segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Parabéns, PT

folha de são paulo
VALDO CRUZ
BRASÍLIA - Não é nada fácil ver companheiros sendo presos, mesmo que por motivos justos, mas o PT, dentro da lógica de construção de um novo país, deveria estar dizendo que fez a sua parte.
A prisão de petistas como José Dirceu, José Genoino e Delúbio Soares só foi possível porque, à frente do Palácio do Planalto, o PT não conviveu com um "engavetador-geral da República" --figura marcante no período dos tucanos no poder.
Na época do PSDB, havia uma proximidade além da recomendável entre o Planalto e a Procuradoria-Geral da República. Coincidência ou não, boa parte das investigações de relevância ficava empoeirada nas gavetas daquele órgão.
Já na fase petista de Luiz Inácio Lula da Silva, a Procuradoria não poupou os companheiros do presidente. Pelo contrário. Dizem que até exagerou. Mas, pelo passado recente, melhor que tenha sido assim.
Depois, quando o processo do mensalão foi a julgamento no STF, encontrou ali uma formação de ministros em sua maioria indicada por Lula e Dilma. Incluindo aquele visto como o maior algoz dos petistas, o ministro Joaquim Barbosa.
Dizem que Lula se arrependeu de suas indicações. E que, à luz da dolorosa experiência petista, Dilma está sendo mais cuidadosa em suas escolhas. O futuro dirá se teremos um retrocesso. O presente mostra que o país ganhou com a maior independência entre os Poderes.
Não se deve esquecer, porém, que o PT merecedor de parabéns também é aquele que, no poder, se entregou aos usos e costumes que tanto condenava, dando surgimento ao mensalão. Este é digno da condenação sofrida no Supremo Tribunal.
Algo que petistas se recusam, publicamente, a admitir, mas que, reservadamente, alguns reconhecem como em parte merecido, com a ressalva de que as prisões são um exagero. Enfim, num país de tantas impunidades, a fila tinha de começar com alguém. Que siga assim.

    Ruy Castro

    folha de são paulo
    Dentro e fora da legalidade
    RIO DE JANEIRO - Quando a ouvi pela primeira vez, num comercial de desodorante, a palavra me caiu mal: "refrescância". Achei-a artificial, mal-ajambrada e desnecessária. Afinal, já havia fresco, frescor, frescura e outros dez sinônimos, todos --perdão, ouvintes-- ainda frescos para uso. Mas, numa língua em que as pessoas "agregam", saem para a "balada" e começam qualquer frase com "então...", vale tudo.
    Há meses, num centro de triagem dos Correios, em Niterói, funcionários foram acusados de descuido no manuseio de encomendas, jogando-as de qualquer jeito para os lados e se arriscando a danificar os produtos. No jargão interno, chama-se isso de "basquetear" a correspondência. "Não, madame", defendeu-se o encarregado, "aqui ninguém basqueteia a correspondência". Talvez, não --mas quem os impede de basquetear a língua?
    E embatuquei recentemente quando alguém me disse que estava "negativado" no banco --com a conta no negativo. "Negativo!", apitei. "Essa construção não existe." Deve ter sido inventada pelos mesmos que dizem que o jogador "se personalizou" em campo --ou seja, adquiriu personalidade durante o jogo e resolveu a parada. A língua se presta a essas flexões, mas não haverá um limite para a capacidade de uma palavra se submeter via tortura a um novo significado?
    Bem, para isso servem os dicionários --para oficializar as criações do grande inventa-línguas, o povo. "Refrescância" já está na praça há anos, em vários contextos, e até ganhou o "Houaiss". E "negativar" é "tornar (-se) negativo", o que a abona para definir contas no vermelho.
    "Basquetear" e "personalizar-se" ainda não chegaram lá, mas, se as pessoas as continuarem usando, também entrarão na legalidade. O problema de uma língua não está nas palavras que ela incorpora, mas nas que são abandonadas e morrem a cada dia.

