sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Vinicius Torres Freire

folha de são paulo
O que querem as mulheres?
Número de empregados e de gente no mercado de trabalho cai, coisa rara, em especial entre as mulheres
FOI UMA PEÇA RARA o desempenho do mercado de trabalho em outubro, segundo a pesquisa mensal do IBGE. Menos gente trabalha, menos gente quer trabalho, em especial as mulheres.
O número de pessoas trabalhando caiu em relação a outubro do ano passado (a comparação mais adequada). O número de pessoas empregadas e à procura de emprego também caiu ("população economicamente ativa").
Desde que os números podem ser comparados (2002), o número de pessoas empregadas caiu apenas outras duas vezes, no ano ruim de 2009, de recessão.
Nesse período, houve redução do número de homens empregados (em 12 ocasiões), mas a incorporação das mulheres ao mercado compensava a diferença. É muito rara a redução do número de mulheres ocupadas (apenas duas ocasiões).
Em suma, como a taxa de desemprego é a proporção dos desempregados entre aqueles economicamente ativos, o desemprego diminuiu. Mas, ressalte-se, há menos gente trabalhando do que no ano passado.
Sim, o mercado de trabalho esfria faz algum tempo, muito lentamente. A média de crescimento da população ocupada (em 12 meses) cai desde 2010. Os motivos são mais ou menos óbvios ou conhecidos.
A economia cresce pouco desde 2011, a perspectiva de crescimento para 2014 é medíocre e os salários estão relativamente altos.
Além do mais, as empresas demitiram pouco no ano passado, até agora o pior dos piores do mandato de Dilma Rousseff. "Represaram" trabalhadores, dados os custos da demissão (trabalhistas) e de readmissão (treinamento).
Enfim, há menos gente para empregar e empregável. A população em idade de trabalhar cresce menos.
Setembro já havia sido quase de estagnação do número de pessoas empregadas (sempre na comparação com o mesmo mês de 2012), alta de só 0,1% (nos anos bons deste século, na maioria das vezes essa variação ficou na casa de 2% a 3%). Outubro foi de decréscimo, de 0,37%.
Entre as mulheres, a queda na ocupação foi de 0,66%. Entre os homens, de 0,13%.
Houve também um decréscimo acentuado no número de jovens (até 24 anos) empregados, embora essa seja uma tendência que venha de longe, de mais de cinco anos (e positiva: há menos crianças trabalhando, há mais jovens na escola). A faixa de idade em que o emprego mais cresce é a da turma de mais de 50 anos, pelo menos desde 2008.
Em suma, o tombo grande e raro no número de pessoas empregadas e querendo trabalho deveu-se majoritariamente a mulheres, provavelmente mulheres entre 18 e 24 anos. Pode ser um ponto fora da curva, uma ocorrência atípica. Um mês apenas é pouco para dizer.
No mais, no conjunto da obra, a pesquisa mensal de emprego do IBGE indica outros sinais de esfriamento. A massa salarial, que nos anos bons recentes cresceu a 4% ou 5% ao ano, agora cresce a 1,4% (a massa salarial é o total dos salários pagos). O salário médio cresce 1,8% acima da inflação.
Ainda não há sinal de aumento significativo de desemprego. Os custos salariais para as empresas ainda crescem, mas mais devagar. A massa de salários crescendo mais devagar, porém, não deve animar a economia de 2014.
vinit@uol.com.br

    ONGs abandonam conferência do clima

    folha de são paulo
    É a primeira vez que as principais organizações ambientalistas deixam a reunião da ONU, realizada há 19 anos
    Insatisfação com ritmo de negociações e com recuos de metas de corte de emissões de CO2 motiva protesto
    GIULIANA MIRANDAENVIADA ESPECIAL A VARSÓVIAPela primeira vez nos 19 anos de realização das conferências mundiais do clima da ONU, as principais ONGs ambientalistas abandonaram o encontro, que deve acabar na noite de hoje em Varsóvia.
    O maior objetivo da conferência é delinear um esboço para um acordo sobre redução de emissões de gases-estufa a ser fechado em 2015.
    As ONGs, como Greenpeace, Oxfam e WWF, se dizem insatisfeitas com o ritmo das negociações e com países que voltaram atrás em compromissos ambientais.
    Os articuladores estimam que 800 pessoas tenham abandonado a cúpula.
    A ausência dos ambientalistas foi rapidamente percebida no Estádio Nacional de Varsóvia, onde acontecem as negociações. Além dos stands vazios, os corredores estavam em silêncio.
    "Os governos deram um tapa na cara dos que sofrem com os perigosos impactos das mudanças climáticas", disse Kumi Naidoo, diretor-executivo do Greenpeace.
    "Chegamos a um ponto tão difícil, com as coisas tão empacadas, que não havia outra solução. Não estamos abandonando o movimento, apenas essa conferência, que chegou a uma situação insustentável", disse André Nahur, da WWF-Brasil.
    A saída acontece após uma semana considerada de reveses pelos ambientalistas. O Japão anunciou que não vai cumprir suas metas de redução de emissões de gases-estufa e outros países ricos estão relutantes em destinar mais dinheiro à redução dos danos causados pela mudança climática. Na quarta-feira, o presidente da COP-19, Marcin Korolec, perdeu seu emprego como ministro do Meio Ambiente da Polônia.
    Ele divulgou uma nota na qual lamenta a saída das ONGs. "Observadores não governamentais sempre mobilizaram os negociadores para maiores ambições."
    A decisão de abandonar as negociações não foi unanimidade. Após a saída do estádio, alguns manifestantes discretamente evitaram entregar seus crachás. "Quero voltar, o ato foi mais uma coisa simbólica", disse uma ambientalista brasileira.
    Enquanto ONGs e diplomatas mantiveram o tom pessimista ontem, o presidente da COP-19 enviou uma declaração à imprensa dizendo que as negociações avançaram.
    "Após negociações que duraram a noite toda, atingimos um progresso considerável em financiamento climático. As conversas sobre a forma de um novo acordo global também entraram noite adentro. Estamos chegando perto do sucesso final."
      Meta de emissões virá na hora certa, diz embaixador
      DA ENVIADA A VARSÓVIA
      Os negociadores brasileiros subiram o tom em relação a boatos que circulam na COP-19. Algumas ONGs internacionais diziam que Brasil estaria liderando um bloco para atrasar e esvaziar o próximo acordo mundial do clima, a ser fechado em 2015.
      Questionado sobre quando o Brasil apresentaria suas novas metas de redução de gases-estufa, o ministro das Relações Exteriores, Luiz Alberto Figueiredo Machado, que chegou ontem a Varsóvia, disse que os números "virão na hora certa", quando o país sentir que as condições de negociação são adequadas.
      "Antes de termos os números, é preciso saber com clareza quais vão ser as condições. Não temos pressa para apresentar um número que não significa nada", disse Figueiredo.
      O negociador-chefe do Brasil, José Antônio Marcondes de Carvalho, disse que o país não foi a Varsóvia para "escolher culpados", mas cobrou transparência nas negociações.
      Os negociadores brasileiros dizem que os resultados da conferência ainda estão incertos. As reuniões têm se estendido pela madrugada.

