terça-feira, 29 de outubro de 2013

Rosely Sayão

folha de são paulo
A escola sob pressão
Falar mal da escola e buscar outra muito semelhante só colabora para que ela fique desacreditada pelos alunos
Esta é uma época muito desfavorável para a escola e, consequentemente, para crianças e adolescentes que precisam, obrigatoriamente, frequentá-la. E aqui não faço referência a uma unidade especificamente, e sim à instituição escola, seja ela particular ou pública, que existe em nossa realidade e que também habita o imaginário de todos nós.
É que agora é o tempo em que os pais --aqueles que podem escolher a escola que o filho frequenta-- consideram a possibilidade de transferência do filho, motivados por insatisfações dos mais diversos tipos.
E os que não podem fazer tal escolha avaliam o ano letivo que está prestes a terminar, considerando, quase sempre, apenas a atuação da escola.
Há uma grande pressão, por exemplo, por notas altas ou, pelo menos, por notas que permitam a aprovação do filho. E quando as notas não alcançam o patamar esperado e/ou desejado pelos pais, estes costumam pensar que a escola não cumpriu seu papel de alertá-los a respeito do fato, agora quase consumado, para que pudessem tomar algum tipo de providência. Ponto negativo para a escola, portanto.
Há também, hoje, uma ansiedade generalizada dos pais para que o filho não sofra assédio dos colegas ou não seja alvo de violências, brandas ou pesadas --o agora tão popular bullying. E o interessante nessa história é que muitos pais atribuem a determinados colegas do filho essa ação frequente ou a liderança para o ato. É o que chamamos de "bode expiatório".
Se a escola não toma algum tipo de providência em relação a esses alunos --expulsão branca, por exemplo--, os pais acreditam que ela não serve para o filho. Ponto negativo para a escola, mais uma vez.
E o que dizer de frustrações que nada têm a ver com a vida escolar do filho? Eventos que não agradam, reuniões que não são do jeito que eles querem, pouca atenção aos pais etc. Tudo é motivo para a escola ganhar pontos negativos na avaliação que os pais fazem dela.
Sim: a escola está obsoleta, resiste quanto a se renovar, não sabe ao certo o que significa "educar para a cidadania", insiste em um modelo totalmente ultrapassado, acredita que seu papel ainda é o de transmissão de conhecimento e vê e trata os pais como consumidores de educação. Pai, hoje, é patrão na escola, e os filhos já se tocaram disso.
O problema é que falar mal da escola, que é o que torna este momento desfavorável a ela, e sair em busca de outra muito semelhante --apenas com novos diretores, coordenadores, professores e materiais didáticos, por exemplo, só colabora para que a instituição fique cada vez mais desacreditada pelos alunos.
E, contraditoriamente, queremos que nossos filhos gostem de estudar, sigam as orientações da escola, respeitem os trabalhadores da educação, aprendam. Aprendam!
Quanto mais falarmos mal da escola, menos tudo isso ocorrerá. Nossa alternativa é cobrar da escola inovações --de verdade, em sua organização e estrutura e não na instalação das muitas traquitanas tecnológicas-- e orientar nossos filhos a fazer a mesma coisa.
Esta seria a verdadeira parceria da escola com as famílias de seus alunos: a exigência posta para a instituição de que ela deve mudar. Com nosso apoio, é claro. E para o bem dos mais novos, e não para nossa tranquilidade e ilusória sensação de segurança.

