sábado, 9 de novembro de 2013

Escritor une sexo e morte em livro 'autopornográfico'

folha de são paulo
Primeiro romance de Marcelino Freire tem protagonista parecido com autor
Obra é narrada por um dramaturgo de sucesso que tenta desvendar a misteriosa morte de um de seus amantes
MARCO RODRIGO ALMEIDADE SÃO PAULOPor vezes é difícil separar o criador da criatura no romance "Nossos Ossos".
Marcelino Freire, 46, o autor do livro, nasceu em Sertânia (PE), caçula de uma família de nove filhos. No começo dos anos 1990 mudou-se para São Paulo por causa de um amor,que começou a degringolar tão logo botou os pés na rodoviária Tietê.
Sem um tostão, morou de favor na casa de um amigo e passou por vários empregos até firmar-se como escritor.
Ponto por ponto, é quase tudo idêntico à trajetória pessoal e artística de Heleno de Gusmão, o personagem principal de "Nossos Ossos".
Mas tudo isso não significa, assegura Freire, que o livro seja propriamente um romance autobiográfico. Ele prefere um termo menos literário para classificá-lo.
"O personagem tem muita coisa de mim, mas o enredo é quase todo inventado. Na verdade, é mais um livro autopornográfico", conta, entre gargalhadas. "Muitas das putarias e sacanagens que escrevi aconteceram comigo ou com meus amigos."
Heleno de Gusmão, narrador do romance, é um dramaturgo de sucesso, por volta de 60 anos. No começo da trama, ele tenta resgatar no necrotério o corpo de um jovem amante, misteriosamente assassinado, e levá-lo de volta para a família, que vive em Poço do Boi, interior de Pernambuco.
A jornada quase detetivesca de Heleno, por onde desfilam michês, atores, policiais, travesti e taxistas, acaba por compor um retrato um tanto vivo da vida paulistana.
"Nossos Ossos" é o primeiro romance de Freire, criador do festival Balada Literária, em 2006. Até então, dedicava-se às narrativas curtas, seja em seus próprios livros (entre eles "Contos Negreiros", vencedor do Prêmio Jabuti em 2006) ou nas coletâneas que organizou, como "Os Cem Menores Contos Brasileiros do Século".
O romance preserva a marca estilística de seus contos (a oralidade nordestina dos diálogos, os jogos de palavras, o humor mordaz), mas também trouxe mudanças.
"Meus contos são quase gritos, mais rock pauleira. No romance você não pode ficar berrando o tempo todo na cabeça do leitor. Então os gritos ficaram mais abafados, são músicas mais orquestradas."

    Trama carioca guia estreia literária de Fernanda Torres

    folha de são paulo
    MARCO AURÉLIO CANÔNICO
    DO RIO
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    Quatro anos atrás, quando ainda se iniciava como cronista e autora de teatro, Fernanda Torres, 48, afirmou à Folha sentir vergonha de assumir que escrevia. "Eu sei o horror que é uma atriz que escreve", disse.
    Hoje, com rotina autoral entranhada --publica coluna mensal na "Ilustrada" e outra quinzenal na "Veja Rio"-- e prestes a lançar o primeiro romance, "Fim", o sentimento certamente é diferente, não?