      Maior legado de Doris Lessing são as perguntas que ela deixa - Noemi Jaffe

      folha de são paulo
      ANÁLISE
      Maior legado de Lessing são as perguntas que ela deixa
      Penúltima obra da escritora reflete sobre o feminino no mito da criação
      NOEMI JAFFEESPECIAL PARA A FOLHA
      "11 de Setembro não foi uma coisa assim tão extraordinária" e "Cristo!", talvez sejam as duas frases mais conhecidas pronunciadas pela britânica Doris Lessing.
      A primeira não precisa de contextualização. A segunda foi dita assim que ela soube ter ganhado o Nobel de Literatura, em 2007. Descia do táxi, aparentemente vindo do supermercado; carregava compras e, ao saber da notícia, além de dizer o famoso "Cristo!", ainda se preocupou em pagar o motorista.
      Os jornalistas imploravam por cinco minutos, que ela, reticentemente, reduziu para um. "Esses suecos não têm tradição literária, não têm nada para fazer, então ficam distribuindo prêmios", disse.
      Pode-se questionar a literatura de Lessing, especialmente pela variedade de gêneros que ela contempla, em mais de 50 livros; pode-se discordar das declarações controversas. Mas dificilmente alguém poderá criticar a autenticidade com que ela falava, dava entrevistas e, principalmente, escrevia.
      Isso não é pouco, quando tantos ganhadores de Nobel soam como uma máquina de repetir respostas. Se não bastasse, há grandes livros em sua obra inclassificável.
      Muitos consideram sua obra como pioneira de certo feminismo e de discursos anti-racistas, principalmente com seus primeiros dois sucessos: "A Canção da Relva" e "O Carnê Dourado". Ela recusava esse rótulo.
      Outros a consideram mestre da ficção científica, por causa da série "Canopus". Ela disse mal saber que escrevia algo do gênero. Ainda outros a chamam de guru sufista, o que ela igualmente negava.
      Odiava a mãe, que a obrigou, vivendo na África --onde passou a infância-- a uma vida regrada e protegida.
      Foi proibida de voltar ao Zimbábue, em função de sua militância contra o apartheid. Também não tinha muita certeza sobre sua própria competência como mãe.
      Como se percebe, não se encantava facilmente com quase nada. A inocência passava longe, tanto da pessoa quanto da sua obra.
      Seu penúltimo livro, "A Fenda", é um espécie de fábula pré-histórica contada por um historiador romano. Uma mitologia em que, num mundo dominado por mulheres, um homem teria, inesperadamente, nascido de uma fenda nas rochas.
      E se nossos mitos de criação tivessem origem feminina? E se o mundo ocidental não fosse uma continuação do mundo dos romanos?
      Morta ontem, Doris Lessing não pode mais responder. Mas, como essas, deixou muitas outras perguntas. É o melhor que alguém pode deixar.

