sábado, 12 de outubro de 2013

Mônica Bergamo

folha de são paulo

Caetano, Gil, Djavan e Marisa Monte se reúnem para discutir biografias

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Caetano Veloso, Gilberto Gil, Djavan e Marisa Monte se reuniram anteontem no Rio. Em pauta, a repercussão do posicionamento deles sobre a questão das biografias. Decidiram, em primeiro lugar, contratar uma assessoria que funcione como porta-voz do grupo, reunido na entidade Procure Saber. A ideia é fazer com que seus argumentos sejam divulgados de modo mais claro.
CHAPA
Apesar das críticas contundentes que receberam de escritores, jornalistas, editores e outros músicos, o grupo permanece na defesa da manutenção da lei atual. Ela diz que uma biografia só pode ser feita depois de autorizada pelo personagem a ser retratado. Na visão de escritores como Laurentino Gomes, a regra transforma o Brasil no paraíso das biografias chapa-branca.
CHAPA 2
Os cantores discutiram argumentos como o de que uma editora pode ganhar milhões com um livro que inclusive abrigue mentiras sobre o personagem que pretende retratar, sem que o atingido tenha instrumentos eficientes para evitar um eventual dano. Muitos ponderaram que é preciso diferenciar a empresa e seu lucro de jornalistas e autores que fazem um trabalho investigativo. Mas continuaram achando que o melhor instrumento para coibir o que consideram abusos é a manutenção da lei em vigor.
JARDIM DE INFÂNCIA
O número de crianças com menos de dez anos no Estado de São Paulo é de 5,5 milhões em 2012, segundo dados inéditos da Fundação Seade. Equivale a 20% da população infantil do país. A capital concentra 1,5 milhão das crianças. Com dados dos cartórios, o estudo mostra ainda que nasceram 312 mil bebês do sexo masculino e 297 mil do feminino, em 2012, no Estado.
NA CABEÇA
O movimento Psicofobia É Crime, que chama atenção para o preconceito contra pessoas que sofrem de transtornos como autismo, bipolaridade, depressão e TOC (transtorno obsessivo-compulsivo), ganhou a adesão de Cássia Kiss, Luciano Szafir, Mauricio Mattar e Luciana Vendramini.
NA CABEÇA 2
"Cerca de 40 milhões de brasileiros têm algum tipo de transtorno psiquiátrico. É grande a falta de informação e o preconceito, tanto da família quanto dos próprios médicos", afirma Antonio Geraldo da Silva, presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria. A questão é tema do congresso da especialidade, que ocorre entre os dias 23 e 26, em Curitiba.
ALTAR
Zezé di Camargo e Zilu serão padrinhos de casamento de um sobrinho dela, amanhã, em Goiânia. Eles se separaram, mas continuam amigos. "Ainda somos uma família. Só não estamos casados", diz ela. De volta a SP, após temporada em Miami, Zilu afirma estar gostando da nova fase. "É até melhor, porque a relação de marido e mulher tem muita cobrança."
MENORES FRASCOS
E Zezé e o irmão Luciano vão entrar na onda do EP (álbum com menos faixas). A dupla lança nos próximos dias "Teorias", com cinco músicas inéditas. "O Roberto [Carlos] lançou esse formato e vendeu muito [2 milhões de cópias]. É uma maneira de competir com os piratões também", diz Zezé.
CURTO-CIRCUITO
A mostra "Resistir É Preciso...", sobre a ditadura, começa hoje no Centro Cultural Banco do Brasil, às 11h.
Tiago Abravanel e o maestro João Carlos Martins fazem pocket show hoje, às 19h, na Brookfield Incorporações, na Lapa.
Juca Ferreira, secretário municipal de Cultura de SP, estará amanhã, às 19h, no ciclo de debates Movimentos que Queremos, na Casa Fora do Eixo, no Cambuci.
com ELIANE TRINDADE, JOELMIR TAVARES, ANA KREPP e MARCELA PAES
Mônica Bergamo
Mônica Bergamo, jornalista, assina coluna diária publicada na página 2 da versão impressa de "Ilustrada". Traz informações sobre diversas áreas, entre elas, política, moda e coluna social. Está na Folha desde abril de 1999.