    "Mais do que nunca é hora de ter vergonha de dizer que escrevo", diz ela, rindo. "A sensação atual é que não vou escrever nunca mais."
    Bob Wolfenson/Divulgação
    A atriz Fernanda Torres, 48, que lança o romance 'Fim'
    A atriz Fernanda Torres, 48, que lança o romance 'Fim'
    É claramente uma blague: ao longo da hora e meia de conversa em seu apartamento, na Lagoa, zona sul do Rio, Fernanda demonstra ter ficado satisfeita com a obra e com o próprio processo de criação.
    "Fim" nasceu como um conto sobre os cinco últimos minutos de vida de um velho que, na caminhada de volta do médico para seu apartamento, em Copacabana, vai rememorando quatro amigos que morreram antes dele.
    O texto havia sido encomendado pelo diretor Fernando Meirelles, que pretendia publicar um livro com contos sobre a velhice e adaptá-lo para a TV, numa ação casada entre a Companhia das Letras e a Rede Globo.
    O projeto não vingou neste formato, mas Fernanda diz ter ficado "tão feliz" com o resultado do conto que o mostrou para a mãe, Fernanda Montenegro, e para amigos como os atores Vladimir Brichta e Débora Bloch.
    "Eu fiquei surpresa, gostei, achei que estava direito. Escrevi em quatro dias, cuspi 11 páginas com uma curva [narrativa], algo que ia ficando esquisito. Achei que tinha fôlego para um romance."
    A mesma opinião tiveram Meirelles e Luiz Schwarcz, editor da Companhia das Letras, que lança o livro na próxima terça (12).
    O desenvolvimento da trama misturou diálogo interior ("É muito legal quando você escreve, o romance te comanda", diz) e exterior.
    "Fui mostrando em fascículos para a editora, cada capítulo. Foi muito parecido com a relação com um diretor no teatro. O ator sobe em cena e propõe algo, e é sempre bom ouvir o outro lado."
    HOMEM
    A escolha por protagonistas masculinos, escritos em primeira pessoa, é explicada como um tipo de disfarce.
    "Acho que é mais fácil se travestir, para não ficar falando de você, sabe? Quando você entra na pele de um velho, um homem, fala mais livremente, porque é claro que você escreve sobre coisas que pensa, que observa. Toda vez que eu penso em mulher me dá preguiça, é muito colado."
    Além da masculinidade dos protagonistas, uma das características mais evidentes de "Fim" é sua trama "muito carioca", como diz a autora --e não apenas porque se passa em sua cidade natal.
    "Queria que o livro tivesse um caráter muito pessoal daqui, o hedonismo, a decadência, o saber viver, o humor, mas com uma certa tragédia. O Rio é uma mixórdia, uma loucura e, ao mesmo tempo, tem um ar de corte, de uma certa nobreza falida. Eu tenho fascínio por esse Rio e queria fazer um livro sobre pessoas sem nenhuma grandeza."
    A autora situou grande parte da história, que tem como evento central uma grande suruba regada a drogas, "nos anos 1970, que era uma época de uma sexualidade muito louca".
    "Eu estava saindo da infância, e os meus pais são mais conservadores, eram mais velhos do que essa geração, então eu vi um pouco de longe. Hoje, eu tenho a idade em que a gente é livre, adulto. Acho que [a sexualidade da trama] vem desse choque de eu entender questões que vi de longe naquela época."
    Lançado o romance, Fernanda vê no futuro próximo apenas projetos como atriz. Mas, ao descrever a sensação de ter completado o livro, deixa transparecer um revelador apreço por sua nova carreira.
    "Estou feliz, é muito incrível você escrever um negócio. É o maior barato. E também você inventar uma outra coisa para si mesma, com 48 anos, sabe? É incrível."
    Colaborou RAQUEL COZER
    cRÍTICA - ROMANCE
    Atriz escreve sobre geração em busca do desbunde perdido
    MANUEL DA COSTA PINTOCOLUNISTA DA FOLHA"Fim", de Fernanda Torres, reescreve "Quadrilha" às avessas. Nos versos de Drummond, João amava Teresa que amava Raimundo etc., até que Lili, que não amava ninguém, se casa com J. Pinto Fernandes ""cujo sobrenome burocrático quebra a cadeia, fazendo o encanto naufragar nos protocolos do matrimônio.
    Embora não cite Drummond, Fernanda parte daí, da asfixia da vida doméstica e das tentativas de libertação, para escrever um romance em quadros descontínuos.
    Em cena, há cinco amigos que viveram desvarios na maturidade e que conservam, até o momento final, décadas depois, as nostalgias e as sequelas físicas da dissipação.
    Os capítulos se abrem com a narrativa interior do momento que precede a morte de cada um, seguida de histórias, agora em terceira pessoa, de personagens diretamente tocados (ou mutilados) por eles.
    Do velho caquético que vocifera contra a humanidade e a mulher adúltera ao "metrossexual" vítima dos efeitos colaterais do Viagra; do devasso senil que expira na orgia e na droga ao sedutor que leva à loucura a mulher a quem será devotamente infiel, passando pelo pai de família que assume o decoro imposto por sua condição de mulato de classe média, parece que estamos num romance geracional.
    Não deixa de ser, mas não o da geração da autora e, sim, o daquela anterior à revolução de costumes dos anos 1960 e 1970 e que, num Rio transformado em Babilônia da contracultura, tentou recuperar o desbunde perdido.
    A escrita densa de Fernanda Torres destrincha com sarcasmo os mecanismos mentais desses "Cavaleiros do Apocalipse", que violentam seus valores "burgueses" ao preço do rancor e da crueldade.
    "Fim" é um romance sobre a corrida agônica contra o tempo, mas também sobre a ressaca terminal de quem tentou fugir, em descompasso, da "vida besta" de que falava Drummond.

