domingo, 3 de novembro de 2013

Elio Gaspari

folha de são paulo
Eike Batista, o bilionário-celebridade
A banca esqueceu-se dos exemplos de empresários como Amador Aguiar, Antunes e Sebastião Camargo
A quebra da OGX de Eike Batista era pedra cantada e foi a maior concordata da história do país. Em 2010 suas ações valeram R$ 23,27. Para desencanto de 52 mil acionistas e algumas dezenas de diretores da grande banca pública e privada, saíram da Bolsa a R$ 0,13. Todo mundo ganhará se disso resultar algum ceticismo em relação à exuberância irracional da cultura das celebridades poderosas. Nela juntam-se sábios da banca que se supõem senhores do universo e autoridades que se supõem oniscientes.
Admita-se que um vizinho propõe sociedade num empreendimento. Ele é um homem trabalhador, preparado, poliglota, esportista e bem-sucedido. Apesar disso, expôs sua vida pessoal mostrando que tem um automóvel de luxo na sala de estar, comunica-se em alemão com o cachorro. (O bicho chegou ao Brasil num Boeing privado, com dois treinadores.) Sua mulher desfilava numa escola de samba com uma gargantilha onde escreveu o nome dele e deixou-se fotografar de baixo para cima usando lingerie transparente. Nomeou para a diretoria de uma de suas empresas um filho que declarou só ter lido um livro em toda a vida. Revelou que estava ligado em astrologia, confiando no seu signo (escorpião) e disse coisas assim: "Tenho alguma coisa com a natureza. Onde eu furo eu acho". Quando suas contas começaram a ter problemas, defendeu-se: "Meus ativos são à prova de idiotas". Tem jogo?
Eike tornou-se uma celebridade, listada por oráculos da imprensa financeira como o homem mais rico do Brasil, oitavo do mundo, e anunciou que disputaria o primeiro lugar. Até junho, quando as ações da OGX estavam a R$ 1,21, sentavam-se no seu conselho de administração figuras respeitáveis como o ex-ministro da Fazenda Pedro Malan e a ex-presidente do Supremo Tribunal Federal Ellen Gracie. Lula visitava seus empreendimentos. A doutora Dilma Rousseff dissera que "Eike é o nosso padrão, a nossa expectativa e sobretudo o orgulho do Brasil quando se trata de um empresário do setor privado". Quem entrou nessa, micou, inclusive a doutora.
Em seus delírios, Eike Batista criou uma fantasia que pouco tem a ver com a real economia brasileira, ou com as bases dos setores de petróleo, mineração e infraestrutura. Parte do mico ficou para os gênios da banca internacional. Cada um acreditou no que quis e deu no que deu. Falta de exemplos, não foi. Para falar só de grandes empresários que já morreram, a austeridade foi a marca de empreendedores como Augusto Trajano de Azevedo Antunes, que criou a mineradora Icomi, Leon Feffer, criador da Suzano Papel, e Amador Aguiar, pai do Bradesco. Não foram celebridades. Descontando-se o fato de que "seu" Amador não usava meias, não tinham folclore.
EIKE E AS CONTAS
Se o processo de recuperação judicial da OGX levar peritos a examinar saques feitos nos últimos meses no caixa de empresas do grupo, a coisa ficará feia.
EIKE E OS POÇOS
Entre as lições deixadas por Eike Batista há uma que vai em benefício dele e de todos os empresários perseguidos por maledicências. Quando Eike criou a OGX e levou para sua equipe ex-diretores da Petrobras, a sabedoria convencional estabeleceu que capturara os segredos das pesquisas geológicas da empresa. Essa suspeita foi vocalizada até mesmo pela cúpula da Petrobras. Era lorota. Se eles soubessem onde estava o petróleo, a OGX não teria quebrado.
