e a repercussão nas redes sociais representa o equivalente a 200 milhões de GRPs (Gross Rating Points), parâmetro usado para medir o alcance de mídia de uma notícia.
Despertar A ideia de que Marina seja vice de Campos não agrada aos sonháticos. "Espero que essa chapa se inverta e seja Marina presidente e Eduardo vice. Caso contrário, vou defender candidatura própria do PDT", diz o deputado federal Reguffe (DF), que não se filiou ao PSB.
Em casa Marina não transferiu o domicílio eleitoral do Acre, o que acaba com a especulação de que poderia ser candidata ao governo do Rio ou do Distrito Federal para puxar votos para Campos.
Epocler Lula soube da união entre Campos e Marina num sítio em Ibiúna com a família do ex-prefeito de Campinas Jacó Bittar. "Agora foi um direto no fígado", reagiu o petista, segundo relatos.
De pé Ao telefonar para Aécio Neves, que está em Nova York, Campos disse que foi surpreendido pela iniciativa de Marina. Combinaram de se encontrar, e o governador de Pernambuco disse que os acertos entre PSB e PSDB nos Estados estão mantidos.
Lá e cá O PT pretende explorar as contradições de perfis dos neoaliados. "Marina reduz a capacidade de diálogo de Campos com o empresariado, e ele aniquila a sedução dela pela promessa do novo", diz um petista.
Porteira Já Aécio vai investir em atrair os representantes do agronegócio, que vinham conversando com o pré-candidato do PSB, mas agora ficam órfãos diante da parceria com Marina.
Cizânia Pesquisa do instituto Ideia para o PSDB fechada no dia 2, com 3.000 entrevistas, reforçou no partido a aposta de que haverá pressão pela troca de posições de chapa no PSB. Dilma Rousseff tem 38%, Marina, 20%, Aécio, 17%, e Campos, 5,5%.
Carburador Fernando Haddad (PT) pretende anunciar nesta semana o encerramento do contrato entre a Prefeitura de São Paulo e a Controlar, responsável pela inspeção veicular na cidade, depois de longa disputa administrativa com a empresa.
Cofre Haddad recebeu na semana passada do deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) a notícia de que a Câmara deve votar ainda em outubro a renegociação das dívidas de Estados e municípios.
TIROTEIO
Aécio é o grande perdedor com a decisão de Marina. Resta saber a reação na Rede, que pode ser contrária à decisão imperial dela.
DO EX-MINISTRO JOSÉ DIRCEU (PT), réu no mensalão, que publicou em seu blog, em abril, post que dizia que Marina podia ser vice em chapa de oposição.
CONTRAPONTO
Saí do Facebook
No longo discurso que fez no sábado para justificar sua decisão de se filiar ao PSB, Marina Silva, além de criticar a decisão do TSE, que, segundo ela, tornou a Rede o "primeiro partido clandestino" pós-democratização, ironizou a ideia de que deveria se manter fora dos partidos e da disputa eleitoral para conservar a "pureza" política.
-Muitos achavam que eu deveria ser a madre Teresa de Calcutá da política. Mas escolhi assumir posição.
Outros a queriam como "a candidata da internet":
-Todo mundo ia curtir, e muita gente ia me cutucar! -brincou, arrancando risos na plateia.

    Ruy Castro

    Aventura brasileira
    RIO DE JANEIRO - Na semana passada, meus amigos Bia e Sid tomaram um voo matinal no aeroporto de Heathrow, em Londres, rumo ao Rio. Doze horas depois, num lindo fim de tarde carioca, desceram no Galeão. Voos diurnos são cansativos --o organismo resiste a cochilar e, por mais que as companhias aéreas simulem noite na aeronave, dorme-se menos.
    Bia e Sid têm grande humor, mas este sofreu o primeiro desgaste quando, ao tentar comprar um táxi especial, descobriram que nenhuma daquelas cabines tinha carro para oferecer. Acontece, às vezes, e ninguém sabe explicar --mas uma hora inteira sem táxis? Bem, sempre havia os amarelinhos à saída do aeroporto, e lá se foram eles, arrastando as malas. Outra surpresa: os amarelinhos também estavam em falta. Um ou outro, quando surgia, era logo engolido pelo primeiro na enorme fila.
    Bia e Sid já deram a volta ao mundo, e não seria no Rio que ficariam micados. De mala e tudo, tomaram o ônibus que liga o Galeão ao pequeno aeroporto de Jacarepaguá --no qual chamariam por telefone um táxi especial e iriam para sua casa, na Barra. Mas toda aquela odisseia levara horas e já era noite quando chegaram ao aeroporto de Jacarepaguá --no qual, de repente, as luzes se apagaram. O aeroporto estava fechando, disse uma funcionária, e o táxi não poderia entrar para apanhá-los.
    Bia não discutiu. Pegou o telefone e ligou para a polícia. Falou em cárcere privado. A mulher se assustou, deu a contraordem e deixou que chamassem o táxi. E só assim, depois dessa pequena aventura brasileira, chegaram em casa --torcendo para que os gringos mais idosos, que eles haviam deixado na fila do Galeão, não tivessem morrido de velhice.
    O cronista se ausentará por algumas semanas. Se não voltar a este espaço no próximo dia 30, favor procurá-lo --e resgatá-lo-- no Galeão.

