quarta-feira, 13 de novembro de 2013

2013 está prestes a se tornar um dos anos mais quentes da história


GIULIANA MIRANDA
ENVIADA ESPECIAL dA  FOLHA DE SÃO PAULO À VARSÓVIA
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Conferência do clima COP 19O ano ainda nem acabou, mas as temperaturas registradas até agora já colocam 2013 entre os dez anos mais quentes desde que as medições começaram, em 1850.
A informação é do mais novo relatório da Organização Meteorológica Mundial da ONU, que lançou o documento nesta quarta-feira (13) simultaneamente em Genebra e em Varsóvia, durante COP-19 (conferência mundial do clima).
Os dados só levam em consideração o período entre janeiro e setembro, mas já deixam 2013 empatado com 2003 como o sétimo ano mais quente do período analisado, aproximando-se da tendência de períodos mais quentes da década anterior. A temperatura média nos nove meses analisados ficou 0,48º C mais alta do que a média registrada entre 1961 e 1990.
Em 2011 e em 2012, as temperaturas subiram menos do que a tendência, segundo o grupo, devido à presença do fenômeno La Niña, que ajudou a frear o aquecimento. Até agora, em 2013, não houve traços de sua atividade interferindo nas temperaturas.
Jerry Lengossa, vice secretário-geral da WMO, destacou que, no período, eventos extremos e tempestades se intensificaram.
"Isso está de acordo com o que o mais recente relatório do IPCC [painel de mudanças climáticas da ONU], lançado em setembro, indica: a intensificação de eventos extremos", afirmou.
Lengossa destacou a quantidade alta de grandes tempestades registradas no período analisado.
"A intensidade está diretamente relacionada às condições em que essas tempestades se formam, que estão mudando com o aumento de temperaturas", completou o representante da WMO.
O documento também reforça a tendência de alterações na dinâmica de chuvas em várias partes do planeta. A ONU destaca a seca no Nordeste do Brasil, que neste ano foi ainda maior do que nos anos anteriores. Diversas regiões da África, sobretudo no sul, Namíbia e Angola também tiveram problemas sérios devido à ausência de chuva.
Já em algumas regiões da Ásia, o problema foi justamente o contrário: choveu como nunca. Chuvas extremas também aconteceram na Europa, em especial na Alemanha, Polônia, República Tcheca, Áustria e Suíça, causando inundações.
GELO
Depois dos níveis mais baixos da história, registrados no ano passado, a camada de gelo do Ártico apresentou ligeira recuperação em 2013. Segundo o grupo, no entanto, não parece haver muitos motivos para comemorar.
Mesmo com a recuperação, 2013 registrou um dos níveis de gelo mais baixos. Desde o início do monitoramento por satélite, em 1979, a década entre 2001 e 2010 teve a maior taxa média de derretimento anual do gelo do Ártico. Todos os sete níveis mais baixos registrados aconteceram desde 2007.
Do outro lado do globo, o gelo da Antártida continuou aumentando. Pelo segundo ano consecutivo, o nível de gelo em setembro atingiu o nível recorde de 19,47 milhões de metros quadrados. Isso significa 30.000 quilômetros a mais do que o recorde estabelecido em 2012 e uma alta de 2,6% sobre a média entre 1981 e 2010.
De maneira geral, o gelo vem aumentando no polo Sul. Segundo os cientistas, isso ocorre por mudanças na circulação atmosférica nas últimas três décadas, que resultaram em alterações nos padrões de vento no entorno da Antártida. Também é possível que a mudança esteja relacionada a alterações no padrão de circulação dos oceanos.
A dramática diferença entre o gelo nos dois polos se dá por sua geografia. O Ártico é água cercada de terra. Já a Antártida é terra cercada por água do oceano. Padrões de vento e correntes oceânicas tendem a isolar a Antártida das tendências globais do clima, o que a mantém gelada.

