quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Temas tabus são alvo de questionário do Vaticano

folha de são paulo
Temas tabus são alvo de questionário do Vaticano
Perguntas enviadas à igreja em todo o mundo foram divulgadas ontem
Objetivo é coletar informações para o Sínodo de Bispos, convocado pelo papa Francisco para 2014
DAS AGÊNCIAS DE NOTÍCIASA Santa Sé divulgou ontem um questionário de 38 perguntas sobre a evolução da família moderna, que aborda temas como a união homossexual, o divórcio e o aborto, entre outros assuntos até então tabus na Igreja Católica.
A igreja vive uma época "de evidente crise social e espiritual", adverte o texto enviado às conferências episcopais do mundo inteiro.
O documento é preparatório para o Sínodo de Bispos, convocado pelo papa Francisco para outubro de 2014.
Entre as informações que a igreja pretende levantar está a quantidade de divorciados e separados em cada uma das paróquias e se essas pessoas se sentem "marginalizadas ou sofrem pela impossibilidade de receber os sacramentos".
"Poderia uma simplificação da prática canônica, ao reconhecer uma declaração de nulidade do casamento, facilitar uma contribuição positiva para as soluções dos problemas dos católicos divorciados?", pergunta.
O documento ainda questiona se existe no país uma lei civil de reconhecimento das uniões homossexuais e qual a atitude das igrejas frente a esta situação.
"Que atenção pastoral é possível desenvolver em relação às pessoas que elegeram viver nesse tipo de união?", diz, citando ainda o caso de casais gays com filhos.
As respostas servirão de base para o debate dos bispos em 2014. Mas, segundo o relator- geral do sínodo, cardeal Peter Erdo, não haverá "mudanças na doutrina, só na forma de encarar essas situações".
O papa Francisco tem defendido uma evangelização baseada na "misericórdia" para com aqueles que vivem em situações "irregulares".

    Veja parte do questionário sobre as famílias modernas enviado pelo papa aos bispos


     
    DA AFP
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    Casamento homossexual, aborto, adoção por casais do mesmo sexo, comunhão de divorciados, natalidade e família monoparental estão entre as questões enviadas pelo Vaticano aos bispos de todo o mundo.

