quarta-feira, 27 de novembro de 2013

José Simão

folha de são paulo
Ueba! Lobby no hotel do Dirceu!
E sabe por que saiu o acordo nuclear com o Irã? Porque o reator fica em Arak. O reator é de araque
Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Direto do País da Piada Pronta: "Dirceu contratado como gerente de hotel". Oba! Já tenho onde passar o Réveillon. Vou comprar um pacote pro Réveillon! E os hóspedes saem sem as malas! Rarará!
Eu acho que o dono do hotel pretende abrir uma cadeia de hotéis! Dirceu contratado para uma cadeia de hotéis! E vai trabalhar no lobby ou na lavanderia? No LOBBY! Ou seja, vai continuar fazendo o que sempre fez! O lobby vai servir pra fazer lobby! E o Jefferson vai cantar no hotel? Vai ter show do Roberto Jefferson? Rarará!
E o porteiro é o Genoino? Com aquela camisa rosa? Já imaginou a situação? Você recebe a conta errada e pede pra falar com o gerente. E aí vem o: Zé Dirceu! Rarará!
Vai parecer o hotel de "Psicose"! Aquele filme do Hitchcock! Rarará! E o Genoino de birote vai fazer o papel da mãe do "Psicose"!
E um leitor me disse que com a chegada dos petistas, a Papuda virou Barbuda! Rarará!
E sabe por que saiu o acordo nuclear com o Irã? Porque o reator iraniano fica em Arak. O reator é de araque. E o Lula chamava o Irã de IRÂNIO! Rarará!
E olha essa placa no metrô de São Paulo: "Deixe a esquerda livre". Deve ser recado dos petistas pro Batbarbosa: "Deixe a esquerda livre". Rarará. E esse adesivo que tão colando no metrô: "Você está circulando num trem superfaturado com licitação fraudulenta". Superfaturado, superlotado e superdesgovernado. Rarará!
E adorei a charge do Duke com o cara chegando em casa com o braço levantado: "O que é isso, marido, tá fazendo o gesto do Genoino e Zé Dirceu?". "Não, é que eu estava pendurado no metro superlotado e o braço travou." Rarará!
E essa: "Sargento vendedor de "CHUP-CHUP" atira em participantes da Parada Gay". Em Nova Iguaçu! Deu confusão na hora do chup-chup! Rarará! É mole? É mole, mas sobe!
Os Predestinados! Mais três para a minha série Os Predestinados! Presidente da empresa que implodiu a Perimetral: José Renato PONTE! Tratadora de animais no zoo de São Paulo: Cris PASSARINHEIRA! E direto do proctologista: Pedro PIMENTA! No dos outros é refresco. Rarará!
Nóis sofre, mas nóis goza!
Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

    O acerto de Dilma - Fernando Rodrigues

    folha de são paulo

    O acerto de Dilma

    Ouvir o texto

    BRASÍLIA - A prisão de mensaleiros acabou tirando o destaque positivo de um veto presidencial recente. Há menos de duas semanas, Dilma Rousseff tomou uma decisão corajosa. Vetou por completo uma lei que pretendia regulamentar a criação de novas cidades no país.
    O veto de Dilma foi a favor do Brasil e contra os políticos. O mais fácil seria resignar-se. Esconder-se atrás do discurso segundo o qual "o Congresso é soberano". Dezenas de milhares de políticos agradeceriam.
    O Brasil tem hoje 5.569 cidades e Brasília (que não é cidade nem Estado, mas apenas uma anomalia na forma de erro histórico irreparável). Se fosse sancionada a lei aprovada por deputados e senadores, logo de saída, 269 novos municípios seriam irreparavelmente criados. É raríssimo uma cidade falida voltar a ser bairro do município de origem.
    A farra custaria bilhões de reais. Essas 269 cidades poderiam ter uma média de dez vereadores cada uma (o número varia conforme o tamanho do distrito). Seriam 2.690 novas sinecuras. Sem contar os prefeitos, vice-prefeitos, secretárias, motoristas, assessores, verba de gabinete e outras mamatas. E o principal: o salário de cada um deles.
    Em alguns países, cidades pequenas não pagam salários para seus legisladores. Nos EUA, várias Assembleias Legislativas nem sequer remuneram seus deputados estaduais. O costume no Brasil de dar um dinheirinho para essa turma se acentuou durante a ditadura militar --que precisava fidelizar os políticos à Arena. A democracia abraçou a pilantragem com fervor. Multiplicaram-se as cidades. Em 1980, havia 3.992 municípios no país. Agora, são os 5.569.
    O mais cômodo para Dilma Rousseff teria sido sancionar a lei das cidades. Desfrutaria então de milhares de novos cabos eleitorais a seu favor, todos remunerados com o dinheiro dos impostos dos contribuintes.
    Dilma tomou uma decisão antipopulista. É algo raro. Merece registro.
    fernando rodrigues
    Fernando Rodrigues é repórter em Brasília. Na Folha, foi editor de "Economia" (hoje "Mercado"), correspondente em Nova York, Washington e Tóquio. Recebeu quatro Prêmios Esso (1997, 2002, 2003 e 2006). Escreve quartas e sábados na versão impressa Página A2.