      Eu vou tirar você desse lugar

      Coletânea de CDs de Odair José estimula a reavaliação da sua obra, mal classificada como brega'; um dos nomes mais populares nos anos 1970, ele cantou o preconceito contra prostitutas e domésticas
      MARCELO FERLACOLABORAÇÃO PARA A FOLHA,"Ser chamado de brega é horrível", desabafa Odair José, 65, um dos artistas mais populares do Brasil. "Tenho a esperança de que as pessoas vão entender a qualidade do meu trabalho antes de eu morrer", diz à Folha, de um hotel em Fortaleza, QG dos shows da turnê nordestina.
      Mais da metade do repertório atual desse goiano que chegou a ser chamado de "O Terror das Empregadas" é composta por músicas dos álbuns dos anos 1970: "Assim Sou Eu..." (1972), "Odair José" (1973), "Lembranças" (1974) e "Odair" (1975). Tudo isso será relançado neste mês na caixa de CDs remasterizados da série "Tons".
      Este é um novo capítulo de reavaliação da obra de Odair, novela de roteiro nada linear. Um episódio de revisão aconteceu em 2006, no CD "Vou Tirar Você Desse Lugar", tributo a Odair gravado por artistas da cena pop.
      Outro ocorreu em 2011, no CD "Praça Tiradentes", em que ele mesmo resgatava "o velho Odair", instigado por Zeca Baleiro (e com sua participação). "Odair inaugurou um jeito de fazer música brasileira", afirma Zeca.
      "Ele construiu uma obra com temas populares como eram o rock, o country e o blues no começo, e foi corajoso, dando a cara a tapa para que, 20 e tantos anos depois, garotos do Leblon e Ipanema como Cazuza e Lobão pudessem brincar de bandidos", diz o músico.
      Hitmaker incontestável, Odair está na formação de vários músicos das novas gerações, como Fred Zero Quatro, do Mundo Livre S/A.: "Cresci no interior ouvindo rádio. Os sons românticos dele estavam entre meus preferidos".
      Odair José conta que é inconformado com a percepção errônea sobre seu trabalho.
      Em 1972, depois de estourar com "Vou Tirar Você Desse Lugar", lançado pela CBS, ele descobriu o folk rock de Neil Young, Cat Stevens e Ritchie Havens, e se empenhou em sair do gênero no qual foi inserido, a Jovem Guarda.
      A sonoridade recorrente da gravadora, a mesma de Roberto Carlos, não lhe agradava. "Todos os discos tinham o som do órgão e das guitarras de Roberto", afirma.
      Incentivado por amigos como Raul Seixas, Odair resolveu mudar o som e fazer letras que fossem como reportagens de jornal. A CBS não gostou e ele assinou contrato com a Polydor, "em busca de autonomia".
      Lá montou banda com José Roberto Bertrami (piano), Alex Malheiros (baixo) mais Ivan "Mamão" Conti (bateria), que depois formariam o Azymuth; o soulman Hyldon (guitarras) e ainda Luiz Cláudio Ramos (violões), futuro maestro de Chico Buarque.
      A safra de discos entre 1972 e 1975 evidencia a qualidade dos músicos e a intenção roqueira de Odair José, que difere de outros ícones românticos tidos como "bregas".
      Para John, do grupo Pato Fu, Odair faz "música pop das mais genuínas, misturando influências estrangeiras com uma prosódia brasileira". O músico também destaca "a desconcertante franqueza nas letras".
      Os quatro álbuns da série "Tons" venderam bem naquela década. E o autor dos hits radiofônicos como "Uma Vida Só (Pare de Tomar a Pílula)", canção que chegou a ser censurada pelo governo, extrapolou as expectativas: foi incluído na lista de artistas que assinaram contrato de exclusividade com a Globo para combater a saída de Chacrinha da emissora. Roberto Carlos era outro artista dos "top five".
      O sucesso teve um revés na segunda metade dos anos 1970, quando saiu o álbum conceitual "O Filho de José e Maria", influenciado pela guitarra do britânico Peter Frampton e a leitura de "O Profeta", de Khalil Gibran.
      Odair se desiludiu com a receptividade. "Ninguém entendeu nada, aí acabei descuidando da carreira."
      Foi nesse período, diz, que passou a consumir maconha e cocaína. "Caí tanto na boêmia que, se não fosse a Jane [com quem casou nos anos 1980], teria morrido."
      Hoje, ele se diz mais "focado" e feliz quando está no palco. Seria bom se fosse inserido num contexto pop rock, ao lado de Lulu Santos ou Kid Abelha. Se nunca mais fosse chamado de "brega", seria perfeito.
        OPINIÃO
        Cantor quebra a idealização romântica da música popular
        THALES DE MENEZESEDITOR-ASSISTENTE DA "ILUSTRADA"
        As novas gerações podem chiar, mas só quem já passou dos 50 anos ou está perto disso pode entender realmente a dimensão do impacto de Odair José na música popular brasileira. Aquela que era popular de verdade.
        Não era pouca coisa ligar o "radinho" no início dos anos 1970 e ouvir um cantor se declarando apaixonado por uma prostituta, prometendo tirá-la da vida na zona e levá-la para um lugar melhor. Muito menos falar de pílula anticoncepcional em versos de uma canção.
        Odair José teve outros hits, como a pegajosa "A Noite Mais Linda do Mundo". E canções muito boas que não alcançaram o sucesso merecido. Basta ouvir as faixas menos populares de um álbum como "Lembranças", de 1974, para conhecer um compositor sofisticado.
        No entanto, "Eu Vou Tirar Você Deste Lugar" e "Uma Vida Só" (mais identificada pelo verso de seu refrão, "Pare de Tomar a Pílula"), são suficientes para classificar Odair José como revolucionário.
        Seu grande fator subversivo foi quebrar a idealização romântica do cancioneiro popular. Deixou de lado as declarações de amor eterno e as promessas desmedidas --tirar a prostituta de seu ofício era uma ação possível, sem prometer mares de rosas.
        Odair José cantou o namoro real. Ele manteve os pés no chão ao criar canções sobre relacionamentos críveis, letras que tratavam do dia a dia de milhares de casais, como tomar ou não a pílula.
        Chamar isso de música brega é sem sentido. Ao lado dos artistas bregas de verdade que repartiam o dial AM do rádio, Odair José era a mensagem direta para quem estava tocando a vida com uma dose possível de romantismo.