Painel das Letras - Raquel Cozer

folha de são paulo
Daqui pra frente
Só agora, terminando Frankfurt, o governo começa a pensar na próxima homenagem ao Brasil, na Feira do Livro Infantil de Bolonha, daqui a apenas cinco meses, em março de 2014. O orçamento inicialmente previsto é modesto perto do de Frankfurt (R$ 1,3 milhões para o evento italiano, ante R$ 18,5 milhões para o alemão). Também o espaço será menor, com pavilhão de 250 m² (um décimo do tamanho do espaço em Frankfurt, de 2.500 m²). Aliás, as homenagens ao Brasil no Salão do Livro de Paris e na Feira de Londres nos próximos anos, por tanto tempo alardeadas como confirmadas, ainda estavam em negociação nesta semana.
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// FASE DE CRESCIMENTO
Embora infantis e infantojuvenis sejam mercado forte no Brasil, sua exportação é irrisória, concluiu a empresa de pesquisa GFK, há um ano acompanhando o segmento editorial no país e presente em outros 13 países. Dos títulos brasileiros vendidos na Europa, 93% são de literatura adulta ou de autoajuda. Os infantojuvenis representam praticamente traço dentro dos 7% restantes. Mas a Feira de Frankfurt trouxe novidades na área. Paula Pimenta e Bruna Vieira, da Autêntica, tiveram vendas para Portugal e Espanha. Thalita Rebouças, já publicada em Portugal e prestes a estrear na Espanha, terá em breve "Ela Disse, Ele Disse" adaptado para mangá no Japão.
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// UM CÉLEBRE AUTOPUBLICADO
Um dos autores mais premiados do país, Cristovão Tezza é agora também autopublicado. Tirou do baú títulos fora de catálogo, incluindo sua dissertação de mestrado, criou capas por conta própria e pôs à venda na Amazon, sem divulgar.
De seu estudo "Entre a Prosa e a Poesia", oferecido a R$ 9,90, vendeu menos de dez e-books em dois meses. Dois romances, "Ensaio da Paixão" e "A Suavidade do Vento" (capas acima), saem respectivamente a R$ 3,99 e R$ 13,90.
"Cobrei mais pelos que acho melhores", disse, em Frankfurt. Agora, a Record comprou os direitos dos dois romances, mas os digitais ficarão com Tezza mesmo.
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A vez da poesia A obra de literatura adulta mais vendida em livrarias do país de janeiro a agosto foi "Toda Poesia" (Companhia das Letras), de Paulo Leminski, segundo a pesquisa da GFK. Foram 58 mil cópias. O título ficou à frente de outros como "Armadilhas da Mente" (Arqueiro), de Augusto Cury, "Anjos da Morte" (Verus), de Eduardo Spohr, e "Manuscrito Encontrado em Accra" (Sextante), de Paulo Coelho.
Timing Em abril, quando o "Huffington Post" estreia sua versão brasileira, a Sextante manda para as lojas sua tradução de "The Third Metric", espécie de guia de bem-estar escrito por Arianna Huffington, uma das fundadoras do site de notícias. A negociação foi fechada na Feira de Frankfurt.
Retorno Ninguém melhor que um editor celebrado como Jonathan Galassi para saber como o mercado é inglório para estreantes. Mas o presidente da Farrar, Straus and Giroux apresentou seu primeiro romance, "Muse", sobre o universo editorial, na Feira de Frankfurt. Previsto para 2015, foi comprado pela gigante Knopf e para editoras de cinco outros países.
Do baú Escrito a partir de anotações de Alfred Rosenberg, um dos mentores da ideologia nazista, "The Devil's Diary", de Robert Wittman e David Kinney, foi adquirido pela Record em Frankfurt. Os diários ficaram desaparecidos por mais de seis décadas e incluem um mapa, feito por Hitler, com planos da operação de invasão à União Soviética em 1941.

