quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Painel Vera Magalhães

folha de são paulo

Haddad é avisado que vários partidos serão atingidos por investigação sobre desvio

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O braço político O prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, já foi avisado de que a investigação sobre desvio de recursos por auditores fiscais da prefeitura vai atingir representantes de vários partidos na Câmara Municipal. Vereadores que acompanharam a CPI do IPTU, presidida por Aurélio Miguel (PR) em 2009, lembram que Arnaldo Augusto Pereira, ex-subchefe da arrecadação que está na mira da Controladoria-Geral, atuou para que auditores subordinados a Ronilson Rodrigues não fossem convocados.
Mais um A auditora Paula Nagamati, que foi chefe de gabinete do ex-secretário Mauro Ricardo (Finanças) na gestão Kassab, também está no rol de investigados.
Manual Grampo da Operação Necator flagra dois acusados de integrar o esquema falando sobre Mário Spinelli. Um deles recomenda ao outro "cuidado" com o controlador-geral, tido como "sério". "Já até comprei o livro dele."
Munição Além da tese da Promotoria de que o reajuste de IPTU não poderia ter entrado na pauta da sessão em que foi aprovado, vereadores dizem que requerimentos foram analisados fora da ordem, o que também pode levar à anulação da sessão.
Assim... O grupo que acompanha as investigações do governo paulista sobre a ação de cartel no Metrô e na CPTM divulgará documento questionando a maneira como empresas do Estado formam preços para licitações.
... não O texto dirá que a regra usada pela CPTM até 2008 favorecia a prática de cartel, pois usava como base o valor pago na última compra. O grupo achou as explicações do Metrô insuficientes e pediu esclarecimentos.
Ufa O Palácio dos Bandeirantes avalia que, com Paulo Maluf inelegível, será mais fácil firmar canal direto com o presidente do PP, senador Ciro Nogueira (PI), com quem Geraldo Alckmin se reuniu duas vezes no último mês.
Ábaco Aécio Neves expôs a senadores tucanos em almoço ontem que sua candidatura ao Planalto pode ser vitoriosa no segundo turno, se vencer no Sul e abrir 3 milhões de votos sobre Dilma em Minas e 2 milhões em São Paulo. O mineiro levou tabelas para demonstrar a conta.
Energético Estrategistas de Eduardo Campos (PSB) calculam que a popularidade de Marina Silva vai obrigá-lo a ceder à Rede nos Estados. Pesquisa que chegou ao grupo mostra que ele salta de 10% das intenções de voto quando é citado sozinho para 25% quando a ex-senadora aparece como vice.
Test drive A Rede resiste em apoiar o nome do PSB na nova eleição para prefeito de Santana do Parnaíba, na Grande São Paulo, em dezembro. O grupo acha ruim embarcar no projeto socialista antes de formalizar o programa conjunto. A decisão será tomada segunda-feira.
Data venia Ministros do STF têm dúvida sobre a ideia de aplicar no mensalão a súmula 354, que poderia levar à prisão de condenados antes do julgamento de todos os embargos. Para eles, "fatiar" a expedição de mandados de prisão fere a exigência de trânsito em julgado.
Pra já Já a chance de êxito dos réus na análise da segunda leva de embargos de declaração é baixa. Ministros creem na rejeição dos recursos e na aplicação do "efeito Donadon", com a prisão imediata daqueles que não têm direito aos infringentes.
A calhar O governo topou protelar a votação do Marco Civil da Internet, que trava a pauta da Câmara, por risco de derrota e para evitar a aprovação de projetos que ampliam despesas da União com pagamento de salários.
*
TIROTEIO
Ao invés de fazer propaganda da atuação da Controladoria, Fernando Haddad deveria esclarecer a atuação de seu secretariado.
DO VEREADOR FLORIANO PESARO, líder do PSDB na Câmara, sobre menção a Antonio Donato (PT) na apuração de irregularidades na cobrança de ISS.
*
CONTRAPONTO
Aquecimento
Bem-humorado ao recepcionar mais um grupo de médicos cubanos, o ministro Alexandre Padilha (Saúde) não perdeu a chance de implicar com o secretário da pasta Mozart Sales, cotado para assumir seu lugar quando deixar o Executivo para disputar o governo de São Paulo.
Ao ver o auxiliar cumprimentando os repórteres que cobrem rotineiramente o setor, brincou:
- Depois não sabe por que já é chamado de ministro...
Diante das luzes das câmeras de televisão, Padilha convocou o possível substituto:
- Vem aqui para ir se acostumando!
Com BRUNO BOGHOSSIAN e PAULO GAMA
painel
Vera Magalhães é editora do Painel. Na Folha desde 1997, já foi repórter do Painel em Brasília, editora do caderno 'Poder' e repórter especial.