        Gregorio Duvivier

        A coluna inútil daquele maconheiro
        Venho por meio desta carta pedir que o jornal explique por que é que a maconha não pode ser legalizada
        Cara Folha de S.Paulo,
        Como vocês sabem, os jovens (e o FHC) estão querendo legalizar a erva. Eu, que nunca fumei nem pretendo fumar, mas sei que ela é danosa, pois só quem fuma é marginal, venho por meio desta carta pedir que o jornal explique ao leitor jovem (e para o FHC) por que é que ela não pode ser legalizada. Para ajudá-los, recolhi alguns argumentos entre meus amigos do clube militar.
        1. Se legalizar, vai virar moda. Nos países em que a ditadura gay venceu e as feministas legalizaram o aborto, as pessoas passaram a abortar só para se enturmar. Resultado: os países foram dizimados e hoje em dia nem existem mais.
        2. Se legalizar, os jovens que atualmente trabalham no ramo do tráfico de drogas vão ficar desempregados. As ruas vão ser tomadas por jovens roubando, matando e estuprando para sobreviver.
        3. A maconha impede os jovens de serem violentos quando eles precisam ser. Enquanto a cocaína os torna mais ativos, a maconha os deixa lesos, uma presa fácil para assaltos e estupros. A legalização da maconha vai gerar uma juventude muito facilmente estuprável.
        4. Maconha é crime. Como é proibida, é através dela que os jovens entram no mundo do crime. Sim, se ela for legalizada, o argumento muda. Mas como não é, é melhor não legalizar, porque é crime.
        5. Maconha é uma droga tradicionalmente cultivada por negros. Não é à toa que bastou os Estados Unidos terem um presidente mulato para afrouxarem em relação à erva. Liberar a maconha equivale a oficializar que vivemos numa negrocracia, não bastasse o pagode, o funk e aquele programa da Regina Casé.
        6. Maconha gera a famosa "larica", fenômeno que faz com que o jovem coma qualquer coisa, comestível ou não, que ele veja à sua frente. O que é que isso gera? Obesidade, indigestão e mortes por engasgamento.
        7. A qualidade da maconha vai melhorar e vão começar a surgir sommeliers de beque, pessoas que vão achar na erva sabores que só eles sentem. "Esse baseado tem notas de baunilha". Ou então: "A melhor parte do soltinho da Bahia é o retrogosto". Não, por favor. Já bastam os enochatos. A sociedade não está pronta para o surgimento dos ervochatos.
        Peço que a Folha me ajude nessa cruzada elucidativa a favor da família brasileira, de preferência publicando a minha carta no lugar da coluna inútil daquele maconheiro carioca (perdão pela redundância).

