quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Roberto Carlos rompe com Associação Procure Saber

folha de são paulo
Empresário Dody Sirena enviou comunicado ao grupo anunciando decisão
Erasmo Carlos, um dos fundadores, afirma ainda não saber se continuará ligado ao grupo de músicos
MÔNICA BERGAMOCOLUNISTA DA FOLHADepois de sofrer ataques de Caetano Veloso no fim de semana, o cantor Roberto Carlos decidiu antecipar o que já era dado como certo: o fim da Associação Procure Saber nos moldes atuais.
Seu empresário, Dody Sirena, mandou ontem um comunicado para o grupo dizendo: "A partir de agora, fiquem à vontade com o andamento do Procure Saber sem a presença direta do Roberto".
A equipe do cantor já estava insatisfeita com a forma como Paula Lavigne, que preside a entidade, conduziu a questão das biografias, considerada "truculenta", segundo um integrante do grupo.
Na semana passada, o rei chamou os principais integrantes em seu estúdio, na Urca, e promoveu uma espécie de "intervenção branca".
Ficou decidido que Lavigne não falaria mais sobre biografias em nome da entidade. Um comitê, formado por advogados de Roberto Carlos, tocaria a questão. Caetano, no dia, não se opôs. No fim de semana, por meio de um artigo no jornal "O Globo", no entanto, desautorizou os profissionais publicamente.
Em certo trecho, Dody escreve: "Não é bem assim o nosso jeito de trabalhar, somos mais discretos, afinal defendemos também a privacidade no sentido profissional".
Informado de que seu amigo deixara o Procure Saber, o cantor Erasmo Carlos disse que precisaria refletir sobre sua permanência: "Agora eu não sei, preciso pensar e me reunir até com Deus", afirmou à Folha.

    Gays são agredidos no centro de São Paulo

    folha de são paulo

     
    MARTHA ALVES
    DE SÃO PAULO
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    Dois gays, de 35 e 23 anos, foram agredidos por ao menos dez pessoas na rua Augusta, na Consolação, região central de São Paulo, por volta das 4h desta quarta-feira.
    As vítimas disseram à polícia que estavam se despedindo com um beijo em frente a um bar quando começaram a ser agredidas por um grupo de skinheads. Segundo as vítimas, um dos agressores utilizava uma mochila para bater.
    Os dois agredidos tiveram ferimentos na cabeça e foram levados ao pronto-socorro da Santa Casa de São Paulo, onde foram atendidos e liberados.
    Apesar da dificuldade das vítimas em descrever os agressores, os policiais conseguiram deter três homens e uma mulher suspeitos na avenida Augusta.
    Com os suspeitos detidos foram apreendidos uma madeira com pregos na ponta, duas facas, um canivete e uma arma de artes marciais chamada de nunchacku (dois bastões unidos por uma corda ou corrente).
    Segundo a Polícia Militar, os homens detidos são carecas, um deles tem uma tatuagem na cabeça e outro uma no peito escrito skinhead. As facas estavam escondidas na bolsa da mulher detida, segundo a PM.
    O caso será registrado no 78º Distrito Policial (Jardins).
    Avener Prado/Folhapress
    Armas apreendidas com suspeitos de agredir casal gay no centro de São Paulo
    Armas apreendidas com suspeitos de agredir casal gay no centro de São Paulo

    Painel Vera Magalhães

    folha de são paulo

    Haddad é avisado que vários partidos serão atingidos por investigação sobre desvio

