segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Retomada do crédito

Retomada do crédito
Após merecidas críticas, governo sinaliza intenção de rever política de empréstimos de bancos públicos; BNDES indica nova orientação
É bem-vinda a aparente disposição do governo para rever sua política de expansão de crédito dos bancos públicos a taxas de juros subsidiadas. A prática vem recebendo merecidas críticas de especialistas brasileiros já há algum tempo e, mais recentemente, também das agências internacionais de classificação de riscos e do FMI.
Nos últimos anos, o governo alocou mais de R$ 400 bilhões para bancos oficiais, especialmente para o BNDES, para a Caixa Econômica Federal e para o Banco do Brasil.
Dessa forma, as instituições puderam expandir muito mais depressa que o usual suas carteiras de financiamento e, com isso, ganhar participação no mercado.
Originalmente utilizada como instrumento de combate à crise, a intervenção passou a servir a múltiplos objetivos --forçar a redução de juros dos bancos privados, atender a programas subsidiados, como o Minha Casa Melhor (pela Caixa), e financiar empresas eleitas pelo governo (via BNDES), entre outros.
Agora, em entrevista ao jornal "Valor Econômico", o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, sugeriu que os aportes do governo vão cessar --só no banco que dirige foram R$ 300 bilhões.
Disse ainda que o BNDES, com nova orientação, se concentrará mais em apoiar a infraestrutura, a indústria e a inovação tecnológica, com recursos próprios. Trabalhará também para dinamizar o financiamento privado de longo prazo, um objetivo não alcançado.
Por fim, manterá a capilaridade do banco no atendimento de pequenas e médias empresas, ainda que com juros menos favoráveis. São todas iniciativas sensatas.
Falta-lhe equilíbrio, entretanto, ao avaliar as ações passadas. Segundo Coutinho, o enorme aumento da carteira de crédito é defensável, em resumo, porque impulsiona investimentos geradores de emprego e renda --como se houvesse somente vantagens.
Não é bem assim. Para começar, parte do dinheiro foi usada em fusões e aquisições, o que não necessariamente amplia a capacidade de produção. Além disso, o aumento na carteira de empréstimos significa mais risco para o banco, já que não se pode tomar como premissa que os investimentos serão todos bem-sucedidos.
Como as operações foram bancadas por dívida pública --que cresceu 9,5% do PIB desde 2008--, se as decisões se mostrarem equivocadas, haverá prejuízos para o erário.
Eis por que bancos devem reter níveis prudentes de capital e usar a própria geração de lucros para expandir o crédito. Será bom para o país se o BNDES, assim como os outros, de fato voltar a essa prática.

    Campos a todo vapor

    folha de são paulo
    Inspirado, sem dúvida, em sua recente aliada Marina Silva, o governador Eduardo Campos (PSB-PE) lança a proposta de transformar a ilha de Fernando de Noronha no primeiro território carbono zero do Brasil.
    O plano é simpático, mas o político pernambucano poderia atentar igualmente para o quanto vem contribuindo para emissões de carbono nos constantes deslocamentos que realiza com fins eleitorais.
    Desde que anunciou sua aliança com a ex-senadora, Campos tem ocupado mais da metade de sua agenda com eventos destinados a nada mais que nutrir sua candidatura presidencial em 2014.
    A inspiração parece vir de outras fontes que as do ambientalismo e das supostas intenções de renovar a política preconizadas por Marina --que, seguindo roteiro próprio, oscila entre criticar a imprensa pela curiosidade a respeito de uma eventual candidatura sua e dizer, à mesma imprensa, que tem "toda a disposição" para ser presidente.
    Campos não tem sido tão ambíguo. Repete, na verdade, o que tem feito a presidente Dilma Rousseff, garimpando ocasiões para subir em palanques.
    Pelo menos o site oficial da Presidência da República informa o motivo das viagens de Dilma pelo país. Não é o caso do governo de Pernambuco, que sonega a informação de que, em vez de comparecer a reuniões administrativas em seu gabinete, Campos viajou a São Paulo no dia 10 de outubro para almoçar com aliados.
    O presidente do PSB não deveria ter razões para envergonhar-se de ter recebido o título de cidadão piauiense. Mas a cerimônia em Teresina, prestigiada pelo governador Wilson Martins, do mesmo partido, não tem registro nos anais palacianos. Ao menos nada se disse na agenda de Campos.
    Já o "Diário Oficial" de Pernambuco não demonstra o mesmo pudor. Campos apareceu em 47 das 58 capas do jornal, só de janeiro a março deste ano.
    Os dados se referem a período em que a campanha era menos evidente. Como o lema de seu governo é "o futuro a gente faz agora", não se pode atribuir a Campos o defeito da falta de descortino.
    Seja como for, a promoção pessoal com recursos públicos continua no diário. A edição de sexta-feira, 25 de outubro, traz uma foto do governador na capa.
    A notícia é que o seu governo irá injetar, em 25 dias, mais de R$ 2 bilhões na economia do Estado. Trata-se, na verdade, de adiantamentos salariais, e não de investimentos. Seria o caso de dizer que o anunciado não é bem o que parece. Mas, em termos de abuso de poder, é bem o que parece mesmo.

