quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Ruy Castro

folha de são paulo
A inversão da equação
RIO DE JANEIRO - Era comum nos velhos filmes americanos: o vigarista, depois de dar um golpe na praça, fugia para o Rio. A cena final o mostrava feliz da vida, de camisa havaiana, tomando um drinque colorido, de guarda-chuvinha, e cercado de nativos, morenas e araras. O Rio queria dizer o Brasil. Segundo eles, éramos um refúgio seguro para bandidos. Não que não fosse verdade --vide o inglês Ronald Biggs, que assaltou o trem pagador, veio para cá e passou entre nós os melhores 31 anos de sua vida.
Mas há muito a equação se inverteu. Agora são os golpistas brasileiros que fogem para a Flórida, a Europa e até para o Oriente Médio. O inesquecível PC Farias, o banqueiro Salvatore Cacciola, a fraudadora da previdência Jorgina de Freitas e o médico estuprador Roger Abdelmassih foram só alguns que se escafederam nas barbas da Polícia Federal. A eles junta-se agora o ex-diretor de marketing do Banco do Brasil Henrique Pizzolato, que se mandou para Roma.
Pizzolato seguiu um "script" dos mais previsíveis: saiu de seu prédio à noite, passou olimpicamente pelo porteiro, viajou de carro milhares de quilômetros e, talvez no porta-malas e com um cobertor por cima, cruzou a fronteira pelo Paraguai. Do qual voou para a Itália, onde desceu como italiano, a salvo de extradição. Mas mesmo uma operação simples como essa não se faz sozinho, nem de graça. Seria didático descobrir quanto lhe custou, quem o ajudou e de onde saíram os recursos.
Como Pizzolato não poderá deixar a Itália, e sabendo que uma "bruschetta" em Roma está pela hora da morte, seus amigos no Brasil se preocupam com sua subsistência. Se não for contratado por um insano banco italiano, terá de vender berinjela na feira livre do Campo de Fiori para se manter.
A não ser que lhe tenha sobrado um troco dos R$ 73,8 milhões que desviou no mensalão.

Mônica Bergamo

folha de são paulo

Autoridades italianas acreditam que não há razão para Pizzolato ser julgado de novo

Ouvir o texto

Na avaliação de autoridades italianas que lidam com processos de extradição, não haveria razão para Henrique Pizzolato, condenado a 12 anos e sete meses de prisão pelo esquema do mensalão, ser julgado novamente no país, como quer o fugitivo. Isso porque lavagem de dinheiro e corrupção são crimes reconhecidos em acordos bilaterais.
BRASIL X ITÁLIA
Um cidadão italiano condenado à morte no exterior, por exemplo, teria direito a novo processo, já que a pena não é prevista na legislação do país. O caráter político que o ex-diretor de marketing do Banco do Brasil quer dar à sua condenação seria questionável. "Se os direitos dele foram respeitados, não há por que não reconhecer a sentença brasileira", diz Erminio Amelio, da Procuradoria da República, em Roma.
BRASIL X ITÁLIA 2
Especializado em terrorismo e máfia, o procurador diz que o caso Pizzolato é diferente do de Cesare Battisti, condenado na Itália por homicídio. Considerado alvo de perseguição política, o italiano não foi extraditado e vive em liberdade no Brasil.
BRASIL X ITÁLIA 3
O procurador entende que, se Pizzolato for capturado e houver acordo entre os dois governos, ele poderá ser extraditado, mesmo tendo dupla cidadania, ou cumprir na Itália a pena já estabelecida no Brasil.
SOB O SOL DO CERRADO
Os advogados de Kátia Rabello vão providenciar o credenciamento dos familiares da presidente do Banco Rural para que ela possa receber visitas no presídio feminino em Brasília já neste fim de semana. No primeiro banho de sol no complexo da Papuda, para onde foi transferida anteontem, ela vestia uma camiseta com o desenho de uma bailarina.
*
Ex-professora de dança, ela está lendo "O Silêncio das Montanhas", de Khaled Hosseini, presente de uma amiga.
CANTO DA FLORESTA
Raquel Cunha/Folhapress
A cantora Nicole Salmi, 26, lançou seu primeiro disco solo no mês passado. "Amazônia" foi composto durante duas expedições de barco que fez pelo Amazonas e Roraima, em 2010 e 2011.
*
Este ano, ela trocou o Alto da Boa Vista, bairro da zona sul de São Paulo, onde cresceu, por uma chácara em Vargem Grande Paulista, na região metropolitana. "Eu me mudei para ser coerente com o que canto e poder me inspirar", diz. "Preferi um lugar com mais espaço para exercitar a criatividade."
CABEÇAS PENSANTES
O jornalista e escritor Audálio Dantas recebeu anteontem o Troféu Juca Pato, oferecido ao intelectual do ano, no Memorial da América Latina. A escritora Anna Maria Martins e o biógrafo e historiador Paulo Cesar de Araújo foram ao evento literário.

