Abriram-se as comportas
Qualquer um que se disponha a discutir a relação entre a gestão Haddad e eventuais delitos de corrupção ou que queira traçar uma conexão entre atos espúrios e a administração Kassab deve respirar fundo e fazer uma pausa para reflexão.
São Paulo é ingovernável, dividida não por bairros nem por zonas, mas por máfias institucionalizadas -nós conhecemos bem: nos transportes, na limpeza, na liberação de alvarás, em qualquer coisa, enfim, que gere dinheiro. E, quando pessoal percebe que foi tudo dominado, bora inventar uma inspeção veicular aqui, uma licitação milionária de relógios assinada no apagar das luzes da última gestão ali, qualquer coisa que abra mais uma possibilidade que seja.
Quando sou abordada na rua, é frequente que me perguntem: "Não entendi sua última coluna, você é contra ou a favor dos "black blocs"? Contra ou a favor dos beagles? Contra ou a favor dos mensaleiros?" Ora bolas, pela graça de Nosso Senhor do Alto da Serra eu não vim ao mundo para ser contra ou a favor. Não tenho esse incômodo cacoete de reduzir as coisas a mocinhos e bandidos, e não sinto necessidade de ficar encaixotando em embalagens distintas coisas que, no Brasil de hoje, andam indissociáveis.
Não adianta simplificar: o panorama político está tão degradado que não dá mais para fazer uma distinção entre quem trilha o caminho da luz, e quem o das trevas.
Até a velha máxima dos tempos do idealismo mais "naïve", "os fins justificam os meios", foi pra cucuia.
Não se aplica mais nem mesmo a radicais muçulmanos suicidas que, na maioria, são cooptados em troca de dinheiro para a família ou iludidos pela ideia de que vão papar um ônibus lotado de odaliscas quando chegarem do outro lado.
A questão fundamental a ser respondida se quisermos entender o que acontece em sucessivas administrações paulistanas, nos governos estaduais, em todas as maracutaias que envolvem peixe grande, seja na forma de teles, de megaobras públicas envolvendo suas majestades, as construtoras, nas mudanças de regras no setor imobiliário ou mesmo no emblemático episódio do mensalão é a seguinte: o que é que a gente entende hoje por "Crime Organizado"?
Eu duvido que para a presidente da Petrobras, Graça Foster, que está tentando juntar os escombros do cataclisma nuclear que atingiu a estatal, a definição de crime organizado restrinja-se apenas aos PCCs da vida. Rombos milionários, contratos fajutos, não é à toa que as contas da Petrobras estejam sendo questionadas pelo TCU.
Tá ligado no grau de descaramento da turma? As teles tomam multas colossais das agências reguladoras, não pagam e continuam operando e cometendo as mesmas irregularidades. Costas quentes?
Sem corar, governador do Rio usa helicóptero para ir na esquina comprar papel higiênico ou instagrama de Paris seu prato de orca mal passada ao molho pardo de urso panda em jantar com amigos da construtora a quem favoreceu (atenção: isto é sarcasmo, não deve ser levado ao pé da letra). Está começando a ficar difícil conter o escracho. A lama anda permeando tudo. Abriram-se as comportas, os profissionais tomaram o país. E não estão conseguindo conter o esbanjamento, a compra de 80 imóveis, viagens, barcos, carrões...
A qualquer minuto você pode acabar atropelado por uma Ferrari e o segurança que vier atrás só terá o trabalho de jogar seu corpo na lixeira, apagar os rastros e dar o fora.
E Haddad já foi avisado pela cúpula do PT. Esse negócio de mexer em vespeiro sempre acaba mal na política. Collor e Dirceu tentaram e...
Barbara Gancia, mito vivo do jornalismo tapuia e torcedora do Santos FC, detesta se envolver em polêmica. E já chegou na idade de ter de recusar alimentos contendo gordura animal. É colunista do caderno "Cotidiano" e da revista "sãopaulo".
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