quinta-feira, 14 de novembro de 2013

José Simão

folha de são paulo
Ueba! Palmeiras levou no Pikachu!
Eleição em São Paulo parece eleição no Líbano: Maluf, Haddad, Kassab, Alckmin, Temer! Efeito 25 de Março!
Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Manchete do "Meia Hora": "Calor entra rasgando e ultrapassa Flu e Vasco". Onda de calor! Bafo do inferno! Eu dormi no freezer ligado no modo nevar. E uma amiga dormiu no chão, com a porta do frigobar aberta! E a Argentina não serve mais nem pra mandar frente fria!
E a piada pronta do dia: o Palmeiras levou um gol do Pikachu. O Porco levou no Pikachu! Tá difícil evoluir pra Raichu! Rarará.
E diz que o Pato acertou o gol porque a bola era de fisioterapia!
E outra do "Meia Hora": "Morena diz que Bieber tem bibão". E o Bieber disse que não volta mais ao Brasil! Gongaram ele no Brasil: foi pro show e levou uma garrafa d'água na cabeça, tentou levar puta pro quarto e foi expulso do hotel, pichou o muro e foi procurado pela polícia.
E dizem as más línguas que essa morena que dormiu com ele ainda tentou enfiar o dedo no fiofó dele! Rarará! Gongada Federal!
E esta: "Dilma deve colocar Mercadante na Casa Civil e dar pastas pro PMDB!". PMDB? De novo? PMDB quer dizer Pegamos Ministérios de Baciada!
O PMDB quer o Ministério da Saúde, da Doença, das Férias, da Entregação Nacional, o ponto do pipoqueiro da praça dos Três Poderes e indicação de quatro filhos pro "BBB 15"!
Se eu fosse a Dilma, eu diria: "Querem pastas? Toma logo três: Close-Up, Colgate e Sensitive". PMDB pega três pastas: Close-Up, Colgate e Sensitive! Rarará!
E a máfia dos fiscais em CorrupÇão Paulo? O Haddad tava investigando o Kassab e a investigação bateu num secretário dele. Investigação Bumerangue: você atira e volta! POIM! Na testa! Rarará.
E o mais engraçado: o cara tava investigando ele mesmo! Rarará. Isso foi Malddad do NumKassab! Coisa de primos, libaneses. Essa rixa vai terminar no Habib's!
Eleição em São Paulo parece eleição no Líbano: Maluf, Haddad, Kassab, Alckmin, Temer! Efeito 25 de Março! E é o que sempre digo: não tem virgem na zona! Rarará! E essa máfia roubou R$ 500 milhões! Ou seja, dez mensalões!
É mole? É mole, mas sobe!
Os Predestinados! Direto de Ilhéus, o zootecnista especializado em reprodução animal: Bráulio Pinto! Parabéns pelos dois! Rarará! E essa especialista em controle de peso: Linda Bacon! Rarará!
Nóis sofre, mas nóis goza!
Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