Mônica Bergamo

Inadimplência no país sofre queda acentuada e atinge 7,3%

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DEVO E PAGO
A inadimplência entre usuários de cartão de crédito continua em queda acentuada no Brasil. De 8,7% em meados do ano passado, caiu para 7,8% no fim de 2012 e agora chegou a 7,3%.
BOA-NOVA
Os dados serão divulgados hoje no congresso da Abecs (Associação Brasileira das Empresas de Cartões e Serviços), que reúne os principais bancos, bandeiras e empresas do setor no país. "Os números são alvissareiros", diz Marcelo Noronha, presidente da entidade e diretor de cartões e crédito ao consumo do Bradesco.
BOA-NOVA 2
A pesquisa também mostrará que aumentou a penetração dos meios eletrônicos de pagamento entre os brasileiros. Hoje, 76% da população economicamente ativa tem pelo menos um cartão de crédito. Em 2008, o percentual era de 68%.
AMIGA MASSA
Divulgação
"A Veveta é minha melhor amiga, daquelas que a gente pode contar a qualquer hora...Estou até com uma mania dela: de vez em quando me pego falando 'massa'", diz Xuxa sobre Ivete Sangalo, 41.
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O texto foi escrito para a "Glamour" de novembro, com a baiana na capa. A cantora revela hábitos de beleza, como dormir oito horas por noite, ingerir muito líquido e fazer hidratação no cabelo uma vez por semana. Seu mantra é: "Se você é feliz, você pode tudo".
PRAZO
O pedido de recuperação judicial da OGX de Eike Batista, que executivos que tocam a empresa defendiam que fosse feito ontem, esbarrou no Dia do Funcionário Público -a data afeta o funcionamento dos tribunais. Pode ocorrer ainda hoje.
EM CAMPANHA
Pré-candidato ao governo de São Paulo pelo PT, o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, vai participar da reunião do Codivap (Consórcio de Desenvolvimento Integrado do Vale do Paraíba) com prefeitos de 39 municípios, em novembro. Com 2,3 milhões de habitantes, a região é berço político do governador Geraldo Alckmin (PSDB), natural de Pindamonhangaba.
EM CAMPANHA 2
Também pré-candidato, pelo PMDB, Paulo Skaf cumpriu a mesma agenda em maio. "Estamos abertos a todos os partidos", diz Ana Karin Andrade, presidente do Codivap, filiada ao PR e prefeita de Cruzeiro. Segundo ela, o presidenciável Eduardo Campos (PSB-PE) e sua aliada Marina Silva também querem ser recebidos pelos prefeitos. Dos 39 municípios, 22 são governados pelos PSDB e oito pelo PT.
PODE VIR QUENTE
O músico Frejat fez apresentação do show "O Amor É Quente", na sexta. Alice Pellegatti, mulher e empresária do roqueiro, a apresentadora Mylena Ciribelli, a atriz Lúcia Veríssimo e o músico Marco Túlio, do Jota Quest, passaram pelo HSBC Brasil.

Frejat faz show em SP

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Zanone Fraissat/Folhapress
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O músico Frejat e Alice Pellegati, sua mulher e empresária, posaram nos bastidores do show "O Amor É Quente", apresentado na sexta (25), no HSBC Brasil
ECONOMIA DOMÉSTICA
Protagonista de um ensaio sensual para a revista "Status", Marina Mantega, filha do ministro Guido Mantega, temeu a reação paterna. "Eu tenho medo do meu pai. Ele gosta de ver mulheres nas capas das revistas, mas não a filha. Acho que só terei coragem de falar com ele daqui a um mês", declarou ela, em entrevista a Amaury Jr..
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O programa vai ao ar hoje à noite na Rede TV!.
ETIQUETA VERDE
A confecção de um par de tênis Osklen consome 4.770 litros de água em toda a cadeia produtiva. Destes, 4.488 vêm da chuva. Os dados são de metodologia pioneira que a grife implantou em parceria com o Ministério do Meio Ambiente da Itália. "Usamos parâmetros internacionais para medir o consumo e identificar onde reduzi-lo", explica Martina Hauser, coordenadora do programa.
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A etiqueta sustentável é adotada também por marcas como Gucci e Benetton.
SHOW DAS PODEROSAS
As modelos Isabeli Fontana e Cíntia Dicker participaram, no último sábado, do Risqué Dream Fashion Show, no Espaço das Américas. O rapper inglês Taio Cruz cantou durante o desfile, que também contou com a presença de Ana Beatriz Barros e de Izabel Goulart.

