domingo, 6 de outubro de 2013

A timidez de Sérgio Porto

ARQUIVO ABERTO
A timidez de Sérgio Porto
Rio de Janeiro, 1959
ÂNGELA PORTOHá 45 anos sua ausência se abateu sobre nós como uma "machadada de Brucutu", como dizia Manuel Bandeira, de quem tomo emprestada a imagem. Mesmo ausente, meu pai, mais conhecido pelos leitores como Stanislaw Ponte Preta, mantém em minha vida uma forte presença e me traz com frequência boas lembranças.
Sua presença é forte, antes de tudo, por imaginá-lo sempre um homem enorme, como de fato era. Trabalhava principalmente em casa, batucando dia e noite sua "intimorata Remington", na sua própria expressão. Mas também trabalhava na praia, aonde íamos pela manhã, coisa que ele adorava fazer. Pegava suas três filhas pelos braços e, junto a uma pilha de jornais, descíamos as três quadras em direção à praia.
Morávamos em Copacabana, cuja praia era de mar mais batido antes da reforma da avenida Atlântica. Enquanto brincávamos perto da água, papai se sentava na areia, lia freneticamente os jornais e recortava com uma tesoura as notícias que usaria mais tarde como material para suas crônicas. Às vezes era despertado dessa atividade pelo movimento de pessoas que se amontoavam para assistir ao salvamento de três meninas.
Papai nasceu, viveu e morreu na rua Leopoldo Miguez, em Copacabana. Era um homem muito bem-humorado, brincalhão, de uma ironia que surpreendia e a todos fazia rir, mas, paradoxalmente, tímido para determinadas situações em que tivesse que se expor.
Aqueles que acompanhavam suas divertidas crônicas pelos jornais não podiam imaginar que, por trás de suas páginas, se escondia um homem acanhado com o público. O "Show do Crioulo Doido", que criou e apresentou por dois anos, fez enorme sucesso e o tornou famoso. Durante esse período, saíamos todos os sábados para jantar e depois assistir ao show. Muitas vezes, ele era reconhecido por alguém que logo começava a puxar o samba de sua autoria.
Nós, as três irmãs, ainda adolescentes, nos sentíamos envergonhadas, mas ele ficava vermelho e absolutamente sem graça, com vontade de fugir. Para disfarçar seu desconforto, fazia graça fingindo que iria "sair de fininho".
Assim era o tímido Sérgio Porto, que preferia deixar a notoriedade para seu outro, o Stanislaw. A criação desse pseudônimo, idealizado por ele e seu tio, o crítico musical Lúcio Rangel, foi um artifício, entre outras necessidades profissionais, para acobertar o lado mais formal de meu pai. Assim ele poderia se aventurar numa outra modalidade de escrita mais irreverente, que caracterizou na família Ponte Preta e nos "Febeapás", permanecendo o autor Sérgio Porto com o estilo "mais sério" que imprimiu em "A Casa Demolida" e "As Cariocas".
Mas, com toda sua timidez, nunca vi meu pai mais vexado do que no dia de minha "formatura" no jardim de infância.
Isso se deu em 1959, no Colégio Mello e Souza. Houve uma grande festa em que todos os alunos deveriam vestir-se com roupas que indicassem a profissão dos pais. Todos foram de médico, advogado, engenheiro, professor etc.
Mamãe se viu em maus lençóis para fazer minha fantasia, mas inspirou-se numa caricatura que o Lan havia feito. Era um desenho de papai escrevendo à máquina, cercado de vários recortes em que se lia: rádio, televisão, jornal, show, revista tal e tal. Assim era minha roupa: um vestido branco com vários recortes colados.
No final da festa, cada aluno fazia uma apresentação: recitava um versinho, dançava, cantava. Eu quis cantar e pedi que meu pai me acompanhasse. Ele ficou sem jeito e foi cutucado por minha mãe, que o estimulou a subir no palco.
Mas o que o fez mesmo corar de vergonha foi a música que escolhi para cantarmos. Ao meu lado, teria de entoar os famosos versos de Paulo Borges, que uns anos antes haviam feito sucesso na voz de Alcides Gerardi: "Encosta tua cabecinha no meu ombro e chora".

