sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Médicos lançam documento com orientações sobre proteção solar

folha de são paulo

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JULIANA VINES
DE SÃO PAULO

A Sociedade Brasileira de Dermatologia lançou ontem o Consenso Brasileiro de Fotoproteção, primeiro documento com recomendações sobre proteção solar no país.
Entre as orientações está a indicação do uso de filtro solar com o fator mínimo de proteção 30 e a formalização de que se deve evitar a exposição ao sol das 10h às 15h --com exceção da região Nordeste, onde a radiação solar já é alta a partir das 9h.
As diferenças climáticas e populacionais motivaram os médicos a criar um consenso nacional sobre o tema.
Editoria de Arte/Folhapress
Sol
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"Não dá para importar recomendações de países tão diferentes, como os Estados Unidos", disse Sérgio Schalka, coordenador do consenso, que teve a participação de 24 especialistas.
Já é comprovado que a fotoproteção previne o câncer de pele. O do tipo não melanoma é o câncer mais comum no Brasil --só no ano que vem haverá 182 mil novos casos.
"Podemos interferir na incidência e mortalidade com a fotoproteção correta, que não se resume em uso do filtro solar na quantidade certa. É preciso aliar outras formas de proteção, como uso de bonés e óculos de sol", diz Marcus Maia, do Programa Nacional de Controle do Câncer de Pele da sociedade.


Amanhã, das 9h às 15h, a entidade vai fazer uma campanha de atendimento gratuito para diagnóstico e encaminhamento de casos de câncer de pele. Serão 139 postos em todo país. Informações no site www.sbd.org.br.

Barbara Gancia

folha de são paulo
Jogue Bucicleide do helicóptero
Buci, digo, Cleide chegou para me bombardear com um arsenal de perguntas sobre uma tal família Perrella
Desta vez o choque foi quase insuperável. Eu ainda estava acabrunhada e perguntando a mim mesma o que poderia ter da­do errado, quando minha treslou­cada amiga Bucicleide surgiu do nada, aparentemente para injetar ânimo em minhas veias.
"Não é possível, Buci, digo, Cleide, não entendo", desabafei. "O que é que Dubai tem que São Paulo não tem?" Não me conformo. Como pode a locomotiva do Brasil, exem­plo de cidade de gente que faz e, quando não quer fazer, tem quem faça por ela, ter perdido para uma aldeia de adestradores de camelos, comedores de tâmaras, trepadores em miragens de palmeiras na com­petição para sediar a Expo 2020?
Dubai não fica lá na região da no­vela "O Clone"? Pois então. Vá ver se naquele fim de mundo tem pisci­não, vá examinar se chove e escoa como aqui, se eles possuem 300 km de corredores de ônibus para ornar as avenidas, se tem prefeito boneco Ken ou ruas com lindas guaritas, se produzem o tanto de lixo por reco­lher que a gente vê em nossas calça­das, vá! Só quem gera riqueza pro­duz lixo, sabia não, seu bando de desinteligentes que votou com a bunda em vez do cérebro?
Eliminar nossa potência logo na primeira rodada com apenas 13 vo­tos de 163 possíveis para dar a vitó­ria a uma tribo de nômades fazedo­res de xixi na areia é treta. Está na cara que tem harabishueba nesse negócio.
Bucicleide, que estava esperando meu desabafo chegar ao término com paciência de cuidador de pes­soas idosas, soltou um suspiro tão dolorido que forçou um ponto final em minha fala. "Olha só, dona Bar­barica, não é sobre isso que vim ter", anunciou. "Ah, não? Então do que estamos tratando?"
Buci mandou na bucha: "Quero arrumar um jeito de filar a bóia lá na fazenda dos Perrella, você que é jornalista e conhece todo mundo, não teria um contato bom para me apresentar, não?"
E quem seriam "os Perrella"? De­veria ter desconfiado da compaixão daquele ouvido amigo. Eterna inte­resseira, Bu (sim, Bu) foi tratando de explicar. "Fiz uns cálculos e che­guei à conclusão de que os 445 kg de cocaína apreendidos no helicópte­ro da empresa do deputado Gusta­vo Perrella (SDD-MG), devem va­ler 50 milhões no mercado".
Sei. E daí? "Daí que o piloto do he­licóptero dos Perrella recebe R$ 1.700,00 ao mês. E o advogado do parlamentar disse que o funcioná­rio estaria fazendo bico' naquele dia, sabia?" Não. "Pois é, mas piloto de helicóptero não ganha perto de R$ 15 mil?" E eu lá sei? Não sou pi­loto, ora bolas!
Senti uma mudança no tom de voz. "Ah, é? Então me diga: por que a PF não informou a quem perten­ce a fazenda em que o helicóptero pousou para descarregar a merca­doria? Qual o padrão de vida de um piloto de helicóptero que transpor­ta carga ilícita avaliada em R$ 50 milhões? Por que não foi divulgado o resultado da quebra do sigilo telefônico do deputado Gustavo Perrella, 28, ou de seu pai, o sena­dor Zezé Perrella (PDT-MG), que já foi acusado de enriquecimento ilícito, lavagem de dinheiro e eva­são de divisas? Sabemos se há regis­tro de conversas com o piloto?"
Nossa Bucicleide, você não tem mais o que fazer? Mas, em vez dizer isso em alto e bom tom, acabei per­guntando: "Por que você quer ir fi­lar a bóia na casa dessa gente, me explica?" Buci fez cara de pau de es­panta cupim e revelou enfim: "Ué, porque a comida na casa dos Per­rella deve ser ótima. Só pode ser por causa dela que um sujeito qua­lificado como piloto aceita receber um salário 10 vezes inferior ao do mercado para depois correr um baita risco traficando droga em ae­ronave roubada, né?"