      Gilberto Dimenstein

      folha de são paulo

      Maior bilionário brasileiro faz escola no Google

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      Duas máquinas de ganhar dinheiro. Muito dinheiro. De um lado, o maior bilionário brasileiro (Jorge Paulo Lemman) e, de outro, o Google.
      O que poderia resultar dessa parceria?
      Vimos ontem o que resultou. Resultou numa escola digital, capaz de ajudar milhares de jovens a aprender. E sem gastar um único centavo. É algo que pode (e deve) ser replicado em qualquer país.
      Professores fizeram uma seleção dos melhores vídeos gratuitos na internet com aulas - tudo em português. A novidade aqui é selecionar o que existe de melhor no mar de vídeos do YouTube, tirando o lixo (a maior parte) de lado.
      A seleção tentou combinar a atratividade do vídeo com a precisão. Daí se criou um canal que serve como uma escola inteira de ensino médio.
      Nada disso substitui a boa escola. Mas é uma ajuda de extrema relevância, servindo para disseminar o conhecimento e avançar no nível de aprendizado.
      Lembremos que, pela internet, estão surgindo plataformas que os alunos são ajudados a aprender sozinhos, com programas que simulam um professor particular. Ela necessitam de material de qualidade e acessível.
      Para conhecer mais detalhes dessa inovação, clique.
      gilberto dimenstein
      Gilberto Dimenstein ganhou os principais prêmios destinados a jornalistas e escritores. Integra uma incubadora de projetos de Harvard (Advanced Leadership Initiative). Desenvolve o Catraca Livre, eleito o melhor blog de cidadania em língua portuguesa pela Deutsche Welle. É morador da Vila Madalena.

      Longa ausência - Andre Singer

      folha de são paulo

      Longa ausência

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      Em livro de memórias ("Da Tribuna ao Exílio"), o ex-ministro Almino Affonso conta os últimos momentos de João Goulart na capital da República. Decidido a instalar o governo no Rio Grande do Sul, onde supostamente teria sustentação de setores das Forças Armadas contra o golpe que havia começado em Minas Gerais, Jango resolveu embarcar em um Coronado da antiga Varig (Viação Aérea Rio-Grandense), acompanhado dos ministros. Era a noite de 1º de abril de 1964.
      Antes de sair, o mandatário deixou orientações aos parlamentares aliados: "Eles vão tentar o impeachment; resistam o quanto possam... em 48 horas estarei de volta". A disposição de permanecer no cargo é corroborada por depoimento do jornalista Flávio Tavares (no livro "O Dia em que Getúlio Matou Allende"), que, com outros dois colegas, havia visto Jango no Planalto na tarde daquele dia. Lá, o jovem presidente aparentava tranquilidade.
      Despedidas oficiais feitas, a comitiva subiu as escadas do avião e aguardou a partida. Parada na pista, entretanto, a aeronave não se movia. Alegava-se uma pane. Passado um tempo longo, Almino, que estava junto com Tancredo Neves e outros na Base Aérea de Brasília, chega à conclusão que havia sabotagem no ar.
      Ao que consta, a companhia aérea gaúcha teria mudado de lado, como vinha ocorrendo de maneira sistemática desde que, 24 horas antes, o general Olímpio Mourão Filho começara a deslocar tropas em direção ao Rio, dando início ao movimento militar para derrubar o populismo. Jango, então, trocou de avião, indo para um Avro da FAB, que decolou para o Sul.
      Pouco depois, enquanto Jango cruzava os céus do país em busca de apoio, o presidente do Senado chamou sessão extraordinária do Congresso. Era a madrugada de 2 de abril. Parecia a prevista tentativa de impedimento, mas não. Aproveitando-se de Jango estar ausente da capital, o senador faz manobra mais dura: "O senhor presidente da República deixou a sede do governo. Deixou a nação acéfala. (...). Assim sendo, declaro vaga a Presidência da República", afirmou da tribuna. Começava a ditadura.
      O ex-presidente, um conciliador nato que esperava retornar em dois dias, demorou quase meio século para desembarcar outra vez em Brasília. Trazido pela mesma FAB que o levou, foi preciso não só que morresse, mas também que viesse um período político que, de algum modo, retoma o seu, para que pudesse reassumir, na quinta-feira passada, o lugar que lhe cabe como antigo chefe de Estado.
      Como diria Elio Gaspari, no céu deve estar contente, ao lado de Juscelino, fazendo votos para que, daqui por diante, o ódio que qualquer mudança desperta no Brasil fique sempre contido nos limites das instituições democráticas.
      andré singer
      André Singer é cientista político e professor da USP, onde se formou em ciências sociais e jornalismo. Foi porta-voz e secretário de Imprensa da Presidência no governo Lula.