Francisco Daudt

folha de são paulo
Pais verdadeiros
Precisamos zelar para que a criança tenha quem se disponha a desempenhar as funções de pai e de mãe
"Quem são os pais verdadeiros dele?" Se a pergunta se aplica a seu cão, a resposta vem sem hesitar: "Somos nós!"
Mas nossa espécie tem a possibilidade de investimento parental genético (ou seja, a possibilidade de que os geradores do filhote invistam em sua criação, coisa que mal acontece com os cães).
Ao mesmo tempo, para humanos, é vital a criação por longo tempo, já que somos os animais que nascem mais despreparados para enfrentar a vida com autonomia.
A criança precisa que exerçam junto a ela uma função de mãe (uma espécie de continuação do ventre, provendo-lhe alimento, calor físico e afetivo e nutrição) e uma função de pai (a leitura atenta da criança, o respeito e o incentivo de suas crescentes capacidades de autonomia para viver no mundo por conta própria). Função de mãe atende necessidades; a de pai, capacidades.
Tais funções podem ser exercidas por quaisquer pessoas habilitadas para tanto, seja material, seja afetivamente. A habilitação afetiva tem que ser muito especial, já que, para o melhor desenvolvimento da criança, um tipo de amor raro é necessário: ele precisa ser desprovido de cobrança de reciprocidade. Algo próximo do amor incondicional.
Quando os pais genéticos desempenham esse papel, exercem uma louvável estratégia de reprodução bem-sucedida, que parece ser a "natural".
Mas essa "naturalidade" é enganosa --nem é a única. Em termos crus, a natureza providencia outras estratégias de reprodução, como o estupro, o rapto, o inseminador cafajeste que engravida e some, a gestante que emprenha por ignorância, por sedução, pelo calor do momento, ainda que seja totalmente despreparada para o exercício das funções de que a cria necessitará.
A natureza está longe de se interessar pela felicidade, que é anseio nosso. O que ela quer é o "crescei e multiplicai-vos", não importa como.
Quando pensamos no melhor interesse da criança, e nessa direção voltam-se as políticas públicas, apoiadas na legislação de nosso país, precisamos estar atentos em zelar para que ela tenha quem se disponha a desempenhar as funções de pai e de mãe.
Alguém, ou mais de uma pessoa, que tenha as condições materiais e afetivas, junto ao necessário desejo intenso desse amor incondicional, esse brutal investimento de tempo, zelo, preocupações e ocupações programados para décadas.
É nesse momento que a adoção entra. Na ausência de capacidade/vontade dos pais genéticos de exercer esse investimento monumental, eles reconhecem suas limitações e fazem o maior gesto de amor de que são capazes, desapegando-se da cria e passando o bastão da paternidade àqueles que provaram junto ao Estado sua capacitação paternal.
Ou o próprio Estado intervém, no melhor interesse da criança, reconhecendo que gerar um cidadão não significa ter sua propriedade, como se ele fosse um escravo de antes da abolição, e imporá que o bastão da paternidade seja passado aos que se provaram capazes de levá-lo.
E, a partir daí, não há dúvidas: esses são os verdadeiros pais.

Elio Gaspari

folha de são paulo
Kennedy, a glória de um mito
Sem os tiros de Dallas, o apoio dos EUA à rebelião brasileira ficaria igualzinho, pois a armação foi dele
Na sexta-feira da próxima semana completam-se cinquenta anos do assassinato do presidente John Kennedy. O mistério que acompanha os tiros de Dallas soma-se à mística que as obras inacabadas, bem como as ruínas, produzem na imaginação das pessoas. E se ele não tivesse ido ao Texas? Quase certamente, seria reeleito, e aí?
Como todos os exercícios do gênero, cada um pode achar o que quiser.
Começando a prospecção pelo que aconteceu no Brasil 98 dias depois, a resposta é simples: Dava na mesma. Na noite de 30 março de 1964, quando o presidente Lyndon Johnson foi avisado de que a rebelião militar brasileira estava prestes a eclodir, o que ele fez foi colocar sobre a mesa os planos deixados por Kennedy. Sem tirar nem por.
Passado meio século, criou-se a mitologia segundo a qual tudo seria diferente se ele não tivesse ido a Dallas. Kennedy queria sair do Vietnã. Tudo bem, mas quem entrou foi ele. Kennedy queria se reaproximar de Cuba. Quem tentou invadi-la foi ele. De quebra, planejava o assassinato de Fidel Castro.
Kennedy foi o primeiro presidente americano a tirar extremo proveito da construção de um tipo. Seu antecessor, o general Dwight Eisenhower, elegeu-se porque comandara as tropas aliadas durante a Segunda Guerra. O simpático milionário elegeu-se com uma aura de juventude e dinamismo quando, na verdade, era um homem doente, amarrado num colete que lhe poupava a coluna e mantinha erecto, com a elegância de um desportista. Tinha uma mulher linda, chique e espertíssima. Foi ela quem inventou o mito de Camelot e armou um bem-sucedido boicote ao melhor livro sobre o assassinato do marido. É "A Morte de um Presidente" de William Manchester, escrito a seu pedido, com sua colaboração. Num lance de boa-fé que faria inveja a Roberto Carlos, Manchester cedeu à Biblioteca Kennedy os direitos de publicação e, apesar de ter vendido mais de um milhão de exemplares ao ser publicado, o livro foi para geladeira das obras esgotadas. Felizmente, voltou à livrarias e está na rede, em inglês, por US$ 9,78.
Kennedy foi substituído por Lyndon Johnson, um sujeito sem graça, casado com uma senhora inexpressiva e tinha duas filhas chatas.
A grandeza do presidente assassinado está em dois episódios que o companheiro Obama parece não ter estudado. Nos dois casos, afastou o mundo da guerra porque não confiou em generais insanos e na Central Intelligence Agency. No primeiro, menor, ele se engrandeceu abraçando um fracasso. Em abril de 1961, logo depois de sua posse, uma força expedicionária de exilados invadiu Cuba. Em poucos dias ela foi cercada e 1.200 voluntários foram capturados. A CIA entrou no lance acreditando que o novo presidente dobraria a aposta, dando apoio aéreo aos invasores. Enganou-se.
No segundo episódio, quando foram descobertos mísseis soviéticos em Cuba, Kennedy pilotou pessoal e minuciosamente a crise, congelando as opiniões dos chefes militares. Se dependesse deles, muito provavelmente teria começado a Terceira Guerra Mundial. Felizmente Kennedy gravava todas as suas reuniões, sem o conhecimento dos outros. Os russos recuaram publicamente, recolhendo os mísseis de Cuba, e ele recuou em segredo, comprometendo-se a retirar foguetes da Turquia. Se Obama tivesse desafios desse tipo o mundo estaria frito.