    Mônica Bergamo

    folha de são paulo

    PT quer que Haddad se distancie das investigações de corrupção na Prefeitura

    Ouvir o texto

    O PT está convencido de que Fernando Haddad deveria tomar distância regulamentar das investigações de corrupção na Prefeitura de SP. Dirigentes da legenda saíram de conversa com ele anteontem, contudo, desanimados: o prefeito deu sinais de que, ao contrário da expectativa, manterá o pé no acelerador.
    TÔ ESCUTANDO
    Participaram do almoço, entre outros, Rui Falcão, presidente do PT, Emídio de Souza, presidente do PT de SP, e Antonio Donato, que pediu demissão anteontem. "Haddad ouve, mas segue dando a maior força para a controladoria", diz um dos dirigentes. A CGM (Controladoria-Geral do Município), criada pelo prefeito, está no centro do desmantelamento da máfia dos fiscais.
    IMPOSSÍVEL DAR CERTO
    Na visão de parte do PT, a controladoria estaria hoje "fora de controle". E tamanha autonomia só pode resultar em algo que, internamente, petistas chamam de "VDM", ou "Vai Dar M...". Investigações como a dos fiscais atingem grande parte do espectro político, jogando a administração em crise permanente --como a que agora atravessa, com disputas com Gilberto Kassab e a degola de Antonio Donato.
    EM SILÊNCIO
    Uma das esperanças do partido é a de que Haddad pelo menos diminua o ritmo de entrevistas sobre o tema. Com isso, ele ajudaria a tirar os holofotes do escândalo. Na visão de parte da legenda, nem as "pautas boas" da administração municipal estariam mais tendo destaque.
    AMERICANIZADA
    A atriz Tainá Müller, que será uma fotógrafa homossexual na nova novela das oito, "Em Família", vai alongar os cabelos para o papel. A Globo trouxe de NY o figurino da personagem, Marina.
    O NARIGÃO DO ARTISTA
    Bob Sousa
    O diretor Zé Celso Martinez Corrêa é uma das personalidades retratadas pelo fotógrafo Bob Sousa para o livro "Retratos do Teatro", que será lançado no dia 27.
    *
    "Geralmente, não gosto de me ver em fotos. Fujo delas", diz o diretor. "Mas as que capturam meu eu artista me chamam atenção até à adoração. É o caso desta. Bob incorporou um pintor renascentista, um Dante Alighieri." A foto foi feita em 2010. "Virou uma obra de arte", elogia Zé Celso.
    *
    Por causa do retrato, ele conta que aceitou enfim o próprio nariz, que até então o incomodava. "Passei a amar meu narigão torto, pois ele foi desenhado como um objeto riscado por Da Vinci."
    FORA DA TELINHA
    Ana Paula Padrão se reuniu com os donos da Rede TV!, Almicare Dallevo e Marcelo de Carvalho, nesta semana. Foi convidada a voltar à telinha com um programa de entrevistas ou na bancada. Ainda firme no propósito de não retornar à TV, ela não deve aceitar o convite.
    SEM DOR
    E a apresentadora se submeteu a uma cirurgia da coluna há quatro semanas, para se livrar de uma artrose congênita que provocava dores intensas. Já está liberada para voltar à rotina e viajar.
    APLAUSOS
    O Theatro Municipal vendeu 112 mil ingressos até agora (quantidade 83% maior que a de todo o ano passado) e arrecadou R$ 3,65 milhões. Só a ópera "Aída", em agosto, teve 15 mil espectadores. "É um recorde histórico", diz o diretor José Luiz Herencia.
    COR E FORMA
    A artista plástica Helena Carvalhosa recebeu convidados anteontem na inauguração de sua exposição, na galeria Casa Contemporânea. As antropólogas Bibia Gregori e Esther Hamburger, o professor Dieter Heidemann e Brasília Arruda Botelho, consultora em cerimonial, estiveram no evento. Também passaram por lá o engenheiro Antonio Carlos Lima, a escritora Margarida Gordinho e as artistas plásticas Renata Pelegrini e Beth Tomé.

    Exposição de Helena Carvalhosa

     Ver em tamanho maior »
    Bruno Poletti/Folhapress
    AnteriorPróxima
    A artista plástica Helena Carvalhosa recebeu convidados na abertura de sua exposição, na galeria Casa Contemporânea, na terça (12)
    ALIMENTOS
    Rosane Collor vai recorrer da decisão do STJ de limitar a três anos o prazo em que continuará a receber a pensão de 30 salários mínimos (cerca R$ 20 mil) paga pelo ex-marido, Fernando Collor (PTB-AL). "Houve polêmica entre os ministros sobre a questão. Com 50 anos, será muito difícil a reinserção dela no mercado de trabalho. Sem falar no ônus de ser ex-Collor", afirma o advogado Weider Lacerda.
    ALIMENTOS 2
    A defesa de Rosane festeja, por outro lado, o fato de o STJ ter acatado a tese de "alimentos compensatórios", criando jurisprudência. Ao se divorciar, ela não teve direito à partilha do patrimônio por ter sido casada em regime de separação de bens. A corte manteve a concessão a ela de dois apartamentos e dois veículos, avaliados em R$ 2 milhões, a título de indenização.
    ARTE EM MOVIMENTO
    A Galeria Vermelho apresentou a mostra de performance "Verbo 2013", que reuniu trabalhos de artistas brasileiros e estrangeiros. As artistas plásticas Santarosa Barreto, Vick Garaventa e Vivian Caccuri foram ao local.

