sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Helio Schwartsman

Imigração, um debate irracional
SÃO PAULO - De tempos em tempos, tragédias como o naufrágio do barco carregado de africanos na costa da Itália, que matou quase 200 pessoas, nos fazem lembrar do problema dos imigrantes. Esse é um daqueles assuntos que mobilizam vieses cognitivos tão poderosos que o próprio debate fica prejudicado.
É verdade que, no Pleistoceno, tínhamos razões para temer quaisquer humanos que não pertencessem à nossa tribo. Não eram desprezíveis as chances de que eles nos atacassem e matassem para roubar-nos as mulheres e os poucos bens que pudéssemos possuir, ou simplesmente para evitar que nós os agredíssemos. Também havia a possibilidade de eles portarem doenças contra as quais não tivéssemos resistência. O medo de estrangeiros ficou gravado em nossas culturas e genes.
O mundo mudou bastante nas últimas centenas de milhares de anos, mas, nossas cabeças, não. Hoje, embora sejam remotas as chances de sermos assassinados por gringos com o objetivo de raptar nossas mulheres, seguimos desconfiando deles, o que se reflete em leis anti-imigração que são mais ou menos universais. E basta que surja uma adversidade econômica para que políticos tentem faturar alguns pontos culpando estrangeiros pelo infortúnio dos locais. Muitos têm sucesso.
Em termos objetivos, porém, trazer imigrantes tende a ser um bom negócio para países desenvolvidos. Esse parece ser o único modo de manter funcionando a economia no longo prazo, já que em muitas dessas nações os cidadãos têm filhos num ritmo inferior à taxa de reposição populacional. Mesmo no curto prazo, o país hospedeiro costuma faturar. As condições variam, mas há vasta literatura demonstrando que, ao menos nos EUA, a contribuição dos imigrantes supera os custos que acarretam. Isso é especialmente verdade se eles forem ilegais, já que pagam a maior parte dos impostos e quase não usam os serviços públicos.

Eliane Cantanhêde

E se...?
BRASÍLIA - A tensão na novíssima aliança Eduardo Campos-Marina Silva agora é pública, cheia de disse não disse, mas a ansiedade nas searas opostas de tucanos e petistas também existe, só que nos bastidores --ou melhor, nos corredores do Congresso Nacional.
No quadro de hoje, Campos tem um partido, e Marina, os votos; Aécio tem a pré-candidatura, mas Serra, o "recall" de 2010; Dilma está em campanha aberta, mas Lula é o único, entre todos os candidatos, capaz de vencer no primeiro turno.
E se, em março de 2014, a sete meses da eleição, a economia não ajudar, as manifestações voltarem, a base aliada desandar, Dilma Rousseff empacar nas pesquisas e um(a) adversário(a) disparar?
É improvável que o PT assista a isso de braços cruzados, sem acionar o sempre latente "volta Lula". E é muito mais improvável ainda que Lula corra o risco de derrota só para não melindrar a afilhada e sucessora.
E se Campos tiver toda a campanha estruturada, aliados garantidos e apoios no empresariado, mas não decolar e continuar patinando com um dígito nas pesquisas?
É difícil imaginar que o PSB insista no nome do governador tendo ali à mão o da ex-senadora, que arrebanhou quase 20 milhões de votos em 2010. E é muito mais difícil ainda que Marina e a Rede, ou o núcleo da futura Rede, não forcem a barra para trocar a cabeça da chapa.
E se Aécio estiver forte no PSDB, mas débil no eleitorado?
É preciso um enorme esforço de imaginação para pensar nos tucanos e seus aliados unidos para mais uma derrota sem espernear. E mais imaginação ainda para visualizar Serra desistindo de lutar pela vaga.
Assim, em 2014, os institutos vão multiplicar simulações, com os analistas tateando e os atuais candidatos com medo até da sombra. Até porque todas essas sombras são bem reais.
PS - Fundo branco, mesa preta, Marina vestida de freira. Aquilo ontem era entrevista ou velório?

