sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Crítico da Folha faz dieta vegana por uma semana; veja conclusões



Ouvir o texto
JOSIMAR MELO
CRÍTICO DA FOLHA

A experiência de passar uma semana sem consumir nenhum produto de origem animal (como fazem os veganos) para esta reportagem pareceu que seria chata, mas fácil. Uma semana sem carnes, laticínios, ovos? Moleza -ou, como dizem os americanos, "a piece of cake" (um pedaço de bolo -sem manteiga, leite ou ovos, claro).

Com o passar dos dias, porém, fui entendendo que a opção vegana -esse vegetarianismo radical, inspirado por razões ideológicas (não explorar animais) e não de paladar ou saúde- vai além de empobrecer (em nutrição e gastronomia) a nossa mesa.
Pois não se trata apenas de eliminar os ingredientes animais, mantendo de resto nossa dieta habitual -gostosas massas com vegetais, legumes crocantes ao alho e óleo, saladas exuberantes, belas tortas de frutas... Não: ao subtrair os alimentos animais que nos fizeram humanos moldando nossa fisiologia, essa dieta priva o vegano de nutrientes fundamentais.
Como explica a arqueóloga Claudia Plens, professora da Unifesp, "o desenvolvimento do nosso cérebro e da nossa capacidade cognitiva se deu graças ao consumo da carne", no curso "Arqueologia da Dieta e da Alimentação", ministrado na USP.
Sem a carne, os nutrientes precisam ser repostos, numa estratégia de guerra em busca de ingredientes muitas vezes estranhos à sua cultura.
ANTINATURAL
Como vivi na pele, a comida vira um problema. Quem segue o curso da natureza (que deu aos humanos um lugar onívoro na cadeia alimentar), alimenta-se intuitivamente (tipo arroz, feijão, salada e bife) e tem basicamente os nutrientes de que precisa.
Já a opção vegana implica uma permanente busca por sobreviver com outras estratégias alimentares, que não a natural. O prazer da mesa é trocado pela lógica da receita médica, necessária para evitar a subnutrição.
E embora um bom chef seja, sim, capaz de fazer pratos deliciosos sem produtos animais, a ausência diária desses impõe a necessidade de introduzir grãos, castanhas e outros ingredientes compensatórios que tornam a comida pesada, sem sutilezas, sem refinamento.
A menos que me convençam que coisas como "peixe de soja", ou "lombinho vegetal" (sem falar de "hambúrgueres", "salsichas" e "presuntos" cheios de corantes) são capazes de trazer alegria ao paladar e à mente de quem, como eu, não gostaria de transformar o momento de comer numa operação medicinal.
Sou mesmo natureba. Respeito os milhões de anos em que a natureza nos fez onívoros -e fez de nós parte do seu equilíbrio.
Nem quero pensar no dia em que os humanos pararem de comer outras espécies: estas vão se multiplicar e em pouco tempo atacarão nossas plantações -e os humanos que cuidam delas. Será o fim do equilíbrio regulatório natural. Melhor respeitar nosso lugar nesse ciclo -e, de quebra, satisfazendo o paladar com sabores atávicos que a história nos incutiu.
*
'Sou adepto à cruzada contra a crueldade com os animais'
Talvez a principal referência dos veganos, o filósofo australiano Peter Singer afirma que os que comem animais (ou usam seus derivados -mesmo para vestir) são "especistas": agem como uma espécie superior às outras.
Eu, ao contrário, acho que quem se considera superior é aquele que resolve redefinir a natureza, revogando a cadeia alimentar, assumindo o papel não só de espécie superior, mas de Deus.
Porém sou adepto à cruzada contra a crueldade com os animais. Um leão chega a comer uma zebra enquanto a mantém ainda viva. Os humanos, creio, deveriam, ao contrário, reverenciar os animais que nos alimentam, provendo-os de uma vida tranquila (criados soltos, com boa alimentação) e abatendo-os sem estresse nem dor.
Esse ideal significa produções menos intensivas e, portanto, menor oferta de produtos animais. Mas é um preço justo a ser pago.
Se não houver bife para todos os dias, vamos comer menos carne, vamos intercalar com ovos, aves, queijos. Também da variedade vem o prazer gastronômico. E o respeito aos animais que nos alimentam incute um prazer espiritual que deveria sempre acompanhar uma boa refeição.


Painel do leitor

Dieta vegana
Não sou vegetariano, mas concordo com a leitora Mari Polachini (Painel do Leitor, ontem). Josimar Melo, meu ex-guru em gastronomia, não apenas exagerou na reportagem "Vegano por uma semana" ("Comida", 27/11) como também foi preconceituoso contra aqueles que não comem carne. Cada linha do texto explicitava que a dieta vegana é do Demônio. Meu pai viveu 82 anos sem proteína animal, assim como vários amigos dele, e foi saudável até dois meses antes de morrer de câncer.
Tanto Josimar quanto a nutricionista foram tendenciosos ao afirmar que essa dieta é remédio ou que é insuficiente em nutrição. Sou médico e sei que ferro, cálcio e proteínas estão presentes em quase todos os nossos alimentos vegetais, bem como o importante triptofano, ignorado por eles.
PEDRO ERNESTO SILVEIRA, médico (São Paulo, SP)

RESPOSTA DO CRÍTICO JOSIMAR MELO - Não disse que a dieta é do Demônio, mas apenas que, na nossa cultura alimentar, simplesmente retirar produtos animais da dieta provoca desnutrição e, por isso, é necessário repor essa carência com receitas e orientação profissional.

Site exibe homens como produtos em supermercado; 70% dos usuários são de SP

folha de são paulo
E
REGIANE TEIXEIRA
DE SÃO PAULO
Ouvir o texto

Primeiro veio a sensação do aplicativo de relacionamentos Tinder e, na última semana, a polêmica do Lulu, no qual as mulheres classificam homens com quem já se relacionaram.
Pegando a onda dos serviços on-line sobre amor e sexo, um novo site quer unir e causar mais burburinho entre os brasileiros.
Inspirado em uma ideia francesa e com esquema de convites limitados, o Adote Um Caraexibe o perfil de homens disponíveis como se fossem produtos de um supermercado.