Desfile reúne tops

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Greg Salibian/Folhapress
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A modelo Isabeli Fontana foi uma das modelos que desfilou no Risqué Dream Fashion Show, no sábado (26), no Espaço das Américas
ANIVERSÁRIO
Carine Roitfeld, diretora global de moda da "Harper's Bazaar", será recebida amanhã em almoço na casa da estilista Cris Barros, em SP. Ela vem festejar os dois anos do título internacional no Brasil.
CURTO-CIRCUITO
Mary Nigri recebe Bibba Chuqui e Marcinho Eiras para noite de nhoque com música, hoje, às 21h, no restaurante Quattrino.
A chef Bel Coelho prepara hoje jantar especial em prol da ONG Trapézio, às 20h30, na Oca Tupiniquim.
Nasi e Edgard Scandurra, ex-integrantes do Ira!, se reúnem amanhã para show beneficente no Espaço Traffô, na Vila Olímpia. 18 anos.
com ELIANE TRINDADEJOELMIR TAVARESANA KREPP e MARCELA PAES
Mônica Bergamo
Mônica Bergamo, jornalista, assina coluna diária publicada na página 2 da versão impressa de "Ilustrada". Traz informações sobre diversas áreas, entre elas, política, moda e coluna social. Está na Folha desde abril de 1999.

José Simão

folha de são paulo
Enem! Pato erra nos chutes!
Enem quer dizer Eu Não Escrevi Miojo! Um amigo me ligou todo contente: "Passei! Eu Não Escrevi Miojo!"
Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! E adorei o Roberto Carlos no "Cansástico": ele é a favor da biografia não autorizada, desde que autorizada! Rarará!
E o Enem? Enem quer dizer Eu Não Escrevi Miojo! Um amigo me ligou todo contente: "Passei! Eu Não Escrevi Miojo!".
E adorei o aviso a todos os candidatos: "Quem for fazer o Enem no chute, não faça como o Pato". E os barrados no Enem? Evangélica sem noção parou pra orar, perdeu a hora e ficou gritando no portão: "Abre em nome de Jesus! Abre em nome de Jesus!". Mas não era melhor gritar "Abra-te Sésamo"? Rarará!
E o tema da redação: Lei Seca! Ou seja, bafômetro. Reprovados: Mano Menezes, Luciano Huck e Aécio Neves! Rarará!
E o site Futirinhas revela o Enem dos jogadores. Sheik: foi expulso da sala após tentar dar um selinho no aplicador da prova. Ceni: chegou três dias antes da prova. Ganso: acertou uma questão e já ficou cobrando vaga na USP. Pato: respondeu tudo no chute e errou todas! Valdivia: fraturou a mão com o peso da prova e vai ficar 800 dias afastado. Roberto Dinamite: não pagou a taxa pra fazer a prova. E o Walter não foi porque era hora da feijoada! Rarará.
E adorei a charge do Nani com o Obama no divã do psicanalista: "Ouço vozes!". Rarará. "Qual o seu problema, presidente Obama?" "Ouço vozes. Todas as vozes do mundo."
E a charge do Aroeira com a ameaça da Merkel: "Se vocês continuarem me espionando, a gente invade a Polônia de novo!". Rarará. E a filosofia do Obama: quem espiona o que eu estou espionando é espionagem!
E essa piada pronta do caso Alstom: "Procurador de São Paulo disse que não atendeu aos pedidos de investigação da Justiça suíça porque colocou em: pasta errada". TÓÓÓIM!
E essa direto de Portugal: "Fusão da Portugal Telecom com Oi levará à extinção da PT". Só Portugal pra conseguir isso! Rarará!
É mole? É mole, mas sobe!
E como a redação do Enem foi o bafômetro, me lembrei da loira que foi parada pelo guarda: "Carteira Nacional de Habilitação". "Não tenho e nem sei o que é isso." "IPVA." "Não tenho e nem sei o que é isso." Aí o guarda abre a braguilha e bota o pingolim pra fora: "E isso, você sabe o que é?". "Ah, não! Bafômetro de novo!" Rarará.
Nóis sofre, mas nóis goza.
Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