      Em estudo, camundongo sem cromossomo Y gera filhotes

      folha de são paulo
      REINALDO JOSÉ LOPES
      COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
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      Um fato básico da biologia que todo adolescente aprende na escola --o de que fêmeas de mamíferos possuem dois cromossomos X em seu DNA, e machos, um cromossomo X e um Y-- está se mostrando algo relativo.
      Estudo liderado pela pesquisadora polonesa Monika Ward, da Universidade do Havaí, criou camundongos machos sem cromossomo Y, que tornaram-se pais com técnicas de reprodução in vitro.
      Para conseguir o feito, descrito em artigo publicado hoje na "Science", Ward e seus colegas adicionaram só dois genes do cromossomo Y --dos 86 genes presentes nele normalmente-- a camundongos geneticamente modificados para serem "X0", ou seja, para possuírem só um dos cromossomos sexuais.
      Um desses genes, conhecido pela sigla SRY, já era conhecido por levar à formação de testículos em camundongos "X0" mesmo sem o resto do cromossomo de origem.
      Esses testículos até produziam as fases iniciais do desenvolvimento de espermatozoides, mas o processo não ia adiante, deixando os "pseudomachos" estéreis.
      Ao adicionar um segundo gene à receita, o sistema de produção de espermatozoides dos bichos ficou um pouco mais eficiente. Mas a maioria das células sexuais masculinas era capenga, com excesso de cópias de DNA. Mesmo as melhores precisaram ser injetadas em óvulos para gerar os filhotes --muitos dos quais eram férteis.
      No artigo, Ward diz que, no futuro, seria possível eliminar totalmente genes do cromossomo Y do processo. "Os mecanismos que operam durante a determinação do sexo e a geração de espermatozoide não são simples, não se trata de um gene fazendo tudo. Um gene pode iniciar uma cascata de processos, que envolve vários genes, e muitos têm funções redundantes", explicou ela à Folha.
      MISTURA IMPROVÁVEL
      Ward diz que a pesquisa deve ajudar a entender causas de infertilidade em homens, em especial para os que têm problemas genéticos que atrapalham a formação de espermatozoides. Por enquanto, não seria possível fazer com que mulheres gerassem espermatozoides e tivessem filhos com parceiras do mesmo sexo, por exemplo.
      Um problema sério é o fato de que muitos genes vêm com "etiquetas de origem", mostrando que vieram do pai ou da mãe. Criar gametas dessa forma poderia trazer problemas de desenvolvimento para a prole. Mesmo assim, a possibilidade parece sair cada vez mais do campo da ficção científica.
      "O trabalho da Dra. Ward é muito interessante", diz Richard Behringer, da Universidade do Texas. Em 2011, ele obteve camundongos com dois "pais". Coisa parecida já tinha sido feita com fêmeas em 2004.


      Editoria de Arte/Folhapress

      Prêmio Empreendedor Social 2013

      folha de são paulo

      Para ganhadores, prêmio Empreendedor Social aumenta responsabilidade

      DE SÃO PAULO
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      Os vencedores do prêmio Empreendedor Social e Folha Empreendedor Social de Futuro destacaram a responsabilidade que essa chancela traz às organizações.
      A ganhadora do prêmio Empreendedor Social, Merula Steagall, da Abrale (Associação Brasileira de Linfoma e Leucemia) e da Abrasta (Associação Brasileira de Talassemia), lidera organizações que fomentam políticas públicas, disseminam informações e dão suporte a pessoas com doenças graves no sangue. Ela destacou que "isso vai aumentar a responsabilidade de todos, dos apoiadores, da diretoria, dos colaboradores". E emendou: "se a gente recebeu esse voto de confiança, a gente tem que abraçar mais".
      Os jovens da Asid (Ação Social para Igualdade das Diferenças), Alexandre Amorim, Diego Moreira e Luiz Ribas, foram os vencedores da categoria Folha Empreendedor Social de Futuro e da "Escolha do Leitor". Entre pulos e abraços de amigos, afirmaram que o trabalho realizado por eles se deve muito a outro, aquele feito por escolas especiais que se dedicam a formar pessoas com deficiência.

      Prêmio Empreendedor Social 2013

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      Rogerio Cassimiro/Folhapress
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      Candidatos ao prêmio 'Empreendedor Social 2013' participam de evento para convidados no Masp, em São Paulo
      "Com o prêmio, teremos oportunidade de fazer muitos treinamentos. Aperfeiçoar nossa metodologia e participar da fase final de outros proêmios. E, mais importante de tudo, fazer parte da Rede Folha, que é composta por pessoas excelentes, e contribuir para o crescimento das instituições", disse Ribas.
      Moreira destacou que o título mostra que eles têm muito potencial e amplia o papel da Asid. "Vai dar para expandir o trabalho para o Brasil inteiro."
      O economista José Dias, coordenador do CEPFS (Centro de Educação Popular e Formação Social), foi homenageado com a Menção Honrosa. A categoria, que teve sua estreia neste ano, em uma parceria da Folha com a Fundação Humanitare, visa dar destaque a projetos que mais se alinham à temática do Ano Internacional de Cooperação pela Água, adotado pela ONU em 2013.
      Dias foi o ganhador da categoria pela dedicação de sua organização à luta contra a seca no semiárido nordestino. Ele fez um discurso em que se lembrou das dificuldades do início, mas também de como é enriquecedor verificar que as pessoas beneficiadas por ele cresceram e melhoraram de vida.
      "É um reconhecimento importante. Primeiro, por passar pelos jurados, por ser um projeto com chancela da ONU. E, sem dúvida, vai mostrar para as famílias o nosso papel. O mérito maior é das famílias que atendemos", afirmou Dias.

