domingo, 24 de novembro de 2013

Elio Gaspari

folha de são paulo
STF começará a julgar tunga da banca
O Morgan fez um acordo de US$ 13 bi, mas em Pindorama a banca espera que o tribunal lhe dê um refresco
Só pode ter sido coisa de São Judas Tadeu, o padroeiro do desesperados. Exatamente uma semana antes do início do julgamento das vítimas dos planos Bresser (1987) e Verão (1989), marcado para quarta-feira, o banco JP Morgan fez um acordo com o governo americano aceitando pagar US$ 13 bilhões aos clientes que lesou vendendo-lhes papéis tóxicos antes da quebradeira de 2007.
No caso do Morgan, quem pôs dinheiro lá sabia que corria algum risco. No caso das vítimas dos planos brasileiros, os poupadores que depositaram suas economias nas cadernetas tinham remuneração garantida pelo governo (correção monetária mais juros mensais de 0,5%). A tunga deu-se quando o governo mexeu na correção monetária, baixando seu índice. Naquele tempo a inflação rodava a 42% ao mês. Repetindo: ao mês. No exemplo mais cristalino, quem tinha mil cruzados (a moeda da época) na poupança em janeiro de 1987, perdeu 204 cruzados na remuneração de 15 dias de fevereiro de 1987. Tomou uma tunga que hoje está em R$ 880.
Há mais de 20 anos, dezenas de milhares de poupadores querem de volta o que perderam. A disputa do JP Morgan com suas vítimas durou sete anos. A dos poupadores brasileiros já dura 27, pois a banca disputa cada palmo na Justiça. Na absoluta maioria dos casos, ela perdeu na primeira e segunda instâncias. No Superior Tribunal de Justiça, perdeu todas. Com exceção de José Antonio Dias Toffoli e Luís Roberto Barroso, todos os ministros do STF já julgaram casos relacionados com esse avanço sobre o bolso alheio e todos votaram contra a banca.
Com ótimos advogados, os bancos mostraram seu poder de persuasão. Durante o governo Lula, o Banco Central saiu de uma posição de neutralidade e hoje é aliado dos banqueiros no litígio.
O argumento mais recente é o de que o ressarcimento das vítimas criaria um risco sistêmico para os bancos, pois a conta iria a R$ 180 bilhões. A Procuradoria-Geral da República e o Instituto de Defesa do Consumidor, campeão desta batalha, garantem que isso é uma lorota. Sempre é bom lembrar que, se os bancos brasileiros fizessem como o Morgan, fechando um acordo em apenas sete anos, teriam pago algo como R$ 10 bilhões.
De qualquer forma, a contabilidade bancária obriga as casas de crédito a provisionar recursos para cobrir despesas decorrentes de litígios judiciais. Somando-se as provisões feitas pelos quatro grandes bancos privados e públicos, seus balanços informam que elas ficaram em R$ 11 bilhões. Se um cliente desses bancos provisionasse R$ 11 mil para se proteger de um risco de R$ 180 mil, o gerente que lhe desse crédito iria para a rua.
"Risco sistêmico" tornou-se uma expressão tóxica. Quando a banca americana estourou as finanças mundiais surgiu uma frase para explicar a necessidade de socorro às grandes casas. Cada uma delas seria "too big to fail" ("muito grande para quebrar"). Como o comprimento das saias, os jogos de palavras mudam ao sabor dos tempos. Recentemente, Judiciário e os órgãos reguladores dos Estados Unidos começaram a apertar os parafusos da fiscalização, e um promotor jogou uma nova expressão na roda, dizendo que nenhuma instituição deve acreditar que é "too big to jail" ("muito grande para acabar na cadeia"). Em 2007 o Morgan poderia ser "too big to fail", mas em 2014 seus diretores perceberam que não eram mais "too big to jail". Preferiram admitir que agiram mal e pagaram a maior indenização de todos os tempos à boa Viúva americana.