Adote um cara

 Ver em tamanho maior »
Reprodução/adoteumcara.com.br
AnteriorPróxima
Adote um cara. Site exibe homens como produtos em supermercado; 70% dos usuários são de SP
Na página, a mulher se cadastra gratuitamente como "cliente" e o homem como "produto". As moças podem colocar os homens nos carrinhos e, a partir daí, o rapaz pode mandar uma mensagem para a interessada.
Ambos colocam descrições pessoais como altura, gostos musical e estilo, seção na qual é possível escolher opções como caipira, funkeira ou periguete.
O site não revela quantos usuários já tem no Brasil, mas afirma que 70% dos cadastrados são do cidade de São Paulo.
Além da França, a página já foi lançada também na Alemanha, Espanha, Itália e Polônia. Para Sebastien Sikorski, diretor de desenvolvimento internacional do site, a diferença entre o Adote o Cara e entre outros serviços on-line para relacionamentos é a quantidade de informação sobre os cadastrados. "Assim fica mais fácil começar uma conversa", afirma.
Sobre internautas que andam criticando a ideia de colocar os homens como produtos, Sikorski diz que se trata apenas de uma brincadeira. "É um jeito de uma primeira conversa não ser uma coisa são formal", justifica.
O psicólogo Ailton Amélio, especialista em relacionamento amoroso, também não vê problemas no supermercado virtual.
"É um artifício para tornar o contato mais leve", diz. "Essa coisa de se sentir um objeto é mais feminina. Sempre houve uma carga histórica de obrigações sobre a mulher, por isso ela é mais sensível."
Ele, no entanto, critica aplicativos como o Lulu: "Esse é condenável porque reúne desafetos e gente que busca difamação ou vingança."
A polêmica dos serviços on-line sobre encontros e sexo deve ganhar ainda mais força nos próximos dias. Um grupo de brasileiros já anunciou para a semana que vem o lançamento do Tubby, no qual homens poderão avaliar mulheres com as quais já tiveram algum envolvimento.

Empresas estrangeiras expulsam cambojanos de suas fazendas

Jornais Internacionais - Der Spiegel

Andreas Lorenz
  • 17.out.2013 - Tang Chhin/AFP
    Polícia reprime manifestantes durante protesto em Phnom Penh. Ativistas do Camboja dizem que o governo já expropriou milhares de famílias de suas fazendas para ceder os terrenos a empresas privadas
    Polícia reprime manifestantes durante protesto em Phnom Penh. Ativistas do Camboja dizem que o governo já expropriou milhares de famílias de suas fazendas para ceder os terrenos a empresas privadas
A cada ano, empresas agrícolas estrangeiras privam milhares de agricultores cambojanos de seus campos --e isso com ajuda do governo. Grupos de direitos humanos alegam que dinheiro dos contribuintes alemães é usado para financiar um programa que beneficia os tomadores de terras.

Todo mundo na aldeia cambojana de Chouk lembra do que aconteceu na manhã de 19 de maio de 2006, quando tratores apareceram na Rota Nacional 48, que corta a cidade. Homens de uma empresa tailandesa, a Khon Kaen Sugar Industry PCL, apresentaram documentos aos aldeões cambojanos e disseram: "Esta terra agora nos pertence".

Dezenas de agricultores tentaram deter os tratores quando começaram a destruir suas plantações de arroz. A polícia chegou ao local, disparos foram feitos e uma manifestante foi ferida. Uma cerca de arame farpado agora cerca os campos, que foram transformados em uma plantação de cana-de-açúcar. O agricultor Teng Kao, 53, passa pelas cercas, pula sobre valas e finalmente aponta para um local ao longe. "Ali", ele diz. "Meus campos ficavam ali."

Duzentas famílias de Chouk perderam seu meio de subsistência naquele dia. "Nós não éramos pobres --nós éramos muito pobres", diz o agricultor Chea Sok. "Eu não consigo mais sustentar três refeições por dia." Muitos jovens deixaram Chouk, com alguns se transformando em trabalhadores imigrantes na Tailândia e na Malásia.

Muitos cambojanos sofreram o mesmo destino que os aldeões de Chouk. Empresas e elites privilegiadas, frequentemente membros do Partido do Povo Cambojano do governo, sob o primeiro-ministro Hun Sen, estão tomando posse dos campos e áreas florestais.

As empresas, frequentemente estrangeiras, recebem "concessões econômicas de terras" do governo quando precisam de terras para plantações e fábricas. Organizações não-governamentais cambojanas estimam que cerca de 400 mil pessoas foram expulsas desse modo desde 2003.

'Grande injustiça'

A tomada de terras é um fenômeno mundial, mas o Camboja é único, porque o governo alemão exerce um papel controverso lá. Segundo ativistas de direitos humanos, dinheiro do contribuinte alemão está sendo usado para financiar um programa que beneficia inadvertidamente os tomadores de terras.

"Nós estamos no caminho de nos tornarmos uma sociedade de grandes proprietários de terras", diz Lao Mong Hay, um ativista de direitos civis cambojano veterano. Com sua barba branca, ele se parece um estudioso de Confúcio. "A elite do governo está aliada às grandes empresas, e juntas estão ganhando dinheiro fácil", ele diz. Ele pressiona seus dedos juntos para ilustrar essa aliança profana. "Tudo o que eles precisam é de terras, algumas poucas serras e alguns tratores", ele diz, "e num instante a floresta é cortada".

As empresas estão tirando proveito de uma situação legal não clara. Ninguém sabe exatamente que terra é propriedade privada e que terra pertence ao governo, em parte porque os documentos relevantes desapareceram anos atrás. O Khmer Vermelho, que governou o país de 1975 a 1979, declarou cada centímetro quadrado do território cambojano como sendo de propriedade do governo.

O Parlamento aprovou uma legislação que dá direito a cada cambojano à terra que ele ou ela cultivou por pelo menos cinco anos. Se a terra for tomada, o proprietário precisa ser indenizado. Mas há uma "grande injustiça", diz Lao Mong Hay. "As leis são ruins e são mal implantadas."

Véu de sigilo

Christina Warning da Ação Agrária Alemã (Welthungerhilfe) presenciou isso pessoalmente. "Em uma aldeia", ela diz, "eles embebedaram as pessoas para que colocassem suas digitais no fim do contrato. Tudo o que receberam como indenização foi roupas, remédios e celulares". E deixaram de ser proprietários de seus campos.

No ano passado, o relator especial da ONU para a situação dos direitos humanos no Camboja relatou que apenas uma minoria se beneficia com a concessão de terras, enquanto as empresas operam "por trás de um véu de sigilo".

A situação no Camboja também coloca em dúvida o grau com que os trabalhadores de ajuda humanitária podem trabalhar com um regime autoritário. A tomada de terras provavelmente será tema das negociações entre Alemanha e Camboja em Phnom Penh, no início de dezembro. Thilo Hoppe, um político do Partido Verde alemão, quer que Berlim "suspenda a cooperação do governo" se necessário. O Banco Mundial tomou uma medida semelhante quando cancelou empréstimos ao Camboja em 2011 por causa dos despejos de pobres proprietários de terras.

O governo cambojano ao menos está prometendo estabelecer uma maior certeza legal. Segundo seu plano, todos os cidadãos poderão registrar suas propriedades com a criação de um órgão de registro de terras. Cerca de 2 milhões de pessoas possuíam títulos de terras até o final de 2012.

O papel alemão

A Alemanha está auxiliando o governo cambojano no desenvolvimento do órgão. Especialistas em registro de terras da Sociedade Alemã para a Cooperação Internacional (GIZ) prestam consultoria às autoridades cambojanas desde 2002. Mas agora "os alemães se tornaram parte do problema", diz Eang Vuthy, da ONG Camboja Equitativo.

