quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Marcelo Coelho

folha de são paulo
O cavaleiro azul
Edição brasileira reproduz, em todas as suas cores, um clássico do expressionismo alemão
A "Sagração da Primavera", de Stravinsky, comemorou cem anos de sua estreia há poucos meses, e escrevi a respeito aqui na "Ilustrada". Na pintura, o equivalente daquela revolução foi sem dúvida o quadro "Les Demoiselles d'Avignon", que Picasso pintou em 1907.
O potencial de escândalo era tamanho que mesmo alguns contemporâneos e amigos de Picasso, como Henri Matisse, se recuperaram mal daquele quadro. Não eram apenas os ângulos cortantes, o susto daquelas mulheres nuas como que iluminadas por um flash fotográfico, a violência de cacos de vidro da composição.
Máscaras indígenas ou africanas apareciam como que coladas ao pescoço de duas daquelas mulheres nuas, fazendo com que as outras parecessem até realistas pela comparação.
Com isso, "Les Demoiselles d'Avignon" dava um grande passo além das pinturas sonhadoras, musicais, a que Matisse se dedicava na mesma época. Por meio da "arte primitiva", entravam em cena --como na "Sagração da Primavera"-- o medo, a violência, o poder paralisante, o olhar de Medusa do mundo moderno.
Aí por volta de 1912, 1913, cubismo e futurismo já estavam em vias de superação. Na Alemanha, pelo menos, já surgiam críticas às visões de Picasso e Marinetti.
Foi em 1912, com efeito, que Franz Marc (1880-1916) e Wassily Kandinsky (1866-1944) publicaram o "Almanaque do Cavaleiro Azul", álbum de ensaios, reproduções artísticas e partituras em defesa do expressionismo e da arte abstrata.
Essa publicação acaba de sair traduzida no Brasil, com organização de Jorge Schwartz, num volume lindíssimo (Edusp-Museu Lasar Segall).
Pela primeira vez no mundo, a quase totalidade dos quadros, gravuras, desenhos e esculturas que faziam parte da edição original aparece reproduzida em cores.
Na época, o livro publicado por Reinhard Piper tinha apenas quatro imagens coloridas. Em inglês, uma edição modesta, feita pela Da Capo Press, é uma tristeza de fotos esmaecidas em preto e branco.
Marc e Kandinsky colocam, lado a lado, quadros de Cézanne e esculturas da Oceania; bordados do Alasca e desenhos de crianças; xilogravuras medievais e alto-relevos do Benin; um Cristo de El Greco e quadrinhos populares alemães.
Pode-se ver e rever essa festa de imagens sem atinar muito o que há, afinal, de parecido entre tantas coisas. Mas o elogio do popular, do primitivo, do "informe", do "malfeito", do "naif", se quisermos, ganha nessas páginas uma força revolucionária, uma generosidade, uma verdade que saltam aos olhos.
Tratava-se, diz Franz Marc, de buscar "símbolos que pertencem aos altares da futura religião espiritual e atrás dos quais desaparece o produtor técnico".
Os textos de Kandinsky e de August Macke (1887-1914) são ainda mais místicos. A forma artística, escreve Macke, "é a expressão de forças misteriosas".
"Ouvir o trovão", prossegue, "é sentir o seu mistério". O relâmpago "se expressa, a flor também".
Não fazia mais sentido, assim, buscar o desenho "certo", a forma "perfeita". Para o pintor expressionista, a diferença não será entre o bonito e o feio, mas entre o vivo e o morto. Mortas serão as imitações da arte acadêmica; vivo, o desenho imperfeito de uma criança, ou a máscara de um feiticeiro africano.
Não fica muito claro por que motivo esses artistas escolheram o nome de "Cavaleiro Azul" para título daquele livro. Inspirado na teosofia, Kandinsky achava que a cor azul canalizava o máximo da espiritualidade. Franz Marc era notável ao fazer quadros de corças, tigres, cavalos.
Muitas das ilustrações que escolheram para o "Almanaque" representam São Jorge e outros heróis medievais enfrentando dragões ou decapitando inimigos. Menos do que um intuito "belicoso", no estilo do elogio à guerra dos futuristas italianos, havia ali a tentativa de se ligar ao passado: o passado medieval, o passado primitivo, o passado das crenças camponesas.
Em todos esses momentos, estaria presente a dissolução do mundo clássico, do mundo civilizado, das imagens da perfeição greco-romana.
O edifício da civilização europeia estava desabando, pensavam os expressionistas. Pelas rachaduras daquele edifício, eles julgavam ver uma luz nova, como numa revelação, num apocalipse.
As formas da arte moderna poderiam ser esquisitas, distorcidas, mas é assim que a realidade se apresenta na madrugada, pouco antes do amanhecer. São "fantasmagorias antes da aurora", diz o "Cavaleiro Azul".
A aurora, entretanto, seria de outro tipo. Um ano depois, começaria a Primeira Guerra Mundial; August Macke e Franz Marc morreram no front.