      Mônica Bergamo

      folha de são paulo

      Braço direito de Haddad viaja a Jerusalém em meio à crise dos fiscais na prefeitura

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      Em meio à crise dos fiscais na administração de Fernando Haddad, Antonio Donato (PT-SP), secretário de Governo e braço direito do prefeito, vai se afastar do cargo por uns dias. Ele embarca na próxima semana para Jerusalém. Vai visitar, entre outros lugares, o Muro das Lamentações.
      FAÇA UM PEDIDO
      Donato integrará comitiva de outros nove vereadores. Eles viajam a convite e com tudo pago pela Federação Israelita do Estado de SP. Os parlamentares pediram aos organizadores para conhecer o sistema de segurança por câmeras que protege o muro.
      REDE
      Citado no escândalo porque teria recebido dinheiro para campanha eleitoral dos acusados de corrupção, o que nega, Donato entrou na mira do fogo amigo do próprio PT. Além de ter indicado o principal acusado, Ronilson Rodrigues, para a SP Trans, ele é responsabilizado por endossar Paula Nagamati para cargo de confiança na equipe de Luciana Temer na Secretaria de Assistência Social.
      REDE 2
      Ronilson e Paula Nagamati eram muito próximos e integravam o núcleo da equipe de Mauro Ricardo na Secretaria de Finanças --ela era chefe de gabinete dele. A pasta estava na esfera de influência direta do ex-prefeito José Serra (PSDB-SP).
      TODAS AS VOZES
      O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso tem solução para antecipar o anúncio do senador Aécio Neves como candidato à Presidência. Ele sugere que o PSDB reúna seus 27 diretórios estaduais até o fim do ano. Eles aclamariam o mineiro como candidato. Seria um drible em Serra, com quem Aécio se comprometeu a empurrar a escolha até março.
      EM PARTES
      O diretor Felipe Hirsch recebeu convidados na estreia da primeira parte da peça "Puzzle", anteontem, no Sesc Pinheiros. A atriz e apresentadora Isabel Wilker, os atores Leonardo Medeiros e Luis Soares e o cineasta Hector Babenco foram ao espetáculo.

      Estreia da peça "Puzzle"

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      Bruno Poletti/Folhapress
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      A atriz e apresentadora Isabel Wilker foi à estreia da primeira parte do espetáculo "Puzzle", quinta (7), no Sesc Pinheiros
      TUDO A GANHAR
      "Nada a Perder - 2", o segundo volume da trilogia sobre a vida do bispo Edir Macedo, escrito por ele em parceria com Douglas Tavolaro, desbancou o livro de padre Marcelo como mais vendido do ano até agora no site Publishnews. Já chegou a 331.056 volumes, contra 305.151 de "Kairós".
      HONRAS DA CASA
      Pacientes e amigos de Miguel Srougi estão sendo convidados para a sessão solene em que ele vai receber a Medalha Anchieta e diploma de gratidão da cidade de SP, no dia 25. A homenagem ao urologista foi proposta na Câmara Municipal por Andrea Matarazzo (PSDB-SP). A sessão será no MIS (Museu da Imagem e do Som).
      TELONA
      "Flores Raras", do cineasta Bruno Barreto, estreou ontem em dois dos principais cinemas de arte de Nova York. O filme também entrará em cartaz em Los Angeles. Na campanha para que o longa seja indicado ao Oscar, os produtores estão mandando 6.000 DVDs para os eleitores da premiação. Falada em inglês, a produção não pode entrar na categoria de filme estrangeiro.
      VERSÃO ESTENDIDA
      O escritor Antonio Prata e o ator Gregorio Duvivier, colunistas da Folha, fizeram anteontem noite de autógrafos de seus livros "Nu, de Botas" e "Ligue os Pontos", respectivamente. O evento no Cine Joia contou com a presença da atriz e cantora Clarice Falcão, mulher de Duvivier, e do escritor Reinaldo Moraes.