      'Se for preciso dizer que é arte, eu digo', afirma Herchcovitch

      Com mudanças em estrutura e curadoria, SPFW busca sobrevivência em meio à crise


       
      PEDRO DINIZ
      COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
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      "Deslocamentos" é o tema da edição de inverno 2014 da São Paulo Fashion Week, que começa hoje. Também poderia ser o título da novela sobre a crise da moda nacional, que já dura três temporadas.
      O socorro é perseguido em várias frentes. Agora, têm espaço na passarela nomes que nunca antes se encaixaram no estereótipo da inovação buscada pelo evento.

      Outra novidade anunciada é que a curadoria da maior semana de moda da América Latina passa a ser feita em sociedade com uma publicação comercial: a revista "Vogue".
      "É uma parceria normal, que acontece em vários países, como nos EUA", afirma Paulo Borges, fundador da São Paulo Fashion Week.
      Essa associação com a editora Globo/Condé Nast causou desconforto entre editores de moda de outras revistas. Já os estilistas gostaram.
      "Qualquer ajuda é bem-vinda. Se é para incentivar os criadores que passam por dificuldades, ótimo", analisa Samuel Cirnansck.
      "A moda não está em crise. Apenas alguns processos é que estão", afirmou Borges. Durante sua entrevista, acontecia um protesto do setor têxtil em frente a uma feira de tecidos chineses, em São Paulo, contra o sucateamento da indústria.
      A SPFW, que acontece até sexta (veja desfiles de hoje em quadro nesta página) no parque Villa-Lobos, terá, pela primeira vez, venda de roupas em tempo real.
      O designer João Pimenta é um dos que farão parte da primeira ação no Brasil da plataforma de moda do e-commerce eBay. Suas roupas, assim como as da grife Amapô, serão postas à venda por meio de um aplicativo de celular enquanto são apresentadas na passarela do evento.