terça-feira, 5 de novembro de 2013

'É mais cômodo dar remédio do que fazer terapia', diz mãe

folha de são paulo

Psiquiatra diz que a medicina transformou comportamentos normais em doença


 
JULIANA VINES
DE SÃO PAULO
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A "caixa da normalidade" está cada vez menor e a culpa é do excesso de diagnósticos de doenças mentais, diz o psiquiatra americano Dale Archer, autor do best-seller "Better than Normal", recém-lançado no Brasil com o título "Quem Disse que É Bom Ser Normal?" (Sextante, 224 págs., R$ 24,90).
Archer, 57, é psiquiatra clínico desde 1987 e fundou um instituto de neuropsiquiatria em Lake Charles, Louisiana (EUA). Em 2008, ele notou que havia algo errado com os seus pacientes: a maioria dizia ter um transtorno mental e precisar de remédios --só que eles não tinham nada.
"Estamos 'patologizando' comportamentos normais. E isso não é só culpa da psiquiatria", disse Archer, à Folha, por telefone.
Um quarto dos adultos americanos têm uma ou mais doenças mentais diagnosticadas, segundo o Instituto Nacional de Saúde Mental dos EUA. "Isso está errado. Há uma gama de comportamentos que não são doença."
Em um ativismo "pró-normalidade", Archer descreve oito traços de personalidade comumente ligados a transtornos, como ansiedade, e afirma que não há nada errado com essas características, a não ser que sejam muito exacerbadas.
"O remédio tem que ser o último recurso, e não é o que eu vejo. As pessoas entram em um consultório e saem com uma receita médica. A psicoterapia é subestimada."
De outubro de 2012 a setembro de 2013, o mercado de antidepressivos e estabilizadores de humor movimentou mais de R$ 2 bilhões no Brasil, segundo dados da consultoria IMS Health. Nos últimos cinco anos, o número de unidades vendidas desses remédios cresceu 61%.
Para Antônio Geraldo da Silva, presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria, os diagnósticos aumentaram, sim, mas da mesma forma como aumentou os de outras doenças, de diabetes a câncer. "Isso é resultado da evolução da medicina e da facilidade de acesso."
O mesmo pensa o psiquiatra Fabio Barbirato, da Santa Casa do Rio de Janeiro. "Também aumentou o número de prescrições de insulina e anti-hipertensivo. Isso ninguém questiona. Mas quando se fala de mente, da psique, todos têm uma opinião", afirma.
Segundo Silva, o problema é o subdiagnóstico. Para ele, há mais deprimidos sem tratamento do que pessoas sem depressão sendo tratadas.
Barbirato dá como exemplo o TDAH (transtorno do deficit de atenção e hiperatividade). "O número de crianças com prescrição de remédios não chega a 1,5% no Brasil, e a estimativa mais baixa de presença de TDAH no país é de 1,9%. Há crianças sem tratamento."
CRITÉRIO ANTIGO
Para a psicóloga Marilene Proença, professora da USP, a sociedade está "medindo" as crianças com réguas antigas. "Os critérios de diagnóstico de TDAH esperam uma criança que brinque calmamente, que levante a mão para perguntar algo. Isso não condiz com o papel da criança na sociedade. Ela está exposta a muitos estímulos e é tudo muito competitivo", diz.
Para a psiquiatra e psicanalista Regina Elisabeth Lordello Coimbra, da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo, as pessoas estão menos tolerantes às emoções.
"Há pouco lugar para a tristeza. E a exaltação e excitação são confundidas com felicidade. Vivemos de uma forma mais estimulante, na qual emoções mais depressivas, reflexivas, não têm espaço."
De acordo com Silva, o que caracteriza a doença mental é a gravidade dos sintomas. "Deixa de ser normal quando a pessoa tem prejuízo, quando está tão triste que não consegue sair da cama."
Ele argumenta que "invariavelmente" encaminha os pacientes para a psicoterapia. E garante: nem sempre eles saem do consultório com uma receita médica.