      Noite de autógrafos

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      Bruno Poletti/Folhapress
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      O escritor Antonio Prata e o ator Gregorio Duvivier, colunistas da Folha, fizeram, na quinta (7), noite de autógrafos de seus livros "Nu, de Botas" e "Ligue os Pontos", respectivamente
      CURTO-CIRCUITO
      Marcelo Rezende lança a autobiografia "Corta pra Mim", hoje, às 11h, na Livraria Saraiva do shopping SP Market.
      Rodrigo Faro será o apresentador de evento beneficente da Fundação Make-A-Wish Brasil, hoje, às 19h30, no hotel Unique. Tiago Abravanel fará show.
      A chef Ana Soares assina o cardápio do restaurante Bohemia, que abre hoje, às 19h30, em Petrópolis (RJ).
      Regina Duarte participa amanhã de caminhada em apoio ao Dia Mundial de Combate à Pneumonia, no Jockey Club.
      Otto faz show do álbum "The Moon 1111" no parque Villa-Lobos, amanhã, às 15h, pelo projeto Cultura Livre SP. Grátis. Livre.
      com ELIANE TRINDADE, JOELMIR TAVARES, ANA KREPP e MARCELA PAES
      Mônica Bergamo
      Mônica Bergamo, jornalista, assina coluna diária publicada na página 2 da versão impressa de "Ilustrada". Traz informações sobre diversas áreas, entre elas, política, moda e coluna social. Está na Folha desde abril de 1999.

