sábado, 30 de novembro de 2013

Declarado morto por cientistas, cometa Ison dá sinal de que pode ter 'ressuscitado'

folha de são paulo

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SALVADOR NOGUEIRA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

O cometa Ison está se mostrando tão misterioso na volta do Sol quanto na ida. Depois de declará-lo morto, os cientistas voltaram atrás e agora dizem que pelo menos um pedaço dele sobreviveu.
A essa altura, já se pode descartar que ele vá produzir um espetáculo visual incrível para os observadores da Terra, como se esperava --o Ison estava sendo chamado de "cometa do século". Mas só o fato de ele seguir existindo já intriga os cientistas.
Poucas horas antes de atingir o periélio (aproximação máxima do Sol), às 16h25 de anteontem, o cometa --objeto cujo núcleo é composto de gelo e pedra-- começou a perder brilho rapidamente.
Soho/Nasa
Montagem de fotos do satélite Soho, da Nasa, mostra o cometa Ison após sua aproximação máxima do Sol; parte do seu núcleo pode ter sobrevivido ao encontro solar
Montagem de fotos do satélite Soho, da Nasa, mostra o cometa Ison após sua aproximação máxima do Sol; parte do seu núcleo pode ter sobrevivido ao encontro solar
Esse comportamento é consistente com a fragmentação do núcleo. Se estivesse em um pedaço só, seu brilho deveria ter aumentado.
A tese foi reforçada quando o SDO (Solar Dynamics Observatory), satélite da Nasa, foi apontado para observar a passagem do Ison e não registrou nada pelo caminho.
Então foi surpreendente quando imagens do Soho (outro satélite solar, mantido em parceria entre a ESA, agência espacial europeia, e a Nasa) revelaram, na madrugada de ontem, que o Ison teria reemergido do outro lado do Sol.
De início, os cientistas interpretaram a imagem como uma trilha de poeira e gás deixada pelos restos do cometa, mas, quando o objeto foi aumentando de brilho, eles tiveram de ceder. À 0h49 de ontem, Karl Battams, coordenador da campanha de observação da Nasa, afirmou: "Acreditamos que parte do núcleo do Ison tenha sobrevivido ao periélio."
CONFUSÃO
Enquanto o Ison se prepara para sair do campo de visão do satélite Soho e se afastar do Sol, os cientistas terão tempo de analisar os dados e concluir o que houve.
Segundo Ignacio Ferrín, especialista em cometas da Universidade de Antioquia, na Colômbia, o núcleo do Ison teria de fato se desintegrado, antes mesmo da aproximação máxima do Sol.
Usando imagens de um dos satélites Stereo, que monitoram o Sol, ele calculou o período de rotação do cometa pouco antes de sua passagem a 1,2 milhão de km do Sol.
Ferrín concluiu que o cometa dava uma volta em torno de si mesmo a cada 2,38 horas. Segundo outros estudos, o limite de estabilidade da rotação de um objeto desse tipo seria de, no mínimo, 3,3 horas. "Portanto, o cometa excedeu o limite de estabilidade rotacional, e a razão da fragmentação foi 'quebra rotacional'", diz Ferrín.
Contudo, caso essa conclusão se mostre equivocada, não será a primeira do cientista colombiano sobre o Ison. Ele também previu que o cometa iria "murchar" bem antes de atingir o periélio, o que não aconteceu.
Os cientistas da Nasa agora estão cautelosos. Não dizem nem se o que restou do Ison terá longevidade, nem se será visível da Terra.
Observações telescópicas a partir do solo devem ser possíveis lá para o dia 5 de dezembro. Pelo menos até então, teremos de aguardar o desfecho dessa eletrizante aventura científica.

UMA BREVE HISTÓRIA DO ISON
21.set.2012
O cometa é descoberto
14.nov.2013
Torna-se visível a olho nu
28.nov.2013
Chega ao ponto mais próximo do Sol e é declarado 'morto'
29.nov.2013
Astrônomos voltam atrás e dizem que parte do cometa pode ter sobrevivido
5.dez.2013
Cometa poderia ser visível por telescópios terrestres
26.dez.2013
Proximidade máxima da Terra