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    O braço político O prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, já foi avisado de que a investigação sobre desvio de recursos por auditores fiscais da prefeitura vai atingir representantes de vários partidos na Câmara Municipal. Vereadores que acompanharam a CPI do IPTU, presidida por Aurélio Miguel (PR) em 2009, lembram que Arnaldo Augusto Pereira, ex-subchefe da arrecadação que está na mira da Controladoria-Geral, atuou para que auditores subordinados a Ronilson Rodrigues não fossem convocados.
    Mais um A auditora Paula Nagamati, que foi chefe de gabinete do ex-secretário Mauro Ricardo (Finanças) na gestão Kassab, também está no rol de investigados.
    Manual Grampo da Operação Necator flagra dois acusados de integrar o esquema falando sobre Mário Spinelli. Um deles recomenda ao outro "cuidado" com o controlador-geral, tido como "sério". "Já até comprei o livro dele."
    Munição Além da tese da Promotoria de que o reajuste de IPTU não poderia ter entrado na pauta da sessão em que foi aprovado, vereadores dizem que requerimentos foram analisados fora da ordem, o que também pode levar à anulação da sessão.
    Assim... O grupo que acompanha as investigações do governo paulista sobre a ação de cartel no Metrô e na CPTM divulgará documento questionando a maneira como empresas do Estado formam preços para licitações.
    ... não O texto dirá que a regra usada pela CPTM até 2008 favorecia a prática de cartel, pois usava como base o valor pago na última compra. O grupo achou as explicações do Metrô insuficientes e pediu esclarecimentos.
    Ufa O Palácio dos Bandeirantes avalia que, com Paulo Maluf inelegível, será mais fácil firmar canal direto com o presidente do PP, senador Ciro Nogueira (PI), com quem Geraldo Alckmin se reuniu duas vezes no último mês.
    Ábaco Aécio Neves expôs a senadores tucanos em almoço ontem que sua candidatura ao Planalto pode ser vitoriosa no segundo turno, se vencer no Sul e abrir 3 milhões de votos sobre Dilma em Minas e 2 milhões em São Paulo. O mineiro levou tabelas para demonstrar a conta.
    Energético Estrategistas de Eduardo Campos (PSB) calculam que a popularidade de Marina Silva vai obrigá-lo a ceder à Rede nos Estados. Pesquisa que chegou ao grupo mostra que ele salta de 10% das intenções de voto quando é citado sozinho para 25% quando a ex-senadora aparece como vice.
    Test drive A Rede resiste em apoiar o nome do PSB na nova eleição para prefeito de Santana do Parnaíba, na Grande São Paulo, em dezembro. O grupo acha ruim embarcar no projeto socialista antes de formalizar o programa conjunto. A decisão será tomada segunda-feira.
    Data venia Ministros do STF têm dúvida sobre a ideia de aplicar no mensalão a súmula 354, que poderia levar à prisão de condenados antes do julgamento de todos os embargos. Para eles, "fatiar" a expedição de mandados de prisão fere a exigência de trânsito em julgado.
    Pra já Já a chance de êxito dos réus na análise da segunda leva de embargos de declaração é baixa. Ministros creem na rejeição dos recursos e na aplicação do "efeito Donadon", com a prisão imediata daqueles que não têm direito aos infringentes.
    A calhar O governo topou protelar a votação do Marco Civil da Internet, que trava a pauta da Câmara, por risco de derrota e para evitar a aprovação de projetos que ampliam despesas da União com pagamento de salários.
    *
    TIROTEIO
    Ao invés de fazer propaganda da atuação da Controladoria, Fernando Haddad deveria esclarecer a atuação de seu secretariado.
    DO VEREADOR FLORIANO PESARO, líder do PSDB na Câmara, sobre menção a Antonio Donato (PT) na apuração de irregularidades na cobrança de ISS.
    *
    CONTRAPONTO
    Aquecimento
    Bem-humorado ao recepcionar mais um grupo de médicos cubanos, o ministro Alexandre Padilha (Saúde) não perdeu a chance de implicar com o secretário da pasta Mozart Sales, cotado para assumir seu lugar quando deixar o Executivo para disputar o governo de São Paulo.
    Ao ver o auxiliar cumprimentando os repórteres que cobrem rotineiramente o setor, brincou:
    - Depois não sabe por que já é chamado de ministro...
    Diante das luzes das câmeras de televisão, Padilha convocou o possível substituto:
    - Vem aqui para ir se acostumando!
    Com BRUNO BOGHOSSIAN e PAULO GAMA
    painel
    Vera Magalhães é editora do Painel. Na Folha desde 1997, já foi repórter do Painel em Brasília, editora do caderno 'Poder' e repórter especial.

