quinta-feira, 31 de outubro de 2013

José Simão

folha de são paulo
Halloween! Dilma é a abóbora!
E todo dia o Serra levanta, vai pro espelho e o espelho grita: 'Halloween de novo?!'. Sim, de novo!
Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! O brasileiro é cordial! Olha essa placa numa escolinha infantil: "Não vale jogar pedra nos colegas". Dever ser a escolinha dos black blocs. Maternal Black Bloc!
E o bloqueio da Fernão Dias?! São João Fora de época! Um amigo meu gostou do bloqueio porque a sogra dele tava vindo de Belo Horizonte. Bloquearam a minha sogra!
E o Alckmin Picolé de Chuchu devia ter feito uma ameaça: "Ou vocês param de incendiar ônibus ou eu chamo a Sonia Abrão". Rarará!
E atenção! Me mate um bode! Todos para o abrigo! Hoje é Halloween! Acorda, Serra! Levanta do caixão! Pega a vassoura, Dilma! Todos pra Noite do Terror! E a Dilma parece uma abóbora! Só falta acender uma vela na boca! Rarará!
Dia das Bruxas! E todo dia o Serra levanta, vai pro espelho e o espelho grita: "Halloween de novo?!". Sim, de novo! Pro espelho do Serra, todo dia é Halloween!
Mas tem um grupo que acha que Halloween é coisa de gringo! No Brasil, a gente tem que comemorar o Dia do Saci! Todo mundo pulando num pé só! Tem até cartaz: "Deixa de pagar pau pra gringo".
E pra comemorar o Dia do Saci, sabe o que o Saci falou pra Sacia? Fica de três! Rarará! Essa eu conto todo ano, mas é hilária!
E como já dizia Nelson Rodrigues: "Uma coisa dita uma vez só permanece inédita".
E atenção! Para os que desconhecem as nossas lendas: apesar do cachimbinho, o Saci não é símbolo da cracolândia. Rarará!
E sabe o que o Saci falou? Vou num pé e volto no mesmo!
E Halloween é animado. Olha a festa que teve ontem aqui em São Paulo: "Festa do Halla o Hímen! Com As Pirigóticas. Garotas com lingerie à mostra: entrada VIP. Sem calcinha: entrada VIP mais drink grátis".
E o Halloween da Val Marchiori é HELLOween! E namorar com Saci é bom porque quando você leva um pé na bunda, quem cai é ele. Levar pé na bunda é bom quando o outro cai! Rarará!
É mole? É mole, mas sobe!
O Brasil é Lúdico! E em Salvador um cara botou a placa num sofá: "VEDIS". Deve ser o sofá do Mussum: vedis! E numa casinha em Maceió, a placa: "Vendo-me". Ueba! Vou botar uma placa dessa na porta daqui de casa: Vendo-me! Rarará!
Nóis sofre, mas nóis goza!
Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

    Contardo Calligaris

    folha de são paulo
    O som, a fúria e as cartas
    É primavera, época de limpeza. Por favor, não jogue fora levianamente cartas e papéis manuscritos