    Ciência e arte - Helio Schwartsman

    SÃO PAULO - "The Age of Insight" é um livro impressionante. Eric Kandel é um neurocientista de primeira. Já fora agraciado com o Prêmio Nobel de Medicina em 2000 por seus trabalhos sobre a fisiologia da memória. Mas, em vez de escrever sobre axônios e dendritos, preferiu debruçar-se sobre a arte, mais especificamente sobre o modernismo vienense, e o resultado é uma obra de fôlego, tanto do ponto de vista da estética como da ciência.
    Kandel, ele próprio um vienense expatriado, fala com propriedade do ambiente cultural que reinava na capital austríaca na virada do século 20. Uma das teses do autor é a de que, assim como a física de Newton inspirou o iluminismo, a biologia de Darwin está na base do modernismo.
    Kandel destrincha escritos de Sigmund Freud e Arthur Schnitzler e as pinturas de Gustav Klimt, Oskar Kokoschka e Egon Schiele, para mostrar como as ideias inicialmente surgidas na Escola Médica de Viena acabaram engendrando um movimento artístico cujas influências perduram até hoje --e não apenas na arte.
    Freud e Schnitzler beberam dessa biologia médica para forjar as noções de inconsciente e sexualidade em seus contornos modernos. Klimt, Kokoschka e Schiele deram tradução pictórica a esses conceitos. Mas Kandel não se limita a contar essa história. Ele também escarafuncha nossos cérebros para revelar os mecanismos neuronais da visão e da percepção que esses pintores exploraram tão bem, ainda que não tivessem tanta clareza sobre seu funcionamento.
    E que não temam os puristas. As análises de Kandel, apesar de recheadas de boa ciência, lembram mais escritos de grandes historiadores da arte como Gombrich e Panofsky do que as anódinas descrições técnicas dos periódicos científicos.
    Kandel consegue com felicidade juntar arte, história e ciência numa obra. É um daqueles raros livros que mostram que ciências e humanidades são perfeitamente conciliáveis.

    Antonio Prata

    Dente por dente
    Se ficarem em silêncio, terão de atravessar os infinitos minutos lendo Atlas, Atlas, Atlas, Atlas
    Eu estava escovando os dentes no banheiro do Sesc, depois do almoço e antes de uma reunião, quando um cara entrou. Confesso que ao ser flagrado ali, naquele momento mezzo íntimo, fiquei um pouco envergonhado. Um pouco só, mas o suficiente para abaixar a cabeça e diminuir o ímpeto da escovação --passando de espadachim a enfrentar dois inimigos, simultaneamente, a um inglês no metrô falando ao celular.
    Talvez você, que tem um emprego de verdade e fica o dia todo fora de casa, ache este reflexo pudibundo uma frescura de moçoila da belle époque. É, é meio ridículo, mesmo, mas a gente que trabalha em casa e tem como único colega de batente um pombo cinza que vez ou outra pousa na janela vai ficando aos poucos com umas manias de filho único: muito cioso do próprio espaço, sem saber brincar em turma, de modo que, quando o cara entrou, como eu já disse, abaixei a cabeça e assumi aquela circunspecção de mictório.
    Meu casulo, contudo, se desfez bem rápido, pois o sujeito parou ao meu lado, tirou da mochila uma necessaire e começou, ele também, a escovar os dentes. O leve constrangimento se foi e deixou em seu lugar uma pequena felicidade. Pequena, mas suficiente para me fazer levantar a cabeça e, pelo espelho, acenar com uma sobrancelha ao meu parceiro de escovação. Foi um gesto discreto, da mesma envergadura do meu constrangimento e do meu alívio, só um meneio cúmplice, de boas-vindas, como uma pessoa que, abrigando-se da chuva sob uma marquise, vê chegar outro cidadão ensopado. O cidadão, contudo, não era muito de dividir marquises: fingiu que não me viu, pregou os olhos no espelho, franziu as sobrancelhas e deu início aos trabalhos com uma fúria de enceradeira.
    Veja, não sou uma pessoa carente. Minto, sou carente, somos todos carentes, mas não sou um chato. Eu não ia, caso ele respondesse a meu aceno, puxar um papo sobre pasta de dentes e logo em seguida alugá-lo por meia hora com minhas queixas sobre o trânsito, a dor no ciático e os embargos infringentes. Era só um "Vai, Corintcha!", um "Que chuva, hein?!", uma dessas microparcerias que deixam a vida na cidade menos desoladora.
    Fala-se muito mal de papos sobre o tempo: pois eu acho uma grande conquista da civilização. Você entra no elevador, o senhor do 903 entra no elevador: se ficarem em silêncio, terão de atravessar os infinitos minutos olhando pro teto, pro chão, lendo ininterruptamente Atlas, Atlas, Atlas, Atlas ou mexendo no celular --sem sinal. Mas basta um dos dois dizer "Que calor, hein?" e o outro responder "Dos infernos..." e, pronto, uma brisa refresca aquele mormaço.
    Infelizmente, meu vizinho de pia não compartilhava do mesmo protocolo de civilidade: seguiu fechado em sua bravurinha escovatória. Infelizmente pra ele, pois saindo dali o cara descobriu que era comigo a reunião das duas e ambos sabíamos muito bem o que tinha acabado de acontecer e ele aceitou o orçamento que havia me dito por e-mail que não dava pra aceitar e topou o prazo que havia jurado que não conseguia me dar e eu só não levei pra casa sua mesa, sua cadeira, seu computador e sua carteira porque sou um homem honesto e não gosto de me aproveitar dos outros nos momentos de fraqueza.