Troféu Juca Pato

 Ver em tamanho maior »
Bruno Poletti/Folhapress
AnteriorPróxima
O jornalista e escritor Audálio Dantas recebeu o Troféu Juca Pato, oferecido ao intelectual do ano, na segunda (19) no Memorial da América Latina
FREIO DE MÃO
O faturamento das micro e pequenas empresas paulistas caiu 1,3% em setembro, na comparação com o mesmo período do ano passado. Na comparação com agosto de 2013, a queda foi de 7,9%, segundo pesquisa do Sebrae-SP. A receita total foi de
R$ 45,4 bilhões, R$ 578 milhões a menos do que no mesmo mês de 2012 e R$ 3,9 bilhões abaixo do resultado apurado em agosto deste ano.
PARTICIPAÇÃO ESPECIAL
Lourenço Mutarelli faz uma ponta em "Quando Eu Era Vivo", filme de Marco Dutra, baseado em seu livro "A Arte de Produzir Efeito sem Causa". No longa, o escritor contracena com Marat Descartes e interpreta um motorista. É colega de elenco de Antonio Fagundes e Sandy. O longa chega aos cinemas em janeiro.
BOAS VIBRAÇÕES
Os atores Daniel Alvim e Marisol Ribeiro apresentaram a peça "No Quarto ao Lado - O Espetáculo do Vibrador", em pré-estreia para convidados anteontem, no teatro Jaraguá. A também atriz Odara Carvalho esteve na plateia.

Daniel Alvim estreia peça

 Ver em tamanho maior »
Bruno Poletti/Folhapress
AnteriorPróxima
O ator Daniel Alvim recebeu convidados na pré-estreia da peça "No Quarto ao Lado - O Espetáculo do Vibrador", na segunda (19), no teatro Jaraguá
HORÁRIO NOBRE
A Trip Editora vai ter um programa semanal na Rede TV!. A atração deve estrear em 2014. "Trip TV" irá ao ar aos domingos à tarde.
PELADA
A exposição "Bola de Rua", do fotógrafo Caio Vilela, recebeu 630 mil visitantes até o encerramento, no domingo. Uma média de 45 mil pessoas passou pelo Conjunto Nacional, por dia, para ver as 55 imagens de futebol jogado fora dos estádios, captadas nas cinco regiões do Brasil.
PERNAS
Após temporada que estreia hoje São Paulo, o grupo mineiro Corpo segue para Brasília e engata turnê por Estados Unidos, Canadá, Alemanha, Colômbia e Porto Rico até agosto.
CURTO-CIRCUITO
Tiago Abravanel estrela campanha publicitária da corretora de seguros Sossego, cantando a música homônima, de Tim Maia.
A cantora Fortuna e o Duo Milewski fazem o show "Canções Ladinas e um Violino Ídische", no Centro da Cultura Judaica, hoje, às 20h. Grátis. Livre.
A peça "Namíbia, Não!", dirigida por Lázaro Ramos, será encenada hoje, às 20h, no Itaú Cultural, na avenida Paulista. Grátis. 14 anos.
Denise Stoklos apresenta o espetáculo "Vozes Dissonantes" nos dias 27 e 28, às 19h, na Biblioteca Alceu Amoroso Lima, em Pinheiros. Grátis. 14 anos.
com ELIANE TRINDADE (interina), JOELMIR TAVARES, ANA KREPP e MARCELA PAES
mônica bergamo
Mônica Bergamo, jornalista, assina coluna diária publicada na página 2 da versão impressa de "Ilustrada". Traz informações sobre diversas áreas, entre elas, política, moda e coluna social. Está na Folha desde abril de 1999.

