quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Antonio Prata e Gregorio Duvivier lançam livros juntos com debate e balada

folha de são paulo
Em livro, Duvivier leva humor à poesia
'Ligue os Pontos' é o segundo volume de poemas publicado pelo ator do Porta dos Fundos e colunista da Folha
Com Antonio Prata, que também lança livro hoje, carioca fala sobre seu trabalho literário em evento em São Paulo
RAQUEL COZERCOLUNISTA DA FOLHAO ator e poeta Gregorio Duvivier, 27, diz que é a "galinha pintadinha" do canal de internet Porta dos Fundos.
Seus vídeos, avalia, têm humor quase infantil na comparação com os outros, mais anárquicos e escrachados, produzidos pelo grupo que desde 2012 atrai milhões de espectadores no Youtube.
Esse interesse por um humor mais poético é bem anterior ao formato que fez dele uma estrela virtual. Teve sua primeira aparição em 2008, quando saíram os poemas de "A Partir de Amanhã Eu Juro que a Vida Vai Ser Agora" (7Letras), obviamente com menos alcance que o programa de vídeos.
"Poesia em geral é considerada o supérfluo, o desutensílio', como diz o Manoel de Barros", comenta o escritor, colunista da Folha.
Mesmo assim, Duvivier resolveu tirar da gaveta versos dos últimos cinco anos e reuni-los em "Ligue os Pontos --Poemas de Amor e Big Bang" (Companhia das Letras), que será lançado hoje, em São Paulo, em evento do qual também participa Antonio Prata (leia nesta página).
Com o livro, Duvivier busca mostrar que a poesia não precisa ser oposta ao humor. "Quando você ri de algo, está se identificando. Assim como a poesia, o humor passa pelo afeto. E ambos têm de puxar os tapetes da certeza."
São pouco mais de 30 poemas curtos, como "no princípio era o verbo/ uma vaga voz sem dono/ vagando pela via láctea.// depois veio o sujeito/ e junto com ele todos/ os erros de concordância.". Os versos são sempre dispostos na forma de pequenos blocos de texto.
"Os poemas são todos quadrados, quase emoldurados. Não ligo para métrica, mas gosto desse formato. É como uma espécie de TOC de não pisar nas linhas brancas", ri.
O volume é dividido em duas linhas temáticas: "cartografia afetiva", com referências líricas ao Rio natal do autor, e "aprender a gostar muito", sobre amor.
Os poemas de amor são dedicados à atriz e cantora Clarice Falcão, 24, mulher de Duvivier e colega de Porta dos Fundos. "Foi ela quem me intimou a tirá-los da gaveta."
Com o poeta Paulo Henriques Britto, de quem foi aluno na faculdade de letras, Duvivier aprendeu que a gaveta é boa para a literatura. "Se um poema não resiste à gaveta, não resistirá à estante. É um tubo de ensaios: basta deixar um ano ou dois e ver no que dá. Às vezes melhora, mas em geral estraga."
No teste, muitos tiveram a validade vencida. "Eliminei uns 60 deles, com a ajuda dos editores, que são ótimos em jogar coisa fora", diz.
    Antonio Prata faz retrato sobre a infância
    DA COLUNISTA DA FOLHAA infância que Antonio Prata, 36, retrata em seu novo livro, "Nu, de Botas" (Companhia das Letras), poderá parecer estrangeira a quem nasceu depois dos anos 1980.
    É num cenário sem internet, "num mundo de pequenas barbáries no qual não existiam o protetor solar, o politicamente correto nem o photoshop", como define o autor, que se desenrolam os contos e crônicas protagonizados pelo menino Antonio, na flor da primeira infância.
    "Se parar para pensar, há uma proximidade cultural maior entre quem nasceu entre o final da Segunda Guerra [1945] e os anos 1980 do que entre quem nasceu entre os anos 1980 e os anos 2000. Nesse sentido, o livro está preso no século passado", avalia o colunista da Folha.
    As narrativas se passam em sua maior parte no bairro paulistano do Itaim (Bibi, e não Paulista, como descobrirá Antonio apenas depois de perder a chance, por pura falta de noção de endereço, de ganhar uma bicicleta do programa de TV do Bozo).
    Nesse cenário, o menino descobre os tufos de poeira debaixo dos móveis, o divórcio dos pais, a morte de dois bichos de estimação, a sexualidade e os desafios da vida -- por exemplo, como esconder dos adultos o fato de ter feito cocô na calça no auge de seus quatro anos de vida.
    Fatos da vida do autor estão lá (como o caso do cocô, cuja solução então imaginada e imediatamente desvendada pelos adultos foi vestir várias peças de roupa por cima da calça para ninguém reparar no estrago), embora a maior parte do material esteja lustrada pela ficção.
    "Não dá para falar que uma memória dos quatro anos não seja ficção, porque não se pode lembrar o que é verdade e o que você inventou. O material já começa suspeito", diz o autor, que elaborou pensamentos e personagens a partir de "resquícios arqueológicos" da memória.
    Os textos começaram a ser pensados há uma década, quando Prata foi convidado pela escola onde estudou até os seis anos a escrever sobre aquele período.
    "Assisti aula com as crianças por dois meses. Então que reparei como aquelas memórias eram próximas de mim."
    Um dos contos, "Waldir Peres, Juanito e Pölöskei", garantiu a Prata um lugar entre os 20 selecionados da concorrida "Granta -- Os Melhores Jovens Escritores Brasileiros" (Alfaguara), lançada em 2012.
      Autores lançam livros juntos com debate e balada
      Hoje, às 20h, Antonio Prata e Gregorio Duvivier se encontram no Cine Joia (pça. Carlos Gomes, 82, tel. 3231-3705) para o lançamento de seus livros.
      O evento inaugura o que a Companhia das Letras define como "novo formato de noite de autógrafos". Haverá bate-papo e sessão de autógrafos seguidos de discotecagem feita pelos editores da casa.
      A classificação indicativa é de 14 anos. Os ingressos custam R$ 50 e dão direito aos dois títulos. Nas livrarias, os dois juntos saem por R$ 60,50 ("Nu, de Botas", de Prata, por R$ 31; e "Ligue os Pontos", de Duvivier, por R$ 29,50).

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