      Elio Gaspari

      As campeãs nacionais de desastres
      O sonho petista de criar um bloco de empresas financiadas pelo BNDES reeditou um pesadelo
      Em 2007, o BNDES ressuscitou o zumbi da anabolização de empresários amigos e anunciou que o governo queria criar um núcleo de "campeões nacionais", inserindo-o no mundo das grandes empresas mundiais. Nesse lance, botou perto de R$ 20 bilhões em empresas companheiras.
      Numa mesma semana, dois fatos mostraram o tamanho do fracasso dessa política. O conglomerado da OGX, produção megalomaníaca de Eike Batista na qual o BNDES financiou R$ 10,4 bilhões, está no chão. A "supertele" Oi, produto da fusão pra lá de esquisita e paternal da Telemar com a Brasil Telecom, tornou-se uma campeã nacional portuguesa, fundindo-se com a Portugal Telecom. Em 2010, o BNDES e os fundos de pensão tinham 49% da empresa. A nova "supertele" nasce com uma dívida de R$ 45,6 bilhões. Novamente, receberá recursos do BNDES e dos fundos companheiros. O ministro Paulo Bernardo, das Comunicações, garante que essa fusão é uma "estratégia". Vá lá, desde que ele acredite que o Unibanco fundiu-se com o Itaú.
      A carteira de ações do BNDESPar caiu de R$ 89,7 bilhões em 2011 para R$ 72,8 bilhões em 2012. A campeã do ramo de laticínios chamava-se LBR e quebrou. A Fibria, resultante da fusão da Aracruz (chumbada) com a Votorantim, atolou. O frigorifico Marfrig tomou R$ 3,6 bilhões no banco e acabou comido pela JBS, cujos controladores movem-se num perigoso mundo onde convivem a finança internacional e a política goiana. Já o Bertin teve que ser vendido logo depois de o BNDES entrar na empresa. (Até 2013, esse setor recebeu a maior parte dos investimentos do BNDES.)
      O BNDES anunciou há meses que abandonou a estratégia da criação dos campeões nacionais. Falta só explicar quanto custou, quanto custará e que forças alavancaram os afortunados. Essa tarefa será fácil para alguns petistas e para o doutor Luciano Coutinho. Eles conhecem a história do banco.
      TUDO BEM COM THOR
      Eike Batista não pagou os US$ 45 milhões que devia aos seus credores, mas ninguém deve temer que seus dependentes entrem para o cadastro do Bolsa Família. Seu filho Thor, que estava em Miami com a mãe, a atriz Luma de Oliveira, veio para o Rio. Mesmo tendo prestado serviços despiciendos ao grupo OGX, recolheu aquilo a que julgava ter direito.
      TIRADENTES