José Simão

folha de são paulo
Ueba! Fica, Tite, vai ter empate!
E o Zé Dirceu diz que não é arrogante. O Zé Dirceu dizer que não é arrogante é uma arrogância!
Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Hoje é Dia da Consciência Negra. E amanhã vou lançar o Dia da Consciência Pesada: para políticos, pro gerente do banco que negou o meu empréstimo e pro motoboy que quebrou o meu retrovisor!
E o Trio Papuda? Adorei a charge do Jarbas! Com o advogado explicando o regime semiaberto pro Dirceu, Delúbio e Genoino: "No regime semiaberto, vocês poderão sair para trabalhar". E os três: "TRABALHAR! As coisas estão piorando! Só piora!". Rarará!
O Zé Dirceu, com aquele sotaque, pode imitar o Mazzaropi no Silvio Santos, ou então vender pamonha de Piracicaba!
E diz que o Zé Dirceu é filho do Stálin com o Mazzaropi! E sabe qual a semelhança entre o PT e o PSDB? Ambos deram calote no Marcos Valério. Ops, Marcos Velório!
E eu acredito na inocência do Marcos Valério. Você já viu mineiro distribuir dinheiro? Mesmo que não seja dele! Mineiro não gasta dinheiro, guarda, mocoza, enfurna. Ops, em Furnas! Rarará!
E o Marcos Valério foi o único careca que derrubou um monte de barbudo! E adoro o nome da agência do Marcos Valério: SMPB. SMPB quer dizer: "Surgiu em Minas e Pegou o Brasil!". Rarará!
E o Zé Dirceu diz que não é arrogante. O que eu já acho uma arrogância! O Zé Dirceu dizer que não é arrogante é uma arrogância!
E o Tite? A despedida do Tite! Fica, Tite, vai ter empate! O Tite foi o técnico que teve mais empatia com o time! O técnico da empatia!
E o site Futirinhas mostra as faixas da torcida em homenagem ao Tite: "0 x 0 é goleada, sim". Poxa, precisa ser muito apaixonado pelo Tite pra achar que 0 x 0 é goleada. Rarará! "Aqui tem um bando de loucos, loucos pelo Tite e por empate."
E essa: "Tite, o nome do meu filho será ZeroaZero em sua homenagem". Rarará! Essa foi demais: corintiano batiza o filho de ZeroaZero em homenagem ao Tite! Rarará!
É mole? É mole, mas sobe!
O Brasil é Lúdico! Jericoacoara preparada pra Copa. Olha a placa bilíngue num bar: "Please! Porra! Dont steal our glasses! Não roubem nossos copos". Adorei, a tradução de "please" é "porra"!
A gente já pode usar na Copa: "One moment, please". "Um momento, porra!" Gringo apressado! Rarará!
Nóis sofre, mas nóis goza!
Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

    Marcelo Coelho

    folha de são paulo
    Grandeza dos advogados
    Filme sobre a vida de Sobral Pinto relembra período em que profissão contava com mais simpatia das pessoas
    O major bateu na porta do quarto do hotel. Quem abriu a porta --estamos em pleno regime militar-- foi o advogado Sobral Pinto.
    Tenho ordens, disse o major, para levá-lo preso. O velho Sobral não se intimidou. O senhor tem ordens de um general, disse ele. Entendo que um major obedeça a um general. Mas --e o homenzinho se exaltou-- eu é que não obedeço a ordens suas!
    "Preso coisíssima nenhuma!", explodiu o advogado. Ou melhor: "prejo coijíssima nenhuma", terá dito, com as gengivas de quem já tinha mais de 70 anos naquela época.
    No comício das diretas da Candelária, em 1984, a mesma vozinha trêmula recitou para centenas de milhares o primeiro artigo da Constituição: "Todo poder emana do povo e em xeu nome xerá ejercido". Sobral Pinto estava com 90 anos.
    Um documentário sobre ele entrou em cartaz faz pouco tempo; o Espaço Itaú Frei Caneca exibe-o num único horário, às 18h30.
    Dirigido por Paula Fiuza, neta do jurista, o filme é uma oportuna homenagem a um dos cidadãos mais corajosos e íntegros da história republicana. Íntegro demais, talvez, para um documentário completo.
    Bem que, no filme, tenta-se mostrar algo que contradiga a imagem do paladino constitucional.
    Era passional, desequilibrado, injusto até a medula quando ouvia no rádio um jogo de futebol, contam os parentes. Não ia nunca aos estádios, contudo. Católico das antigas, puniu-se até o fim da vida por ter tido um caso extraconjugal, há muito sepultado, mas nunca esquecido.
    Haveria aí bom material para uma obra de ficção: o advogado que luta pelos clientes, que os tira da cadeia, que consegue absolvições, nunca perdoou a si mesmo, nem foi totalmente libertado de suas culpas.
    O assunto é abordado de passagem, entretanto, num filme que se concentra, para uso das gerações mais novas, no exemplo incontestável de coerência civil que foi a vida de Sobral Pinto.
    Faltam imagens, claro, de épocas mais remotas. Quase só vemos o velhinho de chapéu preto e guarda-chuva. Há fotos, contudo, da atuação de Sobral Pinto quando foi defender Luís Carlos Prestes, encarcerado pela ditadura Vargas.
    Como se sabe, o advogado, já com seus 50 anos, invocou a recém-criada Lei de Proteção aos Animais para garantir condições mais dignas ao líder comunista. Talvez tivessem, os dois, algo em comum.
    É verdade que Prestes, seguindo a linha do partido, passou a apoiar Getúlio logo em seguida. Podia ser uma contradição do ponto de vista pessoal, coisa praticamente desumana quando se pensa que Getúlio mandou a mulher de Prestes, grávida de sua filha, para morrer num campo de concentração nazista.
    Seja como for, estava em jogo uma mesma firmeza de propósitos, uma mesma teimosia, um mesmo sacrifício que, no caso de Prestes, nos horroriza, mas no caso de Sobral Pinto causa admiração. A longevidade desses dois gêmeos, desses dois opostos, talvez se explique um pouco por aí.
    Durante a ditadura militar, observa com razão o historiador José Murilo de Carvalho, era provavelmente mais fácil fechar o Congresso do que prender Sobral Pinto. A fragilidade, assim como a velhice, tem suas compensações, e podemos sempre esperar que, em alguns casos, até a truculência tenha seus limites.
    Foi o que permitiu, por exemplo, que alguns advogados conseguissem vitórias, obviamente reduzidas, até mesmo em momentos de furiosa repressão militar. Adversários do regime eram presos sem nenhuma ordem judicial, levados sabe-se lá para onde, e submetidos à tortura.
    Juridicamente, aquilo era mais um sequestro do que uma detenção. O mecanismo do habeas corpus teve de passar praticamente por uma pirueta interpretativa, pelo que conta um advogado ouvido no filme. Em vez de ser um recurso para libertar o preso, foi usado para que, ao menos, os familiares pudessem localizá-lo --e para que o regime admitisse, oficialmente, tê-lo agarrado sem nenhuma formalidade legal.
    Tratava-se, numa palavra, de baderna, feita por militares em nome da ordem e da luta contra a subversão. Memorável, a esse respeito, a frase de outro jurista, acho que Pontes de Miranda, que se recusava a comentar o AI-5, por uma razão bem simples: "o Ato Institucional número 5 não existe".
    A beleza, a coragem, o sentido da profissão de advogado saem fortalecidos de "Sobral - O Homem que Não Tinha Preço". O filme vem a calhar hoje em dia.
    Durante as ditaduras, há advogados que são verdadeiros heróis. Num regime democrático, quando o lado acusador muitas vezes tem mais razão, o advogado não conta com tanta simpatia.
    Ganha mais dos seus clientes, mas paga um preço mais alto. Parece obstáculo, e muitas vezes é, a uma justa punição. Não importa; sem a sua presença, ninguém poderia dizer que a punição foi justa de fato.