'É mais cômodo dar remédio do que fazer terapia', diz mãe

E
 
JULIANA VINES
DE SÃO PAULO
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Kátia Christina Fonseca da Silva, 38, ajudante de cozinha, desconfia sempre que dizem que uma criança tem deficit de atenção. Sua filha, Valentina, 11, recebeu esse diagnóstico de forma errada, segundo ela.
*
"Minha filha Valentina sempre deu problema. Com seis anos, a escola me chamou para conversar.
Ela tinha tido um surto. Jogou as coisas do armário da sala no chão, puxou o cabelo da professora, agrediu outras crianças. Entrei na sala de aula e comecei a chorar, não acreditava que ela tinha feito aquilo.
Fabio Braga/Folhapress
Kátia Fonseca da Silva, 38, e sua filha, Valentina, 11, que foi diagnosticada com deficit de atenção
Kátia Fonseca da Silva, 38, e sua filha, Valentina, 11, que foi diagnosticada com deficit de atenção
Ela foi encaminhada para um psicólogo e, depois, mandaram para um psiquiatra, que disse que ela não tinha nada.
Não fiquei satisfeita. Juntei dinheiro e paguei um psiquiatra particular, que disse que ela tinha TDAH (deficit de atenção) e precisava de remédio. Fiquei desesperada. A caminho da farmácia, encontrei uma amiga, que me convenceu a não comprar o remédio. Disse que o mesmo tinha acontecido com o filho dela.
Comecei a me perguntar se o problema não estava na minha família. Na época, eu estava me separando e trabalhava demais.
Passei a dar mais atenção para ela, a passar mais tempo junto e, devagar, as coisas começaram a melhorar.
Ela ainda dá trabalho, mas é o mesmo trabalho que toda criança. Ela tem o gênio forte. Acho que, quando era mais nova, queria chamar a atenção.
Depois de tudo, comecei a participar de reuniões na escola para conversar com os pais. Quando dizem que uma criança tem TDAH, penso, será que isso está certo?
É mais cômodo dar um remédio do que fazer uma terapia, mudar o comportamento.
Acho que as crianças são nosso espelho. Será que a agitação deles não é culpa nossa?"