João Pereira Coutinho

Folha de São Paulo
Homens e animais, revisitados
Dissecar animais em praça pública, como aconteceu no passado, seria impensável nos dias de hoje. Ainda bem
Recebi centenas de e-mails na semana passada por causa de um texto sobre os "direitos dos animais" ("Homens e animais", 22/10). Escuso de esclarecer que a maioria não foi simpática.
Com verdadeiro espírito humanista, muitos dos defensores dos animais desejaram-me doenças que eu, um hipocondríaco confesso, nem sabia que existiam. Sem falar das inevitáveis ameaças de morte, sempre antecedidas de tortura (lenta).
Agradeço a gentileza e espero ansiosamente pelo dia em que o mundo será governado pelo espírito tolerante dessa gente. Para os restantes leitores, que insistiram em seis perguntas recorrentes (e civilizadas), aqui vão respostas civilizadas:
1 - Se é possível fazer pesquisa sem animais, como justificar o uso dos bichos?
Infelizmente, não é possível fazer todo o tipo de pesquisas sem usar animais. Verdade que a ciência evoluiu imenso e a pesquisa "in vitro" (usando células em laboratório, algumas das quais humanas) e "in silico" (com computadores) tem ocupado as pesquisas "in vivo". Mas, para certas patologias, e sobretudo para se obterem respostas precisas a farmacologias várias, é necessário o uso de organismos vivos com certo grau de complexidade (o que exclui, por exemplo, moscas ou lesmas). Não usar animais implicaria, em muitos casos, usar seres humanos --ou, em alternativa, frear o progresso científico.
2 - Os animais dos laboratórios são tratados cruelmente.
Uma absoluta falácia. Os animais domésticos são, muitas vezes, tratados cruelmente. Animais de laboratório são, como o nome indica, seres vivos criados em ambiente controlado (temperatura, som, conforto, comida etc.) de forma a infligir o menor sofrimento possível. É claro que algumas experiências implicam dor ou desconforto. Mas o uso de animais em laboratório está submetido a legislação rigorosa, na qual os "limites de severidade" são cada vez mais apertados.
Dissecar animais em praça pública, como aconteceu no passado para conhecer o sistema circulatório (um feito que fez a medicina avançar vários séculos), seria impensável nos dias de hoje. E ainda bem.
3 - É legítimo usar animais para testar cremes e batons?
Não é legítimo e deve ser severamente punido. Na Europa, já é desde março deste ano. Mas a discussão do artigo lidava com pesquisa médica, não estética. Confundir ambas revela ignorância ou má-fé.
4 - Todos os ativistas dos "direitos dos animais" estão errados?
Pelo contrário: a ciência deve muito aos ativistas razoáveis dos "direitos dos animais", que contribuíram para que a ciência "humanizasse" o seu trato com os bichos.
Os defensores razoáveis dos "direitos dos animais" legaram à ciência o desafio dos "três R's": "to reduce" (reduzir, sempre que possível, o número de animais em laboratório); "to replace" (substituir, sempre que possível, o uso de animais por outra alternativa --estudo de células ou simulação computacional, por exemplo); e "to refine" (refinar, sempre que possível, a forma como a pesquisa é feita --uso de anestésicos e analgésicos quando o desconforto é previsto; criação de um ambiente confortável e estimulante para os animais etc.). O diálogo entre cientistas e "eticistas" deve por isso continuar.
5 - Você não gosta de animais e por isso defende o uso deles pela ciência?
Não pretendo tornar a discussão pessoal. Mas gosto de animais, tenho animais e até já escrevi sobre todas as lições "filosóficas" que aprendi com o meu gato.
6 - Todas as vidas são sagradas e nenhum animal deve ser sacrificado para nosso benefício.
Quem parte dessa premissa encerra o debate mesmo antes dele começar. Infelizmente, não tenho essas certezas --e, como onívoro, é evidente que continuo a usar os animais como fonte principal de alimentação. Sobre a "sacralidade" da vida, confesso uma certa paralisia agônica com certos cálculos utilitaristas mesmo em relação à vida humana (para mim, a mais importante).
Se, por hipótese, fosse possível salvar 10 milhões de pessoas gravemente doentes pelo sacrifício em laboratório de dez indivíduos, valeria a pena matar esses dez inocentes?
Instintivamente, direi que não e ficarei feliz com as minhas vaidades deontológicas. Pensando friamente, não sei se diria não --e que Deus, ou o sr. Kant, me perdoe. Porém, se a vida de 10 milhões de pessoas dependesse da vida do meu gato, não haveria hesitação alguma.