EIKE E OS BÔNUS
Numa das explicações que Eike Batista deu para suas dificuldades estava a queixa de que diretores de suas empresas inflavam expectativas e resultados para engordar os bônus de fim de ano. A lição vale para todos os empresários. Basta ligar um desconfiômetro. Qual dos diretores seria capaz de sustentar projetos e iniciativas que garantem seu bônus em dezembro e quebram a empresa daqui a alguns anos, quando ele estará na praia? Das diretorias de Eike Batista pelo menos dez executivos saíram com mais de R$ 100 milhões no bolso. Alguns, com R$ 200 milhões. Nenhum micou.
EIKE EM HOLLYWOOD
Um produtor de cinema americano veio ao Brasil para oferecer a Eike o conglomerado da "Playboy" ameri-cana. Durante o jantar, o empresário ofereceu-lhe um negócio melhor: um filme sobre a sua vida. Punha duas condições, o Eike jovem deveria ser Leonardo DiCaprio; o maduro, George Clooney.
EIKE E O PODER
Recordar é viver. Em junho do ano passado, quando Eike Batista emprestou seu jatinho a um poderoso amigo para um feriadão na Bahia, respondeu às críticas dizendo o seguinte: "Tive satisfação em ter colocado meu avião à disposição do governador Sérgio Cabral. (...) Sou livre para selecionar minhas amizades, contribuir para campanhas políticas [e] trazer a Olimpíada para o Rio." Tudo verdade, menos o piro da Olímpiada.
EIKE E FRICK
Faz tempo, um homem de negócios chamado Henry Frick habilitou-se para um empréstimo no banco Mellon. O dinheiro saiu, mas os arquivos do banco mostram que havia uma recomendação de cautela em relação a ele, porque comprava muitas obras de arte. Frick comprou três dos 34 Vermeers conhecidos. Mais três Rembrandts, dois Goyas e até um Cimabue, do século 13. Sua casa, projetada para ser museu, tem uma das melhores coleções do mundo. Até janeiro, quem quiser poderá ir lá para ver a "Menina com o Brinco de Pérola", emprestado pela Holanda. O banco Mellon não arriscava, nem Frick.
EIKE E O ELEVADOR
Despencou mais um empresário que tem elevador privativo em sua empresa, ou bloqueia-o quando está chegando ao prédio. Juntou-se a um grupo onde estiveram Richard Fuld, que destruiu a Lehman Brothers, Angelo Calmon de Sá (Banco Econômico), Theodoro Quartim Barbosa (Comind) e Edemar Cid Ferreira (Banco Santos).
EREMILDO, O IDIOTA
Eremildo magoou-se ao saber que Eike Batista disse que seus negócios eram à prova de idiotas. Ele continua botando fé no doutor.
EIKE, EDUARDO PAES E A MARINA DA GLÓRIA
Em 2009 Eike Batista comprou a concessão da Marina da Glória, uma área tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Seu plano era transformá-la num anexo náutico do Hotel Glória, construindo um centro de convenções que jamais esteve no projeto original.
Esse patrimônio da Viúva estava nas mãos da Prefeitura do Rio de Janeiro. Até maio passado o prefeito Eduardo Paes explicitou em diversas ocasiões seu apoio ao projeto. Sua assessoria dizia que ele fora aprovado pelo Iphan, mas era patranha. Logo depois a Justiça suspendeu a concessão.
Eike pôs à venda o hotel e passou adiante a marina. No dia 29 de junho, Paes criou uma comissão para definir o futuro da área: "Queremos deixar as regras claras, criar parâmetros. Vai poder ter lojas e centro de convenções? Não vai poder?"
Caso de curiosidade tardia para quem assumiu a prefeitura em 2009.

