sexta-feira, 15 de novembro de 2013

Tati Bernardi

folha de são paulo

Conexões de amor sobre IP

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- Eu fui ao dermatologista e ele achou estranha uma pinta da minha perna e arrancou. Até hoje não saiu o resultado. Tô meio nervosa.
- Eu tava atrasado e corri tanto que desmaiei. Era um subidão...eu tô sempre atrasado.
- Eu adoro batata. Eu quero comer batata o tempo todo, pro resto da vida. Com queijo. Eu adoro queijo e batata.
- Eu deveria ler mais. Eu sou um cara meio sozinho, deveria ler mais.
- O Lobo da Estepe é sobre um cara solitário. Todo cara solitário é na verdade um egocêntrico... talvez você só consiga ler o que fala sobre você. O excêntrico é o egocêntrico que se excedeu. Eu sempre me apaixono por falsos fofos.
- Eu não sou falso fofo. Eu sou falso e sou fofo, mas não um falso fofo.
- É sempre por esses tipos que eu me apaixono.
- Eu adoro Red Hot.
- Aff...já era né? Eu adoro Hot Chip.
- Preciso ir.
- Ontem eu sai com um cara. Ele tem uma tatuagem de nuvem na nuca. Achei que o cheiro forte que eu sentia era cheiro de homem, mas comecei a perceber que ele ia muitas vezes ao banheiro do restaurante e nunca pedia comida. Aquele cheiro era de pó. Gente que cheira tem um cheiro de azedo perto do coração.
- Preciso mesmo ir. Depois te chamo.
- O tempo do outro demora uma eternidade. O tempo do outro demora duzentas mil vezes o espaço que eu dou para o tempo do outro. Eu preciso ver a outra pessoa para saber se de fato gosto dela, mas não consigo. Minha ânsia de amar é tão grande que me apaixonei criança por um vulto e até hoje fico pegando coisas reais para tentar preenchê-lo, mas o amor vive vazio. É como se eu tivesse te comprado, ou melhor: te inventado. A pior vingança de quem ousa inventar um amor é o personagem criar vida própria. Eu não respeito você. Não me importa sua hesitação. Qualquer tempo seu longe de mim é uma ofensa pessoal.
- Eu só tô te conhecendo, entende? Foi legal e tudo. Mas amor? Quem é que ama em uma semana?
- Eu
- Você acha que me ama, mas você não ta me vendo. Você tem uma sala na sua cabeça. Uma sala com um homem sentado no centro dela. Esse homem tem uma xícara de chá e um quadro e um tapete. Você não ama, você faz entrevista de ator pra cena que tem na sua cabeça. Você quer saber exatamente o que eu penso desde que seja exatamente o que você quer que eu pense. Você me chama de frio mas frieza é desconsiderar totalmente a outra pessoa como você faz. É desrespeitar o tempo dessa pessoa. É impor a sua realidade a essa pessoa. A maior vingança de um personagem é ter vida real e eu tenho vida real e você não suporta essa vingança. Toda a sua inteligência não foi capaz de colocar roteiro no mundo e então você anda por aí com suas olheiras e enjôos e medos e dores nas costas e cinismos e maldades. Como se todo mundo te devesse desculpas por não estar se movimentando de acordo com a sua direção. O amor é bem mais humilde que isso. Isso é desejo e desejo torto. E porque ainda não é amor, você cava a terra como um cachorro que precisa esconder o ossinho da dor. Você quer roer eternamente o seu vazio escondido no lugar onde sua flor idealizada nunca nasce e nem nunca vai nascer.
- Tá, depois me chama então.
tati bernardi
Tati Bernardi é escritora, redatora, roteirista de cinema e televisão e tem quatro livros publicados.