          Luiz Felipe POndé

          Uma alma em agonia
          Na realidade, nem só de liberdade vive o desejo, mas também de pecado, medo e vergonha
          Outro dia, dirigindo pelo trânsito de São Paulo, ouvi uma música da Lana del Rey que me chamou atenção, pela ideia que nela se repetia: o medo sentido por uma mulher de ser abandonada por seu amado um dia, quando sua beleza e juventude acabassem e restasse apenas sua "aching soul" (sua alma em dor ou em agonia). Uma letra romântica banal, como todo clichê.
          Mas quem em sã consciência negaria que essa mesma letra banal descreve a dor de todos nós, homens e mulheres que envelhecem e perdem a beleza dia após dia? Acredito mais nessa letra de música do que em inúmeros textos sofisticados sobre "relações entre sexo, afeto e poder".
          Cada dia que passa, temo pela irrelevância dos estudos acadêmicos das chamadas ciências humanas, devido ao que o intelectual americano Thomas Sowell chama de alienação da classe "ungida" que somos nós, os intelectuais.
          Essa música seria facilmente acusada de repetir a "ideologia dominante" (para mim, esse conceito tem a mesma validade de dizer que algo acontece porque Saturno está na casa sete...) e de que esse medo é simplesmente "culpa" da opressão do conceito de beleza capitalista ou sexista. Pensar que cultura pop seja simples sintoma da "ideologia dominante" é ser incapaz de enxergar o óbvio.
          A vida é clichê, por isso, temo, revistas femininas logo serão mais relevantes no debate sobre comportamento e afetos contemporâneos do que estudos acadêmicos. Seria essa, afinal, a vingança do jornalismo, muitas vezes menosprezado por nós, intelectuais, contra a soberba dos ungidos que nada entendem das agonias de carne e osso? Talvez a condição de escrever sob o gosto de sangue e de saliva que tem a trincheira da vida real dê às revistas femininas mais consistência do que as elaborações sem corpo dos especialistas em afetos.
          O filósofo Francis Bacon (séculos 16-17) tirava sarro da "baixa escolástica" e suas questões sobre quem puxava o burro, quando se puxava um burro com uma corda, se era a pessoa ou a corda que puxava o burro... (risadas?). Penso que, em 500 anos, rirão de nós da mesma forma quando se diz hoje em dia que o medo de uma mulher (ou de um homem) de ser abandonada é sintoma de "opressão social", e que pessoas emancipadas não sofrem com isso. O conceito de opressão virou um grande fetiche dos intelectuais.
          Suponho que assim como os textos de Sade (considerado lixo no século 18) hoje são parte do cenário filosófico, em 500 anos as revistas femininas serão mais importantes para a compreensão do que pensamos hoje do que toda a parafernália de teorias sobre "relações de poder".
          Um adendo: vale salientar que Sade não ficou importante porque é o ancestral de toda teoria que relaciona sexo à perversão, mas sim porque ele relaciona sexo, afeto e a crueldade de nossa natureza humana e da natureza biológica como um todo.
          Talvez um dos maiores medos humanos e que move o mundo desde sempre seja justamente o medo de perder a beleza e a juventude, e se restará alguém ao nosso lado quando formos apenas uma alma em agonia. Já que as ciências humanas mentem, a esperança é que as revistas femininas falem a verdade que não quer calar: ao final, temos mesmo é medo de sermos feios e mal-amados.
          Por fim, recomendo vivamente o livro "Não se Pode Amar e Ser Feliz ao Mesmo Tempo" (Nova Fronteira), de Nelson Rodrigues, escrito sob o pseudônimo de Myrna, sua rápida coluna de 1949 no "Diário da Noite". Esta "mulher" Myrna é uma sábia. Falaremos dela em 500 anos.
          Revistas femininas e autores como Nelson Rodrigues são acusados de moralismo. Antigamente o moralismo relacionava sexo, afeto e demônios. Incrível como não se vê que hoje o verdadeiro moralismo está nas teorias que relacionam as formas comuns (dos meros mortais) de afeto e sexo a "frutos da opressão da mulher".
          Aprendemos a negar nosso medo com teorias sofisticadas, mas o medo sempre aparece. Ficou chique dizer que se é emancipado, quando na realidade nem só de liberdade vive o desejo, mas também de pecado, medo e vergonha. Como dizia Nelson, "o desejo também precisa de seu claustro".