    Elio Gaspari

    folha de são paulo

    Um cheiro de Munique em Genebra

    Ouvir o texto

    O primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu classificou de "erro histórico" o acordo que deu ao Irã seis meses para que comprove o congelamento de seu programa de construção de uma bomba atômica, oferecendo-lhe em troca uma suave suspensão das sanções impostas à sua economia. Teatral, durão, ingênuo manipulador do lobby de Israel nos Estados Unidos, Netanyahu encarna as mudanças ideológicas e demográficas ocorridas em seu país. Falta-lhe a densidade moral que, faz tempo, tiveram muitos de seus antecessores. O paralelo com a paz obtida em Munique pelo primeiro-ministro inglês Neville Chamberlain depois de conversar com Hitler, em setembro de 1938, vem de Ari Shavit, um respeitado jornalista israelense. Ele é o autor do melhor livro publicado nos últimos anos sobre os dilemas de seu país ("My Promised Land", ou "Minha Terra Prometida") Ao contrário de Netanyahu, Shavit é um pacifista moderado, crítico da política de ocupação de terras palestinas e do comportamento do Estado judeu nessas áreas.
    Seu argumento é simples: Assim como o acordo de Munique não impediu que um ano depois a Alemanha invadisse a Polônia, a moratória não parará a bomba iraniana. Deixando-se de lado o valor da palavra de Hitler em Munique, Israel empenhou a sua dezenas de vezes, garantindo que não fabricaria uma bomba a partir do seu reator de Dimona. Ao contrário do Irã, que está a um passo de montar o artefato, nos anos 50 Israel nem isso tinha. Iludiu sucessivas missões de inspetores americanos e, em 1967, montou sua primeira bomba.
    Não é Shavit quem diz, mas se depois do acordo de Genebra não prosperar um dificílimo processo de reconhecimento de Israel pelos árabes, necessariamente acompanhado por uma clara definição das fronteiras do Estado judeu, vem aí uma guerra. É certo que Washington jogará na mesa a carta da desnuclearização do Oriente Médio. Nesse caso o Irã (mais a Arábia Saudita, o Egito e a Turquia) suspenderiam seus projetos e Israel entregaria suas bombas (dezenas). Sem um acordo mais específico, no dia seguinte começa-se a planejar a retomada de Jerusalém.
    Até as pedras sabem que Barack Obama detesta -com razão- o governante israelense, mas Shavit mostra que o descaso das potências ocidentais diante da bomba iraniana não é coisa só dele. A responsabilidade deve ir também para dois outros presidentes americanos, três governantes israelenses e mais uma dúzia de europeus.
    A semelhança com Munique está num conjunto que ele chama de "ilusões". O Irã não fala sério nem de seu regime se pode esperar moderação. Do outro lado da trincheira, enquanto em 1938 a França e a Inglaterra não ameaçavam terras alemãs, hoje Israel ocupa territórios árabes e há 700 mil refugiados palestinos no mundo.
    A crise do Oriente Médio é uma daquelas questões nas quais muita gente desiste de prestar atenção, perdendo o fio da narrativa. Israel de hoje não é o do século passado. Passou por profundas mudanças sociais, religiosas e políticas. Para quem quiser tomar o pé na história recente desse país, terá boa leitura no livro de Shavit. É uma empolgante reportagem em que ele mostra as glórias e desgraças de Israel, narrando a vida e dando voz a dezenas de personagens. Está na rede, infelizmente em inglês, por US$ 11,84.
    elio gaspari
    Elio Gaspari, nascido na Itália, veio ainda criança para o Brasil, onde fez sua carreira jornalística. Recebeu o prêmio de melhor ensaio da ABL em 2003 por "As Ilusões Armadas". Escreve às quartas-feiras e domingos na versão impressa de "Poder".

