domingo, 6 de outubro de 2013

Senhoras Divas - Mônica Bergamo

Leandra Leal dirige documentário sobre travestis na época áurea da Cinelândia

O papo corre solto, naquela intimidade típica das longas amizades. "Sabe qual é o nome do filme da Camille?", indaga Rogéria. Ela mesma responde: "Deus Sabe o Quanto Amei!". Risos gerais diante da colega que, dizem, rivaliza com Elizabeth Taylor em número de casamentos.
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As risadas dão o tom do encontro no camarim do teatro Rival, no centro do Rio. As quatro senhoras dispensam apresentações quando exibem suas identidades artísticas: Rogéria, 70, Camille K, 71, Jane Di Castro, 67, e Eloína, 67. Já no RG, elas são Astolfo, Carlos, Luiz e Edson, respectivamente.
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Leandra Leal dirige documentário sobre travestis

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Rony Maltz/Folhapress
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No palco do teatro Rival, a atriz Leandra Leal posa deitada no colo de quatro das personagens do seu documentário "Divinas Divas": Camille K, Rogéria, Jane Di Castro e Eloína
As quatro estão ali para falar de "Divinas Divas", documentário que protagonizam ao lado de Marqueza, Waléria, Fujika de Halliday e Brigitte de Búzios. A história da geração de travestis da época áurea da Cinelândia deve chegar às telonas no ano que vem, pelo olhar da atriz Leandra Leal, 31, que estreia na direção de longa-metragem.
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"Elas são artistas de verdade e representam uma escola que vem do teatro de revista", explica a diretora. No corre-corre do lançamento de quatro filmes em que atua, Leandra reuniu o grupo para o bate-papo com a repórter Eliane Trindade. Elas chegam impecáveis. Vestem-se de personagens que encarnam no palco e nas ruas desde o final dos anos 1960.
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O elo entre a diretora e as transformistas é o teatro Rival. Foi ali que o avô de Leandra, Américo Leal, levou para a ribalta homens vestidos de mulheres. Em 1967, a trupe pioneira estreava o espetáculo "Pode Vir Quente que Eu Estou Fervendo", no mesmo palco onde brilhavam nomes como Luz Del Fuego, bailarina que se exibia seminua com uma cobra.
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As aspirantes ao estrelato ainda desfilavam pela vida de "homenzinhos". Maquiadora da TV Rio, Rogéria já era vedete, mas se vestia de mulher só no palco. Jane trabalhava em banco. "Chegava ao teatro de terno."
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A ousadia artística contrastava com o moralismo da época da ditadura. "Sair em trajes femininos era crime. Fui presa várias vezes", conta Jane. Além da polícia, encaravam "pit boys". "Juntávamos as piores bandidas e os bofes apanhavam horrores dos cem travestis da Lapa", recorda-se Rogéria, às gargalhadas.
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Já no palco, faziam a linha lady. As musas eram Marilyn Monroe, Tônia Carrero e Martha Rocha, ícones da beleza feminina. As transformações no corpo só vieram quando as primeiras embarcaram para a Europa na década de 1970.
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Brilhavam no Carrossel de Paris, templo do travestismo, e esculpiam o corpo com hormônios e silicone. "Voltei linda. Achavam que eu tava operada. Tinha de mostrar o peru para todo mundo", diz Rogéria. Até então adepta de peruca, lá fora descobriu que tinha madeixas poderosas. "Meu cabelo veio parar na cintura. Não tenho xoxota, mas a cabeleira ferve."
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As histórias pipocam numa balbúrdia de amigas que passaram por poucas e boas juntas. "Somos uma família. Como em qualquer outra, na nossa também existe fofoca", diz Jane. "Fizeram intriga comigo e Rogéria, comigo e Eloína. Tivemos brigas, mas nunca nos afastamos."
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Todas amam Camille. A figura magérrima contrasta com a exuberância das colegas. Famoso cabeleireiro da alta sociedade carioca, Carlinhos virou Camille K e passou a imitar a cantora Marlene e a se destacar em papéis cômicos. Foi dirigida no teatro por Miguel Falabella.