      Painel das Letras - Raquel Cozer

      folha de são paulo
      Sem acordo
      O mercado rejeitou a recente proposta da distribuidora Superpedido de intermediar o abastecimento de livros para a rede Laselva. A livraria, em crise, deixou muitas editoras sem pagamento nos últimos anos. Com isso, a oferta de títulos em suas lojas ficou escassa. Para fazer o meio de campo, a Superpedido tinha sugerido às editoras que lhe pagassem 5% do preço de capa dos livros, além do desconto (de até 50%) normalmente negociado entre essas casas e a Laselva. Não colou.
      Outro projeto que a Superpedido tenta emplacar, também cobrando 5%, é um pacote de exclusividade para o abastecimento de 40 livrarias independentes. Muitos editores acham inviável fechar o acordo sem as livrarias estarem definidas, mas algumas grandes casas, como a Ediouro, toparam testar. Sandro Silva, diretor geral da distribuidora, diz que a "aceitação está sendo grande".
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      // OS CONCORRENTES
      Boa notícia para os autores da Record interessados nos prêmios literários da Fundação Biblioteca Nacional (FBN): os títulos da editora poderão concorrer neste ano.
      No ano passado, as 74 obras inscritas pela casa foram inabilitadas por "insuficiência de ISBN". Isso aconteceu porque desde 2007 a Record praticamente não cadastrava obras no International Standard Book Number (sistema internacional de identificação de livros), e em 2012 a FBN passou a eliminar concorrentes com cadastro irregular. A biblioteca informa que a editora vem regularizando a situação perante o ISBN e que isso já foi resolvido com os livros inscritos.
      Todos os títulos habilitados devem ser divulgados depois de amanhã no site bn.br.
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      HQ George Pérez é o entrevistado do volume um da série Mestres Modernos', que a Marsupial lança no Festival Internacional de Quadrinhos; autor será homenageado no evento, que começa no próximo dia 13 em Belo Horizonte
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      Aulas de Nabokov A faceta menos conhecida do autor de "Lolita", a de professor, virá à tona com dois títulos que a Três Estrelas planeja para 2014. "Lectures on Russian Literature" e "Lectures on Literature" reúnem aulas ministradas nos anos 1940 nos EUA, tratando de nomes como Gógol, Tolstói, Jane Austen, Kafka e Proust.
      Sem comedimento "L'Extraordinaire Voyage du Fakir qui Etait Resté Coincé dans une Armoire Ikea" (a extraordinária viagem do faquir que ficou preso num armário Ikea) é o título do primeiro romance de Romain Puértolas, que a Record lança em 2014.
      Sem comedimento 2 O autor era policial na fronteira francesa, com sete romances rejeitados por editoras, quando a pequena Le Dilettante topou publicar "L'Extraordinaire Voyage...". As aventuras do faquir Ajatashatru Lavash Patel já atraíram 100 mil leitores desde agosto, serão traduzidas em 35 países e estão em disputa por quatro produtoras de cinema na França.
      Jornal pessoal Fora de catálogo há três décadas, o "Diário da Tarde", do cronista Paulo Mendes Campos (1922-1991), ganhará edição nos próximos dias pelo Instituto Moreira Salles.
      Jornal pessoal 2 Sairá no formato tabloide, idealizado pelo mineiro. É composto por 20 edições do jornal imaginário do autor, cada uma delas com oito seções fixas, tratando de futebol a literatura.
      Filtro Um raro acordo entre um site de compartilhamento não autorizado de livros e uma entidade de editores foi firmado na quinta-feira, após ação movida pela Associação Brasileira de Direitos Reprográficos (ABRD).
      Filtro 2 Pelo acordo, o site de material acadêmico Ebah, que contém mais de 2,6 milhões de usuários e armazena 181 mil títulos, terá de manter um filtro por tempo indeterminado para impedir o upload de conteúdos de livros dos associados do Sindicato Nacional de Editores de Livros (Snel) e da ABDR.

        Planeta Terra mostra novo rock paulistano em sessão vespertina

        folha de são paulo
        Criados em 2009, dois grupos em ascensão fazem no festival os maiores shows de suas carreiras
        O Terno toca indie rock voltado aos anos 60, enquanto Hatchets cria som agitado inspirado na dance music dos 90
        GIULIANA DE TOLEDODE SÃO PAULO
        A chance de estar hoje no festival Planeta Terra ao lado de nomes como Blur, Beck e Travis tem feito as bandas paulistanas O Terno e Hatchets ensaiarem muito nos últimos meses. Terem ganhado o horário menos nobre, o início da tarde, e nome estampado com menos destaque nos cartazes é apenas um detalhe para quem fará o maior show da carreira.
        "Nos últimos meses, a parte boa de pegar o metrô para ir trabalhar, é ver nosso nome no telão [de publicidade]", ri Vinícius Militão, 27, baterista do grupo Hatchets.
        "A gente já ensaiou tanto que é como se tivéssemos estudado o máximo para uma prova e agora viesse a formatura", diz ele, que desde 2009 mantém o grupo com Gabriel Militão (guitarra e vocal), Otavio Valezi (baixo), Andre Matt (sintetizador) e Paikan Gonzalez (guitarra).
        O som da banda é agitado, uma mistura de indie rock com dance music dos anos 1980 e 1990.
        Também em 2009, mas do outro lado da cidade --os Hatchets nasceram na zona leste-- um trio de amigos do colégio Santa Cruz, na zona oeste, criou O Terno, dedicado a um indie rock nostálgico, com referências dos anos 60.
        De lá para cá, Tim Bernardes (voz e guitarra, 22), Guilherme d'Almeida (baixo, 23) e Victor Chaves (bateria, 23) lançaram o disco "66"(2012) e ganharam notoriedade. A faixa-título virou um clipe que chamou atenção e fez a banda decolar nas redes sociais: uma produção de gente grande, com direito a cenas tocando embaixo d'água.
        "Mergulhamos muito e passamos frio", lembra Bernardes, que agora guarda os instrumentos como enfeite na sua casa, local usado para os ensaios da banda.
        Neste ano, para além doPlaneta Terra, seguem com agenda cheia. Participaram do novo EP de Tom Zé, "Tribunal do Feicebuqui", lançaram, na última semana, o single "Tic Tac-Harmonium" e se preparam agora para gravar novo disco no próximo mês.