Ação contra pedofilia leva ao resgate de 386 crianças

folha de são paulo
Operação prendeu 348 pessoas em vários países
DAS AGÊNCIAS DE NOTÍCIASUma grande investigação internacional contra a pornografia infantil e a pedofilia levou ao resgate de 386 crianças e à prisão de 348 pessoas, informou ontem a polícia canadense.
O projeto Spade é uma das maiores operações já realizada, segundo a polícia da cidade de Toronto.
Investigadores e policiais apreenderam centenas de milhares de vídeos que mostram atos sexuais degradantes contra crianças muito jovens, "alguns dos quais são os piores que eles já viram", disse a inspetora Joanna Beaven-Desjardins.
Foram presas 108 pessoas no Canadá, 76 nos EUA e 65 na Austrália, onde seis crianças foram resgatadas.
Professores, médicos e atores estão entre os presos.
As investigações começaram em 2010, em 50 países, como Canadá, Espanha, México, EUA, Grécia e Noruega.

    Barbara Gancia

    folha de são paulo

    Abriram-se as comportas

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    Qualquer um que se disponha a discutir a relação entre a gestão Haddad e eventuais delitos de corrupção ou que queira traçar uma conexão entre atos es­púrios e a administração Kassab deve respirar fundo e fazer uma pausa para reflexão.
    São Paulo é ingovernável, dividida não por bairros nem por zonas, mas por máfias institucionalizadas -nós conhecemos bem: nos transportes, na limpeza, na liberação de alvarás, em qualquer coisa, enfim, que gere dinheiro. E, quando pessoal perce­be que foi tudo dominado, bora in­ventar uma inspeção veicular aqui, uma licitação milionária de reló­gios assinada no apagar das luzes da última gestão ali, qualquer coisa que abra mais uma possibilidade que seja.
    Quando sou abordada na rua, é frequente que me perguntem: "Não entendi sua última coluna, você é contra ou a favor dos "black blocs"? Contra ou a favor dos bea­gles? Contra ou a favor dos mensa­leiros?" Ora bolas, pela graça de Nosso Senhor do Alto da Serra eu não vim ao mundo para ser contra ou a favor. Não tenho esse incômo­do cacoete de reduzir as coisas a mocinhos e bandidos, e não sinto necessidade de ficar encaixotando em embalagens distintas coisas que, no Brasil de hoje, andam indis­sociáveis.
    Não adianta simplificar: o panora­ma político está tão degradado que não dá mais para fazer uma distin­ção entre quem trilha o caminho da luz, e quem o das trevas.
    Até a velha máxima dos tempos do idealismo mais "naïve", "os fins justi­ficam os meios", foi pra cucuia.
    Não se aplica mais nem mesmo a radicais muçulmanos suicidas que, na maioria, são cooptados em troca de dinheiro para a família ou iludi­dos pela ideia de que vão papar um ônibus lotado de odaliscas quando chegarem do outro lado.
    A questão fundamental a ser res­pondida se quisermos entender o que acontece em sucessivas admi­nistrações paulistanas, nos gover­nos estaduais, em todas as maracu­taias que envolvem peixe grande, seja na forma de teles, de megaobras públicas envolvendo suas majestades, as construtoras, nas mudanças de regras no setor imo­biliário ou mesmo no emblemático episódio do mensalão é a seguinte: o que é que a gente entende hoje por "Crime Organizado"?
    Eu duvido que para a presidente da Petrobras, Graça Foster, que es­tá tentando juntar os escombros do cataclisma nuclear que atingiu a es­tatal, a definição de crime organi­zado restrinja-se apenas aos PCCs da vida. Rombos milionários, con­tratos fajutos, não é à toa que as contas da Petrobras estejam sendo questionadas pelo TCU.
    Tá ligado no grau de descaramen­to da turma? As teles tomam mul­tas colossais das agências regulado­ras, não pagam e continuam ope­rando e cometendo as mesmas ir­regularidades. Costas quentes?
    Sem corar, governador do Rio usa helicóptero para ir na esquina comprar papel higiênico ou insta­grama de Paris seu prato de orca mal passada ao molho pardo de ur­so panda em jantar com amigos da construtora a quem favoreceu (a­tenção: isto é sarcasmo, não deve ser levado ao pé da letra). Está co­meçando a ficar difícil conter o es­cracho. A lama anda permeando tudo. Abriram-se as comportas, os profissionais tomaram o país. E não estão conseguindo conter o es­banjamento, a compra de 80 imó­veis, viagens, barcos, carrões...
    A qualquer minuto você pode aca­bar atropelado por uma Ferrari e o segurança que vier atrás só terá o trabalho de jogar seu corpo na lixei­ra, apagar os rastros e dar o fora.
    E Haddad já foi avisado pela cúpu­la do PT. Esse negócio de mexer em vespeiro sempre acaba mal na polí­tica. Collor e Dirceu tentaram e...
    Barbara Gancia
    Barbara Gancia, mito vivo do jornalismo tapuia e torcedora do Santos FC, detesta se envolver em polêmica. E já chegou na idade de ter de recusar alimentos contendo gordura animal. É colunista do caderno "Cotidiano" e da revista "sãopaulo".