    1) Para mim, Ricardo 3º era um personagem shakespeariano, que conquistou o poder por caminhos tortos e, na véspera da batalha que lhe foi fatal, ouviu os fantasmas de suas vítimas lhe dizerem o inesquecível "Despair and die!", desespere-se e morra.
    Certo, eu sabia que Ricardo 3º fora mesmo o último rei da casa de York, no fim do século 15, cem anos antes que Shakespeare escrevesse sua história. Mas sabia sem saber.
    Isso, até quinta-feira passada, quando tive entre as mãos um documento assinado por ele (quando era duque de Gloucester, antes de dar um trato nos seus sobrinhos e se tornar assim rei da Inglaterra). Passei de leve um dedo sobre sua assinatura e foi como se sentisse a pegada de sua brutalidade, de sua ambição e de sua tragédia.
    2) Eduard, o segundo filho de Albert Einstein e Mileva Maric, nasceu em 1910. Ele queria ser médico e psiquiatra. Aos 22 anos, Eduard entrou, pela primeira vez, no Burghölzli, a famosa clínica de Zurique onde Jung foi assistente de Bleuler. Mas Eduard não entrou como médico --entrou como paciente. No Burghölzli, aliás, ele morreu, internado, em 1965.
    Numa carta a Mileva, em 1928, Einstein, referindo-se obviamente a Eduard, escreve que ele considera a psicanálise "como uma moda extremamente perigosa... Ninguém será submetido a esse tratamento com meu consentimento".
    Quatro anos depois, Eduard era internado, e Einstein, convidado a escolher um contemporâneo com quem dialogar sobre a guerra, escolhia Freud. Mais quatro anos, e Einstein, num breve bilhete, declararia a Freud que ele entendera, enfim, a teoria freudiana da repressão. Naquela época, Einstein mandava a Eduard obras de Freud, declarando não ter dúvidas sobre a teoria freudiana. Será que era para agradar a Eduard, que guardava um retrato de Freud na parede de seu quarto?
    Na quinta passada, com meu alemão capenga, eu procurava as palavras, na carta de 1928: "...eine überaus gefährliche Mode". A loucura de um filho é o desespero de qualquer inteligência.
    3) Num dia de 1911, Georges Courteline, escritor e dramaturgo francês, recebeu um bilhete escrito por um menino que gostara muito de um texto dele e até dizia ter tentado em vão traduzir o tal texto para o alemão a fim que a babá dele, alemã, entendesse e apreciasse.
    A assinatura do bilhete, que estava agora nas minhas mãos, era: "Jean-Paul Sartre, seis anos e meio".
    O bilhete tinha um cheiro de livros, misturado com um perfume de ternura materna. Como Sartre diria contando sua infância, a vocação de escrever foi encontrada na paixão de ler.
    4) Jean Cocteau recebe uma carta de um jovem admirador, de 19 anos, que acaba de fundar um cineclube, o qual vai estrear com a apresentação de "Sangue de um Poeta". O clube só viverá se o próprio Cocteau prestigiar a sessão com sua presença. Cocteau não foi. A carta é assinada: François Truffaut.
    Penso nos convites que recuso, nos livros de estreantes que deixo de ler, nas amizades que não vingam.
    5) Mas, na quinta passada, nada me emocionou tanto quanto uma breve carta do Marquês de Sade à sua mulher, que nunca deixou de amá-lo (a recíproca sendo provavelmente verdadeira). A carta é escrita do asilo de Charenton, onde Sade ficou preso como louco, de 1801 a 1814 --porque sua sogra não gostava dele e, no fundo, porque ele nunca renunciou a pensar e escrever sobre as fantasias que exaltavam seu desejo. Olhei para meus dedos, na esperança que algo dele tivesse entrado em mim, por osmose.
    Em suma, passei horas com Pedro Corrêa do Lago, que me mostrou alguns dos manuscritos que ele reúne há mais de 40 anos. A coleção é extraordinária por sua extensão e variedade --e pela inteligência de Pedro (para se ter uma pequena ideia, ver os livros "Cinco Séculos a Papel e Tinta", da editora Afrontamento, ou "True to the Letter", da Thames and Hudson).
    A história é mesmo, como diria um colega de Ricardo 3º, um conto sem sentido, cheio de som e fúria, mas ela é bonita ou mesmo sublime quando, por algum milagre, ela se torna concreta, como aconteceu para mim, na quinta-feira passada. Este é o poder do manuscrito: ressuscitar os corpos, pelo gesto da mão que persiste, inscrito na forma das letras.
    É primavera, época tradicional de limpeza. Doe as velharias que você não usa mais, mas, por favor, não jogue fora levianamente cartas e papéis manuscritos.

    Janio de Freitas

    folha de são paulo
    Procuram-se
    Nova posição do grupo Procure Saber ainda revela a pretensão de submeter as biografias a um crivo prévio
    Mudar de opinião não é o mesmo que negar haver ostentado outra opinião. A primeira atitude bastaria, até por honestidade intelectual, aos cantores e compositores que se deixaram levar para a segunda, agora. E até pagaram por pretensa assessoria especial para isso, reabrindo um assunto que se esvaziava, como lhes convinha.
    "Nunca quisemos censura" é a frase que resume a nova posição do grupo relativa a biografias. Iniciada com "desculpas ao Brasil", como Ancelmo Gois publicou no "Globo", "se não nos fizemos entender". Quer dizer, então, que a imensa quantidade dos que divergiram do desejo de censura prévia às biografias são todos idiotas, incapazes de entender o que aquelas celebridades musicais disseram e escreveram com tanta clareza e tanta ênfase até poucos dias.
    Essa atitude presunçosa mostrou-se já de início no nome que o grupo de cantores, compositores e aderentes se deu: Procure Saber. Eles têm o saber, seja lá do que for, e os demais ainda têm de sair a procurá-lo. Como em toda atitude presunçosa, esta transmite uma depreciação a que não falta um tempero humilhante.
    A pretensão de crivo prévio das biografias está impressa ou, quando não, está gravada em suas tantas manifestações, com diferentes autorias. Mesmo em sua nova posição, lá está ainda a intenção inspiradora, explícita e clara na recusa a dispor apenas dos direitos dados pela lei ao difamado ou insultado: "O resultado [do recurso legal] é um pouco tardio. Depois de publicado, todo mundo já leu, já viu pela internet. Isso não vale muito, não".
    A solução? A liberdade do biógrafo, mas "com um ajuste". Ajuste, é óbvio, que só pode ser do texto original ao pretendido pelo biografado. Logo, o "ajuste" é efetivar alterações por censura ou, se recusadas, a censura total à publicação.
    São de elevado conceito os advogados contratados para o Procure Saber. Como tais, não ignorariam a dificuldade dos seus clientes de se sentirem vitoriosos no julgamento, em breve, do recurso de editores ao Supremo Tribunal Federal, contra a necessidade de autorização do biografado ou de familiares para a edição de biografias. Também no Congresso, a perspectiva do projeto contra a obrigatoriedade de autorização, cuja preliminar necessária é um exame censor, não permite otimismo ao Procure Saber. Perder, para reis e celebridades, talvez seja visto como um vexame intolerável.
    Nem por isso os que expõem nova posição precisariam fazê-lo com o contorcionismo ético e factual a que cederam (não por sugestão dos advogados, mas de um tal especialista). Nem, com a sua exigência de "garantias contra os ataques, os excessos, as mentiras, os aproveitadores", precisariam continuar tratando os biógrafos como bisbilhoteiros, fofoqueiros, e com essas outras gentilezas que o sempre bem tratado Gilberto Gil agora distribui.
    No subsolo do que os integrantes do Procure Saber disseram aparentemente dos e para os biógrafos, ficou evidente que muito se referia aos jornalistas. Não precisam fazer cerimônia. Nem precisarão desdizer-se, porque isso é tão pouco ético quanto o que fazem os maus biógrafos e o que criticam na imprensa.