    Negra, branca, plural

    folha de são paulo

    Editorial: 

    Ouvir o texto

    Um missionário americano, R.H. Stone, visitava a África Ocidental em meados do século 19, quando se deparou com a cidade de Abeokuta, no território que hoje corresponde ao da Nigéria.
    "O que contemplei", conta, "destituiu minha mente de muitos erros a respeito da África. A cidade (...) tem aproximadamente 200 mil habitantes. Em vez de selvagens preguiçosos e nus, vivendo apenas dos frutos da terra (...), lá viviam pedreiros, ferreiros, carpinteiros, negociantes (...) Fabricam navalhas, espadas, estribos. As mulheres fiam, tecem, negociam..."
    Ao ler essas linhas, muitos brasileiros ainda hoje provavelmente sentirão a surpresa que acometeu o religioso cerca de 150 anos atrás. É citando esse autor que um historiador da arte africana, Robert Farris Thompson, inicia "The Flash of The Spirit" ("O Lampejo do Espírito"), livro de 1983.
    A narrativa merece ser lembrada no Dia da Consciência Negra, que hoje se comemora em várias cidades. Ainda que o feriado seja ocasião para reivindicações específicas dos afrodescendentes, há mais a considerar. Em primeiro lugar, o desconhecimento que persiste, no Brasil, diante de uma tradição cultural que a todos diz respeito.
    Conforme avançam as discussões sobre discriminação racial e sobre cotas para descendentes de africanos --de modo mais injustificável do que nunca, quer-se estendê-las ao Congresso--, é como se uma mitologia substituísse a outra.
    Houve, de início, a lenda de um "branqueamento" gradual e "desejável" da população negra, absorvida sem maiores traumas numa sociedade que a oprimiu.
    Veio, em seguida, o enaltecimento de uma "herança negra", de uma "cultura negra", como se não houvesse várias, e adversas entre si, na própria população que o tráfico arrastou às costas brasileiras.
    O célebre sincretismo religioso, que teria unido tradições católicas e culto africano numa mesma fé, tem sido objeto de versões simplificadas. Por força de guerras e conquistas, também as divindades dos caçadores de escravos do Daomé misturaram-se às dos iorubás em diáspora, tendo de haver-se ainda com a "jihad" muçulmana dos fulani mais ao norte. Um sincretismo africano, portanto, precedendo e somando-se ao cristianizante.
    Complexidades culturais desse tipo não se resumem à bandeira de uma única cultura "negra"; nem a "consciência negra" tem seus limites na reivindicação antiuniversalista de prerrogativas especiais segundo a cor da pele.
    A consciência negra será brasileira, e será universal, ou não será consciência de nada, exceto do particularismo de alguns militantes.
    O feriado de hoje ganha ao ser entendido dessa perspectiva --que é a de uma sociedade complexa, com direitos iguais para todos e com culturas variadíssimas, que, misturando-se e conhecendo-se, enriquecem cada um de nós.
    + CANAIS