    Mostra 'Verbo 2013'

     Ver em tamanho maior »
    Bruno Poletti/Folhapress
    AnteriorPróxima
    A artista Vivian Caccuri se apresentou na mostra de performance "Verbo 2013", na terça (12), na Galeria Vermelho
    CURTO-CIRCUITO
    Lucas Santtana canta repertório romântico hoje no projeto Brisa, do Riviera Bar, com curadoria de Fernanda Couto. 18 anos.
    O Encontro Internacional Públicos da Cultura vai até hoje, no Sesc Vila Mariana.
    A peça "Depois da Vida" está em cartaz no Club Noir às quintas e sextas, às 21h. Até o dia 24 de novembro. 14 anos.
    A Cia. Os Melhores do Mundo inicia hoje série de apresentações gratuitas da peça "Tira - Codinome Perigo" para alunos de escolas públicas em Brasília.
    com ELIANE TRINDADE, JOELMIR TAVARES, ANA KREPP e MARCELA PAES
    Mônica Bergamo
    Mônica Bergamo, jornalista, assina coluna diária publicada na página 2 da versão impressa de "Ilustrada". Traz informações sobre diversas áreas, entre elas, política, moda e coluna social. Está na Folha desde abril de 1999.

    Contardo Calligaris

    folha de são paulo
    Arte fora de estação
    Para as crianças de hoje, a arte não precisa representar ou contar, ela pode ser um gesto, um conceito
    A Bienal de Arte de Veneza dura de junho a novembro, a cada dois anos. Na semana de abertura, há inúmeras festas de inauguração --a maioria regada ao pior prosecco produzido na região do Vêneto e outras poucas em que a bebida e a comida são toleráveis.
    Nessa época, Veneza é um formigueiro de artistas, críticos, investidores, jornalistas, curadores, cicerones para grupos de senhoras sedentas de experiências "avançadas" no campo da arte --e, embora não seja Carnaval, um número equivalente, se não maior, de pessoas disfarçadas de artistas, críticos, investidores, jornalistas etc.
    Graças a essa fauna, a semana de abertura é ótima se você deseja encontrar ou consolidar sua fé na relevância da arte contemporânea.
    É óbvio que os artistas se esforçam sempre para que sua obra, sua performance ou sua instalação constituam um evento. Ora, na semana de abertura, todas as categorias que citei se agitam para convencer o mundo de que a Bienal é mesmo um grande acontecimento.
    Três gatos avançam sambando pela via Garibaldi? Pois é, a Bienal rende homenagem ao tropicalismo, ao pós-tropicalismo, ou ao pós-pós-tropicalismo. Tem alguém mugindo deitado num pavilhão dos Giardini? Pois é, assim se expressa a dor do mundo ou, por que não, a saudade do leite materno.
    Agora, se você não precisar acreditar na arte contemporânea, arrisque-se a visitar a Bienal em novembro. Mesmo fora de estação, há turistas, artistas e, sobretudo, alunos: de manhã, é fácil esbarrar numa turma, levada por um par de professores.