Fica na fila a agência de avaliação de riscos Standard & Poor's, que dava boas notas para instituições quebradas. Ela tentou um acordo de US$ 100 milhões, mas o governo quer a confissão do erro e mais de US$ 1 bilhão.
EREMILDO, O IDIOTA
Eremildo é um idiota e resolveu socorrer simultaneamente o governador Agnelo Queiroz, que precisa de um jatinho, e a Polícia Federal, que precisa de verbas.
O governador fez uma licitação oferecendo R$ 1,4 milhão anuais para que uma empresa coloque um jato à sua disposição.
Poderia fechar negócio com a PF, servindo-se do Embraer 150, prefixo PP PFN, que celebrizou-se transportando uma parte do comissariado petista para a cana de Brasília.
A PF poderia comprar vários aviões desse tipo para atender aos maganos da República que usam a FAB como empresa de táxi aéreo.
TUCANOLOGIA
Os grão-tucanos garantem que Lula sabia das traficâncias dos mensaleiros.
Esses mesmos grão-tucanos garantem que nenhum dos três governadores de São Paulo sabia das traficâncias do cartel da Alstom.
Pode-se acreditar numa coisa ou na outra, mas acreditar nas duas é tarefa difícil.
FICA
O ministro Joaquim Barbosa não pretende pedir aposentadoria em dezembro.
A MALDIÇÃO
Fechou-se o ciclo dos 50 anos da morte de Kennedy.
Em 1941 o patriarca Joseph e seus nove filhos atravessavam o Atlântico num navio de luxo e ele incomodou-se com as preces de um rabino que orava em voz alta com um grupo que fugia da Alemanha. Queixou-se ao capitão, e o religioso rogou uma praga em cima de sua descendência.
Dois de seus filhos morreram em acidentes aéreos (Joseph Jr. e Kathleen). Outros dois, assassinados (John e Robert). Salvo Robert, todos desafiaram situações de perigo, no estilo da família.
A BN cuida de tudo, menos de livros
Na teoria, biblioteca cuida de livros. Na prática, a Biblioteca Nacional virou uma feira de egos e convênios. Financia traduções para o macedônio, mas não tem tomadas de recarga para laptops. Ajudou a cacifar a farra da feira comercial de Frankfurt (R$ 18,46 milhões na conta da Viúva), mas está caindo aos pedaços. Há alguns meses resolveu fechar aos domingos, mas anuncia que vai gastar R$ 466 mil coeditando uma coleção de quatro volumes dos "Grandes Pensadores Brasileiros". Parece boa ideia, mas o Brasil tem um vigoroso mercado editorial privado. O dinheiro poderia ser gasto na própria BN.
Entre as atribuições da biblioteca está a concessão às editoras de um selo chamado ISBN, um código de barras impresso na contracapa dos livros. Além de ser uma exigência legal, facilita a comercialização das obras.
Trata-se de um serviço que pode ser feito em uma semana ou mesmo eletronicamente. A biblioteca já pôs na rede a página do "Sistema ISBN Online". Cadê o serviço? "Será implementado em breve." Marca do governo da doutora Dilma: no mundo virtual, todos os problemas estão resolvidos ou, pelo menos, sendo "implementados".
Por enquanto, nesta época de vendas de Natal, há editoras esperando até duas semanas para receber os códigos de seus livros. Sem eles, as capas não podem ser impressas.