Neto do político e jornalista Carlos Lacerda refaz trajetória da família em romance

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Neto do político e jornalista Carlos Lacerda refaz trajetória da família em romance


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RAQUEL COZER
COLUNISTA DA FOLHA

Entre as poucas lembranças que o escritor Rodrigo Lacerda, 44, guarda do avô, o jornalista e político Carlos Lacerda (1914-1977), está a de seu enterro, no cemitério de São João Batista, no Rio.
Aos oito anos, sem nunca ter visto o avô em atividade, Rodrigo espantou-se com o tumulto de lacerdistas na cerimônia fúnebre. Não fazia ideia das paixões causadas por Carlos, que teve direitos políticos cassados pela ditadura antes de o neto nascer.

A imagem ficou num canto da memória do autor até 2010, quando, convidado pela "Ilustríssima", na Folha, a descrever o momento, criou o conto "Política", narrado pelo defunto, à moda "Memórias Póstumas de Brás Cubas", de Machado de Assis.
Acervo UH - 24.mar.1968/Folhapress
Carlos Lacerda em comício em São Caetano (SP), em 1968
Carlos Lacerda em comício em São Caetano (SP), em 1968
O texto gerou um convite da Companhia das Letras para o escritor fazer um retrato biográfico do avô, figura inflamada que, dos anos 1930 aos 1960, rompeu com esquerda e direita, passando de comunista a anticomunista e de articulador do golpe de 64 a um de seus grandes críticos.
"A República das Abelhas" chega agora às livrarias, no ano que antecede o centenário de Carlos Lacerda. O título se refere a um "frenesi em volta da colmeia", metáfora sobre os vários grupos políticos de olho no poder na primeira metade do século 20.
Em 520 páginas, Carlos Lacerda relembra o avô, o juiz Sebastião; o pai, o deputado federal Maurício; os tios, Paulo e Fernando, comunistas; e sua própria trajetória, na qual se destaca a oposição ferina a Getúlio Vargas (1882-1954).
HISTÓRIA SEM RIGOR
Rodrigo leu tudo sobre Carlos, incluindo a imensa biografia feita pelo americano John Watson Foster Dulles, cartas, discursos e sua produção literária --o político escreveu peças, contos e memórias; foi tradutor e editor.
Por "falta de opção melhor", chama o resultado de romance histórico. "Tem biografia e é romance, mas não só; é história, mas sem rigor."
O livro é narrado em primeira pessoa. "O distanciamento de um historiador era impossível, já que sou neto. Tentei tirar partido disso", diz Rodrigo, premiado por romances como "Outra Vida".
Essa opção o deixou livre para recorrer a uma visão parcial, impregnada pelas crenças do avô. Mas o olhar pós-morte traz um político mais comedido do que aquele que ficou famoso pela veemência. "É ele fora do jogo lembrando o campeonato", explica.
A reflexão ficcional póstuma permitiu ao autor incluir conclusões próprias, como a de que a ruptura do Partido Comunista do Brasil com Lacerda, em 1939, teve a ver com uma estratégia dos dirigentes para queimar seu tio Fernando, que media forças com Luís Carlos Prestes.
Leitores sentirão falta de duas passagens notórias da vida do político: sua atuação como governador da Guanabara (1960-1965) e sua ligação com o golpe de 64. Há um plano da editora de publicar um segundo livro. Rodrigo não se compromete.
"A essência da visão de meu avô se consolida até os anos 1950. Com isso, deixei de fora o melhor e o pior da vida política dele. Pode ser que continue, mas, por ora, voltarei a outros trabalhos."
CRÍTICA ROMANCE HISTÓRICO
Obra faz bons retratos, mas falha em narração
'A República das Abelhas', de neto de Carlos Lacerda, se perde ao tentar recriar a voz do político celebrizado como orador
MARCELO COELHOCOLUNISTA DA FOLHANão é um estudo biográfico, não chega a ser um romance, e está um bocado longe de ser literatura. Ainda assim, há muita coisa interessante em "A República das Abelhas", livro em que Rodrigo Lacerda trata de seu avô, o político e jornalista Carlos Lacerda (1914-1977).
O célebre adversário de Vargas, Juscelino e João Goulart não chega a ser, na verdade, o personagem mais marcante destas cinco centenas de páginas. Talvez por uma falha essencial no projeto do autor --tento apontá-la daqui a pouco-- os retratos biográficos mais bem acabados do livro terminam sendo os de outros dois políticos.
A saber, Maurício de Lacerda e Sebastião de Lacerda, respectivamente pai e avô do "biografado". Sebastião foi um modesto republicano no interior fluminense, que se tornou deputado e depois ministro do Supremo. Vestido quase sempre de preto, era capaz de atitudes hoje inconcebíveis de correção moral.