    Dividido em nove partes e apresentado em forma de perguntas, o documento tem como objetivo avaliar a evolução da família católica contemporânea.
    Abaixo algumas das 39 perguntas enviadas às conferências episcopais.
    CASAMENTOS DIFÍCEIS
    - "A coabitação ad experimentum é uma realidade pastoral relevante em sua igreja? É possível estimar uma percentagem?"
    - "Separados e divorciados recasados são uma realidade pastoral relevante em sua igreja? É possível estimar uma percentagem?"
    - "Existem uniões livres, sem reconhecimento religioso ou civil? Existem dados estatísticos confiáveis?"
    UNIÕES DO MESMO SEXO
    - "Existe no país uma lei civil de reconhecimento das uniões entre pessoas do mesmo sexo equiparadas, de algum modo, ao casamento?"
    - "Qual a atitude das Igrejas ante o Estado civil, promotor de uniões civis entre pessoas do mesmo sexo, e também ante as pessoas envolvidas neste tipo de união?"
    - "Qual a atenção pastoral é possível desenvolver em relação às pessoas que escolheram viver segundo este tipo de união?"
    - "Em caso de união entre pessoas do mesmo sexo que adotaram crianças, qual o comportamento pastoral em vista da transmissão da fé?"
    SOBRE EDUCAÇÃO DE CRIANÇAS EM CASAMENTOS IRREGULARES
    - "Qual é, nestes casos, a proporção estimada de crianças e adolescentes, em relação aos filhos nascidos e criados em famílias regularmente constituídas?"
    - "Com que atitude os pais procuram a Igreja? O que pedem? Apenas sacramentos ou também a catequese?"
    - "Como as igrejas locais tentam atender as necessidades dos pais dessas crianças?"
    SOBRE A ABERTURA DOS CASAIS À VIDA
    - "Qual é a consciência do valor moral sobre os diferentes métodos de controle de natalidade? Quais discussões poderiam ser sugeridas sobre este assunto do ponto de vista pastoral?"
    - "É aceita a mencionada doutrina moral? Quais são os aspectos mais problemáticos que dificultam a aceitação na grande maioria dos casamentos?"
    - "Quais métodos naturais são promovidos por parte da Igreja local para ajudar os cônjuges a aplicar a doutrina da Humanae Vitae?"
    - "Qual é a experiência a respeito desta questão na prática do sacramento da Penitência e da participação na Eucaristia?"
    - "Que contrastes podem ser encontrados entre a doutrina da Igreja e a educação cívica em relação a esta questão?"
    OUTROS DESAFIOS E PROPOSTAS
    - "Existem outros desafios e propostas em relação aos temas tratados neste questionário que mereçam ser considerados como urgentes ou úteis?"
    Nomear cardeal mulher é 'em tese' possível, diz porta-voz de Francisco
    DAS AGÊNCIAS DE NOTÍCIASO porta-voz do Vaticano, Federico Lombardi, disse que, "teoricamente e teologicamente", é possível a nomeação de uma mulher como cardeal pelo papa Francisco, mas isso não está no horizonte --ao menos de curto prazo.
    O próximo consistório (reunião para nomeação de cardeais) da Igreja Católica está marcado para fevereiro.
    "Não é uma possibilidade realista. Teológica e teoricamente, é possível: para ser cardeal, em tese, não é preciso ter sido ordenado [padre]. Mas daí a sugerir que o papa nomeará mulheres cardeais no próximo consistório não é nem remotamente realista", declarou o porta-voz.
    Lombardi, porém, não afirmou que nunca ocorrerá; apenas disse que não será na próxima leva de nomeações.
    As especulações sobre o assunto começaram em setembro, quando o ex-padre Juan Arias, correspondente do jornal espanhol "El País" no Brasil, escreveu um artigo dizendo que Francisco cogitava elevar mulheres ao cardinalato.
    No fim de semana, foi o irlandês "Irish Times" que levantou o tema, o que levou à manifestação do porta-voz.
    Embora essa possibilidade nunca tenha sido confirmada, chegaram a circular nomes de mulheres "cardinaláveis", como a teóloga Linda Hogan, do Trinity College de Dublin (Irlanda), e a ex-presidente irlandesa Mary McAleese. Desde sua eleição, em março, Francisco tem dito que é preciso "reavaliar" a participação feminina na igreja.

