domingo, 10 de novembro de 2013

José Simão

folha de são paulo
Ueba! O Eikex tá fudidex!
E o Bieber? O Justin Bieber é como chocalho: faz um barulho irritante, mas as crianças adoram!
Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Os predestinados! Nome do médico que batia ponto e saía voando: Jetson! Jetson Franceschi! Nome de fiscal das propinas: Almir Cançado! Receber propina "cança" mesmo! E o homem mais rico do Brasil deve ser o Pina. Tudo vai pro Pina! E o nome do novo conselheiro da OGX do Eike: Adriano Salvo Salvate! Vai salvatex o Eikex, que tá fudidex!
E a nova empresa do Eike: Calotex! E acaba de sair a nova biografia não autorizada do Eike: "Da Luma à lama". Rarará. A lama foi praga da Luma!
E o Bieber? O Justin Bieber é como chocalho: faz um barulho irritante, mas as crianças adoram! E diz que o Bieber é blackbunda. Só transgride cercado de seguranças!
E atenção! Minas sempre na vanguarda: "Prostitutas de BH inovam, fazem convênio com a Caixa e recebem com cartão de débito e crédito". É o Xotacard! Ou Trepcard!
Mais uma categoria pra atormentar: Débito ou crédito? CPF na nota? Luz acesa ou apagada? Comum ou aditivada? Gelo e limão? Serve Pepsi? Rarará!
Desvantagem do Xotacard: beijo na boca, só no débito! E o duro vai ser explicar a fatura pra patroa. Mas essas faturas vêm sempre com nomes diferentes e esquisitos: "Hortifruti São Petersburgo". "Funilaria do Baitola".
Mas um amigo foi numa casa de massagem e a fatura veio no nome da empresa: Coma Bem! Rarará. E um leitor tem uma dúvida cruel e shakespeariana: "Se brochar, estorna?". Rarará!
E o Maluf tá com a esfirra suja! "Paulo Maluf condenado e com ficha suja". E ele: "É mentira! Eu lavei a ficha junto com o dinheiro". Ficha lavada! O Maluf tem ficha lavada!
E adoro quando ele diz: "Eu tirei os bandidos da rua". E botou todos na prefeitura! Rarará. E ainda faz uma ameaça nuclear: "Vou viver 200 anos". Vamos comemorar o bicentenário do Maluf. Quando ele será condenado pela zilionésima vez. E o Ceni ainda será o goleiro do São Paulo.
E um leitor me disse que o Maluf não vai morrer: vai transitar em julgado! Rarará! E outra coisa: não quero o Maluf inelegível! Protesto! Eleição sem o Maluf não tem graça!
Tem um amigo que ainda vota no Maluf por três motivos: rouba, mas faz; mente, mas não convence, e é culpado, mas ninguém prova! E pra cada viaduto, o Maluf constrói dez desviadutos. Rarará.
Nóis sofre, mas nóis goza!
Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