Levava a coisa a tal ponto que, com o filho Paulo prestes a se casar com uma moça rica, foi visitar a família da noiva e achou necessário esclarecer que o filho passara a noite anterior fora de casa.
"Só me resta", declarou para a mãe da noiva, "desmanchar o noivado". A jovem era herdeira de uma fábrica de chocolates, a Bhering, e os Lacerda não tinham um tostão. Os protestos foram muitos e o casamento afinal se fez, com trágicos resultados.
Enquanto Paulo de Lacerda casava com a moça rica, para depois dedicar-se à militância comunista, ser torturado e afundar na demência da sífilis e do alcoolismo, seu irmão Maurício teve uma vida política mais brilhante.
Simpático aos socialistas europeus e aos movimentos sindicais que chegavam ao Brasil, Maurício, pai de Carlos, foi deputado federal nos anos 1910 e teve participação importante na Revolução de 1930. Foi ligado ao Partido Comunista Brasileiro (PCB) e, depois, nos 1940, à anticomunista União Democrática Nacional (UDN).
A passagem sobre seu discurso para a multidão da capital federal, no dia do enterro de João Pessoa, é uma das mais bem realizadas de "A República das Abelhas".
João Pessoa, Virgílio de Mello Franco, Siqueira Campos, Osvaldo Aranha, Batista Luzardo: todos esses nomes, de que tomamos vago conhecimento nos livros de história, ganham rosto e significação moral complexa no livro de Rodrigo Lacerda.
A razão para isso é que o autor, desistindo de artifícios literários mais ambiciosos, optou por narrar os fatos em terceira pessoa --no que seria o ponto de vista de Carlos Lacerda a partir do que soube, leu ou testemunhou--, sem economizar detalhes.
O período anterior à Revolução de 1930, com o surgimento do tenentismo, as hesitações de Luís Carlos Prestes, as tentativas de Maurício de Lacerda para seduzi-lo e as alianças em torno de Getúlio, consome parte significativa do trabalho do autor, que se imagina exaustivo.
Já quando se volta ao próprio Carlos Lacerda, o livro se perde por várias razões. A principal é que Rodrigo optou por narrar na primeira pessoa, imaginando ""no estilo de "Memórias Póstumas de Brás Cubas" --um defunto contando sua história, enquanto nota a própria decomposição dentro do túmulo.
O procedimento faz sentido no romance de Machado de Assis, na medida em que o narrador é um ironista, alguém disposto a ver o mundo com máximo distanciamento e corrosão. Nada mais distante da personalidade de Carlos Lacerda, apaixonado pelo poder e pelas causas do seu momento.
VISÃO ESTRATÉGICA
Como é difícil ter uma visão equilibrada, para não dizer positiva, de um político parcial como Carlos Lacerda, a opção do autor parece estratégica à primeira vista. O próprio Lacerda irá justificar-se, contar sua visão dos fatos, e poucos saberiam defender-se melhor do que ele próprio.
O problema é que o texto não está à altura do personagem. Em vez de um Carlos Lacerda plausível, encontramos parágrafos e mais parágrafos que parecem tirados de uma apostila de história.
Pelo que se sabe, Lacerda era muito melhor orador do que escritor. Mesmo assim, seria melhor evitar que o personagem se entregasse a didatismos tão frequentes.
"O setor industrial", diz o narrador, "continuava precisando de trabalhadores, de preferência treinados, e também no setor agrícola crescera a demanda por novos contingentes de mão de obra".
Referências à "oligarquia", às "elites", juntam-se a anacronismos (será que alguém falava em "multinacionais" na década de 1920?) e clichês. Opiniões "diametralmente opostas", "vida desregrada", "carreira meteórica", os exemplos se sucedem.
Tentativas de formalizar a linguagem para lhe dar aparência "antiga" fracassam de modo constrangedor. "Porei-me bonito", diz o exilado Prestes a um interlocutor, "para, mais tarde, irmos tomar um aperitivo na melhor confeitaria de Santa Fé".
Porei-me? Não se trata de implicância gramatical ou estilística. Os personagens perdem vida, a narração se despersonaliza, tudo fica com jeito de lição de casa, de colagem, quando o texto se arrasta com tais dificuldades.
O cansaço toma conta do autor, que convenientemente encerra o livro em 1954, antes que o golpismo de Carlos Lacerda, contra Juscelino e Goulart, viesse à tona com máxima histeria.
CARLOS LACERDA: A REPÚBLICA DAS ABELHAS
AUTOR Rodrigo Lacerda
EDITORA Companhia das Letras
QUANTO R$ 49 (520 págs.)
AVALIAÇÃO regular