Fernando Rodrigues

folha de são paulo
Quem paga a neutralidade
BRASÍLIA - O projeto do Marco Civil da Internet emperrou muito por causa da chamada neutralidade da rede. Fornecedores de acesso (as telefônicas) querem cobrar mais de quem passa o dia assistindo a vídeos, baixando músicas ou falando em serviços de voz como o Skype.
O governo e muitos ativistas argumentam que esse conceito mataria a ideia geral de horizontalidade democrática da internet. Sufocaria a criatividade inerente à rede.
Nem tudo é claro ou escuro nesse debate. Há uma grande área cinza no meio. Os serviços de internet não são uma benemerência divina. Empresas privadas exploram o negócio para ganhar dinheiro, algo legítimo num sistema de livre mercado.
Tome-se o caso dos agora já quase obsoletos telefones fixos. As telefônicas não podem degradar a qualidade de som de quem conversa com Barack Obama ou Vladimir Putin. Ou, no Brasil, de quem resolver telefonar para Lula ou FHC. Mas uma coisa é certa: quem fizer mais ligações pagará de acordo com o uso. É muito justo.
No caso da internet, há dois pontos a serem considerados e respondidos: 1) o provedor de acesso pode degradar a velocidade de conexão, não importando se o consumidor assiste a um vídeo ou só lê e-mails?; 2) as empresas podem cobrar mais de quem deseja assistir a filmes e baixar músicas de maneira ilimitada em relação a quem apenas lê notícias e mensagens de sua caixa de correio eletrônico?
Se a resposta for "não" a ambas as perguntas, só uma "Internetbras" resolveria (sic) o problema. O texto do Marco Civil é ambíguo a respeito. Não define modelos de negócios. Não está claro se a neutralidade da rede comporta também a venda de produtos com qualidade e preços diferentes --independentemente do tipo do conteúdo, mas em razão do volume de dados acessados. Esse é o ponto. Ocorre que muitos no governo não sabem como tratar o tema quando apresentado dessa forma.

    Helio Schwartsman

    folha de são paulo
    Corrupção com limites
    SÃO PAULO - "Um mesmo profissional se torna desonesto de uma hora para outra?", perguntou-se o ex-prefeito Gilberto Kassab ao comentar o esquema de fraudes no ISS. É uma questão interessante. Como as pessoas se tornam corruptas?
    Não é difícil perceber quais são os incentivos ao logro. No caso em tela, eles se medem na escala das dezenas de milhões de reais. Mas isso não significa que seres humanos não tenham nenhuma defesa contra o vírus da corrupção. Pelo menos duas forças atuam para manter-nos afastados desse gênero de delito.
    A primeira, externa, é o temor de ser apanhado e sofrer as sanções legais e sociais correspondentes. No Brasil, infelizmente, a eficácia dos órgãos de controle e da Justiça é tão baixa que, num cálculo estritamente racional, muitas vezes vale a pena roubar. A dificuldade então passa a ser explicar por que a corrupção não é ainda mais generalizada.
    Entra aqui a segunda força, que é a autoimagem das pessoas. Sendo interna, ela tem a vantagem de dispensar fiscais e investigadores. O problema é que, como cada qual é juiz de si mesmo, a indulgência corre solta.
    O psicólogo Dan Ariely submeteu estudantes a uma série de experimentos em que tinham a oportunidade de burlar regras com diferentes probabilidades de ser pegos e com diversos tamanhos de recompensa envolvidos e concluiu que todo mundo trapaceia --mas com limites.
    Para o pesquisador, a desonestidade é o resultado de uma contínua negociação entre o desejo por vantagens materiais e a necessidade que todo indivíduo tem de cultivar uma autoimagem ao menos aceitável. O cérebro resolve o problema impondo um teto aos desvios. Na população estudada por Ariely, as consciências dos estudantes toleravam bem uma burla de até 15%. É uma baliza para a qual ainda conseguiam providenciar uma racionalização que, se não justificava o roubo, pelo menos o fazia parecer menos grave.