    Álvaro Pereira Júnior

    folha de são paulo
    Algo de podre
    Quando uma novata assume o cargo mais importante do país, os princípios são logo esquecidos
    Em uma sequência especialmente nauseante, a chefe decide que um de seus colaboradores mais íntegros precisa ser enquadrado. Andava meio rebelde, contestava as linhas de comando. Seria bom tomar um susto.
    "O que temos contra ele?", pergunta a mulher ao marqueteiro de quem não desgruda um segundo.
    "Quase nada", diz o estrategista. Só uma fofoca: que, apesar de político verde, ele coleciona carros antigos, do tipo de que bebe dez vezes mais gasolina que os atuais. Até importou um Cadillac anos 50 de Cuba, onde as banheiras ainda rodam.
    "Vaze isso para a imprensa", ordena a chefe.
    As consequências são devastadoras. O fato de a notícia não ser exatamente nova, de já ter saído antes, pouco importa. O colaborador, homem reto, tem a vida pessoal e profissional destruída pelo pecadilho do Cadillac. E por obra da chefe a quem servia tão fielmente.
    A chefe é Birgitte Nyborg, primeira-ministra fictícia da Dinamarca, personagem central de uma série de TV fascinante, chamada "Borgen". O subordinado que ela apunhalou é um de seus ministros, Amir Dwian, do Partido Verde.
    Em 2012, "Borgen", produção da emissora dinamarquesa DR, fez muito sucesso na BBC de Londres. Mesmo com legendas, coisa a que o público de fala inglesa está pouco acostumado.
    Também chamou a atenção da crítica americana, quando foi exibida em canais alternativos por lá. Chegou a passar no Brasil, no cabo, mas quase ninguém percebeu.
    A boa notícia é que as duas primeiras temporadas saíram em DVD nos EUA. Ficou fácil achar na internet.
    "Borgen" gira em torno de Birgitte Nyborg, interpretada pela magnética Sidse Babett Knudsen, 45, cujo sorriso caloroso é capaz de derreter as mais renitentes geleiras.
    Nyborg comanda um partido pequeno, o Moderado, que apoia causas fofas e politicamente corretas: condenam leis duras de imigração, querem a saúde cada vez mais pública, defendem o estado de bem-estar social típico da Escandinávia, pretendem preservar a natureza.
    A trama começa em uma crise do regime parlamentar. Nenhum dos dois maiores partidos, o Trabalhista e o Conservador, consegue formar um gabinete. Entregar o posto de primeira-ministra à novata Birgitte Nyborg, líder dos moderados, surge como solução conciliadora.
    Se "Borgen" fosse uma série tradicional, mais próxima do padrão americano, mostraria o embate da militante íntegra conta o pântano da política tradicional.
    Mas não é o que se vê. Um pouco desajeitada no começo, Birgitte rapidamente pega o jeito do cargo e faz aquilo que políticos fazem: trai companheiros, esquece quase todos os princípios, guia-se pela obsessão de manter o poder a qualquer custo. Tem seus dramas de consciência, mas são poucos e passam logo.
    A seu lado, inseparável, o marqueteiro Kasper Juul. Figura misteriosa, ele é ex-namorado da principal apresentadora do maior canal da Dinamarca, a jovem, combativa e estonteante Katrine Fønsmark. "Ex" talvez não seja a melhor definição, já que Kasper e Katrine vivem uma relação de idas e vindas.
    Birgitte, a primeira-ministra, tem marido e dois filhos (um menino de oito anos e uma menina de 13). O marido é um executivo importante, que, muito escandinavamente, vinha passando os últimos anos em casa, a cuidar das crianças, para que a mulher se dedicasse à política. Não demora muito para tudo isso ruir. A vida pessoal de Birgitte se transforma em pesadelo.
    O marqueteiro Kasper --que talvez nem se chame Kasper-- esconde o passado "white trash" e um histórico de abuso doméstico quando criança. Foi justamente por ser tão envolto em segredos que a deusa Katrine Fønsmark o abandonou pela primeira vez.
    Katrine, mesmo bela e famosa, vive só, em um apartamento bagunçado de estudante. De vez em quando, se entrega ao primeiro desclassificado que vê pela frente. De vez em quando volta para Kasper.
    Birgitte, Kasper e Katrine são os três pilares que sustentam a narrativa densa e cadenciada de "Borgen".
    A luz é sempre angulosa (estamos perto do polo Norte, afinal). Vive-se de modo impensável para brasileiros --a primeira-ministra continua morando em sua casa de classe média, reuniões ministeriais só têm 16 pessoas (incluindo assessores), os políticos não roubam e muitos deputados vão trabalhar de bicicleta. Os diálogos fluem com naturalidade, sem a concisão forçada de tantas séries americanas.
    "Borgen", e a produção dinamarquesa em geral, não são televisão como a conhecemos. São uma outra TV. Preste atenção.