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No espetáculo "Gay Fantasy" (1981), Eloína reuniu a turma sob a direção de Bibi Ferreira. Foi ela também que apresentou Camille ao atual marido, o webdesigner Fabrício Marotte, 30. As quatro décadas de diferença de idade parecem não pesar no relacionamento de sete anos. "Nosso cotidiano é uma fantasia real", define ele. Fabrício tem uma diva 24 horas por dia. "Nunca vi a Camille sem maquiagem nem de chinelo." Levou três anos para seduzi-la.
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Jane achou seu "príncipe" na juventude. Está casada com o baiano Otávio Bonfim há 46 anos. A união civil só ocorreu há dois. Ele se encantou ao ver a morena à la Claudia Cardinale no palco. Mandou um bilhete e se encontrou com um engravatado. "Tava meio tubarão, meio sereia", brinca ela. Ele a incentivou a se transformar. "Tomei hormônio, operei o narizinho."
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O empurrão final foi ver as amigas voltando de Paris poderosas. "Eloína era feia e ficou bonita. Rogéria tava um escândalo. Eu quis ficar uma miss." A metamorfose de Eloína foi tamanha que ela virou rainha de bateria em 1976, entronizada por Joãosinho Trinta. "Enganamos todo mundo." Dois carnavais depois, descobriram que ela era ele.
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Quem também turbinou os seios foi Jane, mas ela se arrepende de ter colocado silicone líquido nas coxas. "Fomos cobaias. Caí na mão de um travesti assassino que me induziu a fazer aplicação na perna. Sofro até hoje."
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Entre as quatro, apenas Jane cogitou fazer cirurgia de mudança de sexo. "Uma operada tentou fazer minha cabeça, mas não caí nessa." Também driblaram a prostituição. Rogéria conta uma experiência em Paris. "As meninas diziam: 'Vai fazer [pegar] um cliente'. Saí com um cara e foi uma coisa horrorosa. Ele botou a mão na frente, lá. Não rolou", recorda-se. "Mas, de graça, peguei todos os lindos franceses."
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Jane relata ter feito michê para não passar fome em Paris. "Mas não é nossa praia." Rogéria pondera: "Tem muito travesti que se prostitui e são ótimos artistas".
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Essa trajetória será recontada em depoimentos e imagens no documentário, cujo "gran finale" será as filmagens do espetáculo "Divinas Divas", que estreou em 2004. Em 13 de dezembro, as oito subirão ao palco do Rival para encenar a própria história em uma superprodução.
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O projeto ganhou edital de R$ 200 mil da Prefeitura do Rio. Para fechar o orçamento, vão lançar um crowdfunding -ferramenta de financiamento pela internet- para tentar levantar R$ 150 mil. As cotas da "vaquinha virtual" começam em R$ 20 e chegam a R$ 10 mil. "A partir de R$ 100, a pessoa pode ver o show e fazer figuração no filme", diz a produtora Carolina Benjamin.
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O documentário coroa a carreira de um grupo que, com altos e baixos, nunca deixou os palcos e conquistou outros espaços. "Jamais imaginei chegar aos 70 anos sendo Rogéria", diz a própria. Ela é prova de que ator não tem sexo. Fez o papel de uma avó na novela "Lado a Lado", da Globo. "Somos os travestis da família brasileira."
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Além de síndica do prédio onde mora em Copacabana, Jane se orgulha de ser fundadora da Parada Gay. No primeiro desfile no Rio, ela cantou o Hino Nacional para barrar a ação violenta dos opositores. "Todo homofóbico tem problema. Não deu certo no sexo nem com homem nem com mulher. Quando nos veem pensam: 'Aquilo sou eu'. Tanto ódio é por não assumir a homossexualidade."
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Elas vieram ao mundo para confundir. "Fui fazer exame de próstata e, na hora de entrar na sala, a atendente perguntou cadê meu marido", conta Camille, provocando explosão de risos. "Os gays fazem da tristeza alegria. Somos iluminados." E elas não veem a hora de as luzes se acenderem para a cena final de "Divinas Divas". "Vamos morrer em cima do palco", diz a síndica Jane. Haja estreias e tapete vermelho.