Janio de Freitas

folha de são paulo
Unidos, mas para quê
Ambiente de violência leva à liberação da violência reprimida, e o que há dela por aí é uma enormidade
A violência aumentou muito na última semana. Prova-o, se outras e mais fortes evidências não se tivessem oferecido, o repentino movimento dos governos de São Paulo, Rio e federal com a ideia de ação conjunta. A própria presidente da República fez cobranças públicas aos governadores e, com mais ênfase, ao Judiciário para firmeza contra os depredadores. Mas a confusão das inteligências diante do problema continuou a mesma.
São Paulo aponta participação de grupos criminosos orientados de dentro de presídios, como indicariam comunicações interceptadas. Um ex-secretário de Segurança nega tal novidade, dando as comunicações como coisa conhecida há tempos. No Rio, o aumento da criminalidade, com destaque para o número de assassinatos, foi atribuído ao deslocamento da PM para reprimir o "black bloc" e similares. Explicação que o próprio secretário José Mariano Beltrame repele, até porque o número de crimes cresceu muito mais fora do Rio, e o emprego concentrado da PM é na cidade.
O governador Alckmin pede leis mais duras e a presidente cobra do Judiciário para o que não depende de leis nem, muito menos, dos juízes. Prisões precisam ser feitas juntamente com a coleta de fatos e informações que as justifiquem, ou os presos serão logo liberados. Se houver a coleta, o inquérito precisa estar correto, ou o juiz não pode manter a prisão, nem depois condenar. E convenhamos que, no meio do bafafá, é muito difícil que o policial possa anotar dados e buscar testemunhas. Olha aí outro problema difícil: ninguém se presta a dar informações, quanto mais a testemunhar.
O problema é mais difícil do que aparenta. E, com ou sem culpa da polícia, é nela que se deposita. O que não significa ausência de relação entre as ações "black bloc" & Cia. e o aumento da criminalidade violenta. Nas estatísticas correspondentes a agosto, só agora concluídas, a relação já é sugerida. Não é só.
O jargão "violência atrai violência" recebe da história um poderoso aval. No caso aqui, supor que a violência "black bloc" haja estimulado o aumento da criminalidade pesada implica uma relação direta que, até agora, nada demonstra. Mas que o "black bloc" deu origem a um ambiente de violência, disso não há dúvida. É comprovável.
Ambiente de violência leva à liberação da violência reprimida. E o que há de violência reprimida por aí é uma enormidade. Na vida dura das comunidades desassistidas, na brutalidade superpopulosa dos transportes de massa, na agressiva desigualdade social, a perspectiva sombria do jovem de classe baixa se forma cercada de hostilidades. Em muitos deles, a resposta à altura depende só de oportunidade. Que pode vir dele mesmo, levando-o ao assalto, ao tráfico, ao roubo, ou ficar reprimida. Para sempre ou até um dia. O ambiente de violência é uma sucessão desses dias.
O fundamental nesta altura de descontrole, ao que suponho, é dissolver o ambiente de violência. Se observarmos o que se passou nas favelas cariocas chamadas "pacificadas", constatamos isto: o ambiente de violência, com os traficantes andando armados por toda parte, com as cobranças de pedágio, a imposição de leis próprias e os inúmeros abusos, esse ambiente de violência foi dissolvido. É o que as pessoas transmitem quando falam da sua nova vida no mesmo lugar.
Mas se o "black bloc" deu a origem, a PM deu o incentivo. E também precisa de medidas de rigor. A narração de como foi morto o pedreiro Amarildo --um caso entre tantos-- refere-se a pessoas anormais ou em estado anormal. No caso paulista em Vila Medeiros, tanto pode ser que o PM atirasse sem motivo sobre um grupo de jovens, como pode ser verdadeira a explicação de arma disparada acidentalmente, matando o adolescente Douglas.
Por que, no entanto, o PM desceu do carro em frente a um bar onde nada de mais acontecia? Acidente ou não, o fato é suspeito. E se junta ao anterior para mostrar a necessidade de novas medidas como, por exemplo, o exame toxicológico de PMs com conduta típica de anormalidade ou, no mínimo, de estado circunstancialmente anormal. Há mesmo muitos casos com tais indícios. Sem o devido exame.
A ação conjunta poderá resultar bem. Se não for para fazerem juntos o que já fazem separados, em vão.