      José Aníbal

      folha de são paulo
      O anjo da história
      Se hoje algo retoma, de algum modo, os tempos de Jango, é certo recurso retórico a um populismo fácil, de sínteses pretensiosas e rasas
      Em meados dos anos 1970, exilado em Paris, tive a oportunidade de conversar com o general Euryale de Jesus Zerbini, defensor da legalidade durante o golpe de 1964, em seguida isolado, preso e reformado.
      Entre outros episódios, Euryale de Jesus Zerbini contou que, no início do golpe militar, o presidente João Goulart lhe telefonou para saber como estava a estratégica unidade do Exército de Caçapava, então comandada pelo general.
      Zerbini reiterou sua lealdade e sua determinação de acatar as ordens do presidente. Jango agradeceu e encerrou a conversa dizendo que ligaria novamente para instruí-lo. Com nostalgia, o general arrematou: "Estou esperando o telefonema até hoje".
      Lembrei-me desse episódio ao ler o estimulante artigo de André Singer,"Longa ausência" , publicado na Folha de sábado passado, 16 de novembro ("Opinião"). Singer menciona um episódio do livro de memórias do notável Almino Affonso ("Da Tribuna ao Exílio") sobre os últimos momentos de João Goulart em Brasília, em 1º de abril de 1964.
      Nesse caso, a "vilania dos traidores", para usar a expressão de Salvador Allende, refere-se à sabotagem da Varig, cujo avião, que deveria levar Jango para o Sul, ficou em solo. Jango embarcou em um avião da FAB (Força Aérea Brasileira) e esperava voltar a Brasília em 48 horas. Assim como o telefonema ao general Zerbini, Jango não retornou.
      Então, outra vilania, esta do presidente do Senado, que declarou vaga a Presidência da República. O então presidente levou quase meio século para voltar a Brasília, pela mesma FAB que o levou embora.
      Segundo Singer, Jango teve de esperar não apenas a morte, "mas também que viesse um período político que, de algum modo, retoma o seu, para que pudesse reassumir, na quinta-feira anterior [14 de novembro], o lugar que lhe cabe como antigo chefe de Estado".
      Todos os brasileiros --todos nós que lutamos contra a ditadura, todos nós que reconhecemos na democracia um valor universal-- "reassumimos" junto com o presidente João Goulart durante a homenagem da semana passada.
      O Brasil amadureceu, passeou por todo o espectro ideológico em mais de 20 anos de democracia, sempre com transições republicanas --mesmo no impeachment de Collor. Jango não teve a mesma sorte. Nem o Brasil. Onde a similitude entre a época de Jango e a atual?
      No governo FHC, a tutela militar sobre o poder civil, com a criação do Ministério da Defesa, esvaiu-se. Assim como a violência política e qualquer tentativa de desestabilização por agentes internacionais.
      Nos propósitos e nas circunstâncias, mas sobretudo pela postura institucional de temperança e austeridade, nada poderia estar mais distante de João Goulart do que o momento presente, tanto nas virtudes quanto nos defeitos.
      Se é o reformismo de Jango que o emparelha aos governos do PT, haja viseira ideológica. Apesar do patente desejo da sociedade por mudanças, nada tem sido mais antirreformista do que o PT no poder.
      A última das descomposturas, o mensalão, mal esfriou e nem assim procuraram uma tranca para a porta arrombada. O sistema político, como de resto o governo, anda para trás. Reforma, que é bom, nenhuma.
      Discursos exaltados, abusando de rede nacional, não tangenciam questões políticas relevantes. Deixam mais insatisfação do que esperança de mudança.
      Se algo retoma, de algum modo, aquele tempo, é certo recurso retórico a um populismo fácil, de sínteses pretensiosas e rasas, que se apropria da história confundindo a ênfase com o fato.
      Singer, como um anjo da história, observa os homens de longe, fora do tempo e acima das coisas.

      Marina Silva

      folha de são paulo
      Palavras são palavras
      Nos debates sobre o Código Florestal, duas linhas opostas de argumentação se formaram. Os movimentos sociais e ambientais diziam que a anistia aos desmatadores e a redução das áreas de proteção induziriam a novos desmatamentos. Parlamentares e governantes garantiam que o "novo código" não só reduziria como poderia até chegar ao sonhado desmatamento zero.
      A coisa vem de longe. Em abril de 2008, o líder do PMDB no Senado, Valdir Raupp (RO), informou que apresentaria projeto de lei para o desmatamento zero na Amazônia, pois considerava possível triplicar a produção sem desmatar mais, usando novas tecnologias. No ano seguinte, o governador de Mato Grosso, Blairo Maggi, disse ser possível dobrar a produção de alimentos em seu Estado reduzindo a área utilizada para o desenvolvimento da pecuária.
      Na campanha de 2010, a candidata Dilma Rousseff assegurava "tolerância zero ao desmatador", descobrindo, no segundo turno das eleições, que, "sem a redução do desmatamento, não há sustentabilidade". No exercício da Presidência, não pareceu tão enfática. Mas seus líderes no Congresso descreveram o "consenso" no Código Florestal como um avanço, uma legislação mais simples e fácil de ser cumprida e que, além de reduzir o desmatamento, recuperaria a floresta em lugares onde já havia sido devastada. Uma maravilha.
      Agora o governo anuncia que o desmatamento aumentou 28% no último ano. Parte desse aumento vem de terras públicas, onde aumentou a grilagem e a ocupação predatória. Os que ganharam politicamente com a mudança nas leis ganham com seu resultado, mas sem falar muito.
      A política ambiental anterior vinha reduzindo o desmatamento e colocando o Brasil na liderança mundial de combate às mudanças climáticas. Agora podemos ter grave prejuízo no cumprimento das metas de redução de CO e quebra na liderança brasileira sobre o assunto, no momento de uma nova rodada de negociações internacionais sobre o clima, em Genebra.
      Quem tem boca vai a Roma e o papel aceita tudo, dizia-se antigamente. Depois vem o pedido: esqueçam o que eu disse ou escrevi. As justificativas para o aumento do desmatamento não seriam legítimas, porém soariam mais sinceras se adotassem esse alheamento, em vez de tentarem nos fazer crer que não tem nada a ver com as mudanças no Código Florestal e no retrocesso pactuado entre governo e parlamentares para a revisão das leis ambientais.
      Espera-se que, pelo menos, as palavras e promessas sejam mais moderadas na tentativa de mostrar uma face "ambientalista" antes das eleições do ano que vem.

        Ruy Castro

        folha de são paulo
        Dallas marcada
        RIO DE JANEIRO - É provável que Dallas, no Texas, nunca se livre do estigma de ser a cidade onde, há 50 anos no dia de hoje, John Kennedy foi morto. Outras cidades já foram palco de assassinatos iguais ou piores, como o de César, em Roma, ou o de Lincoln, em Washington, mas havia algo de inevitável nisso. Afinal, eles trabalhavam nelas.
        Dallas, não. Seu ódio contra Kennedy era maciço, e o desfile do presidente em carro aberto, uma provocação. Hoje Dallas tenta apagar essa imagem, mas todos sabem que Lee Oswald, o assassino, apenas fez o que muitos políticos, fazendeiros, empresários, protestantes, valentões e racistas da cidade gostariam de ter feito.
        Columbine, no Colorado (1999), e Newtown, em Connecticut (2012), onde dezenas de inocentes foram fuzilados por psicopatas, e a praia da Luz, no Algarve, em Portugal (onde, em 2007, desapareceu a menina inglesa Madeleine), também ficaram marcadas. Essas cidades não contribuíram para as tragédias, mas continuarão lembradas como seus cenários.
        Por mim, quero que Dallas se dane. Foi a única vez em que, ao entrar nos EUA sem ser por Nova York, a imigração me parou. Se bem que talvez eles tivessem razão. O ano era 1988, e eu estava vindo de Cuba pela Cidade do México --daí o desembarque lá. Talvez tenham visto em mim um contrabandista de charutos, porque me fizeram abrir a mala.
        Eu não trazia nenhum charuto, e sim um comprometedor estoque de biquínis brasileiros. Manuseando, cheirando e quase comendo aqueles microssutiãs e calcinhas, devem ter pensado que eu era um agente do tráfico de brancas. Custei a convencê-los de que eram um presente da "Playboy" brasileira para sua irmã americana, e que eu os estava levando de favor. E vinguei-me dizendo que, perto dos nossos, os biquínis das mulheres americanas ficariam melhores se usados como paraquedas.