    José Simão

    folha de são paulo
    Ueba! Hoje é a Black Fraude!
    E o Black Friday no Congresso: 'Deputados vendem apoio por 50% das verbas! Só hoje!'
    Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! E o predestinado do dia! Torcedor do Flamengo: Vasco Ladeira! Agente inimigo infiltrado. E atenção! Oba! Hoje é Black Friday! Ops, Black Fraude! Tudo pela metade do dobro! Black Friday! É friday, mas é tudo de segunda! Rarará!
    E o bom da Black Friday é que não dá pra comprar por impulso, o site das lojas travam e você não consegue comprar nada! Rarará!
    E existe coisa mais colonizada que Black Friday no Brasil se chamar Black Friday? Por isso que um cara escreveu no Twitter: "Black Friday o c*, meu nome é Zé Pequeno". E na 25 de Março é "Bleque Fliday". Tudo made in China. Tudo de segunda na bleque fliday.
    E o Black Friday no Congresso: "Deputados vendem apoio por 50% das verbas! Só hoje! Fale com o líder da bancada". Aproveita, Dilma! Rarará! Black Friday na Argentina: "Vendo todo! Me voy a la mierda". Rarará!
    E o Black Friday no Vasco: "Vasco vende até a alma! Produto com defeito! Leve já! Frete grátis". O Dinamite faz a entrega! Rarará.
    E o Black Friday no Palmeiras? Não teve porque eles perderam todos os pontos de revenda! Rarará!
    E o Flamengo é tri! Viva o Mengão! Como gritou aquele flamenguista: "Agora é quatro letra: CABÔ!". E o Flamengo é tri, o Vasco é a prova de que o futebol não é uma caixinha de surpresas. E o Botafogo? Ah, o Botafogo é um bairro lindo! Rarará!
    E o meu São Paulo? Eliminado pela Ponte Preta! A macaca comeu os bambis! Como diz o FuteboldaDepressao: "Time grande não cai! Despenca da Ponte!". E eu já disse que o São Paulo tem que trocar o Boi Bandido por um Bambi Malvado! Aí, sim! Rarará!
    E gosto muito como o Ceni bate falta. Ele vai até a barreira, olha para um lado da barreira, olha pro outro, se afasta e bate no meio da barreira. Rarará.
    É mole? É mole, mas sobe!
    Promoções da Black Fraude! Placa no supermercado em Natal: "Promoção de Chokito! De R$ 2,78 por R$ 2,78". Oba! Vou correndo! Não é todo dia que você consegue economizar zero centavos! E essa aqui num supermercado em Curitiba: "Lava roupa antiodor limão. De R$ 3,97 por R$ 3,98". E mais essa bombástica: "Oferta Óleo de Soja Liza. De R$ 2,29 por R$ 2,28". Eita liquidação da porra!. Rarará. Viva a Black Friday. Nóis sofre, mas nóis goza!
    Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