    Delfim Netto

    folha de são paulo
    Fapesp
    Hoje, ninguém desconhece que a atividade de pesquisa e o estímulo à inovação são ingredientes principais do desenvolvimento econômico, que é condição necessária, ainda que não seja suficiente, para o sucesso do processo civilizatório que tenta combinar valores não inteiramente compatíveis: a liberdade de iniciativa individual, relativa igualdade de oportunidades e certa eficiência produtiva.
    O fato interessante é que isso já era claramente sabido por dois deputados constituintes paulistas de 1947, representantes dos extremos do espectro ideológico daquele momento. Um, do Partido Comunista Brasileiro, o historiador marxista Caio Prado Júnior. Outro, um ilustre representante do conservadorismo inteligente, Lincoln Feliciano, do Partido Social Democrático. Eles conseguiram aprovar o importante e, se o termo já não estivesse abusado demais, "histórico" artigo 123, que dispunha:
    "Artigo 123 - O amparo à pesquisa científica será propiciado pelo Estado, por intermédio de uma fundação, organizada em moldes que forem estabelecidos por lei.
    Parágrafo único - Anualmente o Estado atribuirá a essa fundação, como renda especial de sua privativa administração, quantia não inferior a meio por cento do total da sua receita ordinária."
    Como todas as decisões constitucionais que dependem de leis para serem implementadas, esta hibernou por 15 anos. Em 1962, o grande governador Carlos Alberto de Carvalho Pinto criou, como parte do seu "Plano de Ação", a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).
    Nos últimos 50 anos, ela teve papel decisivo no desenvolvimento da pesquisa e da educação, integrando-as ao setor produtivo privado, inclusive na pequena e média empresa. É, seguramente, um dos fatores do diferencial de crescimento do Estado de São Paulo.
    Apesar do dispositivo da Constituição paulista de 1947 não ter sido acolhido na de 1967, nem recuperado na de 1989, a qualidade da Fapesp e os seus palpáveis resultados têm lhe proporcionado dotação orçamentária que, nos últimos cinco anos, cresceu a uma taxa real da ordem de 7%.
    Atingiu, no ano passado, exatos R$ 1,035 bilhão em bolsas de estudo (mais de 12 mil) e suporte de pesquisa e desenvolvimento de toda sorte, com ênfase em saúde (30%), biologia (17%), engenharia e ciências exatas (26%) e agronomia e veterinária (9%).
    O relatório das atividades da Fapesp deveria ser leitura obrigatória daqueles que ainda têm dúvida sobre o fundamental e indispensável papel do Estado nas pesquisas e desenvolvimentos que dão suporte ao setor privado.

      Cinzas - Ruy Castro

      folha de são paulo
      Cinzas
      RIO DE JANEIRO - Minha amiga Ira Etz "postou" uma foto que tirou no Jardim Botânico. Ao enroscar-se ao pé da monumental sumaúma --a árvore na praça do chafariz tornada famosa por ter sido a favorita de Tom Jobim--, Ira encontrou sobre as raízes um pó amarelado. Sabia o que era: cinzas funerárias, provenientes de cremação. De propósito ou não, alguém despejara o pai ou a mãe por ali. Ira fotografou o pó sobre as raízes.
      No RJ e em SP, o número de cremações arrisca superar o de sepultamentos. O que talvez seja uma coisa boa. Cremar sai mais em conta; os cemitérios estão superlotados e, de tempos em tempos, milhares de seus habitantes são removidos para dar lugar a outros; e o destino das cinzas numa urna pode ter um caráter mais rico e simbólico do que o de um simples enterro.
      Não foi bem o caso do roqueiro Keith Richards, que vazou para a imprensa que, com outras substâncias, havia cheirado por engano o próprio pai --apenas para depois desmentir que tivesse feito isto. Ou o do infernal escritor Ambrose Bierce (1842-c. 1913), autor do "Dicionário do Diabo", que contou para o jornalista H. L. Mencken que mandara cremar o filho e, ao ser perguntado se depositara as cinzas numa bela urna, respondeu: "Que mané urna? Estão aqui mesmo, nessa caixa de charutos!".
      Nada contra alguém dar o destino que quiser ao corpo de um ente querido --a viúva do contrabaixista Charles Mingus, por exemplo, foi de Nova York à Índia para atirar as cinzas do marido no rio Ganges, como ele pedira. Mas não haverá uma certa desconsideração em depositar o dito ente onde as pessoas se espalham, pisam ou se sentam?
      Há pouco, outra amiga jogou as cinzas de sua mãe na praia do Leblon. Ao contato com a água e o sol, elas ganharam um brilho de cristal, e lentamente se confundiram com o mar. Foi bonito.