    Os réus têm alguma razão ao pedir um outro julgamento

    folha de são paulo
    ENTREVISTA JOSÉ JOAQUIM GOMES CANOTILHO
    MENSALÃO AS PRISÕES
    Os réus têm alguma razão ao pedir um outro julgamento
    Constitucionalista que virou referência para ministros do supremo diz que condenados têm direito de recorrer a um segundo tribunal
    (RICARDO MENDONÇA)DE SÃO PAULOPara o constitucionalista português José Joaquim Gomes Canotilho, os réus do mensalão, julgados exclusivamente pelo STF (Supremo Tribunal Federal), têm "alguma razão" em reclamar pela análise de um segundo tribunal.
    Mesmo sem ter acompanhado o caso em detalhes, ele também acha "razoável" a queixa quanto ao papel do ministro Joaquim Barbosa, presente em todas as fases do processo, do recebimento da denúncia ao julgamento.
    J. J. Canotilho, como é conhecido, é tido como um dos constitucionalistas estrangeiros mais influentes no Brasil. Na seção de jurisprudência do site do STF, seu nome aparece como referência em 593 documentos. Nas 8.405 páginas do acórdão do mensalão,ele é citado sete vezes.
    Canotilho veio ao país lançar "Comentários à Constituição do Brasil", livro de 2.384 páginas (R$ 280), cuja produção envolveu 130 autores em cinco anos. Na coordenação, ele contou com a ajuda do ministro Gilmar Mendes, do juiz Ingo Wolfgang Sarlet e do procurador Lenio Luiz Streck.
    -
    Folha - Acompanhou o caso do mensalão? Que balanço faz?
    J. J. Canotilho - Eu estava aqui quando ocorreu a primeira audiência. Fiquei com a ideia de que a política é a arte mais nobre dos homens, desde que colocada a serviço das pessoas e da humanidade. Mas a política também tem mãos sujas, dizia Albert Camus. É uma atividade que tanto pode ser criadora de confiança, quanto de desconfiança. Aqui, o que se cimentava era a desconfiança. Então, o tribunal tinha ali uma obrigação de julgar bem. [O STF] Não é só um tribunal constitucional, é de recursos, o que o torna mais visível. Uma publicidade multiplicada, não só pelo estatuto das pessoas, mas porque há uma certa opinião pública que pretende, em muitos momentos da vida coletiva, uma catarse. São esses os fatos: o Brasil tem necessidade da catarse, da purificação, da honradez, da legitimação do próprio poder político. Mas não acompanhei sistematicamente [o caso].
    Uma corte constitucional num um caso penal. Que tal?
    Tenho dúvidas, um tribunal com tanto poder. O tribunal brasileiro é dos tribunais com mais poderes no mundo.
    O senhor compara com quais?
    Primeiro, é mais poderoso que o dos Estados Unidos. Tem um conjunto de fiscalizações que não existe nos EUA. Depois, articula as dimensões de tribunal de revisão com as funções constitucionais. E daí vai criando o direito constitucional e, ao mesmo tempo, julgando casos. Tenho dito: o Brasil tem uma outra Constituição feita pela jurisprudência sobretudo do STF. Os tribunais constitucionais [de outros países] não têm essas funções, de serem tribunais penais. E por isso é que eu digo que [o STF] é o tribunal com mais força.
    E em relação aos da Europa?
    É muito mais poderoso, muito mais. Não há nenhum tribunal por lá parecido com o STF. Acumula competências e poderes que a maior parte dos tribunais não tem, pois só são constitucionais. Ou, por outro lado, são só supremos tribunais que não têm as funções que tem o tribunal constitucional.
    Os réus reclamam que não têm um segundo tribunal para recorrer. É uma violação?
    Há um pouco de verdade nisso. Quando a gente diz que tem de ter sempre direito a recurso por uma segunda instância, para estar mais informado, é, em geral, nas questões penais. Ou seja, o duplo grau de jurisdição. Nós consideramos isso como um dado constitucional em questões penais. Isso é verdade.
    E qual seria a solução?
    Não tem muita solução. Por um lado, exigimos que pessoas com estatuto de deputado não sejam julgadas por juiz de primeira instância. E acabamos por dizer: não têm de ser julgados [só] por juízes de última instância, pois afronta a dignidade. Não há recursos sobre todas as coisas. Agora, na questão penal, é também dado como certo que o duplo grau de jurisdição é quase uma dimensão material do direito ao direito de ir aos tribunais. Há alguma razão [dos réus] aí.
    Outra reclamação é que o mesmo ministro, Joaquim Barbosa, cuidou de todas as etapas do processo.
    Não conheço. De qualquer modo, o que eu tenho defendido sobre a Constituição portuguesa, contra meus colegas criminalistas, é que, num processo justo em direito penal, quem investiga não acusa, quem acusa não julga. São sempre órgãos diferentes. Isso para não transportar as pré-compreensões adquiridas em outros momentos do processo ao momento do julgamento. Então é razoável questionarmos.
      RAIO X - J. J. CANOTILHO
      Jurista português, 72 anos
      PROFISSÃO
      Professor catedrático da Universidade de Coimbra e professor visitante da Universidade de Macau
      PRINCIPAIS OBRAS
      "Direito Constitucional e Teoria da Constituição" e "Constituição Dirigente e Vinculação do Legislador"