    Mauricio Stycer

    folha de são paulo
    'Estratégias de transmidiação'
    Estudiosos tentam entender como a narrativa de uma novela pode ser desenvolvida fora da TV
    O tema principal do 30º capítulo da novela "Cheias de Charme", exibido num sábado, 19 de maio de 2012, foi o clipe "Vida de Empreguete", no qual o trio de protagonistas canta, com muito humor, as agruras do cotidiano de uma empregada doméstica.
    Sem que elas saibam, uma rival posta o vídeo na internet antes do seu lançamento oficial, produzindo curiosidade geral. Inúmeros personagens da trama são vistos assistindo ao clipe diante do computador. Até que, ao final do capítulo, o espectador vê na tela da televisão o endereço on-line onde poderia encontrar o vídeo.
    Na segunda-feira, 21 de maio, quando finalmente foi exibido no 31º capítulo da novela, o clipe já havia sido visualizado 2 milhões de vezes no site da emissora. A estratégia, chamada de "transmidiação", não era inédita na ocasião, mas é considerada a mais ousada e bem-sucedida experiência do gênero já realizada na Globo.
    Pela primeira vez, um conteúdo original essencial para a trama "nasceu" fora de seu habitat principal. Diferentemente de outras ações, marcadamente promocionais, esta permitiu, de fato, que a trama avançasse em outra mídia, produzindo o efeito, para usar o jargão dos comunicólogos, de uma "narrativa transmídia".
    Nos capítulos seguintes, à medida que o vídeo continuava despertando interesse (passou de 10 milhões de visualizações), os personagens comentavam o assunto, citando números reais e fazendo com que o público, de certa forma, se tornasse também participante da trama.
    Esta experiência em "Cheias de Charme" orientou as principais reflexões feitas em um encontro realizado esta semana na USP pelo Centro de Estudos de Telenovela, sediado na Escola de Comunicações e Artes (ECA), e pela Globo Universidade, sob o título "Estratégias de Transmidiação na Ficção Televisiva Brasileira".
    Por trás do nome pomposo do encontro, e também do livro lançado na ocasião, são visíveis as dificuldades dos pesquisadores para, até mesmo, definir com precisão o próprio conceito principal.
    A exploração comercial de conteúdos de uma mídia em outras tem sido feita há muito tempo pelos publicitários, em ações chamadas "crossmedia". Estas seriam operações destinadas à "propagação" de um mesmo conteúdo, ainda que com diferentes roupagens, com objetivo meramente promocional.
    A ação em "Cheias de Charme" mostraria uma possibilidade de "expansão" de um determinado conteúdo. Tem a função, obviamente, de reforçar os laços do espectador com a novela, mas vai além, ao exibir um conteúdo original em outro ambiente.
    Toda novela da Globo tem, desde 2010, um "produtor de conteúdo de transmídia", encarregado de propor ações paralelas à trama em outras mídias. Segundo Tiago Campany, coordenador de multiplataforma da Globo, nada é feito sem a aprovação dos autores e diretores da novela.
    Ações mais corriqueiras incluem a criação de blogs de personagens, nos quais são discutidos temas correlatos às tramas, como o de Melina (Mayana Moura) em "Passione" e o de Sueli Pedrosa (Tuna Dwek) em "Sangue Bom".
    Ainda que não afete diretamente o andamento da novela, este tipo de experiência alarga o conceito de autoria. O produtor de conteúdo "transmídia" passa a ser, ele também, coautor da obra. A ampliação deste modelo abre a possibilidade de se falar em "autoria corporativa" de uma novela.

      Ferreira Gullar

      folha de são paulo
      Frases de efeito
      Quando digo que a arte existe porque a vida não basta, estou dizendo que a arte torna a vida mais rica
      Muitos anos atrás --e bota anos nisso-- escrevi uma série de aforismos sobre a crase e os publiquei no suplemento literário do extinto "Diário de Notícias", do Rio de Janeiro.