      S.O.S moda

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      Divulgação
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      Croqui da estilista Patricia Motta
      SAPATOS E CRIANÇAS
      Também pela primeira vez em 17 anos de vida, a semana de moda paulista incluirá desfile de marca de sapatos.
      A Melissa, uma das patrocinadoras, desfilará seus calçados de plástico acompanhados de looks criados por seis jovens marcas --entre elas, a Apartamento 03.
      O desfile acontecerá numa estrutura paralela à principal -montada no parque, com três salas e área total de 15 mil metros quadrados.
      Os acessórios, no caso, são as roupas. "Não vamos vendê-las, nosso foco é o sapato. O desfile é uma plataforma de comunicação com a cliente", diz o CEO da grife no Brasil, Paulo Pedó.
      Outra etiqueta que faz participação estratégica é a Lilica Ripilica, marca que até então só desfilava em eventos de shopping centers.
      A grife infantil, com foco na classe B, fará desfile descrito na programação do evento como "especial", antes da apresentação de João Pimenta, na quinta.
      O desfile da marca servirá de teste para uma semana de moda infantil que deve ser lançada em outubro de 2014 pela empresa Luminosidade, de Paulo Borges.
      O investimento feito pela Lilica Ripilica na semana de moda foi de R$ 1 milhão, segundo o grupo Marisol, que controla a marca. "Somos seguidores de moda; não vamos apresentar criações, e sim uma junção dos estereótipos que acompanham a moda infantil, lúdica e fantasiosa", diz o presidente do grupo, Giuliano Donini.
      O executivo diz que não há mais como definir a SPFW como um evento de luxo. "Grifes internacionais tomaram o lugar do luxo no Brasil."
      Quem também promete algo "especial" é Fause Haten, estilista à frente da marca FH.
      Um dos maiores críticos do formato tradicional de desfile, ele fará uma "performance-surpresa" fora do parque Villa-Lobos, em rua que será revelada uma hora antes do seu "desfile de guerrilha".
      "O formato está desgastado. Desfile servia para vender roupa, mas agora é para vender marca e gerar mídia espontânea", diz Haten.
      Leonardo Soares/Folhapress
      O estilista Fause Haten no espaço de sua exposição "A Fábrica do Dr. F", em cartaz até amanhã na Faap
      O estilista Fause Haten no espaço de sua exposição "A Fábrica do Dr. F", em cartaz até amanhã na Faap

      Sem Rouanet, Herchcovitch faz desfile no Municipal



      PEDRO DINIZ
      COLABORAÇÃO PARA A FOLHA de São Paulo
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      Um dos três estilistas, ao lado de Ronaldo Fraga e Pedro Lourenço, envolvidos na polêmica sobre aprovação de subsídio público para desfies via renúncia fiscal, Alexandre Herchcovitch apresenta seu inverno 2014 amanhã, sob a cúpula do Theatro Municipal, durante a SPFW.
      Defensor da ideia de que moda não é arte, ele diz à Folha que acha importante suas coleções terem disfarce conceitual, mesmo se são "100% comerciais", e que a partir de 2014 suas apresentações serão abertas ao público.
      Leonardo Soares/Folhapress
      Alexandre Herchcovitch no Theatro Municipal
      Alexandre Herchcovitch no Theatro Municipal
      -
      Folha - O que achou do debate sobre incentivo fiscal à moda?
      Alexandre Herchcovitch - Raso. Acho que ninguém entendeu que moda é cultura e que não há diferença entre uma exposição de pinturas e uma de roupas. Ambos têm fins comerciais. Também não foi dito que as coleções irão para museus. Isso forma uma cultura de moda no Brasil.
      Sente-se pressionado em mostrar que é "conceitual" para conseguir a Rouanet?
      Não. Se não pensar em negócio sou mandado embora da InBrands [que detém sua marca]. Acho importante que as coleções sejam disfarçadas de conceituais, porque elas são 100% comerciais. Moldo o trabalho que aplico na roupa a partir do valor final.
      Então moda não é arte?
      Não, mas se precisar dizer que é arte eu digo [risos]. É importante o incentivo porque as pessoas vão poder ver um desfile e se emocionar.
      Conseguiu o patrocínio?
      Estava focado no projeto do meu livro de 20 anos de carreira [que sai em 2014, pela Cosac Naify]. Consegui R$ 240 mil via Rouanet para ele. A partir do próximo mês vou atrás das empresas com que tenho contratos de licenciamento [para o desfile]. Não vai ser complicado.
      Como vê marcas como Lilica Ripilica e Melissa na SPFW?
      Acho ótimo. Por mim, haveria cem desfiles. Quanto mais marcas, mais os estilistas se esforçam para fazer algo melhor. São marcas fortes como essas que patrocinam as outras tantas das quais o evento não cobra.