    Marcos Troyjo

    folha de são paulo

    Mundo errado, Brasil certo
    Adotar uma retórica reformista profunda desde agora faria muito bem ao Brasil
    O que terá sido pior: um Brasil atingido pela crise de 2008 ou haver por ela passado de maneira quase ilesa?
    O primeiro cenário forçaria o país à revisão da pretensa estratégia de desenvolvimento e inserção internacional. Daria largada às urgentes reformas estruturantes e à indispensável reformulação da política externa.
    O segundo convidou as autoridades brasileiras a um discurso moral. Nosso bem-intencionado modelo é de expansão econômica com inclusão social. A crise foi fabricada por "gente de olhos azuis".
    Nesses últimos três anos, pregamos crescimento em vez de austeridade à chanceler alemã. Sugerimos a Obama corrigir a política monetária dos EUA (sem provavelmente saber que, em suas decisões, o Fed é independente da Casa Branca).
    Denunciamos o "tsunami financeiro" e o "protecionismo monetário" com que os países ricos conflagram "guerras cambiais". Desemprego elevado nos países da OCDE seria prova da fadiga desta fase mais recente do capitalismo.
    Mesmo agora, evidenciadas as limitações de nosso padrão de crescimento, estaríamos sofrendo um "ataque especulativo fiscal" de parte dos donos do "dinheiro grosso".
    Do alto de suas certezas morais, caberia ao país perseverar no rumo em que está. Sua ascensão é inevitável. Até os protestos de junho seriam amostra de que "o Brasil está dando certo". Isso se percebe nas ações e no discurso do governo brasileiro.
    Se o país distrair-se com essas ilusões autocongratulatórias, não perceberá o rearranjo nas camadas tectônicas da ordem mundial.
    Pactos envolvendo EUA, Europa, Ásia e parte da América Latina. Transformação de cadeias de suprimento em redes de produção global. Metamorfose da China. Surgimento da nova Era do Talento que ofusca vantagens comparativas advindas das commodities.
    Mudanças profundas a clamar por uma nova estratégia ""e uma nova retórica. Vários países reorientam seu discurso para "adaptar-se competitivamente ao mundo". Em relações internacionais, fazer --e falar-- são igualmente importantes.
    "Mudança" foi a palavra-conceito da primeira eleição de Obama. "Reforma" é a bússola do futuro europeu segundo Merkel e Cameron.
    "Revolução" é a melhor forma de descrever a agenda reformista que Peña Nieto busca empreender nos bastiões esclerosados de governo e sociedade no México.
    "Grande rejuvenescimento da nação chinesa" é o que Xi Jinping pretende com reformas pró-mercado anunciadas nesta semana.
    "Segunda geração de reformas" (aumento da participação do setor privado na economia) é, para Raghuram Rajan, economista de Chicago e atual presidente do BC indiano, o caminho de seu país à prosperidade.
    Algo do ceticismo que hoje ronda o Brasil emerge da deterioração do quadro fiscal e dos iminentes refluxos da liquidez internacional. Muito se deve, porém, à percepção quanto ao discurso "continuísta" do governo.
    Com a vitória da oposição --ou num surto de lucidez da atual mandatária e equipe--, o Brasil só implementará reformas profundas a partir de 2015. Ainda assim, uma retórica reformista desde já faria muito bem ao Brasil.
    mt2792@columbia.edu