        Mônica Bergamo

        folha de são paulo

        Relação de Dilma com empresários de SP piora e acende luz amarela no Planalto

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        A luz amarela está acesa no Palácio do Planalto. A relação da presidente Dilma Rousseff com empresários, especialmente os de SP, teria chegado a um ponto de grave deterioração.
        ATÉ TU, ABILIO?
        Declarações recentes de Abilio Diniz, presidente do conselho da BRF, com críticas ao governo, são vistas como sinal mais evidente de que as coisas andam mal. Ele sempre foi considerado um dos empresários mais próximos do governo federal.
        BALANÇO
        O governo considera que a relação com o empresariado começou a passar por turbulências fortes há um ano, quando Dilma baixou as tarifas elétricas e impôs perdas para alguns setores. Elas aumentaram com a discussão dos termos das concessões --e chegaram ao ápice com a divulgação do resultado fiscal de setembro, o pior resultado para o mês em 17 anos.
        TRAIR E COÇAR
        Se os empresários manifestam insatisfação, do lado do governo a recíproca é verdadeira. Dilma teria atendido a várias demandas deles. O dólar subiu, a energia foi reduzida, a folha de pagamentos foi desonerada. Tudo somado, o governo abriu mão de pelo menos R$ 110 bilhões, o que teria comprometido o superávit. Para agora ser atacado por isso.
        FERMENTO
        Cresce a preocupação, no governo, de que o chamado PIB paulista decida investir pesado na candidatura presidencial de Eduardo Campos.
        MELHOR AMIGA
        Gilberto Kassab (PSD-SP) pediu encontro com Dilma. A princípio, ele deve ocorrer no dia 20. Pode ser antecipado para o dia 19, quando a presidente estará em SP. O ex-prefeito deve oficializar o apoio à reeleição da petista.
        MELHOR AMIGA 2
        Kassab e Dilma se encontraram na semana passada.
        AGENDA
        Em fase de negativas, ele dizia até o começo da semana que nem sequer tinha falado com Dilma. Negava também ter conversado com Lula, com quem se encontrou há alguns dias, conforme noticiado ontem pela Folha.
        AMIGO DE FÉ
        Karime Xavier/Folhapress
        Dudu Braga (à esq.), filho de Roberto Carlos, fez parceria com o músico Paul Lafontaine, criador do projeto Alma de Batera; passou a dar aulas de bateria para deficientes visuais em oficinas semanais em SP
        CASAL MODERNO
        A rainha Silvia, da Suécia, ficou separada do marido no Brasil. Carlos 16 Gustavo se hospedou sozinho na suíte presidencial do hotel Tivoli, nos Jardins. Ela, em local incerto e não sabido. A assessoria que acompanha a visita afirma que, por razões de segurança, não informa onde a rainha se hospedou. Nem o motivo de o casal ficar em lugares distintos.
        DESMENTIDO
        Há cerca de dois anos, a monarquia sueca passou por abalos. O rei teve que vir a público desmentir que frequentava clubes de striptease e negar a existência de fotos comprometedoras com mulheres nuas. O desmentido ocorreu em meio às revelações do passado nazista do pai da rainha, que tem sangue alemão e brasileiro.
        TEMPERO BRASILEIRO
        A chef de cozinha Ana Luiza Trajano recebeu convidados anteontem na noite de autógrafos do livro "Cardápios do Brasil", na Livraria da Vila do shopping JK. O ex-jogador de futebol Raí, a empresária Chieko Aoki, a arquiteta Marina Khattar e o executivo do Magazine Luiza Joaquim Francisco de Castro Neto estiveram lá.