        Álvaro Pereira Jr

        folha de são paulo
        Ele ainda está mal
        Em uma autobiografia cáustica, o cantor Morrissey decide contar sua história --e bota "sua" nisso
        Um senhor inglês de Manchester, chamado Steven, 54 anos, topete insistente sobre cabelos cada vez mais escassos, camisas justas comprimindo a barriga, é autor da maior prova de que as biografias não autorizadas deveriam não só ser permitidas, mas obrigatórias.
        Steven, claro, é Steven Patrick Morrissey, vocalista e compositor da banda fundamental dos anos 80, os Smiths, dono também de uma carreira solo tumultuada, mas de enorme sucesso. Cantou e compôs, como ninguém, as dores dos solitários, dos que sofrem de inaptidão para a vida.
        Morrissey, esse seu nome artístico, também é conhecido pelas atitudes duras e por um temperamento impossível.
        Mas não é bem esse o Morrissey que emerge de um livro recém-lançado nos países de língua inglesa, cujo nome já diz tudo: "Autobiography".
        Em uma sequência nem sempre conexa de eventos, "Autobiography" apresenta Morrissey como eterna vítima de desprezo e de complôs --dos colegas de banda, da Justiça, da imprensa, das gravadoras, de empresários incompetentes. Cada um desses, o autor pulveriza com brutal causticidade.
        Sim, ele resolveu contar sua história. E, em nenhuma biografia recente, o pronome possessivo "sua" teve tanta força.
        Não há divisão em capítulos, nem índice onomástico, nem preocupações cronológicas. Fica a impressão de que Morrissey sentou-se por alguns dias e escreveu a esmo sobre sua vida, conforme ia se lembrando.
        Sabe-se lá com quais estratagemas, Morrissey conseguiu que o livro saísse pela coleção "Penguin Classics", que, como o nome indica, dedica-se a grandes obras da filosofia e da literatura, de Aristóteles a Hannah Arendt, passando por Charles Dickens, Edgar Allan Poe e Primo Levi. Deve ser o único autor vivo da série.
        Fruto de caprichos, instrumento para pequenas e grandes vendetas, "Autobiography" seria, então, uma obra desprezível? Longe disso.
        Morrissey escreve tão bem, tem um domínio tão completo do ritmo da língua, do "turn of phrase", como se diz em inglês, que "Autobiography" é uma leitura, na maior parte, agradável e iluminadora.
        O maior obstáculo são as primeiras páginas, de lembranças da infância, com minúcias de dezenas de séries de TV por que ele era obcecado.
        O livro melhora muito quando começa a falar de música. Ao abordar sua banda preferida, os punks "avant la lettre" New York Dolls, Morrissey produz análises ricas. "As canções dos Dolls tratam da vida acontecendo contra nós --nunca com ou para nós." "Os Dolls eram o cortiço de todos os fracassos, não tinham nada a perder e mal conseguiam diferenciar entre noite e dia."
        David Bowie, outra de suas paixões, aparece muito. Desde quando Morrissey, aos 13 ou 14 anos, matava aula para acompanhar as passagens de som do ídolo, até o Morrissey já consagrado, que percebe a estratégia de Bowie de se aproximar de quem quer que esteja na moda e descreve o músico mais velho como alguém "que se alimenta do sangue de mamíferos vivos".
        Os Smiths são o foco da parte mais tediosa --ou mais reveladora, depende do referencial. É quando Morrissey remói o julgamento que o opôs a Mike Joyce, o baterista da banda. Nove anos depois da separação, Joyce decidiu reivindicar 25% dos direitos autorais, em vez dos 10% que ganhava.
        Joyce venceu. A sentença do juiz John Weeks foi especialmente dura com Morrissey, chamado de "desonesto, truculento e indigno de confiança".
        Aconteceu em 1996, mas o autobiógrafo não engoliu até hoje. E gasta cerca de 15% de "Autobiography" em diatribes contra os outros ex-Smiths e o sistema judicial. Maldades literárias de alta qualidade, mas um teste da paciência para o leitor.
        Já perto do fim, mais um impiedoso ritual de vingança. A vítima agora é Julie Burchill, romancista, jornalista, ex-crítica de música, conhecida pelo raciocínio rápido e pela acidez. Morrissey encontra seu igual. E pratica uma evisceração da oponente.
        Julie, que está fazendo uma entrevista com o cantor, é chamada de "cabra velha", e acusada de se vestir "como uma conselheira espiritual".
        E mais: "Deus interrompeu a formação correta de seu corpo"; "tem as pernas lamentáveis do fim da meia-idade"; "seu corpo nu provavelmente é capaz de matar plânctons marinhos no mar do Norte".
        Como se vê, Morrissey usou "Autobriography" para acertar contas com o mundo e seus tantos inimigos. Fez isso sem amarras, aparentemente sem um editor, com estilo, à sua maneira. "Auto", sem dúvida. Mas biografia?