      Um deles se tornou muito conhecido, a ponto de estudantes em greve, em Curitiba, o terem escolhido como lema de seu movimento. Estenderam uma faixa no refeitório da faculdade: "A crase não foi feita para humilhar ninguém".
      Não demorou muito, apareceu alguém para dizer que aquela frase era de Machado de Assis. Logo surgiu outro que a atribuiu a Carlos Drummond de Andrade. Até a atribuíram a Rubem Braga, que, numa de suas crônicas, desfez o equívoco: a frase não é minha nem de Machado nem de Drummond; é do poeta Ferreira Gullar.
      Não sou um frasista, muito embora algumas frases minhas tenham se tornado conhecidas. É o caso da que diz assim: "Não quero ter razão, quero ser feliz". Até agora ainda não apareceu ninguém para atribuí-la a algum escritor ou pensador famosos.
      É verdade, porém, que já não sou o dono dela. Foi pelo menos o que pensei quando Cláudia, minha companheira, me trouxe de presente, no dia de meu aniversário, um copo que comprara numa loja de Ipanema: nela estava escrita a tal frase.
      Eu a formulara, pela primeira vez, numa palestra que fiz na Flip. Falando sobre o conflito entre palestinos e israelenses, observei que ambos os lados alegam estarem com a razão e, enquanto isso, vêm se matando há mais de 50 anos. Acho que eles deviam parar de ter razão --disse eu então-- e fazer um acordo de paz. E contei também como, certo dia, minha namorada veio me encontrar para irmos ao cinema, mas começou uma discussão entre nós, cujo desfecho foi ela pegar a bolsa e ir embora. Eu fiquei ali, cheio de razão, mas triste para cacete. Então disse a mim mesmo: o que importa não é ter razão, mas ser feliz.
      Veja bem, quando digo que não sou um frasista é porque não vivo de fato preocupado em fazer frases de efeito. De fato, o que procuro é formular de maneira mais sintética e clara possível, o que se aprende com a vida. De modo geral, as frases de efeito, quase sempre expressam, quase sempre, uma verdade aparente ou parcial, porque o que o frasista procura, menos que a verdade, é o efeito. Modéstia à parte, não é o meu caso.
      Por exemplo, outra frase minha que ganhou certa popularidade diz assim: "A arte existe porque a vida não basta". Não se trata de uma sacação de feito e, sim, conforme creio, de um modo meu de ver a arte como algo que acrescenta à vida o que gostaríamos que ela tivesse.
      E não é que descobriram que essa frase já tinha sido formulada por Fernando Pessoa? Confesso que não sabia disso, mas é natural que não soubesse porque o que li do grande poeta português foram os poemas.
      De sua prosa, lia muito pouco, mesmo porque, se admiro ilimitadamente o poeta que ele é, não concordo com sua visão de mundo, seja espiritual, seja política. Mas fui para a internet e terminei encontrando a frase do poeta, que diz assim: "A literatura, como arte, é uma confissão de que a vida não basta". É, sem dúvida, muito parecida com a minha, mas não diz a mesma coisa.
      A diferença decorre precisamente de que a minha visão de mundo não coincide com a de Pessoa: ele era espiritualista e eu, materialista.
      Quando ele diz que a arte é "uma confissão de que a vida não basta", o que está afirmando é que o significado da vida não se limita à realidade material do mundo; essa realidade não lhe basta, ela só se completa com a dimensão espiritual. A arte e a literatura --particularmente a dele, Pessoa-- são uma confissão de que a vida só se completa no plano espiritual. A realidade material não basta.
      Minha visão é outra e, portanto, outro o significado de minha frase. Quando digo que a arte existe porque a vida não basta, estou na verdade dizendo que a arte torna a vida mais rica, mais fascinante, mais encantadora. Mas essa frase não surgiu do nada.
      Na verdade, acredito que o objetivo de arte não é, como se diz, revelar a realidade mas, sim, reinventá-la. Quando Van Gogh pinta o quadro "Noite Estrelada", está acrescentando aos milhões de noites reais, mais uma que só existe em sua tela. E reinventa, assim, a noite real.