        Ana Luiza Trajano lança livro

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        Bruno Poletti/Folhapress
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        A chef Ana Luiza Trajano autografou o livro livro "Cardápios do Brasil", na segunda (11), na Livraria da Vila do shopping JK Iguatemi
        SÓ NO SAPATINHO
        Anitta acaba de fechar licenciamento com a Grendene. Depois de Gisele Bündchen, Ivete Sangalo, Paula Fernandes e Shakira, a cantora vai assinar uma linha de sandálias com o nome de Prepara by Anitta.
        ALÔ, OUVINTE
        Jô Soares vai dirigir em 2014 a peça "Caros Ouvintes", de Otávio Martins. Estão no elenco do espetáculo Denise Del Vecchio, Mayana Neiva, Dalton Vigh e Alexandre Slaviero.
        À DISTÂNCIA
        Um projeto em que médicos vão acompanhar pela internet a saúde de diabéticos terá início hoje em SP. Aparelhos de medição da taxa de glicemia serão entregues a 800 usuários do HSPE (Hospital do Servidor Público Estadual). Eles vão repassar suas informações aos especialistas. De cada cinco idosos internados do HSPE, um tem a doença.
        ÁGUA QUE PASSARINHO NÃO BEBE
        A Cachaça da Tulha lançou sua Edição Única 2013 anteontem, no bar Ilha das Flores. Guto Quintella, proprietário da cachaçaria, foi o anfitrião da noite, que contou com o químico e mestre cervejeiro Erwin Weimann, a artista plástica Leda Catunda e o publicitário Luiz Lara.

        Lançamento de cachaça em bar de SP

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        Bruno Poletti/Folhapress
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        Guto Quintella, proprietário da cachaçaria Cachaça da Tulha foi o anfitrião do lançamento da Edição Única 2013 da bebida, no bar Ilha das Flores
        CURTO-CIRCUITO
        Vladimir Safatle, professor da USP e colunista da Folha, lança hoje o livro "O Dever e Seus Impasses", a partir das 19h30, na Livraria Martins Fontes da avenida Paulista.
        O Prêmio Trip Transformadores 2013 será entregue hoje à noite, no Auditório Ibirapuera.
        com ELIANE TRINDADE, JOELMIR TAVARES, ANA KREPP e MARCELA PAES
        Mônica Bergamo
        Mônica Bergamo, jornalista, assina coluna diária publicada na página 2 da versão impressa de "Ilustrada". Traz informações sobre diversas áreas, entre elas, política, moda e coluna social. Está na Folha desde abril de 1999.

        José Simão

        folha de são paulo
        Ueba! Dilma encarou o Peru!
        Viu como se chama o novo filme do Thor? 'Thor, O Mundo Sombrio.' O Thor vai andar de busão, de 'cata-lôco'
        Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! E o Vandenburgo Luxerlei foi demitido! O Wanderley Luxemburro! Com cara de Waldick Soriano e terno de pastor da Universal!
        E essa mania de chamar técnico de professor? Então eles deviam receber salário de professor. Todo técnico chamado de professor tem que receber salário de professor! Rarará!
        E a Dilma no Peru? Diz que a Dilma foi pro Peru porque o Peru tá crescendo! "Maantega, eu quero ver o Peru crescer." Dilma foi pro Peru pra se encontrar com o Humala! Encontro de malas. Patrocínio Samsonite.
        E no Peru tem um partido chamado Peru em Mãos Firmes! O Peru é um trocadilho. Por isso que eu sempre sugiro mudar o nome do país pra Perereca. Pra gente mudar de trocadilho! Rarará!
        E o Eikex Fudidex? Novas empresas do Eike: Calotex, Durex e Jontex! Jontex é pra proteger os membros da Calotex! O Rei do Xis-Salada! O Eike é o nosso X-Man. O Wolverine é o pai do Thor.
        Aliás, você viu como se chama o novo filme do Thor? "Thor, o Mundo Sombrio." O Thor vai andar de busão, de "cata-lôco". Em Osasco, chamam ônibus de "cata-lôco". E no Recife, de "cata-corno"! Rarará!
        E como disse um amigo: "O Eike perde 92% da fortuna e continua milionário, se eu perder 8% da minha, sobram R$ 19". Rarará!
        E como diz o outro: "Eu nem tenho 92% pra perder". E um leitor disse que o Eike parece o Zé Carioca, que vivia fugindo dos credores! Rarará!
        E os mensaleiros? O Piauí Herald já tem nomes mais sugestivos para os presídios: Centro Recreativo Delúbio Soares, Mosteiro José Sarney, Recanto do Beira-Mar.
        E eu sugiro um mais atual: Hospedaria do Zé Dirceu! Só pros colegas dele! Rarará! E os fiscais em São Paulo roubaram R$ 500 milhões! Ou seja, 50 mensalões!
        É mole? É mole, mas sobe!
        O Brasil é Lúdico! Brasileiro escreve tudo errado, mas todo mundo se entende! Cartaz na 25 de Março: "Precisa de foncinaria". Rarará!
        E olha essa placa no bar em Itaparica: "A iveja é a arma dos PREGRISOÇOS". Eu adoro porque as letras estão certas, mas a posição é aleatória. E essa em Minas: "Feiche a porta! Ambinte Familiar". Mas se o ambinte é familiar, pra que feichar a porta? Rarará.
        Nóis sofre, mas nóis goza!
        Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