    'Privatização de tudo' gerou protestos, que vão continuar pelo mundo, prevê marxista

    folha de são paulo

    Ouvir o texto
    ELEONORA DE LUCENA
    DE SÃO PAULO

    O projeto neoliberal é privatizar e "commoditizar" tudo. No seu fracasso em realizar promessas de eficiência estão as raízes dos protestos que eclodem pelo mundo e no Brasil. Partidos políticos convencionais, reféns do capital internacional, não conseguem canalizar a raiva que emerge das ruas. Não há ideias novas, e as manifestações vão continuar.
    A análise é do geógrafo marxista britânico David Harvey, 78. Professor da Universidade da Cidade de Nova York, ele ataca os "oligarcas globais" e afirma que os bilionários foram os que mais ganharam com a crise.
    Ana Yumi Kajiki
    O marxista britânico David Harvey ataca os 'oligarcas globais' e diz que bilionários foram os que mais ganharam com a crise
    O marxista britânico David Harvey ataca os 'oligarcas globais' e diz que bilionários foram os que mais ganharam com a crise
    Crítico da realização de megaeventos como Copa e Olimpíada, ele avalia que os governos são muito influenciados pelo capital financeiro. E aponta: "Esses eventos são sobre a acumulação de capital através de desenvolvimento de infraestrutura. Os pobres tendem a sofrer, e os ricos tendem a ficar mais ricos".
    A partir da próxima sexta-feira, Harvey participa de debates no Brasil em torno do lançamento de seu livro "Os Limites do Capital" e da coletânea "Cidades Rebeldes".
    A seguir, trechos da entrevista concedida por telefone desde Nova York na semana passada.
    *
    Folha - Qual sua avaliação sobre a situação mundial?
    David Harvey - É muito mutante e volátil. De forma alguma estável. Não sabemos quando novos problemas vão eclodir e por quê. A situação na Europa é preocupante, com taxas muito baixas de crescimento. Nos EUA, há muita instabilidade política. Há questões sobre o modelo de desenvolvimento da China. Isso tudo está conectado e, de repente, há problemas no Brasil em razão de mudança de tom do Fed em relação à liquidez. É uma situação muito complicada e volátil.
    Então o pior não passou?
    Não, longe disso. Penso que está tão perigoso quanto sempre foi. O que me surpreende é que não há novas ideias. As receitas apresentadas estão aprofundando o modelo neoliberal ou tentam desenvolver alguma forma de keynesianismo. Ambas opções me parecem muito frágeis nas circunstâncias atuais.
    O sr. disse em entrevista à Folha em 2012 que a crise deveria aprofundar a concentração de capital e as desigualdades. Isso de fato ocorreu?
    Sim. Todos os dados mostram que o número de bilionários cresceu no mundo. A riqueza deles cresceu imensamente nos últimos três anos. Foi o grupo que melhor se saiu melhor na crise, enquanto todos os outros ou permaneceram estagnados ou perderam.
    Qual sua visão dos protestos que eclodiram pelo mundo? O sr. defendeu a criação de um "partido da indignação" para lutar contra o "partido de Wall Street". Como essa ideia evoluiu?
    Os movimentos não estão indo muito bem. Por várias razões. Primeiro, é interessante notar quão rapidamente o poder político se moveu para tentar reprimir os protestos e prevenir qualquer forma de movimento de massa mais amplo. Segundo, há muitas divisões entre os movimentos. Há divisões teóricas entre marxistas, anarquistas, autonomistas. Há divisões entre políticos. A esquerda está muito dividida, sem sinais de atuar em conjunto. O poder político agiu muito rápido, com ações policiais, para dispersar a oposição. Isso aconteceu com o Occupy Wall Street, na Turquia. Em algum grau está acontecendo também na América Latina.
    Qual o futuro desses movimentos?
    É praticamente a mesma resposta sobre o que vai acontecer com o capital. A situação é muito volátil. É muito difícil prever. Ninguém previu a eclosão dos movimentos na Turquia, nem ninguém previu os amplos protestos no Brasil.
    Qual sua visão sobre os protestos no Brasil?
    É difícil falar para quem está longe. Não sei se estou qualificado a falar sobre isso. Mas o que posso dizer é que existe uma desilusão generalizada do processo político. As pessoas estão começando a discutir como modificar os piores aspectos da exploração, da extração capitalista do valor. Há também uma alienação, que leva a alguma passividade, que é interrompida ocasionalmente por explosões de raiva frustrada. O nível de frustração por todo o mundo está muito alto agora. Por isso não surpreende que essas manifestações ocorram. O problema é canalizar essa raiva para movimentos políticos existentes que tenham um projeto. Isso não se enxerga. Prevejo mais explosões de raiva nos próximos anos. Há o Egito com seus problemas não resolvidos, a guerra civil na Síria, protestos na Turquia, na Suécia, no Brasil e uma volta dos protestos no Chile. É uma fotografia que está aparecendo globalmente e suspeito que vai continuar assim dentro de um modo muito volátil.