      Abram Szajman

      folha de são paulo
      A toga e o chão de fábrica
      Já que a Justiça do Trabalho ignora muitas vezes o que decidem patrões e empregados, por que estes não podem voltar a indicar juízes classistas?
      O modo atual de operar da Justiça do Trabalho tornou-se, ao lado da elevada carga tributária, da burocracia excessiva e das deficiências de infraestrutura, um dos grandes obstáculos para que o Brasil possa voltar a crescer.
      Ela espalha insegurança jurídica nos meios empresariais, o que contribui para brecar investimentos e dificultar a criação de empregos.
      Não é exagero dizer que a maior barreira para a modernização das relações laborais hoje no Brasil situa-se na própria Justiça do Trabalho, em especial quando ela insiste em rever ou anular cláusulas livremente acordadas nas negociações coletivas entre patrões e empregados.
      E o problema não está só no âmbito interno dos tribunais, mas também fora deles: qual é a razão de uma entidade de juízes trabalhistas fazer lobby no Congresso contra o projeto de lei que busca regulamentar o trabalho terceirizado?
      Diante desse quadro, as entidades empresariais não podem se omitir. Sem ferir nenhum direito dos trabalhadores, a CNI (Confederação Nacional da Indústria) apresentou um conjunto de 101 Propostas para a Modernização Trabalhista.
      Apoiando a iniciativa, a Fecomercio SP (Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo) pretende abrir o debate em outra frente: já que a Justiça do Trabalho ignora muitas vezes o que decidem patrões e empregados, tanto individual como coletivamente, por que estes não podem voltar a participar por meio de juízes classistas indicados pelas entidades sindicais patronais e de trabalhadores?
      A extinção dos classistas --que existiam desde a criação da Justiça do Trabalho e atuavam de forma semelhante aos peritos como auxiliares dos juízes de carreira-- deixou uma lacuna não preenchida pelas comissões de conciliação prévia.
      Diferentemente da conciliação intermediada pelos classistas e homologada pelos tribunais como coisa julgada, aquilo que se acorda nessas comissões com frequência volta a ser discutido por meio de ações trabalhistas, com mais perda de tempo e dinheiro para as partes.
      A Justiça do Trabalho surgiu paritária para incorporar na interpretação das leis os princípios da realidade. A participação das representações de trabalhadores e empresários era o argumento que justificava a sua criação, atribuindo-lhe a capacidade de julgar observando as particularidades de cada tipo de referência trabalhista. Sem ela, está desautorizado o seu poder normativo e não se justifica a sua existência.
      A questão pode ser colocada da seguinte maneira: juízes togados conhecem a lei e os ritos do processo, mas ignoram a realidade do chão das fábricas, das lojas e escritórios. Por essa razão, países como Alemanha, França, Suíça e Portugal recrutam entre as entidades de classe pessoas que vão atuar como auxiliares da Justiça. É disso que precisamos.
      Não se está propondo, evidentemente, a ressurreição pura e simples do modelo anterior. A sociedade deve decidir em que moldes seriam reintroduzidos os juízes classistas, quanto seus serviços custariam e quem deve pagar por eles.
      A figura do classista --existente desde a Constituição de 1946 e abrigada pela Carta de 1988-- foi extinta por conta da oposição de juízes togados, por meio de uma emenda constitucional, em 1999. Agora, o mesmo instrumento deve ser usado para reintroduzi-la, exigindo o quórum qualificado (três quintos do plenário) e duas passagens pelas Casas Legislativas, o que, juntamente com as audiências e consultas públicas, é garantia de ampla discussão.
      Se a ideia despertar polêmica, como no passado, tanto melhor, desde que preconceitos não interditem o debate. Será mais uma forma de direcionar os holofotes para o ponto central. Restaurado seu caráter paritário, a Justiça do Trabalho será arejada por ventos soprados desde as categorias econômicas e profissionais que são, em última análise, sua razão de existir.