        Marcelo Coelho

        folha de são paulo
        Nerval, o tenebroso
        Versos do poeta romântico francês, tido como precursor do surrealismo, saem em nova tradução no Brasil
        Cidalisas, Melusinas. Mirto e Cibele. Santa Gudula e Lusignan: belos nomes, que pouquíssima gente conhece, enfeitam os versos de Gérard de Nerval (1808-1855), que aparecem agora no Brasil em bonita tradução de Mauro Gama para a Ateliê Editorial.
        Existem poetas difíceis, poetas obscuros, poetas "modernos". Nerval cabe em categoria ligeiramente diversa. Ele é um mestre do "oculto", do "esotérico". Entre seus livros de cabeceira estava o "Dicionário Mito-Hermético", de um certo Dom Pernety, e ele abusava de referências cifradas à alquimia e ao tarô.
        Natural que os surrealistas, quase um século depois, tomassem Nerval como um precursor. Natural também que os editores e eruditos se esfalfem, até hoje, para entender os seus poemas mais famosos.
        A edição brasileira não se perde muito em detalhes, e deixa apenas que o leitor comece a se familiarizar com a beleza cintilante e visionária de alguns versos, que mesmo em português se impõem à memória do leitor.
        "Eu sou o Tenebroso --o Viúvo-- o Inconsolado" começa o mais célebre soneto de Nerval. Até aí, tudo bem; escritores brasileiros, como Carlos Drummond, não deixaram de prestar homenagem às dores eróticas e psíquicas do poeta, que se enforcou numa noite de inverno, na rua da Velha Lanterna, em Paris.
        Mas o verso seguinte do poema já nos deixa sem referências: Nerval se compara "ao Príncipe da Aquitânia na torre derruída". A torre em ruínas, diz a nota de uma edição francesa, é uma das cartas do tarô, e o príncipe da Aquitânia é o próprio poeta, que se julgava descendente de alguma nobreza imaginária. Essas explicações que nem sempre ajudam.
        O mais importante é sentir que tudo se passa em outra esfera de realidade. Nerval fala de personagens obscuríssimos como se todos nós os conhecêssemos. A magia sonora do poema vai crescendo, e quando chegamos às estrofes finais é como se as próprias palavras comuns, já sem necessidade de notas explicativas, ganhassem um sentido que só o poeta pode desvendar.
        "Tenho o rosto ainda rubro ao beijo de uma Rainha.../Sonhei dentro da grota onde a Sereia nada..." e na lira de Orfeu modulei "os suspiros da Santa e os gritos da Fada".
        Que Santa? Que Fada? Talvez não dê para saber exatamente a quem o poeta se refere. Como essas palavras encerram o soneto, algo de definitivo se pronuncia, e seu impacto cresce na mente do leitor.
        Que uma fada grite, eis a principal surpresa; que a seus gritos se alternem os suspiros de uma santa, é algo que se pode tentar interpretar.
        Tradutor do "Fausto" de Goethe, Nerval parece estar falando daqui de um "eterno feminino" que é feito de carne e de espiritualidade. O grito de uma fada só pode ser um grito de prazer; o suspiro da santa é um enlevo de pureza.
        Ao mesmo tempo, essa dualidade possui um significado histórico, dentro de preocupações que Nerval compartilhava com seu contemporâneo Heine (1797-1856), cujos escritos também traduziu.
        A saber, o contraste entre o mundo pagão e o mundo do catolicismo medieval. A fada, a sacerdotisa, a druida, a deusa grega ou egípcia, sobrevive nas florestas, nos templos e nos cultos secretos dos iniciados. "Os Deuses no Exílio", lindo livro em prosa de Heine, trata dessa sobrevivência também --e também tem tradução brasileira, pela editora Iluminuras.
        Mas o mundo das santas medievais, das torres e dos castelos de província também está em ruínas nos bosques europeus. O "viúvo", o "desconsolado", é alguém que tenta, como Orfeu depois da morte de Eurídice, trazer a amada de volta. Não mais da profundeza infernal, mas de um paraíso que a indústria e a ciência do século 19 sepultaram.
        Os poemas de Nerval parecem, assim, registrar numa língua quase desconhecida a expectativa de que um mundo encantado, rapidamente entrevisto em sonho, pudesse renascer.
        Uma coisa é certa, diz Nerval num ciclo de sonetos igualmente famoso: "Deus não existe", morreu, e o céu está vazio. Tais palavras, num lance surpreendente, saem dos lábios de Jesus.
        Em "Cristo no Jardim das Oliveiras", o filho de Deus tenta avisar os apóstolos da "novidade"; todos dormem, menos Judas --que se afasta, "amargo e pensativo", achando que lhe pagaram pouco pela traição. Jesus é capturado pelos guardas, como um novo Ícaro; tragam-me esse louco, diz Pilatos.
        Enquanto isso, o Olimpo desaba; nenhum oráculo pagão irá decifrar o enigma de Jesus --aquele que deu alma aos filhos do barro. Criaturas que, na mitologia de Nerval, procurarão unir-se às filhas do fogo pagão.
        Os enigmas de Nerval, o tenebroso, continuam brilhando na escuridão.