Em vídeo, grupo de músicos diz: 'Não somos censores'

folha de são paulo
Na internet, Roberto e Erasmo Carlos e Gilberto Gil recuam em relação a biografias; Caetano não participa
Roberto diz que desejo de proteger intimidade os levou num momento a 'assumir uma posição mais radical'
DE SÃO PAULO
Os músicos Gilberto Gil, Roberto Carlos e Erasmo Carlos, integrantes do Procure Saber, divulgaram video ontem na internet para mostrar sua posição sobre biografias não autorizadas.
Antes, por meio da empresária Paula Lavigne, o grupo defendera autorização prévia para a publicação dessas histórias, além de porcentagem do faturamento das obras para biografados ou herdeiros.
Agora, após a repercussão do caso levantado pela Folha, os discursos exibidos no portal YouTube mostram um recuo: "Não somos censores. Nós estamos onde sempre estivemos. Pregando a liberdade, o direito às ideias, o direito de sermos cidadãos que têm uma vida comum, que têm família e que sofrem e que amam", diz Roberto Carlos no vídeo de quatro minutos e 45 segundos.
"Nunca quisemos exercer qualquer censura, ao contrário. O exercício do direito à intimidade é um fortalecimento do direito coletivo", diz Gil.
A peça alterna declarações de Gil, Erasmo e Roberto lidas num teleprompter (aparelho que permite ler um texto olhando para frente).
Leia outros trechos do vídeo divulgado ontem.
Roberto: "Passamos a vida inteira a falar de amor e do amor. E nem por isso nos tornamos expert no assunto".
Erasmo: "Falamos com sinceridade e emoção. Tentando ser simples e tentando representar, com alguma leveza, a alma das pessoas e dos que nos acompanham ao longo do tempo".
Gil: "Quando nos sentimos invadidos, julgamos que temos o direito de nos preservar e de certa forma preservar a todos os que de alguma maneira não têm como nós o acesso à mídia, ao Judiciário, aos formadores de opinião".
Roberto: "Julgamos ter o direito de saber o que de privado existe em cada um de nós nas nossas vidas".
Erasmo: "Este é um ponto que não podemos delegar a ninguém. Decidir o que nos toca a cada qual, intimamente. Decidir o que nos constrange e nos emociona".
Erasmo: "Se nos sentirmos ultrajados, temos o dever de buscar nossos direitos. Sem censura prévia, sem a necessidade de que se autorize por escrito quem quer falar de quem quer que seja".
Roberto: "Não negamos que esta vontade de evitar a exposição da intimidade, da nossa dor, da dor dos que nos são caros, num dado momento nos tem levado a assumir uma posição mais radical".
Gil: "Mas a reflexão sobre os direitos coletivos e a necessidade de preservá-los, não só o direito à intimidade, à privacidade, mas também o direito à informação nos leva a considerar que deve haver um ponto de equilíbrio entre eles".
Erasmo: "Queremos e não abro mão do direito à privacidade e à intimidade, a nossa e a dos que podem sofrer por estarem ligados a nós".
Gil: "Mas também queremos afastar toda e qualquer hipótese de censura prévia. Queremos sim garantias contra os ataques, os excessos, as mentiras, os insultos, os aproveitadores".
Hoje, a necessidade de autorização prévia para biografias é contestada por ação que corre no Supremo Tribunal Federal e por um projeto de lei que tramita na Câmara.