      Anna Veronica Mautner

      folha de são paulo
      Entre o campo e a cidade
      Urbanos comunicam-se com homens do campo sem se anularem. Curiosamente, as diferenças entre o moderno e o regional são mantidas
      Ela me disse ao telefone: "O Félix está mamando com tanta força! Que gracinha meu neto! E que cara feliz a da minha filha!". Indago: "Mas ela não mora em Barcelona?". A resposta: "Ué, a gente se vê pelo Skype".
      Nunca pensei que ouviria isso. Há menos de 50 anos, uma ligação telefônica para Barcelona não só não tinha imagem como obrigaria os interlocutores a gritar para se fazerem ouvir, após horas de espera até que a Companhia Telefônica completasse a conexão.
      Há menos de 60, em Paraty (RJ), marcava-se encontro para falar dali a dez horas ou mais com São Paulo. Tinha fila de pedidos de ligações.
      Hoje, tudo ficou instantâneo: o leite, o chocolate, a conexão.
      Nos anos 1940, a conexão Brasil Europa --de navio-- levava 15 dias. Já existia avião, mas não para turismo. Quando uma pessoa emigrava de um continente para outro, ocorria uma ruptura séria. Para rever os que ficaram, muito tempo se passava. A Terra parecia enorme.
      Existia o telégrafo, um cabo subterrâneo que ligava enormes distâncias. Só era usado para notas breves: nasceu, morreu, espere, chego. Não para romance, muito menos bate-papo. Telegrama era caro. Pagava-se por letra. Tinha de escolher entre sinônimos o mais curto.
      As geladeiras eram raras. A alimentação era regional. Aqui não tinha cogumelos, não se fazia receitas com cogumelos. A cereja só vinha para o Natal. São Paulo era São Paulo. Bahia era Bahia. Belém do Pará era Belém do Pará.
      Hoje, tudo mudou. Novas identidades regionais foram se formando. O homem da cidade é o homem do mundo moderno.
      No interior, pelo campo afora, ainda temos muito do regionalismo. Núcleos com identidades quase puras persistem por ali em contato com o mundo todo, se o assim desejarem, ou só com seu vilarejo ou cidade de origem.
      Algumas pessoas mantêm contato com seus antepassados, outras rompem e vão criando novas linhagens. No campo, hábitos e costumes demoram mais a mudar. O tempo é mais lento, apesar da TV, do rádio, dos jornais e revistas --no campo, encontramos pessoas que conservam. Preservam o contato com a natureza e com o que ela tem de regional e permanente.
      O campo gaúcho tem pouco a ver com o sertão cearense, e ambos são interior. Vistos como movimentos de transformação, podem ser idênticos, ou pelo menos parecidos. Ambos são fiéis ao passado.
      É cada vez maior a força da urbanização e, portanto, da presença do homem moderno. O homem do campo, contudo, resiste, mantendo o chimarrão, o óleo de dendê, o jambu e o doce de leite.
      Que bom que essas duas forças coexistem, facilitando a manutenção da especificação das nações.
      Gosto de ser brasileira e comer queijo com goiabada. Não que desgoste de "pancake" americano com "maple syrup" ou compota de lichia. Nem sei se prefiro um ao outro, mas não largo o que é meu.
      Quem é o homem novo? Este homem moderno que vai surgir no coexistente dos dois universos? A diferença não é geográfica. Urbanos comunicam-se com os homens do campo sem se anularem. Curiosamente, as diferenças são mantidas.

      Helio Schwartsman

      folha de são paulo
      Cavalheirismo e espionagem
      SÃO PAULO - Os escândalos de espionagem vão de vento em popa. Da última vez que comentei o assunto, dois meses atrás, descobrira-se que a presidente Dilma Rousseff havia sido pessoalmente alvo da bisbilhotice dos EUA. De lá para cá, dezenas de líderes mundiais, incluindo Angela Merkel, vieram fazer companhia a Dilma.
      Essa não é, contudo, só uma história de heróis contra vilões. O Brasil não tem competência técnica para monitorar os telefonemas de Obama, mas, como mostrou Lucas Ferraz, a Abin costuma vigiar diplomatas estrangeiros que atuam no país.
      Não há muita dúvida de que, na medida de suas capacidades, todo mundo espiona todo mundo. A questão que se coloca é se não dá para tentar mudar esse estado.
      As relações internacionais, por não serem mediadas por nenhum poder central equiparável aos de um soberano, já foram comparadas ao estado de natureza hobbesiano, no qual impera "a guerra de todos contra todos". Embora hiperbólica, a imagem tem lá seu apelo. Mas será que, da mesma forma que seres humanos foram capazes de transcender esse suposto estado de natureza e estabelecer formas mais harmoniosas e regradas de convívio, países não conseguiriam fazer algo parecido?
      O antropólogo Christopher Boehm sustenta que a consciência moral, pré-requisito da civilização, foi precedida por um processo de autodomesticação social, no qual até machos dominantes aprenderam a exercer autocontrole. No começo, evitavam recorrer à força por temer retaliações do grupo, mas, com o tempo, isso se tornou uma segunda natureza.
      Se esse modelo é aplicável às relações internacionais, devemos reclamar cada vez que um país é apanhado espionando mais do que devia. Fazê-lo sentir-se desconfortável é o primeiro passo para que um dia consigamos tornar real a máxima segundo a qual cavalheiros não devem ler a correspondência uns dos outros.
      helio@uol.com.br