        Mônica Bergamo

        folha de são paulo

        Luiza Brunet chega aos 51 apaixonada e disposta a tirar o silicone dos seios

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        A foto foi feita por Bruce Weber, badalado fotógrafo de moda, no Copacabana Palace, em 1986. Hoje, a imagem da morena de seios à mostra repousa emoldurada em um apartamento em Nova York.
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        É um dos retratos mais famosos de Luiza Brunet, colocado à venda em 2008 na Christie's, tradicional casa de leilões. O então marido da modelo, Armando Fernandez, via os lances pela internet, mas não entrou no páreo. Havia um "gringo" disposto a pagar muito pelo clique alçado à condição de obra de arte.
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        O dono do lance de US$ 50 mil (cerca de R$ 110 mil) era o empresário gaúcho Lirio Parisotto, 60, dono da Videolar, com faturamento de US$ 1,4 bilhão. Três anos depois do leilão, ele arremataria também o coração da modelo.
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        Luiza Brunet cansou de ser sexy

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        Eduardo Knapp/Folhapress
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        Aos 51 anos, Luiza Brunet diz que já tá transcendeu ao rótulo de "sex symbol" e anuncia que vai tirar as próteses de silicone dos seios
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        "Comprei várias fotos históricas. Escolhi a da Luiza pela beleza brejeira de um ícone brasileiro", relata ele à repórter Eliane Trindade. "Nem imaginava que um dia iria namorar a moça."
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        Na sala do apartamento dele nos Jardins, em SP -famoso pela adega de 30 m² com mais de 10 mil garrafas de vinho-, ela fala dos prazeres de uma relação madura. "Era pouco provável, na minha idade, conhecer alguém de quem gostasse realmente e que fosse disponível. É maravilhoso estar apaixonada e viver um amor na maturidade."
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        O namoro se firmou na ponte área -ela mora no Rio com o filho caçula, Antônio, 16. O casal se conheceu em um jantar no Copacabana Palace, cenário da foto icônica.
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        Aos 51 anos, uma das mulheres mais desejadas do país diz ter ficado cerca de dois anos sem sexo, após se divorciar em 2008. "Quando falei isso, foi uma loucura. Fizeram reportagens de comportamento, ouviram especialista", conta, rindo.
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        "A questão não é conseguir sexo. Por que a fila tem que andar rapidinho?" A dificuldade não era parceiro, diz, mas virar a página após 24 anos ao lado de Armando, pai de seus dois filhos. "Foi doloroso aprender a estar só. Sentia falta até das discussões."
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        Precisou se reestruturar. Cortou o cabelo curto, fez regime. "Estava largada", admite. Não mais. Ela se mantém nos 64 kg em 1,76 m. Já pesou 58 kg. "Não preciso mais estar tão magra."
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        É empresária de si mesma. O perfume que leva seu nome vendeu 3 milhões de unidades. Aposentou-se como rainha de bateria no Carnaval, mas continua na ativa como modelo em um mercado que cobra juventude. Relata comentários agressivos na internet em fotos nas quais aparecem as marcas inevitáveis do tempo. "Alguns são agressivos, me chamam de velha."
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        Não esconde idade. "Olho fotos minhas com 20, 30 anos, e gosto mais de mim hoje. Não tenho nenhum problema com envelhecimento. Já a morte me assusta. Perder a lucidez me apavora."
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        Luiza quer se despir da pele de "sex symbol". "Já transcendi a essa história de símbolo sexual." Vai retirar as próteses de silicone dos seios (170 ml cada uma). "Estou em busca de outras coisas e quero uma estética mais natural, menos sensualidade."
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        Posou nua pela última vez em 1986 para a revista masculina "Playboy".
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        "Eu me sentia super à vontade", diz. "Mas o nu era mais discreto. Eu não posaria hoje de jeito nenhum. É muita exposição. As fotos estão na internet na mesma hora."
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        O empresário Humberto Saade, dono da grife Dijon, a descobriu quando fazia um ensaio sensual para a revista "Ele & Ela". Nascia La Brunet (sobrenome do engenheiro com quem foi casada dos 16 aos 22 anos). Nas imagens publicitárias dos anos 1980, ela aparece sempre sem blusa, ao lado do patrão.