    Marina Silva

    Outros tempos
    Nos últimos anos, o exagero numa disputa política bipolar, em que cada lado se considera o bem absoluto na luta contra o mal absoluto, contaminou toda a sociedade brasileira e gerou um ambiente de discórdia no qual a mais simples divergência é julgada e condenada como uma grave traição. O debate político tornou-se estéril, pois todos gritam e ninguém escuta.
    Qualquer atitude, decisão ou proposta é imediatamente vista como uma reação emocional, de ataque e defesa. Se alguém tem um projeto, uma ideia, um questionamento, é porque está atacando um dos lados, "rompeu" com o outro, está se vingando.
    É grave quando essa bipolaridade penetra em serviços e procedimentos que deveriam ser públicos e isentos e os fazem sucumbir ao antigo preceito antirrepublicano: aos amigos, tudo; aos inimigos, a lei. Dessa forma, o regime democrático é enfraquecido por dentro.
    Mas, como diz o poeta, "amanhã há de ser outro dia". Podemos recuperar a política como atividade idealista, meio de realizar utopias, ambiente de disputas leais na busca de novos consensos capazes de unir (sem ter que fundir) os ideais da nação.
    É necessário que cada um, principalmente as forças que se forjaram na bipolaridade, busque um realinhamento interno e uma revisão de seus princípios. Vale o que foi dito, nos últimos dias, por uma importante liderança do PT, o governador Tarso Genro: a disputa não é em torno do passado, mas voltada para o futuro.
    É necessário, também, compreender que lutar pela democracia sob uma ditadura é bem diferente de defender a democracia na democracia. Pensemos em pessoas com histórico de luta pela democracia, como a presidente Dilma. Não seria ofensivo pedir-lhe que proceda de modo democrático? A democracia, nesse caso, é pressuposto básico, não temos que agir temendo que ela nos seja negada.
    Da mesma forma, talvez seja inútil esperar atitude democrática de quem depende do autoritarismo e das decisões autocráticas, pois só nesse ambiente pode prosperar sua política ou seus negócios. Porém, mesmo a estes deve-se dar o benefício da dúvida e a margem para uma mudança que é sempre possível pois, como temos visto tantas vezes, o tempo e a vida são bons professores.
    De todo modo, o Brasil fez nas ruas e faz todos os dias um apelo que precisa ser escutado: recolher as armas. O tempo mudou. De nada adianta soltar os cachorros, comer o fígado e outras expressões de uma política feita com ódio. Quanto a beijar e abraçar, é bom quando é sincero.
    Houve um tempo em que vivíamos insultados sob a ditadura. É hora de nos sentirmos respeitados em nossa democracia.

      Mônica Bergamo

      Donos de pequenos negócios demonstram otimismo em relação à economia


      O otimismo em relação à economia atingiu o nível mais elevado do ano entre os donos de pequenos negócios: 96% dos empresários entrevistados esperam aumento ou estabilidade do faturamento no último trimestre do ano, superando em três pontos percentuais o resultado de setembro do ano passado.
      QUADRO ESTÁVEL
      Em relação aos postos de trabalho, 99% pensam em contratar ou em manter o atual número de funcionários. Segundo Luiz Barretto, presidente do Sebrae, o resultado reflete otimismo generalizado, já que todos os setores apresentaram aumento no índice de confiança.
      VEM COMIGO
      O tema das biografias não estava na agenda de prioridades de Caetano Veloso, Gilberto Gil e Chico Buarque. Ele surgiu em meados do ano, quando Roberto Carlos foi convidado para integrar, com eles, o grupo Procure Saber, que se dispunha a defender modificações na arrecadação de direitos autorais. O Rei aderiu à causa --e introduziu nos debates também a questão literária.
      VEM COMIGO 2
      Os argumentos do Rei, que há anos luta para evitar modificação na lei que proíbe a publicação de biografias não autorizadas e já conseguiu impedir na Justiça a circulação de livros sobre sua vida, sensibilizaram Gil e Chico --que já teve inclusive declarações que não fez publicadas como verdadeiras em obras. Caetano relutou em aderir à causa, enfim encampada pelo Procure Saber.
      NA JUSTIÇA
      Um dos exemplos que sensibilizam parte dos artistas é o da novelista Gloria Perez. Guilherme de Pádua, assassino da filha dela, Daniela Perez, escreveu um livro enquanto estava na cadeia chamado "A História Que o Brasil Desconhece".
      *
      Ela teve que recorrer à Justiça para impedir a circulação da obra.
      INSTINTO SELVAGEM
      Eddie Chaco/Divulgação
      Ex-namorado de Sharon Stone, o modelo Martin Mica, argentino que morou em Santa Catarina, só quer saber de seu curso de atuação em Los Angeles e de aproveitar a fase solteiro. "Sou muito tranquilo, não saio na rua dando tiro pra todo lado", diz à revista "TPM" o engenheiro. "Eu era um nerd, só estudava. De repente, estava de cuequinha na frente de uma câmera."
      JOIA RARA
      O joalheiro Jack Vartanian e a mulher, Cassia Avila, ofereceram jantar para o artista plástico argentino Pablo Reinoso, quarta-feira (9), no Jardim Guedala. A arquiteta Raquel Silveira, o empresário Sergio Waib, com Regina Moraes Waib, o advogado Augusto de Arruda Botelho e a estilista Lilly Sarti foram ao encontro.