      Mais atenção às Marias da Penha - Mariane Pinotti

      folha de são paulo
      MARIANNE PINOTTI
      Mais atenção às Marias da Penha
      O combate à violência contra a mulher é uma causa sem fronteiras, mas demanda ações locais e um esforço da Justiça para punir com rigor
      A violência em todos os seus níveis e contra toda e qualquer pessoa é inadmissível.
      Quando nos deparamos com situações de violência contra meninas e mulheres, principalmente aquelas com deficiência e consequentemente mais vulneráveis, o sentimento de abominação e desejo de justiça imediata é ainda mais latente.
      Sensação essa que toma proporções enormes quando se é mulher, médica ginecologista, mãe de filhas adolescentes e lida diariamente com pessoas com deficiência.
      A Lei Maria da Penha, em vigor desde 2006, trouxe enorme avanço com penas mais rigorosas, incluindo o aumento de um terço na punição quando a vítima é uma mulher com deficiência. Apesar disso, todos os dias são registrados novos casos.
      Além de sofrerem os mesmos atos de brutalidade que mulheres comuns sofrem, as com deficiência estão expostas a outros tipos de abusos, como laqueadura compulsória, confinamento na própria residência, negação de cuidados necessários e estupro por parte de cuidadores.
      Procedimentos médicos intrusivos, sem fins terapêuticos e administrados sem o livre consentimento da pessoa podem também constituir tortura, cujas motivações podem estar atribuídas ao preconceito.
      É impressionante a história da mulher que deu origem ao nome da lei. Maria da Penha Maia Fernandes foi espancada pelo marido durante seis anos e foi vítima de duas tentativas de assassinato por ciúme. Na primeira, ele atirou nela de costas enquanto dormia, deixando-a paraplégica. Na segunda, empurrou-a da cadeira de rodas e tentou eletrocutá-la no chuveiro.
      Após as agressões, ela o denunciou. O marido foi punido após 19 anos de julgamento e ficou apenas dois anos em regime fechado. Revoltada com a falta de justiça, Maria da Penha conseguiu, com a ajuda de ONGs, enviar o caso à Comissão Interamericana de Direitos Humanos (OEA), que, pela primeira vez, acatou uma denúncia de violência doméstica. A OEA condenou o Brasil por negligência e omissão. Uma das punições foi a recomendação para que fosse criada uma legislação adequada à violência doméstica.
      O combate à violência contra a mulher é uma causa sem fronteiras, mas demanda ações locais. Recentemente, o prefeito Fernando Haddad assinou o termo de adesão ao programa do governo federal Mulher, Viver sem Violência.
      A região central de São Paulo ganhará, nos próximos meses, uma unidade da Casa da Mulher Brasileira, equipamento público especializado no atendimento às vítimas.
      Na ocasião, foi assinado o termo de adesão ao Pacto Nacional pelo Enfrentamento à Violência contra a Mulher, parceria entre as três esferas de governo com o intuito de fortalecer as políticas públicas, visando ampliar e integrar os serviços de acolhimento e orientação às mulheres nessa situação.
      Como gestora pública de ações voltadas para as pessoas com deficiência, vislumbro que o Estado precisa agir na prevenção, com campanhas educativas, e no amparo às vítimas de abusos. Mas é preciso também que haja esforço da Justiça para punir com rigor qualquer situação de violência em relação às mulheres. Essa é a melhor forma de coibir novos casos.