Mirian Goldenberg

folha de são paulo
Perdoa-me por me traíres
A maioria das mulheres afirma que não trairia caso suas necessidades afetivas e sexuais fossem satisfeitas
Na minha pesquisa sobre casamento e fidelidade, 60% dos homens e 47% das mulheres disseram que foram infiéis.
Classifiquei os discursos masculinos em cinco tipos principais.
Os "poligâmicos por natureza" dizem que amam e desejam suas esposas, mas não podem trair o próprio desejo de aventura, novidade, sedução. Eles não se sentem culpados por trair, pois consideram que são fiéis à própria natureza.
Os "poligâmicos por oportunidade" dizem que traem em viagens de trabalho, festas de fim de ano: "porque a mulher deu mole", "não consegui dizer não","foi só brincadeira", "foi uma noite só". Eles acreditam que sexo com garotas de programa não é infidelidade.
Os "monogâmicos infiéis" afirmam que não queriam trair, mas tiveram relações extraconjugais em momentos de crise pessoal ou em uma crise do casamento. Eles se sentem culpados até resolver a situação, quando decidem se separar da esposa ou da amante.
Os "monogâmicos fiéis" dizem que não traem suas esposas, pois não querem ser desleais: "Quero que a minha esposa seja também minha amante, minha parceira, minha melhor amiga".
Os "monogâmicos por preguiça" acham que trair dá muito trabalho: "Uma única mulher já exige demais e reclama de tudo, imagina duas?".
Já as mulheres dizem que querem ser únicas para os seus maridos e querem também que eles sejam únicos para elas. Elas dizem que só foram infiéis porque o marido não satisfazia suas necessidades de atenção, escuta, romance, carinho, sexo, intimidade, diálogo, elogios etc.
É óbvio que também encontrei mulheres que traíram por sentir desejo por outro homem, em momentos de crise do casamento ou até mesmo por "pintar uma oportunidade". Mas a maioria justificou a própria infidelidade afirmando que não trairia caso suas necessidades afetivas e sexuais fossem satisfeitas pelo marido.
Uma famosa peça de Nelson Rodrigues parece perfeita para os homens que não conseguem satisfazer os incontáveis desejos femininos e, portanto, são considerados os verdadeiros culpados por serem traídos. Eles deveriam, então, assumir a responsabilidade pela infidelidade feminina e pedir a elas (ou até mesmo implorar, como queria o dramaturgo): "Perdoa-me por me traíres".

    Lidando com o aprendizado - Rosely Sayão

    folha de são paulo

    Aprender

    DE SÃO PAULO
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    Há muitos pais que reclamam do comportamento dos filhos em relação à vida escolar. Em geral, porque eles não se esforçam, acham muito chato aprender e dizem que não gostam de estudar; também porque resistem até o fim para sentar em casa e realizar a tarefa e/ou rever a matéria; e porque não conseguem prestar atenção. Além desses, há os que afirmam que o filho apresenta "dificuldade de aprendizagem".
    Em relação a essa última questão, é preciso considerar que essa frase é vazia, sem sentido. Aprender algo novo é sempre difícil, por mais que a pessoa queira ou goste. Para aprender, é preciso reconhecer a própria ignorância, e isso tem sido cada vez mais difícil no nosso mundo.
    Em resumo: todos nós temos dificuldades de aprendizagem, por isso seria interessante deixarmos de lado esse rótulo quando nos referimos aos mais novos.
    Retomemos as primeiras razões das reclamações dos pais e vamos pensar no quanto eles mesmos colaboram para que tudo aquilo aconteça com o filho, sem que eles percebam sua contribuição.
    E, de largada, vamos lembrar: quando a criança inicia seus estudos formais, ela terá de persistir, se esforçar, encarar o erro e procurar não repeti-lo, aprender a "grudar a bunda na cadeira" cada vez por mais tempo e a seguir um processo.
    A maioria dos pais reconhece tais requisitos mas, na hora de tentar passar aos filhos, comete um equívoco: o de dizer à criança o que ela precisa fazer, na esperança de que ela apreenda as lições dos pais e passe a aplicá-las nos estudos. Costuma ser em vão essa estratégia, porque as crianças continuam com os mesmos comportamentos.
    É que elas precisam aprender isso com os pais no cotidiano. Para ilustrar essa questão, vou usar um exemplo muito presente na vida dos mais novos: os convites para comparecer a festas de aniversários. Aliás, nunca antes as crianças tiveram tantas demandas para eventos sociais. Será bom para elas essa alta frequência? Ainda não sabemos.
    Qual costuma ser o comportamento das crianças em relação aos convites que recebem? Primeiramente, elas não pensam se querem mesmo ir ou não. Desconfio que elas acham que o comparecimento a essas festas é obrigatório, como ir à escola.
    Elas não pensam porque os pais não as levam a isso. Perguntar ao filho qual ou quais motivos ele tem para querer ir à festa pode ser um bom começo. Ele gosta do colega? Tem boa convivência com ele? Quer brincar com outras crianças? Entretanto, o motivo mais utilizado, o de que "todo mundo vai", não deve ser suficiente para convencer os pais.
    Depois disso, sair em busca de um presente para o colega. Pensar na idade dele, do que ele gosta, de suas características, usar uma faixa de preço para escolher, ir com os pais até a loja e --por que não?-- contribuir com parte de sua mesada são questões que também ajudam a criança a vivenciar um processo do começo ao fim dele.
    Ir a uma festa exige uma preparação: não é apenas ir e se divertir, não é verdade?
    Muitas crianças só se defrontam com os processos da vida na escola e, por isso, resistem tanto, reclamam tanto, acham tão chato. A escola tem sido, para muitas delas, a única instituição a exigir delas dedicação, esforço, perseverança, espera, contenção, planejamento etc.
    Desde antes dos sete anos a criança já pode, em família, começar a vivenciar todas essas questões. Afinal, pertencer a uma família já é um processo que exige muito, não é?
    Mas parece que temos deixado a criança concluir que pertencer a uma família é puro desfrute e que aprender algo deve ser fácil.