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        Ela nasceu Luiza Botelho da Silva, no Mato Grosso do Sul, e foi criada em um subúrbio do Rio. Queria ser cabeleireira. "Era o meu horizonte." É a segunda de oito irmãos (dois morreram pequenos). Aos 12 anos, virou babá. "Cuidava de duas meninas, de 4 e 6 anos. Éramos três crianças, mas eu me comportava como uma senhora. Me sentia importante por ajudar em casa."
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        Sentia-se preparada para as ciladas da futura carreira. "Sobrevivi como modelo porque nunca vivi dentro do mundo da moda. Trabalhava e voltava para minha família."
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        Prostituição e drogas estavam no cardápio. "É difícil fazer as coisas funcionarem e não se corromper", diz Luiza. "Existe todo tipo de assédio. Propostas indecorosas e decorosas. Nem sempre de dinheiro. Mas nunca passou pela minha cabeça, em nenhuma fase, ter vida boa em troca de favores sexuais."
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        Passou a cartilha à filha Yasmin, 25, também modelo. "A cobrança era terrível. Falavam: 'Sua mãe é maravilhosa, se você chegar aos pés dela...'. É como se ela tivesse obrigação de ser melhor do que eu." A garota decidiu morar em Nova York. "Foi uma forma de sair da sombra e resgatar a autoestima."
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        Luiza Brunet leva gravado no corpo o nome das duas crias. Fez a primeira tatuagem no braço, aos 39 anos. A princípio, os desenhos (fez outros no quadril e no tornozelo) serviram para disfarçar manchas de vitiligo. "É uma doença autoimune que aflorou por conta de passagens da minha vida." Evita entrar em detalhes. "Momentos difíceis todos enfrentam."
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        Os primeiros sinais de despigmentação da pele apareceram na infância. Chegou a tentar um tratamento famoso em Cuba, mas não deu certo. Aprendeu a conviver com a doença e a controlá-la. "O estresse é sempre um gatilho. Se estou menos estressada e me cuido, não se desenvolve." As marcas não a impediram de fechar importantes contratos com empresas de cosméticos.
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        No dia a dia e nas fotos, usa creme autobronzeante para camuflar as manchas. Segue a linha natural na hora de apelar para métodos de rejuvenescimento. Fez plástica no rosto aos 47 anos. "Um minilifiting. Nem perceberam."
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        Dá risada das histórias da vida. Conta, às gargalhadas, episódios como o dia em que foi apresentada ao ex-presidente José Sarney, em Búzios. "Estava fazendo faxina. Meu vizinho apareceu. Abri a porta e dei de cara com o Sarney." Detalhe: estava só com a parte de baixo do biquíni. E foi de topless que cumprimentou as visitas. "Era como ficava em casa na praia."
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        Foi apresentada a Pelé junto com Xuxa, quando o trio posou para uma revista. "Nos conhecemos no mesmo dia. Ele sempre xavecando todo mundo. Acabou saindo com a loura", brinca Luiza.
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        As duas eram amigas, mas se distanciaram quando Xuxa virou um fenômeno na TV. Luiza agora também está na Globo, na série "Correio Feminino", do "Fantástico". Foi escolhida pelo diretor Luiz Fernando Carvalho para encarnar uma das mulheres que dão vida às crônicas de Clarice Lispector. "Viver o universo de uma mulher madura me deixou segura."
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        Após duas novelas e participações especiais, ela é crítica quanto à própria atuação. "Eu era totalmente despreparada para fazer novela." Trauma das resenhas impiedosas ao seu papel em "Os Trapalhões no Reino do Futebol" (1986). "Me destruíram", diverte-se. "Morro de vergonha. Estava muito ruim mesmo."
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        Agora finaliza a autobiografia, que lançará em breve. "Foi difícil me abrir, mas nunca escondi minha origem, meus defeitos, minhas ansiedades. Acho legal compartilhar. Descobri faz tempo que a gente só aprende na dor, na porrada, na crítica", diz a Luiza na versão 5.0.
        Mônica Bergamo
        Mônica Bergamo, jornalista, assina coluna diária publicada na página 2 da versão impressa de "Ilustrada". Traz informações sobre diversas áreas, entre elas, política, moda e coluna social. Está na Folha desde abril de 1999.