      Morre a escritora Doris Lessing, vencedora mais velha do Nobel de literatura


       
      DE SÃO PAULO
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      Morreu, aos 94 anos, a escritora britânica Doris Lessing, de acordo com seu agente e amigo pessoal, Jonathan Clowes.
      "Ela era uma escritora maravilhosa com uma mente fascinante e original. Foi um privilégio trabalhar para ela e vamos sentir imensamente sua falta", declarou, acrescentando que Lessing morreu na madrugada deste domingo, "em paz". Ele não revelou a causa da morte.
      Ganhadora do Nobel de literatura de 2007, ela foi autora de mais de 50 novelas, entre as quais "O Carnê Dourado" (1962) e "A Canção da Relva" (1950).
      A autora morava há mais de 25 anos na mesma rua do londrino bairro de West Hampstead. Foi lá que recebeu a notícia de que havia sido vencedora do Nobel.
      Ela recebeu o prêmio em janeiro de 2008 também na cidade, após ter se declarado muito doente para viajar à Suécia para a cerimônia oficial de entrega ocorrida no mês anterior.
      Doris foi a pessoa mais velha a ser agraciada com o laurel na área de literatura e a 11ª mulher a ganhar a distinção. Atualmente, esse número aumentou para 13.
      "Tenho 88 anos e eles não podem dar o Nobel para um morto, então acho que eles pensaram que era melhor me dar logo antes que eu batesse as botas", brincou na ocasião.
      O prêmio se uniu a outros que já havia recebido ao longo da carreira, como o o Príncipe das Astúrias em 2001.
      Toby Melville - 30.jan.2008/Reuters
      A autora britânica Doris Lessing discursa após receber o prêmio Nobel de literatura, em 2008
      A autora britânica Doris Lessing discursa após receber o prêmio Nobel de literatura, em 2008
      VIDA
      Doris May Tayler, seu nome de batismo, nasceu em 22 de outubro de 1919 em Kermanshah, na antiga Pérsia (hoje Irã). Ela era filha de um bancário e ex-capitão do exército britânico e de uma enfermeira.
      Em 1925, a família se mudou para o sul de Rodésia (o Zimbábue atual), onde seu pai comprou uma fazenda que não frutificou e sua mãe se esforçou para viver como uma dama georgiana, o que teve um impacto pernicioso em sua filha, que a autora descreveu na primeira parte de sua autobiografia, "Debaixo da Minha Pele" (1994).
      Lessing, que foi internada em um colégio de freiras, abandonou a educação formal aos 14 anos e teve vários empregos, ao mesmo tempo em que começou a experimentar na literatura.
      Após trabalhar como telefonista em Salisbury (atual Harare), em 1939, com 19 anos se casou com o funcionário Frank Charles Wisdom, com quem teve um filho, John, e uma filha, Jean, e de quem se divorciou em 1943.
      Dois anos depois se casou com Gottfried Lessing, uma exilado judeu-alemão a quem tinha conhecido em um grupo literário marxista, e com quem teve outro filho, Peter.
      Após divorciar-se de Lessing, em 1949 a escritora se transferiu ao Reino Unido com o filho mais novo, deixando na África do Sul os outros dois ao concluir, segundo explicou anos depois, que não queria desperdiçar seu intelecto no trabalho de ser mãe.
      Lessing militou no Partido Comunista britânico entre 1952 e 1956 e participou de campanhas contra as armas nucleares. Sua crítica ao regime sul-africano lhe custou o veto de sua entrada ao país entre 1956 e 1995, e também a Rodésia em 1956.
      Uma das escritoras mais influentes do século 20, ela era ícone de marxistas, anticolonialistas, militantes anti-apartheid e feministas.
      Grande parte de sua obra narrativa e poética está baseada em sua própria experiência na África e na Inglaterra, com personagens femininos sensíveis e perceptivos que se adentram em questões existenciais e exploram as contradições.
      Além da crítica social de seus primeiros textos, considerados comunistas, a escritora também se dedicou à ficção científica com sua série "Canopus em Argos", realizada entre 1979 e 1983 e inspirada no sufismo.
      Outros livros são "A Terrorista" (1985), "O Quinto Filho" (1988) e os que escreveu sob o pseudônimo de Jane Somers, como "O Diário de uma Boa Vizinha" (1983), a fim de demonstrar as dificuldades para publicar que enfrentavam os escritores novatos.
      Apesar de ter rejeitado ser porta-voz do feminismo da época, que considerava um simplificação da relação entre homens e mulheres, sua obra mais famosa, "O Carnê Dourado", de marcado tom autobiográfico, se transformou em um clássico da literatura feminista por seu estilo experimental e sua análise da psique feminina.
      Lessing, que em 1999 rejeitou o título de Dama do Império Britânico concedido pela rainha Elizabeth 2ª, porque "já não há nenhum império", embora tenha aceitado outro título menor, trabalhou até o final de sua vida escrevendo artigos, romances, relatos e poesia.
      13 MULHERES DESDE 1901
      Desde sua criação, em 1901, 106 prêmios Nobel de Literatura foram entregues, apenas 13 para mulheres.
      Veja a lista das vencedoras:
      2013 - Alice Munro (Canadá)
      2009 - Herta Müller (Alemanha)
      2007 - Doris Lessing (Grã-Bretanha)
      2004 - Elfriede Jelinek (Áustria)
      1996 - Wislawa Szymborska (Polônia)
      1993 - Toni Morrison (EUA)
      1991 - Nadine Gordimer (África do Sul)
      1966 - Nelly Sachs (Suécia)
      1945 - Gabriela Mistral (Chile)
      1938 - Pearl Buck (EUA)
      1928 - Sigrid Undset (Noruega)
      1926 - Grazia Deledda (Itália)
      1909 - Selma Lagerlöf (Suécia)
      Vencedores do Nobel de Literatura no século 21
      2013: Alice Munro (Canadá)
      2012: Mo Yan (China)
      2011: Tomas Tranströmer (Suécia)
      2010: Vargas Llosa (Peru)
      2009: Herta Müller (Romênia-Alemanha)
      2008: J.M. Le Clézio (França-Ilhas Maurício)
      2007: Doris Lessing (Pérsia-Reino Unido)
      2006: Orhan Pamuk (Turquia)
      2005: Harold Pinter (Inglaterra)
      2004: Elfriede Jelinek (Áustria)
      2003: J.M. Coetzee (África do Sul)
      2002: Imre Kertész (Hungria)
      2001: V.S. Naipaul (Trinidad e Tobago-Reino Unido)
      Com EFE e FRANCE PRESSE