    Helio Schwartsman

    folha de são paulo
    Mal do século
    SÃO PAULO - Nos EUA, a polarização entre republicanos e democratas paralisou a administração federal. Por aqui, temos "black blocs", o "nós contra eles" de petistas e oposicionistas e o que parece ser uma tolerância cada vez menor para com opiniões divergentes.
    Estamos ficando mais radicais? Não vejo como responder objetivamente a essa pergunta. Falta-nos o essencial, que é uma definição mensurável de radicalização e dados empíricos. Evidências anedóticas, porém, sugerem que algo assim pode estar ocorrendo, em certos nichos.
    Tendo a ser cético sempre que alguém identifica uma epidemia qualquer e a atribui aos meios de comunicação. Se os homicídios aumentam, a culpa é dos games violentos. Se algumas meninas estão magras demais, ataque a ditadura da moda.
    No caso específico da radicalização, entretanto, é possível que a internet desempenhe um papel relevante, muito mais por suas virtudes do que seus vícios. Ao possibilitar que pessoas, às vezes separadas por grandes distâncias geográficas e sociais, identifiquem interesses comuns e interajam --avanço que melhorou a vida de muitos solitários e incompreendidos--, a rede também abre espaço para uma das piores facetas da natureza humana.
    Como mostrou o psicólogo Irving Janis, o desejo de manter a coesão e a harmonia do grupo faz com que seus membros tentem agir sempre em bloco e de maneira às vezes patológica.
    Uma série de experimentos sugere que juntar muitas pessoas que pensam de forma parecida, numa sala ou na rede de computadores, resulta em maior polarização (radicalização das ideias), mais animosidade (sensação de onipotência em relação a outros grupos) e conformidade (supressão de dissensos internos).
    O remédio contra isso está na própria internet: exposição a teorias diferentes. A pegadinha é que, quando o sujeito acha sua turma, ele foge das ideias de que seu grupo discorda.