    Xico Sá

    A criança e a dor do futebol
    Ninguém sofre mais com futebol do que uma criança; aí se forja o homem, o caráter
    Amigo torcedor, amigo secador, ninguém sofre mais com futebol do que uma criança. Nem o mais angustiado dos goleiros na hora do gol, caro Belchior, sofre tanto. Talvez seja a primeira ideia do conhecimento das dores do mundo. Aí se forja o homem, o caráter, aí começa o madureza ginasial completo do menino. Nessa hora todos somos aquele guri, só beiço e lágrimas, da capa do "Jornal da Tarde" na tragédia do Sarriá, em 5 de julho de 1982.
    Fotografado por Reginaldo Manente, um dos gigantes na arte do flagrante esportivo, aquele menino éramos todos nós chorando a eliminação do escrete de Falcão, Zico e doutor Sócrates, um dos maiores times desde que o homem deixou de andar de quatro e fundou a humanidade. Para um pivete, um piá, um pirraia, um cabinha --e outros tantos apelidos de crianças pelo Brasil afora-- nem carece uma Copa para descolorir o universo, basta um jogo qualquer, toda pelada pode se constituir um épico, uma lição de história.
    O futebol é o segundo útero de uma criança em matéria de formação. Nasci em 1962, como na música do Ira!, nasci já bicampeão do mundo com o Brasil de Garrincha e com o Santos de Pelé & grande elenco. As dificuldades materiais, e só materiais, eram muitas no meu Cariri, lá no meu pé de serra. E haja fartura simbólica e futebolística até os anos 1970. Uma coisa compensa a outra, já diria o filósofo da vida simples.
    Signo de homem não é áries, touro, gêmeos, câncer, leão, virgem, balança como este equilibrado cronista. Signo de homem é o seu time. Na maioria das vezes transmitida pelo sangue paterno, em algumas ocasiões pela zebra do destino. É fácil ter nascido nos anos 1960 e ser Santos, Botafogo, Cruzeiro, Bahia, Náutico... É moleza ter sido criança nos anos 1980 e amar o Flamengo de Leandro, Júnior, Andrade, Adílio, Zico... Quem era menino na década de 90 há de lembrar do São Paulo de Cerezo, Raí, Palhinha e Müller e seu Telê no banco.
    Um menino estranho, do tipo que merece cuidados, lembrará, por exemplo, que Dinho, o justiceiro da caatinga, também fez parte desse time. Como também é lembrado por meninos esquisitos do Sport e do Grêmio. O Corinthians, no entanto, tem duas categorias de pequenas criaturas: a que só viu uma taça depois de grande; a geração Japão que abriu os olhos para ser campeã do mundo.
    Há quem diga que a derrota seja uma melhor escola de homem. Talvez forme meninos menos mimados e sem mimimis. Por este critério os velhos corintianos são os caras mais cascudos do planeta. Faz sentido.
    O menino do dedo verde, assim como o Tistu do livro homônimo, estava feliz e com a vida ganha até os oito anos, depois viu o cinza da Segundona, agora amadurece com o seu Palmeiras. Nada como o futebol para formar um caráter e definir uma vida. Parabéns criançada de todas as cores.
    @xicosa

      sexta-feira, 11 de outubro de 2013

      Ruy Castro diz em Frankfurt que grupo Procure Saber faz campanha pela censura - RAQUEL COZER