        Paula Lavigne - Que fique bem claro: somos contra a censura

        folha de são paulo
        PAULA LAVIGNE
        TENDÊNCIAS/DEBATES
        Debate? Que debate?
        Há que se entender onde o interesse público acaba e onde começa o mercantilismo editorial que vende a intimidade alheia
        Folha publicou no último dia 7 uma reportagem com o título "Sociedade venceu debate', dizem editores". Debate? Que debate?
        Desde que veio a público que artistas da música brasileira haviam se posicionado contra a ação direta de inconstitucionalidade (ADI) 4.815, que questiona os artigos 20 e 21 do Código Civil, proposta pela Associação Nacional de Editores de Livros (Anel), o que se viu não foi um debate público sobre as razões que levaram esses artistas a tentar esclarecer conceitos e ideias. O que se viu foi um massacre perpetrado pelas editoras (membros da Anel), escritores e, principalmente, pela imprensa.
        O assunto é de uma delicadeza ímpar, pois envolve direitos fundamentais dos brasileiros. Simplificá-lo com manchetes sensacionalistas e reportagens que usam à exaustão a palavra CENSURA não serve à causa. A tática empregada é a do terror, demonizando a associação Procure Saber e seus membros.
        Reportagens jornalísticas, textos de articulistas, notas plantadas em colunas sociais e todo o arsenal bélico representado pelo "poder de informar" (não confundir com "direito de informar") foram utilizados para manipular a opinião pública contra o debate almejado pela associação Procure Saber.
        Posso falar por mim. Fui retratada como oportunista, gananciosa, mercantilista, "Dona Encrenca", truculenta e outros adjetivos pouco edificantes. Tentei me expressar e tive minhas falas distorcidas. Tentei explicar e virei matéria diária de colunas que declaravam meu impeachment como presidente da Procure Saber, atribuindo a mim um alegado caos que teria se estabelecido dentro do grupo.
        A censura pode se apresentar de várias formas. Calar quem deseja se manifestar é uma delas. Oprimir e fazer um linchamento moral de quem se opõe a interesses ocultos é outra. Até agora, o que se viu foi a imprensa censurando ideias, plantando intrigas e buscando aniquilar qualquer possibilidade de permitir o desenvolvimento de um debate necessário e saudável.
        Passado quase um ano e meio desde que a ADI 4.815 foi apresentada, não se conseguiu estabelecer um debate sobre essa ação. Mesmo antes da distribuição da ADI ao Supremo Tribunal Federal, já havia um movimento para a edição de uma lei que favorecesse o mercado editorial. Daí surgiu o projeto de lei nº 393/2011, de autoria do deputado Newton Lima (PT-SP).
        As coisas fluíam bem, sem alarde, até que a Procure Saber, ao tomar conhecimento desses fatos, iniciou uma série de questionamentos quanto aos conflitos entre o direito à intimidade e à vida privada e o direito à informação. Esses questionamentos não se prestam a advogar pela censura prévia, conforme a imprensa noticia "ad nauseam".
        Existe, sim, um conflito que precisa ser mitigado. Existe a necessidade de se definir o que vem a ser "pessoa notória" ou "pessoa pública", e até onde o direito de informar pode invadir a vida pessoal, a intimidade (adjetivada pela Constituição Federal como INVIOLÁVEL) e a privacidade dessa pessoa e de sua família.
        Que uma coisa fique muito clara: SOMOS CONTRA A CENSURA, EM QUALQUER DE SUAS FORMAS. Entendemos, sem que qualquer advogado tenha de nos explicar, a necessidade vital da informação, e feitos históricos e do interesse público não podem ser reféns de exigências que inviabilizem o conhecimento.
        No entanto, há que se entender onde o interesse público acaba e onde começa o mercantilismo editorial que vende a intimidade alheia como se fosse parte indissociável desse conhecimento.
        Há muito mais a ser dito e debatido. Infelizmente, esse debate não ocorrerá fora dos limites processuais, pois fomos tiranizados por aqueles que se dizem paladinos da liberdade de informação. Por essa razão, resolvemos nos calar. A sociedade não venceu debate algum; a sociedade perdeu muito, principalmente o direito de ter à sua disposição todas as informações necessárias para formar seu juízo de opinião.