      Quarenta anos depois do aparecimento do esplêndido "Devassa da Devassa", que recontou a história da Inconfidência Mineira, o professor Kenneth Maxwell voltou às Minas Gerais do século 18. Num texto de 57 páginas que serve de introdução à história de um livro que pertenceu a Tiradentes, Maxwell coloca no seu devido contexto a aproximação de inconfidentes com os "americanos ingleses", notadamente Thomas Jefferson, que era embaixador na França.
      Coisa de quem leu tudo e é capaz de ver na articulação dos mineiros não só uma busca de ajuda junto aos subversivos da época, mas um desejo de aproximar os brasileiros do pensamento político e econômico da Revolução Industrial nascente.
      Tiradentes e seus pares eram perigosos porque iam atrás das ideias dos americanos. Tanto era assim que ele tinha um livro com os textos da Declaração da Independência e as Constituições de 6 das 13 ex-colônias americanas.
      Pela primeira vez, o "Livro de Tiradentes" tem sua íntegra publicada e comentada no Brasil. Até 1860, ele ficou dentro de um saco verde nos arquivos brasileiros. Passou por Santa Catarina e só voltou a Ouro Preto em 1989.
      EREMILDO, O IDIOTA
      Eremildo é um idiota e acha que alguém está com saudade das manifestações de junho.
      O Judiciário bloqueou a Rede de Marina Silva por falta de apoio dos eleitores e criou o Pros (ganha uma viagem a Frankfurt quem souber o que ele é) e o Solidariedade (ganha outra viagem quem não souber o que ele é).
      MASSIMO (1978-2013)
      Acabou-se o restaurante Massimo, meca da comida italiana e da plutocracia paulistana nos anos 80. Massimo Ferrari, a alma da casa, deixara-a em 2006. O desfecho deu-se por causa de um litígio judicial com os proprietários do imóvel, que se arrastava há anos.
      CHAFURDANDO
      Em março, aborrecido com uma pergunta do repórter Felipe Recondo, o ministro Joaquim Barbosa chamou-o de "palhaço", mandando-o "chafurdar no lixo". Pouco depois, sua assessoria manifestou-se: "Em nome do presidente do STF, peço desculpas aos profissionais de imprensa pelo episódio ocorrido hoje".
      Passados sete meses, Barbosa oficiou ao ministro Ricardo Lewandowski, pedindo que considerasse o defenestramento da mulher de Recondo, lotada na assessoria do colega. Reputou "antiética" a posição da servidora, mas, salvo a relação matrimonial, não apresentou um único fato que amparasse o adjetivo. A senhora é servidora pública concursada desde 2000. Casou-se com Recondo em 2006.
      Lewandowski rebarbou a sugestão, e Barbosa recuou.
      Tudo bem, Barbosa acha que se pode descarregar sobre as atividades profissionais das mulheres os desconfortos que se gostaria de impor aos maridos.
      O que não se entende é o pedido de desculpas de março. Era brincadeira, ou agora Barbosa quer um embargo infringente reverso?