        Eliane Cantanhêde

        foljha de são paulo
        As prisões e o deus nos acuda
        BRASÍLIA - As prisões de três ilustres representantes do PT, partido há uma década no poder, está sendo deveras educativa para todos, sobretudo para a "classe dominante".
        Depois de o ministro da Justiça reconhecer que as prisões brasileiras são "medievais", um ministro do STF condena as "condições desumanas" delas, enquanto o governador do DF e parlamentares petistas fazem romaria à Papuda.
        Ali se criaram duas categorias de presos e de visitantes, a ponto de a Promotoria lançar uma espécie de manifesto clamando por "isonomia".
        Enquanto avós, mães, mulheres, namoradas e filhos de detentos pobres e anônimos passavam noites na fila, submetidos a vexames para visitar seus entes queridos, estava tudo bem. Mas, agora, há a comparação. Virou o "nós" contra "eles".
        Por falar em isonomia, a justa comoção nacional pelo estado de saúde de Genoino tem de se repetir quando sair o mandado de prisão de Roberto Jefferson. Ele não é do PT e não tem militância para acampar na Papuda, mas foi quem fez o favor ao país de abrir a caixa-preta do mensalão.
        Genoino é cardiopata e acaba de passar por uma cirurgia muito delicada. Jefferson teve câncer e diz que perdeu o duodeno e parte do estômago, do intestino, do fígado e do pâncreas, além de ter anemia e ser diabético.
        Se um tem o legítimo direito a prisão domiciliar ou hospitalar, o outro também tem, certo? E, se não conseguir, que não o metam na Papuda com Dirceu, Delúbio e os demais condenados. Seria jogar um "sabiá gigante" (como o pai de Jefferson se refere a ele) na gaiola dos gatos. Mais "medieval" e "desumano", impossível.
        Foi por essas e outras que um ministro do STF chegou ao ponto de praticamente defender a fuga de Pizzolato e o vice-presidente da República até a elogia. Foi "competente", disse.
        Tudo isso é educativo, sim. E serve para ensinar que ainda falta muitíssimo para o Brasil amadurecer.

          Helio Schwartsman

          folha de são paulo
          Mártir ou bandido?
          SÃO PAULO - José Genoino, mártir ou bandido? Pessoalmente, fico com a opção "nenhuma das anteriores". Genoino sempre foi um parlamentar com qualidades acima da média dos políticos nacionais, mas, como mostrou Marcelo Coelho num excelente texto publicado na edição de ontem, inocente ele não é.
          Na condição de presidente do PT, Genoino pisou na bola. Não apenas avalizou os esquemas do mensalão como deles participou ativamente. Ao que tudo indica, não foi para enriquecer, mas isso é irrelevante para a lei. Nove dos dez ministros o consideraram culpado de corrupção, um ilícito que, se adotarmos uma versão pálida dos critérios éticos que o PT de outrora apregoava, não pode passar sem uma sanção.
          Qual punição é a pergunta que se impõe. Para a lei, a resposta é clara: 4 anos e 8 meses de reclusão. Só que Genoino é uma figura simpática e está doente. Isso já faz com que muitos dos que acham que os mensaleiros devem ser punidos com rigor balancem na hora de afirmar que a cadeia é o lugar do político petista.
          Eu próprio me coloco nessa categoria, mas com uma diferença. Não restrinjo a Genoino a ideia de que a prisão não constitui uma sanção adequada. Acho que o mesmo raciocínio deve ser estendido aos outros mensaleiros e a parte significativa dos criminosos brasileiros. Basicamente, nós seguimos encarcerando delinquentes porque estamos acostumados a fazê-lo, não porque seja um modo particularmente eficaz de puni-los.
          No plano racional, a reclusão cumpre dois objetivos. Tira o criminoso de circulação, impedindo-o de voltar a delinquir, e serve de exemplo para que outros não o imitem. O problema é que, na maioria dos casos, podemos obter o mesmo efeito sem recorrer à prisão. A dificuldade para mudar de paradigma é que a parte mais intuitiva de nossas mentes ainda não se livrou da noção meio sádica de que quem comete um delito merece sofrimento como retribuição.
          helio@uol.com.br

            Documentário revisita história da casa de shows Lira Paulistana

            folha de são paulo

            Ouvir o texto
            GUSTAVO FIORATTI
            DE SÃO PAULO

            Na rua Teodoro Sampaio, em frente à praça Benedito Calixto, em Pinheiros, há hoje, vizinha a um hotel de pouco luxo, uma lanchonete.
            "Está totalmente diferente do que era antes", aponta Riba de Castro, diretor do documentário "Lira Paulistana e a Vanguarda Paulista", em cartaz em São Paulo.

            Riba se refere ao imóvel onde, entre 1979 a 1986, funcionou uma casa de shows histórica na cidade, da qual também foi sócio. Pequeno e com pouca estrutura, o teatro Lira Paulistana, durante pouco mais de seis anos de existência, conseguiu articular uma geração inteira de músicos.