    Gilad Ratman apresenta o registro filmado da chegada de uma equipe de espeleólogos que penetram no pavilhão de Israel pelo esgoto, furando o chão; num outro registro, cada espeleólogo esculpe na argila seu autorretrato e começa a gritar com ou contra sua própria imagem. Os professores que acompanhavam a turma não propuseram interpretações nem apreciações. As crianças aprovaram. Aos 12 anos, como eu teria reagido?
    Will Gompertz (no começo de seu ótimo "Isso é Arte? 150 Anos de Arte Moderna - Do Impressionismo Até Hoje", Zahar) conta que, em 1972, a Tate Gallery de Londres comprou uma obra feita de 120 tijolos, e a coisa deu protestos e controvérsias.
    Trinta anos mais tarde, todo o mundo achou normal a compra de uma obra que consistia num pedaço de papel com as instruções caso alguém quisesse repetir uma performance. Entre as duas datas, uma mudança, não da arte, mas de gerações.
    Não adianta eu ter escrito a profusão sobre o que aconteceu nas artes entre o século 19 e o 20. Assim como não adianta eu querer defender o "ready-made", o minimalismo, a "arte povera", o espacialismo ou a arte conceitual: quase irremediavelmente, eu sempre preferirei as obras que representam o mundo e contam uma história.
    As crianças com que cruzei no pavilhão de Israel talvez sejam diferentes de mim, e, para elas, a arte possa ser um gesto, uma intenção, um conceito. É bom ou ruim? Não sei.
    Seja como for, desta vez, as duas gerações, a minha e a das crianças, puderam gostar da Bienal. Explico: a Bienal de Veneza comporta os pavilhões (em que cada nação escolhe seus artistas) e uma exposição central organizada por um curador.
    O de 2013, Massimiliano Gioni, escolheu o tema "O Palácio Enciclopédico" e realizou uma mostra inesquecível, que talvez ajude a entender por que se tornou difícil contar e representar.
    No Arsenale, a mostra começa com a maquete do edifício projetado por Marino Auriti, um mecânico ítalo-americano que queria construir um arranha-céu que contivesse o registro de todo o saber da humanidade. Nos Giardini, a mostra começa com o original do "Livro Vermelho": 16 anos de "imaginação ativa" de Carl Gustav Jung, na tentativa heroica de explorar cada canto de sua própria mente.
    No século 14, os 400 manuscritos da biblioteca de Francesco Petrarca eram o compêndio do saber humano. Pouco mais de cem anos mais tarde, os livros impressos se multiplicavam, uma incrível diversidade humana era revelada pelas grandes descobertas, e a própria Terra se perdia num universo infinito.
    Hoje, a internet alimenta mais um sonho de palácio enciclopédico (virtual: todo nosso saber on-line), mas a sensação que prevalece (ao menos em mim) é que há cada vez menos totalidade possível --só fragmentos, numa expansão parecida com a do Big Bang.
    Talvez por isso seja difícil, para as artes, contar histórias ou representar o mundo.