      Editoriais FolhaSP

      folha de são paulo
      Além das letras
      Baixa qualificação condena jovens a desemprego e piores postos de trabalho; reversão do ciclo exige mais que ações de redistribuição de renda
      Pelo Censo de 2010, 5,3 milhões de jovens de 18 a 25 anos não estudam nem trabalham. Além da denominação pejorativa de geração "nem-nem", essa condição aniquila as perspectivas de ascensão pessoal de forma que nenhum Bolsa Família poderá compensar.
      Em entrevista a esta Folha, o economista Richard Murnane, da Universidade Harvard (EUA), afirmou com propriedade que "a percepção de que os pobres sempre serão pobres é uma ameaça à democracia". Esse ciclo de reprodução da penúria pode ser atenuado com programas de distribuição de renda, mas só será interrompido com avanços na qualidade do ensino, na escolaridade e na qualificação.
      O mercado de trabalho nos dias de hoje, reitera Murnane, exige profissionais bem letrados. Vale dizer, trabalhadores com vocabulário amplo o suficiente para encontrar, entender e selecionar, no vasto cabedal de conhecimento disponível nos computadores, os dados para compor a solução de problemas. Já se foi o tempo em que lhes bastava saber ler manuais.
      Aquela aptidão poderia ser perfeitamente adquirida no ensino médio ou em escolas técnicas. E é aí, com efeito, que se encontra o ponto nevrálgico do sistema educacional brasileiro, o que ajuda a explicar que a taxa de desemprego entre jovens de 15 a 24 anos (14,5% em 2011) ultrapasse o triplo da observada entre os acima de 25 anos.
      Só 52% dos brasileiros de 15 a 17 anos estavam cursando o ensino médio, como deveriam, em 2011. Jovens de 19 anos que haviam concluído essa etapa eram apenas 51%. E, dos que se formam, menos de 30% adquirem a formação satisfatória em português; em matemática, são meros 10%.
      Não admira que o Brasil figure tão mal nos rankings do Pisa, exame internacional padronizado que se realiza em mais de 60 países.
      Embora o governo federal propagandeie que os secundaristas brasileiros foram os que mais avançaram entre 2000 e 2009 na prova trienal, a média de 401 pontos nos deixa muito abaixo do escore dos países desenvolvidos (OCDE), 496, e atrás de Chile (439) e México (420). Quando se excluem as escolas privadas e os colégios federais, o nível cai mais, para 387 pontos.
      A baixa qualificação desses estudantes os condena ao desemprego ou, quando encontram trabalho, aos piores postos. Estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) com dados oficiais de 1996 a 2010 mostra que são vítimas sobretudo de muitos desligamentos --e não são substituídos por adultos, mas por outros jovens mal qualificados.
      Não é novo o diagnóstico de que o ensino médio não dá aos jovens um futuro nem forma os trabalhadores de que o país precisa. Também não é novidade que o poder público faz muito menos do que deveria para saldar essa dívida.
        EDITORIAIS
        editoriais@uol.com.br
        Falso impasse na internet
        Mais uma semana terminou sem que a Câmara dos Deputados tenha sido capaz de aprovar o Marco Civil da Internet. O projeto está pronto há mais de um ano e sua votação já foi adiada diversas vezes.
        Nem o fato de a proposta tramitar em regime de urgência e ter passado a impedir que o plenário da Câmara delibere sobre outras proposições foi suficiente para que os deputados se sentissem compelidos a cumprir sua obrigação.
        A importância do projeto, no entanto, pode ser facilmente percebida pelo epíteto que o acompanha. Trata-se, segundo especialistas no assunto, de uma espécie de Constituição da internet. Seu propósito é estabelecer princípios, garantias, direitos e deveres para o ambiente virtual. Vale para usuários, provedores e agentes públicos.
        De ONGs ligadas à comunicação a associações científicas, passando por sindicatos, por entidades internacionais e pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil, um sem-número de atores envolvidos com a rede de computadores mobilizou-se a favor do Marco Civil.
        Permanece o impasse, contudo. Do ponto de vista conceitual, o nó mais apertado está na chamada neutralidade de rede --princípio segundo o qual a qualidade do serviço oferecido pelo provedor não pode ser alterada em função do conteúdo acessado pelo usuário.
        Sem a neutralidade, nada impedirá que o provedor de acesso (empresas de telecomunicações) cobre mais caro ou dificulte a vida de quem quiser utilizar a internet, em substituição ao telefone, para chamadas à distância --para dar um exemplo óbvio.
        Enquanto especialistas sempre disseram que, sem a neutralidade, a internet será bem diferente --e pior-- do que é hoje, executivos das empresas de telecomunicações insistiam que tal princípio tolhe a liberdade do usuário --que não pode, por exemplo, pagar menos para acessar apenas e-mails.
        Mais recentemente, as verdadeiras razões apareceram. Não se trata de debater a democracia, explicou Mario Girasole, executivo da TIM Brasil. "Aqui estamos falando do velho dinheiro", disse. "Simples assim. É business model'."
        É simples, de fato. São cerca de 100 milhões de usuários de internet no Brasil, uma parcela crescente da população. Há, de outro lado, um modelo de negócios que beneficia um punhado de empresas.
        Para representantes eleitos pelo voto da população, deveria ser simples sair desse impasse.

          Força dos acessórios e culto à pele põem em xeque a importância do vestuário e fortalecem a 'tendência' da não-roupa