      Enviada especial em Frankfurt
      Em debate na Feira do Livro de Frankfurt, nesta sexta (11/10), o escritor e colunista da Folha Ruy Castro, um dos maiores críticos aos empecilhos para a publicação de biografias no Brasil, mostrou preocupação com a influência do grupo Procure Saber, capitaneado pela empresária Paula Lavigne e composto por nomes como Caetano Veloso, Chico Buarque e Djavan.
      "É lamentável o que esse grupo está fazendo, essa campanha antidemocrática pela censura. E pode render frutos, porque eles têm poder, vão ao Congresso, dão autógrafos a deputados. Tudo para que ninguém fale da perna mecânica do Roberto Carlos ou de outros defeitos que nem sei quais sei quais são", disse, referindo-se ao acidente que levou o cantor a perder parte de uma perna na infância e que hoje virou tema proibido para quem quer abordar sua história.
      Castro destacou que, quando se fala em autorização para a publicação de biografias, não se trata apenas de ter o "ok" dos artistas. "Isso significa que, se receber uma autorização, vou levar cinco anos pesquisando, escrever e submeter ao biografado, que então vai cortar tudo o que não lhe agrada. Isso é biografia autorizada, outro nome para censura prévia", disse.
      Sobre a proposta do Procura Saber de que os biografados recebam parte do faturamento com vendas das biografias, Castro disse que, se eles querem "o dízimo", até se dispõe a pagar "o dízimo, desde que isso não interfira na independência".
      O biógrafo contou que levou essas questões à ministra da Cultura, Marta Suplicy, na terça, durante café da manhã em Frankfurt com escritores da delegação brasileira do país no maior evento editorial do mundo.
      "Era uma unaminidade, todos os escritores contra a censura. Marta disse que ficou contente de falar conosco, porque em geral só tem contato com o outro lado, dos artistas. Porque, como sabemos, eles fazem um lobby pesado", disse.
      Segundo ele, a ministra se mostrou "predisposta a concordar" com seus argumentos, embora tenha dito acreditar que os artistas têm razão por querer parte do faturamento dos livros sobre eles --foi quando Castro respondeu que aceita o "dízimo" em troca da independência.
      O escritor fez ainda uma comparação com os jornais, que têm circulação diária de centenas de milhares de exemplares e não precisam de autorização prévia, enquanto as biografias têm tiragens de 2.000, 3.000 exemplares e se veem limitadas pela lei.

      Feira do Livro de Frankfurt

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      Michael Probst - 9.out.2013/Associated Press
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      Visitantes caminham pela Feira de Frankfurt

      Abraji promove congresso de jornalismo investigativo

      Evento será realizado no Rio de Janeiro e terá cerca de 150 painéis e oficinas
      Entre os palestrantes convidados está Glen Greenwald, que revelou o esquema de espionagem dos EUA
      DE BRASÍLIAComeça amanhã e vai até terça-feira o congresso anual da Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo). A 8ª edição do evento será no Rio, na Pontifícia Universidade Católica, e deve contar com cerca de 900 participantes.
      Neste ano, o congresso também será realizado em conjunto com a 8ª Conferência Global de Jornalismo Investigativo, realizada pela "Global Investigative Journalism Network" (GIJN), e com a 5ª "Conferencia Latinoamericana de Periodismo de Investigación" (Colpin), do Instituto Prensa y Sociedad (IPYS), com sede no Peru.
      Folha é um dos patrocinadores do evento, que terá cerca de 150 painéis e oficinas de treinamento.
      Os participantes inscritos, os palestrantes e os moderadores virão de mais de 70 países diferentes.
      Entre os palestrantes convidados estão Glen Greenwald, responsável por revelar o esquema de espionagem dos Estados Unidos em diversos países, inclusive no Brasil; Caco Barcellos e José Hamilton Ribeiro, em um encontro de repórteres de duas gerações; e João Wainer, Bruno Torturra e Bruno Paes Manso em um painel sobre a cobertura da onda de protestos de junho e julho no país.
      Também estarão presentes personalidades de fora do mundo jornalístico. Alguns dele são o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Joaquim Barbosa, e Catalina Botero, relatora especial para liberdade de expressão da OEA (Organização dos Estados Americanos).
      O congresso contará ainda com jornalistas internacionais falando sobre suas carreiras e métodos de apuração.
      Estão confirmados, entre outros, Juan Arias (colunista do jornal espanhol "El País"), David Leigh (editor de investigações do jornal britânico "The Guardian"), Jon Lee Anderson (redator da revista "The New Yorker") e Amanda Cox (editora de visualização do jornal norte-americano "The New York Times").
      Do Brasil, entre outros, vão participar Mário Magalhães, Roberto Cabrini, Miriam Leitão, Clóvis Rossi, Eliane Brum, Daniela Arbex, Rubens Valente, Elvira Lobato e Juca Kfouri.
      As inscrições na internet para participar do congresso estão encerradas. Elas só podem ser feitas na recepção do evento. Haverá transmissão on-line, via internet, dos principais painéis no endereço http://puc-riodigital.com.puc-rio.br.