        Elio Gaspari

        folha de são paulo
        A internet livre incomoda o governo
        Sempre que Brasília mexe com a rede há um magano querendo ganhar dinheiro à custa do atraso tecnológico
        Misturando ignorância, prepotência e marquetagem, o comissariado meteu-se numa salada de iniciativas que envolvem a liberdade da internet. Produziu ridículos, empulhações, lorotas e, por incrível que pareça, uma boa ideia.
        O ridículo: doutora Dilma propôs que a internet seja colocada sob algum tipo de supervisão da ONU. Se isso acontecer, a ONU criará a ONUNet, que funcionará em Genebra, dirigida por um marroquino, abrindo-se a quinta representação de Pindorama naquela aprazível cidade.
        A empulhação: o comissariado quer que os provedores de conexões e de aplicações guardem seus dados no Brasil. Disso poderá resultar apenas a criação de cartórios de armazenamento a custos exorbitantes. Acreditar que essa medida contém a espionagem estrangeira é pura parolagem. Estimula apenas a xeretagem e os controles nacionais. Toda vez que o governo se mete com a internet há um magano na outra ponta querendo ganhar dinheiro com o atraso tecnológico. Gente que sonha com a boa vida dos anos 80, quando era mais fácil entrar no Brasil com cocaína do que com um computador.
        Lorotas: os doutores falam que estão votando um "Marco Civil para a internet". De civil ele não tem nada. É governamental, e inútil.
        A boa ideia: no meio dessa salada ressurgiu a proposta de não se usar mais softwares fechados como o Windows da Microsoft na rede pública. A Viúva migraria para sistemas abertos, gratuitos, como o Linux. Essa ideia chegou ao Planalto em 2003, quando Lula tomou posse. Foi abatida a tiros pelas conexões comissárias.
        Nada do que os doutores estão propondo acontecerá, simplesmente porque a internet é maior que a onipotência de Brasília. Se a doutora Dilma começar um faxina dos softwares fechados comprados pelo governo, fará um grande serviço, comparável ao do tucano Sérgio Motta que, nos anos 90, atropelou os teletecas que pretendiam transformar a estatal de telecomunicações num provedor exclusivo de internet.
        OS GUINLE QUEREM UM PEDAÇO DE CUMBICA
        O repórter Juliano Basile revelou que a família Guinle entrou na Justiça buscando uma indenização pelo uso das terras da Fazenda Cumbica, que doou à Viúva em 1940. São 9,7 milhões de metros quadrados onde está hoje o Aeroporto Internacional de Guarulhos. Coisa de R$ 5 bilhões.
        A área foi doada para proteger a segurança nacional durante a Segunda Guerra Mundial, para a construção de uma base aérea. Como agora a propriedade está sendo privatizada, os Guinle querem de volta o seu.
        Caberá à Justiça decidir e, de fato, é esquisito a União ganhar um terreno para fazer uma coisa e depois vendê-lo para que outro empresário faça outra. Apesar disso, a guerra acabou em 1945. Os Guinle souberam disso. Segundo seus advogados, a base aérea era necessária diante dos "receios de bombardeios no Brasil (que) se confirmaram de fato, em 1942, com a derrubada de embarcações brasileiras na costa do Atlântico por nazistas". Devagar. Os navios não foram derrubados, mas afundados por submarinos alemães e italianos, muitos deles longe do litoral brasileiro.
        Na mesma época a ditadura do Estado Novo avançou sobre terras da Ilha do Governador, no Rio, onde está hoje o aeroporto do Galeão. Ao contrário do que sucedeu com a propriedade dos Guinle, que foi doada, as do Galeão foram tomadas, abrindo-se um litígio que durou até 2011, quando o Superior Tribunal de Justiça liquidou o pleito dos detentores de precatórios. Eles reclamavam uma indenização de R$ 17 bilhões. A compra e venda desses precatórios, que a essa altura não estavam mais nas mãos dos donos originais das terras, confunde-se com grandes e tenebrosas manobras da plutocracia carioca.
        ATRASO E PROGRESSO
        Enquanto em Pindorama meia dúzia de artistas quer bloquear a livre publicação de biografias e o governo quer meter o dedo na liberdade da internet, saiu um grande livro, infelizmente em inglês, que mexe com as duas coisas. É "The Everything Store: Jeff Bezos and the Age of Amazon" ("A Loja de Tudo: Jeff Bezos e a Era da Amazon"), do jornalista Brad Stone.
        É uma grande aula de administração de empresas e a biografia de um visionário. Conta como Bezos construiu a maior loja virtual do mundo, quantas besteiras fez e como virou um ícone perseguindo uma só ideia: o poder da rede.
        Na parte biográfica, Stone indica que convivem nele um Doctor Jobs e um Mister Eike. Até hoje, felizmente, prevaleceu o lado Jobs.
        O livro caiu mal em casa e a mulher de Bezos descascou-o, apontando alguns erros factuais. Ela fez isso na seção de críticas de leitores da Amazon, onde ele é vendido a US$ 10,99 e tem quatro estrelas numa cotação de até cinco.
        Para quem está interessado no futuro, Stone mostra que Bezos prepara-se, em silêncio, para entrar no mundo das impressoras em 3-D. Quando essa tecnologia estiver de pé, um sujeito em Imperatriz, no Maranhão, poderá comprar um jogo de pratos de um designer sueco, imprimindo as peças em casa. Fará isso baixando as louças virtuais da Amazon. (Já se fazem revólveres para impressoras 3-D.)
        Stone descobriu onde está o pai biológico de Bezos, que deixou a família em 1968, quando o garoto tinha quatro anos. Ele luta pela vida numa loja de bicicletas. Como Steve Jobs, Bezos também não quis conversa com o pai.
        BOA NOTÍCIA
        O presidente da Fiesp, Paulo Skaf, afastou-se da maldição do "personal elevator". Até algum tempo atrás, o primeiro elevador da esquerda da entrada do monolito da avenida Paulista era bloqueado quando ele se aproximava do prédio para subir (sem paradas) até o 14º andar. Candidato ao governo de São Paulo, Skaf passou a usar os elevadores da mesma forma que os outros bípedes. "Personal elevator" dá peso.
        HUMORES
        O prefeito Fernando Haddad sabe que nunca teve a boa vontade da doutora Dilma, nem quando era ministro da Educação, muito menos depois de ter tentando virar ferrabrás (em Paris) quando começaram as manifestações de julho. Agora que faz campanha para renegociar a dívida da cidade, trata-se de medir o tamanho da má vontade.
        EREMILDO, O IDIOTA
        Eremildo é um idiota e entende que as polícias exijam que manifestantes mascarados mostrem o rosto. O que o cretino não entende é que policiais escoltem delinquentes que estão presos por corrupção enquanto escondem os rostos, a caminho do camburão. O cretino acha razoável que o larápio saia mascarado da delegacia, mas se quiser ir a uma manifestação contra as roubalheiras de que participou, deverá mostrar o rosto.
        AMIGO DE FÉ
        Roberto Carlos é um "amigo de fé, irmão, camarada". Bloqueou a publicação de dois livros e tentou barrar um trabalho acadêmico sobre a Jovem Guarda. Quando seu projeto de censura virou vinagre, pulou do barco deixando Chico Buarque, Caetano Veloso e Gilberto Gil na frigideira.