Mauricio Stycer

A zona norte vista da zona sul
O seriado 'Pé na Cova', de Miguel Falabella, apresenta a alegoria de um Brasil selvagem
"Pé na Cova" é um dos programas mais originais e intrigantes que a Globo colocou no ar em 2013. Criação de Miguel Falabella, o seriado estreou em janeiro e foi exibido até junho, às quintas-feiras, em 22 episódios. Uma segunda temporada acaba de ter início, agora às terças.
O programa não conta exatamente uma história, mas apresenta semanalmente situações cômicas ou dramáticas vividas por tipos esquisitos, exagerados, que gravitam em torno de uma funerária no bairro do Irajá, zona norte do Rio.
O seriado expressa uma visão peculiar que Falabella tem da sociedade brasileira, como ele disse em recente entrevista ao UOL: "De um modo geral, os pobres se divertem mais. Comprei de presente dois apartamentos para minhas duas empregadas, no mesmo prédio, no mesmo andar. Fui à festa de inauguração e tinha puta, travesti, tinha de tudo e todo mundo se dava bem. A sobrevivência obriga você a ser flexível. A classe média é que não tem dignidade, ela ainda está ligada a conceitos, maneiras de ser e viver. E o rico, o rico liga o f*-se."
A funerária é dirigida por Ruço (Falabella), tipo rústico, pouco instruído, mas com coração mole a ponto de acolher em casa a ex-mulher, Darlene (Marília Pêra), alcoólatra, que cuida da maquiagem dos defuntos.
Filha de Ruço e Darlene, Odete Roitman (Luma Costa) paga as contas fazendo striptease na internet e vive um romance com a mulher que cuida da borracharia, chamada Tamanco (a cantora Mart'nália). Agora casadas, as duas adotaram uma criança de rua e enfrentam a reprovação dos vizinhos, que veem "imoralidade" no arranjo. Tamanco tem um irmão, o mecânico Marcão (Maurício Xavier), que à noite fatura um extra como o travesti Markassa.
Alessanderson (Daniel Torres), o outro filho de Ruço e Darlene, é o mais instruído da família, embora não saiba a diferença entre "córnea" e "corna". Eleito vereador fazendo falsas promessas, tentou emplacar a mãe na presidência do recém-criado Fundo da Tragédia Municipal, mas seu padrinho político achou que pegava mal colocar uma pessoa sem diploma no posto. Assistindo à cena, a empregada da casa, Adenóide (Sabrina Korgut), que é analfabeta, usava uma camiseta que dizia: "Eu amo Diúma".
Quase todo episódio começa com imagens aéreas do Rio, que desembocam em Irajá. Nesta semana, a abertura foi mais longa que o usual. Começou com imagens de Copacabana, depois mostrou uma bandeira do Brasil, até que a câmera entrou em um túnel e saiu no centro da cidade. Na sequência, exibiu a Igreja da Penha, a avenida Brasil e, a entrada da estação Irajá do metrô.
"Pé na Cova" é uma alegoria, o que salta aos olhos, mas não tenho tanta certeza se Falabella sabe o que pretende representar. "Acho que o seriado está cumprindo o seu papel. Se não for totalmente entendido agora, será um dia, quando o Paquistão tiver visto a luz", disse ao "Estadão", na semana passada.
Por "Paquistão", creio, o autor está querendo se referir a um Brasil profundo --selvagem, mas afetuoso-- que o universo de Ruço retrata. Os pobres não se reconhecem na história, admite Falabella na entrevista, o que é compreensível em função do exagero dos tipos. Sua mensagem talvez seja dirigida a quem vive do lado de cá do túnel.

