terça-feira, 26 de novembro de 2013

Psicanalista Contardo Calligaris lança coletânea de suas colunas

folha de são paulo

Psicanalista Contardo Calligaris lança coletânea de suas colunas


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IARA BIDERMAN
DE SÃO PAULO

Na introdução do livro "Todos os Reis Estão Nus" (Três Estrelas, selo editorial do Grupo Folha), a ser lançado amanhã em São Paulo, o psicanalista Contardo Calligaris, 65, escreve que o jeito de ser do indivíduo moderno não é algo revelável por um desnudamento repentino, mas sim por um despir contínuo de camadas de roupas e máscaras.
O jeito de ele mesmo se revelar segue esse caminho: seja na sua obra de ficção, nas colunas que escreve semanalmente para a Folha (118 delas estão no livro) ou em entrevistas, o italiano radicado no Brasil faz pequenos stripteases que desnudam uma ideia ou algo de sua vida para mostrar, ao final, só o avesso de uma peça de roupa ou outra forma de usar a máscara.
ADVERSATIVO
Ele gosta disso. "Quero escrever alguma coisa que ninguém tinha pensado antes, não quero expressar uma opinião. A minha forma gramatical preferida é o adversativo [que exprime oposição]. As coisas são complexas, sempre há um 'mas'."
Zanone Fraissat/Folhapress
O psicanalista Contardo Calligaris em seu consultório no Jardim Paulista, em São Paulo
O psicanalista Contardo Calligaris em seu consultório no Jardim Paulista, em São Paulo
O striptease é calculado. Em 15 anos como colunista, Contardo diz ter desenvolvido sistemas. O que mais lhe agrada é juntar um fato social ou cultural recente com algo de sua própria vida e com uma pesquisa científica.
Calculadamente, também, ele às vezes é vago. "É uma opção, em certos assuntos não quero me pronunciar se sou contra ou a favor."
Pode ser chamado de "em cima do muro" ("Já disseram que eu sou"), mas ele prefere se definir como um "defensor das causas perdidas".
Uma causa que assumiu foi abandonar a linguagem obscura que, segundo ele, é comum nos meios acadêmicos.
"Quando pego alguns textos psicanalíticos da época em que me formei, acho ilegíveis. Eu era um chato."
Nascido em Milão em 1948, Contardo entrou para o meio acadêmico no final da década de 1960, depois de uma adolescência "easy rider" que incluiu fugas da casa dos pais, viagens a Londres e uma temporada em Nova York no auge do movimento hippie.
Em maio de 1968, foi a Paris para participar das revoltas estudantis e, no final daquele ano, mudou-se para a Suíça, onde começou a estudar letras e filosofia, na Universidade de Genebra.
influências
Foi lá que entrou em contato com a obra do psicanalista francês Jacques Lacan (1901-1981), a grande influência para que iniciasse sua formação em psicanálise.
Em 1975, foi aceito como membro da Escola Freudiana de Paris, cidade onde morou até 1989, ensinando na Universidade Paris 8 e tendo aulas com os filósofos Roland Barthes (1915-1980) e Michel Foucault (1926-1984), além de acompanhar os seminários ministrados por Lacan.
A mudança para o Brasil foi uma sucessão de acasos, de um convite para uma turnê de palestras ao casamento com uma brasileira.
Casamentos também são um tipo de especialidade de Contardo. Ele já passou por oito. A atual mulher é a atriz Mônica Torres, com quem está casado há três anos.
"As pessoas supõem que eu tenho um certo conhecimento nesse campo [de relacionamentos afetivos] por causa do que eu escrevo e digo. Não que eu conte realmente minha vida, mas sabem que eu vivi diferentes amores, fracassos e sucessos", afirma.
Ele não acha ruim revelar essa camada de sua vida privada. "Eu não gostaria de escolher um terapeuta que não tivesse um certo leque de experiência nas questões fundamentais do ser humano."
Segundo Contardo, Freud dizia que há duas coisas que realmente interessam às pessoas: sexo/amor e trabalho.
"Seriam os dois campos de afirmação subjetiva. Parece empobrecedor, a gente gostaria de ter uma bateria maior de interesses, mas Freud não está tão longe da verdade."
Na bateria de interesses de Contardo, além dos afetos e da psicanálise, entram as viagens, a sociologia, a literatura e o cinema.
Tudo isso foi reunido nos enredos de seus dois livros de ficção, "O Conto do Amor" (2008) e "A Mulher de Vermelho e Branco" (2011), ambos lançados pela Companhia das Letras.
As obras contam histórias vividas pelo psicanalista Carlo Antonini, assumido "alter ego" de Contardo.
Essa "persona" do psicanalista estará em 2014 na TV. Carlo Antonini será o protagonista da série "Psi", da HBO, escrita por Contardo e pelo roteirista Thiago Dottori.
CULTURA POP
Mesmo nadando no caldo da cultura de massas --além da ficção e da TV, suas colunas no jornal costumam trazer referências aos últimos best-sellers ou a campeões de bilheteria--, Contardo hesita em vestir a roupa de psicanalista pop que é.
"Eu não estou usando banalidades para tornar a psicanálise mais popular ou palatável. O que eu faço é me apoiar em outras disciplinas, como a psicologia social e experimental."
Certamente, Contardo não é um ortodoxo. Entre outras coisas, adota, quando acha necessário, técnicas da psicoterapia cognitivo-comportamental --o que, para muitas correntes da psicanálise, é quase um anátema.
"Além de eu ter também uma formação cognitivista, não só não demonizo essas técnicas como prescrevo, se for o caso. Aliás, tem muitos filmes e livros de ficção que eu praticamente prescrevo para casais."
Isso também é ser pop. "Tudo bem. Mas ser pop não muda muito a minha vida, graças a Deus. Não tenho uma presença na televisão que faça com que eu tenha que me esconder quando vou ao cinema por causa dos paparazzi."
LANÇAMENTO DO LIVRO
"Todos os Reis Estão Nus" (Três Estrelas, R$ 49,90, 280 págs.)
QUANDO amanhã, às 18h30
ONDE Livraria Cultura - Conjunto Nacional (av. Paulista, 2.073, térreo, tel. 0/xx/11/3170-4033)
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RAIO-X
CONTARDO CALLIGARIS
NASCIMENTO
1948, em Milão
FORMAÇÃO
Letras, filosofia, psicanálise, sociologia
CARREIRA
Psicanalista clínico em São Paulo, em Nova York e em Paris; professor de psicanálise (Vincennes), estudos culturais (New School de Nova York) e antropologia (Berkeley); escritor e colunista da Folha

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