    Mônica Bergamo

    folha de são paulo

    Ministro da Saúde tira satisfação com presidente do Conselho Federal de Medicina

    Ouvir o texto

    O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, tirou satisfação com o presidente do CFM (Conselho Federal de Medicina), Roberto D'Avila, em um intervalo do primeiro dia de audiência pública sobre o Mais Médicos, no Supremo Tribunal Federal. Ao deixar a bancada anteontem, Padilha contestou a crítica de que o programa é feito por "profissionais de calça curta que chegaram agora e pensam que estão construindo o SUS".
    JALECO CURTO
    Padilha pegou o presidente do CFM pelo braço e, ao pé do ouvido, ironizou: "Da próxima vez, venho de bermuda para agradá-lo". D'Avila respondeu não ser necessário. "Basta que as ações adotadas sejam coerentes e não desvalorizem o médico brasileiro", rebateu o líder da classe. Uma testemunha do diálogo diz que o tom subiu e D'Avila chegou a dizer que "podia falar o que quisesse".
    JALECO CURTO 2
    A assessoria do ministro diz que ele se limitou a retrucar que "é importante manter o debate e ter argumento sem desqualificar os interlocutores". Procurado pela coluna, D'Avila não quis comentar o bate-boca. Declara, via assessoria, que não foi um comentário pejorativo nem uma crítica ao ministro, mas ao programa.
    SINTONIA FINA
    O ex-deputado Carlos Alberto Rodrigues Pinto, conhecido como Bispo Rodrigues (PL), está hospedado desde a semana passada na casa do Bispo Wanderval, no Gama, cidade-satélite de Brasília. Condenado a seis anos e três meses de prisão no processo do mensalão, ele decidiu aguardar a expedição do mandado de prisão no DF. Como deve cumprir pena no semiaberto, quer conseguir autorização para trabalhar nas rádios locais Aleluia FM e Capital AM.
    MAQUININHA
    A Riachuelo começou a converter sua base de 23 milhões de cartões private label --emitidos pela própria rede para compras apenas em suas lojas-- em Visa e Mastercard. Segundo Flávio Rocha, presidente da empresa, cerca de 2 milhões de cartões já passaram para as duas bandeiras. "A meta é convertermos metade da base", explica ele, que inaugura hoje na Oscar Freire, em SP, a primeira loja-conceito.
    ATÔMICA
    O governo brasileiro acompanha os desdobramento do acidente em Fukushima, no Japão, para definir rumos do programa nuclear brasileiro. Segundo o presidente da EPE (Empresa de Pesquisa Energética), Mauricio Tolmasquim, não existe ainda definição quanto à construção de novas usinas no país. "O que não quer dizer que não se possa construir no futuro. Não se fechou a porta para essa tecnologia, que pode ser importante para o Brasil." Angra 3 está prevista para ser inaugurada em 2018.
    DE PORTAS ABERTAS
    O cantor Otto e a namorada, Amanda Lira, foram ao jantar oferecido anteontem por Nizan Guanaes e Donata Meirelles ao publicitário PJ Pereira, que lançou "Deuses de Dois Mundos - O Livro do Silêncio". A modelo Michelli Provensi, a gerente de marketing Manuela Vivo e o atleta Leonardo Elisiário, com a namorada, Anna Paula Cruz, também estiveram na Casa Amarela para homenagear o premiado publicitário radicado na Califórnia.

    Nizan Guanaes homenageia escritor

     Ver em tamanho maior »
    Bruno Poletti/Folhapress
    AnteriorPróxima
    O cantor Otto e a namorada, Amanda Lira, foram ao jantar oferecido na segunda (25) por Nizan Guanaes e Donata Meirelles ao publicitário PJ Pereira, que lançou "Deuses de Dois Mundos - O Livro do Silêncio"
    HONRA AO MÉRITO
    O urologista Miguel Srougi recebeu anteontem a Medalha Anchieta, concedida a personalidades de destaque em São Paulo. A homenagem foi proposta pelo vereador Andrea Matarazzo (PSDB). Entre os convidados da solenidade, no MIS, estavam o ex-governador Alberto Goldman (PSDB), o cineasta Hector Babenco e o deputado estadual Campos Machado (PTB) com a mulher, Marlene. Iara Srougi, mulher do médico, também participou do evento.