      Lou Reed deixou frases geniais e duras

      folha de são paulo
      Lou Reed era conhecido pelo mau humor e pelo cinismo. Uma vez, quando um grupo perguntou ao cantor se ele usava drogas e se pretendia incentivar seus fãs a fazer o mesmo, respondeu: "Sim, quero que usem. Melhor que jogar Banco Imobiliário."
      Certa ocasião, disse, sem modéstia: "Minhas cagadas são melhores que os diamantes de outros".
      Outra de suas citações: "Música é tudo. As pessoas deviam morrer por ela. Estão morrendo por qualquer outra coisa, então por que não pela música?".
      Podia também dizer frases que ninguém esperava que dissesse, como quando afirmou "Estou completamente adaptado em ser uma figura cult".
      Outra, sobre seu modo particular de compor: "Um acorde é legal. Dois acordes, e você está forçando. Três acordes e daí você já está no jazz".
      O produtor musical Brian Eno resumiu a influência de Reed com uma frase digna do próprio: "O primeiro álbum do Velvet Underground vendeu só 10 mil cópias, mas todo mundo que comprou o disco montou uma banda".
      REPERCUSSÃO
      Leia frase de amigos e fãs do músico postadas nas redes sociais:
      John Cale, ex-parceiro no Velvet Underground:
      "O mundo perdeu um grande compositor e poeta. Eu perdi meu
      amigo de escola."
      Iggy Pop,músico:
      "Notícias devastadoras."
      Billy Idol, músico:
      "Você foi minha
      inspiração nos anos 1970. Sem você, não
      haveria punk rock."
      The Who, banda, em seu perfil oficial no Twitter:
      "Descanse em paz, Lou Reed. Caminhe pelo lado pacífico."
      Salman Rushdie, escritor:
      "Hey, Lou, você sempre andará pelo lado selvagem. Sempre um dia
      perfeito."
      Weezer, banda, em seu perfil oficial no Twitter:
      "Velvet Underground foi uma grande influência quando o Weezer estava começando."
      Kim Gordon, ex-baixista do Sonic Youth:
      "Muito triste por saber da morte de Lou Reed. É um grande choque."
      John Cusack, ator:
      "Notícias terríveis. Foi um grande e singular poeta."
      Josh Groban, cantor:
      "Dia triste na música. Descanse em paz."
      Clemente, vocalista da banda Os Inocentes:
      "Foi o cara que apontou
      os caminhos, estava muito à frente."
      Patti Smith, cantora:
      "De luto. Um dos meus melhores amigos."
      Edgard Scandurra, ex-guitarrista da banda Ira!:
      "Que perda para a música subterrânea! Era um grande provocador, excelente guitarrista, grande letrista e tinha muito humor no seu jeito junkie."
      Mia Farrow, atriz:
      "Minha profunda gratidão, Lou Reed. Paz."
      Russell Simmons, fundador da gravadora Def Jam:
      "Nova York perdeu um dos nossos maiores talentos hoje."
      Marianne Faithful, cantora:
      "Um dos músicos mais inteligentes que conheci e um grande guitarrista."