      Mônica Bergamo

      folha de são paulo

      Após escândalo, entidades querem mudanças no recolhimento do ISS em SP

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      Após o estouro da máfia dos fiscais, entidades como Secovi (Sindicato da Habitação de SP) e SindusCon (Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado) se apressaram em sugerir mudanças de procedimentos à Prefeitura de São Paulo no recolhimento do ISS, que levou para a cadeia até agora funcionários corruptos, mas nenhum dos corruptores.
      NA ONDA 2
      A APeMEC (Associação de Pequenas e Médias Empresas de Construção Civil do Estado de São Paulo) também encaminhou proposta ao prefeito Fernando Haddad, sugerindo que a cobrança passe a ser informatizada. "A maneira como se recolhe o imposto na capital abre brechas para a roubalheira", afirma Luiz Alberto Costa, presidente da entidade, que representa 270 empresas do setor.
      NA ONDA 3
      O presidente da APeMEC diz que a ideia de informatização foi bem-aceita. "Haddad respondeu de imediato e enviou para estudo", afirma. Só que a sugestão não é inédita. A própria Secretaria de Finanças já anunciou para este ano novo sistema de tecnologia para automatizar o processo de obtenção do Certificado de Quitação do ISS.
      PODER DE MENOS
      Fernando Henrique Cardoso diz que sempre ficou surpreso com o poder que as pessoas atribuíam a ele na Presidência da República. Em entrevista para o livro "O Fim do Poder", do venezuelano Moisés Naim, o brasileiro declarou: "Mesmo pessoas bem informadas, com preparo político, me pediam coisas que demonstravam o quanto me atribuíam muito mais poder do que eu tinha na verdade".
      PODER DE MENOS 2
      Ao analista político, FHC afirmou ainda que "a distância entre nosso real poder e o que as pessoas esperam de nós é o que gera as pressões mais difíceis que qualquer chefe de Estado tem que suportar". A editora LeYa lança o livro neste mês no Brasil.
      DNA
      Neto de João Goulart (1919-1976) e herdeiro de duas fazendas que pertenceram ao ex-presidente em São Borja (RS), Rui Noé Goulart, 55, diz acreditar que o avô foi assassinado. "Acho difícil encontrarem algum vestígio tanto tempo depois, mas sou a favor dos exames", afirma sobre a exumação do corpo de Jango. Rui é filho de Noé Monteiro da Silveira, reconhecido oficialmente pelo político nos anos 1980.
      ELES TAMBÉM
      Imigrantes que vivem em São Paulo poderão pela primeira vez fazer parte do grupo de cidadãos que ajuda a prefeitura a planejar e fiscalizar gastos e ações. Das 32 subprefeituras, 21 (as que têm mais de 0,5% de estrangeiros) terão representante no Conselho Participativo Municipal. A eleição dos quase 1.200 membros será no mês que vem.
      ABRINDO ENVELOPE
      Cauã Reymond vai apresentar um dos prêmios do Emmy Internacional, no próximo dia 25, em Nova York. O ator irá representar a Globo na festa de gala da premiação e pode sair com um dos troféus por "Avenida Brasil", na categoria telenovela, uma das cinco indicações da emissora. Fernanda Montenegro concorre a melhor atriz pelo especial "Doce de Mãe".
      O HAITI NÃO É AQUI
      Luciano Huck embarcou ontem para o Haiti. "Vou atrás de boas histórias entre os soldados brasileiros que estão em missão de paz em Porto Príncipe", diz o apresentador sobre a viagem que levou um ano sendo planejada. O resultado vai virar conteúdo para o "Caldeirão do Huck".
      PRA LÁ DE CABUL
      A rapper afegã Paradise Sorouri chega amanhã ao Brasil para participar da Flupp (Festa Literária das Unidades de Polícia Pacificadora), que começa nesta sexta, em Vigário Geral. Ela precisou ir até Nova Déli, na Índia, para tirar o visto brasileiro. Fará o show de encerramento do evento, cantando canções que falam da guerra e da violência contra a mulher em seu país.
      CONTOS DE NOVA YORK
      A atriz Anita Petry entrou na disputa entre os gigantes americanos Netflix e Amazon pelo mercado de produção de séries. A brasileira, que estuda e trabalha em Nova York, participa de alguns episódios da comédia "Alpha House", uma das produções originais da Amazon que serão transmitidas pelo seu Instant Prime Video, plataforma de vídeo sob demanda, em que o espectador escolhe o que quer assistir.
      *
      Criada pelo premiado cartunista Garry Trudeau e estrelada por John Goodman, a comédia é a aposta da Amazon para competir com o Netflix, que anunciou neste ano a produção de sua primeira série.
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      Anita foi à festa de apresentação de "Alpha House" na semana passada na Neue Galerie, em Nova York. Para a atriz, foi o mestrado na Universidade de Columbia que a projetou agora para o roteiro da Amazon.
      CONEXÃO BELÉM
      As cantoras paraenses Camila Honda, Natália Matos e Sammliz subiram ao palco em São Paulo, no festival Terruá Pará, sob a direção de Carlos Eduardo Miranda e Cyz Zamorano. A atriz Maria Helena Chira e o senador Eduardo Suplicy (PT-SP) assistiram aos shows no Teatro das Artes.