      Marina Silva

      folha de são paulo
      Medidas de voo
      As pesquisas mostram os brasileiros preocupados com as mudanças climáticas e os problemas incontornáveis que elas causam agora e poderão causar no futuro. Enquanto isso, o Fundo Clima, mecanismo federal de financiamento para o combate ao aquecimento global, tem seus recursos retidos no BNDES. O banco aposta em "campeões" da mineração e de outros setores que nem sempre fazem o dever de casa no cumprimento de condicionantes socioambientais. E concede apenas dois empréstimos, R$ 76 milhões de quase R$ 1 bilhão que recebeu do Fundo Clima.
      A tal descompasso entre a consciência do povo e as escolhas dos dirigentes não basta uma crítica rasa, pois demonstra uma disfunção no sistema que gera más escolhas estratégicas, e não erros pontuais de gestão.
      Para quem gosta de analisar com números: o desmatamento da Amazônia aumentou em 20%, segundo o governo, embora outras pesquisas digam que é bem mais; a inflação oficial corrigida está no limite da meta e cálculos extraoficiais falam em 10%; já o PIB ganha 2,5%, com muita boa vontade.
      O que os números dizem é óbvio: o país desperdiça reservas naturais em troca de crescimento econômico quase nulo. E só pessoas com sérios limites ideológicos poderiam responsabilizar os ambientalistas por tamanho atraso. É o modelo de desenvolvimento que está esgotado e sua gestão política só agrava a situação.
      Parte desse atraso, a lógica da situação pela situação nega os problemas ou os atribui a "intrigas da oposição". Devemos ficar aliviados quando uma voz mais lúcida reconhece a necessidade de enfrentá-los, como fez o presidente Lula nesta semana, no Mato Grosso do Sul, ao dizer que os conflitos com povos indígenas deveriam ter sido resolvidos há muito tempo (incluindo seus oito anos de governo na autocrítica).
      Também parte do atraso, a lógica da oposição pela oposição atribui todos os problemas ao desempenho do governo e os vê como oportunidades eleitorais, esquecendo sua própria responsabilidade na gestão do país e de Estados centrais.
      Existe, porém, um pacto possível com uma agenda de desenvolvimento. O termo de referência já foi dado pela população, nas manifestações de junho, colocando os serviços públicos e o planejamento urbano, entre outras questões da qualidade de vida, no centro da nova agenda. De quebra, denunciou a corrupção, exigiu ética na política e desautorizou a distribuição de fatias do Estado entre partidos "aliados" como método de governo.
      Aos que ganham com a polarização falta humildade para aderir à nova agenda. Mas o povo usará as ruas e as urnas para forçar um realinhamento histórico necessário.
      Um país com tanto potencial de voo não vai ficar parado no tempo.

        Ruy Castro

        folha de são paulo
        Preços da bolha
        RIO DE JANEIRO - Uma vaga em beliche no Rio durante a Copa do Mundo de 2014 poderá custar R$ 1.000 por noite --média com pão-canoa e manteiga à parte, no botequim da esquina. Por esse preço, cerca de 300 euros, um turista brasileiro pode passar um dia e noite de sonho em hotéis como o Adlon, em Berlim, o Excelsior, em Roma, e o Carlton, em Cannes, entre lençóis de algodão egípcio de 400 fios e com 20 variedades de queijos e geleias no café da manhã, tudo incluído na diária.
        A julgar por isso, somente executivos da Fifa, milionários árabes e torcedores de países como Irã, Coreia do Sul e Nova Zelândia poderão se hospedar nos hotéis do Rio durante a competição. Os de Honduras, Etiópia e Burkina Fasso terão de dormir na praia, tomar banho nos postos de salvamento e comer no pé-sujo.
        Para que não se pense que só deu a louca no Rio, tais preços estão também na parede da recepção de alguns hotéis vendidos como de quatro estrelas em várias cidades-sede da Copa, embora, sob qualquer padrão, seu serviço, atendimento e apresentação variem do medíocre ao lamentável. Ninguém me falou --conheço-os de me hospedar neles nos últimos dois anos.
        Pelo que se está pagando por um anêmico galeto na maioria dos restaurantes brasileiros, duas ou mais pessoas comem à tripa forra na Europa ou nos EUA. Não será surpresa se um coco, hoje entre R$ 4 e R$ 5 nos quiosques à beira-mar, chegar a R$ 20 no verão. Qualquer cerâmica fuleira nas feiras populares do Nordeste ou do Sul já tem preços de peças de design alemão ou italiano. E, não demora muito, uma perna na ponte aérea sairá mais caro que um bilhete Rio-Nova York, ida e volta, na classe turística.
        É uma bolha, dizem, e o mercado regulará tudo. Ótimo. Mas, se e quando isso acontecer, um país inteiro poderá se ver subitamente sem escada e pendurado na brocha.