Outros ativistas de direitos civis e trabalhadores de ajuda humanitária alemães acusam a GIZ de encobrir o fato de o primeiro-ministro Hun Sen estar apenas usando o projeto para criar a impressão de que as tomadas de terras são legais, e argumentam que ele não tem nenhuma intenção de distribuir terras justamente.

Por exemplo, os alemães não são autorizados a viajar para o interior para verificar se a concessão dos títulos de propriedade de terras está de fato sendo implantada. Segundo Vuthy, o premier Hun Sen consideraria uma interferência nos assuntos internos do seu país se os alemães analisassem os casos individuais para assegurar que o projeto deles está de fato proporcionando justiça. "Mas os alemães precisam saber o que está sendo feito com o dinheiro de seus contribuintes", diz Vuthy.

O escritório do diretor regional da GIZ, Adelbert Eberhardt, fica localizado em um prédio próximo do Monumento da Independência em Phnom Penh. Ele está familiarizado com as críticas ao seu programa. Todavia, ele diz, "se você quiser que algo aconteça, é preciso trabalhar com os órgãos do governo. Isso deixa você vulnerável. É um ato de equilibrismo que temos que tolerar". Mas Eberhardt nota que os benefícios do programa superam seus revezes. "Nós criaremos uma certeza legal para 6 milhões de pessoas", ele diz. "Dois milhões de pessoas já contam com ela."

O Ministério das Relações Exteriores em Berlim também defende a cooperação com Hun Sen. Em uma discussão a portas fechadas sobre o programa de terras com especialistas em Phnom Penh, um diplomata apontou que o governo alemão não pode forçar o primeiro-ministro a fazer algo. Um "envolvimento construtivo" é melhor do que encerrar o acordo de cooperação com Hun Sen. "Nós não podemos conseguir tudo em toda parte ao mesmo tempo", diz o diplomata.

Resolução da UE

Manfred Hornung, da Fundação Heinrich Böll, que trabalha a poucos quilômetros do escritório de Eberhardt, diz: "O pessoal da GIZ não tem prova dos 2 milhões de títulos de propriedade de terras. Afinal, eles não estiveram no interior e não têm ideia do que está acontecendo".

A abordagem da União Europeia é ainda mais controversa, porque facilita indiretamente a tomada de terras. Em 2009, Bruxelas concedeu ao Camboja o direito de exportar açúcar para a UE sem tarifas alfandegárias. Mas isso apenas exacerbou o problema, diz Evi Schueller, uma advogada americana da organização de direitos humanos cambojana Licadho. "Milhares sofrem quando perdem suas terras para dar espaço à plantações de cana-de-açúcar", ela diz.

Em 2012, o Parlamento Europeu adotou uma resolução em relação ao açúcar, criticando o que chama de "violações sérias de direitos humanos ligadas às concessões de terras".

Mas a Comissão Europeia se recusa a suspender o privilégio do Camboja de acesso livre de tarifas para todas as suas exportações. "Ela não reconhece o relatório do relator especial da ONU", diz Schueller. "Em vez disso, ela quer um do Conselho de Direitos Humanos da ONU em Genebra. Isso é absurdo."
Tradutor: George El Khouri Andolfato

Arábia teve reinado cristão antes do Islã, mostram escavações

folha de são paulo

Ouvir o texto
REINALDO JOSÉ LOPES
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Poucas décadas antes do nascimento de Maomé, a Arábia era o lar de um rei que usava a cruz cristã como símbolo de seu poder.
Escavações feitas por arqueólogos da Universidade de Heidelberg, Alemanha, trouxeram à tona a parede monumental de um palácio no qual a imagem do monarca (cuja identidade é incerta) foi gravada, provavelmente pouco antes de 550 d.C.
Em tamanho natural --cerca de 1,70 m de altura--, com uma longa túnica e um cetro encimado por uma cruz, a imagem lembra mais os imperadores bizantinos que os atuais xeiques do deserto.
A análise desse retrato e a estimativa de datação estão em artigo na revista científica "Antiquity", assinado por Paul Yule, do Departamento de Línguas e Culturas Orientais de Heidelberg. Yule e seus colegas acharam a imagem em alto-relevo nas ruínas da antiga cidade de Zafar, no Iêmen.
Editoria de Arte/Folhapress
Reino cristão na arábia
Reino cristão na arábia
Zafar foi, por séculos, capital do reino de Himyar, cujo poderio chegou a se estender por 2,5 milhões de quilômetros quadrados (pouco mais de um quarto do Brasil).
Textos da época do Império Romano, bem como algumas inscrições nativas, trazem dados sobre a história de Himyar, mas muito do que aconteceu nesse reino perdido continua misterioso.
Sabe-se que a região era estratégica para o comércio de especiarias, perfumes e objetos de luxo no oceano Índico, em um quadrilátero comercial que envolvia também Etiópia, Índia e Roma.
CRISTÃOS VERSUS JUDEUS
Quando os romanos adotaram o cristianismo no século 4º d.C., seus aliados e parceiros comerciais começaram a considerar se valia a pena adotar a nova fé. Na Etiópia, o reino de Axum (principal potência africana da época), seguiu esse caminho, mas a nobreza de Himyar decidiu agir de forma independente.
"Na época, como agora, religião e política estavam fortemente ligadas", diz Yule. Tudo indica que, para marcar a posição não subordinada aos romanos e entrar no "clube" dos povos que adoravam o suposto "Deus verdadeiro", os nobres de Himyar se converteram ao judaísmo.
Parecia uma solução politicamente brilhante, mas o xadrez geopolítico da região se complicou. O Império Romano do Oriente, governado a partir de Constantinopla (atual Istambul, na Turquia), resolveu aliar-se aos etíopes para impor seu controle, inclusive religioso, sobre Himyar. Motivo: a área também era considerada estratégica no confronto entre Constantinopla e os persas, seus arqui-inimigos. Por carta, o imperador romano Justino 1º exigiu que os aliados etíopes atacassem "aquele hebreu abominável", o rei Yusuf (José), de Himyar.
Yusuf foi derrubado do trono em 525 d.C. A descoberta dos alemães sugere que o ataque deu frutos políticos, e que o trono passou a ser ocupado por um rei fantoche dos etíopes. A hipótese é reforçada pelos detalhes da coroa e das vestes do soberano, que imitam retratos reais etíopes e bizantinos da época.
"Os contatos com o reino de Axum parecem ter sido o elemento mais importante nessa transição", diz Paul Freedman, professor da Universidade Yale (EUA).
"Com os dados atuais, não há dúvidas sobre a instalação de um regime cristão no sudoeste da Arábia entre os anos 525 e 560", diz Glen Bowersock, historiador de Princeton (EUA).
Tudo indica que esse reino entrou em colapso logo depois, e a cidade de Zafar foi abandonada. A região voltou a ser dominada por grupos tribais até a ascensão do islamismo a partir do ano 622.
Pode-se dizer que o Islã seguiu estratégia parecida com a dos reis de Himyar antes da invasão etíope: adotou elementos tanto do cristianismo (veneração a Jesus e Maria) quanto do judaísmo (associação com Abraão), mas com características locais que davam independência à fé.