      Helena B. Nader

      folha de são paulo
      A ciência para superar desigualdades
      Para o Brasil avançar, é necessário ter a coragem de rever políticas inadequadas. Ter uma visão política mais pública e menos particular
      O Rio de Janeiro sediou nesta semana o sexto Fórum Mundial de Ciência (FMC), evento que reuniu 800 pessoas de todo o mundo.
      O tema, Ciência para o Desenvolvimento Sustentável, gerou apresentações e debates acalorados que, se pudessem ser resumidos em uma frase, esta seria: a grande preocupação atual é gerar conhecimento que sirva para resolver ou minimizar os efeitos dos problemas globais que a humanidade vivencia, além de convencer governantes e sociedade de que sem ciência não haverá desenvolvimento sustentável.
      Se pensarmos na representação da ciência e dos cientistas há poucas décadas, vamos observar que uma mudança de rota vem se desenhando, sobretudo a partir das constatações referentes às alterações que o crescimento populacional e as ações antropogênicas causam ao ambiente global.
      As mudanças climáticas e o consequente aumento de desastres naturais, as demandas por alimentação, energia e água, as desigualdades sociais e a pobreza requerem que cientistas assumam a responsabilidade por alertar e orientar governos e pessoas sobre os instrumentos que a ciência oferece para a mitigação dos problemas globais.
      A declaração do sexto FMC destaca as questões principais nas quais a ciência e os cientistas devem atuar para contribuir com a melhoria da qualidade de vida. São elas: a cooperação científica internacional e ações nacionais coordenadas, infraestrutura para a pesquisa e acesso às fontes sobre conhecimentos estratégicos para o desenvolvimento sustentável; a educação para diminuir as desigualdades e promover a ciência e a inovação; a responsabilidade ética; a melhoria do diálogo com a sociedade e o setor produtivo em questões ligadas à sustentabilidade; e mecanismos sustentáveis para o financiamento.
      O tema do fórum resultou de uma extensa agenda de debates, trabalhos e propostas apresentados durante os encontros anteriores, que tiveram origem na Conferência Mundial de Ciência, organizada pela Unesco em Budapeste em 1999. Desde 2003, o evento passou a ser realizado a cada dois anos naquela cidade, sob os auspícios da Unesco.
      O fato de o Brasil ser escolhido para realizar pela primeira vez o FMC fora da Hungria, e organizado pela Academia Brasileira de Ciência, com a participação de entidades como a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, significa que nossa ciência atingiu a maturidade e conquistou credibilidade.
      Contudo, apesar da colocação entre as oito maiores economias do mundo, o Brasil é o quarto país com maior desigualdade da América Latina. A nossa educação vai mal. Os dados do Enem demonstram que o desempenho em ciências vem caindo, o que é preocupante.
      Se o Brasil quiser ocupar um lugar de destaque na economia mundial e deixar de ser um país que vende commodities, terá que investir pesado em educação e ciência. Recursos financeiros são fundamentais, mas não são tudo.
      É necessário ter a coragem de rever políticas inadequadas. Ter uma visão política mais pública e menos particular. Isso nos mostrou claramente o sexto FMC, e sobre essas questões devemos refletir e agir.