terça-feira, 29 de outubro de 2013

Na Rússia, intolerância causa retrocesso em luta de homossexuais por direitos


EL Pais
Pilar Bonet, em Moscou



  • Scott Wooledge/Queer Nation NY/AP
    Manifestantes protestam diante da Opera Metropolitana contra a política do presidente russo Vladimir Putin em relação a homossexuais
    Manifestantes protestam diante da Opera Metropolitana contra a política do presidente russo Vladimir Putin em relação a homossexuais"Passamos da ofensiva à defensiva." A russa Yelena Kostiuchenko, 26 anos, repórter do jornal "Novaya Gazeta", resume assim o ânimo da minoria da qual faz parte (lésbicas, gays, bissexuais e transexuais russos, ou LGBT). Kostiuchenko é lésbica e "saiu do armário" em 2011, quando, em uma declaração na Internet, proclamou seu carinho para Annia Annenkova, sua parceira, uma analista de gás e petróleo, com a qual, se pudesse, se casaria e pediria um empréstimo para comprar um apartamento."Somos duas mulheres maiores de idade (...), cidadãs da Federação Russa, que trabalham bem e muito, que pagam impostos, que não cometem infrações legais e que se gostam. Desejamos registrar nossa relação. Desejamos que o Estado nos reconheça como parentes (...) como esposas com todas as consequências (...), quero que minha mulher se sinta defendida nos litígios de propriedade que possam começar depois de minha morte, que possa se negar a testemunhar contra mim diante do juiz (...) teremos filhos... de antemão os amamos e os esperamos e queremos que nos certificados de nascimento de nossos filhos estejamos inscritas as duas...", dizia Kostiuchenko.
O casamento gay encabeçava a lista de prioridades da jornalista em 2011. Agora, mais de dois anos depois, o mais relevante para ela é evitar que se acrescentem novas leis às duas promulgadas este ano. Uma delas proíbe fazer propaganda a menores de idade das "relações não tradicionais" (eufemismo para relações homossexuais) e a outra, a adoção de crianças russas por gays e estrangeiros.
O deputado Aleksei Zhuravlev (do partido governamental Rússia Unida) retirou na semana passada do Parlamento a lei que havia apresentado em 5 de setembro para que "a orientação sexual não tradicional" de um progenitor ou de ambos pudesse ser motivo para preservá-los de seus direitos de pais e da custódia de seus filhos. O texto para modificar o Código de Família russo levava ao âmbito privado a tese central da legislação já aprovada, a saber, que a homossexualidade não é uma opção equiparável às orientações "tradicionais". Segundo o deputado Zhuravlev, a informação sobre as relações "não tradicionais" é "muito perigosa para a psicologia ainda não fortalecida da criança e pode alterar no futuro sua autoidentificação sexual".
A população russa com "orientação não tradicional" oscila entre 5% e 7% (um pouco mais nas grandes cidades), e pelo menos um terço da mesma têm filhos, explicava Zhuravlev na apresentação do projeto de lei agora retirado. Um cálculo conservador com esses dados (por exemplo, 6% de gays entre os 142 milhões de cidadãos russos) representa a existência de 8,5 milhões com "orientação não tradicional" e mais de 2,5 milhões deles com filhos.
A retirada do projeto de lei, oficialmente para ser "elaborado", poderia indicar que as autoridades não desejam tensionar ainda mais as relações com os setores liberais do país e com os representantes da UE que em diversas ocasiões colocaram oficialmente para seus interlocutores a questão dos direitos de gays e lésbicas na Rússia.