    Ferreira Gullar

    Para onde vamos?
    O mercado é um campo de batalha: quem não dispõe de armas e munição em quantidade não sobrevive
    Que o sonho da sociedade comunista, onde todos seriam iguais em direitos e propriedades, acabou, não é novidade para ninguém. É verdade que, apesar disso, há quem ainda insista em defender uma opção ideológica alimentada por aquele mesmo sonho.
    Não obstante, na prática social, tudo indica que os valores de esquerda foram assimilados por uma boa parte dos políticos que já não lhes atribuem propósitos revolucionários. Do meu ponto de vista, isso é um avanço, já que defende o fim das desigualdades como o caminho inevitável da sociedade humana.
    De qualquer modo, o projeto da sociedade comunista se desfez. Tudo bem. E o capitalismo? Para onde vai o capitalismo? É difícil dizer para onde ele vai, mas, no meu modo de ver, ele vai mal.
    Não me refiro apenas à recente crise iniciada em 2008, porque muito antes dela, mesmo nos Estados Unidos, o mais rico país capitalista do mundo, o problema da desigualdade social jamais se resolveu.
    Não me refiro à eliminação definitiva da pobreza. Isso parece fora de cogitação. Se não se encontra lá o mesmo nível de pobreza que encontramos em países menos desenvolvidos, nada justifica um tal grau de exploração do trabalho humano num país que produz a riqueza que ali se produz.
    Não há nenhuma novidade em dizer-se que o capitalismo é o regime da exploração. E isso independe do empresário capitalista, que pode ser um feroz explorador ou um patrão generoso. Independe, porque a exploração é inerente ao sistema, voltado para o lucro máximo. E veja bem, como isso é a essência do sistema, quem descuida disso vai à falência. Ao contrário do que Marx dizia, a luta de classes não se dá entre trabalhadores e patrões, mas, sim, entre os patrões: é um tentando engolir o outro.
    Não estou dizendo nenhuma novidade. Todos os dias nascem milhares de empresas, a maioria das quais vai à falência, derrotadas pelas outras. O mercado é de fato um campo de batalha, uma zona de guerra: quem não dispõe de armas e munição em quantidade necessária e com a suficiência exigida não sobrevive. É a lei da selva, que determina a sobrevivência do mais apto; a seleção natural a que se referia Charles Darwin.
    Para vencer essa guerra, o recurso fundamental é o lucro máximo, o que pode ser sinônimo de maior exploração, seja do trabalhador, seja do consumidor. Claro que não é tão simples assim, porque, hoje em dia, os trabalhadores também dispõem de meios para se defender. Não obstante, na Coreia do Sul, hoje um dos países capitalistas mais florescentes, a quantidade de trabalhadores que se suicida é espantosa. A pergunta a fazer é: por que se matam? Certamente porque não são felizes naquele paraíso capitalista.
    E não é porque todo o empresário capitalista seja por definição explorador e cruel. Nada disso. Na verdade, ele (a empresa) está voltado para tirar cada vez mais vantagem dos negócios que faz, e isso não apenas resulta em explorar os empregados --fazer com que o trabalhador produza mais ao menor custo possível-- como pode provocar desastres como a bolha imobiliária norte-americana, que levou a economia do país ao desastre, arrastando consigo o sistema bancário e o empresariado europeus.
    Os estudiosos do assunto garantem que, a certa altura do processo, era possível antever o que inevitavelmente ocorreria, mas a aspiração ao lucro e tudo o mais que isso envolve não permitem parar. Não por acaso, as crises do capitalismo são cíclicas.
    E o mais louco de tudo isso é que o capitalista individualmente pode acumular bilhões de dólares em sua conta bancária. Mas de que lhe serve tanto dinheiro? Quem necessita de bilhões de dólares para viver?
    Ninguém precisa. Por isso, Bill Gates doou sua fortuna a uma entidade beneficente que trata de crianças com Aids e, depois disso, ele mesmo abandonou a direção de sua empresa para ir dirigir aquela entidade beneficente. Em seguida, convenceu outros capitalistas a fazerem o mesmo. É que ganhar dinheiro por ganhar dinheiro, a partir de certo ponto, perde o sentido.
    O que o capitalismo tem de bom é que ele estimula a produção de riqueza e isso pode ajudar a melhorar a vida das pessoas, mas desde que não se perca a noção de que o sentido da vida é o outro.