    Miguel Srougi recebe medalha

     Ver em tamanho maior »
    Bruno Poletti/Folhapress
    AnteriorPróxima
    O urologista Miguel Srougi recebeu na segunda (25), no MIS, a Medalha Anchieta, concedida a personalidades de destaque em São Paulo; o vereador (PSDB) Andrea Matarazzo sugeriu que o médico fosse homenageado
    SUPERFANTÁSTICA
    Além de engordar 5 kg, Deborah Secco está numa maratona de filmagens de "A Estrada do Diabo", em São Paulo. No longa de estreia de André Moraes, ela faz o papel de uma atriz em busca da fama perdida. "É a história de uma atriz mirim, que foi famosa na infância. Tipo a Simony", conta ela, referindo-se à cantora que fez sucesso nos anos 1980, com a Turma do Balão Mágico.
    RETORNO
    Em cartaz desde setembro, a montagem "Tribos" já se pagou, segundo Bruno Fagundes, que atua na peça ao lado do pai, Antonio Fagundes. Os R$ 80 mil que investiram do próprio bolso já foram recuperados. Com casa cheia, a temporada no Tuca, que inicialmente acabaria em dezembro, vai ser estendida até abril de 2014.
    CURTO-CIRCUITO
    Antonio Nóbrega faz show hoje, às 15h, no Memorial da América Latina. Grátis. Livre.
    Fernando Meirelles fala para designers de iluminação hoje, em evento da Philips, no JK Iguatemi.
    O promotor Roberto Livianu, presidente do Ministério Público Democrático, recebe hoje a Medalha Anchieta, na Câmara Municipal, às 19h.
    A Scarf Me, de Daniel e Rodrigo Rosset, terá peças audiovisuais assinadas pelo diretor de fotografia Rafael Levy em nova campanha publicitária nos cinemas.
    O livro "Ceviche - Do Pacífico para o Mundo", de Dagoberto Torres e Patrícia Moll, será lançado na Livraria da Vila da Fradique, hoje, às 18h30.
    com ELIANE TRINDADE (interina), JOELMIR TAVARES, ANA KREPP e MARCELA PAES
    mônica bergamo
    Mônica Bergamo, jornalista, assina coluna diária publicada na página 2 da versão impressa de "Ilustrada". Traz informações sobre diversas áreas, entre elas, política, moda e coluna social. Está na Folha desde abril de 1999.

