sábado, 5 de outubro de 2013

Mudanças na programação da Cultura refletem uma crise maior na TV aberta

OPINIÃO
NELSON DE SÁDE SÃO PAULO
Antônio Fagundes tinha 42 anos, hoje tem 64. Marisa Orth e Denise Fraga, começando na carreira, apareciam em papéis pequenos. É o "Mundo da Lua", que volta à grade da TV Cultura, apresentado eufemisticamente como um "clássico".
Enquanto isso, a Cultura corta o programa de documentários "É Tudo Verdade Internacional" e fecha seu departamento infantil, responsável por boa parte dos tais "clássicos" da emissora nestas duas décadas.
Além das reprises, preenche o vazio na grade com mais programas de entrevista, de baixo custo.
Mas a Cultura não está sozinha na degradação que agora avança mais rapidamente pela TV aberta. No principal mercado, São Paulo, concessões como RedeTV! desfiguram de tal maneira as suas grades e equipes que mal conseguem justificar a manutenção da marca.
Foi também o caso da MTV. Com programação e receita em decadência crônica, o canal voltou para a Viacom, que o transferiu para a TV paga, como ocorre com a MTV no resto do mundo, e lançou programas novos. Mas o sinal aberto não achou comprador e continua lá --com programação ainda pior.
Outras concessões de televisão em São Paulo, em VHF e UHF, hoje transformadas em plataformas para organizações de "teologia da prosperidade", poderiam entrar na lista. A deterioração é tão disseminada que já começa o lobby, por enquanto em estágio preparatório, para o momento inevitável de redistribuição dos sinais.
Há duas semanas, na Holanda, durante a IBC (International Broadcasting Convention), reunião anual do setor, o diretor de engenharia da Globo, Fernando Bittencourt, declarou que no futuro não haverá lugar na TV aberta para emissoras de nicho --de audiência restrita, como as citadas.
Não é novidade, propriamente. A perspectiva de ampla "liberação do espectro" é assunto corrente nas telecomunicações mundo afora, diante do impacto crescente da internet e dos aparelhos móveis. Mas, no momento, as gigantes de telefonia estão na frente na corrida pelos sinais, e as grandes redes de radiodifusão tentam reagir.
A proposta é que, em algum momento, as emissoras menores mudem de plataforma, liberando o espectro para as maiores, que poderiam então oferecer outros serviços, inclusive de dados. Para a Globo ou a britânica BBC, antes de mais nada, é questão de sobrevivência.

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