segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Estratégias de segurança de lojas em NY causam reclamações de clientes negros

UOL

J. David Goodman
Nova York (EUA)

Há alguns meses, uma reunião foi realizada na Barneys New York para discutir um problema crescente: uma quantidade significativa de mercadorias estava sendo perdida para furtos. Alguma coisa deveria ser feita.
Uma nova equipe de segurança instituiu uma estratégia mais agressiva de prevenção às perdas. Os funcionários de segurança disseram que foram encorajados a "assumir riscos" ao abordar consumidores suspeitos, mesmo que isso significasse abordar pessoas inocentes. Uma prisão equivocada faz parte do negócio, disseram-lhes.
O número de contatos com o Departamento de Polícia, feito quando os funcionários da segurança suspeitavam que uma pessoa estava furtando ou realizando uma fraude de cartão de crédito, logo saltou drasticamente.
Mas junto com o aumento de casos, começaram a surgir queixas de consumidores negros que dizem ter sido vítimas de discriminação racial na loja, na Madison Avenue. Pelo menos um cliente entrou com uma ação contra a Barneys, e outros planejam fazer o mesmo.
As ações, que vieram à tona na semana passada e acabaram na primeira página do The Daily News, atraíram a atenção nacional por suas alegações de discriminação baseadas em classe e cor. Os processos levantaram críticas não só contra a Barneys, mas também contra celebridades, como Jay-Z, que tem uma parceria com a loja. Elas também levaram à instauração de um inquérito por parte do procurador-geral estadual Eric T. Schneiderman, e, na terça-feira, houve uma reunião improvável entre o reverendo Al Sharpton e o executivo-chefe da Barneys, Mark Lee.
Do outro lado da cidade, na principal loja da Macy's no Herald Square, pelo menos dois clientes negros, um deles o ator Robert Brown, da série "Treme" da HBO, disseram que também foram abordados este ano pela polícia depois que, segundo eles, funcionários da segurança consideraram suas compras suspeitas. O inquérito de Schneiderman também inclui a Macy's.
Nenhum cliente que denunciou ter sido detido pela polícia foi acusado de qualquer crime.
As acusações foram particularmente problemáticas para a Macy's, que, em 2005, chegou a um acordo com a Procuradoria Geral do Estado para corrigir suas práticas de segurança depois que investigadores descobriram que clientes negros e hispânicos eram abordados com mais frequência por suspeita de furto. O acordo terminou em 2008. Este ano, disse uma autoridade a par da investigação em curso e que não tem autorização para comentar publicamente os detalhes da mesma, a Procuradoria Geral do Estado recebeu cerca de uma dezena de reclamações de consumidores que disseram ter sido abordados por funcionários da segurança na Macy's.
No caso da Barneys , disse o oficial, o procurador geral do Estado está investigando alegações de tratamento semelhante em outros casos que não os dos dois clientes que entraram na justiça.
"Chegou à atenção da promotoria o fato de que há problemas com a prática chamada de 'compra e revista' em algumas grandes lojas de Nova York", disse Schneiderman numa coletiva de imprensa em Buffalo na terça-feira.
Schneiderman disse que a investigação analisaria as políticas das lojas bem como a relação entre os funcionários de segurança e o Departamento de Polícia de Nova York. Tanto a Macy's quanto a Barneys negaram envolvimento nos episódios de detenção de compradores que vieram à tona.
"Em ambos os casos, ninguém da Barneys New York levantou qualquer problema com essas compras", disse Lee na terça-feira, depois de sair de sua reunião com Sharpton no Harlem. "Ninguém da Barneys chamou a atenção da nossa segurança interna para estas pessoas, e ninguém da Barneys buscou qualquer autoridade externa."
O Departamento de Polícia contestou essa afirmação. Em ambos os casos, "policiais do NYPD [Departamento de Polícia de Nova York] estavam conduzindo investigações independentes e tomaram atitudes com base em informações levadas a seu conhecimento por funcionários da Barneys enquanto estavam na sala de segurança", disse John J. McCarthy, porta-voz do departamento.
No centro da disputa envolvendo a Barneys estão dois jovens clientes negros: Trayon Christian, 19, que entrou com ação contra a loja e a prefeitura no Supremo Tribunal estadual; e Kayla Phillips, 21, que entrou com uma notificação de intenção de processo.
Em seu processo, Christian disse que o problema aconteceu dia 29 de abril depois que ele comprou um cinto Salvatore Ferragamo com seu cartão de débito Chase. A alguns quarteirões dali, na Quinta Avenida, ele disse que foi parado por policiais à paisana.
Os policiais questionaram se ele podia pagar pelo cinto, no valor de cerca de US$ 350, e disseram que o cartão de débito deveria ser falso, de acordo com o processo. Christian foi algemado e levado para a 19ª Delegacia de Polícia onde ele foi detido, de acordo com o processo, por cerca de duas horas antes de ser solto.
Phillips descreveu ter sido "parada, revistada e detida" pela polícia na loja depois de uma compra de uma bolsa de mais de US$ 2.000 na Barneys.
Ambas as detenções, bem como mais duas relacionadas a clientes da Macy's, estão sendo investigadas pelo Departamento de Assuntos Internos da Polícia, disse McCarthy.
As mudanças de segurança que a Barneys pôs em prática foram detalhadas por Raymel Cardona, um ex-assistente de gerente para prevenção de perdas na loja, e pelo ex-segurança à paisana, Aaron Argueta, 36. Ambos foram demitidos da Barneys e pretendem contestar suas demissões diante das autoridades de trabalho federais, disse seu advogado, J. Patrick DeLince.
Tradutor: Eloise De Vylder

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