    quarta-feira, 30 de outubro de 2013

    Estupradores de Mumbai não tinham medo da lei

    The New York Times

    Ellen Barry e Mansi Choksi
    Em Mumbai, Índia
    • Punit Paranjpe/AFP
      Policiais escoltam um suspeito de participar do estupro coletivo a uma fotojornalista em Mumbai
      Policiais escoltam um suspeito de participar do estupro coletivo a uma fotojornalista em Mumbai
    Às 17h30 daquela quinta-feira, quatro jovens estavam jogando cartas, como de costume, quando o celular de Mohammed Kasim Sheikh tocou e ele anunciou que era hora de sair à caça. Presas tinham sido avistadas, disse ele a um amigo. Quando o dono da casa perguntou o que eles iriam caçar, Sheikh disse: "um belo veado".

    Quando os dois homens saíram apressados da residência, o anfitrião sorriu, imaginando que eles não gostavam de perder no jogo.

    Duas horas depois, uma fotojornalista de 22 anos saía mancando de um edifício em ruínas. Ela havia sido estuprada repetidas vezes por cinco homens. Um deles pediu para que ela imitasse cenas pornográficas exibidas em um telefone celular. Depois que a moça deixou o local do estupro, os homens se dispersaram e voltaram para suas esposas ou mães – ao menos aqueles tinham esposas e mães –, pois era hora do jantar. Nenhuma de suas vítimas anteriores tinha ido à polícia. Por que esta iria?

    O julgamento do caso de estupro coletivo em Mumbai teve início em um tribunal sonolento e mal frequentado, sem a pressão dos repórteres que registraram cada reviravolta de um caso semelhante, ocorrido em Nova Déli, no qual uma mulher morreu depois de ser estuprada por vários homens dentro de um ônibus particular. Os acusados, que estavam descalços e se sentaram em um banco ao fundo do tribunal, observavam os argumentos com expressões vazias, como se eles estivessem sendo proferidos em mandarim. Todos se declararam inocentes.

    Mas o caso de Mumbai oferece um vislumbre incomum sobre um grupo de jovens entediados que já cometeram o mesmo crime tantas vezes que até chegaram a desenvolver uma rotina. A polícia diz que os homens já estupraram pelo menos cinco pessoas no mesmo local. O jeito confiante e relaxado dos acusados reforça a ideia de que aqui na Índia o estupro tem sido um crime em grande parte invisível, para o qual as condenações são raras e cujas vítimas costumam sair silenciosamente de cena. Só após a prisão dos acusados, num momento em que a violência sexual vem ganhando as manchetes e tem sido alçada ao topo da agenda das autoridades locais, é que a gravidade do crime foi compreendida.

    Um editor da publicação onde a fotógrafa trabalha, que falou sob a condição de anonimato para proteger a identidade da vítima e estava presente quando uma testemunha identificou o primeiro dos cinco suspeitos – um jovem –, disse que o adolescente se esvaiu em lágrimas assim que foi acusado.

    Mumbai é uma mistura anárquica, com seus arranha-céus ladeados por pequenas favelas e imóveis desocupados que se transformaram praticamente numa selva. Um desses lugares é Shakti Mills, onde estão as ruínas dos dias prósperos da indústria têxtil de Mumbai. Quando a noite cai, Shakti Mills se transforma em um traiçoeiro trecho de escuridão em meio à cidade, repleto de buracos e detritos, mas ainda próximo o suficiente de Mumbai para que seja possível olhar para cima e observar as luzes piscantes do Hotel Shangri-La.