      Artista argentino recebe homenagem

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      Zanone Fraissat/Folhapress
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      A modelo e jornalista Cassia Avila e o marido, o joalheiro Jack Vartanian, ofereceram jantar em homenagem ao artista plástico argentino Pablo Reinoso, na quarta (9)
      DINHEIRO DE VOLTA
      São Paulo ficou em segundo lugar em um ranking global de honestidade realizado pela "Reader's Digest". Para a pesquisa foram deixadas 12 carteiras em diversos pontos de 16 cidades pelo mundo, com uma quantia equivalente a R$ 100, cartão com telefone para contato e fotos de família. Na capital paulista foram devolvidas nove carteiras, o que coloca o Brasil à frente de Alemanha, Inglaterra e Suíça, e atrás apenas de Helsinque (Finlândia).
      PITANGA NA TELA
      O cineasta Beto Brant vai dirigir um documentário sobre o ator Antonio Pitanga, que já atuou em mais de 30 filmes e 40 novelas. O longa-metragem deve chegar às telonas no segundo semestre do próximo ano.
      BONS MOÇOS
      A banda Aerosmith, do outrora "bad boy" Steven Tyler, é bem comportada nas exigências para o festival Monsters of Rock, entre os dias 19 e 20, em SP. Nos coolers espalhados pelo palco eles querem água, isotônicos, refrigerantes e cerveja sem álcool. O Whitesnake exigiu refeições vegetarianas. Já os integrante do Gojira querem ovos, saladas e frutas, em vez de carne. E todos os grupos pedem toalhas pretas.
      SEM CHAPINHA
      A longa e levemente ondulada cabeleira ruiva de Marina Ruy Barbosa é a mais pedida na Central de Atendimento ao Telespectador da Rede Globo. A atriz, que escapou de ficar careca na novela "Amor à Vida", encabeça o ranking que põe fim à ditadura da chapinha. Na lista, estão ainda os cachos de Letícia Sabatella e as ondas suaves de Paolla Oliveira, Vanessa Giácomo e Sophie Charlotte.
      EU SÓ QUERO CHOCOLATE
      O apresentador Amaury Jr. fez festa para apresentar uma linha de chocolates com seu nome. A empresária Rosangela Lyra, a estilista Leila Schuster e o artista plástico Gustavo Rosa foram quarta-feira (9) ao evento, nos Jardins. A apresentadora Daniela Albuquerque e o marido, o sócio da RedeTV! Amilcare Dallevo, também estiveram na Casa Fares.

      Amaury Jr. lança linha de chocolates

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      Zanone Fraissat/Folhapress
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      O apresentador Amaury Jr. lançou uma linha de chocolates na quarta (9), nos Jardins
      CURTO-CIRCUITO
      O ministro José Eduardo Cardozo dá palestra a advogados paulistas sobre o Ministério da Justiça, nesta sexta-feira (11), no Jockey Club, às 12h15.
      A banda Garotas Suecas faz show nesta sexta-feira (11), às 23h, no Da Leoni (antigo Studio SP), na Augusta. 18 anos.
      Hélio Ziskind apresenta nesta sexta-feira (11) o show "Meu Primeiro Amor", com canções de Nara Leão, no Sesc Belenzinho, às 20h. Livre.
      A artista plástica Maristela Burani inaugura nesta sexta-feira (11) a exposição "A Visibilidade do Abstrato", na Casa da Fazenda, no Morumbi.
      O espetáculo "Memória Roubada" estreia nesta sexta-feira (11), às 21h, no Centro Cultural São Paulo. 16 anos.
      com ELIANE TRINDADE, JOELMIR TAVARES, ANA KREPP e MARCELA PAES
      Mônica Bergamo
      Mônica Bergamo, jornalista, assina coluna diária publicada na página 2 da versão impressa de "Ilustrada". Traz informações sobre diversas áreas, entre elas, política, moda e coluna social. Está na Folha desde abril de 1999.