Walter Ceneviva - Depois de mais de 30 anos na Folha, é hora de parar

Da primeira à última
Voltarei a escrever no jornal, apenas sem o imperativo da colaboração semanal, encerrada com esta página
Octavio Frias de Oliveira, saudoso amigo, me convidou há muitos anos para escrever a coluna semanal "Letras Jurídicas" nesta Folha. Seu redator, Theofilo Cavalcanti Filho, advogado e jornalista dos melhores, havia falecido.
Não estava em meus planos de advogado voltar ao jornalismo, mas a insistência do amigo me venceu. A opção foi ótima. Gerou alegria e realização em área especializada do trabalho jornalístico.
No curso dos anos, a coluna sofreu modificações, sempre em estreito acordo com a Redação. Foi assim quando acrescida a divulgação de obras jurídicas.
Ao todo, são mais de 30 anos. Por isso, o longo tempo da vida me mostra que é hora de parar. Este jornal tem jornalistas qualificados para o exame severo dos assuntos nos ramos da ciência jurídica, na aplicação desta aos fatos de cada dia. E mais, a ponderação crítica das alternativas inovadoras.
Com outro amigo, o jornalista, escritor e advogado Otavio Frias Filho, Diretor Editorial da Folha, chega hoje a última etapa da honrosa tarefa.
Foram milhões de palavras escritas, marcadas pela liberdade que me foi assegurada. O jornal passou da paginação variável (pré-eletrônica) ao perfil atual, com espaços contados pelo número de toques do computador em cada coluna.
Posso ilustrar a mudança. Comecei a vida profissional em 1947, como locutor de rádio. Depois passei a jornalista.
Imagine o leitor que escrevi, na antiga "Gazeta Esportiva", a descrição do quinto gol do Brasil no campeonato mundial em 1958, na Suécia. Traduzi quadrinhos do Pato Donald, no início da editora Abril. Habituei-me à variedade até formar-me em direito, em 1954, no largo São Francisco.
Nos decênios decorridos, as mutações seguidas marcaram a vida do ser humano. Alcançaram desde assuntos corriqueiros aos mais complexos. Cada alteração desafia a capacidade de quem escreve para assegurar a compreensão do leitor no espaço pré-fixado da página. Nesse perfil, o convívio com os colegas da Folha foi sempre enriquecedor.
Deixar a página jurídica me dá tristeza, embora certo que não deixo o jornal. Em entendimento direto com Otavio Frias Filho, voltarei a escrever a respeito do direito e de sua aplicação, apenas sem o imperativo da colaboração semanal, encerrada com esta página.
Foi clara a penetração ampliada da coluna, com o público acrescido, desde quando passou a ser divulgada também pelo UOL. Na comunicação eletrônica, jornais e revistas da clássica mídia impressa continuarão prestigiados, longe das primeiras resistências à eletrônica. Nela o jornalismo é imbatível, com a notícia instantânea. A leitura meditada continuará, porém, a desmontar a complexidade de cada evento e do seu significado.
Na ponderação demorada a respeito desse período basta pensar na infinidade de mudanças e nas transformações da segunda metade do século 20 e daí até o presente. Da medicina ao direito, do rádio em ondas médias à comunicação instantânea e planetária, do telefone rústico ao tablet. Tudo mudou, para o ser humano, em meio século.
Os caminhos da vida e dos costumes se defrontaram com muitas alterações desde o primeiro comentário, publicado nesta coluna. Na medida do possível, ela ajudou a compreensão do direito e continuará a ajudar.

    Julio Abramczyk

    Uma inovação em vacina para cães

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    Uma única injeção protegendo cães contra o vírus da raiva e com ação anticoncepcional é a proposta de pesquisa na Universidade Thomas Jefferson, na Filadélfia, EUA.
    O professor Milosz Faber, do departamento de imunologia, recebeu bolsa de US$ 100 mil da Fundação Bill e Melinda Gates para estudar a viabilidade da produção de uma vacina que combata a raiva e evite o aumento da população canina.
    A pesquisa tem por base o emprego de uma variante do vírus, não patogênica, que induz resposta imune para o vírus da raiva e inibe a liberação de gonadotrofina, hormônio que estimula os ovários.
    Pasteur introduziu a vacina antirrábica em 1885 e já em 1890 muitas cidades no mundo, entre elas São Paulo, dispunham do imunizante.
    Ao longo dos anos, a vacina vem sendo aperfeiçoada para evitar efeitos colaterais.
    As contínuas campanhas de vacinação de cães vêm proporcionando diminuição de casos de raiva de transmissão canina (há também a transmissão por morcegos).
    Em 2013, segundo a Organização Pan-Americana da Saúde, apenas Brasil e República Dominicana notificaram casos de transmissão da doença, mas somente três foram confirmados.
    Com as campanhas e o reconhecimento pela população da importância dos cuidados preventivos, sanitaristas vislumbram a possibilidade de eliminar até 2015 a raiva humana transmitida por cães nas Américas.
    julio abramczyk
    Julio Abramczyk, médico formado pela Escola Paulista de Medicina/Unifesp, faz parte do corpo clínico do Hospital Santa Catarina, onde foi diretor-clínico. Na Folha desde 1960, já publicou mais de 2.500 artigos. Escreve aos sábados na seção 'Saúde'.