      Monica Bergamo

      folha de são paulo

      OGX deve entrar com pedido de recuperação judicial esta semana

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      Empresários que acompanham de perto a derrocada da OGX de Eike Batista preveem que ela pode pedir recuperação judicial ainda nesta semana. A companhia está inadimplente há mais de 30 dias.
      COMPANHIA
      É possível que mais de uma empresa do grupo de Eike recorra ao instrumento, caso a recuperação seja mesmo adotada.
      TRILHA SONORA
      A EBC (Empresa Brasil de Comunicação) foi proibida liminarmente pela Justiça de executar músicas em suas nove rádios e também nas emissoras de televisão --entre elas, a TV Brasil. Foram atingidas, entre outras, a Rádio Nacional de Brasília, do Rio, Amazonas e Alto Solimões e MEC FM.
      DEVO
      O pedido de liminar foi feito pelo Ecad, que arrecada e distribui direitos autorais aos músicos. A entidade alega que a EBC não pede autorização para executar músicas desde 2007. E afirma que só as rádios devem R$ 8 milhões ao escritório.
      NÃO NEGO
      A EBC diz que se antecipou à liminar e que já está negociando com o Ecad para efetuar o pagamento. Defende que o valor cobrado dela seja diferenciado já que é uma emissora pública.
      EM CASA
      A decisão de Roberto Carlos de convidar Caetano Veloso, Gilberto Gil, Djavan e Erasmo para discutirem a polêmica das biografias em seu estúdio na Urca, no Rio, foi simbólica. Com isso, o Rei voltou a chamar para si a responsabilidade de conduzir o tema. Até então, as reuniões ocorriam quase sempre na casa de Paula Lavigne, ex-mulher de Caetano.
      EM CASA 2
      Os advogados de Roberto fizeram uma exposição aos outros artistas. Um deles, Marco Antonio Bezerra de Campos, tomará a frente do tema, que conhece bem: ele advoga para o Rei há anos. Em 2007, conduziu o acordo judicial que previa a retirada, pela editora Planeta, de uma biografia não autorizada do cantor das livrarias. Em Brasília, o assunto será tocado também pelo advogado Antonio Carlos de Almeida Castro, o Kakay.
      SEMPRE ROBERTO
      Apesar de contrariado com o bombardeio por causa da polêmica, Roberto Carlos estava "tranquilo e sorridente", de acordo com um dos presentes à reunião.
      Caloroso, serviu um bom vinho aos convidados.
      SEM CENSURA
      Tom Zé não só é favorável à liberação das biografias, como não procura saber o pé em que está a própria, que o jornalista Marcus Preto está fazendo. "Não tem graça pra quem tá escrevendo se o biografado ficar se metendo", diz o músico.
      DOCINHO
      Lana Del Rey, uma das principais atrações do festival Planeta Terra, em 9 de novembro, pediu para o seu camarim ser enfeitado com flores da estação e tipicamente brasileiras. A cantora americana também quer provar um doce local.
      PARA ELES
      A estilista Juliana Jabour, que participa na terça do SPFW, lançará sua primeira coleção masculina em fevereiro de 2014.
      AQUI E LÁ
      A peça "Divórcio", do dramaturgo paulista Franz Keppler, que está em cartaz há dez meses em SP, foi selecionada para ser montada na Espanha. A estreia no teatro Gaudí, em Barcelona, será nesta sexta-feira, com temporada até março. Keppler negocia para levar o espetáculo a Portugal.
      PARA TODOS
      Os atores Carolina Dieckmann, Paulo Vilhena e Martha Nowill, todos do elenco do filme "Entre Nós", foram à pré-estreia do longa, no Cine Livraria Cultura. Julio Andrade, que também atua na produção, e a atriz Elen Cunha estiveram na plateia.
      ESQUENTA ITALIANO
      O empresário Savério Gardino recebeu convidados para um esquenta à moda italiana que promoverá todas as terças-feiras em seu restaurante, o Brera. A editora de beleza Mia Borges, a decoradora Esther Giobbi e o produtor de moda Márcio Vicentini passaram pela reunião, que também contou com a presença do empresário Rodrigo Rosset e de sua mulher, Adriana Lotaif.
      CURTO-CIRCUITO
      O crítico de cinema Amir Labaki participa do júri internacional da 56ª edição do Dok Leipzig, o mais antigo festival de documentários do mundo, que começa hoje, na Alemanha.
      O Comedians Comedy Club comemora, a partir de amanhã, três anos com lançamento de novos drinques. Até sábado. 18 anos.
      O trio Aventureiros, de Luiz Gayotto, Tatá Aeroplano e Gero Camilo, se apresenta no Cedo e Sentado, hoje, às 22h, no Grazie a Dio!. 18 anos.
      A Esser lança hoje o projeto Metrô Office & Mall com jantar para 150 convidados, entre eles a apresentadora Ana Hickmann, no restaurante Kosushi.
      O antropólogo Ted Polhemus dá palestra hoje sobre consumo de moda no mundo globalizado. Às 11h30, na Praça das Artes.
      O presidente do Sindi-Clube, Cezar Roberto Granieri, foi eleito para a comissão de análise e aprovação de projetos esportivos e paraesportivos da Lei de Incentivo Fiscal de Esporte.
      com ELIANE TRINDADEANA KEPP e MARCELA PAES
      Mônica Bergamo
      Mônica Bergamo, jornalista, assina coluna diária publicada na página 2 da versão impressa de "Ilustrada". Traz informações sobre diversas áreas, entre elas, política, moda e coluna social. Está na Folha desde abril de 1999.