      Alice Munro retrata a sordidez das relações sem fazer concessão ao leitor - Noemi Jaffe

      ANÁLISE
      Escritora canadense tem mais de 15 títulos e domina a arte do conto com estilo simples e prosaico
      NÃO HÁ PIEDADE; O AMOR PODE SER SUFOCANTE, E A DITA FELICIDADE, O TÉDIO
      NOEMI JAFFEESPECIAL PARA A FOLHASe existia até o momento, entre as editoras, um consenso tácito de que o conto é um gênero que vende pouco, esperamos que o prêmio Nobel 2013, outorgado a Alice Munro, possa mudar essa situação absurda.
      Munro escreve exclusivamente contos e é comparada, nessa linguagem, a outro grande inventor: o russo Anton Tchékhov. Afinal, escrever um livro de contos com unidade, rigor e dicção própria, como fez a canadense com mais de 15 títulos, é exatamente igual a escrever um romance.
      Dominar a arte do conto como ela o faz representa a capacidade (de acordo com Julio Cortázar) de continuamente vencer o leitor por nocautes e não por pontos, como faria o romance. Uma tarefa nada fácil, mas que a autora realiza com perfeição.
      Seu estilo é espantosamente simples e prosaico: o leitor tem uma sensação semelhante à de escutar alguém contando uma história. Nem por isso personagens e tramas perdem em complexidade.
      Não há empatia nem piedade para com o leitor; ao contrário, o amor pode ser sufocante, e a dita felicidade, o tédio. Suas mulheres --tema principal da obra-- e seus problemas cotidianos atingem a todos, em qualquer parte.
      Em seu último livro publicado no Brasil, "O Amor de uma Boa Mulher", uma mãe detesta seu bebê, um casal aparentemente apaixonado perde o interesse sexual e uma mulher de meia-idade se assusta com os peitos caídos.
      Nesse sentido (e em alguns outros) sua linguagem lembra a de outra grande contista, Clarice Lispector, que, como Munro, não fazia concessões compassivas ao leitor.
      Em seus últimos livros, assim como ocorreu com o americano Philip Roth, Munro vem abordando a velhice com e, em especial, a velhice feminina. Aos 82 anos, chegou a anunciar, ainda fazendo par com Roth, a aposentadoria.
      Não parece casual que dois autores há tanto tempo concorrentes ao Nobel, ambos com um olhar atento à sordidez do humano, tenham decidido parar de escrever quase ao mesmo tempo.
      Talvez o Nobel a faça --para o bem dos leitores-- desistir dessa desistência. Mas, caso Munro mantenha a palavra, o conto e seu público já terão ganhado muito com esse prêmio.