    Paul Krugman

    folha de são paulo

    O sucesso secreto do Obamacare

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    O nome oficial da lei de reforma da saúde que os norte-americanos conhecem como Obamacare é Lei de Proteção ao Paciente e de Saúde Acessível. O termo "acessível" não se refere apenas a subsidiar o pagamento de planos de saúde. Também é referência a um esforço para "atenuar a curva" - desacelerar a alta aparentemente inexorável nos custos de saúde.
    Boa parte da elite em Washington expressou desdém diante da promessa de corte de custos. A atitude prevalecente na capital dos Estados Unidos é a de que a reforma não será real a menos que pessoas sofram; cortes sérios de custos só podem surgir de medidas como uma elevação da idade mínima para participar do programa federal de saúde Medicare (o que, de acordo com conclusão recente do Serviço Orçamentário do Congresso, na realidade não economizaria praticamente dinheiro algum) ou da exclusão de milhões de norte-americanos hoje beneficiados pelo programa Medicaid. É fato que uma carta assinada por centenas de economistas especializados em questões trabalhistas e de saúde, em 2011, apontava que "a Lei de Acesso à Saúde contém essencialmente todas as medidas de contenção de custos que os analistas de política pública consideraram efetivas para a redução do ritmo de aumento nos gastos com a saúde". Mas essas opiniões especializadas foram em larga medida desconsideradas.
    Como as coisas estão indo, portanto? Os mercados de planos de saúde começaram as operar de maneira notoriamente precária, mas muitas das, se bem que de forma alguma todas as, medidas de corte de custo já estão se fazendo sentir. Será que conseguimos atenuar a alta de custos?
    A surpreendente resposta é que sim. De fato, a desaceleração na alta dos custos de saúde foi dramática.
    Bem, façamos as ressalvas obrigatórias. Primeiro, não sabemos por quanto tempo as boas notícias perdurarão. Os custos de saúde se desaceleraram dramaticamente nos Estados Unidos nos anos 90 (ainda que não tão dramaticamente quanto agora), provavelmente graças à ascensão das organizações de gestão de saúde, mas a alta de custos ressurgiu depois de 2000. Segundo, não sabemos em que proporção as boas notícias se devem à Lei de Acesso à Saúde.
    Ainda assim, os fatos são notáveis. Desde 2010, quando a lei foi aprovada, os gastos reais per capita com a saúde - ou seja, os gastos totais ponderados pela inflação geral e pelo crescimento populacional do período - estão crescendo a menos de um terço de sua média de longo prazo. O gasto médio por beneficiário do Medicare não subiu; na verdade, até caiu um pouco.
    O que poderia explicar essa boa notícia? Uma resposta óbvia é que a economia ainda está deprimida, o que pode levar as pessoas a evitar tratamentos médicos dispendiosos. Mas essa explicação prova ser problemática, de múltiplas maneiras. Para começar, a economia tinha se estabilizado em 2010, ainda que a recuperação fosse bastante fraca, mas os custos da saúde continuaram a se desacelerar. Além disso, é difícil ver por que uma economia fraca teria mais efeito em termos de redução dos preços da saúde do que tem sobre a taxa geral de inflação. Por fim, os gastos com o Medicare não deveriam ser afetados pela economia fraca, mas se desaceleraram de maneira ainda mais dramática que os gastos privados.
    Uma história melhor teria por foco o que parece ser um declínio em certas formas de inovação médica - especialmente a ausência de novos e dispendiosos remédios revolucionários -, e o fato de que as patentes sobre alguns medicamentos existentes estão expirando, o que permite substitui-los por genéricos mais baratos. Esse é um fenômeno real: é, de fato, o principal motivo para que o programa de medicamentos do Medicare tenha terminado por custar menos do que as projeções originais previam. Mas porque medicamentos respondem por apenas 10% dos gastos com a saúde, o peso desse fator é limitado.
    Assim, que aspectos do Obamacare podem estar levando a uma desaceleração na alta dos custos da saúde? Uma resposta clara está no subsídio que o plano propicia às operadoras de plano de saúde que ofereçam planos Medicare Advantage, acompanhado pelo corte de alguns pagamentos aos provedores. Uma fonte menos certa mas ainda provável de economia envolve mudanças na maneira pela qual o Medicare paga por serviços. O programa agora penaliza hospitais caso muitos dos pacientes a que atenderam tenham de ser reinternados poucos depois da alta - um indicador de mau atendimento -, e isso resultou em uma queda substancial no número de pacientes que precisam de nova internação. O Medicare também está encorajando uma mudança de método de pagamento, do atual sistema de honorários por serviço, sob o qual médicos e hospitais recebem por procedimento realizado, para o sistema de "tratamento responsável", sob o qual as organizações de saúde são recompensadas pelo sucesso geral do tratamento e pelo controle dos custos desses serviços.
    Além disso, existem provas de que a economia de custos com o Medicare influencia o restante do setor de saúde - ou seja, de que quando o Medicare consegue controlar a alta de seus custos, os planos privados de saúde também se tornam mais baratos.
    E a maior das economias pode ainda estar por vir. O Conselho Independente de Consultoria sobre Pagamentos, uma comissão com o poder de impor medidas de corte de custos (sujeitas a veto do Congresso) caso os gastos com o Medicare cresçam mais do que o previsto, ainda não foi estabelecido, em parte pela quase certeza de que qualquer indicação para ele seria alvo de manobras de bloqueio dos republicanos e seus protestos contra os "conselhos da morte". Mas agora que o regimento da Congresso foi modificado para impedir esse tipo de manobra, o conselho poderá ser estabelecido.
    As notícias sobre os custos da saúde são, em resumo, notavelmente boas. Você não ouvirá muita coisa sobre essas boas notícias a menos que, e até que, o site do Obamacare esteja funcionando como deveria. Mas sob a superfície, a reforma da saúde começa a parecer um sucesso maior do que até seus mais ardorosos defensores imaginariam.
    Tradução de PAULO MIGLIACCI
    paul krugman
    Paul Krugman é prêmio Nobel de Economia (2008), colunista do jornal "The New York Times" e professor na Universidade Princeton (EUA). Um dos mais renomados economistas da atualidade, é autor ou editor de 20 livros e tem mais de 200 artigos científicos publicados.