      Janio de Freitas

      folha de são paulo
      De concessão em concessão
      A atitude do governo Dilma sobre concorrências de concessão conviria ser a do silêncio cabisbaixo
      Em 13 de outubro: "O fato é que os leilões para concessão dos aeroportos do Galeão (...), a julgar pela preocupação do próprio grupo central do governo, estão em risco iminente de juntar-se à história moral das privatizações das teles e da Vale no governo Fernando Henrique".
      Juntaram-se.
      Aquela indicação do risco não foi a primeira no mesmo sentido, sobre o mesmo tema. Já o artigo que iniciou uma série de quatro, sobre a trama que antecedia os leilões do Galeão e de Confins (em Minas), terminara assim: "(...) a Odebrecht, uma espécie de detentora de exclusividade sobre o Galeão, cujos dois terminais, as pistas, acessos e tudo mais lhe foram entregues [no passado], como sempre, em concorrências ("" "" "" "" "": ponha aspas à vontade)."
      Para meio entendedor um nome basta. Lá estava o de Moreira Franco, secretário de Aviação Civil do governo Dilma, lembrado no artigo por sua presença com a Odebrecht em numerosas concorrências anuladas por fraudes, comprovadas em antecipações aqui dos seus resultados.
      Os artigos descreveram as artimanhas do edital para restringir o número de disputantes nos leilões e a luta para eliminá-las. De um lado, nesse confronto, a Secretaria de Aviação Civil, de Moreira Franco, incumbida dos leilões; de outro, a ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, com os ministros Aloizio Mercadante e Fernando Pimentel e apoiada pela manifestação preliminar do Tribunal de Contas da União, contrária a impedimentos de interessados.
      A dada altura, tudo que seria comprometedor ou suspeito pareceu eliminado, à custa de embates duros na Casa Civil. De repente, o Tribunal de Contas da União aderiu a uma das exigências propostas por Moreira Franco, segundo o qual empresa participante de sociedade em outro aeroporto só poderia ter 15% em consórcio pretendente ao Galeão. E a ministra Gleisi Hoffmann entregou os pontos ou não recebeu o apoio de Dilma Rousseff contra o edital restritivo.
      A Odebrecht levou o Galeão com oferta financeiramente muito mais alta que as demais. A participação limitada a 15% restringira a igualdade de competição para os já participantes de consórcios dos aeroportos de Brasília, Guarulhos e Natal. Com participação assim reduzida, seria muito demorado o retorno do capital investido no leilão e nas grandes obras exigidas pelo Galeão. O que forçava ofertas menos competitivas no leilão.
      Daqui por diante, a atitude do governo Dilma Rousseff, quando se trate de confiabilidade e do seu oposto em concorrências de concessão e de privatização, conviria ser apenas e sempre a do silêncio cabisbaixo.
      2) A propósito do artigo "Show dos erros" (21.nov.), o ministro Joaquim Barbosa me mandou a explicação de que determinou a ida dos condenados do mensalão para Brasília por ser aí o foro do processo.
      A tese contrária, a que me referi lembrando o também ministro Marco Aurélio e outros juristas, é de que a lei não exigia a apresentação em Brasília e situa o condenado próximo do domicílio, no caso, em São Paulo e Minas.
      Quanto à viagem exaustiva para um réu em estado de saúde insuficiente, com longa espera em São Paulo e ainda mais longa em Brasília, informa o presidente do Supremo que não lhe foi comunicada nenhuma restrição a fazê-la, por nenhum dos réus.
      3) O cinquentenário da morte de John Kennedy provoca inúmeras indicações de livros sobre o próprio e o seu governo. Dou o meu palpite: não sei de nada melhor do que "O lado negro de Camelot", que tem edição brasileira pela LP&M, com boa tradução e a vantagem pouco comum de índice remissivo.
      Seu autor, Seymour Hersh, é, provavelmente, o melhor repórter americano há décadas. Recebeu o Pulitzer de Jornalismo pela revelação do massacre de My Lai, um dos milhares de crimes contra a humanidade e crimes de guerra dos americanos no Vietnã, este, no entanto, decisivo por sua repercussão graças a Hersh.