          Janio de Freitas

          Para que as ruas salvem
          FOLHA DE SÃO PAULO
          Manifestações precisam continuar --são sinal de vida da sociedade e legítimo exercício da cidadania
          As manifestações de reivindicação e protesto precisam ser salvas e continuar. São o sinal de vida da sociedade e o mais legítimo e direto exercício da cidadania, muito mais do que o voto. Mas, ainda mal saídas da longa apatia, foram inibidas pela violência sem ideia dos "black blocs" e seus imitadores. A primeira decisão da força-tarefa composta para esvaziar tal violência é um início inteligente e promissor: o Pronto Atendimento Judicial, ativado a cada acesso da violência para o pronto exame de prisões, excessos e queixas.
          Além da comprovação histórica de que as sociedades se aprimoram de baixo para cima, estes anos de omissão na busca de direitos mostraram bem que os brasileiros, e o próprio país, não podem contar com o Legislativo, que é onde deveriam forjar-se os rumos e as regras do aprimoramento social e nacional. O Congresso é assim porque os partidos são assim, sem representatividade. Contanto que ninguém grite "o povo unido jamais será vencido" (toc-toc-toc), o que resta aos segmentos sociais é a participação por iniciativa própria ou a frustração.
          A participação judicial imediata só exige, para não produzir também um efeito negativo, que sua organização pelos Tribunais de Justiça estaduais evite, com métodos hábeis de ação, intimidar as polícias muito mais do que ao "black bloc". Desequilíbrio assim é que pode neutralizar a eficiência da medida promissora. A propósito: comparações com os juizados nos estádios de futebol não se justificam, tão diferentes são as condições em geral.
          A força-tarefa que começou a procura de soluções democráticas contra a deturpação violenta das manifestações é integrada pelo ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo; pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot; desembargador Flávio Stragelo, do Conselho Nacional de Justiça; Cláudio Pereira de Souza, da OAB; José Mariano Beltrame e Fernando Grella, secretários de Segurança do Rio e de São Paulo. Se depender da qualificação pessoal dos integrantes, o início promete desdobrar-se com o mesmo ou melhor nível. A população precisa e merece.
          BOCA DO CRIME
          Não me ponho aqui só como vítima de leite gaúcho criminosamente adulterado, quando deveria ser apenas leite integral com baixo teor de lactose. Muitos carentes da enzima lactase (na França, são estimados em metade da população, mas aqui não há estimativa) por certo sofreram danos variados, sem sequer imaginar a causa no leite a que foi adicionado formol, para aumentar a quantidade. No meu caso, descobri por excesso de curiosidade, ao saber qual era a usina produtora e conferir as caixas compradas.
          É assustadora a série de adulterações comprovadas no último meio ano. Além do formol, foram adições, por diferentes fornecedores de leite, de álcool etílico, bicarbonato de sódio, soda cáustica e, agora, água oxigenada para aproveitar leite em deterioração (o juiz local negou a prisão temporária do responsável por este crime).
          É inestimável a quantidade de consequências graves para consumidores, entre problemas novos, agravamentos e talvez até morte inexplicada. Está criada uma operação especial do Ministério Público estadual, mas é pouco para a dimensão já constatada do crime de intermediários de leite para as usinas (fábricas e marcas). Os ministérios da Agricultura e da Saúde estão devendo sua entrada na operação, para intensificá-la. Até agora não deram nem uma palavra a respeito.
          O exame dos azeites ditos extravirgens desvendou outra burla. De 19, só oito são o que dizem nos rótulos: Carrefour, Qualitá, Cardeal, Olivas do Sul, Violetera, Vila Flor, Cocinero e Andorinha. Alguns dos fajutos são dos mais famosos e caros.
          FORA DA LEI
          A Câmara vota nesta semana, provavelmente para aprovar, a invalidação do decidido pelo Tribunal Superior Eleitoral para proporcionar as bancadas à população dos Estados, apurada no Censo de 2010. Os parlamentares querem manter, nas próximas eleições, as bancadas atuais. Pretendem, portanto, a transgressão do princípio básico da proporcionalidade, que a legislação assegura até o limite de 70 (São Paulo) para evitar predomínio destorsivo.