      Segundo dia do Terruá Pará

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      Bruno Poletti/Folhapress
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      A cantora Camila Honda foi uma das atrações do segundo dia do festival Terruá Pará, quarta (13) e quinta (14), no Teatro das Artes, no shopping Eldorado
      BEM ESTAR NO CARDÁPIO
      Fernanda Vidigal ofereceu em sua casa, no Morumbi, um almoço em torno da nutróloga Mariela Silveira, diretora do centro médico e spa Kurotel, que fica em Gramado (RS). A publicitária Titina Bilton e a blogueira Tatiana Pilão também foram recebidas pela anfitriã.

      Almoço em homenagem a médica

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      Waldemir Filetti
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      Fernanda Vidigal recebeu em sua casa um grupo de mulheres para almoço em torno da Dra. Mariela Silveira, médica diretora do Kurotel – Centro Médico de Longevidade e Spa
      CURTO-CIRCUITO
      Sebastian, garoto-propaganda da C&A por 20 anos, volta a participar de anúncios da rede de lojas. A campanha de Natal entra no ar hoje à noite.
      O filósofo italiano Antonio Negri fala hoje na abertura do seminário Como Construir o Comum: as Revoltas Globais nas Redes e nas Ruas, na Fecap.
      No Masp, leitura da peça "As Histórias que Elas Contam", de Célia Regina Forte, hoje, às 19h30. Walderez de Barros e Clarisse Abujamra participam.
      com ELIANE TRINDADE, JOELMIR TAVARES, ANA KREPP e MARCELA PAES; colaborou JOANA CUNHA de Nova York
      Mônica Bergamo
      Mônica Bergamo, jornalista, assina coluna diária publicada na página 2 da versão impressa de "Ilustrada". Traz informações sobre diversas áreas, entre elas, política, moda e coluna social. Está na Folha desde abril de 1999.

      Gregorio Duvivier

      folha de são paulo
      O ovo
      Acordei libertado da angústia de não estar acordado. Não estar acordado é enorme: viver é isso. Fritei um ovo.
      "Carlos acordou e fritou um ovo."
      Anônimo
      "N'aquele outomno de 1875, Carlos abriu as pálpebras esguedelhadas --tinha acordado macilento. Trazia-lhe tranquillidade contar as 18 velas do lustre de ouro, presenteado pelo tio Affonso havia 32 anos. Sommente para dar-me esse lustre serviu o tio Affonso", pensou. Levantou-se da cama com uma fadiga langorosa, arrastando consigo os lençóis de seda indiana e esticou-se num fato de xadresinho inglês. Cobrindo-se com um cachenez de seda clara e abriu um tellegramma, indolente e poseur, em frente ao espelho de Veneza - resvalava, atravéz das árvores, uma luz enverdinhada. Ordenou à criada:
      -- Frite-me ovos."
      Eça de Queiroz
      "Carlos acordou com uma súbita vontade de fritar um ovo, hei de fritar um ovo, pensou, agora mesmo, posto que se não fritá-lo, não poderei comê-lo frito, e terei de me contentar com ele cru, o que não seria do meu agrado. Tendo pensado nisso, fritou o ovo, e não está ruim, pensou, o ovo, frito."
      José Saramago
      "Acordei libertado da angústia de não estar acordado. Não estar acordado é enorme: viver é isso. Fritei um ovo."
      Clarice Lispector
      "Sonada: Carlos abriu o olho. Bisbilhava-se. A galinha desovou um ovo, disse Migué.
      -- Larga de afoiteza, gritou tio Janjório. É muita ambicionice comer a galinha que ainda não galinhou.
      Carlos nem orelhou. Quando o tio viu, o ovo já não era."
      Guimarães Rosa
      "Acordei ao lado de Vânia, que ainda dormia. Seus seios eram rosados e sua pentelheira era vasta e negra. Levantei e acendi um cigarro naquele fogão de bacana. Na cozinha, Branca me esperava, nua, com uma Magnum na mão, tapando-lhe a boceta. Eu disse alguma coisa que ela não gostou. Apontou a arma para os meus testículos.
      -- Frita, Carlos. Seus ovos vão ser a porra do meu café da manhã.
      Alguém bateu na porta. Era Frida, nua. Fodemos."
      Rubem Fonseca
      "Carlos acordou com a perna meia dormente. Para ficar com menas dor, recorreu a uma simpatia. Foi até a cozinha e fez um ovo estralado."
      Paulo Coelho