      Gregorio Duvivier

      folha de são paulo
      E eles viveram felizes para sempre
      Não demorou muito para ele perceber que era melhor viver as coisas sabendo do final delas do que não viver nada
      E eles viveram felizes para sempre. Seja lá quando isso for. Assim acaba essa história. Porque tudo o que começa acaba. Murilo teve sua primeira visão quando nasceu: vislumbrou sua morte, de infarto, debruçado numa janela. Abriu o berreiro. E nunca se esqueceu dessa visão, estranhamente.
      Mais tarde, na infância, os filmes o entediavam: nos créditos iniciais já sabia que o casal viveria feliz para sempre. Os filmes de comédia não tinham mais graça e os de suspense não davam susto. Desistiu de assistir "Lost" no primeiro capítulo.
      Tornou-se um sujeito tímido, introvertido. Bastava que fizesse um novo amigo para que antevisse o momento em que eles romperiam ou a morte de um dos dois. Beber era difícil. No primeiro gole, visualizava a ressaca.
      Um dia, apaixonou-se à primeira vista. Foi travar uma conversa. Imediatamente a viu horrenda, assinando os papéis do divórcio. E isso aconteceu repetidas vezes: viu uma dando um tiro no peito, outra comprando passagens de ônibus só de ida para Friburgo. Murilo foi, pouco a pouco, se afastando da companhia das pessoas, para não ter que começar nada que tivesse que acabar. E viveu um tempo longo em que nada começou.
      Até que a visão de sua morte, tão jovem, começou a assombrá-lo. Podia acontecer a qualquer momento. Murilo se olhou no espelho e viu que ele estava se transformando no homem da sua visão: tinha engordado um pouco. Perdeu cabelo.
      Não demorou muito para que ele percebesse que era melhor viver as coisas sabendo do final delas do que não viver nada. E redescobriu o prazer de viver o miolo das coisas. Passou a tentar adivinhar como é que as coisas chegariam a ser o que ele já sabia que elas se tornariam. Percebeu o quão pouco importam o começo e o final: o barato está, pensou ele, em como é que uma coisa vai dar na outra. Fez novos amigos, conheceu mulheres, se apaixonou algumas vezes. E a história poderia acabar aqui, com nosso protagonista aprendendo a viver um dia de cada vez, encarando com tranquilidade a finitude das coisas. Mas não foi bem assim, como sabemos.
      Certo dia, numa praça, viu uma mulher linda e resolveu puxar conversa. E disse "Opa", como quem diz "Oi". E parou por aí, espantado. Porque não viu final nenhum. Ficou aflito. "Que é que houve?", disse ela. "Não tem final", disse ele. "O quê?", disse ela. "Nossa história", disse ele. "Não tem final." "Mas precisa ter?", disse ela. "Não, não precisa", disse ele. "Não precisa."
      E eles viveram felizes para sempre. Seja lá quando isso for.