    A profissão de paisagista deve ser autônoma? ( )Sim ( )Não

    folha de são paulo
    ELIANA AZEVEDO, CECILIA HERZOG E JULIO PASTORE
    A profissão de paisagista deve ser autônoma?
    Paisagens que queremos ter
    SIM
    A importância do paisagismo, ou arquitetura paisagística, cresce frente aos desafios que o uso inadequado e intensivo de recursos naturais finitos tem ocasionado.
    Está em tramitação na Câmara dos Deputados o projeto de lei nº 2.043/11, que visa regulamentar a profissão de paisagista e fomentar o ensino superior nessa área.
    Essa profissão é reconhecida pela Organização Internacional do Trabalho e teve sua autonomia reafirmada pela Federação Internacional de Arquitetos Paisagistas e a União Internacional de Arquitetos.
    Alemanha, Canadá, França, Portugal, Estados Unidos, Austrália, China, México e África do Sul têm a profissão regulamentada e formação universitária específica.
    No Brasil, porém, ela não se encontra regulamentada. Isso causa perplexidade diante de nossas cidades muitas vezes mal arborizadas, cada vez mais quentes, com alagamentos, desmoronamentos de encostas e péssima qualidade do ar.
    Essas são algumas das consequências de um modelo de desenvolvimento que por anos desconsiderou o ambiente e a paisagem. As contas estão sendo feitas e incorporadas aos orçamentos urbanos, e a população arca com os custos.
    Áreas verdes urbanas, públicas ou privadas, jardins, praças, parques e reservas naturais, fundos de vale, todos são estratégicos para a qualidade da vida e do ambiente.
    A história do paisagismo no Brasil teve e tem expoentes oriundos de diversos campos. Arquitetos, agrônomos, mas também engenheiros e biólogos. Burle Marx, nossa maior referência, era artista plástico.
    Apesar de o ensino nessa área ser reconhecido pelo Ministério da Educação em nível técnico, tecnológico e superior, temos apenas uma graduação em paisagismo --na Universidade Federal do Rio de Janeiro.
    A escassez de oferta ocorre porque egressos desse curso têm sido acusados de exercício ilegal da profissão pelos conselhos profissionais da arquitetura e da engenharia e agronomia (CAU e Confea). Ambos se opuseram ao PL com o mesmo argumento: o paisagismo seria uma área característica de seus profissionais (arquitetos de um lado, agrônomos e engenheiros florestais de outro). Note-se que o PL preserva o direito das demais categorias a atuar na área do paisagismo, além de incentivar a pós-graduação para profissionais formados em áreas afins.
    A profissão de paisagista tem suas atribuições repartidas entre várias categorias. Nenhuma delas, porém, abrange a totalidade dos conhecimentos que compõem seu campo e não dedicam mais do que 8% de seus cursos a conteúdos específicos da área. O paisagista, quando formado em graduação específica, recebe conhecimentos das ciências naturais (botânica, ciências do solo, climatologia, ambiente), técnicos (projeto construtivo) e artísticos.
    Reconhecer a autonomia e a interdisciplinaridade desse campo de saber é necessário para a expansão e ampla instituição de um corpo acadêmico próprio. Programas de graduação e pós-graduação dedicados ao paisagismo são o modo mais eficiente para fortalecer os conhecimentos técnicos e teóricos.
    O objetivo é, afinal, formar paisagistas plenamente capacitados. De outro modo, a sociedade é prejudicada, por não poder contar com profissionais capacitados em área fundamental para contribuir para um futuro com cidades mais saudáveis.
    A Comissão de Educação da Câmara aprovou, por unanimidade, o PL nº 2.043/2011 na semana passada. A sociedade deve se informar e tomar partido, ao risco de ter seus interesses subjugados por outros certamente menos representativos.
    O Brasil precisa regulamentar a profissão de paisagista.
    JOSÉ ARMÊNIO DE BRITO CRUZ
    A profissão de paisagista deve ser autônoma?
    Profissional generalista
    NÃO
    O desenho da paisagem demanda uma abordagem globalizante, generalista, natural ao arquiteto. O profissional que pensa a paisagem deve considerar todos os seus componentes, naturais e antrópicos e também os culturais e artísticos.
    A escola que garante essa formação é a de arquitetura e urbanismo. O Brasil tem hoje 311 delas, que formam profissionais de diversas especialidades, inclusive a de paisagista. O paisagismo, por tanto, já está regulamentado. Não é preciso criar mais uma especialidade.
    Para além da discussão de classe, muitas vezes revestida de argumentações com tonalidades de proteção de mercado, é necessária uma reflexão sobre a demanda do país neste momento e o caminho da pesquisa, da ciência e da arte no mundo. O conhecimento não é uma estante de pacotes fechados de diversas especialidades. A integração é a perspectiva.
    Envolvido em um projeto de um laboratório cujo tema era a sustentabilidade, tive a oportunidade de, por meio de pesquisa internacional, tomar contato com os centros de pesquisa mais avançados do mundo. Chamou-me a atenção um laboratório na Inglaterra no qual cientistas da oceanografia dividiam a bancada de trabalho com engenheiros eletrônicos e biólogos. Eles estudam a influência das marés na vida marinha por meio de um monitoramento conduzido por circuitos eletrônicos. A interdisciplinaridade é, pois, a base de seu trabalho.
    A paisagem tem essa característica agregadora. O desafio no planejamento e na construção do território nacional é justamente o da integração das disciplinas. As vocações pessoais, assim como o direcionamento na formação e exercício profissional, encontram espaço dentro da escola de arquitetura, que garante a formação global inclusive para as corretas escolhas individuais.
    Em vez de discutir um projeto de lei (PL nº 2.043 de 2011) que direcionará recursos para uma especialidade equivocada na sua origem, deveríamos discutir formas para que os recursos investidos nas escolas de arquitetura e empreendidos por inúmeras pesquisas de arquitetos, inclusive arquitetos paisagistas, tragam retorno ao país.
    O território brasileiro desconhece o planejamento, e não será a oficialização de um especialista que garantirá a mudança necessária. Não se deve evitar a contaminação, positiva, do pensamento universal na administração pública e nas decisões privadas afeitas ao território.
    Em um projeto paisagístico, o conhecimento sobre transportes, urbanismo e infraestrutura é tão importante quanto o da biologia --da flora, da fauna e do clima. É a integração que garante a qualidade do projeto, não a especialização.
    Em 2012, começou a funcionar o Conselho de Arquitetura e Urbanismo (CAU), entidade que regulamenta e fiscaliza a profissão do arquiteto. Sua resolução número 51, de julho de 2013, que dispõe sobre as áreas de atuação privativas dos arquitetos e urbanistas, coloca a arquitetura paisagística no escopo da atuação de seus profissionais.
    A criação do conselho é baseada na definição do arquiteto e urbanista como categoria uniprofissional, de formação generalista, cujas atividades, atribuições e campos de atuação encontram-se discriminados no art. 2º da lei nº 12.378 de 31 de dezembro de 2010 e garante o sentido globalizante da formação do arquiteto.
    A aproximação do ensino de arquitetura das necessidades do país por meio de sua qualificação e atendimento às demandas da população é o que realmente deveríamos discutir. A qualificação da vida nas nossas cidades só será alcançada por meio do resgate do que essa peculiar forma de conhecimento --a arquitetura-- tem a contribuir.