        Em carta, escritores dizem que lei atual afronta Constituição

        folha de são paulo
        BIOGRAFIAS
        Manifesto foi divulgado ontem ao final de encontro no Ceará
        FABIO VICTORENVIADO ESPECIAL A FORTALEZAReunidos num festival em Fortaleza, 12 dos principais biógrafos do país divulgaram ontem uma carta em que defendem as ações no Supremo Tribunal Federal e no Congresso Nacional para alterar a lei que permite censura prévia a biografias.
        "A legislação em vigor transformou nosso país na única grande democracia a consagrar a censura prévia", diz a "Carta de Fortaleza" (íntegra em folha.com/no1372640).
        O trecho faz referência aos artigos 20 e 21 do Código Civil, pelos quais é possível impedir a publicação de biografias sem autorização anterior.
        O manifesto veio a público no encerramento do festival e a quatro dias do início da audiência pública no STF que debaterá a ação movida por editoras para modificar a lei.
        Assinam a carta Mário Magalhães, curador da programação literária do evento, redator do documento e autor de uma biografia do guerrilheiro Carlos Marighella, e os 11 convidados do festival.
        São eles: Fernando Morais, Guilherme Fiuza, Humberto Werneck, João Máximo, Josélia Aguiar, Lira Neto, Lucas Figueiredo, Luiz Fernando Vianna, Paulo César de Araújo, Regina Zappa e Ruy Castro.
        Em quatro dias, o evento reuniu literatura, cinema e música. A tenda dos debates teve, em geral, boa parte de seus 180 lugares ocupados.
        As mesas literárias, carro-chefe do festival, se equilibraram entre a defesa das biografias livres e a descrição da arte de contar a vida dos outros.
        Chico, Caetano, Gil, Djavan e Roberto Carlos, defensores da lei atual e para quem liberdade de expressão deve ser conciliada com o direito à privacidade, foram criticados em todos os debates. Ruy Castro chamou Roberto de "censor nato e hereditário".
          'Paula Lavigne é o máximo', diz Jorge Mautner
          DO ENVIADO ESPECIAL A FORTALEZADurante o festival de biografias de Fortaleza, o músico Jorge Mautner fez um desagravo aos artistas ligados à associação Procure Saber. Ele disse que será sempre fiel a Caetano Veloso e Gilberto Gil, criticados por defenderem publicamente o direito à privacidade de biografados.
          "Paula Lavigne é o máximo. Flora Gil é o máximo", saudou Mautner, em referência à ex-mulher de Caetano e à mulher de Gil, respectivamente.
          A declaração foi feita anteontem após a exibição do documentário "O Filho do Holocausto", sobre o próprio Mautner, e antes de um show com Jards Macalé.
          Em entrevista à Folha, em outubro, Mautner defendeu o pagamento de direitos autorais a biografados: "Um livro só poderia ser proibido se o artista não fosse remunerado".
          "O artista deve ter direito a tudo que estiver relacionado a ele", disse Mautner.
          Mautner diz que não se deve confundir proibição com censura: "Censura política do Estado tem a ver com outro tipo de exigência de direitos. Estamos falando sobre intimidade, autorização por parte de terceiros envolvidos".