        Prefeitura apura suspeita de desvio de dinheiro do Theatro Municipal

        folha de são paulo
        MATHEUS MAGENTA
        EDITOR-ASSISTENTE DA "ILUSTRADA"
        FERNANDO MASINI
        DE SÃO PAULO
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        A Controladoria Geral do Município de São Paulo investigará a suspeita de uso indevido do dinheiro arrecadado na bilheteria do Theatro Municipal entre 2005 e 2009, durante a gestão do secretário municipal de Cultura de São Paulo, Carlos Augusto Calil.
        A gestão atual do teatro não sabe estimar o montante sob suspeita. Neste ano, o teatro já arrecadou R$ 3,2 milhões. A investigação surge em meio a uma crise na instituição, com suspeitas de sabotagem em espetáculos, brigas e protestos contra o diretor artístico, John Neschling.
        O pedido para investigar as supostas irregularidades partiu da Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo, que se baseou em denúncias feitas por ex-músicos do teatro.
        arte
        Segundo eles, o dinheiro da bilheteria não era depositado num fundo municipal, como manda a lei, mas sim repartido com associações de músicos (Amandra, que reúne integrantes do Coral Paulistano, e APTMSP, de artistas do Municipal; veja quadro ao lado).
        Para a atual gestão do teatro, há indícios de irregularidade na prática, que servia para driblar a burocracia da máquina pública --criada justamente para evitar corrupção.
        Gestores culturais argumentam que as especificidades da área dificultam o cumprimento das exigências de órgãos de controle. E que a contratação de um músico não deveria ter o mesmo nível de exigência da escolha da empresa que construirá uma escola.
        Com o uso de uma associação, portanto, fica mais fácil gastar recursos sem precisar cumprir uma licitação.
        Há contestações de órgãos de controle sobre práticas semelhantes na Cinemateca e nos museus da Casa Brasileira e da Imagem e do Som.
        Ex-gestores do Theatro Municipal (o maestro Jamil Maluf e o ex-secretário Calil) admitem a prática, mas negam qualquer ilegalidade nela.
        "Que se investigue. Não há nada de ilegal", diz Calil (leia texto abaixo).
        Segundo o atual diretor administrativo do teatro, José Luiz Herencia, os repasses não ocorrem mais. Ele não soube dizer quando cessaram.
        "PERSEGUIÇÃO POLÍTICA"
        As denúncias que motivaram a investigação partiram de músicos que atuaram no Coral Paulistano, grupo artístico do Theatro Municipal.
        Sete deles alegam que sofreram perseguição política por apontarem supostas irregularidades e, por isso, não tiveram seus contratos renovados entre 2010 e 2011.
        A pedido do secretário de Cultura, Juca Ferreira, a gestão atual do Municipal apurou nos últimos dez meses se as denúncias procediam. A apuração concluiu que sim, diz o secretário. Os músicos foram reincorporados em outubro. Os documentos serão enviados à Controladoria Geral do Município.
        A soprano Dênia Campos, 44, diz buscar explicações para a sua saída após audições em 2010 e 2011. Segundo ela, a causa alegada pela direção da instituição na época foi "problemas na afinação".
        "Há dois anos peço ao Municipal a gravação da minha prova e notas da banca", diz.
