Primeiro romance de Marcelino Freire tem protagonista parecido com autor
Obra é narrada por um dramaturgo de sucesso que tenta desvendar a misteriosa morte de um de seus amantes
Marcelino Freire, 46, o autor do livro, nasceu em Sertânia (PE), caçula de uma família de nove filhos. No começo dos anos 1990 mudou-se para São Paulo por causa de um amor,que começou a degringolar tão logo botou os pés na rodoviária Tietê.
Sem um tostão, morou de favor na casa de um amigo e passou por vários empregos até firmar-se como escritor.
Ponto por ponto, é quase tudo idêntico à trajetória pessoal e artística de Heleno de Gusmão, o personagem principal de "Nossos Ossos".
Mas tudo isso não significa, assegura Freire, que o livro seja propriamente um romance autobiográfico. Ele prefere um termo menos literário para classificá-lo.
"O personagem tem muita coisa de mim, mas o enredo é quase todo inventado. Na verdade, é mais um livro autopornográfico", conta, entre gargalhadas. "Muitas das putarias e sacanagens que escrevi aconteceram comigo ou com meus amigos."
Heleno de Gusmão, narrador do romance, é um dramaturgo de sucesso, por volta de 60 anos. No começo da trama, ele tenta resgatar no necrotério o corpo de um jovem amante, misteriosamente assassinado, e levá-lo de volta para a família, que vive em Poço do Boi, interior de Pernambuco.
A jornada quase detetivesca de Heleno, por onde desfilam michês, atores, policiais, travesti e taxistas, acaba por compor um retrato um tanto vivo da vida paulistana.
"Nossos Ossos" é o primeiro romance de Freire, criador do festival Balada Literária, em 2006. Até então, dedicava-se às narrativas curtas, seja em seus próprios livros (entre eles "Contos Negreiros", vencedor do Prêmio Jabuti em 2006) ou nas coletâneas que organizou, como "Os Cem Menores Contos Brasileiros do Século".
O romance preserva a marca estilística de seus contos (a oralidade nordestina dos diálogos, os jogos de palavras, o humor mordaz), mas também trouxe mudanças.
"Meus contos são quase gritos, mais rock pauleira. No romance você não pode ficar berrando o tempo todo na cabeça do leitor. Então os gritos ficaram mais abafados, são músicas mais orquestradas."
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