    Painel - Vera Magalhães

    Estrategistas do PSB afirmam que Marina será 'candidata dublê' de Campos

    Candidata dublê Estrategistas do PSB usam a expressão cunhada por Lula sobre como atuará na campanha de Dilma Rousseff para explicar a aparente contradição no fato de Marina Silva, com 26% no último Datafolha, poder ser vice de Eduardo Campos, que tem 8%. Lula disse que será um "candidato dublê" para ajudar a presidente. Socialistas dizem que Marina vai viajar pelo país em campanha para ajudar o crescimento do governador de Pernambuco e tornar sua candidatura mais competitiva.
    Me chama... Foi Marina que procurou Campos para conversar, e não o contrário. Quem conta é o deputado Miro Teixeira (PDT-RJ), um dos mais próximos conselheiros da ex-senadora durante o processo de criação da Rede.
    ... que eu vou "Ele refletiu por alguns segundos e, depois, disse: isso é surpreendente e inédito", diz Miro, segundo relato de Marina.
    Desconfiança Na reunião que varou a madrugada de ontem, apoiadores da ex-senadora fizeram pesadas críticas ao governador de Pernambuco. Entre as restrições foi citada a sua proximidade com a família Bornhausen.
    Quem herda? Surpreendido pela aliança entre Marina e Campos, o comando dilmista já programou pesquisas qualitativas para avaliar o novo cenário. A expectativa é que, inicialmente, haverá uma "orfandade" dos marineiros, ampliando a taxa de indecisos, nulos e brancos.
    Arqueira O Planalto foi pego de surpresa não só pelo acordo, mas pelo discurso duro e pontuado de inusual ironia de Marina. A fala foi considerada "ressentida". Na primeira avaliação dos conselheiros de Dilma, a chapa ocupará o campo da oposição, e não da terceira via.
    Bússola Antes da entrevista do PSB e da Rede, Ideli Salvatti telefonou para vários ministros, petistas e aliados perguntando qual a leitura que faziam da reviravolta.
    Arco ou flecha? A aliados, Aécio Neves (PSDB), previu a aliados turbulência futura na aliança PSB/Rede. Ele acredita que a vantagem de Marina sobre Campos nas pesquisas permanecerá até meados do ano que vem, o que vai levar a que haja pressão pela inversão das posições na chapa presidencial.
    Numa nice Enquanto corria a entrevista de Campos e Marina, José Serra assistia a uma sessão de "Está Chovendo Hambúrguer 2" com os netos, em São Paulo.
    Puxadinho A cúpula do PSB avisou às seções estaduais que haverá uma redistribuição de forças nos Estados para acomodar os representantes da Rede. Em São Paulo, Walter Feldman deve assumir posto de comando.
    Na balança Na votação de 2011 da revisão do Código Florestal, 27 dos 30 deputados do PSB votaram a favor dos ruralistas. Em 2012, o bloco se dividiu: 16 votos para a tese ambientalista e 9 contra.
    Que tal.... Dilma revelou a um dirigente do PMDB um desenho novo para o ministério do seu último ano de mandato. Ao invés de promover os secretários-executivos, como fizeram FHC e Lula, quer nomear senadores que não serão candidatos em 2014.
    ... assim? A fórmula pode ser usada para colocar Vital do Rêgo (PB) na Integração Nacional, como pede o PMDB, mas só a partir de dezembro, quando saírem todos os ministros candidatos.
    Oremos Em aproximação com lideranças evangélicas, o PT vai em peso ao aniversário do pastor José Wellington, da Assembleia de Deus, segunda-feira. Lula avisou que estará lá. Gilberto Carvalho (Secretaria-Geral) também foi convidado.
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    TIROTEIO
    A grande novidade do dia foi essa entrevista de João Santana sobre os 'anões'. Pense numa coisa nova! Foi essa entrevista.
    DE EDUARDO CAMPOS, presidenciável do PSB, sobre o marqueteiro do PT ter chamado rivais de Dilma de 'anões' e dito que ele será o que menos crescerá.
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    CONTRAPONTO
    Em entrevista sobre a edição deste ano do Enem, o ministro Aloizio Mercadante (Educação) lembrou mais uma vez que não é permitido o uso de qualquer objeto eletrônico durante a prova, que acontece neste mês. Ele afirmou que, a exemplo do ano passado, a pasta vai fiscalizar a postagem dos candidatos em redes sociais.
    --Como é esse monitoramento? - inquiriu um repórter.
    Sem querer dar detalhes, Mercadante respondeu:
    --Pode ter certeza de que a gente identifica na hora onde ele está, a sala dele, e ele é tirado de lá... Não é o monitoramento do Obama, mas funciona bem!
    Com ANDRÉIA SADI e BRUNO BOGHOSSIAN
    painel
    Vera Magalhães é editora do Painel. Na Folha desde 1997, já foi repórter do Painel em Brasília, editora do caderno 'Poder' e repórter especial.