Entretanto, a comunidade gay prefere não baixar a guarda e crê estar diante de "uma trégua" para distender a atmosfera antes dos Jogos Olímpicos de Inverno de Sochi, que se realizarão em fevereiro. Kostiuchenko disse estar preparando um relatório sobre os deputados da Duma Estatal (câmara baixa do Parlamento) que são gays e ameaça colocar na web dados sobre "os políticos que não se atrevem a sair do armário".
Também quer organizar uma parada gay durante os jogos em Sochi. A repórter é pessimista sobre a evolução do sistema político "que situou a comunidade gay na lista dos inimigos internos, junto com os imigrantes e os defensores de direitos humanos". "É preciso conservar as liberdades que nos restam, como educar nossos filhos, porque a liberdade de expressão já a perdemos", diz.
Na sociedade russa as atitudes negativas em relação aos gays se intensificaram, segundo o centro sociológico Levada. Em uma pesquisa feita em abril, 35% dos interpelados consideravam a homossexualidade uma doença ou o resultado de um trauma psíquico, e 43% a viam como um sintoma de depravação ou maus costumes, enquanto 12% opinavam que se trata de uma orientação como outras. A grande maioria (73%) queria que o Estado reprimisse as manifestações públicas de homossexualidade.
Em São Petersburgo, a "janela para a Europa" da Rússia, a legislação anti-gay gravita sobre o ambiente. "Projetos culturais interessantes não são realizados porque seus promotores temem que surjam problemas com as autoridades, e em troca personagens medíocres usam o escândalo para obter publicidade barata", indicam meios culturais da cidade que constatam "a diminuição dos vínculos de nossa cidade com os centros ocidentais".
Em particular, funcionários públicos russos confessam a seus interlocutores europeus sua incompreensão pelo peso que adquiriu a situação dos gays na relação de Moscou com o Ocidente. "Exige-se da Rússia mais do que pode assimilar um país dominado pelo conservadorismo", indicam.
O deputado e chefe da Comissão Legislativa do Parlamento de São Petersburgo, Vitali Milonov, promoveu a lei local contra a propaganda da homossexualidade entre menores, precedente para a legislação aprovada em escala estatal. Esse político do Rússia Unida afirma que "rezaria e tentaria corrigir o vício" se um filho seu lhe dissesse que tem uma "orientação sexual não tradicional".
O nível de tolerância varia em uma mesma cidade e na geografia do Estado. Em 12 de outubro, no Campo de Marte de São Petersburgo, em um espaço habilitado para convivência de Hyde Park, cossacos, torcedores de futebol e nacionalistas atacaram um grupo de gays que organizava uma saída do armário.
Mas apesar de rejeições como esta nas duas grandes cidades da Rússia, os gays podem fazer sua própria vida, diferentemente das áreas de tradições patriarcais como o norte do Cáucaso, onde muitos gays e lésbicas ocultam sua identidade sexual ou fogem de famílias que podem obrigá-los a se casar, impor uma "violação corretiva" e inclusive ameaçá-los de morte, segundo Tatiana Vinnichenko, professora na Universidade de Arkhangelsk, cidade de 350 mil habitantes.
Vinnichenko é ativista da maior organização de defesa dos direitos dos gays na Rússia, com central em São Petersburgo e filiais em 18 das 83 províncias do país. "No ano passado tivemos muitas consultas sobre como formar uma família ou como fazer inseminação artificial, agora nos perguntam sobre a emigração", diz.
Segundo ela, "um em cada três ativistas de nossa organização local, de 120 pessoas", pensa em emigrar. "Para conseguir um clima de maior tolerância, seria preciso maior informação, mas como a informação é equiparada à propaganda, estamos em um círculo vicioso", explica.
"As minorias sexuais são só um dos grupos afetados pelo problema da tolerância na Rússia", afirma Vladimir Pribylovski, especialista no estudo de grupos racistas, xenófobos e nacionalistas. "Os que se dedicavam antes a perseguir e agredir os imigrantes, hoje se dedicam a perseguir os gays, já que estão mais indefesos", opina o especialista.
Na vida cotidiana, os gays podem encontrar respeito e compreensão. Mikhail Tumasov, um tradutor de 38 anos procedente de Samara, vive com Denis, de 26, há oito anos e é agradecido a sua mãe, que "nunca perguntou" sobre sua sexualidade e que aceita que ambos durmam juntos na mesma cama.
Kostiuchenko não acredita que a Rússia seja especialmente homofóbica, apesar dos golpes que recebeu quando participou de piquetes. "As pessoas sentem curiosidade quando lhes conto que vivo com uma garota, mas que a lei nos proíbe de nos casar, interessam-se sobre como cozinhamos e como fazemos amor", diz. Na sua opinião, uma "saída maciça do armário" ajudaria os homossexuais.
Dois jornalistas da televisão se revelaram. Anton Krasovski, em janeiro de 2012, e Oleg Dusaev, de 33 anos, em agosto passado. "Sou um fiel cristão e estou convencido de que Deus me criou e gosta de mim como sou", disse esse jornalista do prestigioso canal estatal Kultura.
Tradutor: Luiz Roberto Mendes Gonçalves