    A fotógrafa e seu colega, um homem de 21 anos, eram estagiários de uma publicação de língua inglesa e decidiram incluir as ruínas do complexo Shakti Mills em um ensaio fotográfico sobre os prédios abandonados da cidade, segundo o editor. Naquela quinta-feira de agosto, eles chegaram ao complexo fabril em ruínas cerca de uma hora antes do pôr do sol.
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    Casos de estupro na Índia239 fotos

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    23.ago.2013 - Policiais indianos inspecionam local onde uma jovem de 22 anos foi vítima de estupro coletivo, em Mumbai, nesta sexta-feira (23). A fotojornalista foi atacada por um grupo de homens, enquanto seu parceiro foi amarrado a uma árvore e espancado, segundo a polícia. Em dezembro passado uma jovem de 23 anos também foi estuprada coletivamente em um ônibus e morreu por consequência dos ferimentosLeia mais Indranil Mukherjee/AFP

    Os cinco homens que eles encontraram vieram das favelas próximas ao complexo fabril.

    Nenhum dos homens tinha emprego fixo. Eles diziam a suas famílias que queriam uma vida melhor, um trabalho em um escritório ou em uma fábrica, mas esse trabalho nunca parecia chegar. Eles passavam o tempo jogando cartas e bebendo. O luxo da parte mais rica da cidade era esfregado na cara deles todos os dias por meio das formas sinuosas do Lodha Bellissimo, um prédio de 48 andares que estava sendo construído em um terreno adjacente.

    Apenas Kasim Sheikh, 20, o jogador de cartas que recebeu o telefonema, parecia ter deixado a pobreza para trás. Ele usava camisas espalhafatosas e conseguia bicos de garçons para seus amigos em festas de casamento. Ele já havia sido condenado por roubo e, ocasionalmente, fornecia informações para a polícia, de acordo com o comissário de polícia de Mumbai, Himanshu Roy.

    Quando outro de seus amigos, Salim Ansari, 27, pai de dois filhos, avistou os estagiários na fábrica naquele dia, a primeira coisa que ele fez foi ligar para Sheikh para informar que a presa havia chegado.

    Nada a perder

    Nos últimos meses, desde o estupro coletivo em Nova Déli, a violência sexual tem sido discutida continuamente na Índia. Mas ainda há poucas respostas claras para as dúvidas relacionadas à frequência desse tipo de crime ou sobre suas causas.

    Um dos problemas desse tipo de delito é que seus autores provavelmente não consideram suas ações como um crime grave, mas sim como algo mais próximo de uma travessura. Uma pesquisa realizada em seis países asiáticos – a Índia não estava entre eles – com mais de 10 mil homens e publicada pela revista Lancet Global Health em setembro passado apresentou dados surpreendentes. O levantamento constatou que, quando a palavra "estupro" não era usada como parte de um questionário, mais de um em cada 10 homens da região admitiu ter feito sexo à força com uma mulher que não era sua parceira.

    Questionados sobre os motivos que os levaram a tomar tal atitude, 73% dos homens disseram que a razão era "porque eles tinham direito". Cinquenta e nove por cento dos entrevistados disseram que sua motivação foi "a busca por diversão".

    A fotógrafa e seu colega foram até a fábrica, mas perceberam que, visualmente, o local não era o que eles queriam. Foi nesse momento que os dois homens se aproximaram deles, disse a vítima à polícia posteriormente, e se ofereceram para mostrar um ponto mais afastado. Nesse local, as imagens eram melhores, e os dois já estavam trabalhando durante meia hora quando os dois homens voltaram.

    "A presa está aqui"

    Dessa vez, eles voltaram com um terceiro homem, Kasim Sheikh, que disse algo estranho à fotógrafa e seu colega – "Nosso chefe viu vocês dois e vocês têm que vir com a gente agora" –, e ele insistiu para que eles se aprofundassem ainda mais no complexo. Enquanto eles caminhavam, a fotógrafa ligou para um editor, que disse para eles saírem imediatamente dali. Mas já era tarde demais.

    "Venha aqui para dentro, a presa está aqui", Sheikh chamou, e mais dois homens se juntaram a eles.

    Os homens disseram que o colega da fotógrafa era suspeito de assassinato, pediram para que os dois retirassem seus cintos e os usaram para amarrar o homem. Depois disso, disse a mulher à polícia, "o terceiro homem e um homem de bigode me levaram para um lugar que parecia um cômodo todo destruído".

    Os homens tinham feito a mesma coisa de um mês antes, disse Roy, o comissário de polícia, quando se revezaram no estupro de uma atendente de call center de 18 anos que, acompanhada de seu namorado, havia torcido o tornozelo e estava tentando pegar um atalho através do complexo fabril desativado. Eles também estupraram uma mulher que trabalhava como catadora em um depósito de lixo, uma prostituta e um homem vestido de mulher, disse Roy.

    Por fim, eles levaram a fotógrafa, que estava chorando, para fora do local. Antes de soltá-la, eles ameaçaram fazer o upload do vídeo do ataque na internet caso ela denunciasse o crime – uma estratégia que já havia funcionado com as vítimas anteriores.