      ~>A VIÚVA NA FARRA DA FEIRA DE FRANKFURT<~ 
      Sempre é o caso de repetir a lição do embaixador Azeredo da Silveira: "Tem gente que atravessa a rua para escorregar na casca de banana que está na outra calçada". O Ministério da Cultura e a Biblioteca Nacional meteram-se com uma farra na feira de livros de Frankfurt e comprometeram R$ 18,9 milhões da Viúva para custear a homenagem que o país receberá.
      Trata-se de um evento de negócios que começa quarta-feira, dura uma semana, mas estará aberto ao público por apenas dois dias. Para ele convidaram 70 escritores, à custa da Boa Senhora. Ganha uma viagem a Cuba quem souber a importância de uma homenagem na feira de Frankfurt para quem paga imposto em Pindorama, onde a Biblioteca Nacional, arruinada, não abre aos domingos e nela é vedado o uso de canetas. Recarga para o laptop, só num restaurante próximo.
      Em 2000, quando o governo de FHC torrou R$ 14 milhões na feira de Hanover, comemorando os 500 anos do Descobrimento, o procurador Luiz Francisco de Souza acusou a empresa que montou o pavilhão brasileiro de improbidade. Se os empresários do mercado editorial brasileiro precisassem da homenagem da feira, poderiam recebê-la, com o dinheiro deles. O setor está grandinho. Faturou R$ 5 bilhões em 2012 e nele há administradores sagazes. Em 2012, o Brasil importou 13,5 mil toneladas de livros mandados imprimir na China. Afinal, custam a metade. Dão emprego a chineses e, com o dinheiro dos brasileiros, festejam-se na Alemanha.
      Às vésperas da feira, viu-se que foram contratados serviços sem as devidas licitações, e um jornal alemão lembrou que entre os 70 escritores convidados há apenas um negro, Paulo Lins. Apesar disso, o Brasil é apresentado como "um país que se reinventa". Na sexta-feira, o escritor Paulo Coelho detonou a comitiva da reinvenção.

        Janio de Freitas

        Justiça pelo avesso
        Tudo indica que o TSE favoreceu os culpados pelas estranhezas na tramitação do partido de Marina
        Inocências e culpas receberam tratamentos invertidos nos dois casos mais recentes que trouxeram os altos tribunais às apropriadas altitudes também do noticiário. No primeiro caso, o Tribunal Superior Eleitoral ofereceu cena e voz. No outro, não chega a ser surpresa, o protagonista foi o ministro Joaquim Barbosa.
        Tudo indica que o Tribunal Superior Eleitoral, mesmo com os votos em geral bem argumentados dos seus ministros, favoreceu os possíveis culpados pelas estranhezas na tramitação do pretendido partido de Marina Silva. Ainda que não houvesse "uma ação deliberada" de "mais de 53% dos cartórios" eleitorais, na gravíssima acusação feita por Marina Silva, os indícios de anormalidade na verificação dos apoios de eleitores (necessários 492 mil) foram, pior do que inexplicados, suspeitos.
        O deputado Miro Teixeira, do Rio e entusiasta da Rede de Marina, sustenta que "no ABC (Grande São Paulo), a quantidade de apoios rejeitados pelos cartórios é absolutamente anormal". Para admitir a possibilidade dessa anormalidade e de sua dimensão, é só lembrar-nos de que o ABC é uma cidadela da CUT e do PT, contrários à criação da Rede, e de que outros também levantavam lá um partido, o plagiário Solidariedade do Paulinho da Força Sindical.
        Mais difícil é admitir que, em tais circunstâncias, os comandos da Rede tivessem a ingenuidade de aplicar no ABC o trabalho mais promissor em outras regiões. Não foram as únicas ingenuidades influentes no desfecho negativo.
        Não há dúvida da falta de 50 mil apoios válidos para o total necessário, comprovada na contagem pedida pela relatora Laurita Vaz. Mas dessa certeza não decorre a segurança de que as tantas invalidações fossem de fato motivadas, já que nem ao menos suas causas foram informadas.
        Ciente desse e de outros problemas, como o irregular excesso de tempo consumido pela burocracia cartorial, o TSE deveria providenciar uma verificação por amostragem nos cartórios com rejeição anormal. Não o fez. Deu votos sólidos para o que parecia, não para a certeza do que era.
        Ao pedir a retirada da servidora Adriana Leineker Costa do Supremo Tribunal Federal, por ser casada com o jornalista Felipe Recondo, que atua no Judiciário para "O Estado de S. Paulo", o ministro Joaquim Barbosa invocou uma situação contrária à ética. A situação é incomum, mas falta de ética, a haver, não estaria propriamente nela. Se existisse, viria da conduta de um ou de ambos, com o aproveitamento da relação conjugal para beneficiar o jornal e o prestígio do repórter com informações especialíssimas.
        Adriana Leineker Costa, originária do STJ, está lotada no STF há 13 anos. O fato de que seu marido seja designado pelo jornal para cobrir o STF não é de sua responsabilidade. E, se ao presidente do tribunal a situação parecer intolerável, cabe-lhe pedir ao jornal a substituição do repórter ou descredenciá-lo. Punir com transferência indesejada quem não criou a situação é punir quem não tem culpa. O contrário de ato próprio de magistrado.