Nizan Guanaes

folha de são paulo
Somos o que buscamos
Se empresas têm apetite enorme pelos hábitos das pessoas, as pessoas mostram desejo enorme de expô-los
Na semana passada, milhares de americanos saíram às ruas para protestar contra os novos programas de espionagem dos Estados Unidos que exploram as imensas pegadas digitais da vida privada no século 21.
As pesquisas de opinião apontam que a população americana está dividida sobre o tema. Surpreendentemente, ou não, grande parte apoia o uso desses expedientes invasivos dentro do pressuposto de que a intrusão aumenta a segurança pessoal e nacional.
Essa é uma discussão antiga, sobre os limites do público e do privado, mas que ganhou muito mais urgência e abrangência na era da comunicação total, que é também a era da exposição total. E não só na área política ou policial mas também na esfera econômica.
Nossos comportamentos estão cada vez mais intermediados por softwares, aplicativos, transações eletrônicas. O cidadão digital está nu. O Google sabe muito mais das pessoas do que muito dos seus amigos e parentes mais próximos.
Nós somos o que buscamos.
Por isso, como protegemos (e também como usamos) essas informações é uma das grandes novas discussões do nosso tempo e do futuro.
Por enquanto, é um universo em formação, horas depois do Big Bang da internet, que juntou o mundo todo e todo mundo em relações recém-nascidas ou ainda em gestação.
Ninguém, ou quase ninguém, lê aqueles longos contratos eletrônicos que aparecem na telinha ao ligar aparelhos novos e abrir contas em redes sociais e sites de busca. Mas é ali que você, mais inconsciente do que conscientemente, concede enorme liberdade às empresas de serviços para não só armazenar dados preciosos a seu respeito como também processá-los e vendê-los a preço de ouro para os mais diversos interessados no que você faz, consome, lê, pesquisa, diz, frequenta, pensa, deseja...
E, se empresas, pesquisadores, publicitários e políticos têm apetite enorme por informações sobre os hábitos das pessoas, as pessoas mostram desejo enorme de expô-los a amigos, conhecidos ou até mesmo a quem apenas mostre algum interesse.
Vivemos o grande momento exibicionista da humanidade. As pessoas agora tiram fotos como loucas não mais para registrar o que estão vivendo, mas para exibir o que estão vendo.
Ninguém é senhor de sua própria história, mas todos hoje podem ser autores de sua própria estória. Somos todos editores.
As redes sociais exibem versões editadas das vidas das pessoas muitas vezes mais falsas do que aqueles filmes de Hollywood dos anos 1950/1960 com Doris Day e Rock Hudson bancando a tradicional família classe média americana feliz.
Mas, se a vida como ela não é das mídias sociais pode ser enganadora, os registros que os softwares fazem de cada palavra digitada e de cada lugar visitado são totalmente reais. Com essas informações é possível criar e oferecer produtos e serviços de forma muito mais precisa e eficiente a públicos que já demonstraram interesse por seu produto ou sua mensagem.
Isso não é necessariamente ruim para o público-alvo. Nem neces- sariamente bom. O potencial certamente é enorme. A capacidade mais transformadora é a de armaze- nar e processar dados. O software mais brilhante já inventado, o que roda no cérebro humano, funciona assim.
O escritor inglês George Orwell, ao escrever "1984" nos deprimentes anos 1940, previu um futuro no qual o Big Brother visse e controlasse tudo de forma autoritária.
Tudo de fato já está sendo visto, registrado, armazenado e processado pelas novas tecnologias. Mas, diante dessa avalanche sufocante de dados e fatos, ainda falta clareza sobre o controle de tudo isso, que é em boa medida o controle sobre todos nós.
Apesar de todos os esquemas de espionagem e malandragem eletrônicas, não resta dúvida de que a revolução digital deu poder aos indivíduos, que hoje conseguem se organizar e se manifestar com muito mais eficiência.
É um mundo novo que surge. Um mundo que deve expandir os limites da humanidade, mas sem romper os limites e os direitos dos humanos.