        Campos deixou a Amandra em 2006 por discordar da nova atribuição da associação de gerir a bilheteria. "Não estava de acordo, não era nossa função e disseram que era ilegal."
        O tenor Nelson Campacci, 47, também saiu da Amandra por, entre outros motivos, ser contra o repasse da bilheteria. "Éramos tratados como malignos lá dentro", diz.
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        GESTÃO PARALELA
        Associação
        A Amandra (Associação Mário de Andrade dos Artistas e Amigos do Coral Paulistano do Theatro Municipal de SP) foi criada em 2003 para reivindicar direitos e captar recursos
        Repasses
        Em 2005, a Amandra foi escolhida pelo Theatro Municipal para receber a "reversão de bilheteria", como é conhecido o repasse de parte da arrecadação do teatro
        Histórico
        Em 2006, a Amandra foi substituída pela Aptmsp (Associação Pró-Teatro Municipal de São Paulo), que congregava mais artistas do teatro. Os repasses foram até 2009, segundo ex-associados
        Desligamentos
        Em 2006, divergências na Amandra levaram sete músicos a deixarem a associação. O principal motivo da saída foi a discordância sobre gestão financeira e os impactos dela na condução artística do Coral Paulistano
        Audições
        Em 2010 e 2011, foram feitas duas audições para reavaliar os 42 cantores do Coral Paulistano. Cinco dos não recontratados estão entre os sete que deixaram a Amandra. Eles alegam retaliação. O maestro que liderou as audições nega
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        JOGO DE INTRIGAS
        Capítulos da crise no Municipal
        16 de julho
        Em almoço para divulgar a temporada de 2014, maestro comenta perfis anônimos criados em redes sociais para criticar a contratação de cantores estrangeiros
        10 de agosto
        Um dia após a estreia da ópera "Aida", o cabo de um elevador de palco é encontrado rompido; a administração do Municipal faz registro policial do caso
        15 de setembro
        Uma queda de energia na mesa de luz interrompe uma apresentação da ópera "Don Giovanni"; prefeitura abre sindicância para apurar sabotagem
        17 de setembro
        Nova falha no sistema de luz interrompe, na terça-feira, outra sessão de "Don Giovanni"; policiais passam a vigiar quadro de luz no quinto andar da casa
        24 de setembro
        Theatro Municipal comunica a todos os músicos dos corais Lírico e Paulistano que os dois grupos serão fundidos em 2014; anúncio gera mal-estar
        Sabotagem na ópera não foi confirmada
        DO EDITOR-ASSISTENTE DA "ILUSTRADA"
        A delegada responsável por apurar as suspeitas de sabotagem em dois espetáculos do Theatro Municipal neste ano afirmou que a investigação ainda não apontou nenhum suspeito.
        "Foram ouvidas mais de 20 pessoas, mas ainda não temos nada de concreto", disse a delegada Giovanna Clemente, do 3º Distrito Policial (Campos Elíseos).
        Segundo ela, os depoimentos não confirmam a suspeita de sabotagem. Os casos foram denunciados em setembro. Não há prazo para a conclusão do inquérito.
        A gestão do maestro John Neschling, diretor artístico do Municipal desde o início do ano, enfrenta também ataques anônimos na internet --há críticas sobre a contratação de artistas estrangeiros.