Médicos lançam documento com orientações sobre proteção solar

folha de são paulo

Ouvir o texto
JULIANA VINES
DE SÃO PAULO

A Sociedade Brasileira de Dermatologia lançou ontem o Consenso Brasileiro de Fotoproteção, primeiro documento com recomendações sobre proteção solar no país.
Entre as orientações está a indicação do uso de filtro solar com o fator mínimo de proteção 30 e a formalização de que se deve evitar a exposição ao sol das 10h às 15h --com exceção da região Nordeste, onde a radiação solar já é alta a partir das 9h.
As diferenças climáticas e populacionais motivaram os médicos a criar um consenso nacional sobre o tema.
Editoria de Arte/Folhapress
Sol
Sol
"Não dá para importar recomendações de países tão diferentes, como os Estados Unidos", disse Sérgio Schalka, coordenador do consenso, que teve a participação de 24 especialistas.
Já é comprovado que a fotoproteção previne o câncer de pele. O do tipo não melanoma é o câncer mais comum no Brasil --só no ano que vem haverá 182 mil novos casos.
"Podemos interferir na incidência e mortalidade com a fotoproteção correta, que não se resume em uso do filtro solar na quantidade certa. É preciso aliar outras formas de proteção, como uso de bonés e óculos de sol", diz Marcus Maia, do Programa Nacional de Controle do Câncer de Pele da sociedade.


Amanhã, das 9h às 15h, a entidade vai fazer uma campanha de atendimento gratuito para diagnóstico e encaminhamento de casos de câncer de pele. Serão 139 postos em todo país. Informações no site www.sbd.org.br.

Barbara Gancia

folha de são paulo
Jogue Bucicleide do helicóptero
Buci, digo, Cleide chegou para me bombardear com um arsenal de perguntas sobre uma tal família Perrella
Desta vez o choque foi quase insuperável. Eu ainda estava acabrunhada e perguntando a mim mesma o que poderia ter da­do errado, quando minha treslou­cada amiga Bucicleide surgiu do nada, aparentemente para injetar ânimo em minhas veias.
"Não é possível, Buci, digo, Cleide, não entendo", desabafei. "O que é que Dubai tem que São Paulo não tem?" Não me conformo. Como pode a locomotiva do Brasil, exem­plo de cidade de gente que faz e, quando não quer fazer, tem quem faça por ela, ter perdido para uma aldeia de adestradores de camelos, comedores de tâmaras, trepadores em miragens de palmeiras na com­petição para sediar a Expo 2020?
Dubai não fica lá na região da no­vela "O Clone"? Pois então. Vá ver se naquele fim de mundo tem pisci­não, vá examinar se chove e escoa como aqui, se eles possuem 300 km de corredores de ônibus para ornar as avenidas, se tem prefeito boneco Ken ou ruas com lindas guaritas, se produzem o tanto de lixo por reco­lher que a gente vê em nossas calça­das, vá! Só quem gera riqueza pro­duz lixo, sabia não, seu bando de desinteligentes que votou com a bunda em vez do cérebro?
Eliminar nossa potência logo na primeira rodada com apenas 13 vo­tos de 163 possíveis para dar a vitó­ria a uma tribo de nômades fazedo­res de xixi na areia é treta. Está na cara que tem harabishueba nesse negócio.
Bucicleide, que estava esperando meu desabafo chegar ao término com paciência de cuidador de pes­soas idosas, soltou um suspiro tão dolorido que forçou um ponto final em minha fala. "Olha só, dona Bar­barica, não é sobre isso que vim ter", anunciou. "Ah, não? Então do que estamos tratando?"
Buci mandou na bucha: "Quero arrumar um jeito de filar a bóia lá na fazenda dos Perrella, você que é jornalista e conhece todo mundo, não teria um contato bom para me apresentar, não?"
E quem seriam "os Perrella"? De­veria ter desconfiado da compaixão daquele ouvido amigo. Eterna inte­resseira, Bu (sim, Bu) foi tratando de explicar. "Fiz uns cálculos e che­guei à conclusão de que os 445 kg de cocaína apreendidos no helicópte­ro da empresa do deputado Gusta­vo Perrella (SDD-MG), devem va­ler 50 milhões no mercado".
Sei. E daí? "Daí que o piloto do he­licóptero dos Perrella recebe R$ 1.700,00 ao mês. E o advogado do parlamentar disse que o funcioná­rio estaria fazendo bico' naquele dia, sabia?" Não. "Pois é, mas piloto de helicóptero não ganha perto de R$ 15 mil?" E eu lá sei? Não sou pi­loto, ora bolas!
Senti uma mudança no tom de voz. "Ah, é? Então me diga: por que a PF não informou a quem perten­ce a fazenda em que o helicóptero pousou para descarregar a merca­doria? Qual o padrão de vida de um piloto de helicóptero que transpor­ta carga ilícita avaliada em R$ 50 milhões? Por que não foi divulgado o resultado da quebra do sigilo telefônico do deputado Gustavo Perrella, 28, ou de seu pai, o sena­dor Zezé Perrella (PDT-MG), que já foi acusado de enriquecimento ilícito, lavagem de dinheiro e eva­são de divisas? Sabemos se há regis­tro de conversas com o piloto?"
Nossa Bucicleide, você não tem mais o que fazer? Mas, em vez dizer isso em alto e bom tom, acabei per­guntando: "Por que você quer ir fi­lar a bóia na casa dessa gente, me explica?" Buci fez cara de pau de es­panta cupim e revelou enfim: "Ué, porque a comida na casa dos Per­rella deve ser ótima. Só pode ser por causa dela que um sujeito qua­lificado como piloto aceita receber um salário 10 vezes inferior ao do mercado para depois correr um baita risco traficando droga em ae­ronave roubada, né?"

Neto do político e jornalista Carlos Lacerda refaz trajetória da família em romance

folha de são paulo

Neto do político e jornalista Carlos Lacerda refaz trajetória da família em romance


Ouvir o texto
RAQUEL COZER
COLUNISTA DA FOLHA

Entre as poucas lembranças que o escritor Rodrigo Lacerda, 44, guarda do avô, o jornalista e político Carlos Lacerda (1914-1977), está a de seu enterro, no cemitério de São João Batista, no Rio.
Aos oito anos, sem nunca ter visto o avô em atividade, Rodrigo espantou-se com o tumulto de lacerdistas na cerimônia fúnebre. Não fazia ideia das paixões causadas por Carlos, que teve direitos políticos cassados pela ditadura antes de o neto nascer.