    Livro investiga trio que mudou o rock

    folha de são paulo
    'Dangerous Glitter' cruza as trajetórias de David Bowie, Lou Reed e Iggy Pop para narrar selvageria dos anos 1970
    Jornalista inglês Dave Thompson conta história que vai da androginia do 'glam rock' à rebeldia punk
    CADÃO VOLPATOESPECIAL PARA A FOLHAA morte de Lou Reed, em 27 de outubro último, colocou um ponto final numa era. Um clarão de lucidez saltou do noticiário naquela manhã de domingo: o mundo havia perdido um de seus artistas mais importantes.
    O fundador do Velvet Underground esteve no centro dos períodos mais rebeldes, estranhos e energéticos que a música jovem viveu nos últimos 50 anos.
    Ele é um dos vértices do triângulo apresentado no excelente "Dangerous Glitter "" Como David Bowie, Lou Reed e Iggy Pop Desceram ao Inferno e Salvaram o Rock'n Roll", escrito por Dave Thompson, um jornalista inglês autor de cem livros sobre cultura pop.
    Thompson cruzou os caminhos dessas três figuras, contando suas trajetórias desde o princípio e levando-as ao ápice de seus movimentos selvagens --o tempo de muita purpurina, salto alto, penteados horrorosos, maquiagem de travesti e androginia de butique conhecido como "glitter" ou "glam rock" nos anos 1970.
    Ele entrevistou diversas testemunhas ao longo do tempo, falou com as estrelas e soltou a mão com senso de humor e inteligência.
    O resultado é um livro de caráter histórico, ainda mais com o desaparecimento de um de seus protagonistas.
    "Dangerous Glitter" nos leva ao interior da Factory, a central nova-iorquina de Andy Warhol onde o Velvet Underground --ainda uma banda barulhenta e estilosa-- encontrou o seu ninho.
    Lá, Lou Reed é apresentado a Nico, a modelo-cantora alemã que seduziu a todos --de Jim Morrison e Alain Delon a Iggy Pop-- e com quem viveu um romance.
    Lou é o catalisador das forças que levaram o rock cheio de flores do verão do amor de 1967 para o inferno das drogas e do excesso do "glam rock".
    "The Velvet Underground & Nico", o clássico "disco da banana", lançado no ano do apogeu hippie e também de "Sgt. Peppers", dos Beatles, já deixava claro que os subterrâneos eram bem mais cabeludos do que supunha a filosofia da paz e do amor.
    Seus temas eram o sadomasoquismo, as drogas pesadas, a prostituição, o tráfico, tudo embalado em barulho, microfonia e uma viola (tocada por John Cale) cujo som lembrava uma motosserra.
    Por trás de tudo vinha a poesia barra-pesada e lírica de Lou, que havia estudado literatura e fora amigo do escritor Delmore Schwartz, autor de "Nos Sonhos Começam as Responsabilidades".
    Bowie era fã de Lou e não tinha nenhum sucesso na manga, a não ser "Space Oddity", que havia gravado certeiramente em 1969, o ano em que o homem pisou na Lua.
    Também era fã de Iggy, um baixinho enfurecido que comandava o Stooges, uma das bandas mais ensandecidas de todos os tempos.
    O livro traça esses destinos improváveis até o momento em que os três se transformam em estrelas tão exageradas que, mesmo sem purpurina, como no caso de Iggy, acabariam atraindo a ação e a reação de um movimento que recolocaria o rock em sua selvageria inicial: o punk.
    O que teria sido do gênero sem Iggy Pop e Lou Reed --e sem David Bowie como contraponto? O livro de Dave Thompson responde a essa e outras perguntas com louvor.
    DANGEROUS GLITTER
    AUTOR Dave Thompson
    TRADUÇÃO Alyne Azuma
    EDITORA Veneta
    QUANTO R$ 79,90 (400 págs.)