        Gente hipócrita - Barbara Gancia

        Tudo, tudo, tudo vai dar pé; tudo, tudo, tudo vai dar pé. Ah, vai sim! Sem dúvida. Sendo que as mesmíssimas pessoas que ontem arriscaram o pescoço pela liberdade ou estiveram dispostas a pagar com a vida para garantir a democracia são aquelas que hoje estão sentadas nos banco dos réus acusadas de crimes de corrupção ou, veja só, exigindo censura prévia contra a livre expressão.
        Do jeito que vai, entre uma coisa e outra, liberdades conquistadas a duras penas podem morrer afogadas. Ano que vem tem eleição. E, por coincidência, um texto que poderia passar para o Senado depois de ter sido aprovado em caráter terminativo na Câmara "emperra" na Casa graças a um recurso. Cuma? O que tem eleição a ver com o projeto de lei que permite publicação de livros biográficos sem autorização do biografado ou da família?
        Ob-servando hipócritas disfarçados rondando ao redor, sabe-se lá o que houve, a manobra foi misteriosa; fato está que a lei teve de ficar na Câmara e, agora, nós vemos surgir, como uma nuvem negra que essa gente não sabe onde vai, o tal do movimento encabeçado pelo messiânico Roberto Carlos, Procure Saber, associação que visa proteger a honra e a privacidade de biografados tapuias.
        Gostaria de tranquilizar meus ídolos Roberto, Caetano, Gil, Erasmo (beijo, Tremendão, te amo!) etc: calma, pessoal! De minha parte, quero deixar claro que não tenho o menor interesse em ler a história de nenhum de vocês.
        Pra que perder tempo? Já sei que Caetano nasceu em Santo Amaro (BA), é filho de dona Canô, que sua irmã é uma precursora meio confusa de Daniela Mercury, que ele começou a namorar a ex-mulher quando ela era "de menor", ué? Por acaso, Cae fez escondido sem que algum ser humano do planeta tomasse conhecimento? Que privacidade é essa que eles tanto estão querendo resguardar? Coisa mais provinciana!
        Eu lá estou interessada em saber o que o Milton fez com seus amiguinhos do clube da esquina ou na casinha de sapê? A mim basta aquela voz gloriosa ao lado do sax de Wayne Shorter, não estou nem aí com a ressaca moral de quem fez e agora não segura a onda. Ou será que há o pretexto de valorizar o peixe para depois vendê-lo mais caro?
        Há um fenômeno interessante descrito em "As Aventuras de Tom Sawyer", de Mark Twain. A tia de Tom ordena que o menino pinte a cerca da casa. Preguiçoso, Tom tenta achar um jeito para escapar. E encontra um meio de passar o mico para frente, sorrindo e cantando e pintando com entusiasmo a cada amigo seu que passa pela calçada. O dia termina com o menino sentado na grama enquanto toda a criançada da vizinhança termina o serviço por ele.
        A esta altura, o oportunismo e a ganância de Paula Lavigne e Flora Gil são conhecidos até do papa. Peguei pesado? Refraseio, então: o senso de oportunidade para negócios da ex-mulher e da mulher de Caetano e de Gil é muy admirado. Sobretudo por Caetano e Gil.
        Um fala o que lhe dá na veneta, Dumbledore desmesurado, cujo prestígio político, poderia -como não?- dar ou tirar votos do candidato Freixo. O outro, ex-ministro, ou seja, também animal político, aninhou-se na verborreia de hippie sequelado que o país aprendeu a tratar com condescendência.
        E as madames negociando: sr. Rouanet entra na sala, sr. Rouanet sai. Sr. Rouanet toma um táxi ou vai ao banheiro e elas firmes. Ninguém dá um pio, afinal estamos falando de mitos. E elas são folclóricas. Mas tem limite: são os direitos sagrados expressos na Constituição. Mexeu nisso, aquele abraço.
        Barbara Gancia
        Barbara Gancia, mito vivo do jornalismo tapuia e torcedora do Santos FC, detesta se envolver em polêmica. E já chegou na idade de ter de recusar alimentos contendo gordura animal. É colunista do caderno "Cotidiano" e da revista "sãopaulo".