A imagem ficou num canto da memória do autor até 2010, quando, convidado pela "Ilustríssima", na Folha, a descrever o momento, criou o conto "Política", narrado pelo defunto, à moda "Memórias Póstumas de Brás Cubas", de Machado de Assis.
Acervo UH - 24.mar.1968/Folhapress
Carlos Lacerda em comício em São Caetano (SP), em 1968
Carlos Lacerda em comício em São Caetano (SP), em 1968
O texto gerou um convite da Companhia das Letras para o escritor fazer um retrato biográfico do avô, figura inflamada que, dos anos 1930 aos 1960, rompeu com esquerda e direita, passando de comunista a anticomunista e de articulador do golpe de 64 a um de seus grandes críticos.
"A República das Abelhas" chega agora às livrarias, no ano que antecede o centenário de Carlos Lacerda. O título se refere a um "frenesi em volta da colmeia", metáfora sobre os vários grupos políticos de olho no poder na primeira metade do século 20.
Em 520 páginas, Carlos Lacerda relembra o avô, o juiz Sebastião; o pai, o deputado federal Maurício; os tios, Paulo e Fernando, comunistas; e sua própria trajetória, na qual se destaca a oposição ferina a Getúlio Vargas (1882-1954).
HISTÓRIA SEM RIGOR
Rodrigo leu tudo sobre Carlos, incluindo a imensa biografia feita pelo americano John Watson Foster Dulles, cartas, discursos e sua produção literária --o político escreveu peças, contos e memórias; foi tradutor e editor.
Por "falta de opção melhor", chama o resultado de romance histórico. "Tem biografia e é romance, mas não só; é história, mas sem rigor."
O livro é narrado em primeira pessoa. "O distanciamento de um historiador era impossível, já que sou neto. Tentei tirar partido disso", diz Rodrigo, premiado por romances como "Outra Vida".
Essa opção o deixou livre para recorrer a uma visão parcial, impregnada pelas crenças do avô. Mas o olhar pós-morte traz um político mais comedido do que aquele que ficou famoso pela veemência. "É ele fora do jogo lembrando o campeonato", explica.
A reflexão ficcional póstuma permitiu ao autor incluir conclusões próprias, como a de que a ruptura do Partido Comunista do Brasil com Lacerda, em 1939, teve a ver com uma estratégia dos dirigentes para queimar seu tio Fernando, que media forças com Luís Carlos Prestes.
Leitores sentirão falta de duas passagens notórias da vida do político: sua atuação como governador da Guanabara (1960-1965) e sua ligação com o golpe de 64. Há um plano da editora de publicar um segundo livro. Rodrigo não se compromete.
"A essência da visão de meu avô se consolida até os anos 1950. Com isso, deixei de fora o melhor e o pior da vida política dele. Pode ser que continue, mas, por ora, voltarei a outros trabalhos."
CRÍTICA ROMANCE HISTÓRICO
Obra faz bons retratos, mas falha em narração
'A República das Abelhas', de neto de Carlos Lacerda, se perde ao tentar recriar a voz do político celebrizado como orador
MARCELO COELHOCOLUNISTA DA FOLHANão é um estudo biográfico, não chega a ser um romance, e está um bocado longe de ser literatura. Ainda assim, há muita coisa interessante em "A República das Abelhas", livro em que Rodrigo Lacerda trata de seu avô, o político e jornalista Carlos Lacerda (1914-1977).
O célebre adversário de Vargas, Juscelino e João Goulart não chega a ser, na verdade, o personagem mais marcante destas cinco centenas de páginas. Talvez por uma falha essencial no projeto do autor --tento apontá-la daqui a pouco-- os retratos biográficos mais bem acabados do livro terminam sendo os de outros dois políticos.
A saber, Maurício de Lacerda e Sebastião de Lacerda, respectivamente pai e avô do "biografado". Sebastião foi um modesto republicano no interior fluminense, que se tornou deputado e depois ministro do Supremo. Vestido quase sempre de preto, era capaz de atitudes hoje inconcebíveis de correção moral.
Levava a coisa a tal ponto que, com o filho Paulo prestes a se casar com uma moça rica, foi visitar a família da noiva e achou necessário esclarecer que o filho passara a noite anterior fora de casa.
"Só me resta", declarou para a mãe da noiva, "desmanchar o noivado". A jovem era herdeira de uma fábrica de chocolates, a Bhering, e os Lacerda não tinham um tostão. Os protestos foram muitos e o casamento afinal se fez, com trágicos resultados.
Enquanto Paulo de Lacerda casava com a moça rica, para depois dedicar-se à militância comunista, ser torturado e afundar na demência da sífilis e do alcoolismo, seu irmão Maurício teve uma vida política mais brilhante.
Simpático aos socialistas europeus e aos movimentos sindicais que chegavam ao Brasil, Maurício, pai de Carlos, foi deputado federal nos anos 1910 e teve participação importante na Revolução de 1930. Foi ligado ao Partido Comunista Brasileiro (PCB) e, depois, nos 1940, à anticomunista União Democrática Nacional (UDN).
A passagem sobre seu discurso para a multidão da capital federal, no dia do enterro de João Pessoa, é uma das mais bem realizadas de "A República das Abelhas".
João Pessoa, Virgílio de Mello Franco, Siqueira Campos, Osvaldo Aranha, Batista Luzardo: todos esses nomes, de que tomamos vago conhecimento nos livros de história, ganham rosto e significação moral complexa no livro de Rodrigo Lacerda.
A razão para isso é que o autor, desistindo de artifícios literários mais ambiciosos, optou por narrar os fatos em terceira pessoa --no que seria o ponto de vista de Carlos Lacerda a partir do que soube, leu ou testemunhou--, sem economizar detalhes.
O período anterior à Revolução de 1930, com o surgimento do tenentismo, as hesitações de Luís Carlos Prestes, as tentativas de Maurício de Lacerda para seduzi-lo e as alianças em torno de Getúlio, consome parte significativa do trabalho do autor, que se imagina exaustivo.
Já quando se volta ao próprio Carlos Lacerda, o livro se perde por várias razões. A principal é que Rodrigo optou por narrar na primeira pessoa, imaginando ""no estilo de "Memórias Póstumas de Brás Cubas" --um defunto contando sua história, enquanto nota a própria decomposição dentro do túmulo.
O procedimento faz sentido no romance de Machado de Assis, na medida em que o narrador é um ironista, alguém disposto a ver o mundo com máximo distanciamento e corrosão. Nada mais distante da personalidade de Carlos Lacerda, apaixonado pelo poder e pelas causas do seu momento.
VISÃO ESTRATÉGICA
Como é difícil ter uma visão equilibrada, para não dizer positiva, de um político parcial como Carlos Lacerda, a opção do autor parece estratégica à primeira vista. O próprio Lacerda irá justificar-se, contar sua visão dos fatos, e poucos saberiam defender-se melhor do que ele próprio.
O problema é que o texto não está à altura do personagem. Em vez de um Carlos Lacerda plausível, encontramos parágrafos e mais parágrafos que parecem tirados de uma apostila de história.
Pelo que se sabe, Lacerda era muito melhor orador do que escritor. Mesmo assim, seria melhor evitar que o personagem se entregasse a didatismos tão frequentes.
"O setor industrial", diz o narrador, "continuava precisando de trabalhadores, de preferência treinados, e também no setor agrícola crescera a demanda por novos contingentes de mão de obra".
Referências à "oligarquia", às "elites", juntam-se a anacronismos (será que alguém falava em "multinacionais" na década de 1920?) e clichês. Opiniões "diametralmente opostas", "vida desregrada", "carreira meteórica", os exemplos se sucedem.
Tentativas de formalizar a linguagem para lhe dar aparência "antiga" fracassam de modo constrangedor. "Porei-me bonito", diz o exilado Prestes a um interlocutor, "para, mais tarde, irmos tomar um aperitivo na melhor confeitaria de Santa Fé".
Porei-me? Não se trata de implicância gramatical ou estilística. Os personagens perdem vida, a narração se despersonaliza, tudo fica com jeito de lição de casa, de colagem, quando o texto se arrasta com tais dificuldades.
O cansaço toma conta do autor, que convenientemente encerra o livro em 1954, antes que o golpismo de Carlos Lacerda, contra Juscelino e Goulart, viesse à tona com máxima histeria.
CARLOS LACERDA: A REPÚBLICA DAS ABELHAS
AUTOR Rodrigo Lacerda
EDITORA Companhia das Letras
QUANTO R$ 49 (520 págs.)
AVALIAÇÃO regular