      José Simão

      folha de são paulo
      Dirceu! O Papudo da Papuda!
      Diz que o Zé Dirceu tá adorando o beliche da cela. Ele dorme embaixo e o ego dorme em cima!
      Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! E a predestinada do mensalão! Sabe como se chama a namorada do Zé Dirceu? Patrícia TRISTÃO! Rarará!
      E a dúvida do mensalão: "você estar preso na Papuda e receber visita do Suplicy é bullying?". Rarará!
      E um leitor me disse que tanto o Genoino como o Zé Dirceu têm problemas de saúde: o Genoino é cardiopata e o Zé Dirceu é psicopata.
      E o Joaquim Barbosa parece a minha sogra: ranzinza, não deixa ninguém falar e os outros estão sempre errados! E o Pizzolato fugiu pro seu habitat: Nápoles. Disfarçado de meia calabresa, meia margherita.
      E o Delúbio tá a cara do Saddam Hussein quando saiu do buraco! E eu já disse que o culpado de tudo é o Gabeira, que trocou o embaixador americano pelo Zé Dirceu. Rarará!
      E o Dirceu é o Papudo da Papuda! Aliás, diz que o Zé Dirceu tá adorando o beliche da cela. Ele dorme embaixo e o ego dorme em cima!
      E sabe qual é a semelhança entre o PT e o PSDB? Ambos deram calote no Marcos Valério. O Marcos Valério foi o único careca que derrubou um monte de barbudo! E eu acredito na inocência do Marcos Valério. Já viu algum mineiro distribuir dinheiro? Mesmo que não seja dele! E o nome da agência do Marcos Valério: SMPB. Quer dizer: "Surgiu em Minas e Pegou o Brasil". Rarará!
      E a onda agora é o semiaberto. Olha a charge do Duke com o escrivão perguntando pro casal: "Em que regime vocês pretendem se casar?". "Semiaberto." Já sei, casamento semiaberto é assim: de dia dorme com a amante no motel e à noite volta pra cadeia pra dormir com a mulher. Ou vice-versa. De dia dorme com o amante no motel e de noite volta pra cadeia pra dormir com o maridão. De dia, cama redonda, e de noite, cama quadrada! É mole? É mole, mas sobe!
      E sabe o que o Massa devia fazer hoje em Interlagos? Vender batida! Rarará! Hoje é dia da dupla: Felipe Amassa e o Bruno Acena. Hoje o Galvão entra em erupção!
      E no Maracanã: Flamengo x Corinthians. Urubu x Gambá! O jogo devia ser no lixão. Rarará! E atenção! Agora falta o julgamento do mensalão mineiro tucano e do metrosão de São Paulo. Tem que pegar todo mundo. Não tem virgem na zona! Rarará!
      Nóis sofre, mas nóis goza!
      Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