    Mas ela não hesitou. A fotógrafa e seu colega pegaram um táxi para o hospital mais próximo. Lá, eles denunciaram o crime.

    Resposta enérgica

    Apesar de os homens que estavam na fábrica não terem consciência, o crime de estupro se transformou em uma questão de grande importância para a opinião pública na Índia, um indicativo que está relacionado à identidade de uma cidade. As autoridades de Mumbai, que tinham dito que o estupro coletivo registrado em Nova Déli não poderia ter acontecido aqui, ficaram horrorizadas e deram início a uma ampla e enérgica resposta, como se um ato de terrorismo tivesse ocorrido na cidade.

    A polícia acionou suas redes de informantes nas favelas e todos os cinco suspeitos foram presos e confessaram rapidamente o crime.

    Mas, em vários bairros localizados nos arredores de Mumbai, as pessoas ainda estão tentando ligar o crime aos homens comuns que elas conheciam.

    Shahjahan Ansari, a esposa do mais velho dos acusados, Salim Ansari, parecia aterrorizada quando um desconhecido apareceu em sua porta. Os vizinhos começaram a evitar a família desde que a notícia da prisão de Salim tornou-se pública, e mulher do acusado passou a temer a atenção extra.

    Ansari relembrou o tempo de dias melhores, antes de seu marido perder o emprego em uma fábrica que produzia caixas de papelão. Ele tinha tanto orgulho de seu trabalho na fábrica, que era equipada com grandes máquinas, que levava seus filhos para ir vê-lo trabalhar nos turnos de domingo.

    "Eu quero que meus filhos cresçam e sejam bons seres humanos, e isso é tudo", disse a mãe.

    Tradução: Cláudia Gonçalves

    Publicitário que já foi vendedor de saco de lixo fala sobre mercado, vida e consumo

    KÁTIA LESSA
    DE SÃO PAULO
    Ouvir o texto
    Top of MindNo início da carreira, Hugo Rodrigues, 43, tinha cabelos quase raspados. Até conseguir o primeiro emprego, bateu tantas vezes à porta de agências consagradas que resolveu deixar as madeixas crescerem para não ser reconhecido pelos diretores que o entrevistariam mais uma vez.
    "Quando fui eleito profissional do ano pela ABP [Associação Brasileira dos Publicitários], olhei para aquela plateia cheia de gente bacana do mercado e falei: 'Todos vocês aqui já me negaram emprego'", diverte-se. Os cabelos armados acabaram se tornando a marca registrada do hoje vice-presidente das agências Publicis no Brasil.
    "Todo publicitário tem que ser, antes de tudo, um comerciante. A pesquisa é fundamental, nossa área virou uma ciência exata e eu sou obsessivo pelo consumidor."
    Helena Peixoto/Folhapress
    Hugo Rodrigues na sede da Publicis, em São Paulo
    Hugo Rodrigues e seus cabelos armados --marca registrada-- na sede da Publicis, em São Paulo
    Folha Top of Mind - Você sempre quis ser publicitário?
    Hugo Rodrgieus - Sou de uma família simples de Santos [litoral paulista]. Sempre tive uma visão pragmática das coisas. Eu pensava: "Se eu começar a trabalhar desde cedo, em qualquer área, talvez consiga chegar a algum lugar". Para gente como eu, não tinha isso de escolher uma profissão, o objetivo era sobreviver. Vendi saco de lixo, produtos de limpeza e trabalhei em gráfica. Depois, cursei um ano de engenharia, vi que não era pra mim e mudei para o marketing.
    E por que escolheu a área?
    Um dia eu li uma entrevista do Washington Olivetto e pensei: "Nossa, que cara 'bon vivant'". Eu achei que poderia ser divertido escrever, fazer com que pessoas se entusiasmassem por um produto e ainda ganhar com isso.
    Como era naquela época?
    Em 1991, não existia internet e as boas propagandas eram aquelas que divertiam as pessoas. O consumidor lembrava da piada, mas não do produto. Hoje não existe fazer um anuncio só pela ideia.
    Então por que o festival de Cannes ainda aceita anúncios fantasmas [feitos só para premiação]?
    O consumidor é quem manda na mensagem. Não adianta fazer uma propaganda incrível se ele não for contagiado por ela. Mas os prêmios são uma espécie de feira.
    Como assim?
    Nem todos os carros do salão do automóvel vão pra rua, nem tudo o que é desfilado na semana de moda de Paris vai para as lojas. É preciso premiar projetos de vanguarda também. Mesmo assim, prefiro sacudir o Brasil e dar resultado para o meu cliente do que ganhar um prêmio em Cannes, que sacudiu só o especialista. Quando virei vice-presidente aqui, só tinha um Leão no currículo, isso não é tão importante quanto parece.
    Qual é o seu diferencial no mercado?
    Vim do comércio, eu gosto de saber exatamente quem é o meu consumidor. Minha carreira demorou a decolar, por isso eu tive que me dedicar muito ao trabalho sujo, fazer coisas que os jovens do mercado não gostavam muito.
    Que tipo de trabalho?
    O varejo, as contas públicas e médicas me deram uma boa base para encarar um mercado dinâmico como o que temos agora. A convivência com a pressão do resultado imediato da placa do comércio me fez estar mais preparado quando a era digital chegou. No mercado, sou mais um Zeca Pagodinho do que um Seu Jorge, apesar de o segundo ser mais "cool".
    A propaganda brasileira poderia ousar mais?
    Vivemos em um país que passa pelo problema do analfabetismo funcional. Ainda estamos em um estágio muito primário de educação. Deveríamos passar uns dez anos com a linguagem simplificada e apostar no crescimento do país. Só assim poderemos ser mais ousados na linguagem e, ainda assim, apresentar resultados aos clientes. Por enquanto, precisamos falar a linguagem do nosso consumidor e respeitá-lo sempre.
    E qual é essa linguagem?
    Vou dar um exemplo prático de uma pesquisa que fizemos na casa: 80% dos brasileiros não faziam "recall" de peças de carros, de eletrônicos etc Fomos pesquisar o motivo e descobrimos que 83% dos brasileiros simplesmente não sabem o que é "recall". A mudança vai ser lenta e gradativa.
    A classe C ainda é a bola da vez?
    É. E ainda vai demorar muito na ponta. A mulher da classe C gasta R$ 19 bilhões em cosméticos no Brasil, enquanto a da classe A gasta R$ 10 bilhões. Com quem você acha que as pessoas querem falar?
    Como é essa mulher?
    A mulher da classe C é a mais otimista do mundo. Ela olha para a madame comendo só uma salada no shopping e fala: "Que triste, quero comer melhor, quero ser feliz". Ela se movimenta e faz a economia girar com ela. Hoje somos especialistas nesse mercado, mas garanto que, se o foco de amanhã for a classe A, também seremos, porque o nosso negócio é a obsessão pelo consumidor.
    O que você gosta de fazer quando não está trabalhando?
    Acho o prazer de não fazer nada importante, mas tenho um sentimento de dívida com Deus por tudo o que aconteceu na minha vida, então não me permito ficar ocioso. Uso esse tempo para contemplar o consumidor. Vou a um shopping ou a um restaurante e me pego reparando nas pessoas. Tiro até fotos, que levo para as reuniões. Faço exercício por obrigação e gosto de sair para comer.
    Seu cabelo virou uma marca. Ninguém nunca implicou com ele?
    Conheço 25 países e em quase todos noto que as pessoas ainda olham meio torto. Aqui no Brasil isso é mais forte, sofro preconceito no banco, em show Mas a luta continua, eu acho bacana.