            Lira Paulistana

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            Divulgação
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            Itamar Assumpção e Suzana Salles no Lira Paulistana em foto sem data
            Em seu palco, em forma de semiarena, tocaram jovens que transformaram a música popular brasileira em uma outra coisa. Tinha a ver, mas ao mesmo tempo parecia tomar distância da bossa nova e da tropicália.
            Influenciados por eruditos de vanguarda, Luiz Tatit, Hélio Ziskind, Ná Ozzetti e Paulo Tatit, entre outros, criaram o Grupo Rumo e fizeram do Lira uma espécie de residência.
            Inspirados pela música erudita contemporânea e ao lado de Itamar Assumpção, Suzana Salles e Tetê Espíndola, criaram ali a chamada Vanguarda Paulista. Depois, foram sucedidos por roqueiros de grupos como Titãs e Ultraje a Rigor. Arrigo Barnabé era da mesma turma, mas nunca tocou no Lira.
            O documentário recolhe depoimentos dessa turma toda, expondo recorte afetivo, buscando contextualização com o momento histórico.
            Os punks surgiam na periferia, influenciados por bandas como Sex Pistols. A ditadura militar chegava ao fim, mas as músicas ainda tinham de ser submetidas à censura.
            CABEÇA DO BEBÊ
            "Éramos a cabeça do bebê", define em entrevista ao filme o diretor Pedro Vieira, ao retratar o período. "A gente percebia que a ditadura estava balançando, então havia um clima de festa permanente", completa o jornalista e escritor Mouzar Benedito, que frequentou a casa.
            São as entrevistas que seguram a hora e meia de documentário. Há poucas imagens históricas gravadas dentro do Lira, mas as que estão no trabalho de qualquer forma trazem o primeiro time da casa, com destaque para shows do Grupo Rumo.
            Boa parte dessas imagens históricas, diz Riba, foram cedidas pelo cineasta Fernando Meirelles, que foi um dos poucos artistas que registraram a vida dentro do Lira Paulistana. Ele também foi entrevistado para o filme.
            O documentário peca por não mostrar o motivo do fim do Lira, em 1986. Com boa parte dos músicos e até mesmo dois dos sócios da casa fechando acordo com gravadoras, a história do local chegou ao fim.


            DEPOIMENTO
            'Achavam que eu era burguês e vendido para o sistema'
            KID VINILESPECIAL PARA A FOLHAFoi por volta de 1980, não sei bem. Eu tinha um programa de rádio de punk new wave às segundas. Entre os punks da periferia, não era bem visto, achavam que eu era burguês porque trabalhava para uma grande empesa, era vendido para o sistema.
            A gente, da banda Verminosa, tinha feito outros bons shows no Lira. O que a gente fazia não era punk total, misturava com rock, coisas dos anos 50. Naquele dia, um pessoal da periferia apareceu para zoar mesmo. Começaram a atirar coisas na gente
            Tentei dialogar. Eles diziam que eu era traidor. Bati boca. Nosso baterista (Trinkão) era meio esquentado, a mulher dele (Angélica) também. Ela saiu dando correntada nos caras, e eles deram um soco no peito dela, subiram no palco quebraram o equipamento.
            O Clemente, dos Inocentes, quebrou uma garrafa e veio para cima, mas caiu no chão, bebaço. Não levei um tapa sequer. Subi as escadas e deixei o circo pegar fogo lá dentro.
              CRÍTICA - DOCUMENTÁRIO
              Lira Paulistana ganha filme à sua altura, mas depoimentos soam redundantes
              ANDRÉ BARCINSKIESPECIAL PARA A FOLHAA casa mais importante da arte alternativa de São Paulo dos anos 80 ganhou um filme à sua altura.
              "Lira Paulistana e a Vanguarda Paulista", de Riba de Castro, é um documento informativo e didático sobre o Lira Paulistana, um porão em Pinheiros que abrigou dos sons de vanguarda de Itamar Assumpção ao punk rock de Cólera e Inocentes, passando pelo rock de Ultraje a Rigor, Ira! e Titãs.
              Riba, um dos fundadores do Lira, entrevistou cerca de 60 pessoas, o que deve ser um recorde para um documentário de 93 minutos. A quantidade dá uma ideia do escopo de influência da casa.
              Além de músicos (Arrigo, Paulo Barnabé, Luiz Tatit, Nelson Ayres, Ná Ozzetti, Clemente, Cida Moreira, Wandi Doratiotto etc.), há depoimentos de gente de TV (Fernando Meirelles, Marcelos Tas), de humor (Chico Caruso) e de teatro (Elias Andreato). Muita gente talentosa junta.
              Por outro lado, com tanta gente, alguns depoimentos soam redundantes (ninguém precisa de quatro ou cinco pessoas falando do tamanho diminuto do camarim). E, para um filme que trata de vanguarda, sua narrativa é até bem careta, limitando-se a depoimentos colados em cenas de arquivo (a maioria do acervo de Fernando Meirelles).
              Bem que o filme poderia dar um panorama da indústria musical da época, o que ajudaria a entender melhor por que a casa foi tão importante. O ano de fundação do Lira, 1979, foi um dos piores da indústria da música.
              Pela primeira vez desde o fim da Segunda Guerra, o número de discos vendidos no mundo caiu em relação ao ano anterior. Isso gerou um encolhimento dos "casts" das gravadoras, inclusive no Brasil.
              A existência de um espaço democrático e aberto como o Lira Paulistana, que abrigava de sons experimentais ao punk, da música caipira ao rock, foi uma bênção.