    Tomie Ohtake lamenta danos à obra em incêndio no Memorial e pensa em refazê-la

    folha de são paulo



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    DE SÃO PAULO

    A artista plástica Tomie Ohtake lamentou que o incêndio no Memorial da América Latina, nesta sexta-feira (29) em São Paulo, tenha danificado uma tapeçaria de cerca de 800 m² feita por ela.
    "É uma obra de tamanho inusitado dentro da obra fantástica de Oscar Niemeyer", disse Ohtake à Folha, ao saber do incêndio no Memorial. "Fiquei triste com isso." Segundo a artista, o projeto da tapeçaria, que foi concluída em 1990, ainda existe.
    A peça, que se estende por 70 metros ao longo da lateral do Auditório Simón Bolívar, foi produzida por encomenda do próprio Oscar Niemeyer, que fez o projeto arquitetônico do Memorial.

    Auditório Simón Bolívar

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    Divulgação
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    Painel em tapeçaria criado por Tomie Ohtake para a parede lateral do auditório Leia mais
    "Dá para ser refeita sem problemas", diz a artista. "Dá trabalho, mas é possível refazer."
    Segundo seu filho, Ricardo Ohtake, a artista disse que é necessário restaurar com rapidez a arquitetura do Memorial e que, portanto, ela também deverá começar a trabalhar para refazer a peça.
    Ainda de acordo com Ricardo, a decisão de refazer depende apenas do Memorial. Se a encomenda for feita, o filho da artista diz que ela cumprirá o pedido.
    A assessoria da instituição ainda não sabe dizer a extensão do estrago na obra, mas confirma que ela sofreu danos.
    Segundo o presidente da Fundação Memorial, João Batista de Andrade, o fogo teve início por volta das 15h, no forro do teto da plateia B do auditório Simón Bolívar, após um curto-circuito.
    O fogo teria se alastrado no carpete que forra o auditório.
    VALOR
    Especialistas em leilões de arte, como Jones Bergamin e Soraia Cals, estimam que a tapeçaria de Tomie Ohtake destruída no incêndio que atingiu o auditório do Memorial da América Latina valeria cerca de R$ 5 milhões.
    "É uma obra única, então é difícil estimar", diz Cals. "Mas levando em conta que ela tem pinturas menores vendidas por até R$ 500 mil, R$ 5 milhões é um valor que parece correto, podendo ser até mais."
    Daniel Roesler, diretor da galeria Nara Roesler, que representa a obra da artista, diz, no entanto, que o valor da peça é "inestimável". "É uma obra importante, reproduzida em todos os catálogos da Tomie e feita em parceria com Niemeyer", diz Roesler. "É única e por isso seu valor não pode ser calculado."

    Incêndio no Memorial da América Latina

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    Avener Prado/Folhapress
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    Vista interna do prédio, mostra a Pomba em Bronze do escultor Alfredo Ceschiatti

    Vai esquentar - André Singer

    folha de são paulo

    Vai esquentar

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    Divulgado anteontem, o saldo de "apenas" R$ 5,4 bilhões nas contas do Tesouro em outubro dará novo gás à pressão pelo corte dos gastos públicos, que Dilma Rousseff já vem comprimindo de forma perigosa. Depois de denunciar o ataque especulativo de que foi vítima no início de novembro, o governo decidiu, no meio do mês, fazer concessões aos atacantes. A principal delas consistiu em abandonar o projeto de lei que reduzia a dívida de Estados e municípios.
    A decisão representa um tiro de canhão nas possibilidades de Fernando Haddad em São Paulo. Segundo a Folha, a proposta agora engavetada reduziria em 40% a monumental dívida da cidade (R$ 54 bilhões), abrindo, caso vingasse, espaço para investimentos urgentes. Convém lembrar que os acontecimentos de junho começaram na capital paulista, com o sentido geral de reivindicar mais aplicação social por parte do Estado, em particular no transporte público.
    Tendo depois o Rio de Janeiro como epicentro, as manifestações se nacionalizaram, ampliando também o escopo de reivindicações, que alcançaram a saúde, a educação e a segurança, entre outros tópicos. Embora diversificadas e heterogêneas, as palavras de ordem sempre apontavam para a necessidade de mais e não menos verbas dos cofres públicos.
    Ao ceder diante do chamado terrorismo fiscal, que desta vez une desde o mercado financeiro globalizado até as grandes construtoras, passando por quase todos os empresários industriais, Dilma deixa sem válvula de escape a panela de pressão urbana. Além de ter cortado as esperanças de megacentros como São Paulo, ela arrancou um compromisso da base aliada para abortar no Congresso as iniciativas que visavam melhorar os salários de agentes comunitários de saúde, bombeiros e policiais, assim como qualquer elevação do dispêndio.
    Nesse contexto, conflitos como o dos professores municipais cariocas tendem a se multiplicar. Em lugar de dar um passo adiante, fazendo das aplicações na infraestrutura das cidades, aí incluídos os salários, uma fonte de crescimento econômico, o Executivo federal optou pelo caminho mercadista de apertar o cinto.
    Note-se que dos cinco pactos nacionais propostos pela presidente no calor dos protestos o único que está sendo plenamente levado adiante é o da responsabilidade fiscal, tornando explosiva a contradição contida naquele pronunciamento. Afinal, como melhorar saúde, educação e transporte (os outros itens) se o dinheiro é cortado? Quanto à reforma política, o Congresso encarregou-se de neutralizá-la.
    Se nada mudar, a chapa vai ferver no ano da Copa, e não apenas pela intensidade das disputas dentro dos estádios, mas, sobretudo, pelo calor dos conflitos ao redor deles.
    andré singer
    André Singer é cientista político e professor da USP, onde se formou em ciências sociais e jornalismo. Foi porta-voz e secretário de Imprensa da Presidência no governo Lula.