            Suzana Singer - Folha Ombudsman

            folha de são paulo
            OMBUDSMAN
            Sujeito oculto
            A manchete de sexta-feira passada da Folha --"Prefeito sabia de tudo, diz fiscal preso, em gravação"-- induzia o leitor a erro. O prefeito de São Paulo é Fernando Haddad, mas a referência no grampo era a seu antecessor, Gilberto Kassab.
            O título partiu da transcrição de um telefonema em que o auditor fiscal Ronilson Bezerra Rodrigues dizia que deveriam ser convocados para depor "o secretário e o prefeito com quem trabalhei", porque "eles tinham ciência de tudo".
            Ronilson foi subsecretário da Receita no governo Kassab e, na atual gestão, foi diretor na SPTrans de fevereiro até junho.
            O fiscal não cita nominalmente o ex-prefeito, mas é fácil deduzir de quem ele está falando. Foi na gestão anterior que Ronilson ocupou o cargo de zelar pela arrecadação de impostos, o que lhe teria possibilitado atuar na "máfia do ISS" --esquema de cobrança de propina que pode ter causado um prejuízo de R$ 500 milhões aos cofres da cidade.
            "A Folha optou por transcrever a declaração do fiscal de forma literal, já que ele não citou nenhum nome e exerceu funções de confiança tanto na gestão atual como na anterior", diz a Secretaria de Redação.
            O excesso de zelo ficou só na manchete, já que a hipótese de que a frase do fiscal pudesse ser uma referência a Haddad não foi explorada na reportagem. O "outro lado" foi apenas com Kassab, que classificou as declarações de falsas, mas não cogitou que o fiscal estivesse falando de outra pessoa.
            O jornal foi mais realista que o rei, numa cobertura bem delicada. O escândalo do desvio de impostos, que veio à tona no fim de outubro, tinha tudo para render apenas dividendos ao atual prefeito. Embora a investigação tenha começado com Kassab, foi Haddad que revelou a quadrilha. Bastaram, porém, três dias para que surgisse um grampo citando Antonio Donato, secretário de Governo.
            Como a investigação continua, é provável que apareçam novas escutas. Elas não são prova de culpa e devem ser tratadas com todo o cuidado, mas sem distorções.
            SUJEITO INCRÍVEL
            Política fiscal, máfia do ISS, espionagem brasileira... nada disso superou o "rei do camarote" nas redes sociais. Para quem não acompanhou a história: a capa da "Veja São Paulo" da semana passada trazia o empresário Alexander de Almeida, 39, que gasta até R$ 50 mil em uma noitada.
            O vídeo em que ele desfia os dez mandamentos para se dar bem --de pedir muita champanhe, mesmo gostando de vodca, a convidar famosos para "agregar valor" ao camarote-- teve mais de 4 milhões de visualizações.
            A reportagem provocou indignação, seguida de incredulidade. Primeiro, condenou-se a revista por dar destaque à frivolidade, a "esbanjadores" que "não contribuem para uma sociedade melhor".
            É uma crítica compreensível, mas não dá para negar a enorme curiosidade que cerca a vida dos ricos. Além disso, num país de tamanha desigualdade, não deixa de ser relevante expor os extremos.
            O vídeo, embora não tenha uma palavra de crítica, faz de Alexander um boçal. Ele aparece dentro do closet recitando nomes de grifes, estacionando sua Ferrari na rua e dançando apoiado em um segurança. A trilha sonora é "The Super Rich Kids" (Frank Ocean). Nenhum repórter aparece, como se tivessem simplesmente ligado a câmara, mas é evidente que alguém orientou a entrevista com um gostinho de veneno nos lábios.
            No final, o empresário atribui possíveis críticas à "inveja". A conta, porém, veio bem mais alta. Em um lance que só é possível no admirável mundo novo da internet, Alexander tentou desmentir a reportagem fazendo-se passar por um "meme" de si mesmo. À rádio Bandeirantes disse que aquilo não era "real", mas "uma brincadeira". Não confirmou nem o próprio nome.
            Rapidamente se espalhou a versão de que a "Vejinha" tinha sido "trolada", enganada por um personagem inventado pelo "Pânico". A revista respondeu no seu site, provando que a reportagem era verdadeira e que "qualquer semelhança com pessoas reais não era mera coincidência". O rol de problemas de Alexander deve ter crescido, porque a revista revelou que ele perdeu clientes, não aguenta mais ser "zoado" e está com medo de sequestro.
            Alexander era o estereótipo tão perfeito do que se acredita que seja um novo-rico que muita gente duvidou que fosse verdade. Na mesma semana, o colunista Antonio Prata criou na Folha um estereótipo de direita, com um discurso extremamente caricato, e muita gente acreditou que fosse verdade. Ele precisou explicar que era ironia.
            Tempos estranhos estes em que a imprensa tem que ser explícita sobre o que é real e o que é ficção.