        Luiz Felipe Pondé

        folha de são paulo
        Da falsidade
        Que Deus tenha piedade de nós num mundo tomado por pessoas que se julgam retas
        Dias sombrios. Nesses momentos, volto às minhas origens filosóficas, o jansenismo francês do século 17 e seu produto essencial, "les moralistes" (que em filosofia nada tem a ver com "moralista" no senso comum). Os moralistas franceses eram grandes especialistas do comportamento, da alma e da natureza humana. Nietzsche, Camus, Bernanos e Cioran eram leitores desses gênios da psicologia. Pascal, La Rochefoucauld e La Bruyère foram os maiores moralistas.
        O Brasil, que sempre foi violento, agora tem uma nova forma de violência, aquela "do bem". E, aparentemente, quase todo mundo supostamente "inteligente" assume que é chegada a hora de quebrar tudo. Nada de novo no fronte: os seres humanos sempre gostaram da violência e alguns inventam justificativas bonitas pra serem violentos.
        Impressiona-me a face de muitos desses ativistas que encheram a mídia nas ultimas semanas. Olhar duro, sem piedade, movido pela certeza moral de que são representantes "do bem". Por viver a milhares de anos-luz de qualquer possibilidade de me achar alguém "do bem", desconfio profundamente de qualquer pessoa que se acha "do bem". Quando o país é tomado por arautos do "bem social", suspeito de que chegue a hora em que a única saída seja fugir.
        A fuga do mundo ("fuga mundi") sempre foi um tema filosófico, inclusive entre os jansenistas, conhecidos como "les solitaires" por buscarem viver longe do mundo. Eles tinham uma visão da natureza humana pautada pela suspeita da falsidade das virtudes. O nome "jansenista" vem do fato de eles se identificarem com a versão "dura" (sem a graça de Deus, o homem não sai do pecado) da teoria da graça agostiniana feita pelo teólogo Cornelius Jansenius, que viveu no século 16.
        Pascal, La Fontaine e Racine eram jansenistas. Aliás, grande parte da elite econômica e intelectual francesa da época foi jansenista. Por isso, apesar de Luís 13 e 14 (e de seus cardeais Richelieu e Mazarin) e da Igreja os perseguirem, nunca conseguiram de fato aniquilá-los.
        Hoje, por termos em grande medida escapado das armadilhas morais do cristianismo (não que eu julgue o cristianismo um poço de armadilhas, muito pelo contrário), tais como repressão do outro, puritanismo, intolerância, assumimos que escapamos da natureza humana e de sua vocação irresistível à repressão do outro, ao puritanismo e à intolerância.
        Elas apenas trocaram de lugar. A face do ativista trai sua origem no inquisidor.
        Uma das maiores obras do jansenismo é "La Fausseté des Vertus Humaines" (a falsidade das virtudes humanas), de Jacques Esprit, do século 17. Ele foi amigo pessoal do Conde de La Rochefoucauld. Alguns especialistas consideram o conde um discípulo de Esprit. A edição da Aubier, de 1996, traz um excelente prefácio do "jansenista contemporâneo" Pascal Quignard.
        O pressuposto de Esprit é que toda demonstração de virtude carrega consigo uma mentira e que as pessoas que se julgam virtuosas são na realidade falsas, justamente pela certeza de que são virtuosas.
        A certeza acerca da sua retidão moral é sempre uma mistificação de si mesmo. Os jansenistas sempre disseram que os que se julgam virtuosos são na verdade vaidosos. Suspeito que o que vi nos olhos desses ativistas nessas últimas semanas era a boa e velha vaidade.
        Mas hoje, como saiu de moda usar os pecados como ferramentas de análise do ser humano e passamos a acreditar em mitos como dialética, povo e outros quebrantos, a vaidade deixou de ser critério para analisarmos os olhos dos vaidosos. Melhor para eles, porque assim podem ser vaidosos sem que ninguém os perceba. Vivemos na época mais vaidosa da história.
        "A verdade não é primeira: ela é uma desilusão; ela é sempre uma desmistificação que supõe a mistificação que a funda e que ela (a desmistificação) desnuda", afirma Pascal Quignard no prefácio do livro de Esprit. Eis a ideia de moral no jansenismo: a verdade moral é sempre negativa, sempre ilumina a sombra que se esconde por trás daquele que se julga justo.
        Que Deus tenha piedade de nós num mundo tomado por pessoas que se julgam retas.