    sábado, 5 de outubro de 2013

    Morre general que expulsou EUA do Vietnã - Joseph R. Gregory

    Vo Nguyen Giap era considerado um dos mais bem-sucedidos líderes militares do século 20
    JOSEPH R. GREGORYDO "NEW YORK TIMES"Vo Nguyen Giap, o general norte-vietnamita cujas campanhas expulsaram do país tanto a França como os EUA, morreu ontem em Hanói.
    Teria 101 ou 102 anos (não há registro exato sobre sua data de nascimento).
    Segundo o jornal "Tuoi Tre Online", o general morreu num hospital do Exército.
    Giap foi um dos últimos sobreviventes de uma geração de revolucionários comunistas que nas décadas do pós-Guerra libertou o Vietnã do jugo colonial e combateu uma superpotência até levá-la a um impasse. Em seus últimos anos de vida, era uma lembrança viva de uma guerra que é história antiga para a maioria dos vietnamitas.
    Mas ele não tinha caído no esquecimento. Era visto como estadista aposentado e respeitado, alguém cujas posições de linha dura se abrandaram após o término da guerra que unificou o Vietnã.
    Giap defendeu reformas econômicas e o estreitamento de laços com os EUA, e ao mesmo tempo falou publicamente dos perigos da ampliação da influência da China e dos custos ambientais da industrialização.
    Para seus adversários americanos, entre o início dos anos 1960 e meados dos anos 1970, ele perdia em importância apenas para seu mentor, Ho Chi Minh.
    Para historiadores, sua disposição de suportar perdas esmagadoras diante do poder superior de fogo americano foi uma das grandes razões pelas quais a guerra se arrastou por tanto tempo, deixando mais de 2,5 milhões de mortos --58 mil americanos--, exaurindo o Tesouro dos EUA e a vontade política de Washington de combater e dividindo o país até hoje numa discussão sobre seu papel no mundo.
    Professor e jornalista sem formação militar, Vo Nguyen Giap (pronuncia-se vo nuin zap) uniu-se à insurgência comunista maltrapilha na década de 1940 e a converteu numa força altamente disciplinada, que, ao longo de 30 anos de revolução e guerra civil, pôs fim a um império e uniu uma nação.
    Charmoso e volúvel, era um historiador militar erudito e um nacionalista ferrenho, que usava o seu carisma pessoal para motivar os soldados e reforçar a devoção deles ao país.
    Seus admiradores o incluem no ranking dos grandes líderes militares do século passado.
    Para seus críticos, porém, as vitórias de Giap foram erguidas sobre um descaso grande pela vida de seus soldados. O general William C. Westmoreland, que comandou as forças americanas no Vietnã entre 1964 e 1968, disse: "Qualquer comandante americano que suportasse as mesmas baixas imensas que o general Giap não teria durado três semanas no cargo".
      ANÁLISE
      Giap não temia sacrificar vidas por objetivos políticos
      RICARDO BONALUME NETODE SÃO PAULOVo Nguyen Giap merece ser classificado como um dos grandes estrategistas militares do século 20. Sua vitória sobre a França em Dien Bien Phu em 1954 foi brilhante, apesar de custosa --morreram ou ficaram feridos mais vietnamitas do que franceses.
      Mas o mais importante foi o resultado: a derrota dos colonizadores foi um grande triunfo político que levou à independência de metade do Vietnã, sua parte norte.
      Giap e a liderança comunista vietnamita deixaram claro que os fins justificavam os meios. Sacrificar milhares de soldados para obter um objetivo fazia sentido na ideologia marxista-leninista.
      Giap aparentemente esteve por trás de muitas decisões polêmicas na luta para unificar Vietnã do Norte com Vietnã do Sul, em face de uma intervenção americana em prol do sul capitalista.
      A chamada Ofensiva do Tet em 1968 foi um grande desastre militar comunista --mas a sua percepção pelo governo e pela opinião pública americanas de que estava difícil achar a luz no final do túnel transformou a derrota militar em vitória política.
      Giap procurava colocar em prática as três fases da estratégia maoísta de tomada do poder: começando com guerrilha, enfraquecendo o inimigo e por fim obtendo uma paridade --do mesmo modo como pulgas podem lentamente enfraquecer um cão--, até a fase final de ofensiva.
      Um grave erro de Giap e da liderança norte-vietnamista foi achar que a "terceira fase" tinha chegado em 1972.
      Já não havia tropas de terra americanas no Vietnã do Sul. Mas bastou o Exército sul-vietnamita, com pesado apoio de aviação americana, para conter a chamada Ofensiva da Páscoa. Só três anos depois o Sul foi tomado.
      Vencer França e EUA, além de dar uma lição aos chineses que tentaram uma expedição punitiva contra o Vietnã em 1979, deixa claro que os vietnamitas construíram forças armadas eficazes e acima de tudo dedicadas.
      Giap era um excelente organizador e provedor de logística; como tático, não era tão notável assim.
      Mais do que ele, o que sobressaiu foi a resiliência do soldado comum vietnamita. Calçados com sandálias feitas de pneus, comendo praticamente só arroz, mesmo assim prevaleceram.