    Suzana Herculano-Houzel

    folha de são paulo
    Ativismo emocional
    A ciência e a medicina avançam graças à pesquisa com animais, que continua a ser insubstituível
    Eu gostaria de saber se os ativistas que roubaram beagles do Instituto Royal tomam vacinas (e um dia vacinarão seus filhos), usam medicamentos, aceitarão quimioterapia e cirurgias que salvarão suas vidas (se já não foram salvos por elas), mantêm seus corpos limpos com xampus e loções. Aposto que sim --como aposto que torcem para que a ciência cure a doença de Alzheimer, o câncer, o diabetes. Ou seja: eles, como todos nós, se beneficiam da pesquisa feita com animais.
    Fato é que a ciência e a medicina avançam graças à pesquisa com animais, que continua a ser insubstituível (e não me cabe aqui explicar por quê). Tantos espíritos inflamados ao redor da questão, além do fato de o roubo envolver apenas beagles e não os muito mais usados roedores, ilustram que, mesmo que haja objeção racional ao uso de animais em pesquisas, o que move os ativistas é o impacto emocional que bichos bonitinhos têm sobre eles.
    Dez anos atrás, Joshua Greene mostrou, em artigo na "Science", que decisões morais, longe do "certo ou errado" racional, são emocionais. Você empurraria uma pessoa sobre os trilhos de um trem para impedir que o trem matasse outras cinco ou deixaria que as cinco morressem como resultado da sua inação? E se a opção fosse só puxar uma alavanca, desviando o trem e fazendo com que ele matasse uma pessoa, mas salvando cinco: você puxaria ou não faria nada e assim deixaria que as cinco pessoas morressem?
    É possível passar dias debatendo racionalmente a ação correta nesses casos, mas você, leitor, resolve rapidamente o que faz --porque sua decisão se baseia na sua reação emocional. E quanto maior o seu envolvimento emocional com a questão, maior será a paixão com que você defenderá sua posição.
    Se posições sobre certo ou errado são emocionais, então cada um tem a sua, defendida com igual veemência. Acredito que isso explica por que não há argumentos racionais que satisfaçam quem já está convencido pela sua repulsa ao pensar em bichinhos bonitinhos talvez sofrendo ("mas não ratos, argh!"). Seria necessário modificar suas reações emocionais, mostrando animais bem tratados por cientistas aos quais devemos nosso bem-estar e saúde. Mas isso não dá tanto ibope no Facebook.
    Face a tanta subjetividade, ainda bem que há leis que ditam as regras --e garantem a continuidade da ciência.

