segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Gregorio Duvivier

folha de são paulo
O ovo
Acordei libertado da angústia de não estar acordado. Não estar acordado é enorme: viver é isso. Fritei um ovo.
"Carlos acordou e fritou um ovo."
Anônimo
"N'aquele outomno de 1875, Carlos abriu as pálpebras esguedelhadas --tinha acordado macilento. Trazia-lhe tranquillidade contar as 18 velas do lustre de ouro, presenteado pelo tio Affonso havia 32 anos. Sommente para dar-me esse lustre serviu o tio Affonso", pensou. Levantou-se da cama com uma fadiga langorosa, arrastando consigo os lençóis de seda indiana e esticou-se num fato de xadresinho inglês. Cobrindo-se com um cachenez de seda clara e abriu um tellegramma, indolente e poseur, em frente ao espelho de Veneza - resvalava, atravéz das árvores, uma luz enverdinhada. Ordenou à criada:
-- Frite-me ovos."
Eça de Queiroz
"Carlos acordou com uma súbita vontade de fritar um ovo, hei de fritar um ovo, pensou, agora mesmo, posto que se não fritá-lo, não poderei comê-lo frito, e terei de me contentar com ele cru, o que não seria do meu agrado. Tendo pensado nisso, fritou o ovo, e não está ruim, pensou, o ovo, frito."
José Saramago
"Acordei libertado da angústia de não estar acordado. Não estar acordado é enorme: viver é isso. Fritei um ovo."
Clarice Lispector
"Sonada: Carlos abriu o olho. Bisbilhava-se. A galinha desovou um ovo, disse Migué.
-- Larga de afoiteza, gritou tio Janjório. É muita ambicionice comer a galinha que ainda não galinhou.
Carlos nem orelhou. Quando o tio viu, o ovo já não era."
Guimarães Rosa
"Acordei ao lado de Vânia, que ainda dormia. Seus seios eram rosados e sua pentelheira era vasta e negra. Levantei e acendi um cigarro naquele fogão de bacana. Na cozinha, Branca me esperava, nua, com uma Magnum na mão, tapando-lhe a boceta. Eu disse alguma coisa que ela não gostou. Apontou a arma para os meus testículos.
-- Frita, Carlos. Seus ovos vão ser a porra do meu café da manhã.
Alguém bateu na porta. Era Frida, nua. Fodemos."
Rubem Fonseca
"Carlos acordou com a perna meia dormente. Para ficar com menas dor, recorreu a uma simpatia. Foi até a cozinha e fez um ovo estralado."
Paulo Coelho

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