      Marcelo Coelho

      folha de são paulo
      Vale o ingresso
      'Blue Jasmine', de Woody Allen, concentra numa personagem as ilusões do mercado financeiro
      Conheço gente que, em especial depois da crise de 2008, tornou-se fundamentalista em matéria de investimentos financeiros. "O que você faria?", perguntam. "Apostaria de novo todo o seu dinheiro em papéis e impulsos eletrônicos?"
      Recomendam que se compre ouro. O velho metal amarelo é confiável há pelo menos 10 mil anos. O resto, com a possível exceção dos imóveis, não passa de fluxos de informação. Promessas de pagamento. Cartas de crédito.
      Papeizinhos, em suma, que qualquer governo ou banco, um belo dia, pode rasgar. Pior que isso, bits na tela do seu computador.
      Sim, pode haver algo de ilusório em tudo isso. Só que tendo a ser mais radical. O próprio ouro, afinal, concentra menos valor em si do que mitos e crenças. Supondo que valha para alguma coisa além de fazer anéis e obturações dentárias --mas estas já entram em desuso--, nada impede que seu preço desabe em definitivo.
      Não entendo nada de finanças, mas já vi muita coisa de Woody Allen, e esses comentários sobre a importância do ouro vêm a propósito de "Blue Jasmine", filme seu que entrou em cartaz recentemente.
      Cate Blanchett (aposto meio quilo que ganha o Oscar) é Jasmine (na verdade Jeanette, mas ela trocou de nome), uma mulher grã-finérrima que perdeu tudo num escândalo financeiro. O marido (Alec Baldwin) era um desses magos do mercado que, a exemplo de tantos outros em 2008, manipulavam créditos podres em cima de créditos podres, iludindo milhares de poupadores e vivendo como nababos.
      Woody Allen fez um filme bem mais dramático do que de costume. Não entrou, como costuma fazer de modo tão encantador, na fantasia dos seus personagens --caso de "Meia-Noite em Paris", por exemplo.
      Aqui, Cate Blanchett e algumas pessoas em volta dela vivem num plano de irrealidade mais ou menos intenso, mas o espectador se mantém a uma distância nítida daquilo que acontece.
      A loucura, a ingenuidade, a simploriedade de muitas personagens faz com que o humor não desapareça de "Blue Jasmine", mas a fonte de inspiração para a Jeanette/Jasmine de Woody Allen não poderia ser mais dramática.
      Cate Blanchett é uma espécie de nova Blanche Dubois, a delirantemente refinada solteirona de "Um Bonde Chamado Desejo", de Tennessee Williams. A exemplo daquela peça dos anos 1940, a grã-fina vai morar na casa da irmã, que tem uma vida pobre, simples, real.
      No cinema, "Um Bonde Chamado Desejo" tinha um Marlon Brando belíssimo e brutal no papel do cunhado de Blanche. No filme de Woody Allen, o macho de plantão é Bobby Cannavale, namorado da irmã.
      O ser humano, nos filmes de Woody Allen, nunca será tão mau como nas peças de Tennessee Williams. Há muitos patifes, mas não demônios. Há tentação e fraqueza, mas não perversidade.
      Talvez isso seja a última ilusão de Woody Allen, que bem ou mal está com quase 80 anos, e não pretendo, de todo modo, fingir que sou mais experiente do que ele. Cada um julga as coisas segundo a própria experiência, e a minha, felizmente, de modo geral não me leva a desmenti-lo.
      Nesse gênero de diagnósticos sobre a humanidade, tudo talvez se resuma a rótulos, palavras, papéis assinados ou escritos, tendo como testemunha Rousseau, Kafka, Nietzsche, Deus ou o Diabo.
      Crédulo, em todo caso, Woody Allen não é. "Blue Jasmine" concentra na personagem de Cate Blanchett uma capacidade para a ilusão e para a mentira que, no fundo, parece disseminada na sociedade americana --e no mundo todo, por extensão.
      Compramos produtos e mais produtos baseados no que nos diz a publicidade, sabendo perfeitamente que os anúncios não correspondem à verdade. As compras são feitas com cartões de crédito, que muita gente usa sem ter certeza de como vai pagar depois.
      Parte de toda a dinheirama é, ou pelo menos foi, aplicada em títulos e fundos de investimento, sabe-se lá mais o quê, cujo valor se baseia na promessa de que alguém, algum dia, vai devolver todo o dinheiro, com um bom chantili de juros por cima.
      Deu-se o calote, e o governo produz dinheiro para cobrir as perdas gerais; dinheiro no qual todos acreditamos, mas é papel, promessa de pagamento. Nem isso: ficaria louca a autoridade que quisesse produzir, fisicamente, todos os dólares que circulam por aí.
      "Confiança" é a palavra mágica, em torno da qual gira a máquina e, com ela, todos os argumentos dos economistas. Não entendo de economia, como já disse; entendo um pouco de palavras, e sei que podem ser substituídas.
      Que tal, em vez de "confiança", "credulidade", ou "mentira"? O cinema, como a literatura, produz as suas, claro; mas "Blue Jasmine" consegue dar à ilusão o peso, o lastro em ouro, do real. Vale, pelo menos, o preço do ingresso.

        Veja as manchetes dos principais jornais desta quarta-feira

        folha de são paulo

        Ouvir o texto
        DE SÃO PAULO
        *
        Jornais nacionais
        O Estado de S.Paulo
        PSDB pede demissão de ministro da Justiça
        O Globo
        Caso Siemens: Tucanos denunciam que documentos foram forjados
        Valor Econômico
        Decisão do STF pode custar R$ 40 bi a fundos de pensão
        Estado de Minas
        Colégios mineiros no topo do Enem
        Zero Hora
        Senado aprova voto aberto em cassações
        *
        Jornais internacionais
        The New York Times (EUA)
        Novas regras seria frear papel político sem fins lucrativos
        The Washington Post (EUA)
        Microsoft se muda para aumentar a segurança
        The Guardian (Reino Unido)
        Reivindicação de mentiras policiais reacende caso Plebgate
        El País (Espanha)
        "Os protestos foram o resultado da democracia e crescimento"