    terça-feira, 5 de novembro de 2013

    'É mais cômodo dar remédio do que fazer terapia', diz mãe

    folha de são paulo

    Psiquiatra diz que a medicina transformou comportamentos normais em doença


     
    JULIANA VINES
    DE SÃO PAULO
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    A "caixa da normalidade" está cada vez menor e a culpa é do excesso de diagnósticos de doenças mentais, diz o psiquiatra americano Dale Archer, autor do best-seller "Better than Normal", recém-lançado no Brasil com o título "Quem Disse que É Bom Ser Normal?" (Sextante, 224 págs., R$ 24,90).
    Archer, 57, é psiquiatra clínico desde 1987 e fundou um instituto de neuropsiquiatria em Lake Charles, Louisiana (EUA). Em 2008, ele notou que havia algo errado com os seus pacientes: a maioria dizia ter um transtorno mental e precisar de remédios --só que eles não tinham nada.
    "Estamos 'patologizando' comportamentos normais. E isso não é só culpa da psiquiatria", disse Archer, à Folha, por telefone.
    Um quarto dos adultos americanos têm uma ou mais doenças mentais diagnosticadas, segundo o Instituto Nacional de Saúde Mental dos EUA. "Isso está errado. Há uma gama de comportamentos que não são doença."
    Em um ativismo "pró-normalidade", Archer descreve oito traços de personalidade comumente ligados a transtornos, como ansiedade, e afirma que não há nada errado com essas características, a não ser que sejam muito exacerbadas.
    "O remédio tem que ser o último recurso, e não é o que eu vejo. As pessoas entram em um consultório e saem com uma receita médica. A psicoterapia é subestimada."
    De outubro de 2012 a setembro de 2013, o mercado de antidepressivos e estabilizadores de humor movimentou mais de R$ 2 bilhões no Brasil, segundo dados da consultoria IMS Health. Nos últimos cinco anos, o número de unidades vendidas desses remédios cresceu 61%.
    Para Antônio Geraldo da Silva, presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria, os diagnósticos aumentaram, sim, mas da mesma forma como aumentou os de outras doenças, de diabetes a câncer. "Isso é resultado da evolução da medicina e da facilidade de acesso."
    O mesmo pensa o psiquiatra Fabio Barbirato, da Santa Casa do Rio de Janeiro. "Também aumentou o número de prescrições de insulina e anti-hipertensivo. Isso ninguém questiona. Mas quando se fala de mente, da psique, todos têm uma opinião", afirma.
    Segundo Silva, o problema é o subdiagnóstico. Para ele, há mais deprimidos sem tratamento do que pessoas sem depressão sendo tratadas.
    Barbirato dá como exemplo o TDAH (transtorno do deficit de atenção e hiperatividade). "O número de crianças com prescrição de remédios não chega a 1,5% no Brasil, e a estimativa mais baixa de presença de TDAH no país é de 1,9%. Há crianças sem tratamento."
    CRITÉRIO ANTIGO
    Para a psicóloga Marilene Proença, professora da USP, a sociedade está "medindo" as crianças com réguas antigas. "Os critérios de diagnóstico de TDAH esperam uma criança que brinque calmamente, que levante a mão para perguntar algo. Isso não condiz com o papel da criança na sociedade. Ela está exposta a muitos estímulos e é tudo muito competitivo", diz.
    Para a psiquiatra e psicanalista Regina Elisabeth Lordello Coimbra, da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo, as pessoas estão menos tolerantes às emoções.
    "Há pouco lugar para a tristeza. E a exaltação e excitação são confundidas com felicidade. Vivemos de uma forma mais estimulante, na qual emoções mais depressivas, reflexivas, não têm espaço."
    De acordo com Silva, o que caracteriza a doença mental é a gravidade dos sintomas. "Deixa de ser normal quando a pessoa tem prejuízo, quando está tão triste que não consegue sair da cama."
    Ele argumenta que "invariavelmente" encaminha os pacientes para a psicoterapia. E garante: nem sempre eles saem do consultório com uma receita médica.