      Rosely Sayão

      folha de são paulo
      A escola sob pressão
      Falar mal da escola e buscar outra muito semelhante só colabora para que ela fique desacreditada pelos alunos
      Esta é uma época muito desfavorável para a escola e, consequentemente, para crianças e adolescentes que precisam, obrigatoriamente, frequentá-la. E aqui não faço referência a uma unidade especificamente, e sim à instituição escola, seja ela particular ou pública, que existe em nossa realidade e que também habita o imaginário de todos nós.
      É que agora é o tempo em que os pais --aqueles que podem escolher a escola que o filho frequenta-- consideram a possibilidade de transferência do filho, motivados por insatisfações dos mais diversos tipos.
      E os que não podem fazer tal escolha avaliam o ano letivo que está prestes a terminar, considerando, quase sempre, apenas a atuação da escola.
      Há uma grande pressão, por exemplo, por notas altas ou, pelo menos, por notas que permitam a aprovação do filho. E quando as notas não alcançam o patamar esperado e/ou desejado pelos pais, estes costumam pensar que a escola não cumpriu seu papel de alertá-los a respeito do fato, agora quase consumado, para que pudessem tomar algum tipo de providência. Ponto negativo para a escola, portanto.
      Há também, hoje, uma ansiedade generalizada dos pais para que o filho não sofra assédio dos colegas ou não seja alvo de violências, brandas ou pesadas --o agora tão popular bullying. E o interessante nessa história é que muitos pais atribuem a determinados colegas do filho essa ação frequente ou a liderança para o ato. É o que chamamos de "bode expiatório".
      Se a escola não toma algum tipo de providência em relação a esses alunos --expulsão branca, por exemplo--, os pais acreditam que ela não serve para o filho. Ponto negativo para a escola, mais uma vez.
      E o que dizer de frustrações que nada têm a ver com a vida escolar do filho? Eventos que não agradam, reuniões que não são do jeito que eles querem, pouca atenção aos pais etc. Tudo é motivo para a escola ganhar pontos negativos na avaliação que os pais fazem dela.
      Sim: a escola está obsoleta, resiste quanto a se renovar, não sabe ao certo o que significa "educar para a cidadania", insiste em um modelo totalmente ultrapassado, acredita que seu papel ainda é o de transmissão de conhecimento e vê e trata os pais como consumidores de educação. Pai, hoje, é patrão na escola, e os filhos já se tocaram disso.
      O problema é que falar mal da escola, que é o que torna este momento desfavorável a ela, e sair em busca de outra muito semelhante --apenas com novos diretores, coordenadores, professores e materiais didáticos, por exemplo, só colabora para que a instituição fique cada vez mais desacreditada pelos alunos.
      E, contraditoriamente, queremos que nossos filhos gostem de estudar, sigam as orientações da escola, respeitem os trabalhadores da educação, aprendam. Aprendam!
      Quanto mais falarmos mal da escola, menos tudo isso ocorrerá. Nossa alternativa é cobrar da escola inovações --de verdade, em sua organização e estrutura e não na instalação das muitas traquitanas tecnológicas-- e orientar nossos filhos a fazer a mesma coisa.
      Esta seria a verdadeira parceria da escola com as famílias de seus alunos: a exigência posta para a instituição de que ela deve mudar. Com nosso apoio, é claro. E para o bem dos mais novos, e não para nossa tranquilidade e ilusória sensação de segurança.

      Mônica Bergamo

      Inadimplência no país sofre queda acentuada e atinge 7,3%

      Ouvir o texto

      DEVO E PAGO
      A inadimplência entre usuários de cartão de crédito continua em queda acentuada no Brasil. De 8,7% em meados do ano passado, caiu para 7,8% no fim de 2012 e agora chegou a 7,3%.
      BOA-NOVA
      Os dados serão divulgados hoje no congresso da Abecs (Associação Brasileira das Empresas de Cartões e Serviços), que reúne os principais bancos, bandeiras e empresas do setor no país. "Os números são alvissareiros", diz Marcelo Noronha, presidente da entidade e diretor de cartões e crédito ao consumo do Bradesco.
      BOA-NOVA 2
      A pesquisa também mostrará que aumentou a penetração dos meios eletrônicos de pagamento entre os brasileiros. Hoje, 76% da população economicamente ativa tem pelo menos um cartão de crédito. Em 2008, o percentual era de 68%.
      AMIGA MASSA
      Divulgação
      "A Veveta é minha melhor amiga, daquelas que a gente pode contar a qualquer hora...Estou até com uma mania dela: de vez em quando me pego falando 'massa'", diz Xuxa sobre Ivete Sangalo, 41.
      *
      O texto foi escrito para a "Glamour" de novembro, com a baiana na capa. A cantora revela hábitos de beleza, como dormir oito horas por noite, ingerir muito líquido e fazer hidratação no cabelo uma vez por semana. Seu mantra é: "Se você é feliz, você pode tudo".
      PRAZO
      O pedido de recuperação judicial da OGX de Eike Batista, que executivos que tocam a empresa defendiam que fosse feito ontem, esbarrou no Dia do Funcionário Público -a data afeta o funcionamento dos tribunais. Pode ocorrer ainda hoje.
      EM CAMPANHA
      Pré-candidato ao governo de São Paulo pelo PT, o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, vai participar da reunião do Codivap (Consórcio de Desenvolvimento Integrado do Vale do Paraíba) com prefeitos de 39 municípios, em novembro. Com 2,3 milhões de habitantes, a região é berço político do governador Geraldo Alckmin (PSDB), natural de Pindamonhangaba.
      EM CAMPANHA 2
      Também pré-candidato, pelo PMDB, Paulo Skaf cumpriu a mesma agenda em maio. "Estamos abertos a todos os partidos", diz Ana Karin Andrade, presidente do Codivap, filiada ao PR e prefeita de Cruzeiro. Segundo ela, o presidenciável Eduardo Campos (PSB-PE) e sua aliada Marina Silva também querem ser recebidos pelos prefeitos. Dos 39 municípios, 22 são governados pelos PSDB e oito pelo PT.
      PODE VIR QUENTE
      O músico Frejat fez apresentação do show "O Amor É Quente", na sexta. Alice Pellegatti, mulher e empresária do roqueiro, a apresentadora Mylena Ciribelli, a atriz Lúcia Veríssimo e o músico Marco Túlio, do Jota Quest, passaram pelo HSBC Brasil.