    Francisco Daudt

    folha de são paulo
    Momento perigoso
    O investimento da paixão é tamanho que sua perda precisa ser negada a qualquer custo
    "O inferno não contém fúria igual à de uma mulher rejeitada." A citação de William Congreve, erradamente atribuída a Shakespeare, fala de um dos momentos mais perigosos da convivência humana: a separação, o desprezo dos apaixonados pelo objeto de sua devoção.
    É curioso que a história tenha guardado ícones femininos dessa fúria (quem viu "Atração fatal", 1987, Glenn Close e Michael Douglas, nunca mais se esqueceu, homens têm calafrios só de lembrar).
    O mesmo vale para o homem rejeitado (as óperas "Carmen", de Bizet, e "Os Palhaços", de Leoncavallo, terminam com homens rejeitados assassinando suas mulheres, enquanto cantam seu amor por elas).
    A vingança que se segue à rejeição é tamanha, que dá uma ideia do monumental terremoto psíquico que ela envolve. Homens costumam ser mais diretos, assassinam pessoalmente. Mulheres, mais elaboradas (veneno; contratação de um assassino de aluguel; sequestro de filhos dele; perseguição implacável --"Vou dedicar minha vida a tornar a sua um inferno").
    Mas mulheres atiram, e homens perseguem também.
    O "stalking" ("perseguição implacável") de outros tempos --telefonemas desligados no meio da noite; lixo revirado; aparições de surpresa; barraco armado na frente do prédio; cartas anônimas; difamação --vai sendo substituído pelo instrumento de perseguição mais diabólico já inventado: a internet.
    Ela permite fuçar, não mais o lixo, mas todo o conteúdo de e-mails. Possibilita difamar, não com palavras, mas com filmagens e fotos íntimas postadas na rede. Nas mãos de um bom hacker, a devassa completa da vida do outro. O inferno tornou-se muito pior na era da informática.
    Mas, afinal, o que move tamanho investimento maligno? Chico Buarque cantou: "Dei pra maldizer o nosso lar, pra xingar teu nome, te humilhar e me vingar a qualquer preço, te adorando pelo avesso, pra mostrar que ainda sou sua".
    Aí mora a chave: o investimento da paixão é tamanho que sua perda precisa ser negada a qualquer custo. Eis porque o "amor" precisa ser afirmado mesmo com seu objeto morto: o cadáver é a posse definitiva.
    "Se ela já estava separada dele havia tempos, por que ele foi matá-la quando ela arranjou um namorado novo?" São truques da paixão: imaginar a mulher com outro homem é capaz de reacendê-la, pois dá um enorme tesão (vide "swings", "ménages").
    Há duas espécies de ciúme: o sexual (dos homens, que sempre correram o risco de criar o filho de outro) e o de prestígio (das mulheres, que detectam desinvestimento nelas, mesmo que seja em favor do futebol, do computador ou dos amigos do marido). Isso fala só do mais frequente. O de praxe é haver sempre uma mistura dos dois.
    Mas como o momento perigoso é o do crime passional, precisamos entender que a paixão (do latim "passio", cuja única tradução é "sofrimento") é um programa de loucura transitória, um investimento de toda nossa vida, não numa pessoa, mas na idealização de alguém. Por isso, ela pode prosseguir depois da perda, mesmo depois da morte.
    Quem ama, não mata. Quem está apaixonado, sim.