    Há conexão entre esses movimentos?
    Sim, cada um tem suas demandas específicas, mas há problemas de base provocados pela natureza autocrática do neoliberalismo, que virou um modelo padrão para o comportamento político. Isso não é satisfatório para a massa da população. Há uma crise na governança democrática. Ao mesmo tempo, há o fracasso do neoliberalismo, que não entregou um mínimo de padrão de vida para a massa da população. Há uma raiva contra as formas tomadas pelo capitalismo. No Norte da África, na Tunísia, no Cairo os protestos foram parcialmente sobre alta nos preços da comida. A segurança alimentar se tornou um tema muito importante. Isso diz respeito ao poder do agronegócio e à especulação com as commodities, que provocaram a alta dos preços. Há inflação nos preços de comida em muitas partes do mundo.
    No Brasil, os protestos estouraram por causa da alta nas tarifas de ônibus. Como especialista em questões urbanas, como o sr. avalia esse problema?
    O projeto neoliberal é privatizar e "commoditizar" tudo. Então tudo vira objeto das forças do mercado. Dizem que essa é a forma mais eficiente de prover bens e serviços para uma população. Mas, na verdade, é uma maneira muito eficiente de um grupo da população reunir uma grande soma de riqueza às custas de outro grupo da população --sem entregar, de fato, bens e serviços (transporte, comida, casas etc). Essa é uma das razões do descontentamento da população. Por isso explodem manifestações de raiva, insatisfações em diferentes lugares e em diferentes direções políticas. Turquia, Brasil, Suécia. Há uma situação de fundo que dá uma visão comum às batalhas, embora cada uma delas seja especifica e diferente. No Brasil, foi o custo do transporte. Em outros lugares, é preço da comida, da habitação, ou apenas se trata de fazer um ataque a essa "commodização" do espaço público.
    Então a privatização é demasiada?
    Há muita "commodização". FMI e Banco Mundial dizem que com o mercado tudo será resolvido. Estamos fazendo isso há 30 anos e não está sendo ok.
    Aqui se discute a violência nas manifestações. O que o sr. pensa sobre os black blocs e a violência policial?
    Uma das dificuldades de falar sobre isso é que, se o poder político responde com violência a qualquer protesto legítimo, em determinado ponto, alguns que estejam nos protestos também vão responder com violência. Há muita divisão no movimento popular. Mas, em algum ponto, não há mais nada a fazer do que responder à violência com violência. Isso significa que a situação ficou fora de controle. Uma das responsabilidades do poder político é, na medida do possível, limitar a violência policial. Pessoalmente não gosto do que fazem os black blocs e acho que em muitas casos eles não ajudam. Sempre ouvimos que deveríamos tolerar o que faz o poder político, o que muitas vezes significa tolerar o intolerável. Em algum ponto, as pessoas começam a dizer: não vou tolerar o intolerável; vou fazer o intolerável para o intolerável. Não estou advogando de forma alguma a violência, mas estou dizendo que é muito difícil em muitas situações --como vimos nas lutas anticoloniais-- sair do problema sem usar algum tipo de força. Lembro aqui do filme de Costa Gavras "A Batalha de Argel", que é um bom exemplo de como as coisas funcionam.
    Alguns dizem que há interesse dos EUA nesses movimentos, como forma de desestabilizar governos. O sr. acha que é possível?
    Há muitos exemplos históricos mostrando que isso acontece. Seria muito surpreendente identificar que hoje isso não é o caso. É muito difícil controlar isso. Apontar somente os EUA seria errado.
    Partidos tradicionais foram pegos de surpresa no Brasil. De outro lado, os movimentos não têm uma organização própria. Como tudo isso pode se transformar em forças políticas organizadas?
    Se eu tivesse essa resposta, não estaria falando com você agora. Estaria lá fora fazendo. Não sei a resposta. A situação agora reflete a alienação das pessoas em relação a praticamente todos os partidos políticos e a sua desilusão com o processo político. Nos EUA, o Congresso tem uma taxa de aprovação de 10%. Nessa circunstância, as pessoas não vão canalizar o seu descontentamento para o processo político, pois não enxergam esperança nisso. Por isso, há essa raiva. E assim as coisas vão continuar.
    O sr. concorda com a visão de que partidos de todos os matizes caminharam para a direita e que a esquerda se diluiu em ONGs e estruturas voláteis?