    'É mais cômodo dar remédio do que fazer terapia', diz mãe

    E
     
    JULIANA VINES
    DE SÃO PAULO
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    Kátia Christina Fonseca da Silva, 38, ajudante de cozinha, desconfia sempre que dizem que uma criança tem deficit de atenção. Sua filha, Valentina, 11, recebeu esse diagnóstico de forma errada, segundo ela.
    *
    "Minha filha Valentina sempre deu problema. Com seis anos, a escola me chamou para conversar.
    Ela tinha tido um surto. Jogou as coisas do armário da sala no chão, puxou o cabelo da professora, agrediu outras crianças. Entrei na sala de aula e comecei a chorar, não acreditava que ela tinha feito aquilo.
    Fabio Braga/Folhapress
    Kátia Fonseca da Silva, 38, e sua filha, Valentina, 11, que foi diagnosticada com deficit de atenção
    Kátia Fonseca da Silva, 38, e sua filha, Valentina, 11, que foi diagnosticada com deficit de atenção
    Ela foi encaminhada para um psicólogo e, depois, mandaram para um psiquiatra, que disse que ela não tinha nada.
    Não fiquei satisfeita. Juntei dinheiro e paguei um psiquiatra particular, que disse que ela tinha TDAH (deficit de atenção) e precisava de remédio. Fiquei desesperada. A caminho da farmácia, encontrei uma amiga, que me convenceu a não comprar o remédio. Disse que o mesmo tinha acontecido com o filho dela.
    Comecei a me perguntar se o problema não estava na minha família. Na época, eu estava me separando e trabalhava demais.
    Passei a dar mais atenção para ela, a passar mais tempo junto e, devagar, as coisas começaram a melhorar.
    Ela ainda dá trabalho, mas é o mesmo trabalho que toda criança. Ela tem o gênio forte. Acho que, quando era mais nova, queria chamar a atenção.
    Depois de tudo, comecei a participar de reuniões na escola para conversar com os pais. Quando dizem que uma criança tem TDAH, penso, será que isso está certo?
    É mais cômodo dar um remédio do que fazer uma terapia, mudar o comportamento.
    Acho que as crianças são nosso espelho. Será que a agitação deles não é culpa nossa?"

    Mirian Goldenberg

    folha de são paulo
    Perdoa-me por me traíres
    A maioria das mulheres afirma que não trairia caso suas necessidades afetivas e sexuais fossem satisfeitas
    Na minha pesquisa sobre casamento e fidelidade, 60% dos homens e 47% das mulheres disseram que foram infiéis.
    Classifiquei os discursos masculinos em cinco tipos principais.
    Os "poligâmicos por natureza" dizem que amam e desejam suas esposas, mas não podem trair o próprio desejo de aventura, novidade, sedução. Eles não se sentem culpados por trair, pois consideram que são fiéis à própria natureza.
    Os "poligâmicos por oportunidade" dizem que traem em viagens de trabalho, festas de fim de ano: "porque a mulher deu mole", "não consegui dizer não","foi só brincadeira", "foi uma noite só". Eles acreditam que sexo com garotas de programa não é infidelidade.
    Os "monogâmicos infiéis" afirmam que não queriam trair, mas tiveram relações extraconjugais em momentos de crise pessoal ou em uma crise do casamento. Eles se sentem culpados até resolver a situação, quando decidem se separar da esposa ou da amante.
    Os "monogâmicos fiéis" dizem que não traem suas esposas, pois não querem ser desleais: "Quero que a minha esposa seja também minha amante, minha parceira, minha melhor amiga".
    Os "monogâmicos por preguiça" acham que trair dá muito trabalho: "Uma única mulher já exige demais e reclama de tudo, imagina duas?".
    Já as mulheres dizem que querem ser únicas para os seus maridos e querem também que eles sejam únicos para elas. Elas dizem que só foram infiéis porque o marido não satisfazia suas necessidades de atenção, escuta, romance, carinho, sexo, intimidade, diálogo, elogios etc.
    É óbvio que também encontrei mulheres que traíram por sentir desejo por outro homem, em momentos de crise do casamento ou até mesmo por "pintar uma oportunidade". Mas a maioria justificou a própria infidelidade afirmando que não trairia caso suas necessidades afetivas e sexuais fossem satisfeitas pelo marido.
    Uma famosa peça de Nelson Rodrigues parece perfeita para os homens que não conseguem satisfazer os incontáveis desejos femininos e, portanto, são considerados os verdadeiros culpados por serem traídos. Eles deveriam, então, assumir a responsabilidade pela infidelidade feminina e pedir a elas (ou até mesmo implorar, como queria o dramaturgo): "Perdoa-me por me traíres".

