sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Mautner defende pagamento de direitos a biografado

'Artista deve ter direito a tudo relacionado a ele', diz o músico, um dos convidados do Festival de Biografias, que ocorre em novembro
JULIANA GRAGNANIMORRIS KACHANIDE SÃO PAULONa discussão sobre a proibição de biografias não autorizadas, que veio à tona depois da mobilização de artistas como Chico Buarque e Caetano Veloso, Jorge Mautner, decano da MPB, defende o pagamento de direitos autorais ao biografado: "Não se trata de proibir. Um livro só poderia ser proibido se o artista não fosse remunerado".
"O artista ganha a vida por mérito próprio. Portanto, deve ter direito a tudo que estiver relacionado a ele. É uma extensão do direito pela coisa que faço", afirma o músico, cuja vida foi retratada no documentário "Jorge Mautner - O Filho do Holocausto" (2012), dirigido por Pedro Bial e Heitor D'Alincourt.
Para Mautner, Roberto Carlos "está no direito dele" de proibir a publicação da história de sua vida: "A salvaguarda de Roberto Carlos é por conta de um acidente particular, que guardou para si a vida inteira. É uma questão de foro íntimo. E junta com isso sua devoção católica muito profunda e dirigida para si mesmo na concepção das coisas. Acho fundamental por isso", afirma.
Perguntado se considera a proibição de biografia uma censura, o músico afirma que não se deve confundir as coisas: "A censura política do Estado tem a ver com outro tipo de exigência de direitos. Estamos falando sobre intimidade, autorização por parte de terceiros diretamente envolvidos".
Mautner é um dos convidados do Festival de Biografias, que reunirá autores para debates em Fortaleza, de 14 a 17 de novembro. O evento acontece em momento propício, com o debate aquecido, mas foi concebido há três anos por uma produtora cearense.
"Queremos estimular a reflexão sobre a importância do registro da memória no país", diz Mardonio Barros, coordenador do festival.
Está confirmada também a presença de Ruy Castro (biógrafo de Garrincha), Fernando Morais (Olga Benário, Chatô, Paulo Coelho), Paulo Cesar de Araújo (Roberto Carlos) e do cineasta Silvio Tendler (JK, Jango, Milton Santos), homenageado no evento.
"Sou biógrafo da época em que as famílias se sentiam honradas por terem a vida de seus familiares registrada. Ao citar [o guerrilheiro] Marighella em uma música, Caetano pagou direitos à família por isso?", questiona o diretor Tendler.

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