            Luiz Felipe Pondé

            folha de são paulo
            'Breaking Bad'
            O homem 'bonzinho' é um derrotado. Seu lado mau é essencial para sua virilidade
            A série "Breaking Bad" chegou ao fim. Enquanto o cinema americano encareta sob a bota da censura politicamente correta, na qual homens cada vez mais falam fino como mulherzinhas e as mulheres brincam de meninas superpoderosas, a TV arrisca aquilo que o cinema se tornou incapaz de fazer: falar a sério sobre o cotidiano.
            Uma sutil herança de obras como "O Médico e o Monstro", de Robert Louis Stevenson, se faz sentir em "Breaking Bad": o homem "bonzinho" é um derrotado. Seu lado mau é essencial para sua virilidade, mesmo espiritual. Sabendo que parte do mundo hoje é composto por gente mimada, vale salientar que ao dizer isso não estou a cultivar o mal como coisa chique. O assunto é mais sério do que pensa nossa vã inteligência infantilizada.
            Ecos da terrível hipótese de Nelson Rodrigues sobre os maridos também se fazem sentir em "Breaking Bad". Nelson dizia que a mulher quer um nada como marido. Segundo Nelson, nenhuma das grandes qualidades que fazem de um homem um grande homem servem num bom marido.
            O professor Walter White é um homem aniquilado. A maioria de nós é, e no aniversário merece, quando muito, que a mulher bata uma punheta como presente --ainda que prestando mais atenção a alguma oferta da internet.
            Um homem um pouco mais bem-sucedido talvez ganhasse um boquete. Trata-se de uma cena homérica da série, mas que indica bem o grau de investimento do casal no sexo (ele tampouco está muito interessado no "presente de pobre").
            Espremido entre uma carreira que marca seu fracasso (era um promissor gênio da química quando jovem e virou um medíocre professor de "high school" e um funcionário humilhado de um lava-rápido), um salário miserável, um filho portador de necessidades especiais e uma mulher grávida que enche o saco dele para pintar o quarto, Walter é um homem sem qualquer futuro.
            Passa suas noites insone, mergulhado no pânico de todo "loser": o dinheiro vai dar? Vou aguentar muito tempo sendo capacho? Minha mulher também me faz de capacho? Vou conseguir comer minha mulher quando ela quiser? Meu cunhado é mais macho do que eu? Por que eu dei errado e meus colegas de faculdade se deram bem? Serei eu um merda? No que eu errei? Por que estou aqui com esse carro medíocre? E essas férias CVC? Eis o dia a dia de um homem comum.
            Ser capacho é a virtude máxima de um "loser" que é bom pai e bom marido. Se a emancipação feminina era só dizer que ela queria trabalhar fora e gozar, a do homem é mais complexa porque aparentemente passa por elementos mais destrutivos do que a feminina.
            Um homem que se sente preso na condição de bom pai e bom marido pode chegar à conclusão de que só se libertará quando puser em risco exatamente as virtudes que o estão matando: ganhar dinheiro seguro ainda que pouco, ser provedor, engolir sapo no trabalho, abrir mãos dos seus sonhos em nome de uma casa própria, investir na ideia de que algum dia sua mulher Bovary e seus filhos chorarão em seu enterro, louvando-o. Um homem de classe média aniquilado só experimenta um pouco de respeito (quando muito) quando fica silencioso como um cadáver.
            Nosso químico descobre que tem câncer terminal de pulmão (e, como puro que sempre foi, nunca fumou) e "desperta". Esta é a expressão que ele usa quando fala com seu sócio sobre a razão de um "loser" como ele de 50 anos decidir entrar para o crime fazendo droga.
            E não só. Passa a comer sua mulher com gosto (e em situações inesperadas) e ela fica mais feliz. Pele bonita, olhos brilhantes, cabelos sedosos, mais generosa no dia a dia, como toda mulher bem comida.
            Dito nos termos banais de hoje: "recupera sua autoestima" quando descobre que vai morrer e entra para o crime para ganhar dinheiro. Nosso herói sente que pela primeira vez está vivo, justamente quando sabe que, de certa forma, já está morto.
            O mal como componente libertador é uma questão assustadora, mas perigosamente real. Um mundo que goza em defender alfaces terá cada vez mais homens medíocres que para poderem meter em sua s mulheres precisarão ter câncer no pulmão sem nunca ter fumado.