          Suzana Singer - Ombudsman

          Arauto das más notícias
          Folha destaca apenas dados negativos da Pnad, apesar de a pesquisa ter apontado aumento de renda em 2012
          A edição que a Folha fez da pesquisa Pnad, que traça anualmente um quadro social do país, é um prato cheio para quem acha que o jornal só publica más notícias. Todos os destaques pinçados no levantamento eram negativos.
          O título na capa informava que "Analfabetismo e desigualdade ficam estagnados no país" (28/9). Em "Cotidiano", havia o aumento da diferença de renda entre homem e mulher, os salários inchados pela falta de mão de obra especializada e o celular como o único tipo de telefone em mais da metade dos lares. A análise dizia que o resultado da pesquisa pode significar "o fim da década inclusiva".
          Outros jornais optaram por manchetes do tipo uma no cravo outra na ferradura: "Renda média sobe, mas desigualdade para de cair" ("O Globo"), "Analfabetismo para de cair no país; emprego e renda sobem" ("Estado"), "Em todas as regiões houve aumento de renda, mas a desigualdade ficou estagnada" (Jornal Nacional).
          Com seu característico catastrofismo, a Folha fez uma leitura míope da pesquisa, que é muito importante pela sua abrangência -são 363 mil entrevistados respondendo sobre escolaridade, trabalho, moradia e acesso a bens de consumo.
          O dado mais surpreendente era que a renda do brasileiro cresceu em 2012, ano em que o PIB subiu apenas 0,9%. Na Folha, esse fenômeno só foi citado no meio de uma reportagem sobre a desigualdade.
          Coube ao colunista Vinicius Torres Freire, no dia seguinte, chamar a atenção para o fato de que o Brasil estava mais rico "e não sabíamos". "É possível dizer que a taxa de pobreza deve ter caído bem no ano passado", escreveu Freire.
          Pelos cálculos de Marcelo Neri, 50, presidente do Ipea, 3,5 milhões de brasileiros saltaram a linha de pobreza em 2012. "No conjunto das transformações, foi a melhor Pnad dos últimos 20 anos", diz Neri.
          A desigualdade parou mesmo de cair, mas foi porque os muito ricos (1% da população) ficaram ainda mais ricos (a renda subiu 10,8%), num ritmo mais rápido do que os muitos pobres (10% na base da pirâmide) ficaram menos pobres (ganho de renda de 6,4%). É claro que não se deve desprezar o abismo social, mas não dá para ignorar que houve uma melhora geral no ano passado, o que é um mistério a ser explicado pelos economistas.
          Se o jornal subestimou o dado da renda, deu espaço demais para o fato de o analfabetismo ter parado de cair. Teve nesse ponto a companhia dos outros jornais e da TV.
          Depois de 15 anos de queda contínua, a taxa de analfabetismo variou de 8,6% para 8,7%. A diferença, irrisória, pode ser apenas uma flutuação estatística. Nem o fato de a taxa ter parado de cair é importante, segundo os especialistas.
          Os analfabetos brasileiros concentram-se, principalmente, na faixa etária mais alta (60 anos ou mais). Os mais velhos, que não tiveram acesso à escola na infância, são mais difíceis de serem alfabetizados. "Entre os jovens, a proporção de analfabetos continua caindo. A conclusão é que, embora nossa educação tenha muitos problemas, este não é um deles", explica Simon Schwartzman, 74, presidente do Iets.
          O destaque dado à diferença entre a remuneração de homens e mulheres também foi descabido. Em 2011, a brasileira recebia 73,7% do salário de um homem. No ano passado, era 72,9%.
          Além de não ser uma variação muito significativa, pode ser um problema amostral. "As mulheres não estão necessariamente ganhando menos do que os homens. Se elas já têm uma renda média menor, basta crescer a participação feminina no mercado de trabalho para aumentar a diferença entre os sexos", afirma Marcio Salvato, 44, professor de economia do Ibmec.
          Entre os bens de consumo, o jornal destacou o celular e as motos. Wasmália Bivar, 53, presidente do IBGE, ressalta a máquina de lavar roupa, presente em 55% das casas. "Para a vida das famílias mais pobres, é um bem de grande significado, porque dá mais tempo livre para as mulheres."
          Não é fácil escolher o que há de mais relevante em uma pesquisa extensa como a Pnad, mas não dá para adotar o critério dos piores números. O jornalismo deve ter como primeira preocupação o que vai mal, apontar os problemas, só que o necessário viés crítico não pode impedir que se destaque o que é de fato o mais importante.