          folha de são paulo
          Chega de roupa
          ISABELLE MOREIRA LIMADE SÃO PAULOCOLABOROU PEDRO DINIZNuma época em que desfile serve para vender perfume, bolsa e sapato, a roupa, que já foi o centro do mundo fashion, perde importância.
          A tendência forte de um setor em crise, creia se puder, é a não-roupa, coisa que uma escola mais retrô chamaria ainda de "pouca vergonha".
          Mas há várias vertentes da tendência. Há os "peladistas" --os que acham que andar quase nu é o novo preto, talvez até por razões ambientais--; há peças que simulam pele; e há aquelas vestes conceituais que jamais chegam ao consumidor e, portanto, são tudo, menos roupa.
          No outono-inverno 2013 de Londres, a estilista britânica Pam Hogg deu show de não- roupa: seu desfile tinha mais nu frontal do que coleção. No verão novaiorquino, homens aderiram, saíndo às ruas descamisados. No showbizz, Lady Gaga e Miley Cyrus são as divulgadoras da tendência.
          Esta repórter recebeu a missão de verificar se isso ajudaria a semana de moda a economizar nos tecidos. Mas ali o peladismo foi soft, travestido de transparências em looks de Herchcovitch, Acquastudio e Lino Villaventura.
          Fora da passarela, tudo estava meio fora de moda: se pele é tendência, a maioria estava protegida do frio
          A reportagem abordou uma moça magra e alta e sem frio, com microshort e regata. Seria a primeira a adotar a ideia? A dona do look instintivo era a modelo Alana Klein, 19. Nunca ouvira falar em não-roupa: "Mas já vi, na passarela, acessório no lugar da roupa, como um colar grande para esconder os seios".
          É isso. A poucos metros dali, um grupo multigênero vestia roupões. Seriam entusiastas da não-roupa? Não, trabalhavam duro numa ação de marketing de uma revista de moda, o tema era sauna.
          Pelo jeito, na SPFW, não-roupa é não-tendência. O jeito era ir ouvir "especialistas".
          A consultora Constanza Pascolato pediu explicações. "Estão usando pelado?" Para ela, a onda não chega ao Brasil. "A não-roupa está na Amazônia", brincou. Já o estilista Vitorino Campos testemunhou acreditar muito "nas coisas naturais".
          Longe da passarela, experts ficaram mais à vontade para teorizar sobre a coisa.A roupa perdeu apelo, diz o sociólogo Dario Caldas, do birô de tendências Observatório de Sinais. "A acessibilidade da moda e a expansão do fast-fashion faz com que as pessoas não identifiquem mais a roupa como um elemento de diferenciação." Quer dizer: se a peça não nos dá status, melhor arrancá-la fora.
          A consultora de moda Mariana Rocha vê o fenômeno da não-roupa como uma busca artificial de neutralidade: "É como esmalte nude. Você passa meia-hora no salão, gasta dinheiro e ficar com unha da cor de nada. Um tremendo artificialismo". Para ela, a não-roupa não significa menos tecido, mas um simulacro da pele cujo objetivo é esvaziar a carregação fashion.
          Em palestra na SPFW, o antropólogo norte-americano Ted Polhemus afirmou que as marcas deixaram de vender roupas para comercializar apenas um ideal de estilo.
          O estilista Dudu Bertholini, da Neon, confirma a tendência, mas corrige: "Jamais diria que a roupa está em segundo plano". Há três anos, Dudu usou nu frontal na passarela. "Foi uma decisão estética. A gente achou que ficaria mais bonitinho."