    Romaria a presídio foi um equívoco, diz Dilma a petistas

    folha de são paulo

    Parentes de presos comuns reclamam dos 'privilégios' de políticos na Papuda

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    FLÁVIA FOREQUE
    DE BRASÍLIA
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    Nos dias de visita, algumas centenas de mulheres começam a se aglomerar, a partir das 4h da manhã, no "curral", nome dado à grade em que elas se apoiam para, em fila, receber a senha para visitar os presos do Complexo Penitenciário da Papuda.
    Essa é a primeira etapa para o ingresso no local, onde estão os presos do processo do mensalão --como o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu e o ex-tesoureiro nacional do PT Delúbio Soares.

    Ainda será necessário passar pela revista, scanner corporal e "banquinho", dispositivo que apita caso identifique qualquer aparelho eletrônico levado pelo visitante.
    "A gente é tratado como bandido também", reclama Maria Aparecida Nunes, 44 anos. Há dois anos ela visita o sobrinho, preso por tentativa de homicídio.
    A empregada doméstica D.N., 38, reconhece que alguns episódios contribuem para o rigor adotado. "Aqui já teve mulher de 78 anos com droga dentro da bengala. Por conta de uma, todas pagam."
    Toda semana ela visita o marido, mas tem preferência no acesso ao presídio: o companheiro é "xepeiro", lava a marmita servida aos presos, apelidada de xepa (restos de comida). Mas, assim como as outras mulheres, precisa cumprir todos os pré-requisitos para ter acesso aos pátios onde acontece a visita.

    Políticos visitam condenados na Papuda

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    Valter Campanato/Agência Brasil
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    O senador José Sarney, após visitar José Genoino IC-DF
    ROUPAS BRANCAS
    Todo o vestuário deve ser de cor branca. Nos pés, "sandálias de dedo com solado fino, de cor clara, sem miçangas, pingentes ou fivela metálica", como detalha a regra de acesso às prisões do DF.
    Ao todo, 10.294 presos cumprem pena ali. O local herdou o apelido da proprietária da fazenda onde hoje está o complexo. Por ter desenvolvido uma doença que a deixou com "papo" --possivelmente bócio-- recebeu a alcunha de "Papuda".
    A visita ali acontece às quartas e quintas-feiras, das 9h às 15h. É durante esse período que as esposas podem ter 30 minutos de encontro íntimo com o parceiro, no "parlatório", nome dado à sucessão de quartos disponíveis para quem é casado ou comprove ter relação estável.
    A estrutura não agrada: pela rigidez da cama, o móvel ganhou o apelido de "quebra-cabeça". Como os namorados não têm acesso ao espaço, foi preciso improvisar. Sob a vigilância de um detento, alguns banheiros do pátio são transformados em "parlaboi", onde os casais conseguem ter a privacidade que desejam.
    Foi no presídio que Érica Silva, 36, engravidou do terceiro filho. Na última quinta, ela aguardava sua vez na fila para contar a novidade ao marido, preso por tráfico.
    "A família gostou, mas eu chorei tanto... Tudo vai diminuir, não vou poder trabalhar com química e cuido dele e dos meninos com meu salário de cabeleireira."
    Muitas mulheres não se conformam com o que consideram tratamento privilegiado dado aos visitantes dos condenados no mensalão. E reclamam da romaria de políticos que foi visitar a cúpula petista. As visitas, nestes casos, não se limitaram aos dias estabelecidos e não seguiram as limitações impostas aos visitantes "comuns" do Complexo da Papuda.


    Romaria a presídio foi um equívoco, diz Dilma a petistas


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    NATUZA NERY
    VALDO CRUZ
    DE BRASÍLIA

    Apesar de ter determinado silêncio no governo sobre as prisões dos condenados do mensalão, a presidente Dilma Rousseff reprovou o regime privilegiado que permitiu visitas fora de hora aos petistas presos no Complexo Penitenciário da Papuda, em Brasília.
    Ela considerou um erro a romaria de políticos que foi à cadeia visitar os petistas na primeira semana de detenção. E vê o risco de que outros presos e seus parentes fiquem revoltados com a situação.
    Em viagem a Fortaleza no dia 22, Dilma discorreu sobre os três anos em que ficou presa durante o regime militar e, diante de ministros e congressistas, falou sobre o que a experiência lhe ensinou para evitar problemas na prisão.
    Além de auxiliares do primeiro escalão, estavam a bordo do avião presidencial o líder do PT na Câmara, José Guimarães (CE), irmão do deputado José Genoino (SP), preso na Papuda com o ex-ministro José Dirceu e o ex-tesoureiro petista Delúbio Soares.
    Pedro ladeira - 21.nov.2013/Folhapress
    Familiares de presos fazem fila para visitar parentes no presídio
    Familiares de presos fazem fila para visitar parentes no presídio
    A romaria de políticos à Papuda reuniu 26 deputados do PT no dia 20 para ver Dirceu, Delúbio e Genoino --que depois saiu do cárcere para tratamento médico e aguarda decisão sobre seu destino.
    Dilma recomendou aos petistas que as visitas sejam breves para não irritar os familiares dos demais presos, com acesso mais restrito às áreas de segurança e sempre submetidos a controle rígido para conseguir entrar no local.
    O mandato assegura aos congressistas visitas fora dos dias convencionais. Mas a caravana de políticos irritou familiares dos presos que formam filas nas madrugadas dos dias de visita e gerou críticas. Para Dilma, episódios assim podem gerar animosidade desnecessária na Papuda contra os petistas presos.
    "Eu estive lá, sei como é", disse a presidente, conforme relatos de participantes da viagem a Fortaleza, relembrando seus anos na Torre das Donzelas, apelido da ala onde ficava no antigo presídio Tiradentes de 1971 a 1974.
    Dilma afirmou que a regra básica no cárcere é conquistar a confiança dos outros presos. Também é "fundamental saber cozinhar", aconselhou a presidente durante a conversa no avião.
    Para ela, além de garantir a qualidade da comida, o trabalho na cozinha ajuda a matar o tempo e pode funcionar como terapia. No regime semiaberto ao qual estão submetidos os petistas, é possível ser selecionado para trabalhar na cantina da cadeia.
    "Os presos comuns e os carcereiros eram nossos aliados", disse. Na ditadura, os carcereiros costumavam comprar livros encomendados pelos presos políticos. Assim como os outros detentos muitas vezes transportavam bilhetes trocados entre os homens e mulheres detidos por se opor ao regime militar.
    Em seguida, conforme contaram alguns dos presentes durante a viagem a Fortaleza, Dilma classificou como "tremenda bola fora" a exibição de tratamento diferenciado.
    Apesar das críticas, a presidente manifestou, mais uma vez, preocupação com a saúde de Genoino. Operado para uma correção na artéria aorta recentemente, ele teve um pico de pressão e foi hospitalizado. Agora aguarda decisão sobre seu destino na casa de um parente. Duas juntas médicas consideraram que seu quadro não é grave.