        José Simão

        folha de são paulo
        Ueba! Maluf tem a esfirra suja!
        E o Maluf nunca mentiu: 'Eu não tenho dinheiro no exterior'. E não tem mesmo. O dinheiro é nosso!
        Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Festival de Piadas Prontas! "Quadrilha dos fiscais da propina atuava no edifício Ouro Para o Bem de São Paulo". Rarará! E o edifício fica no Largo da Misericórdia! E esse Pina deve ser o homem mais rico do Brasil. Tudo vai pro Pina!
        E essa direto do Pará: "Acusado de homicídio, o fazendeiro e empresário Carlos Solto foi preso". Que azar! Ele podia se chamar Preso e ser solto! Ou muda de nome pra Ex-Solto!
        E essa manchete do jornal "O Dia": "Ex-militar acusado de tráfico é preso ao sair do cinema". Qual o filme que ele estava assistindo? "Meu Passado me Condena". Rarará!
        E essa bomba: "Paulo Maluf é condenado e vira ficha suja". O Maluf tá com a esfirra suja! E o Maluf: "É mentira! Eu lavei a ficha junto com o dinheiro". Isso! O Maluf tem ficha lavada! Rarará!
        Diz que ele superfaturou o túnel Ayrton Senna. Obra do Maluf é superfaturada, mas não cai, não dá problemas. Só dá problema no bolso do contribuinte e na Polícia Federal. Rarará.
        E diz que ele vai ficar inelegível. Protesto! Eleição sem o Maluf não tem graça! Um amigo meu vota até hoje no Maluf por três motivos: rouba, mas faz. Mente, mas não convence. E é culpado, mas ninguém prova.
        E o frango à Maluf: primeiro você rouba o frango, depois você faz como quiser! E o Maluf nunca mentiu: "Eu não tenho dinheiro no exterior". E não tem mesmo. O dinheiro não é dele, é nosso!
        E a manchete do Piauí Herald: "Vasco e Fluminense desabam antes da perimetral", garante Eduardo Paes. E diz que ele contratou malabaristas do Cirque du Soleil e flanelinhas poliglotas pra entreter os cariocas presos no trânsito! É o ENGARRAFOLIA!
        E contratou a nova secretária de Urbanismo, Aracy Balabanian. No personagem da dona Armênia. Lembra da dona Armênia, que ficava gritando: "Na chón! Quero tudo na chón"? O Eduardo Paes quer o Rio na chón! Rarará!
        É mole? É mole, mas sobe!
        Os Predestinados! Mais dois para a minha série Os Predestinados! É que um amigo foi para o urologista e sabe como ele se chamava? Carlos Picanço Costa! Rarará.
        E em Porto Alegre tem um proctologista chamado Rabolini. Rarará. Mais direto impossível.
        Nóis sofre, mas nóis goza
        Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

          Escritor Mia Couto vence Prêmio Neustadt, o 'Nobel americano'

          folha de são paulo

          O escritor moçambicano Mia Couto, 58, venceu na última semana o Prêmio Literário Internacional Neustadt, considerado o Nobel norte-americano.
          O autor de "Terra Sonâmbula" e "A Menina sem Palavra", entre outros, ganhará cerca de R$ 113 mil da Universidade de Oklahoma, responsável pela premiação, entregue a cada dois anos.
          Zanone Fraissat/Folhapress
          O escritor Mia Couto em São Paulo, durante o evento que integrou a série Fronteiras do Pensamento
          O escritor Mia Couto em São Paulo, durante o evento que integrou a série Fronteiras do Pensamento
          À agência Lusa, o escritor destacou a importância de a premiação ser entregue a um nome de língua portuguesa, para "despertar o interesse e a atenção" a idiomas que não o inglês. Ele foi o primeiro moçambicano a ser indicado e a ganhar o prêmio, que, nesta 23ª edição, tinha entre os indicados o japonês Haruki Murakami e o argentino César Aira.
          Vários autores que receberam a honraria em edições anteriores, como Pablo Neruda, Gabriel García Márquez, Orhan Pamuk, Mo Yan e Alice Munro, foram depois premiados com o Nobel de Literatura.
          Neste ano, Couto também recebeu o Prêmio Camões de Literatura, uma das mais prestigiosas honrarias em língua portuguesa, sendo agraciado com cerca de R$ 265 mil.

          LITERATURA
          Angolano Ondjaki leva Prêmio Saramago
          O escritor Ondjaki, 36, recebeu ontem o Prêmio Literário José Saramago, um dos mais importantes em língua portuguesa, pelo romance "Transparentes" (Companhia das Letras). Receberá 25 mil euros (R$ 77 mil). Na edição anterior, em 2011, a vencedora foi Andrea del Fuego, por "Os Malaquias".