        Mauricio Stycer

        Folha de são paulo
        Como ser crítico de televisão
        'As pessoas acham que o crítico tem prazer em dizer que a coisa é ruim. Não. É uma tristeza', diz Heliodora
        A onda de intensa criatividade vivida pela televisão americana nos últimos 15 anos deu novo impulso, como não poderia deixar de ser, a uma antiga atividade, quase sempre vista como menor: a de crítico de TV.
        Não há hoje veículo importante na mídia americana, impresso ou on-line, sem um crítico titular especializado. Uma associação de críticos, que concede um prêmio anual (TCA) aos melhores da indústria, conta com 200 representantes.
        Os seriados mais populares, exibidos uma vez por semana, estimularam o desenvolvimento de um subgênero, hoje incorporado ao trabalho dos principais profissionais. É o chamado "recap". Ao final de cada episódio das séries de sucesso, críticos escrevem longos textos, recapitulando, esmiuçando e analisando o que o público acabou de ver na tela.
        Essa arte de dissecar episódios alcançou o seu ápice na reta final de "Breaking Bad". Uma reportagem do "Wall Street Journal" mostrou que os sites das principais publicações se viram obrigados a destacar pelo menos um crítico e/ou blogueiro para fazer o "recap" dos últimos capítulos da série, para não ver a audiência migrar para a concorrência.
        O sucesso desses textos escritos à quente, no final da noite, levou Matt Zoller Seitz, crítico da revista "New York" e do site "Vulture", a alertar que não se deve entender o trabalho do crítico de TV como sinônimo de escrever "recaps".
        Em um longo texto sobre o assunto, intitulado "Nunca houve uma época tão boa para a crítica de TV", o também editor-chefe do site "RogerEbert.com", diz: "Fui crítico de cinema por 20 anos e há 15 escrevo simultaneamente sobre cinema e TV. Nunca vi nada tão inovador e vibrante como o que muitos de meus colegas, críticos de TV, vêm fazendo nos últimos anos".
        Maureen Ryan, crítica do "Huffington Post", fez uma observação bem-humorada, mas muito sagaz, sobre uma das consequências deste bom momento: "Você aprende duas coisas assim que vira crítico de televisão. Primeiro, todo mundo acha que você tem um trabalho incrível. Segundo, quase todo mundo acha que pode fazer o seu trabalho".
        No texto, "Como ser um crítico de TV", Ryan aponta cinco problemas que afetam o seu cotidiano. Vou reproduzi-los, de maneira sintética.
        1. Você perde boa parte do seu tempo vendo porcaria na TV. 2. O diálogo com os leitores, pela internet, é ótimo, mas também pode ser cansativo por conta de comentaristas mal-intencionados. 3. É preciso aceitar que, mesmo com recursos de gravação e conteúdo on-line, você nunca será capaz de assistir a tudo que quer. 4. É triste constatar que muitos programas que você admira fracassam e são cancelados por falta de audiência. 5. As pessoas que trabalham na TV nem sempre reagem bem ao que você escreve.
        Concordo com os cinco pontos. Sobre este último, em particular, acho curioso ainda ouvir a acusação de que sou pago para falar mal. Esta semana, por exemplo, Walcyr Carrasco considerou que errei ao interpretar em meu blog no UOL uma determinada cena de sua novela, "Amor à Vida", e mandou: "Falar mal faz parte do seu contrato".
        Dedico a ele (e a outros ofendidos) as palavras de Barbara Heliodora, crítica teatral, ativa e precisa aos 90 anos de vida: "As pessoas acham que o crítico tem prazer em escrever uma crítica dizendo que a coisa é ruim. Não. É uma tristeza".