    Xico Sá

    folha de são paulo
    Homens trabalhando
    O que é um operário em construção diante de uma Copa, diante de um investimento milionário?
    Amigo torcedor, amigo secador, o que é um operário em construção diante de uma Copa, diante de um investimento milionário, diante da coisa pública a serviço da coisa privada, o operário que faz a coisa e a coisa, caro Vinicius de Moraes, ainda não faz o operário, pasme.
    Um operário não, dois, mas poderiam ser dez, tudo daria no mesmo, nas arenas já são quatro, cumpram-se as honras de praxe, as homenagens no jogo, aí pergunto, cá do meu romantismo babaca envelhecido em barris de descrença: quantos minutos de silêncio vale uma vida sob os escombros?
    Um operário custa menos que meia hora do gasto com o gerenciamento da imagem dos empreiteiros e dos"cabras sem vergonha", como disse o irmão de uma das vítimas. Zelar pela imagem custa na proporção da cara de pau dos envolvidos, aí incluso o sinto muito, o cinismo, o buquê para as viúvas, os despachos burocráticos de rotina e o falso luto das autoridades.
    O que vale é a imagem do Brasil lá fora. A preocupação é com o susto do mundo diante da tragédia de Itaquera. Um operário morto em uma arena ainda vale o barulho em torno da Copa. Um operário em construção comum, um prédio, uma estrada, caro Vinicius, não vale uma marmita, não vale um minuto de reza.
    Os operários da bola, velho Vinicius, aprenderam a dizer "não", acredite. A turma do Bom Senso F.C. andou prometendo greve para esta rodada, diante da antiga safadeza dos salários atrasados, a praxe. Que vergonha, Clube Náutico Capibaribe, quanta história de "elite" para acabar assim uma temporada.
    Óbvio que se trata de um segmento privilegiado dos atletas que organiza o movimento, mas não se nega o avanço, alvíssaras, é o pontapé inicial na história. O Bom Senso promete descer com o seu protesto ao rés do chão de todas as divisões do futebol pentacampeão do mundo que chega a mais uma Copa do Mundo imbatível em suas contradições econômicas.
    Sim, caro Vinicius, homens trabalhando por melhores condições de uma categoria que historicamente não se mexe, resguardadas as ações de um Afonsinho, o pioneiro do passe livre ainda nos anos 1970, a missão de uma certa Democracia Corintiana do doutor Sócrates e outros raríssimos levantes.
    Estas são as notícias, poeta, queria apenas relembrar de novo teu centenário e fazer bom uso, nesta crônica com sangue de arena nos olhos, do teu lirismo de classe.
    VERBETE FINAL
    Nós, os normais e as normalistas, já gastamos todos os verbos para falar de Nilton Santos. Invoco, pois, o cronista botafoguense Paulo Mendes Campos, no seu "Diário da Tarde" para tratar do gênio que se foi:
    "Nilton Santos confia na bola; a bola confia em Nilton Santos; Nilton Santos ama a bola; a bola ama Nilton Santos. Também, nesse clima de devoção mútua não pode haver problema."
    @xicosa

      Feridas de Honduras [editorial folhasp]

      folha de são paulo
      O ex-presidente de Honduras Manuel Zelaya prejudica a frágil democracia de seu país ao não reconhecer a vitória do governista Juan Orlando Hernández na eleição presidencial realizada domingo.
      Com quase todos os votos apurados, o Tribunal Supremo Eleitoral (TSE) proclamou o triunfo do candidato apoiado pelo presidente Porfirio Lobo. Na disputa de apenas um turno, Xiomara Castro, mulher de Zelaya, ficou em segundo lugar --seu marido, no entanto, a declarou "presidente eleita".
      Não há motivos para levar a sério alguém que em 2009 tentou permanecer no poder por meio de um golpe plebiscitário de inspiração chavista e terminou legalmente deposto do cargo e indevidamente expulso de seu país.
      Ainda que não fosse por seu histórico, Zelaya não mostra nenhuma evidência para comprovar a alegada manipulação de resultados; o processo, ademais, foi considerado legítimo por diversas missões internacionais de observação.
      Terá havido, sem dúvida, abusos durante a campanha. Essa é a regra em praticamente toda parte; também o é, e talvez com mais força, num país onde cerca de 40% da população sobrevive com menos de US$ 1,25 por dia.
      Clientelismo e uso da máquina estatal favoreceram Hernández. Sua legenda, o conservador Partido Nacional, distribuiu benesses --de cimento a cestas básicas-- às vésperas da eleição e compensou, por um instante decisivo, a baixa popularidade do governo. Mas isso não se confunde com suposta fraude comandada pelo TSE.
      De resto, a agremiação de Zelaya, o Libre, conseguiu resultado notável. Fundado há apenas dois anos, rompeu o secular bipartidarismo entre o Partido Nacional e o Partido Liberal --além da votação expressiva de Xiomara, deve obter a segunda bancada no Congresso e diversas prefeituras.
      O que interessa aos 8,4 milhões de habitantes a partir de agora é saber se o novo cenário político ajudará o país a enfrentar seus graves problemas. Basta dizer que Honduras detém a mais alta taxa de homicídios do mundo, 86,5 assassinatos por 100 mil (cerca de três vezes maior que a do Brasil), devido ao narcotráfico internacional e à atuação de gangues armadas.
      O presidente eleito Juan Orlando Hernández promete combater a violência com o emprego de militares em tarefas policiais de rua. A medida, sempre temerária, é mais preocupante num país instável, com feridas de 2009 ainda abertas e um ex-presidente destemperado.