    Há internacionalmente uma ortodoxia econômica, que é reforçada pelos movimentos do capital internacional. Os partidos políticos convencionais se tornaram reféns desse poder.
    Isso acontece com o PT no Brasil?
    Isso é para o julgamento de seus leitores. Noto que há uma desilusão sobre o PT entre seus próprios integrantes.
    O sr. está escrevendo um livro sobre as contradições do capitalismo. Qual é a principal hoje?
    Uma das contradições do capitalismo agora é que o capital precisa crescer. Mas as condições nas quais isso pode ocorrer são cada vez mais restritas. É muito difícil achar novos lugares para ir e novas formas de atividades produtivas que possam absorver a enorme quantidade de capital que está buscando por atividades lucrativas. Como consequência, muito capital agora vai para atividades especulativas, para patrimônio, compra de terras, commodities, criam-se bolhas. Esse é o problema real: como o capital pode continuar crescendo nos próximos anos. Está ficando cada vez mais difícil para o capital achar formas de fazer isso. O crescimento está colocando muito estresse sobre o ambiente.
    Quais seriam as principais contradições para o Brasil?
    A contradição ambiental, a desigualdade social no Brasil --que é uma contradição muito perigosa no Brasil. E a especulação sobre terras e recursos naturais.
    O sr. escreveu em "Os Limites do Capital" que é cada vez mais difícil hoje encontrar o inimigo e identificar quem ele é. Quem é o inimigo e onde ele está?
    O inimigo é um processo, não uma pessoa. É um processo de circulação de capital. O capital entra e sai de países. Quando decide entrar, há um "boom"; quando decide sair, há uma depressão. Por isso, é necessário controlar esse processo de circulação. Se algo que é feito desagrada esse processo, ele desaparece. De certa forma, o Brasil tem possibilidades limitadas, porque o capital pode simplesmente desaparecer.
    Algo mudou após o inicio da crise ou é só mais do mesmo?
    É realmente mais do mesmo. Estados que costumavam pagar muito para instituições financeiras não fizeram nada para proteger o bem estar da sua população. Foi o que aconteceu no México nos anos 1980. E a mesma história se repete, com os ricos ficando mais ricos enquanto falamos.
    O sr. escreveu que as políticas que não agem sobre as contradições principais ficam apenas nos sintomas da crise. Por exemplo?
    Crescimento talvez não seja possível e talvez não seja mais o objetivo. Falam apenas que temos baixo crescimento, alto desemprego e que precisamos ter o crescimento de volta. Mas há limites.
    Isso é dizer para um país como o Brasil que a festa acabou?
    Não. O crescimento principal agora ocorre para o 1% mais rico da população mundial. É para esse grupo que todo o crescimento é canalizado. É um problema global, verdadeiro nos EUA, no Brasil. É preciso haver uma redistribuição de renda globalmente e entre classes. Por isso é quase impossível começar a falar disso sem falar de uma luta global. Há muitos bilionários no Brasil, no México, na Índia, na Rússia. O clube dos bilionários é que é o problema. Estamos vendo oligarcas globais controlando potencialmente ¾ da economia global, sugando uma enorme parte da riqueza mundial. O crescimento está sendo canalizado para eles. Meu ponto é: vamos para crescimento zero, sem canalizar o crescimento para eles, e, ao mesmo tempo, devemos fazer uma redistribuição. Por trás de seu argumento está a ideia que se pode redistribuir o crescimento. Mas tivemos muito crescimento que nunca foi redistribuído. Por que precisamos ouvir esse argumento agora, de que o crescimento é necessário para a redistribuição?
    Então redistribuição de riqueza é mais importante do que crescimento propriamente dito?
    Sim, claro.
    Nesse cenário haveria uma guerra e tanto, não?
    Olhando para o que está acontecendo nas ruas, se pode pensar que isso esse tipo de coisa não está tão longe assim.
    Em São Paulo, há também a discussão sobre o aumento do imposto sobre propriedade urbana. Há protesto dos mais ricos. Isso também evidencia uma luta social?
    Vamos chamar de luta de classes. Ela está mais evidente, mas muitas pessoas não gostam de falar sobre isso.
    No início, o Brasil parecia estar indo bem na crise. Agora estamos travados. O que deu errado?
    Houve mudanças modestas no Brasil no sentido de redistribuir renda, como o Bolsa Família. Mas é necessário fazer muito mais. Muito dos gastos em enormes projetos de infraestrutura ligados à Copa do Mundo e à Olimpíada são uma perda de dinheiro e de recursos. As pessoas se perguntam por que o país está fazendo todos esses investimentos para a FIFA ter um grande lucro. Para o resto do mundo é surpreendente ver os brasileiros se revoltando contra construções de novos estádios de futebol. Mas as pessoas perceberam a diferença entre ter o futebol e colocar todo esse dinheiro nos bolsos de outras pessoas. Além disso, esses projetos de infraestrutura levam a desapropriações, desalojamentos, reengenharia de cidades.