    José Simão

    folha de são paulo
    Ueba! Hoje é a Black Fraude!
    E o Black Friday no Congresso: 'Deputados vendem apoio por 50% das verbas! Só hoje!'
    Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! E o predestinado do dia! Torcedor do Flamengo: Vasco Ladeira! Agente inimigo infiltrado. E atenção! Oba! Hoje é Black Friday! Ops, Black Fraude! Tudo pela metade do dobro! Black Friday! É friday, mas é tudo de segunda! Rarará!
    E o bom da Black Friday é que não dá pra comprar por impulso, o site das lojas travam e você não consegue comprar nada! Rarará!
    E existe coisa mais colonizada que Black Friday no Brasil se chamar Black Friday? Por isso que um cara escreveu no Twitter: "Black Friday o c*, meu nome é Zé Pequeno". E na 25 de Março é "Bleque Fliday". Tudo made in China. Tudo de segunda na bleque fliday.
    E o Black Friday no Congresso: "Deputados vendem apoio por 50% das verbas! Só hoje! Fale com o líder da bancada". Aproveita, Dilma! Rarará! Black Friday na Argentina: "Vendo todo! Me voy a la mierda". Rarará!
    E o Black Friday no Vasco: "Vasco vende até a alma! Produto com defeito! Leve já! Frete grátis". O Dinamite faz a entrega! Rarará.
    E o Black Friday no Palmeiras? Não teve porque eles perderam todos os pontos de revenda! Rarará!
    E o Flamengo é tri! Viva o Mengão! Como gritou aquele flamenguista: "Agora é quatro letra: CABÔ!". E o Flamengo é tri, o Vasco é a prova de que o futebol não é uma caixinha de surpresas. E o Botafogo? Ah, o Botafogo é um bairro lindo! Rarará!
    E o meu São Paulo? Eliminado pela Ponte Preta! A macaca comeu os bambis! Como diz o FuteboldaDepressao: "Time grande não cai! Despenca da Ponte!". E eu já disse que o São Paulo tem que trocar o Boi Bandido por um Bambi Malvado! Aí, sim! Rarará!
    E gosto muito como o Ceni bate falta. Ele vai até a barreira, olha para um lado da barreira, olha pro outro, se afasta e bate no meio da barreira. Rarará.
    É mole? É mole, mas sobe!
    Promoções da Black Fraude! Placa no supermercado em Natal: "Promoção de Chokito! De R$ 2,78 por R$ 2,78". Oba! Vou correndo! Não é todo dia que você consegue economizar zero centavos! E essa aqui num supermercado em Curitiba: "Lava roupa antiodor limão. De R$ 3,97 por R$ 3,98". E mais essa bombástica: "Oferta Óleo de Soja Liza. De R$ 2,29 por R$ 2,28". Eita liquidação da porra!. Rarará. Viva a Black Friday. Nóis sofre, mas nóis goza!
    Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

      Helena B. Nader

      folha de são paulo
      A ciência para superar desigualdades
      Para o Brasil avançar, é necessário ter a coragem de rever políticas inadequadas. Ter uma visão política mais pública e menos particular
      O Rio de Janeiro sediou nesta semana o sexto Fórum Mundial de Ciência (FMC), evento que reuniu 800 pessoas de todo o mundo.
      O tema, Ciência para o Desenvolvimento Sustentável, gerou apresentações e debates acalorados que, se pudessem ser resumidos em uma frase, esta seria: a grande preocupação atual é gerar conhecimento que sirva para resolver ou minimizar os efeitos dos problemas globais que a humanidade vivencia, além de convencer governantes e sociedade de que sem ciência não haverá desenvolvimento sustentável.
      Se pensarmos na representação da ciência e dos cientistas há poucas décadas, vamos observar que uma mudança de rota vem se desenhando, sobretudo a partir das constatações referentes às alterações que o crescimento populacional e as ações antropogênicas causam ao ambiente global.
      As mudanças climáticas e o consequente aumento de desastres naturais, as demandas por alimentação, energia e água, as desigualdades sociais e a pobreza requerem que cientistas assumam a responsabilidade por alertar e orientar governos e pessoas sobre os instrumentos que a ciência oferece para a mitigação dos problemas globais.
      A declaração do sexto FMC destaca as questões principais nas quais a ciência e os cientistas devem atuar para contribuir com a melhoria da qualidade de vida. São elas: a cooperação científica internacional e ações nacionais coordenadas, infraestrutura para a pesquisa e acesso às fontes sobre conhecimentos estratégicos para o desenvolvimento sustentável; a educação para diminuir as desigualdades e promover a ciência e a inovação; a responsabilidade ética; a melhoria do diálogo com a sociedade e o setor produtivo em questões ligadas à sustentabilidade; e mecanismos sustentáveis para o financiamento.
      O tema do fórum resultou de uma extensa agenda de debates, trabalhos e propostas apresentados durante os encontros anteriores, que tiveram origem na Conferência Mundial de Ciência, organizada pela Unesco em Budapeste em 1999. Desde 2003, o evento passou a ser realizado a cada dois anos naquela cidade, sob os auspícios da Unesco.
      O fato de o Brasil ser escolhido para realizar pela primeira vez o FMC fora da Hungria, e organizado pela Academia Brasileira de Ciência, com a participação de entidades como a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, significa que nossa ciência atingiu a maturidade e conquistou credibilidade.
      Contudo, apesar da colocação entre as oito maiores economias do mundo, o Brasil é o quarto país com maior desigualdade da América Latina. A nossa educação vai mal. Os dados do Enem demonstram que o desempenho em ciências vem caindo, o que é preocupante.
      Se o Brasil quiser ocupar um lugar de destaque na economia mundial e deixar de ser um país que vende commodities, terá que investir pesado em educação e ciência. Recursos financeiros são fundamentais, mas não são tudo.
      É necessário ter a coragem de rever políticas inadequadas. Ter uma visão política mais pública e menos particular. Isso nos mostrou claramente o sexto FMC, e sobre essas questões devemos refletir e agir.