        Xico Sá

        Aos mestres, com carinho
        Não proponho inversão de papéis ou valores, apenas isonomia de tratamento no país do futebol
        Amigo torcedor, amigo secador, falemos dos professores. O professor da bola, o professor da escola. Um tratado a pão de ló, outro que dá dó. O da marca penal da cal; o do pó de giz no nariz. O que sai do estádio protegido pela polícia, o que é arrastado na rua sob força bruta, covarde e sangrenta. Não proponho que haja uma inversão de papéis ou valores, por mais que seja cutucado pelos dedões invisíveis do populismo. Proponho apenas isonomia de tratamento no país do futebol.
        Sim, meu caro Dunga, não está fácil para ninguém, tu sabes o que é ser demitido pelo amor da tua vida, o Colorado, tu sabes o que significa essa bola nas costas, tu sabes o que representa o pé na bunda. Tu sabes mais ainda como foram importantes os primeiros professores em Ijuí e alhures. Que tu relaxes, que tu não guardes mágoas, que tu saibas que não vale morrer do coração à beira do campo, pianinho, velho e valente volante, como nos ensinou o Benito de Paula.
        Continuemos no rincão gaúcho, amigo Tite, bem sabes que te gosto e não é de graça, viste o que fizeram com os professores no Rio de Janeiro, meu caro? Um horror, coisa de um governo Mobral, seu Cabral, falta de Paes na terra aos homens de boa vontade, e que me desculpem todos pelas rimas óbvias, trocadilhos mirins e imagens biblicamente populistas. Sou o mais óbvio, pedagógico e rasteiro dos homens quando trato de injustiças primárias.
        É, seu Jayme de Almeida, aprecio o seu jeito no mundo, coisa de homem bem-educado que conduz o Flamengo, uma nação, régua e compasso, modo de homem que teve bons mestres e carinho materno. Seu Jaime, que covardia bater naqueles que nos ensinam as primeiras letras, cada porrada é como se fosse em dona Heroína Taveira, minha primeira professora lá no Sítio das Cobras, escola municipal Furtado Leite, Santana do Cariri, seu Jaime.
        Por falar em sensatez, o papo agora é com Oswaldo Oliveira, homem que tem muito a ensinar aos brutamontes, cara que sabe que o futebol é linguagem que diz além das quatro linhas demarcatórias da peleja.
        Imagina seu Telê vendo toda essa ignorância. Logo ele, um detalhista. Imagina. Ah, meu chapa Gilson Kleina, você, mais do que ninguém este ano sabe o que é cair e dar a volta por cima, você sabe que essa ideia de superação se aprende, sim, na escola, jamais em livro fuleiro de autoajuda.
        Estamos tratando de sensatez, certo? Então cheguem juntos Ney Franco e Marcelo Oliveira, profes de tantos meninos. Venha cá, seu Cuca, mostre para o mundo a força do giz, a força do Galo.
        Dedico esta crônica ao professor dos professores, da bola ou da escola, o mestre Paulo Freire, aquele que sabia, como na canção nada populista, que o cipó de aroeira sempre volta no lombo de quem mandou dar.
        @xicosa