        Kassab mandou arquivar investigação de fraudes, diz auditor

        folha de são paulo
        ALAN GRIPP
        EDITOR DE "COTIDIANO"
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        O ex-prefeito de São Paulo Gilberto Kassab (PSD) mandou arquivar um procedimento aberto para apurar denúncia de que o chefe da arrecadação de sua gestão enriqueceu de forma ilícita, afirma o próprio servidor em grampo obtido pelaFolha.
        Kassab diz que as acusações do servidor são "mentirosas" e que repudia tentativas "sórdidas" de envolver o seu nome.
        O auditor Ronilson Bezerra Rodrigues ocupava o cargo de subsecretário da Receita da administração Kassab.
        Foi preso na semana passada sob a acusação de liderar um esquema de cobrança de propina de grandes incorporadoras em troca de redução de ISS, no período em que exerceu a função.
        Em 2012, Rodrigues era alvo de um expediente interno (uma investigação preliminar) aberto a partir de uma denúncia anônima para investigar o seu elevado patrimônio --que, agora, descobre-se, é incompatível com seus rendimentos.
        Na gravação, ele relata a outro fiscal como, em sua versão, o ex-prefeito decretou o fim da apuração.
        "Vou dizer o que o corregedor [Edilson Bonfim] fez comigo. Ele pegou a declaração de bens da prefeitura, com a evolução patrimonial, foi no Kassab", conta.
        Segundo ele, a conversa entre o corregedor e Kassab lhe foi relatada pelo chefe-de-gabinete do então prefeito.
        "Isso o João Francisco Aprá, chefe-de-gabinete do Kassab, me contando. Ele falou: 'olha, a evolução é compatível, mas eu queria abrir a conta dele'. E o Kassab: 'não, não tem motivo'. E falou: 'então arquiva'. Arquivou."
        Em setembro de 2012, Rodrigues chegou a ser ouvido, mas o procedimento não chegou a resultar na abertura de uma investigação formal.
        Kassab, em nota, alega que a apuração, mesmo preliminar, foi transferida para a administração Haddad. A gestão petista diz que o procedimento se "limitou a ouvir o investigado" e que "nenhum encaminhamento foi dado à época e o processo ficou parado".
        No áudio, Rodrigues conversa com o fiscal Luiz Alexandre Cardoso de Magalhães, conhecido como "Louco". Foi Magalhães quem gravou a conversa neste ano --ela foi anexada às investigações da máfia do ISS.
        "Louco" fez um acordo de delação premiada com o Ministério Público para ter sua pena reduzida. Ele contou aos promotores do caso que gravou os fiscais que atuavam com ele para se proteger.
        No fim da gestão Kassab, o o auditor acusado de liderar o esquema de fraudes foi alvo de outra investigação, esta arquivada após parecer do então secretário de Finanças Mauro Ricardo. Na gestão Haddad, ele ocupou até junho o cargo de diretor da SPTrans.
        Colaborou FELIPE SOUZA