Milú Vilela e Felipe Chaimovich

folha de são paulo
Os museus e a educação integral
A Lei Rouanet inibe a atração de parceiros ao impedir que os museus obtenham 100% de abatimento fiscal em projetos de setores educativos
Existe, entre os educadores, grande expectativa de que o Congresso Nacional finalmente aprove, até o final do ano, o Plano Nacional de Educação (PNE), que trará, entre outras questões estruturais, a diretriz de implantação da educação integral nas escolas brasileiras.
Pesquisa da Fundação Itaú Social com o Datafolha mostrou que nove em cada dez brasileiros dizem que a educação integral é necessária para melhorar o futuro das novas gerações. Todos estão de acordo que é essencial ampliar o leque de formação dos estudantes. A construção do conhecimento pressupõe a interação dos alunos com outras realidades além da sala de aula e a união dos saberes formais com atividades extracurriculares.
Para que se torne realidade, a educação integral não depende apenas da boa vontade de deputados e senadores. A sua implantação implica o esforço de integração das escolas com equipamentos públicos, ONGs e instituições de toda ordem para que se ofereça aos alunos acesso à formação extracurricular.
Os museus brasileiros, nesse contexto, vão ganhar nova dimensão. Terão que estruturar e desenvolver áreas educativas para atender ao novo patamar de demanda.
Experiências podem ajudar nessa tarefa de revisão de papel e de busca de um novo modelo de atuação. O Museu de Arte Moderna de São Paulo tem a educação como um dos pilares de atuação. Recebe 40 mil alunos das redes públicas e privadas todos os anos para visitas monitoradas a exposições e participação em cursos e atividades, numa programação intensa que inclui a formação de professores.
O MAM também desenvolveu tecnologia social de atendimento a grupos de portadores de necessidades especiais que serve de modelo, o que revela a potencialidade de replicação de experiências educacionais.
O MASP, a Pinacoteca do Estado, o Catavento e outros grandes museus seguem a mesma linha de atuação, com forte orientação para o papel educativo. Com o PNE de pé, teremos que multiplicar as experiências e levá-las a todo país, incluindo cidades médias e pequenas.
Para tanto, precisaremos criar um novo ambiente regulatório para estimular o financiamento e a geração de recursos para estruturar as áreas educativas que irão trabalhar em parceria com as escolas. Uma das dificuldades está na Lei Rouanet.
O mais importante instrumento de financiamento da cultura no país não permite que os museus obtenham o incentivo máximo de 100% de abatimento fiscal em projetos exclusivamente voltados para seus setores educativos, o que configura fator inibidor na atração de parceiros.
Este ponto deve ser revisto. Há empresas interessadas em contribuir. Basta ajustar esse aspecto e permitir que a iniciativa privada financie projetos do gênero com incentivos para que setores educativos ganhem corpo nas instituições.
A educação integral está na boca do povo, na cabeça dos educadores e no centro de uma oportunidade de transformação. Agora governo e Congresso precisam, mais do que nunca, fazer a sua parte e criar as condições para que esse modelo alcance os brasileiros na ponta e ajude a mudar o ensino no país.