            José Simão

            Ueba! Partido é como banana!
            E o partido Solidariedade diz que é de centro-esquerda. Só se for de centro espírita. Até morto eles filiaram. Rarará!
            Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! E os predestinados da semana. Funcionária do Senado suspeita de lavagem de dinheiro: Flávia PERALTA! E a mãe na maternidade: "minha filha, você vai se chamar Flávia Peralta e vai fazer peraltices lá no gabinete do Renan". Médico cubano que desistiu do programa Mais Médicos: Bladimir REMÉDIOS! Era placebo! Rarará. "Acá la salud non tiene remedios". E pegou uma balsa pra Miami! E o presidente do PT, Rui Falcão, é o que mais falta na Assembleia. Então é o RUI FALTÃO! E adoro o Aécio convidando: "Vamos conversar?". "Vamos! Cadê o bafômetro?". Rarará.
            E os novos partidos? O Brasil já não tem quase partido, tava precisando de mais três mesmo. Partido no Brasil é como banana, dá em penca! Tem esse partido chamado Pros! Pros filhos, pros netos, pros genros e pros raios que os parta! E um leitor sugeriu um novo nome pro Pros: PROSTÍBULO! Rarará! Esse Pros é Pros Mesmos!
            E o partido Solidariedade do Paulinho da Forca Sindical: Solidariedade. Só se for auto-solidariedade! Diz que é de centro-esquerda. Só se for de centro espírita. Até morto eles filiaram. Rarará! E a Marina? A Marinárvore! A tartaruga sem casco! O partido da Marina é um PSD que não come carne. Rarará.
            Rede com gancho enferrujado! Nhenc nhenc. E eu bem que sugeri pra Marina pra ela chamar os gremlins. Pra multiplicar as assinaturas. Ela pegava um gremlin, jogava um copo d'água, eles se multiplicavam e formavam um partido. O Partido dos Gremlins! Rarará.
            E por que a Marina tá sempre com cara de mártir? E o Paulinho tá sempre com cara de quem tá se recuperando de uma hepatite crônica! Rarará!
            E o chargista Jotapê sugere um novo partido: o PQP. Partido das Questões Populares! E um monte de leitor me sugere o PUTA! Partido Unido dos Trabalhadores Autônomos. Mas o melhor partido continua sendo o meu partido; o PGN! Partido da Genitália Nacional! Rarará!
            E os professores? No Rio quem leva bomba são os professores! E adorei a charge do Nani com a PM do Rio gritando pros professores: "Professoras, trouxemos a borracha!". E POW POW! Rarará.
            É mole? É mole, mas sobe!
            O Brasil é Lúdico! Olha essa placa na lanchonete no Méier: "Sugestão do dia; Frango Assado! Coixas e sobrecoixas". Adorei, muito mais chique. Por exemplo, o Corinthians levou nas coixas! Rarará.
            E essa em Santana, Bahia: "Fazemos manutenção de mega-ré".
            Ueba! Nóis sofre, mas nóis goza! Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!