      Veja as manchetes dos principais jornais desta sexta-feira

      folha de são paulo



      Ouvir o texto
      DE SÃO PAULO
      *
      Jornais nacionais
      O Estado de S.Paulo
      ANP vende só 30% de blocos em leilão dominado pela Petrobrás
      O Globo
      Dança dos partidos: Procurador cobra mandatos de 13 deputados infiéis
      Valor Econômico
      Estoque de crédito a Estados e municípios aumenta 62%
      Correio Braziliense
      Má gestão deixa PMs sem plano de saúde
      Estado de Minas
      Convivência problemática
      Zero Hora
      Gasolina vai subir, mas sem ajuste automático
      *
      Jornais internacionais
      The New York Times (EUA)
      Crescimento do Medicaid poderia agravar a escassez de médicos
      The Guardian (Reino Unido)
      Banco coloca freios em meio a temor de bolha no preço dos imóveis
      El País (Espanha)
      Conselho levanta dúvidas sobre ajuda de 7,5 milhões para UGT

      Marina Silva

      folha de são paulo
      A dor no jornal
      Uma notícia me deixou impressionada. No Rio de Janeiro, um jovem soldado da PM que enfrentou os rigores do treinamento para uma vaga na UPP com o estoicismo de quem não pode sequer pensar em desistir morreu após uma série de exercícios muito intensos.
      Imagino o sofrimento da família, a tristeza dos amigos e me pergunto se os dirigentes do Estado conseguem ver o conflito íntimo de milhões de jovens que batem às portas das instituições em busca de uma chance na vida, já tendo passado nas duras provas da mortalidade infantil, violência, precariedade na educação e todos os "vestibulares" da pobreza.
      Pensava em comentar o assunto quando outra notícia me deixou ainda mais impressionada. Uma jovem, no interior de São Paulo, morreu num acidente após fotografar e enviar pelo celular o velocímetro do carro marcando 170 km/h. Mais uma vez, as imagens de uma família em luto e amigos sofrendo. Penso em minhas filhas, nessa mesma faixa de idade, e me emociono.
      Desisti de escrever sobre essas notícias. Exigem longas reflexões e consultas aos pensadores que tentam dar conta da complexidade da sociedade contemporânea. Ressaltam a mudança no que antes conhecíamos como "sentido da vida", hoje balizado por necessidades que vão além da mera sobrevivência e possibilidades que vão além do acesso ao consumo.
      O cotidiano de nossas cidades está marcado por essas tragédias, tão numerosas que já fazem parte de nosso modo de ser e estar no mundo. De longe, no noticiário, não percebemos como são emblemáticas e como dizem respeito às nossas vidas, nossas famílias e comunidades.
      Depois pensei: devo ao menos registrar o quanto importa a notícia da vida e morte desses jovens, como um convite à reflexão. Refletir para além de condenar, buscar culpados, protestar na forma de queixa ou revolta. Essas vidas não podem passar despercebidas na insensibilidade de nossa pressa, no alucinante ritmo urbano, que é, afinal, o causador de tantas mortes e sobre o qual devemos pensar com tempo e profundidade.
      Assuntos e tragédias do cotidiano precisam ser debatidos com calma, sem a ansiedade dos índices de audiência. Devemos ser capazes de fazer isso em nossas famílias, comunidades, círculo de amigos: parar um pouco e conversar sobre os acontecimentos que vivemos em nossas cidades e os significados que carregam.
      Em nosso diálogo podem surgir ideias, projetos com que nos identificamos, veredas para um futuro onde a vida seja cheia de sentido e valor. Que não esteja presa na necessidade imposta pelo excesso da falta nem abandonada ao excesso da desmedida presença.
      Que a vida seja cultivada e valorizada, jamais suprimida.

        Ruy Castro

        folha de são paulo
        Pela televisão
        RIO DE JANEIRO - Há apenas 70 dias, o treinador Mano Menezes pediu demissão do Flamengo. Ao sair, com um B.O. de nove vitórias --jamais duas seguidas--, seis empates e sete derrotas, deixou o clube às portas do rebaixamento no Brasileiro e sem moral para seguir na luta pela Copa do Brasil. Devido ao adiantado da hora, o Flamengo substituiu-o pelo auxiliar técnico Jayme de Almeida, funcionário fixo de seus quadros.
        Para justificar a saída, Mano Menezes alegou que não conseguira transmitir aos jogadores "aquilo que pensava de futebol". Para todos os efeitos, entre dar zero a si próprio por não saber ensinar ou a cada um de seus pupilos por eles não conseguirem aprender, optou pela segunda hipótese. Reprovou a classe inteira, pegou sua beca e seu capelo, e se mandou. Na sequência, seu substituto deu um novo caráter ao Flamengo, livrou-o do fantasma do rebaixamento e levou-o à conquista da Copa do Brasil --e, em consequência, à disputa da Libertadores em 2014.
        O Flamengo não foi o primeiro fiasco de Mano Menezes que outro treinador precisou retificar. Há um ano, depois de um currículo pífio à frente da seleção brasileira, Mano Menezes já tinha sido substituído por Luiz Felipe Scolari --que não apenas tem levado a seleção a vencer como devolveu-lhe uma alegria de jogar que contamina até seus torcedores mais recalcitrantes, entre os quais eu.
        Cada vez mais me convenço de que a humanidade se divide em duas categorias: as pessoas que fingem que se levam a sério e as que fingem que não se levam a sério. Mano Menezes está, decididamente, no primeiro grupo. Prova disso é a notícia recente, de que, ao pedir demissão em setembro, já tinha um novo emprego garantido.
        Foi melhor para todo mundo. Boa sorte para Mano Menezes, e que lhe sobre tempo em 2014 para assistir à Libertadores pela televisão.