    Museus apostam na nudez para atrair público

    folha de são paulo
    DOREEN CARVAJAL
    DO "NEW YORK TIMES"
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    The New York Times
    Nas últimas semanas, o programa cultural mais popular da capital francesa tem sido uma exposição no Museu d'Orsay que confronta os espectadores com imagens de um homem nu sobre uma laje fria em um necrotério e do rapper Eminem nu segurando um fogo de artifício diante do sexo.
    As multidões estão vindo, mais de 4.500 pessoas por dia em média, o triplo de uma exposição na mesma época no ano passado, segundo números do museu.
    A exposição --que inclui obras de Picasso e Edvard Munch, assim como nus mais contemporâneos de David Hockney, Andy Warhol e Robert Mapplethorpe--, provocou um amplo leque de reações dentro e fora da França.
    "Uma exposição confusa", avaliou o jornal francês "Le Monde", "despida de qualquer reflexão histórica". A revista de beleza feminina "Marie Claire" a declarou o "evento mais quente" do outono.
    Kenzo Tribouillard/AFP
    Pintura do russo Alexendre Alexandrovitch Deineka na exposição 'Masculin/Masculin', no Museu D'Orsay, em Paris
    Pintura do russo Alexendre Alexandrovitch Deineka na exposição 'Masculin/Masculin', no Museu D'Orsay, em Paris
    Badalação é o que várias grandes instituições europeias buscam neste outono, esperando que um foco sobre sexo estimule visitantes e amplie sua atração.
    O Museu Jacquemart-André também está provocando os viajantes de trem em Paris com cartazes de um nu feminino nebuloso, rotulado "desejo". Ele apresenta uma exposição de pinturas inglesas intitulada "Desejo e Prazer na Era Vitoriana".
    Do outro lado do canal, o Museu Britânico organizou uma exposição inédita de shunga japonesas do século 17, antes proibidas: xilografias eróticas de homens e mulheres copulando.
    A exposição, "Shunga: Sexo e Prazer na Arte Japonesa", adverte os visitantes: "Aconselha-se orientação paterna".
    Durante anos, os objetos ficaram escondidos em um armário secreto de artigos provocantes, mas hoje o Museu Britânico os considera tão rentáveis que criou uma linha de mercadorias "shunga": creme para as mãos Kabuki, velas de soja e brilho para lábios de chá verde. As exposições tiveram ingressos esgotados no primeiro fim de semana de outubro.
    O Museu d'Orsay, como outras instituições culturais com subsídios estatais cada vez menores, quis expandir sua base para pessoas mais jovens e visitantes além de Paris com exposições mais arriscadas. Além dos cartazes no metrô, o museu contratou um diretor para criar videoclipes.
    A direção do museu ficou surpresa quando soube que seu vídeo promocional da exposição havia virado tabu para alguns espectadores a milhares de quilômetros de distância. O YouTube colocou nele o equivalente a uma proibição para 18 anos, e os espectadores menores que tentaram vê-lo por meio de suas contas no Google não tiveram acesso.
    Gareth Evans, porta-voz do YouTube, escreveu em um e-mail: "Temos de realizar um equilíbrio delicado com os espectadores mais jovens para que eles não consigam acessar vídeos que poderiam ser inadequados".
    Mais tarde, o YouTube abrandou sua posição e tornou o vídeo, que atraiu mais de 110 mil visitas, acessível a todos. (Ele inclui uma mensagem sobre imagens potencialmente ofensivas.)
    Quanto à exposição em si, "nosso objetivo não é provocar, ser militante ou gerar um escândalo", disse Amélie Hardivillier, porta-voz do Museu d'Orsay. "Temos de procurar pessoas de maneiras diferentes e começamos com 'Masculin/Masculin'. É uma exposição arriscada."