                José Simão

                folha de são paulo
                Ueba! A Macaca comeu o Bambi!
                E a grande dúvida do mensalão: estar preso na Papuda e receber visita do Suplicy é bullying?
                Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Predestinada do Mensalão! Sabe como se chama a namorada do Zé Dirceu? Patrícia TRISTÃO! Rarará!
                E a grande dúvida do mensalão: estar preso na Papuda e receber visita do Suplicy é bullying? Não! É tortura chinesa. Assédio moral! Rarará! Já imaginou estar preso na Papuda e o carcereiro avisa: "Visita". "Oba!" "É o Suplicy. Pra uma visita RÁPIDA. De nove horas e meia!" Rarará! E um leitor me disse que, tanto o Genoino como o Zé Dirceu, ambos têm problemas de saúde: o Genoino é cardiopata e o Zé Dirceu é psicopata! Rarará!
                Gente, esse mensalão só tem desequilibrado: Roberto Jefferson, Zé Dirceu e Joaquim Barbosa! E eu sou a favor da prisão domiciliar pro Genoino, evidente. E eu também quero prisão domiciliar. No domicílio do Maluf, que é rico e ninguém prende! Rarará! E diz que o Zé Dirceu, com aquele sotaque de Mazzaropi com Inezita Barroso, acorda todo dia cantando "A Marvada Cadeia". "É com a marvada cadeia/ é que eu me atrapaio/ de dia eu trabaio/ de noite eu num saio/oi lá!" O melô da Papuda!
                E o meu São Paulo? Tomou três da Ponte Preta! Caiu da Ponte! Três a um pra Macaca. Reviravolta no mundo animal: Macaca come Bambi! E os bambis acordaram cantando: "Boi, boi, boi, boi da cara preta/ Não é o Boi Bandido/ É o gol da Ponte Preta". E um corintiano me disse que o São Paulo não pode ter o Boi Bandido, tem que ter o Bambi Malvado! Rarará!
                E o site Futirinhas revela um telefonema desesperado do Ceni: "ALÔ POLÍCIA, eu quero fazer uma denúncia muito grave. Meus amigos e eu fomos estuprados por uma macaca dentro de casa, juro". Não precisa jurar, a gente é testemunha! Rarará! Os bambis bambearam!
                E o Vasco? O site HumorEsportivo tem uma foto com dois torcedores do Vasco no estádio São Januário: "Koé, você tá batendo a cabeça na grade por quê?". "Pra levar ponto." O Vasco só ganha ponto assim: com os torcedores batendo a cabeça na grade!
                É mole? É mole, mas sobe!
                O Brasil é Lúdico! Placa no bairro da Penha: "Doa-se rotweiller, come de tudo e adora crianças". Rarará. E essa plaquinha embaixo duma flor na floricultura dum supermercado: "Violenta, unidade R$ 3,89". Para esposas com TPM: uma dúzia de violentas. Violenta? Põe na tela! Põe na tela! Rarará.
                Nóis sofre, mas nóis goza!
                Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

                  Restrição pode levar à censura da imprensa, diz presidente da ABL

                  folha de são paulo
                  BIOGRAFIAS
                  Ana Maria Machado foi uma das 17 pessoas a falar ontem em audiência pública em Brasília
                  JOHANNA NUBLATDE BRASÍLIANa audiência pública sobre a polêmica das biografias, realizada ontem no Supremo Tribunal Federal, a escritora Ana Maria Machado, presidente da Academia Brasileira de Letras, afirmou que a autorização prévia pode abrir as portas para a "instalação da censura à imprensa".
                  A audiência reuniu argumentos para a futura decisão do Supremo sobre a ação direta de inconstitucionalidade que questiona a exigência de anuência prévia para a publicação de biografias.
                  A ministra Cármen Lúcia (relatora) afirmou que pretende liberar seu voto no início de dezembro, para que a ação entre na pauta.
                  Dos 17 debatedores presentes, 13 apoiaram a necessidade de se mudar a interpretação sobre a chancela prévia.
                  Eles foram ouvidos pelas ministras do Supremo Cármen Lúcia e Rosa Weber, e pelo representante da Procuradoria-Geral da República, Odim Brandão Ferreira. A ministra Marta Suplicy participou do início da audiência.
                  Ferreira declarou que a Procuradoria-Geral da República entende que é inconstitucional condicionar a publicação de uma biografia à autorização prévia. Disse que uma eventual decisão do Supremo nesse sentido não resolve o problema seguinte, "as invasões ou informações incorretas por parte da obra".
                  Biógrafo de Dom Pedro 2º, o professor José Murilo de Carvalho disse que a família do imperador não colocou obstáculos a seu trabalho. "Vendo a lista de quem defende a censura prévia para biografias, não posso deixar de verificar que não se fazem mais reis como antigamente", ironizou.
                  A polêmica das biografias colocou em destaque --e em choque-- artistas como Roberto Carlos, Caetano Veloso e Chico Buarque.
                  DIREITO DE IMAGEM
                  O deputado federal Marcos Rogério (PDT-RO) defendeu que o Código Civil dá instrumentos para o biografado reagir a calúnias, com a retirada de circulação da obra.
                  "O que poderia o interessado fazer se o STF entender que, no caso de biografias, é possível publicar-se qualquer coisa sem a autorização do biografado? Quais as consequências? A indenização, pura e simplesmente?", disse.
                  Já o representante da Associação Eduardo Banks, Ralph Anzolin Lichotti, afirmou que o direito de imagem prevalece sobre o de informação. Defendeu a manutenção dos artigos que permitem a censura antes da publicação: "Não tenho dúvida de que esses artigos são constitucionais".