    Copa e Olimpíada não fazem bem para o país?
    Economicamente, muito poucos projetos. A Grécia está em dificuldades em parte por causa do que foi feito em razão da Olimpíada de Atenas. Muitas cidades olímpicas nos EUA entraram em dificuldades financeiras.
    Como o sr. explica o poder da FIFA e do COI e o apoio que obtêm dos governos?
    É como qualquer poder monopolista: extrai o máximo do que se tem a oferecer. Os governos são muito influenciados pelo capital financeiro. Esses eventos são sobre a acumulação de capital através de desenvolvimento de infraestrutura, de urbanização. Envolvem também despossuir pessoas, removendo-as de suas residências, como forma de abrir espaço para todos esses megaprojetos. Os pobres tendem a sofrer, e os ricos tendem a ficar mais ricos.
    No Brasil, manifestantes pediram o "padrão FIFA" para educação e saúde.
    É que precisa ser dito. O dinheiro precisa ir para educação, centros de saúde.
    Como o sr. analisa a situação política na America Latina?
    Politicamente houve, na superfície, um tipo de política antineoliberal. Mas não houve nenhum verdadeiro grande desafio para o grande capital. Há um discursos anti-FMI. Mas, de outro lado, o Brasil está ofertando a exploração de seu petróleo para empresas estrangeiras, por exemplo. Não é profunda a tentativa de ir realmente contra as fundações do capitalismo neoliberal. É uma política antiliberal só na superfície. Mas há alguns elementos, como o Bolsa Família, que não fazem parte da lógica neoliberal.
    A política antineoliberal é retórica no continente?
    Muito disso é retórico. Mesmo a Venezuela não vai muito longe em realmente desafiar os interesses do capital.
    Os EUA não perderam posições na região?
    Os EUA estão mais fracos na América Latina, em parte porque o crescimento da região foi mais orientado para a o comércio com a China, que ampliou o seu papel imensamente. De muitas formas, a economia na América Latina é muito mais sensível ao que ocorre na economia chinesa do que na norte-americana.
    E a China para onde vai?
    Se tivesse a resposta para isso...estaria especulando e fazendo milhões... [risos] A situação na China é muito volátil. Há muitos problemas: superprodução, superacumulação, especulação com propriedades, superinvestimento em infraestrutura. Não se sabe muito sobre a condição dos bancos.
    O sr. diria que o socialismo é objetivo no futuro?
    Não sei como chamar. Diria que o objetivo é uma política anticapitalista. Chamar de comunismo, socialismo, anarquismo --não sei se podemos colocar um nome nisso. Mas alguma coisa precisa emergir que não é o capitalismo. Infelizmente, o mundo está indo cada vez mais fundo no capitalismo em vez de sair dele. E o capitalismo não está funcionando bem de nenhuma maneira. O capitalismo não está muito saudável. Quantas crises tivemos nos últimos anos? Se olharmos para o longo prazo, há uma longa crise em cascata: a crise do Sudeste Asiático nos anos 1990, a falência da Rússia, do Brasil, da Argentina. Depois, EUA, Espanha, Europa. É uma longa crise sendo construída gradualmente.
    Mas o capitalismo não opera na base de crises?
    Sim, mas geralmente nas crises capitalistas aparecia uma coisa diferente. O capitalismo ia se reformando a si mesmo no curso das crises. Foi o aconteceu nos anos 1930 e, de alguma forma, em 1970. Mas agora ele parece não saber como se revolucionar a si próprio no meio da turbulência. Não há nenhuma ideia nova por aí, Ninguém tem novas e boas ideias para sair da crise.
    Qual foi o fato mais surpreendente para o sr. neste século 21?
    A falta de uma massiva oposição política organizada ao que está acontecendo.
    E por que isso ocorre?
    Se tivesse uma boa resposta já tinha feito a revolução.

    Veja as manchetes dos principais jornais desta quarta-feira

    folha de são paulo
    Ouvir o texto
    *

    Jornais nacionais
    O Estado de S.Paulo
    Para acalmar mercado, Dilma faz pacto contra gastos
    O Globo
    Nova ameaça - Mortes por dengue dobram no país
    Valor Econômico
    Governo muda sistema de crédito à reforma agrária
    Zero Hora
    Mensalão - Saúde de Genoino vira impasse
    *
    Jornais internacionais
    The New York Times (EUA)
    Escolha de Obama para Tribunal é terceiro em uma linha bloqueada pelos republicanos
    The Guardian (Reino Unido)
    Alerta nuclear do Japão para o Reino Unido: estejam preparados para o pior
    El País (Espanha)
    PP e PSOE compõem governo de juízes com amplo apoio