    Tribunal suspende direitos políticos de Maluf por cinco anos

    folha de são paulo
    Deputado vai recorrer contra a decisão, que ameaça impedi-lo de se candidatar de novo nas eleições de 2014
    Desembargadores culpam ex-prefeito por desvios na construção do túnel Ayrton Senna; ele nega irregularidades
    MARIO CESAR CARVALHODIÓGENES CAMPANHADE SÃO PAULOO deputado federal Paulo Maluf (PP-SP) foi condenado ontem pelo Tribunal de Justiça de São Paulo a pagar multa de R$ 42,3 milhões pelo superfaturamento na construção do túnel Ayrton Senna e à suspensão de seus direitos políticos por cinco anos.
    A decisão, proferida de forma unânime por três desembargadores do tribunal, pode impedi-lo de disputar as eleições de 2014. Ainda cabe recurso, e Maluf já anunciou que contestará a sentença no Superior Tribunal de Justiça.
    Os efeitos da decisão de ontem não são automáticos. Enquanto Maluf estiver recorrendo, não haverá decisão definitiva da Justiça e ele poderá brigar nos tribunais pelo direito de disputar o pleito.
    A Lei da Ficha Limpa impede que políticos condenados por um órgão colegiado participem de eleições, mas sua aplicação depende da opinião dos juízes eleitorais. A lei prevê a suspensão dos direitos políticos por oito anos para políticos ficha-suja que tentam se candidatar.
    Para os advogados de Maluf, ele não poderá ser enquadrado na Ficha Limpa porque sua condenação no caso do túnel Ayrton Senna não apontou enriquecimento ilícito nem dolo --quando há intenção de causar dano--, duas condições exigidas pela lei.
    Mas essa é outra questão que poderá depender de interpretação da Justiça Eleitoral. "Numa condenação por superfaturamento, não dá para afastar nem o dolo nem o enriquecimento ilícito. Isso é uma consequência natural do ato", disse o juiz Márlon Reis, um dos autores da lei.
    O caso de Maluf só será analisado pela Justiça Eleitoral em 2014, se ele decidir se candidatar, na hora em que apresentar o pedido de registro de sua candidatura. Nesse momento, a Procuradoria Regional Eleitoral de São Paulo, candidatos ou partidos adversários poderão impugnar sua candidatura.
    Caberá então ao Tribunal Regional Eleitoral analisar se a condenação de ontem se enquadra nos critérios da Lei da Ficha Limpa para torná-lo inelegível. Se Maluf for barrado, ele ainda poderá recorrer ao Tribunal Superior Eleitoral e disputar as eleições.
    A desembargadora Teresa Ramos Marques, relatora do caso do túnel Ayrton Senna na 10ª Câmara de Direito Público do TJ, considerou Maluf responsável pelo superfaturamento da obra, inaugurada em 1995, em sua gestão como prefeito da capital paulista.
    "Constitui prova de que Paulo Maluf colaborou para a execução da fraude a nomeação de Reynaldo de Barros para a presidência da Emurb e, cumulativamente, para a Secretaria Municipal de Obras e Vias Públicas", disse Marques em seu voto.
    "Não existe fraude sem dolo. A visão da desembargadora mostra isso", disse o promotor Roberto Livianu, que sustentou o voto da acusação.
    A multa de R$ 42,3 milhões deve ser paga solidariamente por Maluf, pelo espólio de Reynaldo de Barros (1931-2011), pelas construtoras CBPO e Constran e por três funcionários da Emurb.
      OUTRO LADO
      Decisão não barra ex-prefeito, afirma defesa
      DE SÃO PAULOA defesa do deputado Paulo Maluf (PP-SP) divulgou ontem dois comunicados sustentando que a condenação proferida pelo Tribunal de Justiça de São Paulo não o impede de participar das próximas eleições, em 2014.
      No primeiro texto, afirmou que, para um político ser enquadrado na Lei da Ficha Limpa, a condenação por improbidade administrativa deve necessariamente ser proferida por órgão colegiado (por mais de um juiz), determinar a suspensão de direitos políticos e que o ato tenha sido praticado na modalidade dolosa, cause prejuízo ao erário e enriquecimento ilícito do agente público.
      "No caso em questão o Tribunal de Justiça não condenou o deputado Paulo Maluf pela prática de ato doloso, como também não o condenou por enriquecimento ilícito", disseram seus advogados.
      Eles afirmaram que Maluf irá recorrer ao STJ (Superior Tribunal de Justiça) e ao STF (Supremo Tribunal Federal).
      Na segunda nota, a defesa declarou que "só a Justiça Eleitoral pode examinar acusação com base na Lei da Ficha Limpa". Afirmou ainda que a eventual condenação só existe com o trânsito em julgado da sentença, quando não houver mais recursos.