      Presidente da Fundação Padre Ancheita pede ajuda para pagar 13º aos funcionários

      folha de são paulo
      Mônica Bergamo
      O presidente da Fundação Padre Anchieta, Marcos Mendonça, que gere a TV Cultura, enviou anteontem carta aos conselheiros da entidade alertando que a emissora não tinha dinheiro nem sequer para pagar o 13º salário dos funcionários. O deficit chegaria a R$ 17 milhões.
      ALÍVIO
      Disparado o alarme, o governo de Geraldo Alckmin (PSDB-SP) acabou liberando, no fim da noite, cerca de R$ 11 milhões. Os outros R$ 6 milhões ainda estão sendo negociados e devem ser destinados a pagamentos de contratos com fornecedores de serviços como aluguel de satélites, por exemplo.
      TESOURA
      Caso o restante do dinheiro seja liberado, os gastos da TV Cultura vão chegar a R$ 99 milhões neste ano, contra R$ 110 milhões do ano passado, conforme informações também transmitidas por Mendonça ao conselho. Os cortes na emissora já chegam a R$ 26 milhões. O déficit inicial, ainda segundo o presidente, era de R$ 43 milhões.
      REMETENTE
      Uma frase de Chico Buarque ilustra a contracapa da biografia "Quando o Carteiro Chegou... Mensagem a Isaurinha Garcia", de Lulu Librandi. "A impressão é de que ela gravou chorando, zombando, correndo, amando", diz o compositor sobre a cantora conhecida como a Rainha dos Carteiros, por conta de "Mensagem", seu maior sucesso. O livro será lançado nesta segunda no MIS, em SP, com participação do coral dos Correios.
      DESTINATÁRIO
      Bem antes da polêmica sobre autorização prévia das biografias, a autora garantiu ajuda financeira para os familiares de Isaurinha: R$ 60 mil foram pagos à filha e ao neto da cantora.
      ARTISTA E IMORTAL
      O ator Juca de Oliveira tomou posse anteontem na Academia Paulista de Letras, com a presença do apresentador Jô Soares. A sessão contou também com a participação de membros como o cartunista Mauricio de Sousa, o maestro Julio Medaglia, o deputado Gabriel Chalita (PMDB-SP) e a escritora Lygia Fagundes Telles.

      Juca de Olveira toma posse

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      Bruno Poletti/Folhapress
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      O apresentador Jô Soares foi à cerimônia de tomada de posse do ator Juca de Oliveira, na Academia Paulista de Letras
      NO FORNO
      O escritor e poeta Eduardo Alves da Costa acaba de assinar, por meio de sua agente literária, Luciana Villas-Boas, um contrato com a editora Tordesilhas. Deve publicar seu romance "Tango, com Violino". Nele os personagens, na terceira idade, fazem de seus dias uma aventura "arguta e divertida". O lançamento está previsto para depois da Copa de 2014.
      PROCURE SABER
      Com o tema "Isto é da sua conta", o Instituto Renovo realiza campanha hoje para chamar atenção para assuntos como violência sexual infantil, direitos da criança, consciência política e limpeza urbana. A entidade sem fins lucrativos programa uma série de atividades na marquise do parque Ibirapuera, a partir das 9h.
      NOS EMIRADOS
      Ronaldo (ver foto abaixo, à esquerda) vai passar o fim do ano em Dubai.
      *
      O ex-jogador estará no Kuait cumprindo agenda profissional. Para não perder muito tempo em deslocamentos, decidiu comemorar o Réveillon na cidade eleita para sediar a Expo 2020.
      CARTAS NA MESA
      Os ex-atletas Ronaldo e Fernando Scherer disputaram partidas de pôquer no torneio Desafio das Estrelas, anteontem, no Parque Anhembi. O ministro do Esporte, Aldo Rebelo, abriu a competição. O técnico de futebol Vanderlei Luxemburgo e a campeã olímpica Maurren Maggi também participaram do evento.

      Ronaldo participa de torneio de pôquer

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      Bruno Poletti/Folhapress
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      O ex-jogador Ronaldo foi um dos participantes do torneio de pôquer Desafio da Estrelas, na quinta (28), no Parque Anhembi
      CURTO-CIRCUITO
      O grupo Escola do Auditório Ibirapuera se apresenta no local, hoje, às 21h, e amanhã, às 19h. Livre.
      A ópera "A Musa do Subsolo", composta por Leandro Oliveira, é atração hoje, às 19h, no Paço das Artes. Grátis. Livre.
      A Apadep (Associação Paulista de Defensores Públicos) faz festa de fim de ano, hoje, na Estação São Paulo.
      O chef Joel Martins e o empresário Alfredo Ferreira inauguram o bar Sonho Grill, amanhã, na Vila Mariana, a partir das 16h.
      O livro "As Digitais de Gustavo Rosa", de Marcio Pitliuk, será lançado amanhã, às 16h, na Livraria Cultura do shopping Iguatemi.
      com ELIANE TRINDADE, JOELMIR TAVARES, ANA KREPP e MARCELA PAES
      mônica bergamo
      Mônica Bergamo, jornalista, assina coluna diária publicada na página 2 da versão impressa de "Ilustrada". Traz informações sobre diversas áreas, entre elas, política, moda e coluna social. Está na Folha desde abril de 1999.