          Mudanças na programação da Cultura refletem uma crise maior na TV aberta

          OPINIÃO
          NELSON DE SÁDE SÃO PAULO
          Antônio Fagundes tinha 42 anos, hoje tem 64. Marisa Orth e Denise Fraga, começando na carreira, apareciam em papéis pequenos. É o "Mundo da Lua", que volta à grade da TV Cultura, apresentado eufemisticamente como um "clássico".
          Enquanto isso, a Cultura corta o programa de documentários "É Tudo Verdade Internacional" e fecha seu departamento infantil, responsável por boa parte dos tais "clássicos" da emissora nestas duas décadas.
          Além das reprises, preenche o vazio na grade com mais programas de entrevista, de baixo custo.
          Mas a Cultura não está sozinha na degradação que agora avança mais rapidamente pela TV aberta. No principal mercado, São Paulo, concessões como RedeTV! desfiguram de tal maneira as suas grades e equipes que mal conseguem justificar a manutenção da marca.
          Foi também o caso da MTV. Com programação e receita em decadência crônica, o canal voltou para a Viacom, que o transferiu para a TV paga, como ocorre com a MTV no resto do mundo, e lançou programas novos. Mas o sinal aberto não achou comprador e continua lá --com programação ainda pior.
          Outras concessões de televisão em São Paulo, em VHF e UHF, hoje transformadas em plataformas para organizações de "teologia da prosperidade", poderiam entrar na lista. A deterioração é tão disseminada que já começa o lobby, por enquanto em estágio preparatório, para o momento inevitável de redistribuição dos sinais.
          Há duas semanas, na Holanda, durante a IBC (International Broadcasting Convention), reunião anual do setor, o diretor de engenharia da Globo, Fernando Bittencourt, declarou que no futuro não haverá lugar na TV aberta para emissoras de nicho --de audiência restrita, como as citadas.
          Não é novidade, propriamente. A perspectiva de ampla "liberação do espectro" é assunto corrente nas telecomunicações mundo afora, diante do impacto crescente da internet e dos aparelhos móveis. Mas, no momento, as gigantes de telefonia estão na frente na corrida pelos sinais, e as grandes redes de radiodifusão tentam reagir.
          A proposta é que, em algum momento, as emissoras menores mudem de plataforma, liberando o espectro para as maiores, que poderiam então oferecer outros serviços, inclusive de dados. Para a Globo ou a britânica BBC, antes de mais nada, é questão de sobrevivência.