    quarta-feira, 13 de novembro de 2013

    2013 está prestes a se tornar um dos anos mais quentes da história


    GIULIANA MIRANDA
    ENVIADA ESPECIAL dA  FOLHA DE SÃO PAULO À VARSÓVIA
    Ouvir o texto
    Conferência do clima COP 19O ano ainda nem acabou, mas as temperaturas registradas até agora já colocam 2013 entre os dez anos mais quentes desde que as medições começaram, em 1850.
    A informação é do mais novo relatório da Organização Meteorológica Mundial da ONU, que lançou o documento nesta quarta-feira (13) simultaneamente em Genebra e em Varsóvia, durante COP-19 (conferência mundial do clima).
    Os dados só levam em consideração o período entre janeiro e setembro, mas já deixam 2013 empatado com 2003 como o sétimo ano mais quente do período analisado, aproximando-se da tendência de períodos mais quentes da década anterior. A temperatura média nos nove meses analisados ficou 0,48º C mais alta do que a média registrada entre 1961 e 1990.
    Em 2011 e em 2012, as temperaturas subiram menos do que a tendência, segundo o grupo, devido à presença do fenômeno La Niña, que ajudou a frear o aquecimento. Até agora, em 2013, não houve traços de sua atividade interferindo nas temperaturas.
    Jerry Lengossa, vice secretário-geral da WMO, destacou que, no período, eventos extremos e tempestades se intensificaram.
    "Isso está de acordo com o que o mais recente relatório do IPCC [painel de mudanças climáticas da ONU], lançado em setembro, indica: a intensificação de eventos extremos", afirmou.
    Lengossa destacou a quantidade alta de grandes tempestades registradas no período analisado.
    "A intensidade está diretamente relacionada às condições em que essas tempestades se formam, que estão mudando com o aumento de temperaturas", completou o representante da WMO.
    O documento também reforça a tendência de alterações na dinâmica de chuvas em várias partes do planeta. A ONU destaca a seca no Nordeste do Brasil, que neste ano foi ainda maior do que nos anos anteriores. Diversas regiões da África, sobretudo no sul, Namíbia e Angola também tiveram problemas sérios devido à ausência de chuva.
    Já em algumas regiões da Ásia, o problema foi justamente o contrário: choveu como nunca. Chuvas extremas também aconteceram na Europa, em especial na Alemanha, Polônia, República Tcheca, Áustria e Suíça, causando inundações.
    GELO
    Depois dos níveis mais baixos da história, registrados no ano passado, a camada de gelo do Ártico apresentou ligeira recuperação em 2013. Segundo o grupo, no entanto, não parece haver muitos motivos para comemorar.
    Mesmo com a recuperação, 2013 registrou um dos níveis de gelo mais baixos. Desde o início do monitoramento por satélite, em 1979, a década entre 2001 e 2010 teve a maior taxa média de derretimento anual do gelo do Ártico. Todos os sete níveis mais baixos registrados aconteceram desde 2007.
    Do outro lado do globo, o gelo da Antártida continuou aumentando. Pelo segundo ano consecutivo, o nível de gelo em setembro atingiu o nível recorde de 19,47 milhões de metros quadrados. Isso significa 30.000 quilômetros a mais do que o recorde estabelecido em 2012 e uma alta de 2,6% sobre a média entre 1981 e 2010.
    De maneira geral, o gelo vem aumentando no polo Sul. Segundo os cientistas, isso ocorre por mudanças na circulação atmosférica nas últimas três décadas, que resultaram em alterações nos padrões de vento no entorno da Antártida. Também é possível que a mudança esteja relacionada a alterações no padrão de circulação dos oceanos.
    A dramática diferença entre o gelo nos dois polos se dá por sua geografia. O Ártico é água cercada de terra. Já a Antártida é terra cercada por água do oceano. Padrões de vento e correntes oceânicas tendem a isolar a Antártida das tendências globais do clima, o que a mantém gelada.