        Vladimir Safatle

        folha de são paulo
        O terrorista é você
        Pode um governo ter informações sigilosas de seus cidadãos? Essa pergunta deveria estar atualmente no centro dos debates, pois 2013 será lembrado como o ano em que descobrimos o fim inelutável da privacidade. Não houve fato mundial mais paradigmático em 2013 do que as revelações a respeito da extensão cinematográfica do sistema de espionagem norte-americano.
        A privacidade foi, entre outras coisas, uma invenção política ligada à defesa da autonomia dos sujeitos em relação ao poder governamental. Mas, como diz o governo norte-americano, "Todo mundo espiona". O que vimos, no entanto, não foi "espionagem" como a conhecemos, ou seja, essa procura de informações estratégicas sobre a vida política e econômica por meio do monitoramento das atividades de políticos, empresários e congêneres.
        O que Edward Snowden nos fez ver, e isso fica cada vez mais claro com o passar dos dias e das descobertas, está para além da espionagem. O ato de monitorar toda e qualquer pessoa em toda e qualquer circunstância é, na verdade, um novo paradigma de governo.
        Para controlar pessoas, não preciso estar atento a todos os seus movimentos. Necessito apenas que elas acreditem que, a qualquer momento, posso entrar em seu espaço privado, abrir a porta de seu quarto e quebrar todos os cadeados. Posso armazenar 70 milhões de telefonemas em um mês e nunca saber o que fazer com tudo isso. Não importa. O que importa é você saber que seu telefonema pode, Deus sabe lá por que, acabar no espaço público.
        No fundo, isso mostra como a caça ao terrorismo sempre foi um pretexto fraco e uma manobra diversionista. Na verdade, o terrorista é você. O verdadeiro alvo era controlar você, dissolver os discursos que ainda faziam da privacidade uma defesa e fazer você sentir a desproporção brutal entre seu poder e o poder da plutocracia que tomou de assalto boa parte dos governos ocidentais.
        Como mostrou a França quando criou um grande banco de dados de segurança nacional chamado Hadopi, começa-se fichando pretensos terroristas e termina-se fichando sindicalistas, manifestantes, jornalistas e ativistas.
        Nesse sentido, a melhor defesa é proibir que governos tenham direito a armazenar informações sigilosas de seus cidadãos. Todos os cidadãos devem ter o direito a ter acesso a todas as informações armazenadas sobre eles que estejam em posse dos governos.
        As dificuldades produzidas em processos jurídicos por uma ideia dessa natureza são infinitamente menores que a corrosão --produzida pela transformação das vidas privadas em espaços de extrema vulnerabilidade-- do pouco que tínhamos de democracia.