      Lidando com o aprendizado - Rosely Sayão

      folha de são paulo

      Aprender

      DE SÃO PAULO
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      Há muitos pais que reclamam do comportamento dos filhos em relação à vida escolar. Em geral, porque eles não se esforçam, acham muito chato aprender e dizem que não gostam de estudar; também porque resistem até o fim para sentar em casa e realizar a tarefa e/ou rever a matéria; e porque não conseguem prestar atenção. Além desses, há os que afirmam que o filho apresenta "dificuldade de aprendizagem".
      Em relação a essa última questão, é preciso considerar que essa frase é vazia, sem sentido. Aprender algo novo é sempre difícil, por mais que a pessoa queira ou goste. Para aprender, é preciso reconhecer a própria ignorância, e isso tem sido cada vez mais difícil no nosso mundo.
      Em resumo: todos nós temos dificuldades de aprendizagem, por isso seria interessante deixarmos de lado esse rótulo quando nos referimos aos mais novos.
      Retomemos as primeiras razões das reclamações dos pais e vamos pensar no quanto eles mesmos colaboram para que tudo aquilo aconteça com o filho, sem que eles percebam sua contribuição.
      E, de largada, vamos lembrar: quando a criança inicia seus estudos formais, ela terá de persistir, se esforçar, encarar o erro e procurar não repeti-lo, aprender a "grudar a bunda na cadeira" cada vez por mais tempo e a seguir um processo.
      A maioria dos pais reconhece tais requisitos mas, na hora de tentar passar aos filhos, comete um equívoco: o de dizer à criança o que ela precisa fazer, na esperança de que ela apreenda as lições dos pais e passe a aplicá-las nos estudos. Costuma ser em vão essa estratégia, porque as crianças continuam com os mesmos comportamentos.
      É que elas precisam aprender isso com os pais no cotidiano. Para ilustrar essa questão, vou usar um exemplo muito presente na vida dos mais novos: os convites para comparecer a festas de aniversários. Aliás, nunca antes as crianças tiveram tantas demandas para eventos sociais. Será bom para elas essa alta frequência? Ainda não sabemos.
      Qual costuma ser o comportamento das crianças em relação aos convites que recebem? Primeiramente, elas não pensam se querem mesmo ir ou não. Desconfio que elas acham que o comparecimento a essas festas é obrigatório, como ir à escola.
      Elas não pensam porque os pais não as levam a isso. Perguntar ao filho qual ou quais motivos ele tem para querer ir à festa pode ser um bom começo. Ele gosta do colega? Tem boa convivência com ele? Quer brincar com outras crianças? Entretanto, o motivo mais utilizado, o de que "todo mundo vai", não deve ser suficiente para convencer os pais.
      Depois disso, sair em busca de um presente para o colega. Pensar na idade dele, do que ele gosta, de suas características, usar uma faixa de preço para escolher, ir com os pais até a loja e --por que não?-- contribuir com parte de sua mesada são questões que também ajudam a criança a vivenciar um processo do começo ao fim dele.
      Ir a uma festa exige uma preparação: não é apenas ir e se divertir, não é verdade?
      Muitas crianças só se defrontam com os processos da vida na escola e, por isso, resistem tanto, reclamam tanto, acham tão chato. A escola tem sido, para muitas delas, a única instituição a exigir delas dedicação, esforço, perseverança, espera, contenção, planejamento etc.
      Desde antes dos sete anos a criança já pode, em família, começar a vivenciar todas essas questões. Afinal, pertencer a uma família já é um processo que exige muito, não é?
      Mas parece que temos deixado a criança concluir que pertencer a uma família é puro desfrute e que aprender algo deve ser fácil.