          Mônica Bergamo

          folha de são paulo

          'Só porque sou branquinha?', pergunta Fernanda Lima sobre polêmica da Copa

          Ouvir o texto

          Fernanda Lima virou alvo nesta semana, depois que a Fifa a confirmou para ser mestre de cerimônias do sorteio dos grupos da Copa de 2014. Ela e o marido, Rodrigo Hilbert, teriam entrado no lugar dos atores negros Camila Pitanga e Lázaro Ramos. A troca gerou debates na internet sobre um suposto racismo da entidade do futebol. A apresentadora falou à coluna, anteontem, na inauguração da loja da Riachuelo na rua Oscar Freire, em SP.
          Bruno Poletti/Folhapress
          Fernanda Lima, apresentadora - Coquetel de inauguração da loja Riachuelo, com talk Show de Fernanda Lima. Inauguração da loja da rua Oscar Freire
          Coquetel de inauguração da loja Riachuelo, com talk Show de Fernanda Lima. Inauguração da loja da rua Oscar Freire
          Folha - Como tem lidado com a polêmica?
          Fernanda Lima - Não estou lidando. Na verdade, eu venho trabalhando com a Fifa já há alguns anos. E fui chamada para esse trabalho há mais de seis meses. Mas a gente não fala essas coisas, né? Acompanhei esse bochicho todo que saiu na imprensa. Mas eu sou funcionária, uma comunicadora. Fui convocada e como tal aceitei e vou fazer o meu trabalho. O que eu tenho a ver com isso? Só porque eu sou branquinha?
          Os comentários te magoaram?
          Talvez eles me magoassem há dez anos. Hoje eu tô descolada. Eu durmo tranquila. Minhas contas estão pagas em dia, pago meus impostos. Sou uma cidadã, crio meus filhos da maneira que acho correta, prezo a educação, o respeito ao próximo, não discrimino ninguém. Também não levanto bandeiras. Simplesmente acho que a gente tem que ser respeitado, sem violência. Eu não alimento esse tipo de coisa.
          Você gosta de futebol?
          Gosto, mas não sou entendedora. Nesse caso estou como apresentadora. Não acredito que eu vá lidar com as minúcias do futebol ali. Vou ser apenas uma mestre de cerimônias. E pretendo ir aos jogos. Meus filhos e o Rodrigo são loucos por futebol.
          Acha que há uma tendência de tudo virar polêmica?
          Por conta dos anônimos, né? Os anônimos agora ganharam voz, qualquer coisa que eles falam, botam no vento e os outros vão inventando. O jornalismo perde credibilidade, né? Os jornalistas não estão indo mais na fonte. Eu fiz jornalismo e me lembro dessa aula: vá à fonte, não pegue de uma outra fonte. Isso se perdeu. Todo mundo acredita no tal jornalista, só que ele inventa. E aí?

          Oscar Freire ganha loja da Riachuelo

           Ver em tamanho maior »
          Bruno Poletti/Folhapress
          AnteriorPróxima
          O apresentador Luciano Huck com o empresário Flávio Rocha, que inaugurou loja da Riachuelo na rua Oscar Freire, na quarta (27)
          REGISTRO GERAL
          O italiano Cesare Battisti está pedindo ao Ministério da Justiça a emissão de seu registro nacional de estrangeiro. O documento de identidade oficializará a permanência dele no Brasil como asilado político.
          REGISTRO 2
          Battisti não obteve até hoje o documento porque o Ministério Público Federal move ação em que contesta a concessão de visto para ele. O escritório Bottini & Tamasauskas, que passou a representar o italiano há alguns dias, alega que a ação não pode impedir a emissão do registro de estrangeiro.
          REGISTRO 3
          Com a fuga de Henrique Pizolatto para a Itália para escapar da prisão no caso do mensalão, surgiram rumores, não confirmados, de que o país europeu poderia tentar negociar com o Brasil uma "troca" de condenados. Cesare Battisti é acusado de terrorismo na Itália.
          ROTINA
          José Dirceu deve receber hoje a visita do irmão, Luís Eduardo, do filho Zeca Dirceu, da namorada, Simone Tristão, e de uma das filhas. Na fila está também o jornalista Breno Altman, entre outros amigos. A expectativa é a de que, passada a movimentação dos primeiros dias na prisão, o ânimo do petista já não seja o mesmo.
          TROPA DE CHOQUE
          O plano de combate à violência nas manifestações de rua preparado pelo governo federal será discutido hoje no Ministério da Justiça com as secretarias de Segurança de SP e Rio, OAB, Ministério Público e Conselho Nacional de Justiça. A intenção é anunciar as primeiras medidas nas próximas semanas.
          TROPA DE CHOQUE 2
          As propostas incluem criação de plantões para resolver detenções e fixação de regras para a atuação das polícias nas duas capitais. "A ideia é garantir a liberdade de manifestação. A violência, da parte de quem protesta ou do Estado, inibe quem quer ir para as ruas pacificamente", diz Marivaldo Pereira, secretário de assuntos legislativos do ministério.
          SOZINHA...
          Reclusa desde 2010, a atriz Ana Paula Arósio não participará do lançamento do longa "Anita e Garibaldi", protagonizado por ela e pelo ator Gabriel Braga Nunes. Segundo Rubens Gennaro, produtor do filme, ela nem chegou a ver a versão final da obra. "As questões patológicas, digo, psicológicas dela apareceram já no fim das filmagens, mas sua participação foi maravilhosa", disse.
          ...MAS NEM TANTO
          A ausência da estrela traz prejuízos à divulgação. "Me fez perder dinheiro, mas eu respeito", diz Gennaro. "Espero que essa paixão valha a pena!", afirma, referindo-se ao casamento da atriz com o arquiteto Henrique Pinheiro. Ana Paula Arósio vive em seu sítio no interior de São Paulo. A assessoria da atriz informa que ela quer permanecer longe dos holofotes.
          DECORANDO
          Angelo Derenze fez o lançamento da edição 2014 da Casa Cor, anteontem, no Jockey Club de São Paulo. Os arquitetos Sig Bergamin, Murilo Lomas e Camila Klein estavam entre os convidados que passaram por lá para saber as novidades da mostra.

          Casa Cor lança edição de 2014

           Ver em tamanho maior »
          Bruno Poletti/Folhapress
          AnteriorPróxima
          Angelo Derenze, presidente da Casa Cor, fez o lançamento da edição 2014 da mostra, no Jockey Club de São Paulo, na quarta (27)
          CURTO-CIRCUITO
          O balé "O Quebra-Nozes", estrelado por bailarinos cegos, será apresentado hoje, às 20h30, no Auditório Ibirapuera. Livre.
          O MDA (Movimento de Defesa da Advocacia) faz almoço de fim de ano hoje na Sociedade Harmonia de Tênis, nos Jardins.
          Gustavo Rosa será homenageado hoje no espetáculo "Mover-se", no teatro WTC, às 21h. 12 anos.
          A loja Topshop será inaugurada hoje, às 18h, no shopping Market Place.
          E a marca Tufi Duek agora está também no shopping Pátio Higienópolis.
          A artista plástica Izabel Litieri participa da Bienal de Florença, que começa amanhã, na Itália.
          com ELIANE TRINDADE, JOELMIR TAVARES, ANA KREPP e MARCELA PAES
          mônica bergamo
          Mônica Bergamo, jornalista, assina coluna diária publicada na página 2 da versão impressa de "Ilustrada". Traz informações sobre diversas áreas, entre elas, política, moda e coluna social. Está na Folha desde abril de 1999.