    Extremistas holandeses usam gays e mulheres no combate ao islamismo

    EL PAIS
    Ana Carbajosa
    A extrema-direita holandesa encontrou a fôrma de seu sapato em Almere, uma cidade-dormitório próxima a Amsterdã, que foi construída do nada em 1976 e na qual hoje dormem 200 mil pessoas que votam majoritariamente nos populistas do PVV (Partido da Liberdade) de Geert Wilders.
    Ali, os moradores falam em imigração, identidade e fobia da UE, os três pilares ideológicos das correntes radicais que ganham força na Europa e que agora aspiram a fazer frente comum diante das eleições europeias. O eixo é promovido por Marine Le Pen junto com o PVV holandês, o FPO austríaco, o Vlaams Belang belga ou os Democratas da Suécia.
    Famílias jovens em busca de casas espaçosas por preços acessíveis se instalaram nessas terras conquistadas do mar e hoje transformadas em uma meca da arquitetura moderna, rodeada por quilômetros de chalés vizinhos e ajardinados. Fugiam da multiculturalidade das grandes cidades holandesas, o que ali chamam com surpreendente naturalidade de "a fuga dos brancos".
    Mas quase 40 anos depois em Almere há tantos imigrantes ou mais que no resto do país, o que incomoda os primeiros povoadores. Também não agrada ao PVV, para o qual o islã é uma praga a ser erradicada. "Não queremos que construam mais mesquitas nem que tragam sua cultura. O islã é uma ameaça para a sociedade e para as liberdades das mulheres e dos homossexuais." É o que diz Toon van Dijk, chefe de fileiras do PVV de Almere, um advogado atraente e eloquente, em um café do centro.
    Continua com um discurso que dificilmente poderia ser mais claro. "A Europa? Nós defendemos sair da UE e do euro. No máximo, deveria haver acordos bilaterais, mas cada país deve ser soberano para decidir sobre as leis migratórias e sobre sua economia."
    Os resgates financeiros contribuíram para expandir o antieuropeísmo pegajoso que hoje circula com fluidez pela UE, inclusive em países como a Holanda, nos quais era algo que nem se imaginava há alguns anos. "Não queremos dinheiro para os gregos, e sim para nossos doentes", é uma frase que em holandês rima e que Wilders transformou em um de seus slogans. O dirigente holandês visitou seus colegas na França, Bélgica, Suécia e Áustria para sondá-los sobre uma potencial coalizão. Em meados de novembro, Le Pen viajará a Haia para reforçar sua cruzada particular contra a UE.
    Wilders é provavelmente o político mais eficaz desse movimento. Além disso, conseguiu diluir, pelo menos em parte, a pátina rançosa que tradicionalmente envolvia os movimentos de extrema-direita na Europa. Wilders é o espelho em que se olham alguns populistas europeus. "Ele aspira a ser o líder ideológico desses movimentos. Deixa de lado o antissemitismo da extrema-direita tradicional e combate o islamismo em nome dos direitos dos gays e das mulheres", explica Koen Vossen, cientista político da Universidade de Nijmegen e autor do livro "Rondom Wilders", que analisa a figura do político e seu partido.
    De sua parte, Le Pen sofreu sua transformação particular, sobretudo nas formas, dando pé a novas alianças. Por aí vão as coisas: por mudar de pele e revestir-se de um halo centrista - pelo menos em certas questões - que torne a mensagem digerível.
    A anti-imigração seduz, culpar Bruxelas de todos os males também, mas há uma terceira cartada que os populistas europeus manipulam como ninguém: a do nacionalismo entendido como sistema de valores ameaçado pela chegada de imigrantes e como o direito a que o governo do Estado-nação seja o único a decidir sobre seus habitantes.
    Em Almere, a cidade do desenraizamento, o PVV toca bem essa tecla. Oferece altas doses de identidade fácil e triunfal. Porque nem a estátua da vagem gigante azul-metálica no centro comercial-fortaleza com jardins no telhado conseguiu despertar em seus habitantes o sentimento de pertencer à cidade. "Isto foi vendido como a cidade prometida. As pessoas pensaram que viriam para cá e seriam felizes, mas não são, e hoje votam no partido do descontentamento", interpreta Mario Withoud, que é conhecido como o poeta oficial da cidade.