      Museus apostam na nudez para atrair público

      folha de são paulo
      DOREEN CARVAJAL
      DO "NEW YORK TIMES"
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      The New York Times
      Nas últimas semanas, o programa cultural mais popular da capital francesa tem sido uma exposição no Museu d'Orsay que confronta os espectadores com imagens de um homem nu sobre uma laje fria em um necrotério e do rapper Eminem nu segurando um fogo de artifício diante do sexo.
      As multidões estão vindo, mais de 4.500 pessoas por dia em média, o triplo de uma exposição na mesma época no ano passado, segundo números do museu.
      A exposição --que inclui obras de Picasso e Edvard Munch, assim como nus mais contemporâneos de David Hockney, Andy Warhol e Robert Mapplethorpe--, provocou um amplo leque de reações dentro e fora da França.
      "Uma exposição confusa", avaliou o jornal francês "Le Monde", "despida de qualquer reflexão histórica". A revista de beleza feminina "Marie Claire" a declarou o "evento mais quente" do outono.
      Kenzo Tribouillard/AFP
      Pintura do russo Alexendre Alexandrovitch Deineka na exposição 'Masculin/Masculin', no Museu D'Orsay, em Paris
      Pintura do russo Alexendre Alexandrovitch Deineka na exposição 'Masculin/Masculin', no Museu D'Orsay, em Paris
      Badalação é o que várias grandes instituições europeias buscam neste outono, esperando que um foco sobre sexo estimule visitantes e amplie sua atração.
      O Museu Jacquemart-André também está provocando os viajantes de trem em Paris com cartazes de um nu feminino nebuloso, rotulado "desejo". Ele apresenta uma exposição de pinturas inglesas intitulada "Desejo e Prazer na Era Vitoriana".
      Do outro lado do canal, o Museu Britânico organizou uma exposição inédita de shunga japonesas do século 17, antes proibidas: xilografias eróticas de homens e mulheres copulando.
      A exposição, "Shunga: Sexo e Prazer na Arte Japonesa", adverte os visitantes: "Aconselha-se orientação paterna".
      Durante anos, os objetos ficaram escondidos em um armário secreto de artigos provocantes, mas hoje o Museu Britânico os considera tão rentáveis que criou uma linha de mercadorias "shunga": creme para as mãos Kabuki, velas de soja e brilho para lábios de chá verde. As exposições tiveram ingressos esgotados no primeiro fim de semana de outubro.
      O Museu d'Orsay, como outras instituições culturais com subsídios estatais cada vez menores, quis expandir sua base para pessoas mais jovens e visitantes além de Paris com exposições mais arriscadas. Além dos cartazes no metrô, o museu contratou um diretor para criar videoclipes.
      A direção do museu ficou surpresa quando soube que seu vídeo promocional da exposição havia virado tabu para alguns espectadores a milhares de quilômetros de distância. O YouTube colocou nele o equivalente a uma proibição para 18 anos, e os espectadores menores que tentaram vê-lo por meio de suas contas no Google não tiveram acesso.
      Gareth Evans, porta-voz do YouTube, escreveu em um e-mail: "Temos de realizar um equilíbrio delicado com os espectadores mais jovens para que eles não consigam acessar vídeos que poderiam ser inadequados".
      Mais tarde, o YouTube abrandou sua posição e tornou o vídeo, que atraiu mais de 110 mil visitas, acessível a todos. (Ele inclui uma mensagem sobre imagens potencialmente ofensivas.)
      Quanto à exposição em si, "nosso objetivo não é provocar, ser militante ou gerar um escândalo", disse Amélie Hardivillier, porta-voz do Museu d'Orsay. "Temos de procurar pessoas de maneiras diferentes e começamos com 'Masculin/Masculin'. É uma exposição arriscada."