    Francisco Daudt

    folha de são paulo
    Pais verdadeiros
    Precisamos zelar para que a criança tenha quem se disponha a desempenhar as funções de pai e de mãe
    "Quem são os pais verdadeiros dele?" Se a pergunta se aplica a seu cão, a resposta vem sem hesitar: "Somos nós!"
    Mas nossa espécie tem a possibilidade de investimento parental genético (ou seja, a possibilidade de que os geradores do filhote invistam em sua criação, coisa que mal acontece com os cães).
    Ao mesmo tempo, para humanos, é vital a criação por longo tempo, já que somos os animais que nascem mais despreparados para enfrentar a vida com autonomia.
    A criança precisa que exerçam junto a ela uma função de mãe (uma espécie de continuação do ventre, provendo-lhe alimento, calor físico e afetivo e nutrição) e uma função de pai (a leitura atenta da criança, o respeito e o incentivo de suas crescentes capacidades de autonomia para viver no mundo por conta própria). Função de mãe atende necessidades; a de pai, capacidades.
    Tais funções podem ser exercidas por quaisquer pessoas habilitadas para tanto, seja material, seja afetivamente. A habilitação afetiva tem que ser muito especial, já que, para o melhor desenvolvimento da criança, um tipo de amor raro é necessário: ele precisa ser desprovido de cobrança de reciprocidade. Algo próximo do amor incondicional.
    Quando os pais genéticos desempenham esse papel, exercem uma louvável estratégia de reprodução bem-sucedida, que parece ser a "natural".
    Mas essa "naturalidade" é enganosa --nem é a única. Em termos crus, a natureza providencia outras estratégias de reprodução, como o estupro, o rapto, o inseminador cafajeste que engravida e some, a gestante que emprenha por ignorância, por sedução, pelo calor do momento, ainda que seja totalmente despreparada para o exercício das funções de que a cria necessitará.
    A natureza está longe de se interessar pela felicidade, que é anseio nosso. O que ela quer é o "crescei e multiplicai-vos", não importa como.
    Quando pensamos no melhor interesse da criança, e nessa direção voltam-se as políticas públicas, apoiadas na legislação de nosso país, precisamos estar atentos em zelar para que ela tenha quem se disponha a desempenhar as funções de pai e de mãe.
    Alguém, ou mais de uma pessoa, que tenha as condições materiais e afetivas, junto ao necessário desejo intenso desse amor incondicional, esse brutal investimento de tempo, zelo, preocupações e ocupações programados para décadas.
    É nesse momento que a adoção entra. Na ausência de capacidade/vontade dos pais genéticos de exercer esse investimento monumental, eles reconhecem suas limitações e fazem o maior gesto de amor de que são capazes, desapegando-se da cria e passando o bastão da paternidade àqueles que provaram junto ao Estado sua capacitação paternal.
    Ou o próprio Estado intervém, no melhor interesse da criança, reconhecendo que gerar um cidadão não significa ter sua propriedade, como se ele fosse um escravo de antes da abolição, e imporá que o bastão da paternidade seja passado aos que se provaram capazes de levá-lo.
    E, a partir daí, não há dúvidas: esses são os verdadeiros pais.