      Frejat faz show em SP

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      Zanone Fraissat/Folhapress
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      O músico Frejat e Alice Pellegati, sua mulher e empresária, posaram nos bastidores do show "O Amor É Quente", apresentado na sexta (25), no HSBC Brasil
      ECONOMIA DOMÉSTICA
      Protagonista de um ensaio sensual para a revista "Status", Marina Mantega, filha do ministro Guido Mantega, temeu a reação paterna. "Eu tenho medo do meu pai. Ele gosta de ver mulheres nas capas das revistas, mas não a filha. Acho que só terei coragem de falar com ele daqui a um mês", declarou ela, em entrevista a Amaury Jr..
      *
      O programa vai ao ar hoje à noite na Rede TV!.
      ETIQUETA VERDE
      A confecção de um par de tênis Osklen consome 4.770 litros de água em toda a cadeia produtiva. Destes, 4.488 vêm da chuva. Os dados são de metodologia pioneira que a grife implantou em parceria com o Ministério do Meio Ambiente da Itália. "Usamos parâmetros internacionais para medir o consumo e identificar onde reduzi-lo", explica Martina Hauser, coordenadora do programa.
      *
      A etiqueta sustentável é adotada também por marcas como Gucci e Benetton.
      SHOW DAS PODEROSAS
      As modelos Isabeli Fontana e Cíntia Dicker participaram, no último sábado, do Risqué Dream Fashion Show, no Espaço das Américas. O rapper inglês Taio Cruz cantou durante o desfile, que também contou com a presença de Ana Beatriz Barros e de Izabel Goulart.

      Desfile reúne tops

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      Greg Salibian/Folhapress
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      A modelo Isabeli Fontana foi uma das modelos que desfilou no Risqué Dream Fashion Show, no sábado (26), no Espaço das Américas
      ANIVERSÁRIO
      Carine Roitfeld, diretora global de moda da "Harper's Bazaar", será recebida amanhã em almoço na casa da estilista Cris Barros, em SP. Ela vem festejar os dois anos do título internacional no Brasil.
      CURTO-CIRCUITO
      Mary Nigri recebe Bibba Chuqui e Marcinho Eiras para noite de nhoque com música, hoje, às 21h, no restaurante Quattrino.
      A chef Bel Coelho prepara hoje jantar especial em prol da ONG Trapézio, às 20h30, na Oca Tupiniquim.
      Nasi e Edgard Scandurra, ex-integrantes do Ira!, se reúnem amanhã para show beneficente no Espaço Traffô, na Vila Olímpia. 18 anos.
      com ELIANE TRINDADEJOELMIR TAVARESANA KREPP e MARCELA PAES
      Mônica Bergamo
      Mônica Bergamo, jornalista, assina coluna diária publicada na página 2 da versão impressa de "Ilustrada". Traz informações sobre diversas áreas, entre elas, política, moda e coluna social. Está na Folha desde abril de 1999.