                    Mônica Bergamo

                    folha de são paulo

                    Imóvel de ex-juiz será incorporado ao patrimônio da União ou leiloado

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                    Uma casa de praia que pertence ao ex-juiz Nicolau dos Santos Neto será incorporada ao patrimônio da União ou leiloada. O imóvel localizado em um condomínio no Guarujá (SP) foi avaliado em R$ 5,5 milhões. É necessário antes pagar cerca de R$ 450 mil em dívidas de IPTU em atraso.
                    EM CIMA DO LANCE
                    O julgamento final da ação ocorreu em maio, quando o ministro Teori Zavascki, do STF (Supremo Tribunal Federal), reconheceu que o bem foi comprado com dinheiro público desviado da construção do Fórum Trabalhista de São Paulo. A decisão ocorreu a dois dias da prescrição do processo de execução. A ação tramitou por 12 anos e três meses.
                    EM CIMA DO LANCE 2
                    Em 24 de outubro, o Tribunal Regional Federal da 3ª Região, em São Paulo, condenou o ex-juiz, o ex-senador Luiz Estevão e demais réus a devolver aos cofres públicos R$ 1,2 bilhão, em valores atualizados. Segundo a procuradora Maria Luísa Carvalho, que acompanha o caso desde 1998, parte dos crimes prescrevem em maio de 2014, entre eles o de formação de quadrilha.
                    IMAGEM CARA
                    O ator Fábio Assunção e sua ex-mulher, Priscila Borgonovi, acusam a Editora Globo, que publica a "Quem", de litigância de má-fé em um processo que já dura 11 anos. A publicação foi condenada a pagar indenização de R$ 300 mil aos dois, pelo uso de imagens não autorizadas do casamento deles. André Suplicy, advogado do ex-casal, diz que "os sucessivos recursos da editora são protelatórios".
                    IMAGEM CARA 2
                    A Editora Globo diz que o processo segue seu trâmite normal e a condenação não transitou em julgado. As partes agora discutem a atualização do valor da dívida. Segundo Suplicy, a indenização chega a R$ 900 mil, com juros e correção desde 2002, conforme sentença. Já a editora pede a aplicação de uma súmula do STJ pela qual o valor da indenização por dano moral conta a partir da condenação. No caso, em 2008.
                    SILÊNCIO
                    Ao chegar à estreia do Grupo Corpo, Fernando Henrique Cardoso (foto acima) não quis comentar as prisões dos envolvidos no mensalão. "Não quero falar sobre isso. Vim me divertir." Sua namorada, Patricia Kundrát, colocou-se à frente e foi categórica: "Ele não vai falar nada sobre isso".
                    ONDE PEGA
                    Tata Amaral retoma a gravação do documentário sobre José Dirceu em março. A cineasta gravou o momento em que o ex-ministro se entregou à Polícia Federal. "Era eu lá brigando por espaço com um bando de jornalista." A continuidade depende "basicamente de dinheiro". Enquanto isso, ela toca a série de 13 documentários "Rua", encomendada pela Secretaria Municipal de Direitos Humanos.
                    PROCURE OUVIR
                    Filipe Marangone
                    Gilberto Gil e Chico Buarque gravaram nessa terça, no Rio, o clipe de "Copo Vazio", dirigidos por Andrucha Waddington. A canção faz parte da trilha do filme "Rio, Eu te Amo".
                    *
                    Chico encomendou a música a Gil em 1973. "Na época era difícil para ele passar as próprias composições pela censura. Fiquei com aquele problemão: fazer uma música pro Chico", conta o baiano. "A parceria agora se fez dentro do estúdio. Dividimos as vozes sem critério", completa Chico.
                    CORPOS EM MOVIMENTO
                    Os irmãos Rodrigo e Paulo Pederneiras, coreógrafo e diretor artístico do Grupo Corpo, respectivamente, estrearam temporada paulistana do espetáculo "Triz", anteontem, no teatro Alfa. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e o médico e colunista da FolhaDrauzio Varella, com a mulher, a atriz Regina Braga, foram ao evento. A cantora Mônica Salmaso e o marido, o músico Teco Cardoso, também estiveram na plateia.

                    Grupo Corpo estreia espetáculo

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                    Bruno Poletti/Folhapress
                    AnteriorPróxima
                    O médico e colunista da <>Folha Drauzio Varella foi com a mulher, a atriz Regina Braga, ao novo espetáculo do grupo mineiro
                    VEM PRA RUA
                    Mais de cem denúncias envolvendo o Royal, o "instituto dos beagles", invadido por ativistas de defesa dos animais em São Roque (SP), chegaram ao Ministério Público do Estado no mês passado. "Elas foram encaminhadas aos promotores que cuidam do caso", explica Fernando José Marques, ouvidor do órgão.
                    VEM PRA RUA 2
                    Relatório recente da ouvidoria, com dados de julho a setembro, registra 4.466 manifestações sobre diferentes problemas, como direito do consumidor e saúde --aumento de 21% em relação ao trimestre anterior. "Falou-se muito sobre o Ministério Público, por causa dos protestos. As pessoas estão reclamando mais", diz Marques.
                    EX-MINISTRO CASA FILHA EM FESTANÇA DE DOIS DIAS
                    "A energia dos dois dias de festa foi tão positiva que tivemos direito a pôr do sol rosado, lua cheia e até arco-íris. Estava tudo abençoado!" É assim que Erika dos Mares Guia resume à coluna, por e-mail, o seu casamento com o empresário baiano José Renato Coutinho, em Punta del Este, no sábado passado.

                    Erika dos Mares Guia se casa

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                    Reprodução/Instagram/narcisat
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                    A empresária Erika dos Mares Guia entrou no local do casamento junto com o pai, o ex-ministro Walfrido dos Mares Guia
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                    Erika foi conduzida pelo pai, Walfrido dos Mares Guia, ex-ministro do governo Lula, ao som da orquestra sinfônica do Uruguai, que fez um concerto de 40 minutos antes da cerimônia. O momento mais emocionante foi a fala do noivo, que anunciou que a felicidade do casal estava completa com a gravidez de dois meses da noiva.
                    *
                    Em seguida, foi a vez de Erika, em inglês, traduzir as boas-novas e agradecer aos convidados dos quatro cantos do mundo. "Vieram amigos de Hong Kong, Istambul, Zurique, Londres, Paris, Milão, Nova York, Miami e de várias partes do Brasil."
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                    A balada pós-cerimônia durou 12 horas, com direito a show de Dionne Warwick. A cantora americana se emocionou e chegou a chorar durante a música "That's What Friends Are For".
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                    Amiga da noiva, a top Naomi Campbell não conseguiu comparecer. A modelo está na Austrália gravando o programa "The Face". "Era inviável ela estar em Punta", explica a empresária mineira.
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                    As duas famílias optaram por um casamento restrito, realizado na exclusivíssima Estância Vik, na praia de José Ignácio. "Foi um momento muito íntimo. Prefiro não falar nada", disse Walfrido, por telefone, à coluna.
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                    O vestido da noiva era da alta-costura de Dolce&Gabbana. Os estilistas Domenico Dolce e Stefano Gabbana presentearam Erika, dona de uma multimarcas de grifes de luxo, com o véu, o arranjo da cabeça e os sapatos.
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                    Entre os convidados brasileiros, estavam o publicitário Nizan Guanaes, a apresentadora Glória Maria e Narcisa Tamborindeguy. Do mundo político, um dos poucos foi o ex-ministro do STF Nelson Jobim. Nem o senador Aécio Neves (PSDB-MG) nem o ex-presidente Lula foram ao casório.
                    CURTO-CIRCUITO
                    Nina Becker canta Dolores Duran na Casa de Francisca, nos Jardins. Hoje e amanhã, às 22h30. 18 anos.
                    A psicóloga inglesa Judy Shuttleworth participa hoje e amanhã de fórum da Sociedade Brasileira de Psicanálise de SP.
                    O documentário "Eu Respiro" estreia hoje no Espaço Itaú de Cinema em seis capitais. Livre.
                    com ELIANE TRINDADE (interina), JOELMIR TAVARES, ANA KREPP e MARCELA PAES
                    mônica bergamo
                    Mônica Bergamo, jornalista, assina coluna diária publicada na página 2 da versão impressa de "Ilustrada". Traz informações sobre diversas áreas, entre elas, política, moda e coluna social. Está na Folha desde abril de 1999.