          Ferreira Gullar

          folha de são paulo
          Piadas de salão
          Dirceu e Genoino se dizem presos políticos; para isso, seria preciso que o atual governo fosse uma ditadura
          E agora, como ficam Lula e seu partido? O processo do mensalão chegou ao final, com a condenação dos responsáveis pela falcatrua levada a cabo por destacados membros do governo Lula e do PT: José Dirceu, ex-ministro da Casa Civil da Presidência; José Genoino, então presidente do Partido dos Trabalhadores; Delúbio Soares, ex-tesoureiro do partido, e João Paulo Cunha, ex-presidente da Câmara de Deputados.
          Isso sem falar em Marcos Valério, operador do sistema, e um alto funcionário do Banco do Brasil, Henrique Pizzolato, que entregou R$ 73 milhões ao PT para a compra de deputados. A pergunta é como ficam Lula, seu partido e o governo petista agora, diante da nação.
          Vou referir-me aqui a determinados fatos, de que o leitor talvez não se lembre, mas o ajudarão a entender como nasceu o mensalão. Os fatos são estes: quando Lula foi eleito presidente da República, José Dirceu disse-lhe que o PMDB estava disposto a apoiar seu governo, mas Lula não quis.
          Sabem por quê? Porque o PMDB, com o peso que tinha no Congresso, iria exigir dele ministérios e a direção de empresas estatais. Preferia aliar-se a partidos pequenos que, em lugar de altos cargos, se contentariam como muito menos. E assim foi: em vez de ministérios ou empresas estatais, deu-lhes dinheiro. Falando claro, comprou-os com dinheiro público.
          Não tenho dúvidas de que Lula não sujou suas mãos nessa tarefa. Encarregou disso, conforme ficou evidente na apuração processual, seu ministro José Dirceu, que, como disse o procurador-geral da República na época, era o chefe da quadrilha. E dela faziam parte, entre outros, além de Marcos Valério e do presidente do PT na época, José Genoino, o diretor da marketing do Banco do Brasil, Henrique Pizzolato, companheiro de partido.
          A compra de deputados veio a público porque o então presidente do PTB, Roberto Jefferson, negou-se a aceitar dinheiro em troca do apoio ao governo: queria a direção de Furnas, mas José Dirceu disse não. Esse conflito entre os dois chegou a tal ponto que ele foi à imprensa e denunciou o que o governo fazia para ter apoio dos partidos de sua base parlamentar: comprava-os. Era o mensalão que vinha à tona.
          Lula, pego de surpresa, declarou: "Fui traído". Ou seja, admitiu que a denúncia era verdadeira, mas ele ignorava a falcatrua. Isso ele disse naquela hora, para se safar, porque, pouco depois, refeito do susto, passou a afirmar que era tudo mentira, nunca houve mensalão nenhum. Sucede que, durante sete anos, a Justiça, por meio do exame de documentos, interrogatório e testemunhos, apurou o que realmente aconteceu e definiu o papel de cada um nesse grave crime.
          O escândalo, ao eclodir, quase acaba com o PT e o governo Lula. Os membros efetivamente comprometidos com a ética deixaram o partido, e Lula, ao que tudo indica, chamou os executores do mensalão e os fez se deixarem acusar sem contar a verdade. Delúbio assumiu sozinho a culpa por tudo, disse que Lula não sabia de nada. Isso, mesmo estando todos os domingos com ele, na Granja do Torto, fazendo churrasco.
          A verdade é que, embora eles pensassem que tudo ia acabar como piada de salão, não foi isso que aconteceu. Rompendo com a tradição de impunidade, que sempre favoreceu aos poderosos, o Supremo Tribunal Federal, num julgamento que foi realizado à vista da nação inteira, decidiu pela condenação e prisão de todos os que comprovadamente participaram da operação criminosa, cujo objetivo era dar apoio político ao presidente Lula.
          Em consequência dessa decisão, José Dirceu, José Genoino, João Paulo Cunha e Delúbio Soares, entre outros, irão pagar na cadeia pelo crime que cometeram.
          Condenados pela Suprema Corte da Justiça, num julgamento em que todos os ministros manifestaram suas opiniões e votaram conforme sua consciência, não tem cabimento dizer que se trata de um julgamento político. Não obstante, Dirceu e Genoino se fazem de vítima e se dizem "presos políticos". Para isso, seria preciso que o atual governo fosse uma ditadura e que Dilma é que tivesse mandado prendê-los. Isso, sim, é piada de salão.
          Soube que, ao sair a ordem de prisão, Lula telefonou para Dirceu e Genoino e lhes disse: "Estamos juntos!". Só que os dois estão em cana e ele, solto. Outra piada.

          Veja as manchetes dos principais jornais e revistas deste domingo

          folha de são paulo

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          DE SÃO PAULO
          *
          Jornais nacionais
          O Estado de S.Paulo
          MPs de Dilma oneram contas públicas em R$ 96,3 bilhões
          O Globo
          Fim da impunidade: BB cobrará na Justiça verba desviada por mensaleiros
          Correio Braziliense
          Prisões causam mal-estar entre Barbosa e juiz
          Zero Hora
          Agrotóxico proibido é vendido na internet
          *
          Veja
          A lei e os fora da lei
          Época
          Sexo, vingança e internet
          IstoÉ
          Exclusivo: José Genoíno: "Fui condenado por corrupção sem nunca ter mexido com dinheiro"
          Carta Capital
          Privilegiados: Para uma extensa lista de envolvidos em escândalos a justiça tarda e falha
          *
          Jornais internacionais
          The New York Times (EUA)
          Acordo alcançado com Irã paralisa programa nuclear
          The Washington Post (EUA)
          Acordo congela partes do programa nuclear do Irã
          The Guardian (Reino Unido)
          Trabalhistas sofrem após corte de financiamento de banco
          El País (Espanha)
          Irã e as potências chegam a acordo sobre o programa nuclear iraniano
          Clarín (Argentina)
          Mudanças nos estoques são definidas e adiam aumento da gasolina