Vladimir Safatle

folha de são paulo
O vazio político
Até agora, Dilma Rousseff deveria agradecer a Deus pelos concorrentes que se apresentam à Presidência da República. Para eles, as manifestações de junho, em larga medida, não existiram. Continuam construindo discursos e estabelecendo prioridades como se estivéssemos na década de 90, com seus arroubos liberais. Dessa forma, Dilma aparece como a candidatura mais à esquerda no páreo.
Quando a população foi às ruas em junho, ouvimos um conjunto de exigências que acabaram por se destacar. Certamente, ninguém saiu gritando slogans em defesa do sacrossanto tripé econômico: câmbio flutuante, superavit primário e meta inflacionária. Na verdade, o povo falou, com força, que queria priorizar um outro tripé, a saber, o social: transporte público de qualidade, educação pública "padrão Fifa" e saúde pública sem subfinanciamento.
Nesse sentido, não é por acaso que as mais recen- tes manifestações giram em torno do sucateamento da profissão de professor em es- colas públicas.
O governo esboçou uma reação mínima ao requentar duas propostas que já circulavam: o programa Mais Médicos e a vinculação da renda do pré-sal à educação e à saúde. Em si, as propostas eram boas e mereciam ser implementadas, mesmo que a segunda não passasse de promessas em cima de lucros potenciais, que demorarão anos para entrar nos cofres da União. Uma estranha maneira de responder à urgência das ruas com promessas de longo prazo.
No entanto não se ouviu praticamente nada dos outros candidatos até agora no páreo.
Nenhuma proposta minimamente ousada sobre o fortalecimento dos serviços públicos e as modalidades de capitalização do Estado para tanto. Todos eles preferiram seguir o mesmo figurino e centrar seus discursos em tópicos como a diminuição do pretenso estatismo do governo, a reiteração do eterno mantra dos impostos altos e a criação de melhor ambiente para investimentos estrangeiros. Os mesmos que já aparece- ram em outras eleições e foram derrotados.
Era de esperar que al- guém lembrasse, ao menos, dos nossos absurdos nacionais, como a ausência de uma fiscalidade que sirva de base de combate à desigualdade econômica e a inacreditável oligopolização de nossa economia atual.
Mesmo a respeito da reinvenção de uma democracia com forte densidade popular e menos mediações institucionais, outro tópico claramente posto pelas manifestações, não se ouviu, até agora, ne- nhuma proposta concreta. Dessa forma, cria-se um verdadeiro vazio político, que beneficia indiretamente quem está no governo.

Pedro Soares

folha de são paulo
O fardo da Petrobras
RIO DE JANEIRO - O fardo que a Petrobras terá de carregar nos próximos anos pode não ser tão pesado, se algumas afirmações da presidente da estatal, Graça Foster, dispersas nas entrelinhas, tornarem-se realidade. A executiva tem dito que o investimento da Petrobras no pré-sal será viável de acordo com a velocidade desejada para a exploração da imensa reserva de petróleo.
Se o governo quiser acelerar, a estatal não terá condições de acompanhar o ritmo, sinaliza sutilmente Graça Foster, pois a amarra legal a obriga a injetar 30% do investimento de todos os campos e ser responsável pela gestão da área. Muitos na indústria do petróleo creem que essa regra vai cair. Nos bastidores, técnicos da estatal também torcem para o fim dessa reserva de mercado.
Sem poder reajustar a gasolina para não comprometer a inflação, a Petrobras não tem fôlego de caixa para fazer aportes vultosos no pré-sal. Seu lucro caiu 39% em relação ao terceiro trimestre de 2012. Cairá novamente, se um aumento dos combustíveis não vier.
É papel do governo priorizar e agilizar a produção do pré-sal. A gigantesca reserva só terá valor para a sociedade quando o óleo começar a jorrar e uma expressiva fatia dele, convertido em dinheiro, engordar o cofre do Tesouro.
Se não for dragado pelos ralos das más administrações públicas, os 85% de royalties do pré-sal que irão para a educação serão capazes de fazer a esperada revolução.
Só com mais investimento em educação o Brasil vai conseguir sair da armadilha de ser um país de renda média --nem rico nem pobre--, com maior produtividade da sua força de trabalho.
Resta ao governo decidir acelerar esse processo ou não. Ou muda a regra que desobriga a Petrobras de estar em todos os campos do pré-sal ou permite à estatal fazer mais caixa com o reajuste da gasolina.