    Um bom representante desse descontentamento e do apoio incondicional ao PVV é Peter Aggenbach, um designer de sites da web que vive entrincheirado em um subúrbio de Almere. Uma câmera de vídeo vigia o que entra e sai da casa e um pastor alemão que late muito dá as boas-vindas aos visitantes. "É que a situação não permite ficar sem proteção." Ele se queixa do índice de criminalidade entre a população imigrante e acredita que o grande problema é que "vêm impor sua cultura sobre a nossa. A ONU, Bruxelas... temos de lutar para conservar nossa cultura".
    E cita o caso de são Nicolau e os acompanhantes negros com lábios vermelhos que desfilam tradicionalmente na Holanda em novembro e que agora a ONU estuda se poderia tratar-se de um ato racista. "A correção política fede", diz.
    Aggenbach, 58 anos, indica uma quarta questão, mais metodológica talvez, mas que sem dúvida explica boa parte do êxito dos partidos populistas na Europa. "Estamos cansados da elite política que se dedica a tergiversar. O PVV é o único partido que se atreve a chamar as coisas pelo nome, que se atreve a tocar em temas como a imigração ou o desperdício que representam os inúteis subsídios europeus para a sustentabilidade, por exemplo."
    A dose de frescor político que esses líderes vendem diante dos tradicionais, com uma linguagem e uma correção política que engessam sua mensagem, constitui um dos grandes ativos dos extremistas.
    A história de Almere se repete por toda a Europa. Muda a fisionomia das cidades, claro, e mudam também algumas preocupações. Mas seus clichês ideológicos soam tremendamente familiares na planície flamenga belga, nos vales suíços ou em bairros periféricos da Finlândia. O coquetel ideológico populista se estende como uma mancha de óleo no continente.
    Conscientes de que o vento sopra muito a seu favor, os dirigentes populistas se esforçam para aproximar suas posições da ideia de fazer frente comum nas eleições europeias de maio. Foi o que Le Pen anunciou esta semana. As famílias políticas afins da Frente Nacional, tradicionalmente pouco dadas à cooperação, preparam agora um manifesto e um projeto comuns.
    O partido de Wilders, o austríaco, o sueco e o belga são os que até o momento alcançaram um consenso mínimo, segundo explica em seu escritório no Parlamento Europeu Philip Claeys, do Vlaams Belang. Claeys aspira a que muitos partidos radicais subam no carro pan-europeu na medida em que se aproxime a data. Precisam de 25 deputados de pelo menos sete países para formar um grupo parlamentar que reforce seu poder e gere mais financiamento.
    Na extrema-direita austríaca, o FPO, que na época foi liderado pelo falecido Jörg Haider, é outro dos promotores da iniciativa, junto com o VB, o partido flamengo independentista de extrema-direita belga. Os grupos extremistas da Hungria ou da Grécia parecem inicialmente excluídos por seu antissemitismo e viés criminoso. Os eurocéticos britânicos do Ukip compartilham o euroceticismo, mas não querem ser associados à extrema-direita.
    Os demais grupos de extrema-direita estão se farejando e tentando discernir até que ponto seriam capazes de coabitar. "Sentimos que desta vez é diferente, que temos posições mais próximas e que há um clima na Europa que nos favorece", estima Claeys.
    Pode ser que, como em ocasiões anteriores, as brigas entre os próprios extremistas levem o experimento de coalizão a nada, mas no momento o Tea Party europeu conseguiu provocar um clima de ansiedade em Bruxelas e sobretudo na Eurocâmara, onde os cálculos indicam que poderiam controlar 20% dos assentos depois das eleições. "Isto é muito sério", estima Guy Verhofstadt, ex-primeiro-ministro belga e atual presidente dos liberais no Parlamento Europeu.
    O problema, diz ele, é que, além do poder concreto que conquistarem, esses grupos já ganharam porque conseguiram de alguma maneira impor sua agenda antieuropeia. "Os líderes da UE caíram na armadilha eurocética. Em vez de oferecer alternativas para sair da crise, os políticos tradicionais copiam o discurso e a linguagem dos radicais. Não se atrevem a decidir. O processo de decisões está parado."
    Tradutor: Luiz Roberto Mendes Gonçalves