      Veja as manchetes dos principais jornais desta sexta-feira

      folha de são paulo



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      DE SÃO PAULO
      *
      Jornais nacionais
      O Estado de S.Paulo
      ANP vende só 30% de blocos em leilão dominado pela Petrobrás
      O Globo
      Dança dos partidos: Procurador cobra mandatos de 13 deputados infiéis
      Valor Econômico
      Estoque de crédito a Estados e municípios aumenta 62%
      Correio Braziliense
      Má gestão deixa PMs sem plano de saúde
      Estado de Minas
      Convivência problemática
      Zero Hora
      Gasolina vai subir, mas sem ajuste automático
      *
      Jornais internacionais
      The New York Times (EUA)
      Crescimento do Medicaid poderia agravar a escassez de médicos
      The Guardian (Reino Unido)
      Banco coloca freios em meio a temor de bolha no preço dos imóveis
      El País (Espanha)
      Conselho levanta dúvidas sobre ajuda de 7,5 milhões para UGT

      Marina Silva

      folha de são paulo
      A dor no jornal
      Uma notícia me deixou impressionada. No Rio de Janeiro, um jovem soldado da PM que enfrentou os rigores do treinamento para uma vaga na UPP com o estoicismo de quem não pode sequer pensar em desistir morreu após uma série de exercícios muito intensos.
      Imagino o sofrimento da família, a tristeza dos amigos e me pergunto se os dirigentes do Estado conseguem ver o conflito íntimo de milhões de jovens que batem às portas das instituições em busca de uma chance na vida, já tendo passado nas duras provas da mortalidade infantil, violência, precariedade na educação e todos os "vestibulares" da pobreza.
      Pensava em comentar o assunto quando outra notícia me deixou ainda mais impressionada. Uma jovem, no interior de São Paulo, morreu num acidente após fotografar e enviar pelo celular o velocímetro do carro marcando 170 km/h. Mais uma vez, as imagens de uma família em luto e amigos sofrendo. Penso em minhas filhas, nessa mesma faixa de idade, e me emociono.
      Desisti de escrever sobre essas notícias. Exigem longas reflexões e consultas aos pensadores que tentam dar conta da complexidade da sociedade contemporânea. Ressaltam a mudança no que antes conhecíamos como "sentido da vida", hoje balizado por necessidades que vão além da mera sobrevivência e possibilidades que vão além do acesso ao consumo.
      O cotidiano de nossas cidades está marcado por essas tragédias, tão numerosas que já fazem parte de nosso modo de ser e estar no mundo. De longe, no noticiário, não percebemos como são emblemáticas e como dizem respeito às nossas vidas, nossas famílias e comunidades.
      Depois pensei: devo ao menos registrar o quanto importa a notícia da vida e morte desses jovens, como um convite à reflexão. Refletir para além de condenar, buscar culpados, protestar na forma de queixa ou revolta. Essas vidas não podem passar despercebidas na insensibilidade de nossa pressa, no alucinante ritmo urbano, que é, afinal, o causador de tantas mortes e sobre o qual devemos pensar com tempo e profundidade.
      Assuntos e tragédias do cotidiano precisam ser debatidos com calma, sem a ansiedade dos índices de audiência. Devemos ser capazes de fazer isso em nossas famílias, comunidades, círculo de amigos: parar um pouco e conversar sobre os acontecimentos que vivemos em nossas cidades e os significados que carregam.
      Em nosso diálogo podem surgir ideias, projetos com que nos identificamos, veredas para um futuro onde a vida seja cheia de sentido e valor. Que não esteja presa na necessidade imposta pelo excesso da falta nem abandonada ao excesso da desmedida presença.
      Que a vida seja cultivada e valorizada, jamais suprimida.