            Casais pelados lutam por comida em reality show

            folha de são paulo
            GUILHERME GENESTRETIDE SÃO PAULOO nudismo chegou aos reality shows de sobrevivência. "Largados e Pelados", que estreou em junho nos EUA e chega ao Brasil na terça (5) pela Discovery, é uma espécie de Gênesis na TV.
            Toda semana é mostrado um casal diferente de desconhecidos. Eles passam 21 dias em um ambiente selvagem. Têm que lutar por comida, suportar intempéries e mau humor alheio.
            Tensão sexual? "Nem por um segundo", responde a dublê de filmes australiana Ky Furneaux, 40, que aparece no sexto episódio. "Era um pântano cheio de cobras e crocodilos. Não tinha como pensar: Nossa, que sexy o meu parceiro'."
            O reality mostra o primeiro contato de Ky com o escritor Billy Berger, 39. Já nus, eles se conhecem em um brejo na Louisiana, sul dos EUA. "Bonito colar", ela diz a ele. Seios e genitais aparecem borrados na tela.
            "O estranhamento com minha parceira durou o tempo de um aperto de mão", diz o cantor Clint Jivoin, 24, do segundo episódio. "Ficar nu foi difícil porque as roupas são a primeira proteção do corpo."
            No Panamá, Jivoin e a taxidermista Laura Zerra, 27, dormiram lado a lado nas primeiras noites. "O abrigo estava num lugar tão úmido que não conseguíamos acender uma fogueira."
            As tensões crescem. Ele reclama dos restos de coco deixados por ela. Ela se queixa que ele não ajuda a buscar comida. "Deve ser assim que a gente se sente num casamento", diz Jivoin para a câmera, com folhas amarradas na cintura.
            A associação One Million Moms, que faz abaixo-assinados contra "conteúdo impróprio na mídia", tentou tirar os pelados do ar nos EUA. Não conseguiu.
            "A nudez parece que deixa tudo com carga sexual, mas não é por aí", diz Jivoin. "Parece tosco, engraçado, mas é bem sério."

              José Simão

              folha de são paulo
              Obama! Onde está Wally?
              E os servidores do Kassab deixaram a Cidade Limpa mesmo. Limparam R$ 500 milhões!
              Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Semana Macabra: Halloween e Finados! Chama a Sonia Abrão! Rarará!
              E os servidores do Kassab deixaram a Cidade Limpa mesmo. Limparam R$ 500 milhões! E fantasma não assusta mais gritando "ÚÚÚ", agora grita "IPTÚÚÚ"!
              E o Obama espiona o mundo inteiro, mas não sabe onde está Wally. Obama descobriu que a Dilma dorme de pijaminha do Che Guevara, aqueles de flanelinha com estampa do Che! E que a Angela Merkel não dorme, RONCA!
              Ela deve ser aquela que dorme de barriga pra cima, com as mãozinhas cruzadas em cima da pança! Rarará!
              E o Obama descobriu a idade da Glória Maria: ela nasceu há 10 mil anos atrás, junto com o Raul Seixas. Rarará. E um leitor quer saber: "Caro Obama, espero que o que eu fiz ontem com a minha secretária fique só entre nós três".
              E outro: "Obama, a minha mulher vai três vezes por semana ao cabeleireiro ou é migué dela?". E a filosofia do Obama: quem espiona o que eu estou espionando é espionagem!
              E o Roberto Carlos? Que é a favor da biografia não autorizada, desde que não seja a dele! E disse: "Ninguém melhor que eu pra saber da minha vida". Mas ele não tem vizinho? Se ele morasse no meu prédio, ele não ia dizer isso!
              E sugestão de título pra autobiografia do Roberto: "Jesus Cristo, eu AINDA estou aqui". Rarará. E Finados? Finados é o Senado! Aqueles políticos que morreram e se esqueceram de cair. E diz que o Sarney é um finado-vivo! Rarará. E adorei a lápide do hipocondríaco: "Eu não falei que eu tava doente?". Rarará!
              E Halloween? A Dilma parece uma abóbora. Só falta acender uma vela na boca! E todo dia o Serra se olha no espelho e o espelho grita: "Halloween de novo?". Pro espelho do Serra, todo dia é Halloween!
              E o chargista Flavio revela a nova empresa do Eike: CALOTEX! Rarará. O Eike desmoralizou tanto a letra x' que até a Xuxa vai mudar de nome pra Chucha! Rarará.
              É mole? É mole, mas sobe!
              O Brasileiro é Cordial! Olha essa placa em Curitiba: "Você estacionou na calçada. Não se reproduza. Grata, a Humanidade".
              E essa placa numa escolinha infantil: "Não vale jogar pedra nos colegas". Deve ser a escolinha dos black blocs. Maternal Black Bloc. Rarará.
              Nóis sofre, mas nóis goza!
              Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!