    Elio Gaspari

    folha de são paulo
    Kennedy, a glória de um mito
    Sem os tiros de Dallas, o apoio dos EUA à rebelião brasileira ficaria igualzinho, pois a armação foi dele
    Na sexta-feira da próxima semana completam-se cinquenta anos do assassinato do presidente John Kennedy. O mistério que acompanha os tiros de Dallas soma-se à mística que as obras inacabadas, bem como as ruínas, produzem na imaginação das pessoas. E se ele não tivesse ido ao Texas? Quase certamente, seria reeleito, e aí?
    Como todos os exercícios do gênero, cada um pode achar o que quiser.
    Começando a prospecção pelo que aconteceu no Brasil 98 dias depois, a resposta é simples: Dava na mesma. Na noite de 30 março de 1964, quando o presidente Lyndon Johnson foi avisado de que a rebelião militar brasileira estava prestes a eclodir, o que ele fez foi colocar sobre a mesa os planos deixados por Kennedy. Sem tirar nem por.
    Passado meio século, criou-se a mitologia segundo a qual tudo seria diferente se ele não tivesse ido a Dallas. Kennedy queria sair do Vietnã. Tudo bem, mas quem entrou foi ele. Kennedy queria se reaproximar de Cuba. Quem tentou invadi-la foi ele. De quebra, planejava o assassinato de Fidel Castro.
    Kennedy foi o primeiro presidente americano a tirar extremo proveito da construção de um tipo. Seu antecessor, o general Dwight Eisenhower, elegeu-se porque comandara as tropas aliadas durante a Segunda Guerra. O simpático milionário elegeu-se com uma aura de juventude e dinamismo quando, na verdade, era um homem doente, amarrado num colete que lhe poupava a coluna e mantinha erecto, com a elegância de um desportista. Tinha uma mulher linda, chique e espertíssima. Foi ela quem inventou o mito de Camelot e armou um bem-sucedido boicote ao melhor livro sobre o assassinato do marido. É "A Morte de um Presidente" de William Manchester, escrito a seu pedido, com sua colaboração. Num lance de boa-fé que faria inveja a Roberto Carlos, Manchester cedeu à Biblioteca Kennedy os direitos de publicação e, apesar de ter vendido mais de um milhão de exemplares ao ser publicado, o livro foi para geladeira das obras esgotadas. Felizmente, voltou à livrarias e está na rede, em inglês, por US$ 9,78.
    Kennedy foi substituído por Lyndon Johnson, um sujeito sem graça, casado com uma senhora inexpressiva e tinha duas filhas chatas.
    A grandeza do presidente assassinado está em dois episódios que o companheiro Obama parece não ter estudado. Nos dois casos, afastou o mundo da guerra porque não confiou em generais insanos e na Central Intelligence Agency. No primeiro, menor, ele se engrandeceu abraçando um fracasso. Em abril de 1961, logo depois de sua posse, uma força expedicionária de exilados invadiu Cuba. Em poucos dias ela foi cercada e 1.200 voluntários foram capturados. A CIA entrou no lance acreditando que o novo presidente dobraria a aposta, dando apoio aéreo aos invasores. Enganou-se.
    No segundo episódio, quando foram descobertos mísseis soviéticos em Cuba, Kennedy pilotou pessoal e minuciosamente a crise, congelando as opiniões dos chefes militares. Se dependesse deles, muito provavelmente teria começado a Terceira Guerra Mundial. Felizmente Kennedy gravava todas as suas reuniões, sem o conhecimento dos outros. Os russos recuaram publicamente, recolhendo os mísseis de Cuba, e ele recuou em segredo, comprometendo-se a retirar foguetes da Turquia. Se Obama tivesse desafios desse tipo o mundo estaria frito.

    Fernando Rodrigues

    folha de são paulo
    Quem paga a neutralidade
    BRASÍLIA - O projeto do Marco Civil da Internet emperrou muito por causa da chamada neutralidade da rede. Fornecedores de acesso (as telefônicas) querem cobrar mais de quem passa o dia assistindo a vídeos, baixando músicas ou falando em serviços de voz como o Skype.
    O governo e muitos ativistas argumentam que esse conceito mataria a ideia geral de horizontalidade democrática da internet. Sufocaria a criatividade inerente à rede.
    Nem tudo é claro ou escuro nesse debate. Há uma grande área cinza no meio. Os serviços de internet não são uma benemerência divina. Empresas privadas exploram o negócio para ganhar dinheiro, algo legítimo num sistema de livre mercado.
    Tome-se o caso dos agora já quase obsoletos telefones fixos. As telefônicas não podem degradar a qualidade de som de quem conversa com Barack Obama ou Vladimir Putin. Ou, no Brasil, de quem resolver telefonar para Lula ou FHC. Mas uma coisa é certa: quem fizer mais ligações pagará de acordo com o uso. É muito justo.
    No caso da internet, há dois pontos a serem considerados e respondidos: 1) o provedor de acesso pode degradar a velocidade de conexão, não importando se o consumidor assiste a um vídeo ou só lê e-mails?; 2) as empresas podem cobrar mais de quem deseja assistir a filmes e baixar músicas de maneira ilimitada em relação a quem apenas lê notícias e mensagens de sua caixa de correio eletrônico?
    Se a resposta for "não" a ambas as perguntas, só uma "Internetbras" resolveria (sic) o problema. O texto do Marco Civil é ambíguo a respeito. Não define modelos de negócios. Não está claro se a neutralidade da rede comporta também a venda de produtos com qualidade e preços diferentes --independentemente do tipo do conteúdo, mas em razão do volume de dados acessados. Esse é o ponto. Ocorre que muitos no governo não sabem como tratar o tema quando apresentado dessa forma.