        José Simão

        Socorro! Ozzy virou vegetariano!
        E ainda diz que é o Senhor das Trevas! Senhor das Trevas é o Bolsonaro. Ops, o Boçalnato! Rarará
        Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Pensamento do dia! Duas coisas que nunca deram certo: humor a favor e biografia autorizada!
        E um amigo de Londrina foi pro supermercado e a caixa perguntou: "O senhor encontrou tudo o que queria?". "Encontrei até o que não queria!". "O quê?". "A minha ex-mulher!". Rarará!
        E no Brasil: Ozzy Osbourne e Black Sabbath. Perto dos Black Blocs, o Black Sabbath virou Galinha Pintadinha! Rarará!
        E o mundo tem que acabar! O Ozzy Osbourne virou vegetariano! O quê? Mas ele não comia morcego? Agora nem um morcego diet? Um morceguinho criado em cativeiro? Você sabe que tá ficando velho quando o Ozzy troca um morcego por um pêssego! Orgânico! E ainda diz que é o Senhor das Trevas! Senhor das Trevas é o Bolsonaro. Ops, o Boçalnato! Rarará! E o Ozzy tá a cara da Rita Lee! Rarará!
        E um gaúcho cometeu uma boa ação: ajudou o Ozzy a atravessar a rua! Sacanagem! O Ozzy não come mais morcego. O Batman agradece! E morcego é um bicho esquisito: para manter a espécie eles transam até com a sogra. Por isso que transmitem raiva. Rarará! Ainda bem que eu não sou morcego!
        E o Timão? Se bobear vai virar ULTIMÃO! Não sai do zero a zero! Empatite! Empatite aguda! Aliás, o ministro da Líbia foi sequestrado ontem em Tripoli enquanto estava hospedado no Hotel Corinthians! Rarará. Piada pronta! E o meu São Paulo botou o Cruzeiro na real! O Cruzeiro caiu no real! Eu acho que o Ceni ficou com síndrome de abstinência de frango! "Eu quero frango! Eu quero frango! Para esse ônibus no Frango Assado". Rarará!
        E um leitor me disse que o Serra é o Benjamin Button que deu errado: nasceu velho e continuou velho! Rarará! É mole? É mole, mas sobe!
        Os Predestinados! Mais três para a minha série Os Predestinados! É que em Campinas tem um cirurgião plástico chamado Milton CARETA! Ai, doutor Milton, eu quero ficar com uma careta igual do Sérgio Mallandro! E no Rio tem uma dermatologista chamada Katia VENENO! Deve ser dermatologista do Ritchie! E um amigo meu recebeu uma tese na universidade: "Gestão Sustentável de Recursos Hídricos" por Frederico PEIXINHO! Lutando pela própria vida. Rarará.
        Nóis sofre, mas nóis goza!
        Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

          Mautner defende pagamento de direitos a biografado

          'Artista deve ter direito a tudo relacionado a ele', diz o músico, um dos convidados do Festival de Biografias, que ocorre em novembro
          JULIANA GRAGNANIMORRIS KACHANIDE SÃO PAULONa discussão sobre a proibição de biografias não autorizadas, que veio à tona depois da mobilização de artistas como Chico Buarque e Caetano Veloso, Jorge Mautner, decano da MPB, defende o pagamento de direitos autorais ao biografado: "Não se trata de proibir. Um livro só poderia ser proibido se o artista não fosse remunerado".
          "O artista ganha a vida por mérito próprio. Portanto, deve ter direito a tudo que estiver relacionado a ele. É uma extensão do direito pela coisa que faço", afirma o músico, cuja vida foi retratada no documentário "Jorge Mautner - O Filho do Holocausto" (2012), dirigido por Pedro Bial e Heitor D'Alincourt.
          Para Mautner, Roberto Carlos "está no direito dele" de proibir a publicação da história de sua vida: "A salvaguarda de Roberto Carlos é por conta de um acidente particular, que guardou para si a vida inteira. É uma questão de foro íntimo. E junta com isso sua devoção católica muito profunda e dirigida para si mesmo na concepção das coisas. Acho fundamental por isso", afirma.
          Perguntado se considera a proibição de biografia uma censura, o músico afirma que não se deve confundir as coisas: "A censura política do Estado tem a ver com outro tipo de exigência de direitos. Estamos falando sobre intimidade, autorização por parte de terceiros diretamente envolvidos".
          Mautner é um dos convidados do Festival de Biografias, que reunirá autores para debates em Fortaleza, de 14 a 17 de novembro. O evento acontece em momento propício, com o debate aquecido, mas foi concebido há três anos por uma produtora cearense.
          "Queremos estimular a reflexão sobre a importância do registro da memória no país", diz Mardonio Barros, coordenador do festival.
          Está confirmada também a presença de Ruy Castro (biógrafo de Garrincha), Fernando Morais (Olga Benário, Chatô, Paulo Coelho), Paulo Cesar de Araújo (Roberto Carlos) e do cineasta Silvio Tendler (JK, Jango, Milton Santos), homenageado no evento.
          "Sou biógrafo da época em que as famílias se sentiam honradas por terem a vida de seus familiares registrada. Ao citar [o guerrilheiro] Marighella em uma música, Caetano pagou direitos à família por isso?", questiona o diretor Tendler.